O documento discute como as drogas agem no cérebro, especificamente no "cérebro de réptil" que controla o prazer e a recompensa. Ele explica que todas as drogas causam dependência aumentando a dopamina no "Circuito de Recompensa" do cérebro. Quando as drogas são muito mais potentes do que estímulos naturais, elas podem prejudicar regiões cerebrais.
O documento discute como as drogas agem no cérebro, especificamente no "cérebro de réptil" que controla o prazer e a recompensa. Ele explica que todas as drogas causam dependência aumentando a dopamina no "Circuito de Recompensa" do cérebro. Quando as drogas são muito mais potentes do que estímulos naturais, elas podem prejudicar regiões cerebrais.
O documento discute como as drogas agem no cérebro, especificamente no "cérebro de réptil" que controla o prazer e a recompensa. Ele explica que todas as drogas causam dependência aumentando a dopamina no "Circuito de Recompensa" do cérebro. Quando as drogas são muito mais potentes do que estímulos naturais, elas podem prejudicar regiões cerebrais.
"O poder que a dependência química exerce sobre os seres
humanos não reside em nosso córtex. O poder da dependência em nossas mentes mora no que foi chamado de nosso cérebro de réptil. O poder localiza-se no campo das transformações celulares em células do meio do cérebro – o nucleus accumbens e o tegmentum superior. Estas transformações estão além do alcance da força de vontade, além do alcance do condicionamento e além do alcance do insight psicanalítico". Esse foi um trecho da conferência proferida pelo Professor Geoge Vaillant por ocasião da abertura do XIII° Congresso da ABEAD, realizado no Rio de Janeiro em agosto de 1.999. O Prof. Vaillant, da Universidade de Harvard, é sem dúvida uma das personalidades mais respeitadas entre todos os estudiosos de Dependência Química de todo o mundo e fez duas referências merecedoras de maior atenção: A primeira relaciona-se ao nucleus accumbens e tegmentum superior (onde está a Área Tegumentar Ventral), estruturas que compõem o já anteriormente exposto Circuito de Recompensa. Esta área do SNC está relacionada com a sensação de prazer. A sensação de prazer é obtida pela ativação do circuito, que pode resultar da excitação dos seus neurônios pelos órgãos dos sentidos, sexo, sugestão ou por alguma substância em circulação. Os treinadores de animais nunca deixam de dar algum petisco para o animal que executou direito uma tarefa por eles ensinada. Essa é a recompensa pela realização da tarefa, ou seja, um prazer resultante de um comportamento antecipado. O prazer da ingestão do petisco motiva o animal a realizar novamente o procedimento que lhe conferiu a recompensa e para esta situação nós dizemos que houve um reforço de motivação. A descoberta do Circuito de Recompensa ocorreu quando James Olds, um psicólogo fisiologista americano, mas então trabalhando na McGill University, em Montreal, Canadá, usando uma técnica de estímulos elétricos em áreas cerebrais de ratos(com agulhas-eletrodos), na década de 50 do século passado, observou que um dos animais reagiu de modo a procurar por mais estímulos ao invés de fugir deles, como faziam os outros ratos nesse experimento que então fazia (estrutura do sono). Verificando também que a agulha desse animal não foi inserida na área planejada, mas próximo a ela, continuou sua experiência colocando o animal em gaiola apropriada para auto-administração (pressionando uma alavanca) de estímulos por esses animais. Observou, com grande surpresa, que o animal se exauria pressionando a alavanca do contato elétrico num ritmo muito acelerado. A experiência foi confirmada em sucessivas repetições com o eletrodo posicionado naquele local, logo acima do tronco cerebral, no meio do cérebro. Estava descoberto o Circuito de Recompensa. A partir daí essa região do SNC tem atraído a atenção dos neurocientistas de todo o mundo. Particularmente com relação à Dependência Química, evidenciou-se que todas as drogas com potencial de dependência agem aumentando o nível da dopamina, neurotransmissor do Circuito de Recompensa. A segunda referência do Professor Vaillant, a ser melhor esclarecida, é sobre o nosso cérebro de réptil. Segundo a teoria de MacLean (1.990) o nosso encéfalo atual reflete a evolução que sofreu ao longo das eras, contendo três partes primordiais que funcionam como três computadores biológicos interconectados, cada um com a sua própria inteligência, sua peópria subjetividade, seu próprio senso de espaço e tempo e sua própria memória. Para Restak "o cérebro seria melhor compreendido em termos de três unidades de funcionamento: vigilância, processamento de informação e ação". Embora interconetados, cada um deles funciona com capacidade própria. podendo preponderar conforme as circunstâncias. O mais antigo, chamado de reptiliano ou complexo R, corresponde ao tronco encefálico e cerebelo, sendo responsável pelos processos de auto-sustentação do corpo, rituais de aproximação e acasalamento, os mesmos que já se apresentavam nos répteis há 240 milhões de anos. Situado na parte mais alta do tronco encefálico situa~se o mesencéfalo, que contém as estruturas da Área Tegumentar Ventral ou VTA. Uma vez ativado por estímulos relacionados à droga, o impulso nervoso parte dessa área para o Nucleus accumbens, na base do cérebro, formando o Circuito de Recompensa, e daí segue para o cortex pré-frontal que vai comandar as ações comportamentais relacionadas ao processo de uso da substância. Em seguida temos o encéfalo afetivo, do sistema límbico, que data de cerca de 60 milhões de anos, que é compartilhado conosco pela maioria dos mamíferos. Esse sistema límbico atúa na expressão das emoções e sentimentos, cuidados com a prole e eventos associativos, necessitando entretanto interagir com o néo-cortex para processamento dessas emoções. Ao contrário do encéfalo reptiliano, o cérebro emotivo é capaz de aprender com a experiência. Por fim temos o néo-cortex, o encéfalo principal dos primatas, que foram dos últimos mamíferos a aparecerem. Ele constitui cerca de cinco sextos da massa total do encéfalo humano, tendo aparecido há cerca de um milhão de anos. Ele é responsável pelas funções cognitivas mais nobres. No homem promove a linguagem e o raciocínio, o pensamento abstrato, os cálculos matemáticos, etc. O controle do néo-cortex racional sobre os seus precursores nem sempre é eficiente. Para Arthur Koestler, o respeitado escritor-filósofo, ele é "um cavaleiro que não controla completamente o seu cavalo", e aí está a chave para a compreensão do intrigante fenómeno do uso abusivo e dependência de substâncias psicoativas.
A ação das drogas. A engrenagem da
dependência. Tolerância e abstinência. É simplesmente fantástica a propriedade do SNC de transformar-se estruturalmente para poder cumprir às demandas inerentes ao comportamento das pessoas (que, afinal de contas, foi por ele mesmo determinada). Desde a auto-regulação imediata, que promove os balanços certos entre as atividades dos neurônios excitatórios e inibitórios visando, por exemplo, um movimento muscular banal, até a formação de circuitos neurais especializados para a execução constante e precisa de movimentos, como os da mão de um pianista, temos toda uma gama de modificações, modelagens ou adaptações, que nós denominamos de plasticidade neural. Nós já vimos que as drogas agem nas sinapses nervosas modificando a transmissão das mensagens. Trata-se de uma interferência externa que é interpretada pelo cérebro como agressão, uma invasão ao seu território, que deve ser combatida. Inicialmente a reação apresenta-se como aversão, repulsa do indivíduo à droga, mas essa defesa pode perder para a sensação prazerosa que a droga produz no circuito de recompensa, num jogo de custo/benefício.Podemos indagar: "Porque o hábito se estabelece numas pessoas e em outras não? "É justamente a forma pela qual o circuito de recompensa reage à droga, isto é, quando se estabelece um efeito reforçador, pré-requisito para a repetição do comportamento. Uma determinada droga pode oferecer um maior ou menor atrativo à pessoa, conforme a sua constituição genética relacionada ao neurotransmissor dopamina. A dopamina foi reconhecida por muito tempo como a chave da adicção por ser o neuroquímico cujo nível no cérebro eleva-se por ação do álcool e de todas as outras drogas de abuso. Até recentemente acreditava-se que a dopamina agisse principalmente nas áreas límbicas do cérebro associadas apenas à recompensa e ao prazer. Trabalhos recentes demostraram que a dopamina também assinala a saliência, isto é, a seleção das percepções ambientais que irão determinar o comportamento da pessoa. Dessa forma, além dos estímulos naturais como alimento, sexo e dinheiro, por exemplo, os estímulos aversivos, como a percepção do perigo e o medo, também aumentam o teor de dopamina no cérebro. Acontece entretanto que o álcool e as outras drogas de abuso são reconhecidamente muito mais potentes, inundando o cérebro com dopamina a níveis muito altos e prejudiciais, a ponto de destruir múltiplas regiões de grande importância funcional. A Dra. Nora Volkow, atual diretora da NIDA (National Institute on Drug Abuse), autora dos trabalhos que possibilitaram tais afirmações, afirmou: "Os dependentes de cocaina não estão usando a droga porque ela lhes proporciona maior prazer. Se há alguma coisa, está documentado que a sensibilidade do sistema de recompensa no cérebro está, de fato, diminuida. Eles têm um sistema dopaminérgico hipofuncionante". Os aditos começam a procurar a droga de abuso porque ela é suficientemente poderosa para ativar o sistema, disse ela. Se o efeito reforçador for predominante e as circunstâncias o favorecerem, haverá a continuidade do uso, e então o necessário equilíbrio básico vital será estabelecido por adaptações neurais, destacando-se as modificações nas estruturas das sinapses nervosas. Podemos imaginar o funcionamento normal do cérebro como uma delicada e preciosa engrenagem. Quando os elementos fundamentais da transmissão nervosa – neurotransmissores, proteínas e outros mediadores, canais iônicos e receptores, são modificados em número ou qualidade, para as adaptações ao uso recorrente de uma ou mais drogas, é como se fosse criada uma outra engrenagem, agora com a capacidade de funcionar nessa situação, ao mesmo tempo preservando o organismo de um colapso fatal. Esta seria a"Engrenagem da Dependência", uma fantasia com intensão didática que temos usado em palestras para apresentar o funcionamento cerebral em regime de adaptação às drogas.Quando uma droga excita um determinado receptor e repete essa ação por muitas vezes pelo uso freqüente, o organismo reage, diminuindo o número de receptores. A droga agindo sobre menor número de receptores tem o seu efeito diminuído em relação ao efeito que tinha antes da adaptação. Assim, se o usuário pretender o mesmo efeito que sentia, terá que aumentar a dose da substância. Este é o fenômeno da tolerância, e explica a quantidade crescente de substância usada pelo usuário para a sua satisfação, uma vez que o organismo vai promovendo a sua adaptação aos poucos. Por outro lado, quando um organismo já tem plenamente o seu funcionamento adaptado à droga, ele não funciona bem e sofre com a sua falta, ou mesmo com a diminuição da sua concentração sangüínea, manifestando-se por um estado que nós denominamos de abstinência. Assim por exemplo, se o uso de uma droga excitadora (como a cocaina) se torna constante, pondo em perigo o equilíbrio vital, a plasticidade neural se incumbe de reduzir o número de receptores desses neurotransmissores excitadores, restabelecendo o equilíbrio através da "engrenagem de dependência" para essa droga. Vejamos um caso oposto, o do álcool, que é depressivo. Uma das ações do álcool é a de bloquear os receptores NMDA do glutamato, que é excitatório. O organismo acomoda a situação aumentando o número desses receptores. Sem o álcool (abstinência) o glutamato aumenta a sua ação excitatória, pois fica com os seus receptores livres, e ainda dispõe de um maior número deles, por conta da adaptação. O álcool também age sobre os receptores GABAA, potencializando a sua atividade depressora, e sobre os canais de cálcio, reduzindo a emissão de neurotransmissores para a fenda. A adaptação aqui se faz diminuindo o número de receptores (ou modificando a sua estrutura química) e aumentando o número de canais de cálcio. Essas modificações que constituem a "engrenagem da dependência" foram feitas para o ajuste cerebral à presença ativa das drogas, e sem elas, haverá o sofrimento de abstinência, como dissemos. As adaptações já tinham sido previstas por Himmelsbach na década de 40 do século passado, mas atualmente estão sendo plenamente confirmadas na seqüência das investigações em Dependência Química, principalmente nos campos da engenharia genética e da biologia molecular. A engrenagem da dependência é desativada pelo desuso da droga, mas será prontamente restabelecida ao primeiro sinal de presença da droga em circulação no cérebro, refazendo-se os mecanismos de tolerância e abstinência. Na realidade, nem será necessária a presença da substância para a reinstalação do processo, basta para isso uma sugestão condicionada, como o encontro com velhas amizades de uso ou a entrada em ambientes de uso. Há o clássico episódio, muito citado, de um cidadão inglês que sofreu séria crise de abstinência quando foi rever a sua casa de campo, local onde costumava usar cocaina, droga que já não usava há cerca de dois anos. Com respeito a isso existe um trabalho muito bem concebido pela Dra. Anna R. Childress , da Universidade da Pensilvânia, Filadélfia. Ela recrutou 14 pessoas dependentes de cocaína e 6 pessoas que nunca haviam experimentado essa droga. Submeteu-as ao exame de tomografia cerebral chamado PET (que tem a propriedade de distinguir as áreas em atividade das áreas em repouso do cérebro), fazendo-as assistir a duas sessões de 25 minutos de vídeo, uma apresentando cenas da natureza e a outra apresentando cenas relacionadas ao tráfico e uso da cocaina. Todas as 6 pessoas não usuárias declararam não sentir nada de especial enquanto assistiam aos vídeos, ao passo que os usuários de cocaína sentiram- se afetados com a exibição das cenas relacionadas à cocaína, referindo um desejo intenso e urgente de uso ("fissura", como se diz na gíria). A visão de cenas da natureza não afetou de modo significativo nenhum dos grupos. As imagens obtidas pelo PET não revelaram alterações cerebrais nos voluntários não usuários da droga, ao contrário dos importantes achados com relação aos usuários. Nestes, o giro cingulado anterior e a amídala, que são formações do sistema emocional ao qual pertence o circuito de recompensa, mostraram sinais de grande atividade..
Como Definir Objetivos com Kaizen & Ikigai: Foque, Cure a Procrastinação & Aumente sua Produtividade Pessoal (Alcance o Sucesso com Disciplina e Bons Hábitos)