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2186 Rural, Santa Maria, v.44, n.12, p.2186-2192, dez, 2014 Motta et al. http://dx.doi.org/10.1590/0103-8478cr20130479
ISSN 0103-8478
I
Departamento de Tecnologia da Madeira, Universidade do Estado do Pará (UEPA), Campus VIII, Avenida Hiléia, s/n, Agrópoles do
INCRA, 68503-120, Amapá, Marabá, PA, Brasil. E-mail: jpereiramotta@yahoo.com.br. Autor para correspondência.
II
Departamento de Ciências Florestais e da Madeira (DCFM), Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Jerônimo Monteiro, ES, Brasil.
III
Departamento de Engenharia Florestal, Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, PR, Brasil.
IV
Engenheira Industrial Madeireira, Departamento de Ciências Vegetais, Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), Mossoró,
RN, Brasil.
Recebido 08.04.13 Aprovado 23.05.14 Devolvido pelo autor 10.08.14
CR-2013-0479 Ciência Rural, v.44, n.12, dez, 2014.
Caracterização da madeira de quatro espécies florestais. 2187
anatômicas, químicas, físicas e mecânicas. Estes técnicas confiáveis, por parte dos comerciantes locais,
parâmetros, ao serem avaliados, são indicativos que a respeito das principais características tecnológicas da
contribuem no emprego de determinada espécie de madeira comercializada.
madeira para um fim específico (FREDERICO, 2009).
A composição química e a organização dos elementos MATERIAL E MÉTODOS
celulares da madeira determinam suas propriedades
e aptidões para o uso comercial (CHIMELO, 2007). Descrição do material
É importante destacar que a influência Para realização deste estudo, foram
da anatomia da madeira está relacionada utilizadas madeiras das espécies florestais Cedrela
principalmente com sua estrutura, que diz respeito fissilis, do híbrido clonal Eucalyptus urophylla
às diferenças nas dimensões dos elementos × Eucalyptus grandis, Hovenia dulcis e Gallesia
celulares, bem como as disposições, dimensões integrifolia, procedentes do município Jerônimo
e frequência das cavidades celulares, que se Monteiro, Estado do Espírito Santo. As madeiras
relacionam com a porosidade e permeabilidade da foram adquiridas na forma de tábuas, com espessura
madeira (ALBUQUERQUE et al., 2005). Segundo nominal de 3,0cm de comprimento e largura variável.
TOMAZELLO FILHO (2002), o conhecimento das Informações sobre a idade e localização das tábuas no
células e tecidos que compõem o lenho arbóreo é tronco são desconhecidas. No entanto, realizou-se a
básico para a caracterização da estrutura anatômica amostragem para as análises no cerne periférico.
das madeiras. As dimensões e disposição dos
elementos anatômicos também contribuem para o Caracterização anatômica
estudo das madeiras, estabelecendo informações A caracterização anatômica foi realizada
relacionadas aos parâmetros físicos e mecânicos. por meio da microscopia. Foram seguidas as
BREMER (2009) alerta sobre a recomendações da Comissão Panamericana de
importância do conhecimento das propriedades Normas Técnicas (COPANT, 1974) e da lista de
físicas da madeira utilizada estruturalmente, pois estas características microscópicas para a identificação da
propriedades podem influenciar significativamente madeira da Associação Internacional de Anatomistas
em seu desempenho e resistência. Conhecer o de Madeira (IAWA, 1989).
comportamento tecnológico da madeira das diferentes Foram feitas fotomicrografias dos
espécies florestais, nativas ou exóticas, é fundamental planos transversal, tangencial e radial da madeira
para aumentar as alternativas de uso delas. nas lâminas temporárias, por meio de uma câmera
LATORRACA & ALBUQUERQUE fotográfica digital, acoplada a um microscópio óptico
(2000) e CRUZ et al. (2003) mencionaram que comum. Com auxílio de um sistema de análises de
a densidade é a característica mais utilizada em imagem provido do software, foi possível mensurar
pesquisas relacionadas à qualidade da madeira, sendo os elementos anatômicos. Para a frequência vascular
esta a mais importante e a que melhor se relaciona (n° de células), diâmetro tangencial de poros (µm),
com as demais propriedades. LOBÃO et al. (2004) altura, largura e frequência dos raios (µm), utilizaram-
afirmaram que a resistência mecânica da madeira é se 200 repetições. Relativo ao comprimento, largura,
influenciada diretamente pela densidade do material. diâmetro do lume e espessura de parede (µm) foram
As variações dimensionais provocadas pela utilizadas 100 repetições.
contração e pelo inchamento da madeira constituem, Para a mensuração das fibras, realizou-se
conjuntamente com a anisotropia, características a dissociação dos elementos anatômicos, utilizando
indesejáveis da madeira, limitando o seu uso para o método proposto por NICHOLLS & DADSWELL,
diversas finalidades ou, ainda, exigindo técnicas descrito por RAMALHO (1987).
específicas de utilização (DURLO & MARCHIORI,
1992; SILVA & OLIVEIRA, 2003). Nesse contexto, Caracterização física
verifica-se a necessidade em disponibilizar A caracterização física foi mediante a
informações que auxiliam na escolha e adequação de determinação da densidade básica e da retratibilidade da
uso racional da madeira. madeira, por meio das contrações lineares e volumétricas.
O presente trabalho teve como objetivo As determinações seguiram recomendações do método
caracterizar a estrutura anatômica e as propriedades brasileiro MB26 da Associação Brasileira de Normas
físicas da madeira de espécies florestais comercializadas Técnicas – ABNT (1940).
no Estado do Espírito Santo. As mesmas foram A densidade básica foi determinada
selecionadas em função da ausência de informações utilizando-se 20 repetições e os corpos de prova nas
1
Valores entre parênteses são mínimo e máximo, respectivamente. *Coeficiente de variação (%). Médias seguidas pela mesma letra na
horizontal não diferem estatisticamente entre si (Tukey; P>0,05).
CV = coeficiente de variação. Médias seguidas pela mesma letra na horizontal não diferem estatisticamente entre si (Tukey, P>0,05).
* Coeficiente de variação (%). Médias seguidas pela mesma letra na horizontal, não diferem estatisticamente entre si (Tukey, P>0,05).
excelente, como a madeira de cedro, sucupira, Madeira (LCM) do Núcleo de Estudos e de Difusão de Tecnologia
em Florestas, Recursos Hídricos e Agricultura Sustentável
mogno, balsa; valores entre 1,5 e 2,0, a madeira é
(NEDTEC) do Centro de Ciência Agrárias (CCA) da Universidade
considerada normal, como o ipê, pinus, araucária, Federal do Espírito Santo (UFES).
peroba-rosa e teca; e, acima de 2,0, a madeira é
considerada ruim, exemplo da imbúia, álamo e REFERÊNCIAS
jatobá. Portanto, em função desta classificação, a
madeira da espécie Cedrela fissilis é classificada ALBUQUERQUE, C.E.C. et al., Adesão e adesivos. In: IWAKIRI,
S. Painéis de madeira reconstituída. Curitiba: FUPEF. 247p. 2005.
como excelente, e as madeiras das espécies do
híbrido clonal, Gallesia integrifolia e Hovenia ANDRADE, I.M; et al. Efeito da procedência na variação radial do
dulcis são classificadas como normais. Madeiras que comprimento de fibras e densidade básica da madeira de Gallesia
apresentam elevada estabilidade dimensional podem integrifolia (Spreng.) Harms. IF Série Registro, São Paulo, v.40,
p.39-43, 2009.
ser utilizadas normalmente na fabricação de piso,
esquadrias, portas e móveis. BREMER, C.F. Histórico das construções de madeira. In:
Segundo CARVALHO (1994), a espécie RODRIGUES, B.P.; FIEDLER, N.C.; BRAZ, R.L. Tópicos em
ciências florestais. n.1. Alegre: CCAUFES. p.11-21, 2009.
Hovenia dulcis apresenta potencial de utilização
diverso, entre eles a construção civil, marcenaria, CARVALHO, P.E.R. Ecologia, silvicultura e usos da uva-do-japão
vigas, caibros, tábuas, assoalhos, moirões, utilizada (Hovenia dulcis Thunberg). Colombo: EMBRAPA-CNPF, 1994.
também na fabricação de móveis e laminados, além do 24p. (Circular técnica, 23). Disponível em: <http://www.infoteca.
cnptia.embrapa.br/handle/doc/290745>. Acesso em: 10 ago. 2012.
seu aproveitamento na indústria de celulose e papel.
A madeira Cedrela fissilis pode COMMISSION PANAMERICANA DE NORMAS TÉCNICAS
ser largamente empregada em compensados, – COPANT. Descripcion de características generales,
macroscópicas de las maderas angiospermas dicotiledoneas.
contraplacados, esculturas e obras de talha, modelos v.30. p.1-19. 1974.
e molduras, esquadrias, móveis em geral, marcenaria,
na construção civil, naval e aeronáutica, na confecção COSTA, A. Coletâneas de anatomia da madeira. Anatomia da
de pequenas caixas, lápis e instrumentos musicais madeira. 42p. 2001. Disponível em: <http://www.joinville.udesc.
br/sbs/professores/arlindo/materiais/APOSTILANATOMIA1.
(LORENZI, 1996). pdf>. Acesso em: 10 ago 2012.
A espécie Gallesia integrifolia possui
madeira de baixa densidade e alta instabilidade CHIMELO, J. Anatomia e propriedades gerais da madeira.
In: OLIVEIRA, J.T.S.; FIEDLER, N.C.; NOGUEIRA, M.
dimensional, suas aplicações são restritas e Tecnologias aplicadas ao setor madeireiro. Jerônimo Monteiro:
normalmente utilizadas na obtenção de tábuas e Suprema Gráfica e Editora. p.107-124. 2007.
sarrafos, que podem ser utilizados em cimbramento,
construções temporárias, caixotaria, embalagens leves CRUZ, C.R. et al. Variações dentro das árvores e entre clones
das propriedades físicas e mecânicas da madeira de híbridos de
e miolo de painéis (MAINIERI & CHIMELO, 1989). Eucalyptus. Scientia Forestalis, Piracicaba, n.64, p.33-37, 2003.
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MAINIERI, C.; CHIMELO, J.P. Fichas de características das VALÉRIO, A.F. et al. Determinação da densidade básica da
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