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Linguagem Jurídica

Prof. Luciana Fiamoncini Frainer

2019
Edição 1
Copyright © UNIASSELVI 2019

Elaboração:
Prof. Luciana Fiamoncini Frainer

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

F812l

Frainer, Luciana Fiamoncini

Linguagem jurídica. / Luciana Fiamoncini Frainer. – Indaial:


UNIASSELVI, 2019.

190 p.; il.

ISBN 978-85-515-0271-6

1. Direito - Brasil - Linguagem - Brasil. II. Centro Universitário


Leonardo Da Vinci.

CDD 340.14
Impresso por:
Apresentação
A Língua Portuguesa é um universo a ser explorado. Utilizada em
todas as situações do cotidiano, é ela que faz com que sejamos seres sociáveis.
A linguagem é o que nos faz humanos. Este material, Linguagem Jurídica,
trará para você, acadêmico, um pouco mais do que é a língua portuguesa e
de que maneira ela deve ser utilizada no meio jurídico.

A linguagem jurídica possui muitas peculiaridades, como vocabulário


específico, jargões e outras situações que fazem com que ela se torne objeto
de estudos em inúmeras esferas do conhecimento.

Neste material, você estudará algumas das principais regras que


pautam o uso da linguagem jurídica e também terá disponíveis algumas
dicas importantes relacionadas ao uso da linguagem jurídica nos aspectos
oral e escrito, adequados a inúmeras situações do cotidiano.

Espero que com este material você consiga aprimorar o uso da nossa
Língua Portuguesa adequando-a às mais inusitadas situações da esfera
jurídica. Aproveite-o ao máximo, realize as autoatividades disponíveis e
acesse as referências utilizadas. Assim, você potencializará ainda mais seu
aprendizado.

Tenha uma excelente jornada de estudos.

Cordialmente,
Luciana Fiamoncini Frainer.

III
NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!

IV
V
VI
Sumário
UNIDADE 1 - COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS................................1
TÓPICO 1 - ELEMENTOS BÁSICOS DA COMUNICAÇÃO.......................................................3
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................3
2 AFINAL, O QUE É COMUNICAR? ................................................................................................3
2.1. O CONCEITO DE COMUNICAÇÃO.........................................................................................4
2.2. QUANDO E COMO SURGIU A COMUNICAÇÃO?..............................................................5
2.3. AS DIFERENTES MANEIRAS DE COMUNICAR...................................................................7
2.3.1 Comunicação verbal..............................................................................................................7
2.3.2 Comunicação não verbal......................................................................................................8
3 OS ELEMENTOS E AS CARACTERÍSTICAS DA (BOA) COMUNICAÇÃO .......................9
3.1. OS ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO . ................................................................................9
3.2. CARACTERÍSTICAS DA BOA COMUNICAÇÃO E DO BOM COMUNICADOR ...........14
3.3. A EXCELÊNCIA NA COMUNICAÇÃO: COMO CONSEGUI-LA? ....................................17
4 A PALAVRA: MATÉRIA-PRIMA DA LINGUAGEM JURÍDICA.............................................19
4.1. O QUE É A PALAVRA, AFINAL? . ............................................................................................20
4.2. O PODER DAS PALAVRAS.........................................................................................................21
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................24
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................25

TÓPICO 2 - O ESTILO JURÍDICO DE COMUNICAR...................................................................27


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................27
2 AS FIGURAS DE LINGUAGEM NO DISCURSO JURÍDICO..................................................27
2.1. AS FIGURAS DE PALAVRAS......................................................................................................27
2.2. AS FIGURAS DE PENSAMENTO . ............................................................................................29
2.3. AS FIGURAS DE SINTAXE .........................................................................................................30
3. A ESTILÍSTICA DO TEXTO JURÍDICO ......................................................................................32
3.1. O ESTILO JURÍDICO DE ESCREVER .......................................................................................32
3.2. A RETÓRICA..................................................................................................................................36
4. VÍCIOS DE LINGUAGEM: A CORREÇÃO DA LINGUAGEM JURÍDICA..........................38
4.1. CLASSIFICAÇÃO DOS VÍCIOS DE LINGUAGEM . ..............................................................39
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................40
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................42

TÓPICO 3 - REGRAS PARA A BOA COMUNICAÇÃO................................................................45


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................45
2 O CÓDIGO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA ...................................................45
2.1. REGRAS GERAIS .........................................................................................................................47
2.2. ACENTUAÇÃO ............................................................................................................................48
2.3. HÍFEN . ...........................................................................................................................................49
3 ALGUNS TRATADOS SINTÁTICOS PARA A COMUNICAÇÃO..........................................49
3.1. CONCORDÂNCIA NOMINAL .................................................................................................50
3.2. CONCORDÂNCIA VERBAL .....................................................................................................53
3.3. REGÊNCIA NOMINAL . .............................................................................................................56
3.4. REGÊNCIA VERBAL ...................................................................................................................57

VII
4 EXPRESSÃO CORPORAL: PARTE ESSENCIAL DA COMUNICAÇÃO................................60
4.1 SEU CORPO FALA.........................................................................................................................60
4.2 ENFRENTANDO O MEDO..........................................................................................................63
4.3 TÉCNICAS DE RELAXAMENTO................................................................................................64
4.4 DICAS PARA UMA BOA POSTURA NA HORA DE FALAR.................................................65
LEITURA COMPLEMENTAR..............................................................................................................67
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................72
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................73

UNIDADE 2 - PRODUZIR E INTERPRETAR TEXTOS: CONSIDERAÇÕES...........................75

TÓPICO 1 - DECODIFICANDO E INTERPRETANDO TEXTOS................................................77


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................77
2 A PRÁTICA DE LEITURA.................................................................................................................77
2.1 A MOTIVAÇÃO PARA LER ........................................................................................................79
2.2 OS TIPOS DE LEITORES ..............................................................................................................80
3 NOÇÕES METODOLÓGICAS DE LEITURA E INTERPRETAÇÃO ......................................82
3.1 É POSSÍVEL APRENDER A LER?................................................................................................86
3.2 VOCABULÁRIO TÉCNICO: COMO INTERPRETAR? ...........................................................87
3.3 A LEITURA DO PARÁGRAFO....................................................................................................88
4 ESTRATÉGIAS DE LEITURA...........................................................................................................89
4.1 SKIMMING E SCANNING . ........................................................................................................89
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................91
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................92

TÓPICO 2 - A PRODUÇÃO DE TEXTOS POR ESCRITO


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................95
2 LEITURA, ANÁLISE E PRODUÇÃO TEXTUAL: CONSIDERAÇÕES ...................................95
2.1 PARA ESCREVER É PRECISO ANTES APRENDER A LER....................................................97
2.2 OS OBJETIVOS DA ESCRITA.......................................................................................................98
3 COESÃO E COERÊNCIA ..................................................................................................................100
3.1 CONCEITO DE COESÃO..............................................................................................................100
3.2 A COESÃO NA PRÁTICA............................................................................................................103
3.3. CONCEITO DE COERÊNCIA.....................................................................................................106
3.4 A COERÊNCIA NA PRÁTICA . ..................................................................................................107
3.4.1 Coerência semântica..............................................................................................................108
3.4.2 Coerência sintática.................................................................................................................109
3.4.3 Coerência estilística...............................................................................................................109
3.4.4 Coerência pragmática............................................................................................................109
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................112
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................113

TÓPICO 3 - A PRODUÇÃO DE TEXTOS ORAIS...........................................................................115


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................115
2 A ARGUMENTAÇÃO COMO RECURSO PERSUASIVO.........................................................115
2.1 A PERSUASÃO E A ARTE DO CONVENCIMENTO...............................................................116
2.2 OS TIPOS DE ARGUMENTOS.....................................................................................................118
2.3 COMO SE DEVE FAZER UM DISCURSO . ...............................................................................119
3 A EXPRESSÃO ORAL COMO MEIO DE COMUNICAÇÃO EFICAZ.....................................120
3.1 OS RUÍDOS NA COMUNICAÇÃO ORAL ...............................................................................120
3.2 DICAS PARA UMA COMUNICAÇÃO ORAL EFICAZ..........................................................121
3.3 PRATICANDO O IMPROVISO....................................................................................................122

VIII
LEITURA COMPLEMENTAR..............................................................................................................124
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................126
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................127

UNIDADE 3 - A COMUNICAÇÃO JURÍDICA................................................................................129

TÓPICO 1 - INTRODUÇÃO À COMUNICAÇÃO JURÍDICA.....................................................131


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................131
2 O VOCABULÁRIO JURÍDICO ........................................................................................................131
2.1 OS JARGÕES JURÍDICOS ............................................................................................................135
2.2 DICAS PARA AUMENTAR O VOCABULÁRIO . ....................................................................136
2.3 A ESTRUTURA FRÁSICA: CLAREZA NAS IDEIAS . .............................................................137
3 LINGUAGEM JURÍDICA..................................................................................................................139
3.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE A LINGUAGEM JURÍDICA .......................................................140
3.1.1 Vocábulos unívocos...............................................................................................................140
3.1.2 Vocábulos equívocos.............................................................................................................140
3.1.3 Vocábulos análogos...............................................................................................................140
3.1.4 Parônimos...............................................................................................................................140
3.1.5 Arcaísmo.................................................................................................................................141
3.1.6 Estrangeirismos......................................................................................................................142
3.1.7 Latinismos...............................................................................................................................143
3.2 A ELOQUÊNCIA ...........................................................................................................................143
3.3 A SEMIÓTICA E SUA RELAÇÃO COM O DIREITO ..............................................................144
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................147
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................148

TÓPICO 2 - O DISCURSO JURÍDICO..............................................................................................149


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................149
2 ENUNCIAÇÃO E DISCURSO JURÍDICO.....................................................................................149
2.1 O QUE É UM ENUNCIADO?.......................................................................................................150
2.2 DISCURSO DE DEFESA E DISCURSO DE ACUSAÇÃO........................................................151
2.3 A TÉCNICA DA REFUTAÇÃO ...................................................................................................151
3 REDAÇÃO JURÍDICA ......................................................................................................................153
3.1 A ESTRUTURA DO PARÁGRAFO..............................................................................................153
3.2 COMO REDIGIR UM BOM TEXTO JURÍDICO.........................................................................156
3.3 A ELABORAÇÃO DAS PEÇAS JURÍDICAS .............................................................................158
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................162
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................163

TÓPICO 3 ORATÓRIA FORENSE......................................................................................................165


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................165
2 ASPECTOS LINGUÍSTICOS E REDACIONAIS DE PEÇAS JURÍDICAS.............................165
3 A ORATÓRIA FORENSE...................................................................................................................169
3.1 A FORMAÇÃO DO ORADOR.....................................................................................................171
3.1.1 Modulação da voz.................................................................................................................171
3.1.2 Autoconfiança.........................................................................................................................172
3.1.3 Empatia...................................................................................................................................172
3.1.4 Capacidade de síntese...........................................................................................................172
3.1.5 Bom humor.............................................................................................................................173
3.1.6 O orador na tribuna e o uso do microfone.........................................................................173
3.2 A VOZ, A DICÇÃO E A PRONÚNCIA . ....................................................................................176
3.3 INTENSIDADE, FLUTUAÇÃO, VELOCIDADE.......................................................................178

IX
LEITURA COMPLEMENTAR..............................................................................................................180
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................183
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................184
REFERÊNCIAS........................................................................................................................................187

X
UNIDADE 1

COMUNICAÇÃO: A BASE DAS


PRÁTICAS JURÍDICAS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender o conceito de comunicação, bem como as diferentes maneiras de


comunicar de acordo com a situação;

• conhecer os elementos da comunicação, reconhecendo as características da boa


comunicação e do bom comunicador a partir da sua aplicação nas práticas co-
tidianas;

• reconhecer as figuras de palavras, de pensamento e de sintaxe envolvidas na


produção textual jurídica, seja ela oral ou escrita;

• conceituar a retórica, bem como os vícios de linguagem utilizados na lingua-


gem jurídica;

• compreender o uso da acentuação, hifenização e demais regras da Língua Por-


tuguesa de acordo com o código ortográfico brasileiro;

• aplicar concordância nominal, verbal e regência nominal e verbal quando no


uso da Língua Portuguesa;

• saber portar-se quando num discurso, com a consciência de que seu corpo fala;

• utilizar técnicas de relaxamento, bem como dicas para perder o medo de falar
e para ter uma boa postura na hora de falar publicamente.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – ELEMENTOS BÁSICOS DA COMUNICAÇÃO

TÓPICO 2 – O ESTILO JURÍDICO DE COMUNICAR

TÓPICO 3 – REGRAS PARA A BOA COMUNICAÇÃO

1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

ELEMENTOS BÁSICOS DA COMUNICAÇÃO

1 INTRODUÇÃO
A comunicação não é algo desenvolvido há pouco tempo, nem menos novo
para nós. Comunicar, mesmo que não através das palavras, é uma habilidade que
já existe há milhares de anos, seja a partir de sinais, de grunhidos ou mesmo da
arte rupestre.

A comunicação é, teoricamente, a maneira que temos para nos relacionar


com a sociedade de maneira geral, mas é preciso consciência para saber que, para
cada ocasião, é necessário um estilo diferente de comunicar. Para o ambiente
jurídico, não seria diferente.

Quando num contexto jurídico, algumas são as regras essenciais para que a
comunicação se estabeleça de maneira eficaz. Para tanto, neste tópico, trabalharemos
o que é a comunicação, seu conceito, quando surgiu e o que é preciso fazer para
tornar-se um bom comunicador. Está pronto? Então, vamos adiante.

2 AFINAL, O QUE É COMUNICAR?


Parece muito fácil conceituar a palavra comunicação, mas para que
possamos refletir acerca dos múltiplos significados da palavra, vamos ao
dicionário:

Comunicar (verbo transitivo)


1. Ação de dar a conhecer, divulgar ou informar; expor, noticiar ou
veicular. Por exemplo: Vou comunicar a informação relevante aos
encarregados de educação.
2. Colocar-se em contato ou relação com outrem; principiar
comunicação com. Por exemplo: Vou comunicar com minha amiga.
3. Atribuir passagem ou possuir conexão entre dois ou mais locais;
interligar ou dar para. Por exemplo: o quintal comunica com a cozinha
da casa.
4. Ato de transmitir ou contar alguma informação ou dado novo a
alguém.
5. Ficar ou estar em comunicação ou contato com.
6. Divulgar-se, espalhar-se ou transmitir-se. Por exemplo: comunique
da mudança da data da reunião.
Sinônimos de Comunicar
advertir, avisar, conversar, discursar, enviar, expedir, exprimir, falar,
informar, inteirar, intimar, legar, notificar, orar, remeter, transmitir
(LÉXICO, 2018).

3
UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

A partir de todas estas explicações, podemos chegar à conclusão de que


são muitos os significados para a palavra comunicar, mas que todos eles têm algo
em comum: a conexão com a sociedade. Nenhuma comunicação se efetiva se não
tem o propósito de estabelecer um relacionamento, seja ele amistoso, de alerta, de
advertência, por necessidade ou apenas para deleite.

A seguir, trabalharemos mais aprofundadamente a temática que neste


material queremos propor, que é a comunicação voltada ao aspecto jurídico.
Vamos adiante.

2.1. O CONCEITO DE COMUNICAÇÃO


Conceituar a comunicação, conforme já mencionamos, não é uma tarefa
simples. Nesta seção, trabalharemos o conceito de comunicação mais aplicado
à realidade atual: a transmissão de informações. Também focaremos no aspecto
jurídico, que é o objetivo deste material.

Observe a tirinha:

FIGURA 1 - ESTUDAR DIREITO – CAMILO E ARMANDINHO

FONTE: <https://goo.gl/GMYkvb>. Acesso em: 20 dez. 2018.

Aqui, percebemos que ocorre uma falha na comunicação, quando


Armandinho não compreende o sentido da palavra “direito”, dita por Camilo.
Camilo se refere ao curso de Direito, mas Armandinho compreende que “estudar
direito” significa estudar da maneira correta.

Este é um dos muitos exemplos que poderíamos citar como problema na


comunicação. De acordo com Berlo (1991), devemos pensar em todas as formas
de comunicação, bem como em seus instrumentos de transmissão. Antes mesmo
que possamos identificar todos eles, vários outros já serão criados neste espaço de
tempo, tão rápida é a velocidade da comunicação.

Se analisarmos a tecnologia da comunicação, desde 1950 percebemos as


inúmeras inovações que vêm ocorrendo. Basta que observemos a televisão e sua

4
TÓPICO 1 | ELEMENTOS BÁSICOS DA COMUNICAÇÃO

evolução. Também os aparelhos de telefones celulares, que hoje se apresentam


acoplados à mini câmeras e transmissores altamente sofisticados, o que nos
permite conversar em tempo real com pessoas de qualquer parte do mundo.

Berlo (1991) propõe que pensemos no tempo das cavernas. A comunicação


de lá para cá mudou muito, pois mudou também a sociedade. Apesar de o
objetivo principal permanecer o mesmo, a tecnologia que permeia este ambiente
mudou de modo expoente. A sociedade precisa hoje da comunicação para tornar
comum um conhecimento, divulgar uma informação, mostrar uma decisão, dar
uma opinião, relatar um fato ou, em linhas gerais, passar uma mensagem.

Na época das cavernas, a comunicação era voltada ao relacionamento


da tribo, para o mantimento das necessidades básicas, como a caça e a fuga dos
predadores, entre outros. A comunicação, de acordo com Berlo (1991), afasta ou
aproxima, provocando a reação do outro.

Mas, afinal, qual é o conceito da comunicação aplicado à atualidade?


Nos dicionários, como você pôde observar na seção anterior, existem inúmeros
significados. A palavra comunicar vem da etimologia latina, a partir do termo
comunicativo, e significa ação de comunicar, partilhar, dividir.

A seguir, apresentamos o conceito que mais está de acordo com o que


propomos neste material.

NOTA

A comunicação é o processo que envolve a transmissão e a recepção de


mensagens que partem de um emissor (destinatário) a um receptor (remetente). As
informações (mensagens) são transmitidas por intermédio de recursos físicos (fala, escrita,
audição, visão, tato) ou de aparelhos tecnológicos (celulares, cartazes, e-mails). Estes são
codificados pelo emissor e decodificados pelo receptor.

2.2. QUANDO E COMO SURGIU A COMUNICAÇÃO?


Definir quando e como surgiu a comunicação é uma tarefa delicada, pois
desde que existe a humanidade, existe alguma forma de comunicar. É fato que
a comunicação surgiu por conta da necessidade de interação com o mundo. O
ser humano necessita comunicar-se com o mundo que o rodeia, trocando ideias,
expressando sentimentos ou adquirindo conhecimentos.

Assim como foi evoluindo o homem, também evoluíram os meios de


comunicação, e a partir da sua capacidade cerebral, eles foram ficando cada vez
mais específicos para um determinado objetivo. Hoje em dia, além da comunicação
5
UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

em tempo real, ainda temos a comunicação a partir de livros, e-mail, circulares,


televisão, telefonia celular e inúmeros outros recursos.

Mas, voltemos às origens. De acordo com Tattersall (2006), os primeiros


vestígios de comunicação surgiram há cerca de 20 mil anos, quando os homens
faziam desenhos nas paredes das cavernas. Com os estudos posteriores, ficou
comprovado que estes desenhos objetivavam retratar aspectos da vida cotidiana
ou ainda retratar técnicas de caça. Este último registro tinha por intuito transmitir
o conhecimento para as próximas gerações.

NOTA

Você sabia que as tintas usadas nas pinturas rupestres eram feitas com plantas, flores
coloridas, terra e carvão e tinham uma alta durabilidade? No Brasil, ainda é possível ver os
registros em cavernas de vários estados, mas as mais visitadas são em Minas Gerais e no Piauí.

Depois da pintura rupestre, surgiram outros meios tecnológicos mais


eficientes para registrar a escrita e conservá-la, como o papiro, a tinta, o grafite,
o papel e todas as demais maneiras de comunicar que conhecemos hoje e ainda
preservamos. Com o advento da tecnologia, telefones e internet tornaram a
comunicação ainda mais eficaz.

Observe a imagem a seguir:

FIGURA 2 - A EVOLUÇÃO DA COMUNICAÇÃO

FONTE: <https://goo.gl/N6E1yE>. Acesso em: 28 nov. 2018.

6
TÓPICO 1 | ELEMENTOS BÁSICOS DA COMUNICAÇÃO

Assim como mostra a imagem, podemos perceber que a comunicação


evolui ao passo que evolui a tecnologia. De uma era de símbolos, hoje temos a
informação que facilmente pode ser acessada a qualquer momento. Na próxima
seção trabalharemos um pouco mais especificamente cada uma das maneiras de
comunicar.

2.3. AS DIFERENTES MANEIRAS DE COMUNICAR


Como já mencionamos anteriormente, existem inúmeras maneiras de
comunicar. Nesta seção, trabalharemos com algumas características de cada
uma delas.

Vamos lá?

2.3.1 Comunicação verbal


É a maneira mais convencional de comunicação entre pares, pois, por
ser momentânea, pode transmitir ideias e pensamentos de qualquer nível de
complexidade. A comunicação verbal é caracterizada pelo uso das palavras.
Podemos classificar a linguagem verbal em dois tipos:

• Escrita: esta maneira de se comunicar verbalmente é determinada pelo fato de


que o receptor não está presente na conversa. Mesmo que haja interação, esta,
na maioria das vezes, não é momentânea. Para este tipo de comunicação, deve-
se levar em consideração que o estilo da escrita deve estar alinhado ao objetivo
da mensagem.

• Oral: a comunicação oral, diferente da escrita, em sua maioria apresenta a interação


imediata. Ela pode ocorrer independente do fato de o interlocutor estar no mesmo
local, como é o caso de uma conversa por telefone. Para uma boa comunicação oral,
é preciso estar atento à naturalidade e à objetividade da mensagem.

FIGURA 3 - EXEMPLO DE LINGUAGEM VERBAL

FONTE: disponível em: <https://goo.gl/dAtn5x>. Acesso em: 28 nov. 2018.

7
UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

NOTA

A comunicação oral, por ser imediata (quando não se tratar de uma gravação,
por exemplo), permite ao falante clarear a mensagem, esclarecendo certos mal-
entendidos que podem ocorrer no ato, diferente da escrita, que precisa ser muitíssimo clara
para que o leitor não compreenda mal o que o escritor quis dizer.

A comunicação verbal eficaz ocorre de maneira passiva e ativa, sendo


que a primeira ocorre quando recebemos a mensagem (lemos ou ouvimos) e a
segunda ocorre quando emitimos a mensagem (escrevemos ou falamos).

2.3.2 Comunicação não verbal


Ao contrário da comunicação verbal, a comunicação não verbal é feita a
partir de cores, gestos, códigos, imagens ou sons. A comunicação não verbal está
presente no nosso dia a dia a partir de inúmeras manifestações, como semáforos,
buzinas, sinais de trânsito e a Língua Brasileira de Sinais (Libras).

FIGURA 4 - EXEMPLO DE LINGUAGEM NÃO VERBAL

FONTE: <https://goo.gl/ipEFd5>. Acesso em: 28 nov. 2018.

Caro acadêmico, independentemente da modalidade de comunicação


escolhida, é primordial levar em consideração a assertividade da comunicação.
Assim sendo, seja ela verbal ou não, é importante compreender que se não houver
clareza, o objetivo não será cumprido. Na próxima seção, você conhecerá quais
são os elementos da comunicação. Está pronto? Vamos lá.

8
TÓPICO 1 | ELEMENTOS BÁSICOS DA COMUNICAÇÃO

3 OS ELEMENTOS E AS CARACTERÍSTICAS DA (BOA)


COMUNICAÇÃO
A comunicação precisa de alguns elementos para ser efetivada. Nesta
etapa dos seus estudos, conheceremos cada um destes elementos e a sua função
dentro do processo da comunicação.

Vamos adiante.

3.1. OS ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO


De acordo com Vanoye (2003), temos alguns elementos que são primordiais
para que o processo comunicativo se efetive. São eles o emissor, o receptor, o
referente, o canal, o código e a mensagem.

A partir de agora faremos uma análise detalhada de cada um destes


elementos e sua função dentro do processo comunicativo.

• EMISSOR: é aquele que codifica (ou transmite) a mensagem. Em um processo


de escrita, por exemplo, o emissor é aquele que escreve. O emissor deve
preocupar-se em transmitir a mensagem de uma maneira clara para facilitar
o processo de interpretação do receptor. É representado no discurso pela
primeira pessoa (eu/nós).
• RECEPTOR: é aquele que decodifica (ou recebe) a mensagem. No mesmo
processo de escrita, ele seria, por exemplo, aquele que lê a mensagem. A
percepção do receptor faz toda a diferença quando se trata da decodificação da
mensagem, pois é ele quem interpreta, colocando na mensagem a sua emoção.
É representado no discurso pela segunda pessoa (tu) ou ainda pelos pronomes
de tratamento (Vossa Excelência, você, Sua Santidade etc.).

DICAS

Você conhece os pronomes de tratamento? Preparamos uma tabela para que


você possa relembrá-los.

PRONOMES DE TRATAMENTO.

Vossa Alteza    V. A.   Duques e príncipes


Vossa Eminência V. Ema.(s) Cardeais
Vossa Reverendíssima V. Revma.(s) Bispos e sacerdotes
Vossa Excelência V. Ex.ª (s) Altas autoridades
Vossa Magnificência V. Mag.ª (s) Reitores de universidades

9
UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

Vossa Majestade V. M. Reis e rainhas


Vossa Majestade Imperial V. M. I. Imperadores
Vossa Santidade V. S. Papa
Vossa Senhoria V. S.ª (s) Autoridades em geral
Vossa Onipotência V. O. Deus

FONTE: A autora

• REFERENTE: é o popular “assunto”, ou seja, o objeto (ou a pessoa) do qual


o emissor está falando. É representado no discurso pela terceira pessoa (ele,
ela, eles, elas ou ainda pelos pronomes demonstrativos este, esta, esse, essa,
aquele, aquela, isso, isto).
• CANAL: é o meio que conecta o emissor ao receptor. O canal dependerá
muito do código que for escolhido para a transmissão da mensagem. O canal
pode ser físico ou psicológico, dependendo do tipo de comunicação efetivada.
Como exemplo de canal físico indicamos o rádio, a televisão, o telefone, a
carta, a internet. Como exemplo de canal psicológico indicamos as expressões
corporais, as piscadas, os sorrisos.
• CÓDIGO: é o conjunto de signos que o emissor escolhe para transmitir a
mensagem. O código tem estreita relação com o canal. Exemplos de códigos
são o Morse, o alfabeto, as placas de trânsito, escrita braile e outros.
• MENSAGEM: é o que se transmite de fato. Pode ser um aviso, uma notificação,
uma notícia, um lembrete ou uma informação.

Para que você possa compreender o processo que desencadeia a


comunicação, observe a imagem a seguir (Figura 5), que conecta todos os
elementos da comunicação em seu funcionamento.

Algo que deve ser enfatizado também é o fato de que há, no processo de
comunicação, o uso das FUNÇÕES DA LINGUAGEM. As funções da linguagem
são geradas por cada um dos elementos da comunicação.

Mas em que consistem estas funções de linguagem? De acordo com


Bechara (2009), as funções são o foco da mensagem em um dos seis elementos da
comunicação que trabalhamos anteriormente. Cada uma delas, de acordo com o
autor, possui características bem particulares.

Agora que você já sabe o que são as funções de linguagem, vamos à


explicação detalhada de cada uma delas:

• Função Referencial ou Denotativa: esta função traz informações reais, que


trazem ao leitor os fatos como eles são.
o Por exemplo: os jornais e documentários sempre utilizam esse tipo de
linguagem porque relatam situações que realmente ocorreram.
o Foco: referente.
10
TÓPICO 1 | ELEMENTOS BÁSICOS DA COMUNICAÇÃO

FIGURA 5 - FUNÇÃO REFERENCIAL

FONTE: <https://goo.gl/9iwpoG>. Acesso em: 20 nov. 2018.

• Função Emotiva ou Expressiva: essa função traz as emoções do emissor.


É o tipo de função que explicita as opiniões e emoções de quem escreve a
mensagem.
o Por exemplo: poemas ou textos de cunho literário ou poético, canções.
o Foco: emissor.

FIGURA 6 - FUNÇÃO EMOTIVA - AMOR ANTIGO, POEMA DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

O Amor Antigo

O amor antigo vive de si mesmo,


não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.

O amor antigo tem raízes fundas,


feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.

Se em toda a parte o tempo desmorona


aquilo que foi grande e deslumbrante,
o antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.

Mais ardente, mas pobre de esperança.


Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.
FONTE: <https://goo.gl/zWmXBt>. Acesso em: 20 nov. 2018.

• Função Fática: tem por objetivo dar continuidade à conversa. Um dos seus
principais detalhes é a repetição dos termos.
11
UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

o Por exemplo: conversas ao telefone.


o Foco: canal.

FIGURA 7 - FUNÇÃO FÁTICA

FONTE: <https://goo.gl/GjF8Fi>. Acesso em: 20 nov. 2018.

• Função Conativa ou Apelativa: tem por objetivo influenciar o receptor a partir


do apelo.
o Por exemplo: propagandas de modo geral.
o Foco: receptor.

FIGURA 8 - FUNÇÃO CONATIVA

FONTE: <https://goo.gl/C78mdo>. Acesso em: 20 nov. 2018.

• Função Metalinguística: esta função de linguagem utiliza o código para


explicar o próprio código.
12
TÓPICO 1 | ELEMENTOS BÁSICOS DA COMUNICAÇÃO

o Por exemplo: dicionários da língua portuguesa, quando usamos palavras


para explicar palavras.
o Foco: código

FIGURA 9 - FUNÇÃO METALINGUÍSTICA

FONTE: <https://www.dicio.com.br/conectar/>. Acesso em: 20 nov. 2018.

• Função Poética: esta função visa enfatizar a mensagem, ressaltando a maneira


como ela é estruturada para dar ênfase ao seu significado. Quando o escritor
escolhe a função poética, ele preocupa-se muito mais com as rimas, com a
estrutura e com a imagem do que com as palavras em si.
o Por exemplo: poemas.
o Foco: mensagem.

FIGURA 10 - FUNÇÃO POÉTICA

FONTE: <https://goo.gl/pgygVD>. Acesso em: 20 nov. 2018.

Para compreender melhor esta estrutura, observe a figura a seguir:

13
UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

FIGURA 11 - A COMUNICAÇÃO E SEUS ELEMENTOS

FONTE: <https://goo.gl/om3BUh>. Acesso em: 28 nov. 2018.

Agora que você já conhece todos os elementos da comunicação e já


compreende as funções da linguagem que as cercam, vamos adiante. A partir de
agora, estudaremos um pouco mais acerca das características da boa comunicação
e do bom comunicador.

Adiante!

3.2. CARACTERÍSTICAS DA BOA COMUNICAÇÃO E DO


BOM COMUNICADOR
Antes de iniciarmos nossa conversa, leia atentamente os dois recados a
seguir:

• Recado 1: Amanhã vir uniformizados às 10h para a reunião no pátio da


empresa com o diretor da ISO 9001.
• Recado 2: Amanhã todos os funcionários deverão vir uniformizados para a
reunião que ocorrerá às 10h, no pátio da empresa, com o diretor da ISO 9001.

Ambos os recados trazem exatamente a mesma mensagem, mas se você


notar, o recado de número 2 está mais claro, não é mesmo? Assim ocorre a
comunicação. Quanto mais clara e organizada for a mensagem, menores são os
possíveis problemas que isso pode causar.

Comunicar-se, conforme já mencionamos, é essencial em todas as esferas


da vida, seja na família, com os amigos ou para negócios. Na área jurídica, que
14
TÓPICO 1 | ELEMENTOS BÁSICOS DA COMUNICAÇÃO

é o foco deste material, também. Trocando em miúdos, para que tenhamos bons
relacionamentos interpessoais, devemos aperfeiçoar nossa conversação, porque a
partir dela podemos tudo ganhar ou tudo perder. Isso é sério, não é?

ATENCAO

Você sabia que de acordo com o site da revista Exame, 57% dos projetos
fracassam por causa da má comunicação entre as partes?

Saber ouvir é tão importante (ou mais) do que saber falar. Buscar falar com
espontaneidade traz um ambiente mais amigável e pode ser uma porta aberta
para negociações ou amizades. Já uma conversa fechada, sem muita abertura,
pode ser o desperdício de uma chance para quem sabe, futuros negócios.

Conforme Maciel (2016, s.p.), “conversar é também uma arte. O tom


de voz, os gestos, uma linguagem bem falada, com conteúdo e palavras bem
pronunciadas, são fatores importantes em uma conversação”. Para uma pessoa
que trabalha na área jurídica, especificamente, o sucesso depende de saber usar
as palavras.

Por mais que pareçam coisas sem importância, pequenos detalhes podem
ser cruciais para causar uma boa impressão (ou não). Ainda de acordo com Maciel
(2016), até mesmo o tom de voz que usamos revela nossa personalidade. Uma voz
firme transmite muito mais confiança do que uma voz trêmula e insegura.

Você deve estar se perguntando, acadêmico, o que, de fato, se caracteriza


como uma boa comunicação e o que faz um bom comunicador, correto? Para que
a comunicação seja eficaz, é preciso que a mensagem seja corretamente entendida
pelo receptor e que de certa forma cumpra o que se propõe a fazer.

Vamos a um exemplo: se um vendedor consegue convencer quem o está


ouvindo a comprar um televisor em sua loja, a comunicação dele foi eficaz. Se
os funcionários compareceram uniformizados e reuniram-se no pátio às 10h, a
comunicação foi eficaz.

E
IMPORTANT

Lembre-se: a comunicação não depende somente do emissor, mas também do


receptor.

15
UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

Maciel (2016, s.p.) nos apresenta algumas dicas para sermos bons
comunicadores, listando o que não devemos fazer quando conversamos. Estas
dicas podem ser usadas em todas as esferas da comunicação. Vamos conhecê-las?

O que devemos evitar durante a conversação, no que tange aos


aspectos físicos:

• Falar baixo ou alto demais.


• Falar rápido ou devagar demais.
• Fazer caretas, gaguejar ou balbuciar.
• Roer as unhas ou morder os lábios.
• Arrumar a roupa de outras pessoas.
• Bater nos ombros ou coçar a cabeça.
• Mascar chiclete.

Devemos evitar também, no aspecto intelectual:

• Ser indiscretos ou curiosos.


• Ser excessivamente francos.
• Ser muito polidos ou muito descolados.
• Ficar em silêncio (o popular “dar vácuo”).
• Exibir nossas qualidades.
• Interromper as pessoas no meio dos seus pensamentos.
• Fazer fofocas ou comentários maldosos.

Ressaltamos que estas dicas são preciosas e se você conseguir evitá-las na


hora da conversa, certamente será um bom comunicador. O excesso de franqueza,
por exemplo, embora possa parecer politicamente correto, pode estar ligado à
falta de educação e, de certa forma, afasta as pessoas de você. Já a sinceridade
sim, esta é ligada ao raciocínio e ao bom caráter.

UNI

Ao conversar, seja mais sincero do que franco.

Outra observação que deve ser levada em consideração e que pode parecer
inofensiva é prestar atenção somente ao que nos interessa. Ouça o que a pessoa
está falando. É extremamente desagradável ouvir ao final da pergunta ou da frase
as expressões “hum?” ou “desculpe?”. É claro que há casos em que realmente a
audição possa ser prejudicada, como em uma festa, um local com muitas pessoas,
mas não se justifica quando estiverem sentados no sofá de sua casa ou na mesa
do escritório. Lembre-se de soltar o celular quando você conversa com as pessoas.

Outra dica importante que se soma às anteriores: não chame de “querido”,


de “amado”, de “meu bem” pessoas com quem você não tenha muita intimidade.
Isso pode passar a imagem de que você está querendo “forçar a barra”. Com

16
TÓPICO 1 | ELEMENTOS BÁSICOS DA COMUNICAÇÃO

quem não conhece, evite também ser aquela pessoa que só fala de tragédias, más
notícias ou piadas sem graça.

Maciel (2016) também ressalta que olhar nos olhos das pessoas com quem
se fala demonstra consideração, e, assim como o saber ouvir, faz parte da regra de
que é inaceitável deixar o interlocutor falando sozinho, e isso infelizmente ocorre
muito. Se você olhar no olho, evita distrair-se.

ATENCAO

Lembre-se sempre: para ser um bom comunicador, use a regra do OPA:

OUÇA quem está falando com PACIÊNCIA e preste ATENÇÃO no seu interlocutor. Assim,
você não dará nenhuma bola fora.

3.3. A EXCELÊNCIA NA COMUNICAÇÃO: COMO


CONSEGUI-LA?
Conversamos bastante a respeito de como ser um bom comunicador, mas
de que maneira conseguir a excelência? Ou seja, como podemos fazer para que
nossa comunicação seja eficaz em mais de 90% das nossas empreitadas?

Gross (2013) elenca algumas dicas de ouro para que possamos ter sucesso
nas negociações a partir da comunicação. A seguir, selecionamos para vocês,
acadêmicos, cinco destas dicas criadas pelo autor. Você perceberá que algumas
delas muito têm a ver com o que já estudamos até agora.

Está pronto? Vamos lá, então.

QUADRO 1 – DICAS DE OURO PARA TER SUCESSO NAS NEGOCIAÇÕES A PARTIR DA


COMUNICAÇÃO

Dica número 1: Fique atento ao perfil de quem receberá a mensagem.

Isso quer dizer que você precisa observar se a pessoa para quem você está
transmitindo a mensagem irá compreender o que você vai dizer. Gross
(2013) ainda ressalta que por mais que isso pareça óbvio, nem todos os
comunicadores estão atentos a isso. Quer ver um exemplo? Quando um
técnico de informática chega à sua casa para resolver um problema com seu
computador e usa termos específicos, você provavelmente terá dificuldades
em entender o que ele quer dizer, não é mesmo? Gross (2013) destaca que

17
UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

isso não está atrelado à falta de capacidade, mas sim, à falta de vocabulário
específico ou mesmo de conhecimento técnico.

Dica número 2: Invista nas três esferas da comunicação

De acordo com pesquisas no laboratório de psicologia da UCLA


(Universidade da Califórnia) citadas no livro de Gross (2013), a comunicação
humana face a face é composta da seguinte maneira: 55% são mensagens
não verbais, 38% acontecem pelo tom de voz e 7% são verbais. Desta
maneira, muitos comunicadores acabam pecando por focarem em apenas
uma pequena parte desta composição (geralmente apenas nos 7% que
correspondem ao verbal). A postura, o olhar, a roupa que você usa, o aperto
de mão e outros detalhes são extremamente importantes ao comunicar. De
acordo com Gross (2013, p. 13), “explorar as três esferas da comunicação
aumenta a possibilidade de sermos bem-sucedidos e compreendidos em
nossas mensagens”.

Dica número 3: Saiba ouvir

Olha o que nos aparece novamente? Esta dica de ouro já foi mencionada
anteriormente, em outra seção, não é mesmo? Assim, podemos ter ainda
mais certeza de que a comunicação é eficaz quando o comunicador ouve
com atenção. Ao afirmar que “durante uma conversa, quando você se
silencia e escuta o outro de maneira focada, envia uma mensagem que é
interpretada positivamente pelo receptor: ele me ouve, valoriza as minhas
ideias, respeita e me considera como indivíduo” (GROSS, 2013, p. 44), o
autor desconstrói a percepção comum que as pessoas têm de que quanto
mais elas falarem e expuserem suas ideias, mais poder de influência elas
terão. Resumindo: se você deseja ser um influenciador, deve interagir com
as pessoas, e para isso é preciso fugir de monólogos. Lembre-se da regra do
“OPA”: OUÇA quem está falando com PACIÊNCIA e preste ATENÇÃO no
seu interlocutor.

Dica número 4: Aposte na assertividade

Ser claro, objetivo e agir com sinceridade são características de quem é


assertivo. A transparência, por mais que não pareça, é sim percebida por
quem ouve. Lembre-se do que mencionamos anteriormente: ser sincero
é diferente do que ser franco. Olhar para quem fala, manter um tom de
voz firme e moderado são, de acordo com Gross (2013), características
raras em quem comunica. O autor ainda afirma que muitas pessoas não
são sinceras por terem medo das retaliações, mas se omitir por este medo
causa mal à saúde.

18
TÓPICO 1 | ELEMENTOS BÁSICOS DA COMUNICAÇÃO

Dica número 5: Use técnicas para aumentar o impacto da mensagem

Quando a mensagem é impactante, ela marca muito mais, não é mesmo?


Quem se lembra da série de propagandas relacionadas ao “Se beber, não
dirija”? O impacto é causado a partir do uso de técnicas. Os publicitários
são a classe que mais utiliza esta técnica, e não é para menos, pois eles
têm por objetivo vender ou divulgar produtos ou serviços, na maioria das
vezes, tentando “seduzir” o leitor ou telespectador. Gross (2013) cita como
algumas das táticas usadas por ele o uso de textos, fotos, símbolos, cores,
formas e imagens que despertem a atenção do receptor. Quebrar o padrão
da rotina também é algo que chama a atenção. Não caia na mesmice. Seja
autêntico. Depois, observe sua “plateia”. Adéque sua linguagem. Observe se
são jovens, se são idosos, se são policiais, se são professores, se são médicos,
se são funcionários públicos, se são vendedores etc. Estimulá-los para
descobrir os motivos que os fariam mudar de atitude é a chave. “Ofereça
algo que lhe traga satisfação ou que possa resolver um problema que o
aflige” (GROSS, 2013, p. 48). Para finalizar, basta colher o que você plantou.
Pode ser conquistar um cliente, vender um carro, convencer alguém a parar
de fumar, vender um projeto...

FONTE: Adaptado de Gross (2013)

Estas dicas foram valiosas, não é mesmo? Aproveite cada uma delas e não
as deixe no papel. Coloque-as em prática. Você sentirá a diferença.

Chegamos ao fim da seção 3. Mas ainda temos muito pela frente. Vamos
lá? Fique firme e você aprenderá muitas técnicas interessantes.

4 A PALAVRA: MATÉRIA-PRIMA DA LINGUAGEM JURÍDICA


Não é novidade afirmar que a palavra é a matéria-prima de quem trabalha
na área jurídica, não é mesmo? Seja na escrita ou na fala, o bom uso delas é
essencial para quem deseja ser bem-sucedido na carreira.

Nesta última seção do Tópico 1, estudaremos o conceito e o uso das


palavras de maneira a retirar delas a sua melhor essência.

Vamos lá.

19
UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

4.1. O QUE É A PALAVRA, AFINAL?

DICAS

Para que possamos iniciar, vamos a um poema.

As Palavras

São como um cristal,


as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.


Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem


as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?
(ANDRADE, 1981, p. 89)

FONTE: ANDRADE, E. As palavras. In: ______. Poemas de Eugénio de Andrade: o homem,


a terra, a palavra. Portugal: Seara Nova, 1981.

Um poema não se explica, apenas se interpreta. A partir dele, você


consegue perceber a complexidade das palavras, não é mesmo? Mas, afinal, qual
é o conceito de palavra?

20
TÓPICO 1 | ELEMENTOS BÁSICOS DA COMUNICAÇÃO

NOTA

PA. LA. VRA (nome feminino)


1. unidade linguística dotada de sentido, constituída por fonemas organizados numa
determinada ordem, que pertence a uma (ou mais) categoria(s) sintática(s) e que, na escrita,
é delimitada por espaços brancos; termo, vocábulo;
2. faculdade de falar;
3. doutrina, ensinamento;
4. promessa verbal;
5. sentença;
6. expressão conceituosa;
7. opinião, parecer;
8. afirmação;
9. recado, mensagem;
10. exortação, discurso;
11. permissão de falar.

FONTE: <https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/palavritas>. Acesso em:


20 nov. 2018.

Palavras são elementos que, organizados, podem construir ou desconstruir,


dependendo do ponto de vista de quem as emite e de quem as recebe. Basta ter o
discernimento de que elas precisam ser bem escolhidas, sempre de acordo com o
objetivo da comunicação. Definir palavra não é, portanto, algo que se possa fazer,
mas, certamente, os resultados dos seus usos dependem das escolhas feitas.

4.2. O PODER DAS PALAVRAS


Nesta seção, acadêmico, focaremos no poder das palavras. Teremos, a
partir de agora, a possibilidade de explorar um pouco mais a força que as palavras
têm para construir ou desconstruir, conforme já mencionamos anteriormente.

Dizer coisas sem pensar é algo comum do ser humano. Quem nunca disse
algo de que tenha se arrependido profundamente logo em seguida? As consequências
geradas por palavras ou expressões mal formuladas podem ser devastadoras,
dependendo da situação em que são proferidas. Além de ofender pessoas, elas
podem afetar relacionamentos e até mesmo levar quem as disse ao fundo do poço
com a perda de empregos ou, no caso da linguagem jurídica, de causas.

O momento da fala é por vezes muito mais rápido do que nossos


pensamentos. Observe a tirinha:

21
UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

FIGURA 12 - PENSE ANTES DE FALAR

FONTE: <https://goo.gl/UCaxgZ>. Acesso em: 29 nov. 2018.

Na tira, a resposta de Linus é dita sem pensar, situação que o próprio


menino percebe quando sai correndo da irmã Lucy, que joga a almofada em
cima dele. Quando ele afirma “a boca é mais rápida que o cérebro”, ele toma
consciência de que sua resposta à irmã não foi conveniente para o momento. Para
que situações como a de Linus não ocorram, alguns cuidados podem ser tomados.

Vamos conhecê-los?

• Pense antes de falar:

Este é um dos maiores causadores de problemas, seja em família, entre


amigos, no trabalho ou mesmo em relacionamentos. A raiva, a emoção negativa
ou mesmo o nervosismo, em determinados momentos, nos tomam conta e nos
“sequestram” de nós mesmos, fazendo com que nosso sistema nervoso autônomo
aja sem nosso consentimento e reflita isso nos atos e palavras que proferimos.
Aquela velha regrinha de “conte até dez quando estiver nervoso” é preciosa,
pois na verdade, é o tempo que precisamos para conseguirmos voltar à nossa
consciência antes de proferirmos qualquer palavra sem que estejamos conscientes
dela. Gerir as emoções é fundamental.

22
TÓPICO 1 | ELEMENTOS BÁSICOS DA COMUNICAÇÃO

• Como você diz é tão importante quanto o que você diz:

É muito comum ouvir a seguinte expressão: “você pode dizer tudo o que
quiser, mas depende da maneira como você fala”. Cuidar com a maneira como as
coisas são ditas não quer dizer que você deva deixar de expressar suas opiniões,
mas sim, que precisa saber como dizer sem magoar ou ofender a outra pessoa.
Você pode fazer uma crítica, por exemplo, ajudando uma pessoa a melhorar ou
colocá-la no fundo do poço apenas a partir da maneira como você diz a mesma
coisa. Lembre-se: o que determina que uma crítica seja construtiva ou destrutiva
é como você a faz. Aqui também entram o tom da voz e o saber silenciar. Nem
sempre a pessoa com quem você vai falar está pronta para ouvir. Por vezes, o
mais sábio a fazer é apenas calar-se.

• Corrija com calma:

Se a sua correção for necessária, seja discreto. Jamais corrija alguém em


público ou em voz autoritária. Sempre se coloque na posição de igualdade para
fazê-lo e certamente você será muito melhor ouvido. Ninguém gosta de críticas ou
correções, lembre-se disso. Isso serve para filhos, cônjuge, um colega de trabalho,
o chefe, um funcionário seu, pedestres, ciclistas ou motoristas irregulares, alunos,
enfim. Use esta regra para toda e qualquer correção que precise ser aplicada.

Certamente a partir destas dicas, você conseguirá controlar a sua maneira


de usar as palavras e fará com que elas tenham muito mais poder.

Chegamos ao fim da Unidade 1. Vamos agora ao resumo para relembrar


o que você estudou neste tópico.

Até breve.

23
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• A comunicação existe desde que existe a humanidade.

• São muitos os significados para a palavra comunicar, mas todos elas têm algo
em comum: a conexão com a sociedade.

• A comunicação surgiu por conta da necessidade de interação com o mundo.

• Comunicação verbal é a maneira mais convencional de comunicação entre


pares, e usa a palavra como matéria-prima. Divide-se em escrita e oral.

• Comunicação não verbal utiliza sinais, cores, buzinas, como em placas de


trânsito, por exemplo.

• São elementos da comunicação o emissor, o receptor, o referente, o canal, o


código e a mensagem.

• As funções de linguagem são a Referencial ou Denotativa; a Emotiva ou


Expressiva; a Fática; a Conativa ou Apelativa; a Metalinguística e a Poética, e
cada uma delas faz referência a um dos elementos da comunicação.

• O bom comunicador é aquele que sabe dosar bem as palavras e a postura.

• As dicas de ouro, quando seguidas, podem ajudá-lo a tornar-se um comunicador


exemplar.

• Ao conversar, devemos ser mais sinceros do que francos.

• A palavra é a matéria-prima de todo comunicador.

24
AUTOATIVIDADE

1 De acordo com o conceito de comunicação, assinale com V para as sentenças


verdadeiras e F para as falsas.

( ) Comunicar é apenas colocar-se em contato ou em relação com outrem.


( ) Comunicar não pode ser considerado sinônimo de avisar.
( ) Comunicar apresenta múltiplos significados.
( ) A comunicação eficaz depende tanto do emissor quanto do receptor.

Agora, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) V – F – F – V.
b) ( ) F – V – V – F.
c) ( ) V – V – F – F.
d) ( ) F – F – V – V.

2 Quanto aos elementos da comunicação, assinale de acordo com o código.

A – Emissor.
B – Receptor.
C – Canal.
D – Código.
E – Referente.
F – Mensagem.

( ) é aquele que decodifica (ou recebe) a mensagem;


( ) é o popular “assunto”;
( ) é aquele que codifica (ou transmite) a mensagem;
( ) é o meio que conecta o emissor ao receptor;
( ) é o que se transmite de fato;
( ) é o conjunto de signos que o emissor escolhe para transmitir a mensagem.

Agora, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) B – F – C – D – A – E.
b) ( ) B – E – A – C – F – D.
c) ( ) E – A – C – F – D – B.
d) ( ) A – E – C – B – D – F.

3 Sobre as regras para tornar-se um bom comunicador, assinale a alternativa


CORRETA:

a) ( ) Para o bem comunicar, falar muito e em tom alto é um elemento


importante.

25
b) ( ) Para o bem comunicar, não se deve usar imagens em sua apresentação.
c) ( ) Para o bem comunicar, o que é mais importante é a roupa do
comunicador.
d) ( ) Para o bem comunicar, saber ouvir é um dos elementos mais importantes.

4 De acordo com as características da comunicação, analise as sentenças a


seguir:

I- As placas de trânsito são todas verbais.


II- Um semáforo é um exemplo de linguagem não verbal.
III- Uma bula de remédios é um exemplo de linguagem verbal.
IV- Braile é linguagem verbal.

Agora, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças I, III e IV estão corretas.


b) ( ) As sentenças II e III estão corretas.
c) ( ) As sentenças I, II e IV estão corretas.
d) ( ) Todas as sentenças estão corretas.

5 De acordo com o surgimento da comunicação, assinale com V para as


sentenças verdadeiras e F para as falsas.

( ) A comunicação surgiu em 2000 a.C.


( ) Existe uma data exata para o surgimento da comunicação.
( ) A comunicação existe desde que existe a humanidade.
( ) Desde os primórdios a comunicação é baseada nas palavras.

Agora, assinale a alternativa CORRETA:

a) F – F – V – F.
b) V – F – V – F.
c) F – V – F – V.
d) V – V – F – V.

26
UNIDADE 1
TÓPICO 2

O ESTILO JURÍDICO DE
COMUNICAR

1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, seja bem-vindo ao novo tópico do seu material de Linguagem
Jurídica. Você já deve ter percebido que nesta primeira unidade trabalharemos
algumas regras gerais da comunicação, para que depois possamos entrar mais
especificamente na linguagem jurídica.

Neste tópico, abordaremos as figuras de linguagem utilizadas na língua


portuguesa e que são amplamente utilizadas na linguagem jurídica. Vamos
conhecê-las?

2 AS FIGURAS DE LINGUAGEM NO DISCURSO JURÍDICO


As figuras de linguagem, como são chamadas no Brasil, são algumas
estratégias aplicadas, pelo escritor, ao texto para conseguir diferentes efeitos na
interpretação. Elas podem, de acordo com Bechara (2009), ser de ordem semântica,
fonológica ou sintática, por isso, dividem-se em figuras de palavras, figuras de
pensamento e figuras de sintaxe.

As figuras de linguagem são amplamente utilizadas no cotidiano das


pessoas e na literatura. A seguir, estudaremos uma a uma, de acordo com a sua
classificação. Vamos adiante.

2.1. AS FIGURAS DE PALAVRAS


Também chamadas de figuras de semântica, elas são oito: metáfora; me-
tonímia; comparação ou símile; perífrase ou antonomásia; sinestesia; sinédoque;
alegoria e catacrese. Vamos agora estudá-las e exemplificá-las uma a uma:

• Metáfora: ocorre quando há a comparação implícita de dois elementos que


tenham características em comum. A comparação deve ser subentendida.

Exemplos de metáfora:
− Aquela cena era um filme de guerra (Aquela cena era como um filme de guerra
– a comparação está subentendida).

27
UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

− Mariana é uma flor.


− Hoje ela acordou uma pimenta.

• Metonímia: ocorre quando há a substituição de uma palavra por uma de


sentido próximo. Pode ser dito o efeito no lugar da causa, a parte no lugar do
todo, a marca no lugar do produto, o autor no lugar da obra.

Exemplos de metonímia:
− Ela comprou um Omo® (na verdade, ela comprou sabão em pó da marca
Omo®).
− Ontem eu li Casimiro de Abreu (na verdade, eu li o livro escrito por Casimiro
de Abreu).

• Comparação: como o próprio nome já sugere, é a comparação explícita entre


dois elementos. Sempre deve haver um conectivo comparativo (como, tal qual,
que nem) para que esta figura de palavra ocorra.

Exemplos de comparação:
− Paula é ágil como um foguete.
− Ela é linda que nem a mãe.
− Os garotos jogam tal qual o treinador orientou.

• Perífrase: ocorre quando aparece uma expressão simbólica que indique, de


maneira indireta, algo que poderia ser diretamente dito com poucas palavras.

Exemplos de perífrase:
− O rei da selva é feroz (rei da selva = leão).
− Faz frio na terra da garoa (terra da garoa = São Paulo).

• Sinestesia: Ocorre quando do texto misturam-se as sensações expressas pelos


sentidos humanos (tato, olfato, paladar, audição e visão).

Exemplo de sinestesia:
− Ouvi os amargos gemidos de socorro (ouvir – audição; amargo – paladar).
− Senti o cheiro doce do seu perfume (cheiro – olfato; doce – paladar).
− Pude ver as macias nuvens no céu (ver – visão; macias – tato).

• Sinédoque: é caracterizada pela substituição de um termo por outro que pode


ou ampliar ou reduzir seu sentido. O termo referido pode ser o singular ao
invés do plural, a classe ao invés do indivíduo ou a parte no lugar do todo.

Exemplo de sinédoque:
− A mulher é um ser delicado (generaliza as mulheres).
− O baiano adora acarajé (generaliza os baianos).
− Os professores gostam das férias (generaliza os professores).
− O homem é um ser pensante (generaliza o homem).

• Alegoria: Trata-se de um conjunto criado para transmitir uma mensagem de


maneira figurada.

28
TÓPICO 2 | O ESTILO JURÍDICO DE COMUNICAR

Exemplo de alegoria:
− Em terra de cego, quem tem um olho é rei.
− Quem não tem cão, caça com gato.

• Catacrese: Ocorre quando se utiliza uma palavra para nomear outra coisa
porque, para este, não há nome específico.

Exemplo de catacrese:
− Machucou a batata da perna.
− Queimou o céu da boca.
− Quebrou o bico do bule.

2.2. AS FIGURAS DE PENSAMENTO


São construções usadas para que a expressividade da mensagem seja
enfatizada. Elas são oito: antítese; apóstrofe; eufemismo; gradação; hipérbole;
ironia; paradoxo e prosopopeia. Elas podem causar emoção a partir da alteração
do sentido semântico da frase.

• Antítese: caracteriza-se pela aproximação de conceitos contrários.

Exemplo de antítese:
− Prometo-te ser fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença.
− Dias e noites passo me martirizando.

• Apóstrofe: ocorre quando o emissor chama uma pessoa ou algo personificado,


criando uma conexão.

Exemplo de apóstrofe:
− Ei, senhor, aqui está seu chapéu.
− Moça, não se apresse. Ainda está cedo.

• Eufemismo: ocorre quando usamos uma palavra para suavizar um termo que
pode ser desagradável, polêmico ou impactante.

Exemplo de eufemismo:
− Ele partiu desta para uma melhor (ao invés de falar a palavra “morreu”).
− Ela não atingiu a média esperada (ao invés de usar a palavra “reprovou”).

• Gradação: ocorre quando há um encadeamento crescente ou decrescente de


ideias que suaviza ou intensifica uma mensagem.

Exemplo de gradação:
− Te darei a mão, um abraço, um beijo, minha vida.
− Nós nascemos, crescemos, evoluímos e morremos.

29
UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

• Hipérbole: ocorre quando há exagero na mensagem, propositalmente.

Exemplo de hipérbole:
− Morri de rir com sua risada.
− Já repeti um milhão de vezes.

• Ironia: ocorre quando se transmite intencionalmente o contrário do que se


quer, satirizando uma pessoa ou situação.

Exemplo de ironia:
− Que maravilha! Saiu a energia mais uma vez.
− Parabéns, você conseguiu destruir a festa.

• Paradoxo: é também chamado de oximoro e ocorre quando há a associação de


dois conceitos que se contradizem.

Exemplo de paradoxo:
− Eu sonho acordada com esse momento.
− Este fogo não me queima.

• Personificação: também chamada de prosopopeia, ela ocorre quando se dá


características humanas a seres inanimados ou irracionais.

Exemplo de personificação:
− O vento assobiava alegre.
− As árvores choravam pelo calor intenso.

2.3. AS FIGURAS DE SINTAXE


Também são conhecidas como figuras de construção. As principais são
nove: pleonasmo; anáfora; anacoluto; elipse; zeugma; assíndeto; polissíndeto;
hipérbato e silepse. Elas enfatizam o aspecto sintático e provocam mudanças na
estrutura da oração.

• Pleonasmo: também chamado de redundância, ocorre quando usamos


excessivamente palavras que por vezes não são necessárias.

Exemplo de pleonasmo:
− Ela gritou alto seu nome.
− Ele morreu de morte natural.
− O pássaro saiu pra fora assim que abrimos a janela.

• Anáfora: mais comum na linguagem literária, ocorre quando repetimos uma


ou mais palavras no início de versos, orações ou períodos.

30
TÓPICO 2 | O ESTILO JURÍDICO DE COMUNICAR

Exemplo de anáfora:
− Eu te amo, eu te quero aqui; eu te odeio, eu quero que partas daqui.
− Ela é guerreira, ela é uma deusa, ela é mulher de verdade.

• Anacoluto: ocorre mais na fala, quando ocorre uma interrupção para antecipar
um termo que seria dito depois, desconectando-o da oração.

Exemplo de anacoluto:
− Mulheres? Ame-as ou deixe-as.
− Eu, quando chego, você me enche de carinho.

• Elipse: ocorre mais na fala e se caracteriza pela omissão de um termo da


oração, mas isso não prejudica a compreensão da frase.

Exemplo de elipse do sujeito:


− Na minha estante, livros de todos os tipos (termo omitido: havia).
− Não fosse você, eu não teria conseguido (termo omitido: se).

• Zeugma: é a omissão de algum termo da oração já citado anteriormente sem


prejudicar a compreensão da frase.

Exemplo de zeugma:
− Meu pai gosta de Caetano Veloso, minha mãe, de Roberto Carlos.
− Eu tomo açaí e meu marido, sorvete.

• Assíndeto: ocorre quando há ausência de conectores para ligar as palavras ou


frases.

Exemplo de assíndeto:
− Gosto de comer frutas: maçãs, bananas, laranjas, abacaxis, todas.
− Ela dança, canta, desenha, pinta... que mais lhe falta?

• Polissíndeto: ocorre quando há uso excessivo de conectores para ligar as


palavras ou frases.

Exemplo de polissíndeto:
− Gosto de comer frutas: maçãs e bananas e laranjas e abacaxis e todas.
− Ela dança e canta e desenha e pinta... que mais lhe falta?

• Hipérbato: ocorre quando há uma inversão brusca da colocação natural das


palavras da sentença, trocando a ordem das mesmas.

Exemplo de hipérbato:
− Cantavam ciranda meus filhos no parque (Meus filhos cantavam ciranda no
parque).
− Tranquila dormia minha esposa (Minha esposa dormia tranquila).

31
UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

• Silepse: ocorre quando há uma concordância ideológica e não uma


concordância gramatical. A concordância se dá de acordo com a ideia que se
pretende transmitir.

Exemplo de silepse:
− São Paulo é cheia de mistérios.
− A população chegou agitada e levavam cartazes.

3. A ESTILÍSTICA DO TEXTO JURÍDICO


Agora que você conhece as principais figuras de linguagem e como elas
são utilizadas, vamos compreender um pouco mais acerca do estilo jurídico de
escrever. Cada esfera de atuação utiliza-se de conhecimentos específicos para que
sua comunicação seja mais assertiva.

Não é diferente quando se trata da linguagem jurídica. Nesta etapa de


estudos, faremos a análise do estilo jurídico de escrever, fazendo da maneira
mais prática possível para que você, acadêmico, possa absorver ao máximo deste
conteúdo.

Vamos adiante?

3.1. O ESTILO JURÍDICO DE ESCREVER


Escrever textos é uma grande responsabilidade. Trabalhar com textos
jurídicos mais ainda. Por ser uma área que não pode permitir ambiguidades, a
responsabilidade ao escrever de maneira a ser bem compreendido é imensa. As
pessoas que trabalham na área jurídica, como os juízes, promotores, procuradores
e advogados, possuem importantes destinatários, por isso, tanto eles quanto a
população necessitam compreender o que se quer dizer.

Na linguagem jurídica, há o que se costuma chamar de “juridiquês” ou


“estilo jurídico”, que nada mais é do que o estilo de escrever mais rebuscado ou
difícil de compreender. De acordo com Maciel (2007), isto é uma característica da
linguagem jurídica no Brasil.

Ainda de acordo com o autor, são comuns, especificamente, três usos que
não soam nada naturais na língua portuguesa. Estes galicismos (usos franceses
trazidos para a língua portuguesa) poderiam ser substituídos por termos de mais
fácil compreensão. São eles:

• o uso de “em se tratando”, “em havendo” e semelhantes. De acordo com Maciel


(2007), os franceses escreveriam desta maneira, mas em língua portuguesa não
é necessário usar o “em” antes de gerúndio;

32
TÓPICO 2 | O ESTILO JURÍDICO DE COMUNICAR

• o uso do verbo restar nas seguintes construções: “restou provado”; “restou


decidido” e semelhantes. Esta é uma tradução literal do francês “rester”, que
para nós seria o mesmo que dizer “ficou” provado, “ficou” decidido;

• o uso de “parte integrante”, como em “o anexo é parte integrante do contrato”.


De acordo com Maciel (2007), os franceses usavam esta formação. Não é
necessário ser redundante. Na língua portuguesa, podemos usar “o anexo
integra o contrato” ou “o anexo é parte do contrato”.

O autor trata do assunto de maneira descontraída (Figura 13), fazendo


uma espécie de brincadeira com os exageros utilizados, mas de certa maneira
chama a atenção para que, mesmo dentro do ambiente jurídico, a linguagem a
ser utilizada seja o mais simples possível para atender ao que já mencionamos
anteriormente: o que está escrito deve ser acessível a todos.

FIGURA 13 - PRESO OU SOLTO?

FONTE: <https://goo.gl/5WaAg4>. Acesso em: 20 nov. 2018.

Em algumas situações, o excesso de rigor formal pode ser considerado


uma demonstração exagerada de respeito que, por vezes, não se faz necessária.
Em 11 de agosto de 2005 a AMB - Associação dos Magistrados Brasileiros lançou
a “Campanha pela Simplificação da Linguagem Jurídica”. Esta campanha tem
por objetivo incentivar os profissionais do Direito a usarem uma linguagem mais
objetiva e simples,

Junto à campanha lançou-se o livreto O Judiciário ao alcance de todos: noções


básicas de juridiquês. O livreto traz como início um pequeno texto intitulado
Entendeu? O objetivo do livreto é mostrar que a simplificação da linguagem
jurídica é importante para que todos possam compreender.

33
UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

Veja o texto:

Entendeu?

Diagnosticada a mazela, põe-se a querela a avocar o poliglotismo. A solvência,


a nosso sentir, divorcia-se de qualquer iniciativa legiferante. Viceja na dialéti-
ca meditabunda, ao inverso da almejada simplicidade teleológica, semiótica e
sintática, a rabulegência tautológica, transfigurada em plurilinguismo ululante
indecifrável. Na esteira trilhada, somam-se aberrantes neologismos insculpi-
dos por arremedos do insigne Guimarães Rosa, espalmados com o latinismo
vituperante. Afigura-se até mesmo ignominioso o emprego da liturgia instru-
mental, especialmente por ocasião de solenidades presenciais, hipótese em que
a incompreensão reina. A oitiva dos litigantes e das vestigiais por eles arroladas
acarreta intransponível óbice à efetiva saga da obtenção da verdade real. Ad
argumentandum tantum, os pleitos inaugurados pela Justiça pública, precei-
tuando a estocástica que as imputações e defesas se escudem de forma ininteli-
gível, gestando obstáculo à hermenêutica. Portanto, o hercúleo despendimento
de esforços para o desaforamento do “juridiquês” deve contemplar igualmen-
te a magistratura, o ínclito Parquet, os doutos patronos das partes, os corpos
discentes e docentes do magistério das ciências jurídicas. (ASSOCIAÇÃO DOS
MAGISTRADOS BRASILEIROS, 2007, p. 4).

Percebeu a complexidade do texto? É claro, acadêmico, que aqui foi


utilizada uma maneira exagerada justamente para enfatizar o que se pretende,
que é o uso da linguagem prolixa. Não é difícil ler um texto da área jurídica e
associá-lo ao arcaísmo.

O propósito principal da comunicação, como já mencionamos no tópico


anterior, é transmitir uma mensagem a partir da sua matéria-prima, que é a
palavra. Por este motivo, é necessário cuidar com o que escrevemos para que
sejamos entendidos.

Maciel (2007, s.p.) aponta que a frase é um dos “galhos da árvore textual,
cujo fruto é a comunicação”. Quanto mais longa, mais fácil de quebrar. Utilize esta
analogia também para os textos. As frases curtas permitem melhor concatenação
de ideias, facilitando o ato de escrever (e de ler, com certeza).

Não é preciso dizer que para que isso se concretize, a clareza e a


objetividade devem ser grandes aliados na linguagem jurídica, não é mesmo?
Elencamos, a seguir (Quadro 2), algumas dicas para aprimorar a escrita dos seus
textos e não os deixar prolixos. Vamos a elas:

QUADRO 2 – DICAS DE ESCRITA

1. Dominar o português: o conhecimento gramatical deve ser o primeiro


passo para quem deseja escrever textos jurídicos. Além de ser o mínimo que
se espera em um texto jurídico, demonstra confiabilidade.

2. Ser objetivo: evite a repetição de ideias ou palavras. Ler peças de Direito


é difícil, porque muitos operadores jurídicos acreditam que o tamanho
importa, mas na verdade o ideal é que se entregue todas as informações
necessárias no primeiro momento.

34
TÓPICO 2 | O ESTILO JURÍDICO DE COMUNICAR

3. Ser claro: manter uma linha lógica de raciocínio é o que confere coesão ao
texto. Na conclusão, retome brevemente o que foi debatido, assim, a coesão
estará garantida do início ao final.

4. Escolher bem o vocabulário: usar verbos fortes quando o texto tiver


o objetivo de convencer é a chave. Evitar adjetivos, advérbios e outras
expressões vagas também é aconselhado.

5. Deixar a erudição de lado: utilize palavras conhecidas. Considerar o


público-alvo quando for escrever um texto é o mais adequado. Em linhas
gerais, deve-se atender desde o Ministério Público até a população.

6. Alternar a extensão das frases: Procure alternar as sentenças de tamanhos


diferentes para dar mais fluidez à leitura. Em linhas gerais: a frase curta
entrega a informação, e a longa a desenvolve.

7. Planejar a escrita do texto: faça um rascunho, crie tópicos com todos os pon-
tos a serem abordados. Na hora de escrever, isso o ajudará a manter o raciocínio.

8. Destacar com moderação: destacar tudo é o mesmo que não destacar.


Lembre-se de que apenas as partes realmente importantes devem ser
realçadas. Apenas o que deve chamar a atenção.

9. Ser elegante: usar negrito, caixa alta e pontos de exclamação ou


interrogação somente quando necessário. Quando usados sem medidas,
eles poluem o texto e perdem sua função.

10. Utilizar o latim moderadamente: na linguagem jurídica, o latim é uma


língua presente, mas seu uso deve acontecer apenas quando houver um
conceito complexo por trás dela. Um uso interessante é utilizar o latim para
destacar algo. Neste caso, a tradução virá no corpo do texto.

11. Usar um dicionário jurídico: na escrita técnica, como é o caso da


linguagem jurídica, há uso de inúmeras palavras próprias de um campo
de conhecimento, portanto, ter um bom dicionário é uma forma de evitar
qualquer tipo de erro desnecessário.

12. Fundamentar o texto de maneiras variadas: usar argumentos variados


sobre o tema ajuda a dar credibilidade ao texto. Pense sempre em doutrina,
lei, jurisprudência e costumes na hora de unir ideias para escrever.

13. Utilizar as jurisprudências com moderação: seu uso é muito bem-vindo


ao escrever textos jurídicos, mas não exagerar é importante.

14. Contextualizar a peça: o leitor deve entender do que se trata a peça


quando ela for lida de maneira isolada. Portanto, ao escrever um texto
jurídico, verifique se haverá necessidade de anexar algum documento para
que a compreensão do seu texto seja completa.

35
UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

15. Revisar: esta é a última, mas não menos importante das dicas. Ela é o
fechamento das boas práticas de escrita jurídica. Deve ser feita depois de
um tempo, para que a leitura não esteja mais tão viciada.

FONTE: Adaptado de CONAMP (2017). Disponível em: <http://blog.conamp.org.br/dicas-de-


escrita-saiba-escrever-textos-juridicos-de-qualidade/>. Acesso em: 30 nov. 2018.

Agora que você já observou estas dicas, podemos ir adiante, pois se você
conseguir levá-las em consideração na hora da escrita, certamente não cairá no
“juridiquês”.

3.2. A RETÓRICA
Acadêmico, você sabe o que é retórica? Vamos iniciar nossa conversa a
partir do que nos diz o próprio Aristóteles.

Entendamos por retórica a capacidade de descobrir o que é adequado a


cada caso com o fim de persuadir. Esta não é seguramente a função de
outra arte; pois cada uma das outras é apenas instrutiva e persuasiva nas
áreas da sua competência; como, por exemplo, a medicina sobre a saúde
e a doença, a geometria sobre as variações que afetam as grandezas, e a
aritmética sobre os números; o mesmo se passando com todas as outras
artes e ciências. Mas a retórica parece ter, por assim dizer, a faculdade
de descobrir os meios de persuasão sobre qualquer questão dada. E
por isso afirmamos que, como arte, as regras se não aplicam a qualquer
gênero específico de coisas (ARISTÓTELES, 2000, p. 1).

Hoje em dia, o conceito de retórica toma maiores proporções, tanto dentro


do aspecto político quanto no direito. Há hoje mais consciência na diferenciação
dos conceitos científicos (ciências exatas) e dos conceitos controversos (ciências
humanas) que nos proporcionam a discussão e a argumentação. Neste caso, a
retórica é aliada. Podemos afirmar, portanto, que o uso moderno da retórica é
exatamente este.

Pereira (2006) afirma que, se considerarmos o conceito moderno da


retórica, ela é a lógica do discurso não formalizável. Esta é considerada a “Nova
Retórica” e tem como objeto de estudo o discurso a partir da política, da ética e
do direito (PEREIRA, 2006).

De acordo com Reboul (2000), a retórica surgiu na Grécia junto ao


desenvolvimento do Direito, que, então, passou a ser objeto dos discursos no
tribunal, local no qual se buscava o convencimento da razão das partes em juízo.
Apesar de esta ser a teoria mais aceita, há autores que contestam que o surgimento
da retórica tenha ocorrido mesmo na Grécia.

Os retores, pessoas que estudavam a persuasão, ofereciam seus serviços


ao exercício dos direitos dos cidadãos nos discursos jurídicos. Desta maneira, o

36
TÓPICO 2 | O ESTILO JURÍDICO DE COMUNICAR

autor afirma que “os retores, com seu agudo senso de publicidade, ofereceram
aos litigantes e aos logógrafos um instrumento de persuasão que afirmavam ser
invencível, capaz de convencer qualquer pessoa de qualquer coisa” (REBOUL,
2000, p. 2).

A partir de então, a retórica passou a ser um elemento necessário para a


argumentação. Como é muito difícil saber a verdade plena sobre os fatos em sua
complexidade, os discursos jurídicos, de acordo com Reboul (2000), partem de
premissas, ou seja, daquilo que mais se aproxima dela.

A retórica, após sua consolidação, continuou evoluindo nos anos


posteriores e Aristóteles (384-322 a.C.) foi o filósofo grego que a tornou uma arte
altamente sofisticada. A partir dele, a retórica marcou, de acordo com Ross (1987),
o universo helenístico e romano.

Meyer, Carrilho e Timmermans (2002) afirmam que a retórica continuou


ainda sendo aprimorada no decorrer do período helenístico, com a incorporação
de novas técnicas, o desenvolvimento de conceitos e de novos estilos de oratória
mais especializados no discurso oral. No século I a.C. outra figura importante
entra em destaque: Cícero (106-43 a.C.), o orador romano, professor e historiador
visava reconectar a retórica à filosofia.

Na Idade Média, com o advento do Cristianismo, o pensamento cristão


ganhou forças e a retórica foi jogada para o lado, ficando em segundo plano, pois
as Escrituras Sagradas traziam, segundo eles, a verdade revelada.

Apenas a partir do Renascimento em meados do século XVI, quando


os teólogos católicos retomam a filosofia dos antigos, a retórica volta a ser
mencionada, passando a ser aplicada no cenário político da época, e de acordo
com Meyer, Carrilho e Timmermans (et al., 2002), foi utilizada até pela aristocracia
para reforçar o discurso.

Quando a ciência moderna se consolida, novamente as técnicas de retórica


declinam, já que a ciência passou a ser a verdade. Quando no pós-guerra (séc. XX)
o relativismo confronta a verdade absoluta da ciência, a filosofia volta a ocupar
um lugar de destaque e a retórica ressurge mais uma vez.

Perceba, acadêmico, que a retórica passa por altos e baixos a todo


momento. Mas, afinal, de que modo a retórica é usada na linguagem jurídica, que
é nosso foco?

Os discursos jurídicos são intrinsecamente retóricos porque tratam de


elaboração de teses dialéticas, ou seja, ambas as partes buscam estar com a razão.
O foco da dialética jurídica é proferir o justo a partir de análises das estratégias
utilizadas para a construção textual e das técnicas retóricas.

O juiz de Direito fundamentará a sentença a partir das premissas


desenvolvidas verificando, de acordo com Pereira, se essas “foram verossímeis
ou não, somente nesse ponto irá determinar quem venceu a batalha” (2006, p. 34).

37
UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

Resumindo, podemos observar que o discurso jurídico tem muitas


especificidades, o que faz com que seja, por vezes, chamado de doutrinador. A
retórica, enquanto instrumento da argumentação, é estudada nos mais diferentes
tipos de discursos e seu uso na teoria do Direito passou a fazer parte das defesas
e acusações com a intenção de convencer os magistrados sobre a culpa ou a
inocência das partes envolvidas.

Desta maneira, o discurso jurídico transformou-se em um instrumento


poderoso na sociedade, a partir do qual todos podem buscar judicialmente seus
direitos e deveres, acusar ou defender-se. A partir do discurso jurídico, embasado
pela retórica, há a disciplina, os limites de atuação dos sujeitos e é a partir do
discurso que se pode julgar suas infrações.

4. VÍCIOS DE LINGUAGEM: A CORREÇÃO DA LINGUAGEM


JURÍDICA
Caro acadêmico. Já conversamos muito acerca do que não se deve fazer
quando em um discurso jurídico, não é mesmo? Embora o linguajar da área seja
mesmo de difícil compreensão, não é mais ou menos importante, por exemplo,
do que a linguagem médica ou de informática.

Esta especificidade, por sua vez, pode dar à linguagem jurídica o título de
prolixa. O que se deve evitar é que o tecnicismo necessário para a compreensão
dos termos se transforme em excessivo requinte ou rebuscamento desnecessário.
Lembre-se, acadêmico: falar muito nem sempre é falar tudo.

Quando na esfera lexical, por exemplo, podemos observar que o


vocabulário pode ser:

• Extremamente arcaico, como:


− Pretório Excelso, ao invés de usar “Supremo Tribunal Federal”,
− Peça Exordial, ao invés de usar “petição inicial’,
− Objurgatório ao invés de usar “censurável”

• Ou latinizado, por exemplo:


− a quo (recorrido);
− ex vi legis (por força de lei);
− bb initio (desde o início);
− quantum satis (quanto baste, suficiente);
− desideratum decisum (pretendido pela decisão).

Para que usar estas palavras se há, na língua portuguesa, termos mais
atuais e fáceis de compreender? Estes são os populares vícios da linguagem
jurídica.

38
TÓPICO 2 | O ESTILO JURÍDICO DE COMUNICAR

Já na esfera sintática, observamos a mudança na ordem natural da frase,


com a anteposição de termos desnecessários, levando à incidência nos vícios
linguísticos de prolixidade e verbosidade.

Há muitos teóricos que defendem com unhas e dentes o que chamamos


de juridiquês. A estes, fica a sugestão de que utilizem do hermetismo apenas aos
textos jurídicos que forem destinados à academia, como artigos científicos; ou
doutrinária, como os manuais de Direito. Quando falamos do Direito na lavra
forense, deve haver maior simplicidade para que o “público normal” possa ler e
compreender o que está escrito sem ter que ficar com o dicionário aberto ao lado.

DICAS

Para ler ainda mais sobre os vícios da linguagem, acesse o site <https://jus.
com.br/artigos/13581/problemas-da-linguagem-juridica>. Lá você encontrará artigos
interessantes para potencializar ainda mais seu conhecimento.

4.1. CLASSIFICAÇÃO DOS VÍCIOS DE LINGUAGEM


Classificamos os três principais vícios de linguagem em:

• Tecnicismo: trata-se do excesso de usos técnicos em um texto. O que fazer para


evitar este vício de linguagem? Use-os apenas quando forem extremamente
necessários.
• Rebuscamento: trata-se de usar palavras difíceis na elaboração do texto, bem
como frases complexas. O que fazer para evitar este vício de linguagem? Use
frases curtas e palavras de fácil compreensão. Tente achar sinônimos.

Prolixidade: trata-se de escrever em excesso. Muitas vezes, é possível


explicar o que se quer dizer com apenas uma sentença, sem a necessidade de
muitos rodeios. O que fazer para evitar este vício de linguagem? Vá direto ao
ponto. Não fique fazendo rodeios.

39
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você estudou que:

• As figuras de linguagem são estratégias aplicadas pelo escritor ao texto para


conseguir diferentes efeitos na interpretação feita pelo leitor.

• As figuras de linguagem estão presentes no dia a dia das pessoas.

• São figuras de palavras: metáfora; metonímia; comparação ou símile; perífrase


ou antonomásia; sinestesia; sinédoque; alegoria e catacrese.

• São figuras de pensamento: antítese; apóstrofe; eufemismo; gradação;


hipérbole; ironia; paradoxo e prosopopeia.

• São figuras de sintaxe: pleonasmo; anáfora; anacoluto; elipse; zeugma;


assíndeto; polissíndeto; hipérbato e silepse.

• Escrever textos jurídicos é uma grande responsabilidade.

• Na linguagem jurídica há o que se costuma chamar de “juridiquês” ou “estilo


jurídico”, que nada mais é do que o estilo de escrever mais rebuscado ou difícil
de compreender.

• Textos complexos não são indicados na linguagem jurídica. Deixe-os para os


artigos científicos.

• Clareza e objetividade ajudam a evitar a prolixidade. Vá direto ao ponto.

• A retórica é a arte do argumentar.

• Há diferença consciente entre as ciências exatas e as ciências humanas.

• A retórica surgiu na Grécia em V a.C., mas há controvérsias.

• Retores eram pessoas que estudavam a persuasão.

• Aristóteles e Cícero foram dois grandes nomes da arte retórica.

• Na Idade Média, com o advento do Cristianismo, o pensamento cristão ganhou


forças e a retórica ficou em segundo plano.

40
• No Renascimento, quando os teólogos católicos retomam a filosofia dos
antigos, a retórica volta a ser mencionada.

• Quando a ciência moderna se consolida, as técnicas de retórica declinam


novamente porque a ciência era inquestionável.

• No pós-guerra, já no século XX, o relativismo confronta a verdade absoluta da


ciência, a retórica ganha forças.

• O excesso de arcaísmos e latinismos não é interessante, mesmo em textos


jurídicos.

• Os principais vícios de linguagem classificam-se em tecnicismo, rebuscamento


e prolixidade.

41
AUTOATIVIDADE

1 Sobre o estilo jurídico de escrever, analise as sentenças a seguir:

I- Quanto mais acessíveis forem os textos jurídicos, mais credibilidade eles


têm.
II- Quanto mais prolixo for o texto jurídico, maior é a garantia de que ele será
um texto bem-sucedido.
III- O rebuscamento pode ser usado em artigos científicos, mas para os textos
direcionados ao povo, a linguagem deve ser acessível.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a resposta CORRETA:

a) ( ) Apenas a sentença II está correta.


b) ( ) Apenas a sentença III está correta.
c) ( ) Apenas as sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.

2 Assinale a alternativa na qual se conceitua corretamente retórica.

a) É a prolixidade dos textos.


b) É a capacidade de convencimento a partir da linguagem difícil.
c) É a capacidade de confundir o leitor.
d) É a capacidade de usar argumentos com o fim de persuadir.

3 Assinale a alternativa que apresenta um exemplo de hipérbole.

a) ( ) Nunca mais falte com a verdade.


b) ( ) Ela quase morreu de tanto que riu da piada.
c) ( ) Parabéns por ter quebrado o copo novamente.
d) ( ) Você é meu raio de luz todas as manhãs.

4 De acordo com a classificação das figuras de palavras, assinale de acordo


com o código.

I- Tecnicismo
II- Rebuscamento
III- Prolixidade

( ) trata-se de escrever em excesso.


( ) trata-se do excesso de usos técnicos em um texto.
( ) trata-se de usar palavras difíceis na elaboração do texto, bem como frases
complexas.

42
Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.

a) ( ) I – II – III.
b) ( ) II – III – I.
c) ( ) I – III – II.
d) ( ) III – I – II.

5 De acordo com a classificação das figuras de palavras, assinale de acordo


com o código.

I- Perífrase
II- Metonímia
III- Metáfora

( ) A rainha dos baixinhos visitou minha cidade ontem.


( ) Você é a luz que ilumina meus dias.
( ) Quando estou de folga, leio Casimiro de Abreu.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.

a) ( ) I – II – III.
b) ( ) II – III – I.
c) ( ) I – III – II.
d) ( ) III – I – II.

43
44
UNIDADE 1
TÓPICO 3

REGRAS PARA A BOA COMUNICAÇÃO

1 INTRODUÇÃO
Olá, acadêmicos. Cá estamos novamente para aprendermos um pouco
mais sobre a boa comunicação, não é mesmo?

A comunicação não depende apenas das habilidades referentes à coesão


e à coerência. Ela depende também do bom uso da língua portuguesa. Não há
nada mais desagradável para quem lê, e deselegante para quem escreve, do que
ler um texto com erros gramaticais, ou ouvir uma pessoa palestrando com erros
de concordância ou mesmo regência, não é mesmo?

É por isso que o nosso Tópico 3 é voltado para os aspectos gramaticais da


língua portuguesa. É claro, acadêmico, que passaremos por aqui apenas noções
básicas, afinal de contas, a língua é complexa. Caso você queira aprofundar-se e
conhecer um pouco mais do que foi apresentado aqui, segue uma sugestão:

DICAS

Para conhecer um pouco mais da língua portuguesa, consulte o site <www.


soportugues.com.br> ou <www.normaculta.com.br>. Além de serem de fácil compreensão,
também são dinâmicos e abordam os assuntos de maneira bem completa.

Iniciaremos nossos estudos falando um pouco acerca do código ortográfico


da língua portuguesa. Fique ligado.

2 O CÓDIGO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA


A língua portuguesa, assim como todos os idiomas, é regida por regras.
Como já é sabido, nossa língua foi estabelecida por Portugal, mas ao longo
de tantos anos muita coisa mudou. Por mais que se busque unificar a língua
portuguesa em todos os países que a têm como língua oficial, sabemos que isso
não é possível.

45
UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

Para simplificarmos os acordos ortográficos da nossa língua, vamos a um


breve resumo (Quadro 3):

QUADRO 3 – HISTÓRIA DA ORTOGRAFIA DO PORTUGUÊS

• Séc. XVI até séc. XX - Em Portugal e no Brasil a escrita praticada era de


cariz etimológico (a raiz latina ou grega determinava a forma de escrita
das palavras com maior preponderância).
• 1885 – Até esta altura a grafia é essencialmente etimológica. Nesta data
publica-se as Bases da Ortografia Portuguesa, de Gonçalves Viana.
• 1907 – A Academia Brasileira de Letras começa a simplificar a escrita nas
suas publicações.
• 1910 – Implantação da República em Portugal – é nomeada uma Comissão
para estabelecer uma ortografia simplificada e uniforme a ser usada nas
publicações oficiais e no ensino.
• 1911 – Primeira Reforma Ortográfica – tentativa de uniformizar e
simplificar a escrita, mas que não foi extensiva ao Brasil.
• 1915 – A Academia Brasileira de Letras resolve harmonizar a sua ortografia
com a portuguesa.
• 1919 – A Academia Brasileira de Letras revoga a sua resolução de 1915.
• 1924 – A Academia de Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras
começam a procurar uma grafia comum.
• 1929 – A Academia Brasileira de Letras altera as regras de escrita.
• 1931 – É aprovado o primeiro Acordo Ortográfico entre o Brasil e Portugal,
que visa suprimir as diferenças, unificar e simplificar a língua portuguesa.
Contudo, este acordo não é posto em prática.
• 1938 – São sanadas algumas dúvidas quanto à acentuação de palavras.
• 1943 – É redigido o Formulário Ortográfico de 1943, na primeira Convenção
Ortográfica entre Brasil e Portugal.
• 1945 – Um novo Acordo Ortográfico torna-se lei em Portugal, mas não no
Brasil, por não ter sido ratificado pelo Governo; os brasileiros continuam
a regular-se pela ortografia do Vocabulário de 1943.
• 1971 – São promulgadas alterações no Brasil, reduzindo as divergências
ortográficas com Portugal.
• 1973 – São promulgadas alterações em Portugal, reduzindo as divergências
ortográficas com o Brasil.
• 1975 – A Academia das Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de
Letras elaboram novo projeto de acordo, que não é aprovado oficialmente.
• 1986 – O presidente do Brasil, José Sarney, promove um encontro dos
então sete países de língua oficial portuguesa - Angola, Brasil, Cabo
Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe -, no
Rio de Janeiro. É apresentado o Memorando Sobre o Acordo Ortográfico
da Língua Portuguesa. O Acordo Ortográfico de 1986, que resulta
deste encontro, é amplamente discutido e contestado pela comunidade
linguística, nunca chegando a ser aprovado.
• 1990 – A Academia das Ciências de Lisboa convoca novo encontro, juntando
uma Nota Explicativa do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

46
TÓPICO 3 | REGRAS PARA A BOA COMUNICAÇÃO

As duas Academias elaboram a base do Acordo Ortográfico da Língua


Portuguesa. O documento entraria em vigor, de acordo com o seu artigo
3º, no dia "1 de janeiro de 1994, após depositados todos os instrumentos de
ratificação de todos os Estados junto do Governo português".
• 1995 – O Acordo Ortográfico de 1990 é apenas ratificado por Portugal,
Brasil e Cabo Verde, embora o texto previsse a sua implementação em
toda a Lusofonia no início de 1994.
• 1996 – O Acordo Ortográfico é apenas ratificado por Portugal, Brasil e
Cabo Verde.
• 1998 – Na cidade da Praia é assinado o Protocolo Modificativo do
Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, retirando-se do texto a data
de implementação. Mantém-se a condição de que todos os membros da
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) devem ratificar
as normas propostas no Acordo Ortográfico de 1990 para que este seja
implementado.
• 2002 – Timor-Leste torna-se independente e passa a fazer parte da CPLP.
• 2004 – Os ministros da Educação dos vários países da CPLP reúnem-se em
Fortaleza, no Brasil, para a aprovação do Segundo Protocolo Modificativo
ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Fica assim determinado
que basta a ratificação de três membros para que o Acordo Ortográfico
possa entrar em vigor e Timor-Leste passa a integrar a CPLP.
• 2006 – Brasil, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe ratificam o documento,
possibilitando a entrada em vigor do Acordo Ortográfico de 1990.
• 2008 – O Acordo Ortográfico de 1990 é aprovado por Cabo Verde, São
Tomé e Príncipe, Brasil e Portugal, sendo esperada a sua implementação
no início de 2010.
• 2009 – Entrada em vigor do Acordo Ortográfico de 1990 no Brasil e em
Portugal. Além de Portugal e do Brasil, também São Tomé e Príncipe, Cabo
Verde, Timor-Leste e Guiné-Bissau já ratificaram o Segundo Protocolo
Modificativo do Acordo Ortográfico de 1990, embora estes últimos não
o tenham ainda aplicado. Fica apenas a faltar a ratificação de Angola e
Moçambique. A princípio, as medidas seriam aplicadas no Brasil de
modo obrigatório a partir de janeiro de 2013, mas o governo brasileiro,
após consultas a envolvidos no processo, preferiu dar mais tempo para a
implantação e ele entrou em vigor apenas em 2016.

FONTE: <http://www.portaldalinguaportuguesa.org/?action=acordo-historia>. Acesso em: 01 dez. 2018.

Agora, vamos conhecer algumas regras gerais da língua? Adiante.

2.1. REGRAS GERAIS


O novo acordo ortográfico assinado em 2009, conforme mencionamos,
veio com o objetivo de padronizar a língua portuguesa. Assim, temos alguns
combinados. Vamos conhecer quais foram as principais adaptações.
47
UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

A primeira delas diz respeito ao Alfabeto.

• Como era: A B C D E F G H I J L M N O P Q R S T U V X Z
• Como ficou: A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S T U V W X Y Z

O acréscimo das letras K,  W  e  Y veio para totalizar as 26 letras que


compõem o alfabeto. Essa mudança teve por objetivo incorporar as letras que já
eram usadas em estrangeirismos e nomes próprios.

2.2. ACENTUAÇÃO
Quanto à acentuação, observe a tabela (Figura 14).

FIGURA 14 - ACENTUAÇÃO

FONTE: <https://goo.gl/osdAJe>. Acesso em: 01 dez. 2018.

48
TÓPICO 3 | REGRAS PARA A BOA COMUNICAÇÃO

2.3. HÍFEN
Quanto ao uso do hífen, observe a tabela a seguir (Figura 15).

FIGURA 15 - HÍFEN

FONTE: <https://goo.gl/cVXrbU>. Acesso em: 01 dez. 2018.

3 ALGUNS TRATADOS SINTÁTICOS PARA A COMUNICAÇÃO


Conforme já estudamos anteriormente, alguns tratados são importantes
para que a língua portuguesa seja unificada e possa ser utilizada da melhor
maneira por todos os seus falantes. Dentre elas, citamos as regras de concordância
e regência, as quais estudaremos com detalhes nas seções a seguir.

49
UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

Vamos adiante?

3.1. CONCORDÂNCIA NOMINAL


A concordância nominal ocorre quando há concordância no aspecto
“número” (plural ou singular) e “gênero” (masculino e feminino) entre o
substantivo e o adjetivo que dá características a ele.

A concordância nominal é dividida em regra geral e algumas regras


específicas, as quais serão trabalhadas uma a uma para que você, acadêmico,
possa compreendê-las.

Regra geral: o adjetivo que caracteriza um único substantivo concordará


com ele em gênero e número.

Exemplos:

− O rapaz caprichoso arrumou seu quarto.


− A moça caprichosa arrumou seu quarto.
− Os rapazes caprichosos arrumaram seus quartos.
− As moças caprichosas arrumaram seus quartos.

Regras específicas:

a) Quando um adjetivo caracteriza vários substantivos:

Neste caso, o adjetivo poderá concordar em gênero e número com o


substantivo que está mais próximo.

− A menina e o menino pequeno correram pelo parque.


− O menino e a menina pequena correram pelo parque.
− As meninas e os meninos pequenos correram pelo parque.
− Os meninos e as meninas pequenas correram pelo parque.

O adjetivo pode também assumir o masculino plural quando há um


substantivo masculino e um feminino, podendo ocorrer a seguinte formação.

− A menina e o menino pequenos correram pelo parque.


− O menino e a menina pequenos correram pelo parque.

Quando aparecerem na frase substantivos do mesmo gênero no singular,


o adjetivo poderá permanecer no singular ou ir para o plural.

− Compraram uma casa e uma moto novas.


− Compraram uma casa e uma moto nova.

50
TÓPICO 3 | REGRAS PARA A BOA COMUNICAÇÃO

Caso sejam substantivos próprios (que nomeiam seres) e que expressem


graus de parentesco, o adjetivo deve ficar no plural.

− Meus queridos pais e tios visitaram meus avós.


− Os amados Ana e Paulo casaram-se no ano passado.

b) Adjetivo caracterizando pronomes pessoais:

Neste caso, o adjetivo deve concordar com o pronome a que se refere em


gênero e número.

− Ela ficou assustada com a notícia.


− Ele ficou assustado com a notícia.
− Elas ficaram assustadas com a notícia.
− Eles ficaram assustados com a notícia.

c) Quando há vários adjetivos no singular caracterizando um único substantivo:

Neste caso, o substantivo deve permanecer no singular quando há


presença de artigo entre os adjetivos, mas fica no plural caso os adjetivos se
apresentem sem artigos.

− Aprendi a dançar com o bailarino russo e o alemão.


− Aprendi a dançar com os bailarinos russo e alemão.

d) Quando houver uso do verbo ser + adjetivo:

Neste caso, o adjetivo deve concordar com o substantivo quando houver


presença de artigos ou outros determinantes, mas deverá permanecer no
masculino e no singular quando o substantivo se apresentar isolado.

− A fome é desesperadora para as pessoas.


− Fome é desesperador para as pessoas.
− A água é boa para a saúde.
− Água é bom para a saúde.

e) Quando aparecer um pronome indefinido neutro + de + adjetivo:

Neste caso, com os pronomes indefinidos neutros nada, algo, muito, tanto
+ a preposição “de”, o adjetivo deve ficar no masculino e no singular.

− O filme não tem nada de bom.


− A novela não tem nada de bom.
− Os filmes não têm nada de bom.
− As novelas não têm nada de bom.

f) Quando aparecer a palavra “só” com sentido de sozinho:

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UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

A palavra “só” quando significa “sozinho” tem função de adjetivo, por


isso deve concordar em número com o substantivo que caracteriza.

− Ele está só na casa.


− Eles estão sós na casa.

g) Com as expressões é necessário, é proibido, é preciso, é permitido e é bom:

Nestes casos o adjetivo deve permanecer no singular e no masculino,


mantendo-se invariável, quando não há presença de artigos ou outros
determinantes do substantivo.

− É necessário assinatura dos responsáveis por este local.


− É proibido entrada de pessoas não autorizadas.

Já quando ocorre a presença de artigos ou outros determinantes do


substantivo, o adjetivo varia em número e gênero.

− É necessária a assinatura dos responsáveis por este local.


− É proibida a entrada de pessoas não autorizadas.

h) Com as palavras anexo, obrigado, mesmo, próprio, incluso e quite:

As palavras obrigado, mesmo, anexo, quite, próprio e incluso precisam


concordar com o substantivo que caracterizam em gênero e número.

− A carta de recomendação está anexa.


− As próprias enfermeiras reanimaram o paciente.
− Nós estamos quites com a Receita Federal.

i) Com as palavras bastante, caro, barato, muito, pouco, longe e meio:

Estas palavras, mesmo que invariáveis quando advérbios, concordam em


gênero e número com o substantivo que caracterizam quando sua função é de
adjetivo.

− Há livros bastantes para a pesquisa.


− Essas blusas são muito caras!
− Você precisa aprender a usar sapatos baratos.
− Elas picaram apenas meias frutas.

j) Com as palavras menos e alerta:

As palavras citadas, embora atuem como adjetivos, são advérbios,


portanto, permanecem invariáveis.

− Os guardas perceberam movimentos estranhos e ficaram alerta.

52
TÓPICO 3 | REGRAS PARA A BOA COMUNICAÇÃO

− Quanto mais conversa na sala, menos concentração há.

k) Com as expressões um e outro, uma e outra, num e noutro, numa e noutra:

Com estas expressões, o adjetivo deve estar no plural, mesmo que o


substantivo permaneça no singular.

− A polícia prendeu um e outro sujeito suspeitos.


− O chefe confiou apenas num e noutro secretário dedicados.

Acadêmico, estas são as principais regras de concordância nominal.


Agora, estudaremos as regras de concordância verbal. Vamos lá.

3.2. CONCORDÂNCIA VERBAL


A concordância verbal, assim como a nominal, possui algumas
especificidades. Vamos a elas?

Regra geral: o verbo deve concordar com seu sujeito em pessoa e número.

− Mariana vive feliz.


− Mariana e Paulo vivem felizes.

Agora, trabalharemos com as especificidades. Vamos a elas?

a) Com sujeito composto:

Anteposto: quando o sujeito composto aparecer antes do verbo, ele vai


para o plural.

− A falta de energia e de água fizeram com que as lojas fechassem.


− Os homens e as mulheres estavam muito felizes com a festa.

Posposto: quando o sujeito composto aparecer depois do verbo, ele poderá


ficar no plural ou concordar com o elemento que estiver mais próximo.

− Passarão a moto e o carro.


− Passará a moto e o carro.

Com elementos identificados semanticamente: quando os núcleos do


sujeito forem sinônimos ou pertencerem ao mesmo grupo significativo, o verbo
fica no singular.

− Alegria e felicidade acompanha a criança à escola.


− Tristeza e angústia estava presente naquela noite.

53
UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

Com elementos ligados por ou: caso a conjunção crie uma relação de
exclusividade, o verbo fica no singular.

− Paulo ou Marcelo vencerá a competição.


− O primeiro ou o segundo lugar será contratado.

Com elementos em gradação: aqui, o verbo concorda com o elemento


mais próximo.

− O corpo, a alma, o coração está doente.

Com as expressões um e outro ou nem um nem outro: neste caso, o verbo


poderá ficar tanto no singular quanto no plural.

− Nem um nem outro quis a sobremesa.


− Nem um nem outro quiseram a sobremesa.

b) Verbo com o pronome apassivador “se”: neste caso o verbo concorda com o
sujeito.

− Vendem-se casas de alvenaria.


− Aluga-se casa na praia.

c) Verbo que indica indeterminação do sujeito: neste caso, o verbo deve ficar na
terceira pessoa do singular. A indeterminação do sujeito ocorre quando não se
sabe quem é o sujeito da oração.

− Assistiu-se ao espetáculo com emoção.


− Contestou-se as contas que foram pagas.

d) Pronome de tratamento: quando o sujeito for um pronome de tratamento, o


verbo vai para a 3ª pessoa (singular ou plural) concordando com o pronome.

− Vossa Excelência assinou o documento.


− Vossas Excelências assinaram o documento.

e) Coletivo: neste caso, o verbo fica no singular.

− O arquipélago é lindo.
− A alcateia atacou as galinhas.

f) Porcentagem:

Quando há um número expresso em porcentagem sem especificação, o


verbo concorda com o sujeito.

− Um por cento não comprou as rifas.


− Sessenta por cento estavam doentes.

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TÓPICO 3 | REGRAS PARA A BOA COMUNICAÇÃO

Quando o sujeito está especificado o verbo concorda com ele:

− Um por cento dos alunos não compraram as rifas.


− Sessenta por cento do corpo docente estava doente.

Casos especiais envolvendo porcentagem:

• O sujeito se apresenta antes da porcentagem:


− Dos professores, sessenta por cento estão doentes.

• Quando o verbo se apresenta antes da porcentagem:


− Não comprou a rifa um por cento dos alunos.

• Quando a porcentagem vem determinada:


− Aqueles sessenta por cento dos professores não vieram.

g) Nomes usados somente no plural:

Neste caso, quando o sujeito for composto por nomes próprios, o verbo
fica no plural quando esse nome vier precedido de artigo plural. Se não, fica no
singular.

− Estados Unidos é um país de primeiro mundo.


− Os Estados Unidos são um país de primeiro mundo.

E
IMPORTANT

Lembre-se de que a concordância nominal se refere aos sujeitos, adjetivos e


advérbios, ao passo que a concordância verbal se refere ao verbo.

Agora, mudaremos o foco da concordância para algumas regras básicas


de regência nominal e verbal. Fique atento para não as confundir.

A regência verbal e a regência nominal ocorrem entre os diferentes termos


de uma oração. Ela ocorre quando existe um termo regente que apresenta um
sentido incompleto sem o termo regido, ou seja, sem o seu complemento. A
regência nada mais é do que o complemento.

55
UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

3.3. REGÊNCIA NOMINAL


Bechara (2009) afirma que a regência nominal indica a relação que um
nome (termo regente) estabelece com o seu complemento (termo regido) através
do uso de uma preposição.

ATENCAO

Seria inviável para nós listarmos todos os nomes e suas regências, portanto, é
de suma importância consultar um bom dicionário no caso de alguma dúvida.

A seguir, algumas listas (Quadro 4) para que você compreenda a regência


de alguns dos principais substantivos, adjetivos e advérbios.

QUADRO 4 – REGÊNCIA DE SUBSTANTIVOS, ADJETIVOS E ADVÉRBIOS

SUBSTANTIVOS
Devoção  a, para, com,
Admiração a, por Medo de
por
Aversão a, para, por Doutor em Obediência a
Dúvida acerca de, em,
Atentado a, contra Ojeriza a, por
sobre
Bacharel em Horror a Proeminência sobre
Respeito  a, com, para
Capacidade de, para Impaciência com
com, por

ADJETIVOS
Acessível a Entendido em Necessário a
Acostumado a, com Equivalente a Nocivo a
Agradável a Escasso de Paralelo a
Alheio a, de Essencial a, para Passível de
Análogo a Fácil de Preferível a
Ansioso de, para, por Fanático por Prejudicial a
Apto a, para Favorável a Prestes a
Ávido de Generoso com Propício a
Benéfico a Grato a, por Próximo a

56
TÓPICO 3 | REGRAS PARA A BOA COMUNICAÇÃO

Capaz de, para Hábil em Relacionado com


Compatível com Habituado a Relativo a
Satisfeito com, de, em,
Contemporâneo a, de Idêntico a
por
Contíguo a Impróprio para Semelhante a
Contrário a Indeciso em Sensível a
Descontente com Insensível a Sito em
Desejoso de Liberal com Suspeito de
Diferente de Natural de Vazio de

ADVÉRBIOS
Longe de
Perto de

FONTE: <https://www.soportugues.com.br/secoes/sint/sint71.php>. Acesso em: 01 dez. 2018.

ATENCAO

Os advérbios terminados em “mente” tendem a seguir o regime dos adjetivos


de que são formados: paralela a > paralelamente a; relativa a > relativamente a.

3.4. REGÊNCIA VERBAL


De acordo com Bechara (2009), a regência verbal indica a relação que um
verbo (termo regente) estabelece com o seu complemento (termo regido) através
do uso ou não de uma preposição. Na regência verbal os termos regidos são o
objeto direto (sem preposição) e o objeto indireto (preposicionado).

A regência verbal ocorre quando se faz relação entre os verbos e os termos


que seguem a ele e completam o seu sentido. Os verbos são os termos regentes e
os objetos (direto e indireto) e adjuntos adverbiais são os termos regidos.

Exemplificaremos a seguir com alguns verbos para que você possa


compreender como eles são regidos.

57
UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

ATENCAO

Alguns verbos, dependendo do seu significado, podem ter mais de uma


regência.

a) Assistir:

Com o sentido de ver exige preposição:


− Ele assistiu ao filme.

Com o sentido de dar assistência não exige preposição:


− O mecânico assistiu o motorista.

b) Chegar:

O verbo chegar é regido pela preposição “a”:


− Chegamos ao destino com segurança.

c) Custar:

Com o sentido de ser custoso exige preposição:


− Aquela decisão custou ao pai.

Com o sentido de valor não exige preposição:


− Aquele veículo custou caro.

d) Obedecer:

O verbo obedecer é transitivo indireto, logo, exige preposição:


− Obedeça aos pais.

e) Proceder:

Com o sentido de fundamento é verbo intransitivo:


− Essa sua explicação não procede.

Com o sentido de origem exige preposição:


− Essa sua fama procede de situações passadas.

f) Visar:

Com o sentido de objetivo exige preposição:


− Visamos ao cargo de gerente.

58
TÓPICO 3 | REGRAS PARA A BOA COMUNICAÇÃO

Com o sentido de mirar não exige preposição:


− O pai visou o filho à distância.

g) Esquecer:

O verbo esquecer é transitivo direto, logo não exige preposição:


− Esqueci o meu dinheiro.

h) Querer:

Com o sentido de desejar não exige preposição:


− Quero ir embora.

Com o sentido de estimar exige preposição:


− Queria muito aos meus pais.

i) Aspirar:

Com o sentido de respirar ou absorver não exige preposição:


− Aspirou todo o pó do chão.

Com o sentido de pretender exige preposição:


− Aspirou ao cargo de gerente.

j) Informar:

O verbo é transitivo direto e indireto, assim ele exige um complemento


sem e outro com preposição:
− Informei o acontecimento aos superiores.

k) Ir:

O verbo ir é regido pela preposição “a”:


− Vou ao Egito.

l) Implicar:

Com o sentido de consequência, o verbo implicar é transitivo direto, logo


não exige preposição:
− O seu atraso implicará uma multa.

Com o sentido de embirrar, é transitivo indireto, logo exige preposição:


− Ele implica com tudo.

m) Morar:

O verbo morar é regido pela preposição “em”:


− Mora na quadra ao lado.

59
UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

n) Preferir:

O verbo preferir é transitivo direto e indireto. Assim:


− Prefiro arroz a feijão.

o) Simpatizar:

O verbo simpatizar é transitivo indireto e exige a preposição "com":


− Simpatiza com as crianças.

p) Chamar:

Com o sentido de convocar não exige complemento com preposição:


− Chame a polícia.

Com o sentido de apelidar exige complementos com e sem preposição:


− Chamou ao menino de moleque.

q) Pagar:

Quando informamos o que pagamos o complemento não tem preposição:


− Você paga o boleto?

Quando informamos a quem pagamos o complemento exige preposição:


− Pague o boleto ao vendedor.

4 EXPRESSÃO CORPORAL: PARTE ESSENCIAL DA


COMUNICAÇÃO
Esta é nossa última etapa de estudos referentes às noções básicas de
comunicação. Trabalharemos nestes tópicos algumas características acerca da
expressão corporal e como trabalhá-la para uma boa comunicação. Vamos lá,
porque ainda temos muito que aprender.

4.1 SEU CORPO FALA


Por mais que possamos pensar que não, sim, nosso corpo fala mais
do que imaginamos. Tom de voz, movimentos, olhares, posição das mãos,
o sorriso, o cruzar de pernas, o jogar os cabelos e até o suor são observados
quando comunicamos. Isso ocorre quando lecionamos, palestramos, flertamos,
entrevistamos ou somos entrevistados ou nos comunicamos de maneira
despretensiosa.

60
TÓPICO 3 | REGRAS PARA A BOA COMUNICAÇÃO

Há profissionais especializados em observar nossos movimentos que, na


maioria das vezes, são inconscientes. Você deve estar se perguntando o que isso
tem a ver com a linguagem jurídica, não é mesmo? Absolutamente tudo. Vamos
a alguns exemplos.

Quando são feitos os interrogatórios com presos e condenados, sempre


há um profissional na sala apenas observando os movimentos do entrevistado. O
posicionamento dos pés, das mãos etc. pode entregar, por exemplo, uma mentira
ou uma resposta imprecisa.

Da mesma forma em um tribunal. Tanto o promotor quanto os advogados,


escrivães e outros profissionais envolvidos observam atentamente a postura e
a linguagem corporal dos réus. Lembre-se: os melhores mentirosos são os que
sabem controlar muito bem seus movimentos corporais.

DICAS

O site Universia lista 20 indicadores que podem ajudar você e devem ser
observados quando você se comunicar. Vamos conhecê-los?

1. Proximidade: para saber se uma pessoa está confortável com você, basta reparar na
proximidade física que ela mantém. Sente-se perto, esbarre levemente ou toque o
braço despretensiosamente e observe como ela reage.

2. Olhar para baixo: quando uma pessoa olha constantemente para baixo quando
conversa, ela não está confortável: ou está com vergonha, ou desconfortável ou ainda
triste. Atente: o olhar desviado para baixo em uma relação jurídica pode indicar que a
pessoa não está sendo sincera ao falar.

3. Mãos inquietas: demonstra impaciência, especialmente quando os dedos tamborilam


na mesa ou nas pernas. Quando em uma conversa isso ocorrer, é bem provável que a
pessoa não esteja gostando da conversa ou que você esteja sendo inconveniente.

4. Pernas inquietas: da mesma maneira que as mãos, pernas se movendo, batendo o pé,
cruzando e descruzando freneticamente também mostram impaciência (ou a pessoa
está apurada para ir ao banheiro fazer suas necessidades fisiológicas). Pergunte se
está tudo bem e se ela precisa ir ao toalete ou beber água antes de prosseguir com a
conversa. Às vezes, o nervosismo pode fazer essas coisas.

5. Mãos na cintura: indica que a pessoa está ou muito brava ou realmente a paciência
acabou. Este é um dos sinais para os quais se deve estar mais atento.

6. Coçar a cabeça: este ato é geralmente atribuído a dúvidas e confusão. Quando a


pessoa coça muito a cabeça quando conversa, pode ser que ela não domine muito
bem o que está falando ou não tenha certeza dos fatos.

7. Segurar as mãos atrás das costas: este é um dos mais difíceis sinais a serem lidos.
Ele pode demonstrar respeito, poder ou ainda insubordinação. Neste caso, é preciso
prestar atenção aos outros sinais para conseguir diferenciar o significado deste.

61
UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

8. Mãos fechadas como punhos: isso indica raiva, frustração. É um sinal violento e
intimidador. Ao discutir ou confrontar com pessoas que estejam com os punhos
cerrados, certifique-se de que você está seguro, pois a conversa pode não dar certo.

9. Tocar: significa, na maioria das vezes, que a pessoa está confortável com você.

10. Braços cruzados: este sinal demonstra irritação (especialmente quando acompanhado
de pernas cruzadas) ou desconforto. Quando visto dessa maneira, geralmente é uma
maneira de “abraçar-se” ou confortar-se.

11. Olhar para cima de felicidade: quando em um momento de felicidade, o ato de olhar
para cima é atribuído a alívio, e demonstra felicidade por conquistar algo que os alivia. É
uma forma de agradecer a Deus. Observe, por exemplo, um jogador após fazer um gol.

12. Levantar os olhos e as sobrancelhas: surpresa é a palavra que resume este movimento.
Esta surpresa pode ser positiva, como uma notícia boa, por exemplo, ou negativa,
quando a pessoa fica chocada com algum acidente, por exemplo.

13. Procurar em volta por algo melhor a fazer: isso claramente demonstra tédio. Olhar
em volta, como se procurasse por algo para fazer, ou começar a rabiscar com uma
caneta, nem sempre é uma ação consciente, mas demonstra que a pessoa não está
interessada no assunto.

14. Pisotear: o popular “bater os pés” indica irritação. É mais comum nas crianças, mas
adultos pisoteiam de uma maneira mais “discreta”, andando de um lado para o outro
com firmeza, por exemplo.

15. Limpar a garganta: ansiedade ou nervosismo são os principais sinais de quem limpa
a garganta em situações que não sejam uma faringite ou uma gripe. Vamos a um
exemplo: quando um comediante faz uma piada e o público não ri, é comum que ele
limpe a garganta, como se tentasse desviar a atenção do recente ocorrido.

16. Projetar o peito para frente: esta é uma característica inconsciente que copiamos dos
animais. Os homens projetam o peito para frente como forma de intimidar o outro,
parecendo mais fortes. Também na conquista, quando o homem projeta o peito para
frente quando encontra uma mulher é porque ele se sentiu atraído por ela.

17. Observe como você anda: seu jeito de andar diz muito sobre você. Pessoas que
andam com uma postura torta, curvada para baixo, mostram depressão. Pessoas que
andam com o queixo reto são geralmente bem resolvidas e pessoas que caminham
com o nariz levemente voltado para cima são, geralmente, arrogantes.

18. Fechar os olhos: pode demonstrar frustração, irritação e impaciência. Também pode
ser um sinal de que a pessoa está analisando seus pensamentos para lidar com os
problemas.

19. Esfregar os olhos: esta ação pode mandar mensagens misturadas. O cansaço é o
principal deles, mas dependendo da situação, pode ser caracterizada como desgosto
ou desconforto.

20. Encarar, há duas razões pelas quais as pessoas costumam encarar: atração ou
dominância. Se você está encarando alguém e a pessoa responde ao olhar, o primeiro
a quebrar o contato visual é o menos dominante.

FONTE: <http://noticias.universia.com.br/destaque/noticia/2013/05/28/1026612/ilustraces-os-
20-indicadores-mais-populares-da-linguagem-corporal.html>. Acesso em: 01 dez. 2018.

62
TÓPICO 3 | REGRAS PARA A BOA COMUNICAÇÃO

Estes são os principais movimentos ou ações corporais que permitem


que possamos fazer uma pequena análise das ações de quem conversamos.
Há muitas outras maneiras de o corpo mandar mensagens, mesmo que sem o
nosso consentimento consciente. Enquanto comunicador, busque praticar seu
autocontrole para não deixar que seu público leia seus movimentos.

Vamos agora a algumas dicas para enfrentar o medo de falar em público,


afinal de contas, na área jurídica a coragem na hora de falar é um dos principais
diferenciais.

4.2 ENFRENTANDO O MEDO


Por mais que possa parecer que não, muitas pessoas altamente
desenvolvidas e descontraídas no palco podem ter crises de ansiedade ou pânico
antes de falar. Este é um dos maiores medos das pessoas: falar publicamente.
Nem sempre o medo de falar em público está relacionado somente a grandes
públicos, mas também a situações do cotidiano.

Os medos relacionados à fala não estão somente relacionados ao


psicológico, mas também podem refletir no físico, como dores de barriga, diarreia,
garganta seca, tremedeira, coração acelerado, náuseas, rubor na face, aumento de
pressão arterial e até perda de voz, dependendo da intensidade dos sintomas.

Ao iniciar-se este círculo de boicote da mente que acaba refletindo no


corpo, as pessoas acabam duvidando da sua capacidade de lidar com a situação e
a mente, assim que colocada à prova, ativa o medo que faz com que o corpo reaja
imediatamente. Para uma pessoa com pavor de falar em público, basta apenas
pedir que a pessoa agradecesse em voz alta e imediatamente o pânico vem à tona.

Felizmente, existem hoje muitas maneiras de controlar a ansiedade. A


seguir, listamos algumas delas.

• Controle sua respiração: ela é um fator importante. Prender a respiração ou


respirar ofegantemente faz com que seu corpo entenda que você está em uma
emergência e imediatamente seu corpo começará a reagir para “salvá-lo” da
situação. A técnica de respiração “inspire e expire” pode ajudar a salvar o seu
discurso. Esteja consciente da sua respiração e concentre-se nela, mentalizando
“eu estou calmo”, “minha respiração está normalizada”.

• Mantenha o foco: esta é uma das mais difíceis estratégias quando se está em
pânico, mas quando dominada, é a mais eficaz. Quando estamos com medo,
a mente se fixa no que é assustador, por exemplo, no coração disparado, na
sensação de desmaio, na dor de barriga. Quando estas sensações são focalizadas,
elas tendem a aumentar. Para acabar com isso, tente esquecer e repita para si
mesmo: “eu estou indo muito bem, eu consigo fazer isso com sucesso”.

63
UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

• Esteja bem consigo mesmo: o medo geralmente está relacionado à insegurança


e esta, relacionada ao quão inflado está seu ego. Costumamos preocuparmo-
nos com o que os outros irão pensar sobre nós, o que vão dizer, se vão gostar
ou não. Estar seguro e bem consigo mesmo é uma das maneiras mais eficazes
de vencer o medo.

• Desmistifique a ansiedade social: caso seja seu objetivo ser bem-sucedido


na esfera social, você terá de aprender a conversar. Lembre-se de que a
comunicação é a principal maneira de relacionar-se com as pessoas. Você terá
de enfrentar pessoas com diferentes interesses e valores, de diferentes classes
sociais, de diferentes culturas e escolaridades. Para isso, invista em si mesmo.
Esteja sempre com os cabelos arrumados, com uma roupa apresentável, mesmo
que seja para ir ao mercado, afinal de contas, você nunca sabe quem poderá
encontrar por lá. Quebrar a barreira da ansiedade social é um dos primeiros
passos para o sucesso.

4.3 TÉCNICAS DE RELAXAMENTO


Nesta seção, elencaremos algumas dicas breves de relaxamento para antes
de entrar no ambiente que demandará suas habilidades comunicativas. Seja em
um palco, em um auditório, em uma sala de aula, em uma delegacia ou em um
tribunal, as habilidades a serem postas em prática são as mesmas, portanto, as
técnicas podem ser aplicadas a todas as situações.

• Controle a respiração: conforme já mencionamos, a respiração é o mais


importante. É ela que indica o pânico para o organismo caso esteja inconstante.
Para relaxar a respiração, deixe-se ou recoste-se com um livro sobre a barriga.
Inspire pelo nariz e expire pela boca tentando movimentar o menos possível
o livro. Cheire a flor, sopre a vela. Esta deve ser a movimentação das suas
narinas no ato do exercício.

• Aqueça sua voz: isso prepara as pregas vocais para melhor desempenho e
previne que você as machuque. Para aquecer a voz, existem inúmeros exercícios,
mas estes são os mais básicos e fáceis. Para fazê-los, mantenha-se com as costas
eretas. Exercício 1: inspire e solte o ar lentamente, como uma baforada ou um
“A” sussurrado, até o ar acabar. Exercício 2: Inspire e crie uma vibração com a
língua, pronunciando o som “rrrrrrrr”. Solte o ar dos pulmões até que acabe.
Exercício 3: Inspire e crie o som “zzzzzzzzzz”. Solte o ar dos pulmões até acabar.
Estes exercícios podem ser repetidos quantas vezes forem necessárias.

• Beba água de preferência em temperatura ambiente, antes, durante e depois


da apresentação. Hidrate sua garganta.

• Treine sua dicção: aqui, uma boa dica (e simples) é fazer leituras em voz alta
em frente ao espelho e articular exageradamente os movimentos. Assim, os
músculos trabalham em prol da articulação das palavras.

64
TÓPICO 3 | REGRAS PARA A BOA COMUNICAÇÃO

• Relaxe seu corpo: alongue-se, movimente a cabeça para os lados, para trás e
para frente, faça caretas com os músculos do rosto, estique-se.

Prieto (2014) menciona alguns itens que precisam ser observados para que
você possa potencializar ainda mais sua capacidade comunicativa:

• Hidrate-se.

• Boceje: diminui a tensão e é muito bom para dar aquela relaxada.

• Evite beber leite, comer chocolates e beber refrigerantes antes de falar por
longos períodos. Essas bebidas aumentam a secreção da garganta.

• Durma: o sono regular permite que mente e corpo descansem e recarreguem


as energias.

• Evite gritos e cochichos: Falar normalmente. Tanto o grito quanto o cochicho


podem causar nódulos.

• Não fume: é o maior inimigo da voz e da laringe.

• Coma maçãs: ela é adstringente e serve para “limpar” a garganta, trazendo


bem-estar.

4.4 DICAS PARA UMA BOA POSTURA NA HORA DE FALAR


Para que possamos finalizar nossa Unidade 1, terminaremos dando dicas
acerca da postura. Agora que você já sabe como analisar a linguagem corporal,
já sabe como aquecer a voz, como driblar o nervosismo e como relaxar, vamos às
últimas dicas da unidade: como manter a postura na hora da comunicação.

De acordo com Prieto (2014), alguns são os detalhes que, quando


observados, podem fazer toda a diferença. Vamos a eles?

• Solte papel e caneta: de acordo com os estudiosos de oratória, não há nada de


errado com o rascunho, mas a comunicação oral é oral. Use o papel apenas
para tomar notas.

• Observe-se. Lembre-se de que a linguagem corporal fala mais do que as


palavras. A plateia é sensível a gestos. Caso não consiga controlar seus
movimentos, segure um passador de slides ou mesmo uma caneta. Não faça
movimentos bruscos.

• Fale com energia. A pior experiência de todas é ter de ouvir um palestrante


sem vontade.

65
UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

• Disfarce o tremor das suas mãos. Se não houver uma caneta ou um passador
de slides para segurar, apoie as mãos na mesa, na cadeira ou no microfone.

• Pense antes de falar. Tenha clareza sobre o conteúdo a ser transmitido.

• Peça críticas construtivas. Peça para que um amigo de confiança assista sua
apresentação e relate depois o que é preciso corrigir.

• Mulheres: evitem usar pulseiras que façam barulho quando mexer os braços.
Isso, além de ser deselegante, tira a atenção dos ouvintes.

Com estas dicas de postura, certamente você se sairá muito bem enquanto
comunicador, seja qual for a área de atuação. Nos vemos na Unidade 2.

66
TÓPICO 3 | REGRAS PARA A BOA COMUNICAÇÃO

LEITURA COMPLEMENTAR

COMO STEVE JOBS NOS ENSINA A SER UM BOM COMUNICADOR


Elisa Weber Helfer

Steve Jobs, além de ser um exemplo de liderança, é conhecido como um


comunicador cativante, que vende as suas ideias com talento, capaz de converter
prováveis compradores em clientes e clientes em entusiastas

Comunicação é chave para convencer as pessoas, tanto clientes,


funcionários e sócios, a acreditar num novo produto, num novo processo, no rumo
da organização. Quando a comunicação é ineficaz, ela desfaz ideias, desafios e
interrompe carreiras.

No processo de comunicação, as apresentações tornaram-se uma


ferramenta essencial. Através dela é possível comunicar as qualidades de seu
produto, serviço ou causa, fazendo com que as pessoas acreditem na ideia que a
empresa está vendendo. As apresentações são a peça-chave e qualquer erro pode
representar prejuízo e levar ao fracasso.

Como, então, elaborar uma apresentação de sucesso? Como ter uma


apresentação que possa cativar e convencer quem está assistindo a comprar o
produto ou serviço?

Faça como Steve Jobs. Veja abaixo as 11 lições que ele ensina para fazer
uma apresentação de sucesso, uma apresentação que seja a diferença, que atraia
futuros consumidores e que faça com que os mesmos se tornem clientes da
empresa.

1) Crie uma história

Elabore um enredo para vender as suas ideias com convicção e carisma.


Muitos comunicadores criam mensagens e títulos cativantes, fazem uma narrativa
leve e fácil de ser acompanhada.

Comece com um esboço da história, sem ajuda de computador ou


Power Point, somente caneta e papel. O Microsoft Power Point é uma excelente
ferramenta para as apresentações, permitindo diversos designs, animações,
além de agilizar a tarefa. Porém, alguns recursos podem atrapalhar e tornar a
apresentação tediosa.

Jobs se envolvia diretamente em cada detalhe da apresentação e seguia a


forma como os principais designers de apresentação recomendam: começar no
papel. Escrever no papel um esboço, pois ele proporciona mais clareza e resultados
criativos e, após isso, apresentar as ideias de forma digital. A preparação de uma
apresentação exige tempo para pensar, planejar, esboçar e escrever um roteiro.

67
UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

É preciso lembrar que: é a história que mobilizará a imaginação e irá reter


a atenção da plateia, não os slides.

2) Responda à pergunta mais importante

A plateia quer ser informada sobre o seu produto, ensinada sobre como
ele funciona e entretida enquanto aprende sobre ele. As pessoas querem saber a
resposta para a seguinte pergunta: “Por que eu devo me interessar?”.

No planejamento da apresentação, considere que ela não é para você, e


sim para o público. Responder à pergunta de forma simples e direta chamará a
atenção dos ouvintes.

3) Simplicidade

A simplicidade é um conceito muito importante para a Apple. Jobs tornava


os produtos fáceis de usar, eliminando recursos. Da mesma forma o faz em suas
apresentações. Enquanto muitos apresentadores preenchem os seus slides com
bastante conteúdo, Jobs os retira.

Uma apresentação de Steve Jobs é muito simples, objetiva e visual. Ao


remover informações irrelevantes dos produtos e apresentações, Steve consegue
repassar com clareza todas as informações necessárias.

Os slides simples mantêm o foco no que interessa: em você, o palestrante.


Se os seus slides tiverem muitas palavras, e palavras que não correspondem
ao que você diz, os ouvintes terão dificuldades para se concentrar em você e
em seus slides.

O seu discurso também tem que ser simples. Jobs escolhe cuidadosamente
as suas palavras para descrever um produto. Ele substitui frases longas por
citações, as quais facilmente poderiam ser inseridas em um post do Twitter. Desta
forma, as frases são simples e fáceis de serem lembradas.

4) Use imagens

Suas ideias terão maior probabilidade de serem lembradas se forem


apresentadas por imagens, em vez de palavras. As imagens funcionam melhor
que o texto porque o cérebro enxerga as palavras como inúmeras imagens em
miniaturas.

Quando Steve Jobs apresentou o lançamento do iPhone 3G ele utilizou 11


slides, sendo que somente um slide continha palavras.

Você precisa ter confiança para expor suas ideias utilizando imagens ao
invés de palavras. Você deve, então, transmitir sua mensagem perfeitamente. Jobs
transmite suas ideias de maneira simples, clara e confiante, e essa é a diferença
entre Steve e milhões de comunicadores comuns.

68
TÓPICO 3 | REGRAS PARA A BOA COMUNICAÇÃO

5) Use palavras empolgantes

Como foi possível ver até agora, Jobs fala de uma maneira simples, clara e
direta, isenta de jargão e complexidade. Ele escolhe palavras que são divertidas,
tangíveis e incomuns.

Se as suas apresentações forem lotadas de jargões, enroladas e confusas, você


perderá uma oportunidade de empolgar e envolver as pessoas que estão lhe ouvin-
do. Você deve utilizar palavras que representam verdadeiramente seu produto, ser-
viço ou marca. Não fique com receio de usar palavras simples e adjetivos descritivos.
Se você considera o seu produto incrível, siga em frente e diga isso. Se você não ficar
empolgado com o seu produto, como espera que os outros fiquem?

Jargão se refere a uma linguagem incompreensível. Evite-a, pois o uso


de jargões cria dificuldades para compartilhar ideias. Eles deixarão você menos
compreensível e, por consequência, menos persuasivo.

Outra maneira de acrescentar vida à sua linguagem é por meio de analogias,


comparando uma ideia ou produto com um conceito ou produto conhecido pela
plateia. Quando você encontrar uma analogia que funcione, persista nela. Quanto
mais repeti-la, maiores serão as chances de seus clientes se lembrarem.

6) Compartilhe o palco

Nosso cérebro não presta atenção em coisas chatas, ele deseja variedade.
Divida o palco com convidados, com pessoas capazes de explicar de forma
mais eficaz sobre uma etapa do funcionamento de um produto. Isso somará
credibilidade e entusiasmo à apresentação.

Os testemunhos e avais são persuasivos. O boca a boca é a principal


influência nas decisões de compras. Convidar um cliente para dividir o palco,
tanto pessoalmente ou em vídeo, é uma importante estratégia. Demonstrar
publicações que elogiam o produto também é uma tática que funciona. Essas
ações influenciam os ouvintes, dando confiança de que comprando o produto,
eles farão uma escolha sensata.

É importante, também, agradecer às pessoas que tornaram o produto


possível, por exemplo, os funcionários. Isto revelará à plateia sinais de integridade
e inspirará seus parceiros e colaboradores a trabalhar com você. Steve Jobs divide
o palco com a sua plateia, seus clientes, na maioria das vezes, agradecendo-os.
Deste modo, ele cria uma afinidade com os ouvintes, reconhecendo as pessoas
que são importantes: as que compram e as que desenvolvem o produto.

7) Em suas apresentações utilize objetos cênicos

Jobs utilizava objetos cênicos nas demonstrações dos seus produtos.


Uma boa demonstração tem o poder de informar a plateia sobre o seu produto,
comunicando os seus benefícios e inspirando os ouvintes a comprá-lo.

69
UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

Apesar disto, as demonstrações devem ser:

Curtas: uma demonstração não pode entediar a plateia.


Simples: deve ser compreensível e fácil de acompanhar. Informar somente o
que é relevante, despertando nos ouvintes a vontade de adquiri-lo, porém sem
desnorteá-los.
Gratificantes: através de uma demonstração, apresente o diferencial de seu produto
em comparação com o concorrente. Porém, você deve mostrar a funcionalidade
real de seu produto.
Substanciais: demonstrar claramente a forma como o seu produto oferece uma
solução para um problema que seus ouvintes estão enfrentando.
Prazerosas: ao realizar a apresentação do seu produto, você deve demonstrar
prazer com isso. As demonstrações devem ser divertidas, com entusiasmo e atingir
todos os presentes. Jobs revelava prazer demonstrando seus novos produtos e,
exatamente por isso, suas apresentações faziam sucesso.
Concentração: ao demonstrar um produto, apresente somente um dos muitos
benefícios oferecidos por ele. Assim, você não sobrecarregará a plateia.

8) Surpreenda com um momento inesquecível

O primeiro passo para criar um momento inesquecível é identificar um


único tema, uma única coisa, que você deseja que a sua plateia lembre depois de
deixar o recinto. Os ouvintes esquecerão muitos detalhes da sua apresentação, dos
seus slides, mas lembrarão do que sentiram. A apresentação deve ter o propósito
de criar uma experiência e provocar uma conexão emocional com o ouvinte.

Quando Jobs apresentou o novo iPod, ele tinha uma única mensagem-
chave: ele põe mil músicas em seu bolso.

9) Presença de palco

Steve Jobs possuía uma presença de palco impressionante. Sua voz, seus
gestos e sua linguagem corporal comunicavam autoridade, confiança e energia.
As palavras que ele empregava para descrever um produto são importantes
de se observar, assim como a maneira como se expressava. Ele destacava as
palavras-chave em cada parágrafo, fazia gestos expansivos para complementar
sua expressão vocal.

Três técnicas para melhorar a linguagem corporal:

Contato visual: os grandes comunicadores, como Steve Jobs, costumam


apresentar contato visual com a plateia. Eles raramente fazem alguma leitura de
slides ou de anotações. Jobs costumava dar uma olhada no slide e logo voltava
sua atenção novamente para a plateia.

Jobs era capaz de estabelecer um contato visual firme com seus espectadores
porque ensaiava suas apresentações. Assim, ele sabia exatamente o que havia em
cada slide e o que dizer no momento em que ele aparecia. Quanto mais ensaiava,
mais incorporava o conteúdo e, assim, mais fácil e firme ficava a sua conexão com os
ouvintes. Outro detalhe para manter o contato visual com a plateia é elaborar slides

70
TÓPICO 3 | REGRAS PARA A BOA COMUNICAÇÃO

visuais, utilizando-se de imagens e poucas palavras. Slides com imagens e poucas


palavras fazem o apresentador transmitir as informações oralmente para o público.

Postura aberta: evite estar de braços cruzados em uma apresentação, bem


como ficar atrás de um púlpito. Jobs, em suas demonstrações, se senta em paralelo
ao computador, e assim, nada bloqueia sua visão da plateia e vice-versa. Ele realiza
uma atividade no computador e volta-se para os ouvintes explicando o que acabara
de fazer, e assim, raramente quebra o contato visual por muito tempo.

Gestos com as mãos: enfatize uma palavra ou frase com algum gesto que
as complemente. Evite permanecer com os braços parados ao lado do corpo, pois,
desta forma, você parecerá rígido, formal e, até mesmo, um pouco esquisito.
Utilizar gestos com a mão enfatiza um pensamento, esclarecendo-o. Utilize gestos
com as mãos para enfatizar suas ideias, porém tenha cuidado para que os gestos
não pareçam robotizados. Seja espontâneo e autêntico, evitando copiar gestos de
outros comunicadores.

Expressão verbal: além da linguagem corporal, é necessário haver uma


boa expressão verbal. Slides incríveis podem significar pouco se você não possuir
uma grande expressão verbal. Uma expressão verbal ruim pode arruinar uma
história incrível.

Com a expressão verbal o apresentador pode criar suspense, entusiasmo


e emoção na plateia. Procure aplicar duas técnicas que Jobs utilizava para manter
seus ouvintes envolvidos:

a) Inflexão: mude sua inflexão aumentando e diminuindo o tom de voz quando


julgar necessário. Se todas as palavras forem expressas num mesmo tom, a
apresentação e demonstração de um produto irão se tornar monótonos.

b) Pausas: utilize pausas para que não pareça que você está tentando despejar o
conteúdo rapidamente na apresentação. Faça pausa para que a sua mensagem
seja absorvida pela plateia.

10) Deixe de lado o roteiro

Faça uma apresentação sem recorrer a um bloco de anotações. Ao invés


disso, utilize nos slides uma ideia-chave como incitador. Como já escrito diversas
vezes, evite textos longos. Tenha um único tema em cada slide.

11) Não se preocupe com as coisas pequenas

Independente do quanto você se preparar para a apresentação, algo pode


ocorrer de forma não desejada, diferente do que havia sido programado. Não se dei-
xe perturbar no palco, reconheça o problema e continue a apresentação. Nesses casos,
mantenha a calma e tente resolver o problema com tranquilidade. Não deixe que um
empecilho acabe com o seu entusiasmo, e aí sim, acabe com a sua apresentação.

FONTE: <http://www.administradores.com.br/artigos/cotidiano/como-steve-jobs-nos-ensina-a-
ser-um-bom-comunicador/92224/>. Acesso em: 29 nov. 2018.

71
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• A comunicação depende, primordialmente, do bom uso da língua portuguesa.

• O novo acordo ortográfico foi assinado em 2009, mas entrou em vigor em


2016. As principais mudanças foram relacionadas especialmente ao número
de letras, à acentuação e à hifenização das palavras.

• A concordância nominal ocorre quando há concordância no aspecto “número”


(plural ou singular) e “gênero” (masculino e feminino) entre o substantivo e o
adjetivo que dá características a ele.

• A concordância verbal ocorre quando o verbo concorda com seu sujeito em


pessoa e número.

• A regência nominal indica a relação que um nome (termo regente) estabelece


com o seu complemento (termo regido) através do uso de uma preposição.

• A regência verbal indica a relação que um verbo (termo regente) estabelece com
o seu complemento (termo regido) através do uso ou não de uma preposição.
Na regência verbal os termos regidos são o objeto direto (sem preposição) e o
objeto indireto (preposicionado).

• O corpo comunica muito mais do que as palavras.

• Há profissionais especializados em observar nossos movimentos que, na


maioria das vezes, são inconscientes.

• Há dicas interessantes para vencer o medo de falar em público.

• As técnicas de relaxamento antes da fala são tão importantes quanto a própria


fala.

• Manter a postura na hora de falar em público faz toda a diferença.

72
AUTOATIVIDADE

1 De acordo com o que estudamos acerca da língua portuguesa:

a) ( ) O último acordo ortográfico da Língua Portuguesa do Brasil foi assi-


nado em 2008.
b) ( ) O último acordo ortográfico da Língua Portuguesa do Brasil foi assi-
nado em 2009.
c) ( ) O último acordo ortográfico da Língua Portuguesa do Brasil foi assi-
nado em 2010.
d) ( ) O último acordo ortográfico da Língua Portuguesa do Brasil foi assi-
nado em 2011.

2 Referente ao código ortográfico da língua portuguesa:

a) ( ) As principais mudanças estão no número de letras do alfabeto, na


acentuação e na hifenização.
b) ( ) As principais mudanças estão no número de letras e na separação das
sílabas.
c) ( ) A principal mudança está na tonicidade das sílabas.
d) ( ) As principais mudanças estão na esfera da formação das palavras por
hibridismo.

3 Assinale a alternativa que apresenta erro de concordância verbal.

a) ( ) A Esquadrilha da Fumaça fez um belo show.


b) ( ) O rebanho saiu pela manhã.
c) ( ) A multidão gritava por socorro.
d) ( ) Mãe e filho compraram ingressos para o parque.

4 Assinale a alternativa na qual o verbo assistir signifique ver.

a) ( ) As crianças assistiam ao filme.


b) ( ) O mecânico assistiu o motorista na rodovia.
c) ( ) A enfermeira assistiu o paciente.
d) ( ) Minha esposa foi assistida pelo médico.

5 Quanto ao medo de falar em público, é correto o que se afirma em:

a) ( ) Não é possível curar o medo de falar em público.


b) ( ) O medo se intensifica quando estamos focados nele.
c) ( ) Os sintomas físicos e psicológicos aparecem com a mesma intensidade.
d) ( ) O relaxamento deve ser feito depois da fala, apenas.

73
74
UNIDADE 2

PRODUZIR E INTERPRETAR TEXTOS:


CONSIDERAÇÕES

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você estará apto a:

• refletir sobre a importância da leitura na formação profissional;

• compreender a relação entre o autor, o leitor e o texto;

• reconhecer a coesão como fator que contribui para a manutenção da coe-


rência;

• analisar os benefícios de uma boa oratória e aprender a utilizá-la.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade de ensino está dividida em três tópicos. No decorrer da uni-
dade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 - DECODIFICANDO E INTERPRETANDO TEXTOS

TÓPICO 2 - A PRODUÇÃO DE TEXTOS POR ESCRITO

TÓPICO 3 - A PRODUÇÃO DE TEXTOS ORAIS

75
76
UNIDADE 2
TÓPICO 1

DECODIFICANDO E INTERPRETANDO TEXTOS

1 INTRODUÇÃO
A leitura, a interpretação e, consequentemente, o entendimento de textos é
uma atividade primordial no contexto do mundo atual. Ela faz com que os hábitos,
pensamentos, conhecimentos e a dimensão lógica e racional se desenvolva.

Podemos dizer que o ato da leitura tende a desenvolver de maneira rápida


e eficaz o espírito crítico, pois a sua prática modela, inclusive, a personalidade do
indivíduo.

Isto significa dizer que a leitura tem a função imediata de ser mediadora
do mundo, pois se lê “[...] para entender o mundo, para viver melhor” (LAJOLO,
1982, p. 7).

Ao ler, acadêmico, desencadeamos mecanismos de organização mental


e de estrutura inerentes ao texto, o que nos faz compreender e interpretar de
maneira correta. Mas, cuidado! A atividade de leitura não necessita restringir-se
somente ao nível formal de apreensão do texto, ela deve ser entendida como uma
atividade reflexiva, de experiência de vida que desenvolve uma racionalidade e
uma concepção de mundo.

O indivíduo, ao ler o texto, constrói o significado. É como se ambos, texto


e leitor, entrassem num diálogo em que o objetivo final é a comunicação e esta, só
se faz, só acontece, pela interação.

Assim, nesta unidade, teremos a oportunidade de efetuar uma reflexão


acerca do processo de leitura e de seus elementos. E nada de franzir a testa! Pois, é
muito importante que se tenha gosto pela leitura e que a compreenda como uma
aliada num processo ativo de aprendizagem e desenvolvimento cognitivo.

Continue conosco! Não perca o foco!

2 A PRÁTICA DE LEITURA
Compreendemos, acadêmico, que o diálogo estabelecido entre o leitor e o
texto, como estávamos discutindo anteriormente, enfatiza a linguagem em dois
princípios: o interdiscurso e a alteridade.

77
UNIDADE 2 | PRODUZIR E INTERPRETAR TEXTOS: CONSIDERAÇÕES

O princípio do interdiscurso se constitui pelo diálogo entre os diferentes


discursos e o princípio da alteridade se estabelece pela interação entre o eu e o
outro (BAKHTIN, 1981).

O movimento do interdiscurso e da alteridade acontece pela interação no


processo comunicativo que se dá pela ação recíproca entre os interlocutores, que
se constitui no leitor e no texto. O leitor é um participante ativo na prática da
leitura, ou seja, um ser eficaz que constrói o seu próprio conhecimento pela sua
experiência cognitiva, cultural e linguística.

O texto, por sua vez, segundo Bakhtin (1997, p. 333), “[...] não é um
objeto, sendo, por essa razão, impossível eliminar ou neutralizar nele a segunda
consciência, a consciência de quem toma conhecimento dele”.

O leitor pode confirmar ou pode rejeitar as hipóteses e assimilar


uma informação, adequando-a àquela que ele já possui internalizada. Nessa
perspectiva, quanto maior a experiência cultural do indivíduo leitor, maior será
a sua eficácia na prática de leitura, que, por sua vez, trará novas informações
culturais, cognitivas e até linguísticas.

Essa ideia da construção dos sentidos está diretamente relacionada às


atividades de leitura e às práticas sociais que os indivíduos têm acesso ao longo
de sua vivência.

As atividades que envolvem leitura podem ser compreendidas como ações


que concebem o assunto, que é objeto da interlocução e orientam a interação.

Assim, acadêmico, a prática da leitura e todos os elementos que a compõe


representam um fenômeno social, ou seja, um trabalho realizado por meio da
leitura e da produção textual e, também, da interpretação que se faz disso tudo
que é muito mais que decodificação de signos linguísticos. A leitura engloba
um processo de construção de significado que atribui sentidos, constitui nossas
opiniões e verdades perante as coisas.

Assim, a leitura e sua prática adquirem um caráter sócio histórico do


diálogo, ou seja, a linguagem, materializada através da palavra, constitui-se na
representação social tendo sempre um sentido ideológico ou vivencial.

Portanto, o leitor constitui seu mundo e amplia seu horizonte de


compreensão e interpretação dos mais variados textos, por meio da interação que
faz com que leitores e autores se confrontem e se definam no contexto de discurso
individual.
 
Finalizamos dizendo, acadêmico, que o indivíduo que não tem a prática
da leitura internalizada como um exercício está fadado ao fracasso social, cultural,
78
TÓPICO 1 | DECODIFICANDO E INTERPRETANDO TEXTOS

intelectual, cognitivo e, também, político, pois, sem essa prática, teremos nossas
atitudes pautadas apenas no que lemos, assim como nossas ações que serão
submissas a uma elite dita dominante que está mais preparada para operar do
que aqueles que não conseguem ler e interpretar com excelência.

Vamos adiante! Vamos nos motivar, pois a leitura abre caminhos, de


repente, nunca por nós visitados.

2.1 A MOTIVAÇÃO PARA LER


A motivação para ler, acadêmico, é um elemento fundamental a ser
levado em conta. Quando nos conscientizamos de que precisamos compreender
algo, tanto a necessidade como a curiosidade nos instigam a abandonar a zona
de conforto, que engloba o que já sabemos, e nos desafia a buscar o novo, o
desconhecido.

Wigfield (1997) apresenta três grandes eixos acerca da motivação para a


leitura: a motivação intrínseca e extrínseca, as percepções de competência e de
eficácia e a motivação social.

Segundo Wigfield (1997), a motivação extrínseca e intrínseca permite


melhor compreensão das razões implícitas ao desenvolvimento de práticas de
leitura, podendo estar relacionadas com o prazer e interesse resultantes dessa
prática ou com o ganhar alguma gratificação.

As percepções de competência e de eficácia envolvem a avaliação feita


dos indivíduos em torno de sua capacidade de desenvolverem certas práticas de
leitura, podendo facilitar ou bloquear um maior envolvimento com o ato de ler.

No que se refere a motivação social, a interação do autor e do leitor


torna-se o centro da prática da leitura, pois ela é uma atividade social que pode
desenvolver ideias e compreensões diferenciadas.

Baker e Wigfield (1999) tratam da motivação para a leitura em uma


perspectiva de envolvimento e motivação para o sucesso. O termo envolvimento,
do inglês engagement, é muito utilizado quando se trata de motivação para a leitura,
tido como algo desejável e positivo. Os autores ainda apresentam outro elemento
como essencial: o leitor envolvido, engaged reader, que se associa ao indivíduo
que está motivado para ler por inúmeros motivos, buscando desenvolver novos
conhecimentos com o objetivo de uma participação ativa na sociedade como bom
leitor e entendedor de diversos assuntos.

Dessa maneira, “a motivação para a leitura é uma condição indispensável


para que exista envolvimento na leitura” (MATA, 2006, p. 99).

79
UNIDADE 2 | PRODUZIR E INTERPRETAR TEXTOS: CONSIDERAÇÕES

Compreender a motivação para a leitura e seus processos motivacionais


nos faz considerar que é um procedimento complexo, que implica na relação de
fatores cognitivos, motivacionais e sociais que influenciarão, de maneira positiva
ou negativa, o envolvimento por parte dos leitores.

Motive-se! Certamente você tem um bom motivo para estar aqui


realizando esta leitura!

2.2 OS TIPOS DE LEITORES


Podemos dizer que o ato de ler não se configura mais com o intuito de
tentar descobrir o conteúdo de um texto nu e cru, ou seja, a informação não se apre-
senta mais no texto de maneira transparente.

Compreendia-se que o leitor desempenhava um papel secundário, apenas


decodificava letras, vocábulos e sentenças para chegar à informação que o texto lhe
oferecia.

Santaella (2004, p. 16) aponta três tipos de leitores: “o contemplativo ou me-


ditativo, o leitor movente ou fragmentário e, por fim, o leitor imersivo ou virtual”.

O primeiro leitor, denominado contemplativo ou meditativo, não necessita


da ajuda do outro. A leitura acontece de maneira isolada e, geralmente, silenciosa,
pois depende do leitor e da postura dele na continuação ou não de sua leitura.

Ao apresentar esse tipo de leitor, Santaella (2004) traz em discussão a leitura


que nasce da relação pessoal entre o leitor e o texto num espaço particular. Acredi-
ta-se que, durante o ato do ler, a concentração é intensa para essa prática.

Manguel (1996, p. 49), postula que “[...] ler, então, não é um processo auto-
mático de capturar um texto como um papel fotossensível captura a luz, mas um
processo de reconstrução desconcertante, labiríntico, comum e, contudo, pessoal”.

Dessa maneira, um leitor contemplativo realiza a leitura utilizando uma


dinâmica que o possibilita conduzir a captura do conteúdo acrescentando sua in-
ferência, examinando, inclusive, textos afins. Enfim, o leitor contempla e medita à
sua maneira.

O leitor fragmentário ou movente é o capaz de conceber várias maneiras de


ler. Ele passou a existir com o surgimento do jornal impresso, com o advento tec-
nológico, com a instantaneidade da televisão, a evolução do cinema entre outros.
Surge um leitor que acumula características do contemplativo, mas, agora, moven-
te, ou seja, um leitor de formas, interações, movimentos, direções, cores, sincroni-
zando-se à rapidez insana da evolução do mundo (SANTAELLA, 2004).

80
TÓPICO 1 | DECODIFICANDO E INTERPRETANDO TEXTOS

Segundo Santaella (2004, p. 29):

É nesse ambiente que surge o nosso segundo tipo de leitor, aquele que
nasce com o advento do jornal e das multidões nos centros urbanos
habitados de signos. É o leitor que foi se ajustando a novos ritmos da
atenção, ritmos que passam com igual velocidade de um estado fixo
para um móvel. É o leitor treinado nas distrações fugazes e sensações
evanescentes cuja percepção se tornou uma atividade instável, de
intensidades desiguais.

Compreendemos, dessa maneira, que as habilidades desse leitor são


indiscutíveis, pois ele é capaz de conviver com a velocidade e com a intensidade
ou superficialidade que as informações têm nesse universo.

Já o leitor imersivo ou virtual surge do advento da tecnologia e da


multiplicidade dos ambientes virtuais de comunicação. Esse tipo de leitor nasce
habituado com a linguagem efêmera e provido de uma sensibilidade instantânea.
Ele se constitui da junção de características dos dois primeiros tipos de leitores
adicionando a virtualidade, a leitura não linear, o hipertexto entre outros.

Afinal, o que significa ler e ser um leitor em pleno século XXI? Podemos
dizer que ontem líamos apenas utilizando o papel; hoje, lemos no papel e no
digital. Será que a utilização da internet mudou ou mudará nossa relação com a
leitura? Vamos discutir um pouco sobre isso?

Acreditamos, acadêmico, que quem mais lê livros de maneira digital é


também quem mais lê livros de maneira impressa. Porém, não podemos esquecer
que, para muitos, a leitura digital restringir-se aos Tweets, e-mails, posts do Facebook,
e-books, revistas em apps e blogs em páginas da web. Diante disso, será que estamos
perante novas formas de leitura ou perante novos leitores?

Certamente estamos diante de novos leitores de livros em formato digital.


Utilizamos o termo novos pois muitos leitores que liam em papel passaram a
fazê-lo no digital, assim como outros tantos leitores que não liam ou não leriam
em papel passaram a utilizar a tecnologia para leitura. Falar de leitura neste
século é aceitar o ato de ler em formato digital e continuar, igualmente, a falar de
leitura em papel.

Segundo Cardoso (2013, p. 281):

Falar de leitura [...] pressupõe igualmente aceitar a possibilidade de


identificação de um novo tipo de leitor e de leituras, que moldarão
tanto as políticas públicas de apoio à leitura como a valorização social
e individual sobre o que pode ser considerado como leitura hoje.

Partindo dos escritos de Cardoso (2013), compreendemos que as inovações


advindas com a tecnologia modificam as relações entre a leitura, o leitor, o texto
e, também, entre a comunicação.

81
UNIDADE 2 | PRODUZIR E INTERPRETAR TEXTOS: CONSIDERAÇÕES

Há a necessidade de atualização, inclusive, acadêmico, das instituições


de ensino, que necessitam adequar suas metodologias de modo a suprir essa
necessidade de constituição de novas habilidades de leitura e escrita por meio
das mídias digitais.

De acordo com Koch (2010, p. 7):

[...] o texto é lugar de interação de sujeitos sociais, os quais,


dialogicamente, nesse se constituem e são constituídos; e que, por meio
de ações linguísticas e sócio cognitivas, constroem objetos-de-discurso
e propostas de sentido, ao operarem escolhas significativas entre as
múltiplas formas de organização textual e as diversas possibilidades
de seleção lexical que a língua lhes põe à disposição.

Dessa maneira, o texto vem adquirindo novas configurações que nos dão
possibilidade de perceber que o texto, hoje, é algo multimodal. Guimarães (1990)
define o texto multimodal como um processo de construção textual sucedido da
mobilização de diferentes modos de representação. Podemos compreender como
modos de representação elementos como imagem, entonação, efeitos visuais,
gestos, cores, músicas, recursos semióticos entre outros.

A respeito do texto, ainda é importante deixar claro que as reflexões sobre


a leitura no que se refere à importância na formação do sujeito, às possibilidades
de organização textual, à interação entre o autor e o leitor, desencadeiam leituras
e releituras, ampliando a visão de mundo daqueles que as realizam.

Acadêmico, agora que você já deve ter ideia de que tipo de leitor você é,
aproveite ainda mais as ferramentas para leitura que você dispõe.

3 NOÇÕES METODOLÓGICAS DE LEITURA E


INTERPRETAÇÃO
A leitura, segundo Orlandi (2000), é entendida como atribuição de sentidos,
pois as palavras ultrapassam seus limites de significação e invadem novos espaços
e possibilidades. O escritor escolhe as palavras para que produzam um efeito
para além da uma significação objetiva, procurando aproximá-las ao imaginário.
O autor dos textos explora as possibilidades linguísticas e as manipula no nível
semântico, ou seja, ao sentido ou significado fonético das palavras, sendo que são
as diferenças de pronúncia que acarretam alterações no sentido e sintático, isto é,
na construção das frases. E tudo isso necessita ser absorvido pelo leitor.

Quando o autor utiliza o sentido literal em seus escritos, está empregando


o sentido básico e usual da palavra ou da expressão. Isso pode ser compreendido
sem auxílio do contexto, ou seja, quando uma palavra se apresenta em sua
verdadeira definição, com valor denotativo. Na frase: “o homem estava morrendo
de fome”, o sentido literal se constitui quando dizemos que o homem estava
morrendo porque não se alimentava.
82
TÓPICO 1 | DECODIFICANDO E INTERPRETANDO TEXTOS

Temos também o sentido figurado que se refere à utilização das palavras


ou expressões em situações particulares de uso. Por vezes, a palavra pode ter um
valor conotativo e seu significado ser ampliado. Neste caso, o contexto em que é
empregada é de importância fundamental, pois sugere ideias que vão além de seu
sentido básico. Na frase: “o vento afagava as espigas”, a palavra afagava está em
sentido figurado, pois neste contexto significa que o vento passava muito devagar.

Como observamos, a compreensão das palavras é de extrema importância


para a apreensão das mensagens e informações dispostas nos textos. Elas são
articuladas de forma polissêmica, com muitos significados.

E
IMPORTANT

Partindo do pressuposto de que letrado é o indivíduo que realiza leitura e a


compreende, há diversas dicas para se alcançar uma leitura proficiente, livre de quaisquer
mal-entendidos de interpretação, veja:

• Interferências externas: A leitura deve acontecer em um ambiente livre de interferências


externas, adequado para a leitura, que oferece silêncio e conforto, influenciando de
maneira positiva. Ruídos e interferências reduzem a capacidade de concentração e,
consequentemente, de interpretação.
• Dicionário: O texto pode possuir muitos vocábulos desconhecidos pois o léxico
da língua portuguesa é grande. Desconhecer o significado de algumas palavras,
especialmente, as que aparecem por repetidas vezes, pode conduzir a perda do foco
da interpretação plena. O ideal é que, diante de um entrave linguístico, consulte-se um
dicionário. Na impossibilidade, anote a palavra para uma consulta posterior.
• Leitura no papel: A tecnologia nos oferece suportes que facilitam a leitura, ou
seja, os livros digitais são uma realidade. Contudo, sempre que possível leia livros
ou documentos físicos. O papel oferece a oportunidade de ser rabiscado, fazer
anotações, além de ser a melhor opção para quem tem dificuldades de interpretação
textual e concentração.
• Paráfrase: É a explicação livre e desenvolvida de um fragmento do texto. Ao ler um
parágrafo mais complexo, faça uma pausa para tentar explicá-lo com suas próprias
palavras. Essa técnica facilitará a compreensão e a assimilação.
• Leitura cuidadosa: Ler de maneira rápida dificilmente transformará informação em
conhecimento. O cérebro precisa de tempo para processar a leitura. Uma leitura feita
com calma e devagar faz com que se retome parágrafos para que uma releitura seja
realizada, o que auxilia o entendimento minucioso do texto.

FONTE: Adaptado de <https://portugues.uol.com.br/redacao/interpretacao-textos.html>.


Acesso em: 4 nov. 2018.

Ao contrariarmos a ideia de que a totalidade da informação está no texto,


surge a leitura interativa que pressupõe que o leitor é participante do processo
e que suas experiências de vida são tão importantes quanto aos dados do texto.
Neste processo de interação é priorizado o papel do leitor uma vez que ele constrói
o significado do texto, trazendo consigo certa quantidade de informações, ideias,
conhecimento de mundo e inferências.

83
UNIDADE 2 | PRODUZIR E INTERPRETAR TEXTOS: CONSIDERAÇÕES

Na concepção de Coracini (1985, p. 14), nessa leitura:

[...] vista como interação entre os componentes do ato da comunicação


escrita, o leitor, portador de esquemas (mentais) socialmente
adquiridos acionaria seus conhecimentos prévios e os confrontaria
com os dados do texto, ‘construindo’, assim, o sentido.

Neste contexto, a leitura implica em um processo cognitivo e social, cujo


fluxo de informação está no texto e no seu leitor. O leitor antevê as informações
do texto com base em seus conhecimentos prévios, muitas vezes, confirmando ou
não suas previsões. Assim, o significado não se encontra somente no texto e nem
na mente do leitor, mas é alcançado por meio da interação entre o leitor e o autor,
através do texto.

Assim, a leitura envolve descobertas e a constituição de possibilidades de


sentidos, ou seja, acontece uma relação do leitor com o texto, uma interpretação e,
por consequência, uma interação. Nessa interação é necessário deixar que o texto
sensibilize e fale. Há a existência do diálogo, ou seja, há uma conversa com o texto
a partir do que se imagina e dele (texto) extrairmos o significado.

Se levarmos em conta toda reflexão, o mundo não será mais imposto ao


leitor para que este se adapte, mas sim apresentado como um desafio pela ação
transformadora e humanizadora do sujeito que lê.

DICAS

Caro acadêmico!

Como complemento das informações e reflexões aqui apresentadas acerca do processo de


leitura, tomemos parte do texto O ato de ler, de autoria de Irismar Oliveira Santos-Théo, o
qual aborda a relação que se estabelece entre o autor e o leitor, bem como os tipos de leitura,
como possibilidade de melhor compreensão e aproveitamento do ato de ler. Bom proveito!

TIPOS DE LEITURA

Segundo Calvino (2000), a primeira leitura que se faz de qualquer texto é a sensorial, isto
é, o leitor, ao tomar em suas mãos uma publicação, trata-a como objeto em si, avaliando
seu aspecto físico e a sensação tátil que desperta. Essa atitude é um elemento importante
do nosso relacionamento com a realidade escrita. Observe o cuidado gráfico com que
são apresentadas as revistas nas bancas: cores, formas e embalagens procuram atrair o
interesse do comprador.

Com os livros acontece a mesma coisa: basta entrar numa livraria para perceber que
todos aqueles volumes expostos e dispostos constituem uma mensagem apelativa aos
nossos sentidos. Além disso, há quem sinta muito prazer em possuir livros, acariciando-
os e exibindo-os como objetos artísticos: são os bibliófilos. Como exemplo de bibliófilo,
podemos citar José Mindlin, um apaixonado pelo livro que, além de adquiri-los onde quer

84
TÓPICO 1 | DECODIFICANDO E INTERPRETANDO TEXTOS

que estejam, é um leitor que “ganha o dia” equilibrando desejo e mania; a mania saborosa
de manusear e ler os livros que tem, numa relação de “amor incurável”. Segundo Mindlin
(2002), o livro é “um mágico artefato [...] que nos abre portas, fantasias e mundos”. Isso
reforça uma das muitas conclusões sobre o ato de ler, a ideia de que o fascínio pela leitura
nos leva a entender que “a vida de toda pessoa é única, uniforme e compacta como um
cobertor enfeltrado”. (CALVINO, 2000, p. 111).

A leitura sensorial do texto escrito é uma primeira etapa do nosso processo de


descodificação. À leitura sensorial costuma-se seguir a chamada leitura emocional, a que
se usa a sensibilidade. É quando passamos conhecimento do texto propriamente dito,
percorrendo as páginas e travando contato com o conteúdo. Leitura, então, gera emoção.

A história pode ser emocionante ou tediosa, o artigo ou matéria pode fazer rir ou irritar,
os poemas podem ser fáceis ou difíceis de ler, agradáveis ou complicados e aborrecidos.
Normalmente, a leitura emocional conduz a apreciações do tipo “gostei”/“não gostei”, sem
maiores pretensões analíticas. É uma experiência descompromissada, da qual participa
nosso gosto e nossa formação.

A leitura emocional costuma ser criticada, sendo, muitas vezes, chamada de superficial.
Essa avaliação tem muito de racionalismo e nem sempre é verdadeira.

Quando optamos por ler um romance de ficção científica, por exemplo, por pura distração,
podemos entrar num universo cujas relações nos apresentam uma realidade diferente da
nossa, capaz de nos levar, sem grandes floreios intelectuais, a pensar sobre o nosso mundo.
O mesmo pode acontecer com revistas em quadrinhos e outros textos considerados
“menos nobres” e que, na verdade, sugerem e possibilitam profundas reflexões. Isso não
significa, no entanto, que não há publicações que investem na nossa vontade de descansar
a cabeça, oferecendo-nos um elenco de informações e ideias que reforçam os valores
sociais dominantes.

A leitura sensorial e a emocional fornecem subsídios importantes para a realização de um


terceiro tipo de leitura, a intelectual. Essa leitura não deve ser vista como uma forma de
abordar os textos, reduzindo-os a feixes de conceitos incapazes de despertar qualquer
prazer. Ela começa por um processo de análise que procura detectar a organização do texto,
percebendo como ele constitui uma unidade e como as partes a relacionam para formar
essa unidade. É essa análise que temos praticado em nosso livro: ela é muito importante
para facilitar sua compreensão dos mecanismos de funcionamento da língua escrita. E esse
trabalho pode despertar muito prazer intelectual.

A leitura intelectual não se limita a analisar os textos. Na realidade, o que se fundamenta


é a consciência permanente de que todo texto é um ato de comunicação, respondendo,
portanto, a um projeto de quem o produz. Em outras palavras, a leitura é intelectual
quando o leitor nunca perde de vista o fato de que aquilo que está lendo foi escrito por
alguém que tinha propósitos determinados ao fazê-lo. Procurar detectar esses propósitos,
juntamente com a informação transmitida e com a estrutura do texto, é fazer uma leitura
intelectual satisfatória. Essa proposta de leitura intelectual refere-se principalmente a textos
informativos, como os que encontramos em jornais, revistas, livros técnicos e didáticos. São
textos que requerem uma abordagem crítica permanente, pois apresentam sempre traços
que indicam as intenções de quem escreve e publica.

Também os textos publicitários devem ser incluídos nesse grupo, bem como aqueles
escritos para apresentação oral (rádio ou audiovisual, televisão). É importante ressaltar que
a leitura intelectual implica uma atitude crítica, voltada não só para a compreensão do
“conteúdo” do texto, mas principalmente ligada à investigação dos procedimentos de quem
o produziu.

FONTE: SANTOS-THÉO, I. O. Tipos de Leitura. Revista de Educação CEAP, Salvador ano 11,
n. 41, p. 59-66, jun. 2003.

85
UNIDADE 2 | PRODUZIR E INTERPRETAR TEXTOS: CONSIDERAÇÕES

3.1 É POSSÍVEL APRENDER A LER?


Entre as décadas de 60 e 70, o saber ler foi confundido com a possibilidade
de se atribuir um significado ao escrito, ou seja, a leitura e o entendimento foram
confundidos com a decodificação.

Com o passar do tempo, com a expansão da comunicação e da tecnologia,


o saber decifrar ou decodificar não foi mais o suficiente quando o assunto era
a leitura. Os indivíduos conscientizaram-se de que saber decifrar e decodificar
não podia ser confundido com saber ler, independentemente do modo de ensino
a que foram submetidos. Foi necessário compreender e remodelar o ensino e a
aprendizagem da leitura ou, ao menos, melhorá-lo. A expressão leitura crítica
passou a ser muito utilizada, pois envolve a capacidade de entendimento
das ideias contidas no texto e o leitor participa avaliando e questionando os
argumentos e as evidências.

Para efetuar a leitura crítica é necessário que sejam desenvolvidas


habilidades de interação proficientes no indivíduo com os mais variados tipos
de texto.

Para tanto, a realização de uma leitura dessas necessita ir além da exceder


a simples decodificação de sílabas ou palavras isoladamente, ela deve passar por
etapas que envolvem decodificação, compreensão, interpretação e retenção. Sim,
é possível aprender a ler! Vamos compreender melhor como isso acontece!

A primeira etapa, a decodificação, implica em uma leitura superficial,


sendo necessário efetuá-la várias vezes em um mesmo texto. O leitor deve anotar
as palavras desconhecidas para encontrar sinônimos, podendo prosseguir na
próxima etapa de leitura: a compreensão do que foi lido.

A compreensão está relacionada ao sentido do texto lido. Nesta etapa,


o leitor necessita saber do que trata o texto e qual a tipologia utilizada. Ele faz
considerações acerca das intenções do autor e tenta resumir em duas ou três
frases a essência do texto. Durante a compreensão, o leitor poderá encontrar as
respostas no próprio texto através das pistas contidas e das inferências que são
desencadeadas no ato da leitura (KLEIMAN, 2000).

Na terceira etapa de leitura, o sujeito interpreta uma série de ideias ou


fatos explícitos ou implícitos. Uma boa interpretação garante a atribuição de
sentidos, os quais dependem do leitor.

Na quarta e última etapa, o indivíduo detém as informações levantadas


nas fases anteriores. Com a retenção, o leitor é capaz de fazer analogias e
comparações, reconhecer o sentido de linguagens figuradas assim como as
entrelinhas. Ele reflete sobre a importância do que foi lido e estabelece conexão
com o cotidiano aprendendo a fazer análises críticas. A habilidade de retenção
do texto pressupõe o processo das etapas de leitura sem alterar a ordem, pois o

86
TÓPICO 1 | DECODIFICANDO E INTERPRETANDO TEXTOS

sujeito primeiramente decodifica, depois compreende, interpreta e, finalmente,


retém as informações.

3.2 VOCABULÁRIO TÉCNICO: COMO INTERPRETAR?


Vivemos em meio a um turbilhão de informações. Mas o que podemos
fazer quando lemos e ouvimos palavras que são desconhecidas e não conseguimos
entender seu significado?

Muitas vezes, esse tipo de vocabulário técnico e complexo acaba


dificultando nosso entendimento e nossa performance no trabalho. Certos
vocabulários técnicos ou termos específicos podem nos possibilitar a busca de
mais conhecimentos relacionados a determinado assunto.

É comum, quando não dominamos um assunto ou termo, ficarmos sem


compreender o que está sendo discutido. Os vocabulários técnicos advindos
de textos relacionados à área da saúde, direito, política, são leituras cheias de
palavras rebuscadas que estão longe de nosso cotidiano. 

A melhor maneira de compreender e apreender um vocabulário técnico, o


qual não conhecemos, é buscar o conhecimento. Recorrer aos dicionários, às fontes
de pesquisas ou até conversar com profissionais da área, pois saber o significado
dos termos técnicos melhorará o desempenho das tarefas além de economizar
tempo na execução delas.

Criar um glossário para consulta é um bom hábito para se familiarizar


com vocábulos novos. Você perceberá que logo não será mais necessário fazer a
consulta, pois já saberá o significado do termo.

É importante ter em mente, acadêmico, que os vocábulos técnicos existem


para facilitar a comunicação e não o contrário. Por exemplo, dizer que o paciente,
para evitar acidentes, necessita estar em decúbito frontal é muito mais específico
que dizer que o paciente necessita deitar de bruços.

E
IMPORTANT

Dependendo com quem a comunicação ou a interlocução está sendo feita,


o vocabulário técnico pode mais atravancar do que facilitar a comunicação. Para tanto,
existem dicas universais que podem ser eficazes na interpretação dos vocabulários técnicos.
Acompanhe:

• Atente para seu interlocutor: você precisa saber o nível de conhecimento das
pessoas sobre o assunto em questão para poder ajustar o vocabulário ao nível de
conhecimento que você está supondo.

87
UNIDADE 2 | PRODUZIR E INTERPRETAR TEXTOS: CONSIDERAÇÕES

• Para o grande público: procure ser claro, sem ser simplista, quando se comunica em
público.
• Utilização de termo técnico:  quando houver a necessidade da utilização de um
termo técnico não deixe de expor, posteriormente, o significado desse termo de uma
maneira mais simples.
• Pergunte o significado: questione seu significado de uma expressão que você nunca
ouviu. Além de fundamental para uma boa execução de seu trabalho, essa é a maneira
mais eficaz de aprender termos desconhecidos.
• Vocabulário específico: se você está ingressando em um novo campo de trabalho
saiba que há no mercado muitos dicionários especializados em termos técnicos que
o ajudarão em seu período de adaptação.

FONTE: Adaptado de <https://www.scrittaonline.com.br/habilidades/usando-o-vocabulario-


tecnico-na-medida-certa>. Acesso em: 04 nov. 2018.

Tenha sempre em mente, acadêmico, que o vocabulário técnico existe para


facilitar a comunicação e não para complicá-la.

3.3 A LEITURA DO PARÁGRAFO


Compreender o conceito de parágrafo é uma importante etapa quando
se trata de leitura e compreensão textual. Guimarães (1990, p. 53) postula que o
parágrafo no texto é um “esquema de raciocínio” desenvolvido por quem elabora
o texto.

Dessa maneira, o parágrafo visa alcançar um objetivo. Em cada parágrafo


de um texto são apresentadas as etapas do raciocínio que o autor quer expressar
para o leitor.

Os parágrafos têm uma sequência lógica e não podem ser dispostos de


qualquer maneira sob pena de tornar o texto incoerente. Cada parágrafo carrega
uma determinada ideia, logo, sua extensão e sua complexidade estão atreladas ao
pensamento que o autor desenvolve.

Em relação ao entendimento dos parágrafos, de maneira geral, é preciso


saber exatamente a finalidade de cada parte do texto, pois esse processo indica a
articulação e a importância das ideias. No mesmo parágrafo devem estar as ideias
afins, então, a abertura de um novo parágrafo indica o término de uma etapa e o
começo da outra.

Outra parte fundamental que compõe o parágrafo e necessária para o


bom entendimento do texto é a manutenção da coerência. Veremos a respeito,
detalhadamente, adiante.

Continue conosco!

88
TÓPICO 1 | DECODIFICANDO E INTERPRETANDO TEXTOS

4 ESTRATÉGIAS DE LEITURA
Torna-se essencial utilizar as estratégias de leitura a seu favor na
compreensão textual, as técnicas para realizar uma leitura competente dos mais
variados gêneros e tipos textuais, bem como dominar os termos técnicos que
envolvem a sua área de atuação.

Já discutimos que o ato de ler e compreender é complexo. A leitura envolve


elementos de decodificação, conhecimento prévio, vivências e, se adicionarmos a
utilização de estratégias, o entendimento tende a aumentar. Muitas delas fazem
com que o leitor possa avaliar e melhorar a sua própria leitura, tornando-a um
verdadeiro processo de construção de significado.

As estratégias de leitura servem, justamente, para desenvolver habilidades


de leitura. Ler é fundamental para adquirir conhecimento e informação,
enriquecendo o vocabulário e facilitando a interpretação independentemente de
sua área de atuação.

A leitura não se baseia apenas na decodificação símbolos e, por isso,


utilizar o dicionário a todo o momento quando não se sabe o significado de uma
palavra torna-se cansativo e improdutivo. Ler significa extrair conhecimento de
determinado texto. Para isso, quando se faz a leitura de um texto técnico não é
necessário saber o significado de todas as palavras, mas sim, compreender a ideia
que está sendo transmitida.

Partindo disso, vamos conhecer duas estratégias que, se utilizadas de


maneira eficaz, fazem toda a diferença na compreensão textual: o skimming e o
scanning.

4.1 SKIMMING E SCANNING


Iniciaremos com a estratégia de leitura skimming. Mas, afinal, o que é
skimming?

Skimming significa justamente fazer uma leitura rápida de um texto com


o objetivo de se ter uma ideia geral, identificando e extraindo dele os pontos
principais. Se pensar bem, você já deve ter utilizado deste método de leitura em
outras situações e talvez não tenha se dado conta disto. Por exemplo: quando
você abre o jornal e confere a manchete da notícia e “passa os olhos” pela matéria,
você está aplicando a estratégia de leitura skimming. Se o texto lhe interessar, você
fará uma leitura com mais atenção. Ao aplicar esta estratégia você percorre o
texto sem parar em nenhuma palavra que você não tenha entendido.

O uso eficiente da estratégia skimming permitirá você decidir se determinado


texto é ou não relevante para os seus objetivos de leitura, otimizando seu tempo
de estudo ou trabalho e direcionando de forma adequada as suas leituras.
89
UNIDADE 2 | PRODUZIR E INTERPRETAR TEXTOS: CONSIDERAÇÕES

Já o scanning é uma estratégia de leitura que lhe permitirá buscar e


identificar informações específicas contidas em um texto, tais como: datas, nomes,
números, sem que você necessite realizar a leitura linear.

Ao fazer o scanning, seus olhos o percorrerão seletivamente o conteúdo


em busca de informações não verbais, de modo a localizar os pontos que de
fato lhe interessam. É muito provável que você já tenha também feito leituras
empregando a estratégia scanning.

ATENCAO

Você lembra o que é linguagem verbal e não verbal? A linguagem verbal é


expressa por meio de palavra escrita ou falada, ou seja, a linguagem verbalizada. Já
a linguagem não verbal utiliza signos visuais, como por exemplo as imagens e as cores
nas placas de sinalização de trânsito. A linguagem pode ser, ainda, verbal e não verbal ao
mesmo tempo, utilizando palavras escritas e figuras.

Ao retomar a leitura em busca por informações a respeito de um texto que


leu, você estará aplicando a técnica de scanning.

Utilizamos essa técnica como um scanner, “varremos” o texto por inteiro.


Mas, como varrer um texto? Na varredura de um texto devemos nos ater às
palavras que são importantes para o sentido ou para a informação que queremos
buscar. Ao varrer o texto necessitamos antes analisar o que estamos procurando.
Todas as palavras, termos técnicos e frases importantes para a obtenção da
resposta deverão ser entendidas. Caso desconhecidas, o uso do dicionário se faz
obrigatório. Porém, lembre-se: não se deve traduzir todas as palavras de forma
desconectada a não ser que o termo apareça no texto inúmeras vezes e você não
conseguiu entendê-lo pela contextualização apresentada.

90
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• Ao ler desencadeamos mecanismos de organização mental e de estrutura


inerentes ao texto, o que nos faz compreender e interpretar de maneira correta.

• O movimento do interdiscurso e da alteridade acontece pela interação no


processo comunicativo que se dá pela ação recíproca entre os interlocutores,
que se constituem no leitor e no texto. O leitor é um participante ativo na prática
da leitura, ou seja, um ser eficaz que constrói o seu próprio conhecimento pela
sua experiência cognitiva, cultural e linguística.

• A motivação pela leitura extrínseca e intrínseca permite melhor compreensão


das razões implícitas ao desenvolvimento de práticas de leitura, podendo
estarem relacionadas com o prazer e interesse resultante dessa prática ou com
o ganhar alguma gratificação externa.

• Há três tipos de leitores: o contemplativo ou meditativo, o movente ou


fragmentário e, por fim, o leitor imersivo ou virtual.

• A leitura é entendida como atribuição de sentidos, pois as palavras ultrapassam


seus limites de significação e invadem novos espaços e possibilidades. O
escritor escolhe as palavras para que produzam um efeito para além da uma
significação objetiva, procurando aproximá-las ao imaginário. O autor dos
textos explora as possibilidades linguísticas e as manipula no nível semântico,
fonético e sintático.

• Para efetuar a leitura crítica, é necessário que sejam desenvolvidas habilidades


de interação proficientes no indivíduo, com os mais variados tipos de texto.

• O parágrafo no texto é um “esquema de raciocínio” desenvolvido por quem


elabora o texto.

• Skimming significa fazer uma leitura rápida de um texto com o objetivo de se


ter uma ideia geral, identificando e extraindo dele os pontos principais.

• Scanning é uma leitura que lhe permitirá buscar e identificar informações


específicas contidas em um texto, tais como: datas, nomes, números, sem que
você necessite valer-se da leitura linear.

91
AUTOATIVIDADE

1 Vamos interpretar a história em quadrinhos O vendedor:

FONTE: Disponível em: <http://www.educarx.com/2013/09/interpretacao-de-historia-em-


quadrinhos.html>. Acesso em: 21 jun. 2016.

1.1 Nos dois primeiros quadros da tirinha, podemos perceber que o menino:

a) ( ) Aceita logo a oferta do homem.


b) ( ) Discute o preço das balas com o homem.
c) ( ) Negocia o preço da sua mercadoria.
d) ( ) Oferece a sua mercadoria aos gritos.

1.2 A tirinha utiliza um recurso para apresentar a fala dos personagens. Este
recurso é:

a) ( ) O gesto.
b) ( ) A cor.
c) ( ) O tipo de letra.
d) ( ) O balão.

1.3 Ao analisarmos com mais atenção a fala do menino no último quadro da


tirinha, sugere:

a) ( ) Aborrecimento.
b) ( ) Bondade.
c) ( ) Preconceito.
d) ( ) Inveja.

1.4 No segundo quadro da tirinha, a fala do menino é marcada com um duplo


ponto de exclamação. Isso reforça:

a) ( ) A irritação com o trabalho.


b) ( ) O desinteresse pela venda.

92
c) ( ) O apelo para vender.
d) ( ) A pressa em vender.

1.5 Na fala em que o menino diz: “Não trabalho com pedestre”, o termo
destacado refere-se a pessoas que:

a) ( ) Andam de ônibus.
b) ( ) Caminham a pé.
c) ( ) Passeiam de bicicleta.
d) ( ) Viajam de carro.

2 Leia a tirinha da Mafalda, criação do cartunista argentino Quino, muito


conhecida por suas opiniões ácidas e críticas sobre os mais variados assuntos,
e assinale a alternativa que melhor expresse o efeito de humor:

FONTE: Disponível em: <http://exercicios.mundoeducacao.bol.uol.com.br/exercicios-


1) redacao/exercicios-sobre-interpretacao-charges-tirinhas.htm>.
Assinale a alternativa que melhor expresse o efeitoAcesso de humor
em: 19 contido
jun. 2016.na
tirinha:
a) O
a) ( discurso
) O discurso de Susanita
feminista de Susanitaé responsável pelopelo
é responsável efeito de humor,
efeito de humor, já que o
já que
o tema tema feminismo
é tratado de formaé tratado
irônica,dedenotando
maneira engraçada e, porque
certo machismo pornão dizer
parte do
de forma
autor da tirinha.
irônica, denotando certo machismo por parte do autor da
tirinha.
b) Mafalda opõe-se
b) ( ) A amiga ao discurso
Mafalda da amiga
em todos Susanita e,opõe-se
os quadrinhos através deao suas
discursofeições
da
em todosamiga os quadrinhos,
Susanita e,percebe-se
por meionitidamente seu descontentamento.
de suas feições, percebe-se que ela não
está nada contente.
c) A linguagem verbal não contribui para o melhor entendimento da tirinha, pois
c) ( ) A linguagem verbal não auxiliou muito para o entendimento da
todo efeito de humor está contido na linguagem não verbal através da
tirinha, pois todo efeito de humor está expresso na linguagem não
expressão exibida por Mafalda no último quadrinho.
verbal por meio da expressão exibida por Mafalda, especialmente, no
d) Susanita último quadrinho.
apresenta um discurso de acordo com as teorias feministas que
d) ( ) Susanita
pregam expressa
a libertação umpráticas
das discurso de acordo com as teorias
tradicionalmente feministas
atribuídas que
à mulher.
Contudo,preconizam pela libertação
no último quadrinho, das práticas
a personagem tradicionalmente
defende o uso de uma atribuídas
tecnologiaà
que apenas mulher. Contudo,
reforça no último
os padrões quadrinho, ela defende o uso de uma
tradicionais.
tecnologia que reforça os padrões tradicionais os quais vivemos.
Pela análise das alternativas, conclui-se que está correta apenas a:
A( ) B( ) C( ) D( )

2) Ainda em relação a atividade 5.


93 uma, empregada no primeiro quadrinho?
a) A que classe pertence a palavra
94
UNIDADE 2 TÓPICO 2

A PRODUÇÃO DE TEXTOS POR ESCRITO

1 INTRODUÇÃO
Olá, acadêmico! Iniciaremos, a partir de agora, um estudo especificamente
acerca de questões relacionadas à argumentação, ao raciocínio e sua aplicabilidade
na produção textual.

Porém, lembre-se: aqui você não encontrará respostas ou receitas de como


escrever bem e com certa qualidade, apenas aprenderá a refletir sobre perguntas,
buscando você mesmo a resolução para elas, pois a interpretação e a produção de
textos, neste caso, é individual.

Quando nos propomos a produzir um texto escrito, temos a consciência


de que ele será lido por alguém, em um determinado lugar e em determinado
momento. O texto, para que possa ser compreendido, necessita de coerência e
coesão, importantes temáticas que abordaremos neste tópico.

Mesmo que o autor do texto não saiba exatamente o que estas palavras
significam, intuitivamente ele as utiliza, aplicando-as ao escrever textos que serão
compreendidos ao serem lidos.

A pesquisa, acadêmico, é de fundamental importância para que você


possa aprofundar seus conhecimentos acerca dos temas aqui abordados.

Então, vá sempre além! Busque pesquisar em diversas fontes e seja


curioso!

2 LEITURA, ANÁLISE E PRODUÇÃO TEXTUAL: CONSIDERAÇÕES


Ao produzirmos um texto, devemos ter em mente um objetivo bem
determinado. De acordo com o que se pretende, o texto ganha sua forma,
enquadrando-se, assim, em um determinado gênero textual. Muitas são as
dúvidas que surgem quando nos referimos ao termo gênero textual, especialmente
quando se trata dos diferentes tipos de gênero.

95
UNIDADE 2 | PRODUZIR E INTERPRETAR TEXTOS: CONSIDERAÇÕES

ATENCAO

É necessário salientar que gênero textual é diferente de tipo textual. Os tipos


textuais são a narração, a descrição, a dissertação, a injunção e a exposição. E, dentro
os tipos textuais encaixam-se os gêneros textuais: como a receita, o bilhete, uma peça
processual, entre outros.

Você já se deu conta, acadêmico, que em todas as situações que utilizamos


a comunicação, encontraremos textos classificados dentro de um determinado
gênero textual?

Podemos citar muitos exemplos de gêneros, como já mencionamos


anteriormente: a piada, a carta, a receita, o manual de instruções, o artigo
científico, o bilhete, o poema, o anúncio publicitário, o ofício, a anedota, uma
peça processual, um relatório acerca de uma investigação, fábula e inúmeros
outros. Com o advento da tecnologia, muitos gêneros surgiram e, certamente,
ainda surgirão, como o e-mail, por exemplo.

DICAS

Cada gênero textual, acadêmico, apresenta em sua estrutura características dos


tipos textuais. Fique atento!

Marcuschi (2010) postula que o gênero textual compõe textos que são
empiricamente realizados para cumprir determinadas funções em situações
comunicativas específicas, ou seja, o número de gêneros é praticamente ilimitado,
organizados por sua função, estilo, composição e canal de comunicação que ele
é veiculado.

Como nos ensina Marcuschi (2010, p. 83), “os gêneros textuais funcionam
como paradigmas porque nos oferecem modelos de comunicação para que esta
seja eficaz, não só verbalmente como também através da produção escrita”. Já o
tipo textual possui características mais restritas.

Quando decidimos produzir um texto, necessitamos escolher de que


forma vamos transmitir a mensagem, por exemplo, se decidirmos comunicar
algo a alguém que mora em outro país, podemos enviar um e-mail ou uma carta.
Suponhamos que decidimos escrever uma carta. Para que seja classificada como

96
TÓPICO 2 | A PRODUÇÃO DE TEXTOS POR ESCRITO

uma carta, ela terá uma estrutura, que no caso é o tipo textual, que se apresentará
em forma de gênero, que no caso seria a carta em si.

Marcuschi (2010) nos diz que, mesmo que essa carta não fosse assinada
ou datada, ela não deixará de ser uma carta, pois cumpre sua função dentro da
comunicação, segue um padrão, um modelo com características bem definidas.

Com base no exposto, podemos afirmar que o gênero é a aplicação do tipo


textual, ou seja, o gênero textual pode ser desenvolvido de muitos modos dentro
dos objetivos que o autor pretende alcançar por meio da comunicação.

2.1 PARA ESCREVER É PRECISO ANTES APRENDER A LER


Uma das maneiras mais eficazes para se tornar um bom escritor é ser um
bom leitor, ou seja, um leitor assíduo.

Podemos dizer que em nosso país a leitura é uma prática apreciada por
poucos. De acordo com Alencastro (2012), pesquisas indicam que apenas 4,7
livros por ano são lidos pelos brasileiros, sendo que 3,4 desses são obrigatórios.
Assim, concluímos, em amplas linhas, que a leitura é tida por algumas pessoas
como algo secundário.

Embora não se saiba exatamente o motivo, inferimos que, atualmente,


com o advento da tecnologia, há maneiras e métodos muito mais rápidos de
adquirir informação do que pela leitura realizada em livros e em longos textos.
Assistir a um programa de televisão, por exemplo, parece muito mais atraente do
que ler algo em livros.

Não podemos deixar de mencionar que a leitura é um método eficiente


para adquirirmos um bom e diversificado vocabulário, pois estamos em contato
direto com a norma formal da língua e com um linguajar que nem sempre é
comum.

Ler textos nos auxilia muito na hora de escrever, contribuindo para que
nossa produção também seja coerente ao objetivo que ela se propõe. Logo, é
necessário que a leitura aconteça desde cedo para que a escrita ocorra de forma
natural, pois ela, a leitura, caracteriza-se por certa individualidade, já que o leitor
se envolve mais com alguns tipos específicos de texto.

Então, acadêmico, escrever bem não é tão fácil quanto parece. Seguir as
regras que dizem que devemos ser claros ou escrever frases coesas e coerentes
não nos levam a ser um bom escritor de fato.

Apropriar-se da escrita vai muito além do ato de escrever. Ela é uma


construção que envolve técnicas de leitura de livros, de textos diversificados e,
ainda, leituras realizadas por meio de instrumentos diferentes.

97
UNIDADE 2 | PRODUZIR E INTERPRETAR TEXTOS: CONSIDERAÇÕES

Podemos afirmar que só se aprende a escrever, escrevendo. Assim, se


estivermos cientes acerca da finalidade da nossa escrita e a quem o nosso texto se
destinará, ele, o texto, será estruturado de maneira muito mais coerente.

Partimos da ideia de que quando um texto é lido e interpretado com


plenitude, acontece o envolvimento de quem o lê e isso se dá a partir do
conhecimento linguístico que o leitor possui. O processo da comunicação e,
consequentemente, da leitura não é só constituído a partir do contato do leitor
com o texto, mas com a intenção, a linguagem e a natureza que o texto utiliza. De
tal modo, não é possível compreendermos um texto se não soubermos um pouco
acerca do que ele aborda.

Existem alguns fatores que interferem no entendimento da mensagem


que o texto quer transmitir, pois um texto que parece simples para determinados
leitores pode ser de extrema complexidade para outros. Tudo dependerá da época
na qual foi escrito, para qual público, com qual intenção, a partir de que cultura,
com que finalidade etc.

Podemos perceber e compreender, acadêmico, que há vários fatores que


formam um texto e que sua compreensão pode variar de leitor para leitor. Deve
o leitor, no ato da leitura, trazer à tona as informações que já tem sobre o assunto
e aplicá-las ao que está sendo lido. Então, diversificar as leituras é um caminho
para compreender e escrever melhor.

Salientamos, acadêmico, que muitas das ideias e opiniões que nos


constituem são frutos do conhecimento advindo da leitura de livros, revistas,
jornais, blogs e outros meios de comunicação. Quando lemos pouco a nossa
visão crítica fica restrita, tornando-se complicado organizar nosso pensamento e
transferi-lo com clareza para o papel.

Além de nos levar a um estágio prazeroso, a leitura nos faz assimilar


a grafia correta das palavras, conhecer termos específicos na área de nossa
atuação, compreender e, também, internalizar regras gramaticais para que nosso
discernimento se amplie, efetivando-se em uma boa escrita.

2.2 OS OBJETIVOS DA ESCRITA


Apropriar-se da linguagem escrita é um processo complexo, pois
compreendemos que somente o processo de alfabetização não é o suficiente para
formar leitores e escritores eficientes e críticos.

Devemos partir do fato de que a escrita se torna dependente da fala, ou


seja, a escrita passa a ser vista como uma transcrição da fala, e não um processo
separado dela.

98
TÓPICO 2 | A PRODUÇÃO DE TEXTOS POR ESCRITO

Assim, a escrita envolve muito mais do que codificar e combinar símbolos.


É necessário organizar os pensamentos e compreender o seu real objetivo.

Partindo disso, acadêmico, compreendemos que a linguagem escrita é um


processo que vai além do mecanismo de produzir palavras e frases. Para Vygotsky
(1988, p. 143), aprender a escrever começa “[...] muito antes da primeira vez que o
professor coloca um lápis na mão da criança e mostra como formar letras”.

Apropriar-se da escrita não significa apenas saber escrever, juntar


símbolos e formar sentenças. A apropriação da escrita, de maneira plena, envolve
treino, uso de estratégias ou métodos e uma exaustiva prática de leitura, pois só
aprendemos a escrever bem quando nos tornamos leitores assíduos.

Outro método que auxilia a boa produção de textos é a prática de reescrevê-


los, ou seja, o que é escrito precisa ser revisto e revisitado sempre. Mais uma vez
ressaltamos a importância da leitura. Se você pretende escrever um texto sobre
determinada matéria, leia, pesquise em diversas fontes, junte dados, organize
ideias para que o processo de escrita seja feito com propriedade.

DICAS

Acadêmico, assista ao material desenvolvido em formato de Prezi, intitulado: O


objetivo da escrita é comunicar e o objetivo da leitura é entender. Acesse o link: <https://
prezi.com/wyijl4n3oozf/o-objetivo-da-escrita-e-comunicar-e-o-objetivo-da-leitura-e/>.

FONTE: <https://prezi.com/wyijl4n3oozf/o-objetivo-da-escrita-e-.comunicar-e-o-
objetivo-da-leitura-e/>. Acesso em: 10 nov. 2018.

99
UNIDADE 2 | PRODUZIR E INTERPRETAR TEXTOS: CONSIDERAÇÕES

3 COESÃO E COERÊNCIA
Acadêmico, o assunto coesão e coerência não deve ser novidade para você.
Dessa maneira, vamos compreender ou, melhor, revisitar esses dois importantes
termos? Observe a figura que segue:

FIGURA 1 – COESÃO E COERÊNCIA

FONTE: Adaptado de <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAglQkAH/tecido-que-tecido>.


Acesso em: 08 nov. 2018.

O que vemos é a figura de um tecido. A partir dele podemos fazer uma


analogia com a estrutura de um texto, pois temos as linhas que descem e/ou sobem,
isto é, a coerência e as linhas que entrelaçam o tecido, que podem representar a
coesão.

Podemos compreender, com essa analogia, que a coerência traz a lógica


ao texto, ou seja, ela faz com que as ideias do texto se complementem umas às
outras, não  se contrariem ao mesmo tempo que formam um todo significativo
que, em outras palavras,  é  o texto. Ao focarmos na coesão, percebemos que a
figura nos transmite ideia de sequência, de conexão, ou seja, de ligação entre as
palavras e sentenças.

Mas, sem cara feia! Daqui em diante vamos estudar e detalhar cada uma
delas.

3.1 CONCEITO DE COESÃO


A coesão faz parte dos fatores de textualidade que fazem o texto ser um
texto, ou seja, um conjunto de palavras organizadas e com sentido.

100
TÓPICO 2 | A PRODUÇÃO DE TEXTOS POR ESCRITO

DICAS

São fatores de textualidade: coesão, coerência, intencionalidade, informatividade,


aceitabilidade, situacionalidade e intertextualidade. Leia o artigo: A textualidade e seus
fatores, acessando: <http://www.gelne.com.br/arquivos/anais/gelne-2014/anexos/778.pdf>.

Você se lembra da figura apresentada anteriormente (Figura 1), quando


antecipamos uma pequena conversa sobre a coesão e a coerência? Elas formam o
“texto”, que já o mencionamos muito nos tópicos anteriores. Ele, o texto, tem sua
origem do latim textum e que significa “tecido”, daí vem a inspiração da analogia
com a figura.

Observe a figura novamente e vamos relembrar a analogia que traçamos.


Conforme mencionamos, a junção de pequenos fios que, costurados até um
determinado limite de extensão, resultam em um tecido; já acerca de um texto,
temos informações que precisam, também, estar conectadas ou “costuradas” para
que construam um determinado sentido (KOCH, 2004).

Dessa maneira, podemos dizer que para um texto ser coeso é necessário


que suas ideias sejam integradas e conexas. Para que essa concatenação
aconteça ou para que essas ideias se interliguem, é fundamental utilizarmos
diversos mecanismos linguísticos em um texto como as conjunções, os sinônimos,
os pronomes, os numerais entre outros.

Observe a figura a seguir:

FIGURA 2 – COESÃO

FONTE: <https://pt-static.z-dn.net/files/de1/ea1e869f841211d128660857195f4793.jpg>. Acesso


em: 17 nov. 2018.

101
UNIDADE 2 | PRODUZIR E INTERPRETAR TEXTOS: CONSIDERAÇÕES

Você conseguiu compreender, acadêmico, que na sentença: “Senhor,


o índice de violência cresceu tanto, que já não há mais espaço no gráfico para
apontá-lo”, há dois mecanismos coesivos? O conectivo “que”, que estabelece
uma consequência entre as frases e a forma verbal do pronome oblíquo “apontá-
lo”, que substitui o “índice de violência”.

Mas, não se preocupe! Fazemos isso sem pensar tanto em verbetes


gramaticais. A leitura diversificada e diária, por exemplo, oferece-nos essas
noções caso não tenhamos domínio sobre esses termos.

E
IMPORTANT

Vamos analisar a oração que segue. Ela se utiliza de períodos compostos, que
além de qualificar o texto, deixam-no coeso.

A sociedade que aguarda uma atitude do governo brasileiro que nada faz para amenizar
o desemprego e a criminalidade no país.

Na oração temos algumas ideias subordinadas ou dependentes umas das outras.


Acompanhe:

1) A sociedade.
2) Que aguarda uma atitude do governo brasileiro.
3) Que nada faz.
4) Para amenizar o desemprego e a criminalidade no país.

Veja que a segunda frase está subordinada à primeira frase, que é a primeira oração e, que
ela está apresentada de maneira truncada. A terceira frase também segue essa relação de
dependência e, a quarta, tem o sentido de finalidade em relação à terceira frase.

A grande dificuldade de entendermos essa oração plenamente está na primeira parte,


apresentada de maneira  incompleta, ou seja, houve uma continuação de inserções e a
ideia inicial não foi desenvolvida.

Se reescrevêssemos a oração, poderíamos ter:

A sociedade aguarda uma atitude do governo brasileiro que nada faz para amenizar o
desemprego e a criminalidade no país.

Essa reconstrução ofereceu uma vinculação, um elo, uma conexão entre as orações, ou


seja, ela é uma sentença coesa agora. Acompanhe:

1) A sociedade aguarda uma atitude do governo brasileiro.


2) Que nada faz.
3) Para amenizar o desemprego e a criminalidade no país.

A segunda oração, que iniciou com o pronome relativo “que”, está subordinada à primeira parte,
que é a oração principal, adjetivando-a. Já a terceira parte acrescenta a finalidade à segunda
oração. A segunda e a terceira oração pressupõem a presença de uma oração principal.

102
TÓPICO 2 | A PRODUÇÃO DE TEXTOS POR ESCRITO

Assim, concluímos que, para um bom entendimento e progressão textual, é necessário


que as ideias estejam bem entrelaçadas e conectadas, ou seja, que a oração esteja coesa.

FONTE: <https://descomplica.com.br/blog/redacao/questoes-comentadas-coesao-
textual-2/>. Acesso em: 12 nov. 2018.

E agora, você consegue conceituar a coesão?

A coesão, segundo Koch (2004, p. 16), “[...] ocorre quando a interpretação


de algum elemento no discurso é dependente da de outro. Um pressupõe o outro,
no sentido de que não pode ser efetivamente decodificado a não ser por recurso
ao outro”.

De maneira bem simples podemos dizer que a coesão é a ligação entre


uma sentença e outra anterior, objetivando constituir textos. A coesão fornece
as pistas para guiar o leitor na constituição do sentido, ela explicita as relações
estabelecidas entre os elementos linguísticos que formam o texto.

Vamos conhecer mais exemplos!

3.2 A COESÃO NA PRÁTICA


Aqui, acadêmico, como o título sugere, vamos desenvolver e compreender
a coesão na prática, através de exemplos e pequenas situações.

Iniciamos com o emprego correto dos pronomes, uma temática importante


quando se lida com a coesão, pois eles evitam repetições, permitem a conexão de
ideias e podem substituir os termos a que remetem.

Os pronomes pertencem à coesão referencial que é constituída por meio


de expressões que retomam ou antecipam ideias referidas no texto, relacionada
com as normas de repetição e de progressão.

Observe o uso do pronome na figura seguinte:

FIGURA 3 – PRONOME

FONTE: VERÍSSIMO, L. F. As cobras em: se deus existe que eu seja atingido por um raio. Porto
Alegre: L&PM, 1997.
103
UNIDADE 2 | PRODUZIR E INTERPRETAR TEXTOS: CONSIDERAÇÕES

Você percebeu o humor acerca da reação de uma das cobras ao uso de


pronome pessoal reto ao invés do pronome oblíquo? De acordo com as regras da
Língua Portuguesa, o uso é inadequado, pois contraria a marcação das funções
sintáticas de sujeito e de objeto.

Parece difícil, acadêmico? Vamos em partes:

Na sentença “Vamos arrasar eles”, o pronome pessoal do caso reto


“eles”,  foi empregado como objeto direto da locução verbal:  vamos arrasar,
contrariando as regras da norma culta. Esse caso do pronome (eu, tu, ele/ela, nós,
vós, eles/elas) serve para marcar a função sintática de sujeito, ou seja, na norma
culta, a fala da cobra do segundo quadro deveria ser: Vamos arrasá-los.

Outro item que necessita de cuidado na aplicação textual são os


conectivos. A  coesão sequencial  tem relação com o desenvolvimento textual
através de manutenção e progressão temática. Na prática, a coesão sequencial é
aquela que se constitui por intermédio de conectivos e objetiva ligar as frases e
propor sentido entre elas.

FIGURA 4 – CONECTIVOS

FONTE: https://goo.gl/M64Yxb>. Acesso em: 12 nov. 2018.

104
TÓPICO 2 | A PRODUÇÃO DE TEXTOS POR ESCRITO

Acadêmico, perceba que a tirinha da figura anterior é uma  sequência


textual, pois as frases apresentadas e transcritas são  formadas com o uso
de conectivos que constituem relações de sentido diferentes. Assim, nunca deixe
de levar o contexto em consideração.

Acompanhe:

• Vou ao mercado e já volto. (conectivo de adição).

• Não abra a porta para ninguém  mesmo que a pessoa insista. (conectivo de
concessão).

• E se for a felicidade? (conectivo de condição).

AUTOATIVIDADE

1 Como indagamos no início deste tópico, iríamos abordar a coesão na prática.


Que tal ler sentenças e reescrevê-las apontando o erro de coesão?

a) “Conheci Júlia, onde me amarrei.”

b) “Ela sempre foi boa, porém honesta.”

c) “Os estudantes não entenderam todos os conteúdos. Conteúdos estes que


foram aprofundados.”

d) “Todos querem trabalhar na Uniasselvi, mesmo sabendo que a Uniasselvi


faz testes rigorosos.”

105
UNIDADE 2 | PRODUZIR E INTERPRETAR TEXTOS: CONSIDERAÇÕES

3.3. CONCEITO DE COERÊNCIA


Observe a figura a seguir:

FIGURA 5 – MARIO

FONTE: <https://goo.gl/MLmRM1>. Acesso em: 08 nov. 2018.

Esse é o Mario, você se lembra dele, acadêmico? É um personagem fictício


de uma famosa franquia e série de jogos eletrônicos que, neste momento, necessita
escolher a roupa adequada para um determinado compromisso. Logo, ele deverá
ajustar seu traje à situação.

Mas, onde chegaremos com isso?

Bem, isso é o que acontece também com a língua, com os textos que
escrevemos. Eles devem adequar-se com a situação comunicativa, nós devemos
escolher o que utilizar. Lembrando que língua é um instrumento de comunicação
composto por regras gramaticais que possibilitam que determinado grupo de
falantes consiga produzir enunciados permitindo, assim, comunicar-se fazendo-
se compreender, sendo o texto a transcrição de tudo isso.

106
TÓPICO 2 | A PRODUÇÃO DE TEXTOS POR ESCRITO

Partindo disso, podemos nos remeter ao conceito de texto que envolve


alguns elementos, como: um sujeito autor, que elabora o texto conforme sua
intenção, ou seja, ele manifesta suas escolhas, adequadas a sua intenção e, um
sujeito leitor, a quem compete a tarefa de compreender o texto.

Para que um texto seja um texto e não uma porção de palavras soltas
e sem sentido, necessitamos de alguns fatores como a coesão, já estudada, e a
coerência, entre os outros de textualidade.

Dessa maneira, a coerência engloba a reunião de ideias e informações


compatíveis, isto é, lógica e sentido do texto. Segundo Koch (2006), a coerência
envolve tudo que influencia, auxilia, possibilita, bloqueia ou impede a
interpretação do texto.

Considerar um texto coerente, acadêmico, significa compreender, a par-


tir dos conhecimentos e das habilidades de interpretação, que possuímos, as
relações entre as ideias e considerá-las compatíveis com nossos conhecimentos
(KOCH, 2006).

Compreendemos, caro acadêmico, que a coerência, portanto, depende


expressivamente dos conhecimentos do leitor. Apesar de todo o cuidado que
o produtor do texto possa dedicar-lhe, o leitor pode não ter os conhecimentos
necessários para considerar o texto como coerente (KOCH, 2006).

Venha conosco praticar o uso da coerência!

3.4 A COERÊNCIA NA PRÁTICA


Partimos do pressuposto de que a coerência foi assimilada e constituire-
mos esta parte do Livro de Estudos analisando frases, ou melhor, as incoerências.

ATENCAO

Avalie a frase a seguir:

Foram observadas "primeiras propagações" do vírus na população de países situados fora


do continente americano, assinalou o diretor-geral adjunto da OMS, citando o Reino
Unido, o Japão e a Austrália, além do Chile, na América do Sul. 

107
UNIDADE 2 | PRODUZIR E INTERPRETAR TEXTOS: CONSIDERAÇÕES

Você consegue, acadêmico, nos dizer onde está a INCOERÊNCIA do texto apresentado
anteriormente? Parece difícil? Então, vamos visualizar o mapa a seguir e reler o texto e ler
o texto novamente:

FONTE: Disponível em: <https://goo.gl/q1koa1>. Acesso em: 08 nov. 2018.

A incoerência, acadêmico, está na informação que diz que “A América do Sul está situada
fora do continente americano”, não é mesmo?

Assim, a coerência engloba a reunião de ideias e informações combinadas,


logo, coerência é lógica, traz sentido ao texto. Você pode estar pensando,
acadêmico, que a falta de coerência em um texto é facilmente detectada. Mas, não
é tão simples notá-la quando você é quem está escrevendo o texto.

Vamos adentrar um pouco mais no conceito da coerência e, também,


compreender a incoerência em algumas situações:

3.4.1 Coerência semântica


A coerência semântica faz referência à relação entre os significados dos
elementos das frases em sequência. Ela é estabelecida entre os significados dos
elementos do texto através de uma afinidade logicamente possível.
108
TÓPICO 2 | A PRODUÇÃO DE TEXTOS POR ESCRITO

Observe uma incoerência semântica, ou seja, uma incoerência de


significado, na frase: O carro que desejo comprar é bastante jovem.

Essa frase torna-se incoerente quando observamos o significado da


palavra jovem. Apesar do termo ter o sentido de algo novo, jovem deve ser
utilizado quando nos referimos a seres humanos e não seres inanimados, como
é o caso do carro.

Nesta frase, a palavra “novo”, teria uma aplicabilidade mais apropriada


e coerente.

3.4.2 Coerência sintática


A coerência sintática se refere aos meios sintáticos utilizados para
expressar a coerência semântica, ou seja, o uso dos conectivos, pronomes etc.
Ela versa acerca da adequação entre os elementos que compõem a sentença, o
que inclui a atenção às regras de concordância e de regência. O exemplo que
segue apresentará uma incoerência sintática. Acompanhe: Os pais que têm
condições procuram o ensino privado, onde há métodos, equipamentos e até
professores melhores.

A coerência poderia ser retornada se fosse feita uma mudança na troca


do pronome relativo “onde”, específico de lugar, para “no qual” ou “em que”.
Apesar de compreendermos a mensagem, a frase está estruturada de maneira
incoerente.

3.4.3 Coerência estilística


A coerência estilística refere-se à utilização de linguagem apropriada às
possíveis variações que o contexto pode apresentar, ou seja, é aconselhável que
quem escreve ou lê, mantenha um estilo relativamente uniforme, seja ele formal
ou informal, por exemplo. O exemplo que segue apresentará uma incoerência
estilística. Observe: O brioso advogado notou que sua petição não progrediria,
haja vista seu cliente ter enfiado o pé na jaca.

O contexto formal utilizado no início da sentença misturado com uma


linguagem popular, demostra uma incoerência estilística que, além de parecer
uma brincadeira, modifica todo o sentido que o autor desejava transmitir.

3.4.4 Coerência pragmática


A coerência pragmática tem relação com o conhecimento que temos da
realidade sociocultural, isto é, ela prega por um comportamento adequado às
conversas.
109
UNIDADE 2 | PRODUZIR E INTERPRETAR TEXTOS: CONSIDERAÇÕES

Observe um exemplo de incoerência pragmática:

Conversa entre amigos:


― Mariana, sabes me dizer se há algum taxi por aqui?
― Eu entendo, Pedro. Mas, hoje faz um mês que minha cachorra morreu.

A incoerência está na parte em que Mariana não responde à pergunta feita


por Pedro, pois uma sequência na conversa não aconteceu.

Finalizamos este tópico com o poema de Luzia Fialho, Leandro Rangel e


Paola Teodoro, intitulado: Trânsito. Observe a escrita e a combinação das palavras.

Trânsito

Porta, banco, cinto


chave, afogador.
Ufa!

Acelera, engata, foi!


2ª, 3º, 4ª,
sinaleira,
freio.

Laranja,
jornal,
esmola,
acelera, engata, foi!

Salvador França,
Ipiranga.

Acelera, engata, foi!


Ôpa! ficou
Congestionamento

Liga rádio -
Voz do Brasil...
Desliga.

Calor,
cigarro,
estacionamento lotado!

Fila
Espera.
Vaga.
8 horas...
Atrasado.

FONTE: <https://goo.gl/d1G3Rs>. Acesso em: 4 nov. 2018.

110
TÓPICO 2 | A PRODUÇÃO DE TEXTOS POR ESCRITO

O poema, acadêmico, mesmo sem os elementos de coesão que fazem


as ligações entre as frases, é um texto coerente. Mas, isso acontece somente em
alguns tipos de texto.

ATENCAO

A Coerência engloba a reunião de ideias compatíveis, ou seja, apresenta lógica


e sentido ao texto. A Coesão faz referência e relação no interior do texto, onde os elementos
linguísticos a constroem.

111
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• O gênero textual é diferente de tipo textual.

• Os tipos textuais são a narração, a descrição, a dissertação, a injunção e a


exposição.

• O gênero textual compõe textos que são empiricamente realizados para


cumprir determinadas funções em situações comunicativas específicas, como:
carta, receita, bilhete, entre outros.

• A leitura é um método eficiente para adquirirmos um bom e diversificado


vocabulário, pelo contato direto com a norma formal da língua e com um
linguajar que nem sempre é comum.

• Apropriar-se da escrita não significa apenas saber escrever, mas também


juntar símbolos e formar sentenças.

• A apropriação da escrita de maneira plena envolve treino, uso de estratégias


ou métodos e uma exaustiva prática leitora, pois só aprendemos a escrever
bem quando nos tornamos leitores assíduos.

• A coesão é a ligação entre uma sentença e outra anterior, objetivando constituir


textos.

• A coesão fornece as pistas para guiar o leitor na constituição do sentido, ela


explicita as relações estabelecidas entre os elementos linguísticos que formam
o texto.

• A coerência engloba a reunião de ideias e informações compatíveis. Lógica e


sentido do texto.

• A coerência envolve tudo que influencia, auxilia, possibilita, dificulta ou


impede a interpretação do texto.

112
AUTOATIVIDADE

Leia os fragmentos que seguem e identifique as INCOERÊNCIAS neles


existentes:
 
Encontrando um milhão de dólares na rua, eu procuraria o cara que perdeu e,
se ele fosse pobre, devolveria” (Yogi Berra).

“Cuidado! Tocar nesses fios provoca morte instantânea. Quem for flagrado
fazendo isso será processado” (Tabuleta numa estação ferroviária).

“Devo confessar que morria de inveja de minha coleguinha por causa daquela
boneca que o pai lhe trouxera da Suécia: ria, chorava, balbuciava palavras,
tomava mamadeira e fazia xixi. Ela me alucinava. Sonhei com ela noites
a fio. Queria dormir com ela uma noite que fosse. Um dia, minha vizinha
esqueceu-a em minha casa. Fui dormir e, no dia seguinte, quando acordei,
lá estava a boneca no mesmo lugar em que minha amiguinha havia deixado.
Imaginando que ela estivesse preocupada, telefonei-lhe e ela mais do que
depressa veio buscá-la.”

d) “Conheci Sheng no primeiro colegial e aí começou um namoro apaixonado


que dura até hoje e talvez para sempre. Mas não gosto da sua família:
repressora, preconceituosa, preocupada em manter as milenares tradições
chinesas. O pior é que sou brasileira, detesto comida chinesa e não sei comer
com pauzinhos. Em casa, só falam chinês e de chinês eu só sei o nome do
Sheng. No dia do seu aniversário, já fazia dois anos de namoro, ele ganhou
coragem e me convidou para jantar em sua casa. Eu não podia recusar e fui.
Fiquei conhecendo os velhos, conversei com eles, ouvi muitas histórias da
família e da China, comi tantas coisas diferentes que nem sei. Depois fomos
ao cinema eu e o Sheng.”

e) Era meia-noite. Oswaldo preparou o despertador para acordar às seis da


manhã e encarar mais um dia de trabalho. Ouvindo o rádio, deu conta de que
fizera sozinho a quina na loteria. Fora de si, acordou toda a família e bebeu
durante a noite inteira. Às quinze para às seis, sem forças sequer para erguer-
se da cadeira, o filho mais velho teve de carregá-lo para a cama. Não tinha
mais força nem para erguer o braço. Quando o despertador tocou, Oswaldo,
esquecido da loteria, pôs-se imediatamente de pé e ia preparar-se para ir
trabalhar. Mas o filho, rindo, disse: “Pai, você não precisa trabalhar nunca
mais na vida.”

113
114
UNIDADE 2
TÓPICO 3

A PRODUÇÃO DE TEXTOS ORAIS

1 INTRODUÇÃO
Este tópico, acadêmico, abordará a produção de textos orais, ou seja, a
argumentação e a opinião. Estudaremos uma estrutura um tanto delicada a ser
construída, pois o convencimento e a fala espontânea devem persuadir o outro de
uma determinada ideia, influenciando-o.

Nesta perspectiva, transformar ou até modificar a ideia do outro é um


tanto complexo, já que o assunto sobre o qual se constrói o texto argumentativo
geralmente é controverso, pode gerar polêmica em determinados círculos sociais.

Os textos orais determinam uma seleção de argumentos convincentes,


elaborados a partir de dados consistentes que o orador domina e acredita.

Esta é uma temática importantíssima a ser desenvolvida visto que, em


diversas áreas de atuação profissional, saber expor pontos de vista com coerência,
torna-se imprescindível em tomadas de decisões, assim como para sermos
capazes, enquanto cidadãos, de exigir e lutar por nossos direitos.

Vamos começar!

2 A ARGUMENTAÇÃO COMO RECURSO PERSUASIVO


A argumentação, acadêmico, certamente é uma das habilidades mais
difíceis de se de se desenvolver ou aprimorar. Ela é um instrumento importante
para a aquisição e produção de conhecimento.

Segundo Costa (2008, p. 3), a argumentação é uma atividade “social,


intelectual, verbal e não verbal, utilizada para justificar ou refutar uma opinião;
engloba um conjunto específico de declarações dirigidas para obter a aprovação
de um ponto de vista particular por um ou mais interlocutores”.

Compreendemos que a pesquisa e produção científicas são processos de


construção que sugerem a constituição de teorias abertas à argumentação e, se
não forem coerentes, podem ser refutadas pelos pesquisadores.

115
UNIDADE 2 | PRODUZIR E INTERPRETAR TEXTOS: CONSIDERAÇÕES

Assim, a ciência não acontece pelo acúmulo de fatos e ideias fixas e


determinadas, mas sim, pela discussão, argumentação e pelo confronto de
hipóteses (COSTA, 2008).

Construímos o conhecimento lendo, inferindo, pesquisando e


argumentando, pois não aprendemos sozinhos. Sempre estamos em troca com
nossos pares, sejam eles professores, colegas, tutores, familiares ou mesmo o
autor da obra que estamos lendo.

A argumentação e as opiniões só se desenvolvem sendo praticadas. Dessa


maneira, não podemos apenas receber o conteúdo ou ler um texto e aceitá-los
sem questioná-los. Para termos argumentos e termos propriedade para refutar
tal conteúdo é necessário praticarmos a argumentação, analisarmos as vertentes
e inferirmos sobre o texto.

Sabemos que com o advento da tecnologia tornou-se difícil saber


diferenciar a informação válida da duvidosa, por isso há necessidade de debate
e investigação.

Argumentar cientificamente, conforme postula Costa (2008), envolve


indicar, criticar, avaliar, propor e sustentar ideias. A partir desse exercício seremos
capazes de justificar nossas ideias, argumentar o porquê de estarmos aceitando
ou refutando determinado fato mesmo diante de um confronto com pessoas que
tenham ideias antagônicas.

Porém, acadêmico, lembre-se de que o desenvolvimento da argumentação


não acontece isoladamente. Ele advém em consonância com o interesse e com o
contexto no qual cada um de nós está inserido. Aprender a argumentar é, de fato,
uma tarefa árdua, haja vista a importância de melhorar o nosso desempenho,
especialmente, quando se trata da argumentação oral (COSTA, 2008).

2.1 A PERSUASÃO E A ARTE DO CONVENCIMENTO


Persuadir, acadêmico, segundo Houaiss e Villar (2001), é o ato de
determinar a sua vontade sobre algo, induzir, aconselhar, ou ainda fazer levar
a crer. Para que consigamos desenvolver tal habilidade, necessitamos de alguns
elementos que complementem nossa forma de ver e sentir as informações que,
cotidianamente, circulam no nosso meio.

116
TÓPICO 3 | A PRODUÇÃO DE TEXTOS ORAIS

FIGURA 6 - PERSUASÃO

FONTE:<https://goo.gl/iFWEmV>. Acesso em: 5 fev. 2019.

Além de termos uma boa produção oral, necessitamos aperfeiçoar a


capacidade de argumentar e persuadir. A seguir, apresentaremos dicas para
desenvolver uma boa argumentação e persuasão. Este modelo serve para
compreendermos qual é a função da argumentação na construção do conhecimento
(TOULMIN, 2001, p. 64):

• O argumento só é coerente se a pessoa conhece sobre o que está


falando. Para que o entendimento de seu raciocínio esteja correto,
deve-se apresentar no início da fala, o assunto que será discutido.
• Fazer com que o ouvinte antecipe a conclusão, o facilita a concordar
com o que está sendo dito.
• Eliminar as ideias que não sejam reais.
• Ser persuasivo, induzir o ouvinte a aceitar a ideia, sem ser insistente.
• Tomar cuidado com o conceito de verdade. A verdade é diferente
da opinião, do ponto de vista ou experiências pessoais.
• Não insistir em convencer o ouvinte de que a opinião apresentada
está absolutamente correta.
• Usar a argumentação como um processo discursivo, ou seja, dispor
o assunto metodicamente, de forma que as ideias influenciem o
raciocínio de quem ouve.

DICAS

Assista ao vídeo A arte de influenciar pessoas, acessando o link: <https://www.


youtube.com/watch?v=1VXe3oQaAJk>. Acesso em: 15 nov. 2018.

117
UNIDADE 2 | PRODUZIR E INTERPRETAR TEXTOS: CONSIDERAÇÕES

2.2 OS TIPOS DE ARGUMENTOS


Partindo do princípio de que a fala é um dos contatos mais próximos do
ser humano em sociedade, há nela, assim como na comunicação, alguns elementos
específicos que não ocorrem na escrita. São esses elementos que nos auxiliam na
formulação de argumentos e no ato do convencimento. Vamos conhecê-los mais
de perto:

O primeiro elemento é o marcador conversacional, que trata dos


elementos que não fazem parte do conteúdo, mas que estão presentes na fala.
Como exemplos, temos:

• Bem, eu acho que...


• Entende?
• Pode ser que...

Outro elemento é o da marca de prosódia, que significa entonar mais uma


sílaba que se quer destacar dentro da palavra ou até mesmo uma palavra inteira.
Por exemplo:

• Eu não faLEI que seria inútil?


• BEM que eu DiSSE...

Temos também a repetição de itens, que, como o nome já diz, ocorre


quando o falante repete alguma informação, como em:

• Eu chamei a menina e a menina, ela não veio.

Além desses elementos que auxiliam o convencimento, podemos ainda


citar: os gestos corporais e as expressões faciais.

Dessa maneira, o evento de fala e de argumentação pode ocorrer sempre


em um tempo e em uma situação social, seja ela cara a cara, por telefone ou pelos
meios virtuais.

Embora ela aconteça em meios diferentes há uma interatividade entre todos


o que caracteriza esse evento como um acontecimento. E, desse acontecimento é
que ocorre a constituição de um avanço de produção oral organizada.

A produção de um texto oral exige esforços de ambos os participantes


da conversa para alinhar os objetivos. Portanto, a fala não é individual. A
organização dela, de certa forma, é imprevisível. Por este motivo podemos prever
sua estrutura, porém não exatamente como ela ocorrerá e que tipo de argumentos
serão apresentados.

Sobre a classificação dos tipos de argumentos, temos, segundo Chibeni


(20--, p. 1), “os que podem ser classificados em diferentes tipos, de acordo com a

118
TÓPICO 3 | A PRODUÇÃO DE TEXTOS ORAIS

natureza da regra que leva das premissas à conclusão. Os tipos fundamentais são:
argumentos dedutivos, indutivos e abdutivos.”

Chibeni (20--, p. 2), nos ensina que

Em um argumento dedutivo, a regra de inferência é de natureza


lógica: é impossível que a conclusão seja falsa quando se assume que
as premissas são verdadeiras. Em um argumento indutivo, a conclusão
representa uma extensão dos fatos enunciados nas premissas para um
novo caso, ou para todos os casos (generalização). Em um argumento
abdutivo, a conclusão é inferida por representar a melhor explicação
para os fatos enunciados nas premissas (CHIBENI, 20--, p. 2).

2.3 COMO SE DEVE FAZER UM DISCURSO


Por meio do discurso, a ação verbal, ou a fala, é dotada de intencionalidade
e tenta influir sobre o comportamento de outro ou, ainda, tenta fazer com que o
outro compartilhe de suas opiniões.

Para tanto, um discurso argumentativo objetiva intervir diretamente so-


bre as opiniões, atitudes ou comportamentos de um interlocutor tornando acei-
tável o que é expresso e aguardando o apoio, segundo modalidades diversas, de
um outro.

Para elaborarmos um bom discurso é necessário ter em mente e pôr em


prática algumas ações, como:

A escolha do assunto: um bom discurso tem como mote normalmente um


assunto. Caso tenha mais, um deles deverá ser o relevante. Ele é caracterizado com
os seus argumentos, mas, também, deve ser fundamentado com a apresentação
de argumentos advindos de outros autores ou pessoas renomeadas que também
pensam como você.

O encontro de um propósito:  tente refletir por que está fazendo um


discurso sobre esse assunto. Utilize essa razão no decorrer de sua fala. O propósito
necessita ser sua defesa. Tenha em mente que um discurso é feito sempre por
um  bom motivo, seja para inspirar, instruir, conseguir apoio, incentivar boas
ações entre outros.

Organização: um discurso não pode ser constituído com ideias misturadas.


Todos os discursos são compostos por introdução, corpo e conclusão.

119
UNIDADE 2 | PRODUZIR E INTERPRETAR TEXTOS: CONSIDERAÇÕES

ATENCAO

• Introdução: Informe o público sobre o tema. 


• Corpo: Discorra sobre o assunto. Crie pelo menos três argumentos que sustentem a
tese.
• Conclusão: Converse sobre o que foi dito.

Persuasão: os argumentos precisam convencer o ouvinte ou, pelo menos,


devem deixá-los interessados no que se tem a dizer.

Leve sempre em consideração seus estudos acerca da escrita e suas


funções, pois antes de realizar um discurso oral você precisará escrevê-lo com
cautela.

3 A EXPRESSÃO ORAL COMO MEIO DE COMUNICAÇÃO


EFICAZ
O ato da expressão oral executado com neutralidade, racionalidade e em
ambiente formal, tende a ser mais eficaz do que quando realizado em ambientes
em que há pessoas próximas, com laços afetivos, pois há uma tendência de
dispensar paciência, tolerância e cuidado com o que vai ser falado.

Em muitas situações comunicativas os deslizes, que suscitam problemas,


são involuntários e podem ocorrer. O falante comete erros sem perceber,
ocasionados por uma questão de hábitos adquiridos ou por referências culturais
e familiares.

Dessa maneira, é imprescindível pensar bem antes de falar, agir e ter sempre
em mente que, no discurso ou na fala, as opiniões e percepções serão sempre
suscetíveis a discussões e que confusões poderão acontecer, principalmente
quando se trabalha com grupos heterogêneos.

Vamos discutir um pouco mais sobre isso. Continue conosco!

3.1 OS RUÍDOS NA COMUNICAÇÃO ORAL


O ruído na comunicação oral é uma interferência que pode ocorrer em
qualquer uma das etapas da comunicação, ou seja, ele pode ocorrer tanto ao
se emitir quanto ao se receber a mensagem. Em outras palavras, o ruído ou a

120
TÓPICO 3 | A PRODUÇÃO DE TEXTOS ORAIS

interferência é tudo o que afeta a transmissão da mensagem. São fatores que surgem
ou que se colocam entre o emissor e o receptor no processo de comunicação.

FIGURA 7 – RUÍDOS

FONTE: Disponível em: <https://goo.gl/2yA24L>. Acesso em: 15 nov. 2018

Essa interferência pode ocorrer com o uso inadequado do linguajar do fa-


lante, em uma falha em uma ligação telefônica. O ouvinte pode não compreender
uma mensagem ou compreendê-la de forma errada, ocorrendo ambiguidade. En-
fim, inúmeros outros ruídos podem acontecer e prejudicar a compreensão plena.

Falar em voz muito baixa, estar nervoso ou com pouco ânimo, faltar com a
atenção, se faltar energia elétrica ou, até mesmo, se manchar o papel que contém
a informação que você está lendo, certamente ocorrerão ruídos na comunicação.

Sendo assim, o bom senso é uma palavra muito importante nas relações
comunicativas profissionais e cabe a cada um a avaliação de sua atuação
com relação ao comportamento e à postura diante do grupo e das situações
comunicativas que exerce.

Assim, quando você se comunicar, discursar ou falar formal ou


informalmente, tente tornar mínimas as barreiras para que uma comunicação
eficaz aconteça.

3.2 DICAS PARA UMA COMUNICAÇÃO ORAL EFICAZ


Partindo do fato de que a comunicação oral não é apenas a transmissão
de uma mensagem, mas sim a transmissão de uma mensagem com um fim de
suscitar, persuadir e entreter quem a ouve, torna-se necessário preparar-se para
explanar o que se quer com excelência. Para tanto, observe algumas dicas:

121
UNIDADE 2 | PRODUZIR E INTERPRETAR TEXTOS: CONSIDERAÇÕES

• utilize uma linguagem apropriada e direta, preste atenção em seu público,


procure saber quem são, de onde vem;
• forneça informações claras e completas, ou seja, pense antes de falar;
• use canais múltiplos para estimular os sentidos de quem está ouvindo: canais
tecnológicos, emocionais, entonação;
• comunique-se face a face, isto é, olhe para as pessoas;
• ouça ativamente e valorize a opinião do outro;
• tenha empatia.

Você pode estar pensando, acadêmico, que tudo isso é muito simples e que
a comunicação oral não necessita de tantos cuidados. Porém, tire suas próprias
conclusões analisando a figura que segue:

FIGURA 8 - COMUNICAÇÃO

FONTE: <https://goo.gl/5bjbXJ>. Acesso em: 15 nov. 2018.

3.3 PRATICANDO O IMPROVISO


Suponha que em seu ambiente de trabalho, independentemente de
sua atuação, alguém tem a ideia de convidá-lo a se pronunciar acerca de um
determinado assunto, de improviso.

Você, diante de uma circunstância tão adversa, necessita ter e estar em


condições de expor com destreza, organizar o pensamento, concatenar as ideias
com tranquilidade e competência para, finalmente, pronunciar-se.

Bem, mas você sabe o que é improvisar? Falar de improviso, acadêmico,


não significa falar sem conhecer e ter certo domínio sobre o assunto. Quem fala
sem conhecimento do tema põe em risco sua imagem. Assim, caso não tenha
nenhuma ciência acerca da matéria a ser explanada, recuse o convite. Pois, de

122
TÓPICO 3 | A PRODUÇÃO DE TEXTOS ORAIS

todos os recursos que podem auxiliá-lo no improviso, o preparo e o domínio do


que se irá falar são os mais importantes.

Para se falar bem de maneira improvisada, é importante:

Falar antes sobre um assunto de seu domínio, ou seja, ao ser convidado


a se pronunciar, primeiro fale sobre um assunto que você domina e depois
relacione ele ao tema que, talvez, você não conheça tanto, e que é o objetivo da
sua exposição.

Relacionar temas recentes do cotidiano. Além dos assuntos de seu


conhecimento, que você poderá utilizar como recurso para as falas de improviso,
é possível enfatizar fatos que você tenha observado momentos antes da sua
explanação e utilizá-los para que a argumentação aconteça com convicção. 

Caro acadêmico, saiba que quanto mais conhecimento você tiver a


respeito do assunto da sua apresentação mais você se sentirá seguro diante do
público o que tornará a sua comunicação oral mais eficiente. Por isso, mantenha-
se constantemente atualizado para que, mesmo em situações adversas e de
improviso, sinta-se seguro para avançar na comunicação.

123
UNIDADE 2 | PRODUZIR E INTERPRETAR TEXTOS: CONSIDERAÇÕES

LEITURA COMPLEMENTAR

Que leitores somos

A leitura do texto literário é, pois, um acontecimento que provoca reações,


estímulos, experiências múltiplas e variadas, dependendo da história de cada
indivíduo. Não só a leitura resulta em interações diferentes para cada um, como
cada um poderá interagir de modo diferente com a obra em outro momento de
leitura do mesmo texto. Isso fica muito evidente quando assistimos a um filme
ou a uma peça de teatro, por exemplo, pois assim que saímos da sala em geral
perguntamos ao acompanhante: “E aí, gostou?” É comum termos opiniões
de imediato diferentes, ou termos nos detido em aspectos às vezes ignorados
pelo outro. É da troca de impressões, de comentários partilhados, que vamos
descobrindo muito outros elementos da obra; às vezes, nesse diálogo mudamos
de opinião, descobrimos uma outra dimensão que não havia ficado visível num
primeiro momento. No cinema ou no teatro, esse dialogismo, essa polifonia que
captamos na obra, são mais observados pelos expectadores, pois esses gêneros
implicam uma recepção coletiva, há uma plateia que num mesmo momento
assiste a uma mesma obra.

Por outro lado, a arte verbal pede hoje um outro tipo de leitura, individual,
silenciosa (ela já foi coletiva em outros tempos e feita em voz alta), exigindo no mais
das vezes uma disponibilidade maior de tempo. Também não é comum estarmos,
dois ou três amigos ou conhecidos, lendo o mesmo livro no mesmo momento (a
não ser que se trate desses best sellers que provocam uma febre coletiva de leitura).
Entretanto, quando é possível compartilhar impressões sobre o texto lido (a
escola também poderia propiciar essas oportunidades), agimos do mesmo modo
como quando acabamos de assistir a um filme: evidenciamos a particularidade de
nossas leituras com apreciações individualizadas sobre personagens, narradores,
enredo, valores etc., emitimos o nosso ponto de vista, nossas impressões sobre
vários aspectos da leitura – todas elas legítimas, portanto.

É claro que podemos generalizar essas observações à recepção de qualquer outro


tipo de manifestação artística. Nossa fruição de uma obra de arte é sempre única
e não se repete. Seremos outros num outro momento, e com certeza nossa leitura
também será diferente: tudo flui. Fatores linguísticos, culturais, ideológicos, por
exemplo, contribuem para modular a relação do leitor com o texto, num arco
extenso que pode ir desde a rejeição ou incompreensão mais absoluta até a adesão
incondicional. Também conta a familiaridade que o leitor tem com o gênero
literário, que igualmente pode regular o grau de exigência e de ingenuidade, de
afastamento ou aproximação.

Umberto Eco identifica dois tipos básicos de leitores. “O primeiro é a vítima,


designada pelas próprias estratégias enunciativas, o segundo é o leitor crítico,
que ri do modo pelo qual foi levado a ser vítima designada”. (ECO, 1989, p. 101).
Quer dizer, leitor vítima em princípio seria aquele mais interessado em “o que”

124
TÓPICO 3 | A PRODUÇÃO DE TEXTOS ORAIS

o texto conta, uma vítima do enunciado, e o leitor crítico em “como” o texto


narra, também interessado no modo de enunciação. Entretanto, podemos ser
simultaneamente tanto um tipo quanto o outro, e ainda muitos outros dentro do
arco, dependendo das situações e das finalidades da leitura. Às vezes queremos
mesmo um tipo de obra que nos faça esquecer as mazelas do dia a dia, e para isso
recorremos a leituras mais leves, a um policial ou a um livro de suspense, gêneros
mais propensos a “capturar” o leitor, que os percorre avidamente até o final para
descobrir o culpado, sem se preocupar muito – ainda que as possa perceber –
com as inconsistências da narrativa e todos os seus problemas de construção.
Assim como, mesmo apreciando filmes de arte, pode-se ficar preso ao folhetim
televisivo ou perder o sono com os “enlatados” da madrugada. Ou seja, mesmo
sendo leitor crítico e conhecendo as artimanhas da arte de narrar, não quer dizer
que se desfrute apenas da “alta literatura” – em inúmeras situações cotidianas e
psíquicas recorremos a níveis diversos de fruição.

Não obstante a multiplicidade e os diferentes níveis de leitura, um leitor


crítico pode ser, pois, também um leitor vítima. Entretanto, pode um leitor
predominantemente vítima ser um leitor crítico? Sobretudo, poderá ele ser um
leitor de obras mais complexas e mais elaboradas esteticamente? Como leitores
críticos, adquirimos a enorme liberdade de percorrer um arco maior de leituras,
o que faz toda a diferença. Qual o perigo de sermos apenas leitores vítimas?
O perigo é consumirmos obras que busquem agradar a um maior número de
leitores, oferecer ao leitor uma gama já consumida de elementos, aquela literatura
voltada para o consumo de que falamos, desprovida de potencial de reflexão,
que apenas confirma o que já sabemos, e que por isso nos entretém, sacia nossa
necessidade mais imediata de fantasia.

FONTE: BRASIL. Ministério da Educação. Orientações curriculares para o ensino médio: linguagens,
códigos e suas tecnologias. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2006,
p. 67-69.

125
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• A argumentação é um instrumento importante para a aquisição e produção


de conhecimento.

• A persuasão é o ato de determinar a sua vontade sobre algo, induzir,


aconselhar ou ainda fazer levar a crer.

• Um discurso argumentativo objetiva intervir diretamente sobre as opiniões,


atitudes ou comportamentos de um interlocutor tornando aceitável o que é
expresso e aguardando o apoio, segundo modalidades diversas, de um outro.

• Ruído ou interferência é tudo o que afeta a transmissão da mensagem. São


fatores que surgem ou que se colocam entre o emissor e o receptor no processo
de comunicação.

• A comunicação oral não é apenas a transmissão de uma mensagem, mas sim


a transmissão de uma mensagem com um fim de suscitar, persuadir e entreter
a quem ouve, tornando-se necessário preparar-se para explanar o que se quer
com excelência.

126
AUTOATIVIDADE

1 Observe a imagem e escreva um pequeno texto acerca de seu entendimento


dos elementos que compõe a teoria da comunicação:

FONTE: Disponível em: <https://goo.gl/TA2k2w>. Acesso em 15 nov. 2018.

127
128
UNIDADE 3

A COMUNICAÇÃO
JURÍDICA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você será capaz de:

• refletir acerca da linguagem e do vocabulário jurídico;

• conhecer e aplicar técnicas de redação e de discurso jurídico;

• analisar aspectos linguísticos acerca da oratória forense;

• compreender os principais usos da linguagem jurídica no cotidiano.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você en-
contrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO À COMUNICAÇÃO JURÍDICA

TÓPICO 2 – O DISCURSO JURÍDICO

TÓPICO 3 – ORATÓRIA FORENSE

129
130
UNIDADE 3
TÓPICO 1

INTRODUÇÃO À
COMUNICAÇÃO JURÍDICA

1 INTRODUÇÃO
O ser humano, acadêmico, desde o início de sua história sempre quis se
comunicar, para tanto, criou e desenvolveu diversos meios para partilhar suas
ideias, pensamentos, conhecimentos e experiências de mundo.

Podemos dizer que a comunicação envolve três elementos básicos:


emissor, mensagem e receptor, independentemente da área profissional em que
estamos atuando, é a partir deles que a comunicação se efetiva.

Segundo Oliveira (2009), a troca de informações entre duas ou mais


pessoas chama-se comunicação interpessoal, e esta troca objetiva motivar ou
influenciar um determinado comportamento.

Para que a comunicação seja bem-sucedida é necessário que, além de


uma boa transmissão, também haja uma boa aceitação da mensagem. A grande
diversidade cultural na qual vivemos, muitas vezes, nos deixa tão alienados, que
o que parece estar óbvio para nós pode não ser tão claro assim para o interlocutor
que recebe a mensagem.

Partindo do exposto, compreendemos que há muitos meios para a


veiculação de uma mensagem, no entanto, sem dúvida alguma, a linguagem
humana se sobrepõe a qualquer outro meio de comunicação.

Assim, acadêmico, nesta etapa da unidade, abordaremos a compreensão


da comunicação jurídica, que engloba o uso de um vocabulário diferenciado,
jargões e peculiaridades acerca da clareza de ideias em relação com o linguajar
utilizado no Direito, porém, não podemos nos esquecer de que a comunicação é
o ato de tornar algum acontecimento comum a outras pessoas, logo, ela necessita
acontecer de maneira plena e eficaz.

Vamos em frente!

2 O VOCABULÁRIO JURÍDICO
Sabemos que quem lida com áreas específicas, como a do Direito, a da
informática, entre outras, necessita expressar-se adequadamente, pois é por meio
das palavras que profissionais desses campos passam, por exemplo, para o papel

131
UNIDADE 3 | A COMUNICAÇÃO JURÍDICA

o que seus clientes desejam, ou conseguem argumentar e explicar o que seria


possível fazer, dependendo do que eles procuram esclarecer.

Para esses profissionais da área do Direito ou de áreas afins, por vezes,


é imprescindível utilizar um termo diferenciado, também conhecido como
vocábulo ou vocabulário jurídico.

Saber empregar uma palavra jurídica corretamente, levando em conta


o contexto e, ainda, fazer-se compreender, é uma arte, ou seja, o operador do
Direito e das áreas afins, mais que qualquer outro profissional, necessita aprender
a dominar os termos e fazer uso deles adequadamente.

Dessa maneira, voltamos a dizer que uma das maneiras mais utilizadas
pelo ser humano para se comunicar é por meio da palavra, e é por meio dela que
a linguagem se estabelece com sucesso e eficácia.

Xavier (2003, p. 9) postula que:

Seja como for, o homem, animal falante que é, em seus três níveis
de manifestação - como humanidade, como comunidade e como
indivíduo - está indissoluvelmente ligado ao fenômeno da linguagem.
Ignorar-lhe a importância é não querer ver. O pensamento e seu
veículo, a palavra, privilegiam o homem na escala zoológica e o fazem
exceler entre todos os seres vivos. Oxalá saiba ele usar proficiente e
dignamente esse dom da evolução criadora, pois o poder da palavra é
a força mais conservadora que atua em nossa vida.

Compreendemos, acadêmico, a partir das palavras de Xavier, que a


comunicação e, neste caso, a maneira da fala dos operadores do Direito estão
conectadas, pois a palavra, ou seja, a comunicação, é o instrumento com que
eles efetuam suas atividades, como as de peticionar, contestar, apelar, inquirir,
persuadir, provar, julgar, absolver, condenar, analisar, entre outras.

Sendo assim, pessoas que atuam em áreas específicas, como a do Direito,


necessitam ter cautela com o vocabulário que utilizam.

Xavier (2003, p. 11) nos diz que há exemplos dos usos diferenciados dos
vocábulos jurídicos, nos quais se percebe:

[...] diferenças semânticas para um profissional do direito, onde o


emprego comum não consegue perceber as diferenças, tais como:
domicílio, residência e habitação diferem juridicamente entre si,
tal como posse, domínio ou propriedade; e, ainda, que decadência,
prescrição, preclusão e perempção, embora assemelhadas no sentido,
não querem dizer a mesma coisa.

Partindo disso, acadêmico, a linguagem jurídica é um linguajar técnico e,


por vezes, os termos não são entendidos pelo público envolvido e interessado nas
decisões e/ou investigações do Poder Judiciário. 

132
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À COMUNICAÇÃO JURÍDICA

Você, acadêmico, que atuará ou atua em áreas afins do Direito, certamente,


percebe que certos vocábulos já fazem parte do nosso cotidiano, mesmo que
muitas pessoas à nossa volta não notem. Quando lidamos com um nascimento,
quando alguém compra em um estabelecimento, quando fazemos o pagamento
de impostos, quando há alguma confusão entre amigos e/ou vizinhos, quando há
a morte de alguém, o Direito e seu vocabulário jurídico peculiar sempre existiram
e existirão.

Esses termos jurídicos acabam se comunicando e se fazendo entender,


devido à sua interdisciplinaridade com outros ramos, de outras áreas com que
convivemos, como a sociologia, a filosofia, linguagem, ética, entre outras. Como
profissionais dessa área, necessitamos apresentar sabedoria e postura para fazer o
uso e a aplicação adequada desses termos, auxiliando os sujeitos que, de repente,
não os dominam, mas necessitam compreendê-los.

Assim, é primordial que, para você, futuro ou já atuante dessa área, que
faz uso da linguagem jurídica e, consequentemente, que utiliza a comunicação
como ferramenta de trabalho, esteja articulado, pois necessita aplicar todo o
conhecimento aprendido e, também, se comunicar com clientes e com outros
operadores da área jurídica, com clareza e exatidão.

Essa comunicação ou linguagem jurídica, geralmente, é sempre técnica e,


por vezes, não é compreendida adequadamente, pois seus clientes ou envolvidos
em alguma questão (i)lícita não têm nenhum tipo de conhecimento jurídico e
você precisa fomentar o fato de que haja uma comunicação de sucesso entre os
operadores de direito e clientes.

Para tanto, os operadores de Direito são os responsáveis, enquanto


profissionais, acerca da linguagem utilizada, portanto, mesmo sendo técnica,
ela, a linguagem, necessita ser acessível a todos para que a comunicação seja
compreendida por todos os envolvidos.

Daí a importância da leitura, de uma boa escrita, de uma oratória


articulada, pois os operadores da área jurídica devem se expressar de maneira
clara, coesa e coerente, promovendo uma comunicação correta e eficaz ao público
que os ouvem (XAVIER, 2003).

Aqui, necessitamos revisitar e elucidar alguns conceitos que são sempre


úteis para a compreensão de como ocorre uma linguagem plena. Medeiros e
Tomasi (2004, p. 17) postulam que a linguagem “é um sistema de signos utilizados
para estabelecer uma comunicação. A linguagem humana seria, de todos os
sistemas de signos, o mais complexo”.

Podemos inferir que o aparecimento e o desenvolvimento da linguagem


aconteceram da necessidade de comunicação entre os seres humanos, advinda de
uma necessidade social e de um reflexo da cultura que esse grupo inventou. A
linguagem veio como uma inserção do sujeito nesta sociedade organizada.

133
UNIDADE 3 | A COMUNICAÇÃO JURÍDICA

Medeiros e Tomasi (2004, p. 17-21) ainda nos ensinam que:

[...] a linguagem verbal é uma faculdade que o homem utiliza para


exprimir seus estados mentais por meio de um sistema de sons vocais
denominado língua. Esse sistema organiza os signos e estabelece
regras para seu uso. Assim, pode-se afirmar que qualquer tipo de
linguagem se desenvolve com base no uso de um sistema ou código
de comunicação, a língua. A linguagem é uma característica humana
universal, enquanto a língua é a linguagem particular de uma
comunidade, um grupo, um povo. Sistema é uma organização que
rege a estrutura de uma língua. [...] Língua é um código que permite
a comunicação, um sistema de signos e combinações. Ela tem caráter
abstrato e dispõe de um sistema de sons, e concretiza-se por meio
de atos de fala, que são individuais. Assim, enquanto a língua é um
conjunto de potencialidades dos atos de fala, esta (ou discurso) é um
ato de concretização da língua. [...] A fala é anterior à escrita, mas tem,
através dos tempos, sido relegada a uma condição de inferioridade
por causa das circunstâncias modernas em que informações e
documentos escritos constituem o mundo das relações humanas e
de produção. [...]. As características diferenciadoras entre língua e
fala são: a língua é sistemática, tem certa regularidade, é potencial,
coletiva; a fala é assistemática, nela se observa certa variedade, é
concreta, real, individual. [...] A norma varia segundo a influência do
tempo, espaço geográfico, classe social ou profissional, nível cultural
do falante. A diversidade das normas, visto que há tantas quanto os
indivíduos, não afeta a unidade da língua, que contém a soma de
todas as normas. [...] A língua portuguesa, portanto, é um sistema
linguístico que abrange o conjunto das normas que se concretiza por
meio dos atos individuais de fala. Ela é um dos sistemas linguísticos
existentes dentro do conceito geral de língua e compreende variações
diversas devidas a locais, fatores históricos e socioculturais que
levam à criação de variados modos de usar a língua. [...] Norma é um
conjunto de regras que regulam as relações linguísticas. A norma sofre
afrontas ou é contrariada devido a vários fatores: alterações devidas
às classes sociais diferentes, alterações devidas aos vários indivíduos
que utilizam a língua.

Revisitando esses conceitos, acadêmico, compreendemos que o homem


pode se comunicar de duas maneiras, a verbal e/ou não verbal. Quando a forma
é verbal, a linguagem oral é utilizada como instrumento, já a não verbal acontece
pela linguagem corporal ou linguagem do vestuário, entre outros exemplos.

Concluímos dizendo que, conforme abordado, quando o operador


do direito está perante seu público, todas as formas de linguagem abordadas
anteriormente ocorrem juntas, em alguns minutos de conversação, somando a
situação cultural, econômica e social que cada um possui e carrega consigo.

Logo, prezemos pela clareza e pelo uso adequado dos termos jurídicos
que compõem nosso dia a dia, e façamos com que os que não têm acesso a estes
os compreendam de forma simples e coerente.

134
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À COMUNICAÇÃO JURÍDICA

DICAS

Que tal acessar o link <https://www.youtube.com/watch?v=qkkszcAcr_Q>, e


revisitar alguns termos jurídicos?

2.1 OS JARGÕES JURÍDICOS


O jargão, acadêmico, é um estilo de aplicar certos termos, ou de falar,
utilizado por pequenos grupos, ou seja, grupos particulares que são unidos por
alguma profissão específica.

Podemos dizer que jargão é uma linguagem científica, de alguns


profissionais de certas áreas, trazida para o dia a dia. Não precisamos pensar
muito e afirmar, por exemplo, que existe o jargão dos médicos, dos advogados,
dos técnicos em informática, entre outros.

Observe a figura que segue:

FIGURA 1 – JARGÃO JURÍDICO

FONTE: <http://alunosdafdv.blogspot.com/>. Acesso em: 18 nov. 2018.

Assim como a imagem apresentada anteriormente nos sugere, por vezes,


é complicado compreender o jargão quando não fazemos parte do grupo que o
utiliza e, neste caso, até entre colegas de profissão.

Certamente, acadêmico, que você conseguiu compreender um pouco do


que ele (personagem da tirinha) quis dizer. Mas muitos que não fazem parte do
meio jurídico podem não entender e nos dizer que a compreensão é difícil.

135
UNIDADE 3 | A COMUNICAÇÃO JURÍDICA

Assim sendo, como um operador do direito em processo de formação,


você compreendeu que devemos saber utilizar um linguajar mais simples para
que a mensagem possa ser compreendida, dependendo de quem nos ouve e, se
de maneira informal, até entre colegas de profissão.

O jargão jurídico, acadêmico, faz com que o entendimento de procedimentos


e de documentos seja complexo, por apresentar termos e palavras, incluindo
vocábulos em latim, cujos significados são incompreensíveis para leigos.

São exemplos de jargões relacionados ao Direito:

QUADRO 1 – JARGÕES JURÍDICOS

Com fincas no artigo: com base no artigo.


Consorte supérstite: viúvo ou viúva.
Digesto obreiro: Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
Diploma provisório: medida provisória.
Ergástulo público: cadeia.
Estipêndio funcional: salário.
FONTE: <https://www.significadosbr.com.br/jargao>. Acesso em: 18 nov. 2018.

2.2 DICAS PARA AUMENTAR O VOCABULÁRIO


Conseguir expressar-se com um discurso envolvente, compreender o
perfil do ouvinte e, consequentemente, utilizar o melhor vocabulário para que ele
o compreenda, saber ouvir para, então, conseguir se comunicar com mais clareza,
são algumas das características que constituem um bom comunicador e um bom
profissional.

Para que você, acadêmico, consiga desenvolver estas e outras habilidades


relacionadas ao falar bem, que é um importante caminho para o êxito na carreira
e na vida pessoal, apresentaremos algumas dicas de ampliação de vocabulário.

A primeira delas é aprender palavras novas regularmente, logo, crie esse


hábito para ter um resultado eficaz e rápido. Parece difícil? Vamos descobrir
como fazer isso:

• Leia: a leitura o faz aprender. E, quando lemos, acadêmico, não estamos apenas
visualizando uma palavra e lendo o que ela significa, lemos uma palavra nova
dentro de um contexto, isto é, nosso cérebro realmente vai compreender como
utilizar essa palavra, dificilmente esquecendo-a.
• Mantenha um dicionário por perto: a tecnologia e, consequentemente, a
internet, facilitou a nossa vida e disponibiliza vários dicionários gratuitos, mas
ter um dicionário físico é indispensável. Ter um ao seu lado vai transformar a

136
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À COMUNICAÇÃO JURÍDICA

atitude da busca em um hábito e seu cérebro vai memorizar as palavras com


maior fluidez.
• Mantenha um diário: anote as novas palavras aprendidas. Isso mesmo, essa
atitude é importante para fixá-las e, ainda, podemos consultá-las sempre que
quisermos.
• Tente aprender uma palavra nova todos os dias: Devemos criar o nosso
próprio método e segui-lo diariamente. Ao ler uma notícia, um capítulo de um
romance ou algo na internet, procure pelas palavras desconhecidas e anote-as
com seus significados em um tipo de diário.
• Volte para suas raízes: estudar uma língua antiga nos faz aprender e
compreender muitos dos vocábulos utilizados no dia a dia. Quando você estuda
latim ou grego, compreende a etimologia de várias palavras que utilizamos até
hoje, e entende a composição delas através da origem dos prefixos e sufixos
advindos dessas línguas. Faça isso através de aplicativos gratuitos.
• Jogue: jogos de palavras nos desafiam e ampliam o vocabulário de um jeito
divertido e eficaz. O Letrix, por exemplo, é um ótimo jogo (disponível para
Android e iOS) que combina Tetris e Palavras Cruzadas em uma dinâmica bem
interessante.
• Converse: conversar com os outros nos ajuda a descobrir e utilizar palavras
novas e, quando aprender alguma palavra diferente, anote-a.
• Escreva mais: escreva no computador, no papel, no seu diário, o importante é
treinar a construção de frases e utilizar as novas palavras que você aprendeu
na última semana ou no dia. Isso vai ajudar a construir conversas mais ricas.

DICAS

O Duolingo é um aplicativo para


aprender e reforçar idiomas, disponível, de graça e
sem propagandas, para iOS e Android. Diferente dos
sites que oferecem cursos, ele utiliza como método
de ensino a gameficação ao transformar as questões
em desafios e os acertos em recompensas. Baixe-o
<https://pt.duolingo.com/> e aprenda brincando!

FONTE: <https://cdn0.tnwcdn.com/wp-content/blogs.dir/1/files/2018/02/duolingo-796x419.
jpg>. Acesso em: 02 dez. 2018.

2.3 A ESTRUTURA FRÁSICA: CLAREZA NAS IDEIAS


A estrutura frásica envolve a clareza das ideias. Para tanto, estudamos e
compreendemos anteriormente o texto, a comunicação e os elementos necessários
para que isso aconteça de maneira eficaz.

137
UNIDADE 3 | A COMUNICAÇÃO JURÍDICA

Antes de continuarmos nossos estudos, é interessante revisitarmos o


conceito de PALAVRA, já que é através dela que tudo o que envolve discurso se
consolida.

A palavra é constituída por sons, grafemas que, em conjunto, formam


o vocabulário. Elas, as palavras, tanto exteriorizam ideias, quanto apreendem
conceitos.

Gold e Segal (2007) exemplificam que muitas das palavras jurídicas


necessitam ser compreendidas através das expressões. Por exemplo: as expressões
Ad Referendum ou Data Venia são palavras ou expressões que não podem ser apenas
traduzidas para a língua portuguesa, elas necessitam de uma compreensão maior
devido a certas significações que lhes cabem.

A primeira, por exemplo, significa “para apreciação”. Esse termo é uma


expressão utilizada em atos de autoridades públicas, quando as decisões, por eles
tomadas, precisam ser levadas ao conhecimento de algum órgão colegiado.

A segunda expressão é correspondente à Concessa Venia. A palavra venia


quer dizer permissão, licença. Já “data” advém do verbo dare, que significa dar e
concessa vem de concedere, conceder.

Assim, saber utilizar as palavras com competência exige treino e técnica.


Desta maneira, quando você escrever ou discursar, deve seguir alguns passos,
como:

a) Seleção Vocabular – CLAREZA – a escolha de palavras adequadas depende do


leitor que se presume ter. Para se ter a clareza é necessário escrever de maneira
simples e concisa. Períodos curtos e diretos, logo, cuidado com a linguagem
rebuscada.

b) Seleção Vocabular – SENTIDO – o profissional do direito necessita de uma só


interpretação, e convive com um número expressivo de palavras polissêmicas.
Gold e Segal (2007, p. 46) relembram um exemplo: “O inquilino locou o
imóvel há exatos cinco anos e vinha pagando seus alugueres à proprietária
regularmente...”. Você notou, acadêmico, quem loca oferece em aluguel, mas
não toma de aluguel. O locador loca, o locatário aluga.

c) Seleção Vocabular – VOCABULÁRIO JURÍDICO – a leitura de peças


processuais, manuais e obras jurídicas, entre outros, nos faz incorporar um
universo vocabular jurídico. Exemplo: “O advogado mostrou que o homicídio
simples não constitui crime hediondo e defendeu, em excelente tese, que
mesmo o homicídio qualificado, por vezes, não deve ser visto como tal”
(GOLD; SEGAL, 2007, p. 48).

d) Seleção Vocabular – SELEÇÃO DE PALAVRAS E SUSTENTABILIDADE –


qualquer termo utilizado necessita ter sustentabilidade, isto é, deve ser harmônico

138
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À COMUNICAÇÃO JURÍDICA

com o contexto. Logo, evitar o preciosismo, como Pretório Excelso no lugar de


Supremo Tribunal Federal, peça exordial no de petição inicial, entre outros.

e) Seleção Vocabular – FORMAS DE TRATAMENTO – são termos utilizados


para manter um nível respeitoso nas relações do Poder Judiciário. Como: Juiz
– Vossa Excelência (Meritíssimo).

f) Seleção Vocabular – EXPRESSÕES LATINAS – o latim só deve ser utilizado em


peças forenses que têm por destinatários outros profissionais jurídicos. Nos
contratos deve ser evitado, porque estes servirão para lidar com as relações
entre leigos que não estão adaptados às expressões latinas. Observe algumas
expressões latinas no quadro que segue:

QUADRO 2 – EXEMPLOS DE EXPRESSÕES LATINAS

ADHUC SUB JUDICE LIS EST – a causa está sob julgamento.


IPSIS LITTERIS – com as próprias palavras.
RES JUDICATA PRO VERITATE HABETUR – A coisa julgada é considerada
verdade.
RES, NON VERBA – fatos, não palavras.
FONTE: Adaptado de <https://goo.gl/gU4khC>. Acesso em: 30 nov. 2018.

3 LINGUAGEM JURÍDICA
O Direito e a linguagem, acadêmico, têm uma importante relação, pois o
direito se consolida por meio da linguagem. Neste sentido, Passos (2001, p. 63)
assegura que:

[...] o Direito, mais que qualquer outro saber, é servo da linguagem.


[...] Também linguagem é o Direito aplicado ao caso concreto, sob
a forma de decisão judicial ou administrativa. Dissociar o Direito
da Linguagem será privá-lo de sua própria existência, porque,
ontologicamente, ele é linguagem e somente linguagem.

Dessa maneira, o texto jurídico evidencia-se por construções complexas e


por um elevado grau de intelectualidade da língua.

Tanto a formação da estrutura textual como o conhecimento das regras


gramaticais da norma padrão da Língua Portuguesa se entrelaçam nos discursos
jurídicos. É por isso que o profissional da área jurídica produz textos bem escritos,
e é reconhecido por ter amplo domínio da norma culta.

Vamos, a partir daqui, tecer algumas considerações acerca dessa


linguagem.

Continue estudando!
139
UNIDADE 3 | A COMUNICAÇÃO JURÍDICA

3.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE A LINGUAGEM JURÍDICA


Como já estávamos discutindo, a escrita, levando em conta o sentido das
palavras na linguagem jurídica, necessita de cautela. Vamos conhecer alguns
importantes termos jurídicos:

3.1.1 Vocábulos unívocos


Os vocábulos unívocos são os que contêm um só sentido. A codificação
auxilia para descrever delitos e assegurar direitos:

• Furto: art. 155 CP - subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel.
• Roubo: art. 157 CP - subtrair, para si ou para outrem, coisa móvel alheia
mediante grave ameaça ou violência.
• Mútuo: art. 586 CC - empréstimo oneroso de coisas fungíveis.
• Comodato: art. 579 CC - empréstimo gratuito de coisas não fungíveis.

3.1.2 Vocábulos equívocos


Os vocábulos equívocos são os plurissignificantes, ou seja, eles têm mais
de um significado, geralmente consegue-se identificá-los pelo contexto. Como em:

• Sequestrar:
o Direito Processual: apreender judicialmente bem em litígio.
o Direito Penal: privar alguém de sua liberdade de locomoção.

3.1.3 Vocábulos análogos


Os vocábulos análogos são os que não têm um radical comum, logo,
pertencem a uma mesma linhagem ideológica ou são apresentados como
sinônimos. Exemplo:

• Resolução (dissolução de um contrato, acordo, ato jurídico).


• Resilição (dissolução pela vontade dos contraentes).
• Rescisão (dissolução por lesão do contrato).

3.1.4 Parônimos
Os parônimos são os termos de sentido distinto, porém semelhantes na
escrita e na pronúncia. Exemplos:

140
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À COMUNICAÇÃO JURÍDICA

• Absolver (perdoar); absorver (assimilar).


• Deferimento (concessão); diferimento (adiamento).
• Delatar (acusar); dilatar (ampliar).
• Destratar (ofender); distratar (romper o trato).
• Elidir (suprimir); ilidir (refutar, anular).
• Emenda (correção); ementa (resumo).
• Emitir (mandar para fora); imitir (investir em).
• Flagrante (evidente); fragrante (perfumado).
• Mandato (procuração); mandado (ordem, determinação).
• Prescrever (ordenar); proscrever (banir).
• Ratificar (confirmar); retificar (corrigir).
• Tráfico (comércio ilegal); tráfego (trânsito).

3.1.5 Arcaísmo
O arcaísmo é um termo que não é mais utilizado, por exemplo, coita para
dizer dor; ou, ainda, podemos dizer que o arcaísmo é um vício que versa em
empregar expressões antiquadas. Vamos conhecer os dois tipos de arcaísmo:

Arcaísmos léxicos são as palavras em desuso por força de substituição e


arcaísmos semânticos são as palavras que sobrevivem com sentido alterado no
uso atual.

Conheça alguns arcaísmos semânticos:

QUADRO 3 – EXEMPLOS DE ARCAÍSMOS SEMÂNTICOS

Palavra Significado arcaico Significado atual


Tratante Que trata Cuida
Formidável Formidável Excelente
Parvo Pequeno de estatura Pequeno de cabeça
FONTE: A autora (2018)

Agora, conheça palavras com arcaização do primitivo e permanência do


composto:

• mundo (limpo) – imundo;


• dita (sorte) – desdita;
• victo - invicto, evicto;
• dene (prejuízo, dano) – indene;
• voluto (ocupado) – devoluto.

Apesar de afirmarmos que a linguagem jurídica arcaica está em desuso,


ainda há termos que os conservadores utilizam, como:

141
UNIDADE 3 | A COMUNICAÇÃO JURÍDICA

• Teúda e manteúda: no português arcaico, os verbos da segunda conjugação


tinham o particípio passado em udo (conhoçudo, vençudo, manteúdo,
conteúdo). Teúda e manteúda continuam no Direito para indicar a concubina
tida e mantida às expensas do parceiro.
• Lídimo: legítimo, em se tratando do filho procedente do legítimo casamento.
Hoje, ninguém mais diria "filho lídimo, prole lídima, sucessão lídima".
• Pertenças: substantivo usado no plural cujo sentido é benfeitorias.
• Peitar: o significado é subornar; o substantivo é peita, suborno oferecido, não
exigido.
• Avença: acordo, contrato, ajuste.
• Usança: equivale a uso; termo frequente no Direito Comercial.

3.1.6 Estrangeirismos
O estrangeirismo nada mais é do que a influência de uma língua
em outra. Quando as palavras estrangeiras tiverem equivalência na língua
portuguesa, daremos preferência ao uso das nossas palavras, salvo se houver
alguma justificativa para usar a forma estrangeira. Na área jurídica temos muitos
estrangeirismos, observe os exemplos que seguem:

QUADRO 4 – EXEMPLOS DE ESTRANGEIRISMOS

• drawback (ingl.): restituição de impostos aduaneiros pagos sobre a


importação de matérias-primas no momento da exportação dos produtos
que elas serviram para fabricar;
• apartheid (ingl.): sistema oficial de segregação racial praticada na África
do Sul para proteger a minoria branca;
• best-seller (ingl.): o livro que se vende melhor; obra que é grande êxito de
livraria;
• commodity (ingl.): produto (pl.: commodities);
• expert (ingl.): experto, perito;
• freelancer (ingl.): pessoa que executa serviços profissionais sem vínculo
empregatício;
• free-shop (ingl.): local de venda de produtos sem taxa de importação;
• impeachment (ingl.): impedimento;
• leasing (ingl.): contrato de uso de coisa mediante pagamento mensal; ao
final do prazo, pode tornar-se proprietário; arrendamento mercantil;
• lobby (ingl.): pessoa ou grupo que, nas antessalas de órgãos decisórios,
procura influenciar os representantes do povo no sentido de fazê-los
votar segundo os próprios interesses ou dos grupos que representam;
• marketing (ingl.): conjunto de estudos e medidas que proveem
estrategicamente o lançamento e a sustentação de um produto ou serviço
no mercado consumidor;
• mise en scène (fr.): organização material de evento; encenação;
• overdose (ingl.): superdose.

FONTE: Adaptado de <https://goo.gl/85NAqc>. Acesso em: 7 fev. 2019.

142
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À COMUNICAÇÃO JURÍDICA

3.1.7 Latinismos
O latinismo é a utilização de expressões latinas na linguagem forense. O
latim traz ao texto brevidade e clareza. Há várias expressões latinas ligadas ao
direito, veja:

• Ab absurdo: a partir do absurdo, pelo absurdo. Fala-se em argumento ab


absurdo e não ab absurdum, como se vê em livros de autores renomados.
• Aberratio delicti: desvio do delito; erro na execução de um crime com
resultado diferente do pretendido: corresponde ao que diz o povo:
"Atirou no que viu e acertou o que não viu."
• Ab initio: desde o início, a partir do início, de início.
• Ab irato: num impulso de cólera.
• Ad arbitrium: arbitrariamente.
• Ad cautelam: para efeito de cautela, de prevenção.
• Ad corpus: para o corpo; usa-se na venda de um imóvel sem especificação
de área.
• Ad judicia: para o juízo; procuração válida apenas para o juízo.
• Ad libitum: segundo a deliberação, vontade, arbítrio.
• Ad litem: para a lide.
• Ad literam: literalmente.
• Ad locum: sem demora, de imediato.
• Ad nauseam: exaustivo; diz-se de algo muito pormenorizado.
• Ad nutum: sem justificativa.
• Ad probatíonem: para prova, determinada formalidade legal exigida só
para prova do ato.
• Ad quem: para quem, para o qual.
• A fortíori: com maior razão.
• Animus: intenção, vontade, propósito.
• A quo: procedência (de quem, do qual). A quo designa a primeira
instância judicial, de onde parte um processo ou um pleito, para seguir
os seus trâmites; e ad quem designa uma instância superior, a que sobe
o processo.
• Bis in idem: duas vezes sobre a mesma coisa; incidência de um mesmo
imposto sobre o mesmo contribuinte ou sobre a matéria já tributada.
• Bonafide: boa-fé.
• Capito deminutío: perda total ou parcial dos direitos.
• Concessa vênia: concedida, suposta a vénia, a permissão, a licença; o
mesmo que data vénia.
• Currente calamo: ao correr da pena, elaborado às pressas.
• De cujus: o falecido, o testador falecido; a expressão completa é de
cujus successione agitar.
• De facto: de fato, segundo o fato.
• Dies ad quem: último dia de um prazo.
• Ipsis verbis: com as mesmas palavras.
• Iter criminis: atos praticados pelo criminoso, necessários à realização
do delito (MEDEIROS; TOMASI, 2004, p. 90).

3.2 A ELOQUÊNCIA
A eloquência, na área do direito, pode ser entendida, e resumida, como
sendo a arte de se expressar bem e com clareza.

143
UNIDADE 3 | A COMUNICAÇÃO JURÍDICA

Podemos ainda dizer que a eloquência produz uma comunicação coesa e


coerente, com palavras que impactam, atraem e convencem o receptor.

Assim, uma pessoa que possui eloquência é chamada de eloquente, ou


seja, esse adjetivo considera que o indivíduo possui grande poder de expressão e
persuasão, quer dizer, alguém que possui as qualidades de uma pessoa eloquente,
agradável.

Muitas ocupações exigem profissionais eloquentes e ela é uma qualidade,


atualmente, necessária em qualquer área do conhecimento humano, mas ela é
fundamental desde a antiguidade clássica, no direito.

Finalizamos dizendo que a oratória jurídica é um elemento ativo para o


discurso de um bom advogado, juiz, desembargador e demais atuantes na área
jurídica, pois essas profissões são baseadas no convencimento de outras pessoas.

Dessa maneira, a eloquência é essencial para passar a mensagem de


maneira a entreter o ouvinte, tendo por objetivo a aprovação e a concordância
com o discurso pronunciado (GOLD; SEGAL, 2007).

3.3 A SEMIÓTICA E SUA RELAÇÃO COM O DIREITO


Antes de correlacionarmos a semiótica com o direito, devemos compreender
que a semiótica lida com os signos, sinais e linguagens. Já mencionamos na
Unidade 1 que é necessário reconhecermos que o processo comunicativo possui
seis componentes que realizam seis respectivas funções, que são:

QUADRO 5 – COMPONENTES DO PROCESSO COMUNICATIVO

Emissor → Função Referencial ou Denotativa.


Receptor → Função Conativa ou Apelativa.
Código → Função metalinguística.
Mensagem → Função Referencial ou Denotativa.
Contexto → Função poética.
Canal → Função fática.
FONTE: <https://jus.com.br/artigos/58757/algumas-consideracoes-sobre-semiotica-e-o-direito>.
Acesso em: 9 dez. 2018.

Dessa maneira, acadêmico, quando a linguagem está no sentido


denotativo, significa que está em seu sentido literal, como já tínhamos estudado,
ou seja, o sentido denotativo é o sentido real das palavras.

144
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À COMUNICAÇÃO JURÍDICA

Quando a linguagem está no sentido conotativo, significa que ela está


sendo utilizada em seu sentido figurado, isto é, os enunciados ganham um novo
significado em situações e contextos particulares de uso.

A norma jurídica é uma comunicação que pertence ao discurso normativo


e podemos dizer que sua relação está fundamentada nas três áreas de estudo da
semiótica.

A semiótica engloba:

QUADRO 6 - ÁREAS DE ESTUDO DA SEMIÓTICA

a) A sintaxe, a parte da semiótica que abrange os problemas preliminares da


transmissão da informação, como código, canais, capacidade etc. Ela estuda
as relações dos signos entre si. Dentro da perspectiva jurídico-linguística,
visará as relações das normas entre si.

b) A semântica, que é porção da semiótica que se interessa pela significação


dos símbolos da mensagem, de modo a estudar as relações entre os signos
e os objetos extralinguísticos. Na visão jurídico-linguística, irá investigar as
relações entre a norma e a realidade.

c) A pragmática, área da semiótica que cuida dos efeitos dos comportamentos
da comunicação, das relações entre os signos e os seus intérpretes e usuários,
do discurso e seus agentes. No campo jurídico os estudiosos expõem que
ela visará ao discurso normativo e seus usuários; o editor da norma (órgão
competente) e o destinatário dela.

FONTE: <https://jus.com.br/artigos/58757/algumas-consideracoes-sobre-semiotica-e-o-direito>.
Acesso em: 9 dez. 2018.

Assim, acadêmico, a semiótica tem relação com o campo do direito no que


se refere ao relato e cometimento (é uma informação sobre a informação), sob
uma visão pragmática, que são duas esferas de comunicação.

Sob o ângulo da semiótica a norma jurídica pode ser vista da seguinte


forma:

145
UNIDADE 3 | A COMUNICAÇÃO JURÍDICA

QUADRO 7 – NORMA JURÍDICA SOB O ÂNGULO DA SEMIÓTICA

Validade sintática: expressa uma relação das normas entre si.

Validade semântica: exprime uma relação entre a norma e os fatos sociais,


que são objetos extralinguísticos.

Validade pragmática: revela a relação entre a norma e seus usuários.

FONTE: <https://jus.com.br/artigos/58757/algumas-consideracoes-sobre-semiotica-e-o-direito>.
Acesso em: 9 dez. 2018.

DICAS

Você sabe, acadêmico, o que é um objeto extralinguístico? Pois bem, ele está
relacionado ao conhecimento de mundo, ou seja, às vivências e a todas as experiências dos
envolvidos em uma situação comunicativa.

146
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você aprendeu que:

• A troca de informações entre duas ou mais pessoas chama-se comunicação


interpessoal, e esta troca objetiva motivar ou influenciar um determinado
comportamento.

• A linguagem jurídica é um linguajar técnico e, por vezes, os termos não


são entendidos pelo público envolvido e interessado nas decisões e/ou
investigações do Poder Judiciário. 

• O jargão é um estilo de utilizar certos termos, ou de falar, utilizados por


pequenos grupos, ou seja, grupos particulares, que são unidos por alguma
profissão específica.

• A estrutura frásica envolve a clareza das ideias.

• O texto jurídico evidencia-se por construções complexas e por um elevado


grau de intelectualidade da língua.

• Os vocábulos unívocos são os que contêm um só sentido.

• Os vocábulos equívocos são os plurissignificantes, ou seja, eles têm mais de


um significado, geralmente consegue-se identificá-los pelo contexto.

• Os vocábulos análogos são os que não têm um radical comum, logo pertencem
a uma mesma linhagem ideológica ou são apresentados como sinônimos.

• Os parônimos são os termos de sentido distinto, porém semelhantes na escrita


e na pronúncia.

• O arcaísmo é um termo que não é mais utilizado, por exemplo, coita para
dizer dor; ou, ainda, podemos dizer que o arcaísmo é um vício que versa em
empregar expressões antiquadas.

• O estrangeirismo é a influência de uma língua em outra.

• O latinismo é a utilização de expressões latinas na linguagem forense.

• A eloquência, na área do direito, pode ser entendida e resumida como sendo


a arte de se expressar bem e com clareza.

• A semiótica tem relação com o campo do direito no que se refere ao relato e


cometimento.
147
AUTOATIVIDADE

1 Revisite suas anotações e escreva o conceito e um exemplo de:

a) ESTRANGEIRISMO:
Exemplo:

b) ARCAÍSMO:
Exemplo:

c) LATINISMO:
Exemplo:
 
d) PARÔNIMOS:
Exemplo:

148
UNIDADE 3
TÓPICO 2

O DISCURSO JURÍDICO

1 INTRODUÇÃO
Compreendemos, acadêmico, que o Direito, e o mundo que o engloba, tem
como função controlar os comportamentos da nossa sociedade. Ele se apresenta
por meio de uma linguagem: a linguagem jurídica.

Além disso, o Direito, através da linguagem jurídica, foca-se em


compreender a realidade social, seja ela geral ou específica, para ordenar os
comportamentos dos indivíduos, em dado momento histórico, por meio de
normas jurídicas.

Segundo o que nos ensina Maria Helena Diniz,

[...] o fundamento das normas está na exigência da natureza humana


de viver em sociedade, dispondo sobre o comportamento de seus
membros. [...] as normas são fenômenos necessários para a estrutura
ôntica do homem, ou seja, as normas jurídicas nada mais são que os
elementos indispensáveis à composição da própria vida humana, com
a intenção de estabelecer padrões de conduta social aceitável (DINIZ,
2009, p. 301).

Assim, a linguagem muito diz respeito à relação com o homem e a sua


cultura, pois a linguagem une o grau de desenvolvimento de uma sociedade e o
conhecimento das particularidades de determinada sociedade.

Partindo disso, vamos explorar mais um tópico de ensino, intitulado o


discurso jurídico, que deve ter uma linguagem organizada e dirigida a um fim,
ele tem como propósito a maior persuasão possível.

Vamos em frente! Continue estudando!

2 ENUNCIAÇÃO E DISCURSO JURÍDICO


Conforme já conversamos, o pensamento sob uma ótica jurídica tem
como aliada a linguagem. E, de certa maneira, o Direito também se constitui pela
linguagem.

É claro que a linguagem e, também, a enunciação e o discurso, não são


os únicos instrumentos que compõem o universo jurídico, mas fazem com que a
comunicação do conhecimento jurídico aconteça de maneira clara e eficaz.
149
UNIDADE 3 | A COMUNICAÇÃO JURÍDICA

O pensamento jurídico, acadêmico, encontra na linguagem a exteriorização,


pois ele necessita da articulação linguística para que todos os elementos que
o compõem possam ser entendidos. Assim, o Direito depende do emprego
adequado da palavra. Em virtude disso, estudar a linguagem jurídica torna-se
essencial aos futuros operadores do Direito.

Sobre o discurso jurídico podemos dizer que ele faz a ligação entre o
homem, a lei e as instituições. É através do discurso jurídico que se convence e
angaria opiniões. É por esse motivo que esse discurso necessita apresentar uma
linguagem de aceitação simples e organizada, para que o orador alcance maior
poder social.

Desta maneira, na medida em que o discurso jurídico cumpre sua


finalidade, ocorre uma construção de eloquência e os participantes, estejam eles
envolvidos como produtores ou coprodutores da matéria em questão, farão uma
leitura envolvente, que resultará êxito. 

Percebemos, acadêmico, que a argumentação jurídica está curvada ao


direito positivo. Por exemplo, em um julgamento, a pessoa ré vai contra sua
vontade, há nesse espaço de tempo o discurso e, para as partes, não interessa
se a decisão é justa, cada parte quer ver o seu lado satisfeito e vencedor. Já na
academia tem-se mais liberdade de expressão e pensamento para que se possa
explorar essa questão.

2.1 O QUE É UM ENUNCIADO?


De maneira geral, podemos dizer que o enunciado é a maneira de
comunicação verbal real, na qual as mais variadas formas de expressividade
linguística se encontram. Eles podem ser considerados acontecimentos discursivos,
ou seja, os enunciados são as unidades de comunicação e de interação entre os
indivíduos.

Assim, todos os enunciados provocam efeitos de sentido que só podem


ser analisados no contexto de enunciação, e estão sempre relacionados a outros
enunciados anteriores e àqueles que ainda estão por vir (DAMIÃO, 2000).

Em termos jurídicos, o enunciado se parece com uma súmula. Sim,


acadêmico, a súmula de um Tribunal. Você se lembra que ela consiste no
enunciado que registra ou resume o entendimento sobre questões que apresentem
polêmicas ou controvérsias na jurisprudência?

Na verdade, o enunciado serve, então, acadêmico, para expressar a


direção que determinados julgadores têm acerca de um tema controvertido e/ou
contestável, objetivando anunciar a jurisprudência.

150
TÓPICO 2 | O DISCURSO JURÍDICO

DICAS

Você sabe o que é jurisprudência, acadêmico? Ela é um termo jurídico, que


significa o conjunto das decisões, interpretações e aplicações das leis.

Partindo disso, compreendemos que os enunciados não possuem o poder


da lei, eles não têm uma aplicação obrigatória. Os enunciados têm como objetivo
orientar, pois eles apresentam o entendimento do tribunal sobre determinado
conteúdo de direito em questão.

2.2 DISCURSO DE DEFESA E DISCURSO DE ACUSAÇÃO


O discurso de defesa e o de acusação, acadêmico, visam entusiasmar o(s)
indivíduo(s) que o(s) ouve(m) para influenciar no seu raciocínio, com o objetivo
de potencializar o convencimento.

Temos várias maneiras de fazer com que esses discursos aconteçam.


Por vezes, são utilizados alguns elementos ou métodos, como a vestimenta, a
gesticulação e o convencimento verbal.

O mais importante dos elementos é a fala, e todos os artifícios que a


compõem, de modo que se for bem-sucedida e realizada com persuasão, a versão
em questão não será confundida e será aceita. 

Assim, acadêmico, é através dos discursos da acusação e defesa que


as questões, e/ou teses, são apresentadas aos jurados, os quais, após ouvir
todas as partes (interrogatório do réu, leitura de peças, oitiva de testemunhas,
argumentações sobre as teses da acusação e da defesa, entre outras), têm a função
de julgar o réu em culpado ou inocente.

Desta maneira, tanto os discursos de acusação como os de defesa


necessitam levar em conta a argumentação, a eloquência, a linguagem e, também,
a teatralização.

2.3 A TÉCNICA DA REFUTAÇÃO


Uma  refutação, acadêmico, é um motivo que vai contra uma  premissa,
decisão ou uma conclusão. A refutação de uma refutação é também conhecida e
chamada como retribuição.

151
UNIDADE 3 | A COMUNICAÇÃO JURÍDICA

Para que uma refutação aconteça, há diversos mecanismos de aplicação,


por exemplo:

• Deve-se estabelecer o método para que a refutação seja empregada, ou seja,


uma estrutura lógica necessita ser desenvolvida para que uma conclusão
razoável adversa seja explanada. Assim, para efetuar uma boa refutação,
determinar os termos, propor significados a uma nova compreensão fazem-se
necessários para que se possa alcançar algo satisfatório.
• Quando há mais de uma pergunta, dividi-las em duas é uma boa técnica a ser
aplicada, como em: Já golpeou seu vizinho? Ainda continua fazendo?
• Apresenta-se argumentos de que tal questão é uma generalização um tanto
duvidosa e perigosa por não se conhecer todos os juízos.

Agora, vamos ler e conhecer um exemplo na prática:

QUADRO 8 – COMO REFUTAR UM ARGUMENTO

“A reforma previdenciária diminui os custos estatais. Diminuir os cus-


tos estatais é bom para a sociedade em geral. Por isso, a reforma é algo bom”.

O que há de errado nesse argumento?

O primeiro ponto é destacar o que cada termo significa. Por exemplo:


“Reforma Previdenciária”. Qual reforma? O que é Reforma Previdenciária?
Em que país, em que contexto?

Segundo ponto é: “Diminui os custos estatais”. Será? Quais custos?

Analisamos também a segunda premissa:

Diminuir os custos estatais é bom para a sociedade em geral. Será?


Quando se tem uma população pobre, será que a diminuição de investimento
em educação e saúde seria interessante para a sociedade em geral?

“A reforma é algo bom”

A conclusão que se seguiu é terrível em todos os gêneros. Primeiro,


não se sabe qual reforma e em que país se diz; depois, que não necessariamente
diminuir custos é algo bom (Custo pode ser um investimento que retornaria
em longo prazo, por exemplo). O argumento, em si, pode até ser válido,
mas é fraco, inconsistente.

Experimente trocar a palavra reforma previdenciária por algo


“semelhante”. Veja se faz sentido com outras palavras.

152
TÓPICO 2 | O DISCURSO JURÍDICO

Basicamente, refutar argumentos é uma tarefa que aos tempos se


torna mais consistente e mais natural. Vale lembrar que um bom diálogo é
construtivo e os recursos de refutação não servem apenas para “destronar”
os outros, mas sim para se chegar em uma conclusão melhor.

FONTE: <https://medium.com/@wolflars/como-refutar-um-argumento-d731acd6a6ab>. Acesso


em: 9 dez. 2018.

3 REDAÇÃO JURÍDICA
A redação jurídica, acadêmico, é tão importante quanto a fala. Há quem
diga que até mais, pois como fica registrada, tudo o que é dito precisa ser
cuidadosamente revisado.

Nesta seção, trataremos da escrita jurídica, bem como seus macetes.


Vamos adiante.

3.1 A ESTRUTURA DO PARÁGRAFO


O parágrafo é a estrutura que mantém o texto além da palavra e da frase.
Ele nada mais é do que o bloco que alavanca as ideias. O parágrafo deve ser muito
bem planejado, pois é ele que compõe toda a redação jurídica e é responsável,
além da qualidade do texto, pela sua estética.

Sobre a estrutura do parágrafo, Petri (2016) cita Othon M. Garcia em seu


livro Comunicação em Prosa Moderna (1988, p. 206):

Em geral, o parágrafo-padrão, aquele de estrutura mais comum e


mais eficaz - o que justifica seja ensinado aos principiantes -, consta,
sobretudo na dissertação e na descrição, de duas e, ocasionalmente,
de três partes: a introdução, representada na maioria dos casos por
um ou dois períodos curtos iniciais, em que se expressa de maneira
sumária e sucinta a ideia-núcleo (é o que passaremos a chamar daqui
por diante de tópico frasal); o desenvolvimento, isto é, a explanação
mesma dessa ideia-núcleo; e a conclusão, mais rara, mormente nos
parágrafos pouco extensos ou naqueles em que a ideia central não
apresenta maior complexidade.

O tópico frasal é, portanto, a ideia que o parágrafo busca transmitir em sua


essência. De acordo com Garcia, 60% dos parágrafos trazem em sua introdução o
tópico frasal, ou seja, a introdução do que será desenvolvido ao longo da tessitura
do restante do texto.

Mas, afinal, por que é importante expor o tópico frasal do parágrafo logo
no início do desenvolvimento da ideia? Justamente pelo fato de que o tópico

153
UNIDADE 3 | A COMUNICAÇÃO JURÍDICA

frasal é a garantia de que o texto terá objetividade, clareza e coerência necessárias


para seguir adiante. A apresentação do tópico frasal permite ao leitor saber por
onde ele andará fazendo com que, desta maneira, as digressões impertinentes
não ocorram (PETRI, 2016).

Vamos, agora, descrever o que é o tópico frasal. Ainda de acordo com


Petri (2016), trata-se de apresentar a ideia sintetizada no início do parágrafo para
depois desenvolvê-la. Neste parágrafo, apenas as ideias coerentes com o que foi
apresentado no tópico deverão fluir, caso contrário, será fuga do tema. A cada
nova ideia, deverá ser escrito um novo parágrafo.

A partir desta técnica, a organização será mais consistente, sendo a


dispersão evitada. Esta dispersão é comum, haja vista a quantidade de ideias que
vêm à nossa cabeça quando estamos escrevendo sobre determinado tema. Além
do mais, esta técnica ainda auxilia o autor a fazer com que o texto flua.

Vamos ver um modelo de parágrafo bem estruturado?

FIGURA 2 - PARÁGRAFO

FONTE: <https://slideplayer.com.br/slide/12570028/>. Acesso em: 07 dez. 2018.

Observe que a primeira sentença se trata da apresentação do tópico frasal:


“Até fins da década passada, possuir um tapete oriental no Brasil era privilégio de
alguns poucos colecionadores particulares”. Aí está o assunto que será discutido
no parágrafo.

154
TÓPICO 2 | O DISCURSO JURÍDICO

Na sentença seguinte, ele explica por que o assunto passou a ser pauta de
discussão: “Com a abertura das importações e consequentemente diminuição das
taxas, a oferta dessas peças aumentou significativamente nos anos 90, provocando
uma crescente curiosidade sobre o assunto”.

Por fim, ele conclui a ideia justificando o motivo pelo qual o trabalho
será escrito: “Por isso, e pelo quase total desconhecimento dos consumidores
brasileiros sobre a matéria, nos sentimos compelidos a elaborar este trabalho”.

Perceba que se o autor quiser prosseguir com sua ideia, ele, certamente, fará
uma continuação do texto em outro parágrafo. Este, teoricamente, está concluído.
Assim, o leitor conseguiu compreender a ideia que o autor quis transmitir a partir
deste tópico frasal, que consiste em explicar por que ele se sentiu na obrigação de
escrever o texto.

Resumindo, escrever um texto coerente é como embalar peças delicadas


para a viagem: cada uma das peças (palavras) deve ser cuidadosamente
embrulhada e colocada em um lugar adequando, no qual se encaixe perfeitamente
(frase) sem que haja a possibilidade de batidas (incoerência). Já dentro da caixa
(texto), as peças precisam chegar perfeitas ao destino (receptor).

Para que a embalagem seja a adequada para cada tipo de peça, são
necessárias técnicas básicas, como esta que acabamos de ensinar. Se você conseguir
identificar qual é o ponto mais fraco da peça (ambiguidade, por exemplo) e
conseguir embalá-la para que não quebre durante o trajeto, você certamente terá
feito um excelente trabalho.

Quando tratamos de textos com teor jurídico, devemos, conforme já


foi mencionado na Unidade 1, evitar os exageros e os excessos, usar palavras
fáceis, de compreensão descomplicada, elaborar frases curtas e, quando na
elaboração do parágrafo, ser fiel ao tópico frasal. Desta maneira, você estará
aplicando técnicas simples, mas que possuem a eficácia suficiente para que seu
texto jurídico seja perfeito.

DICAS

Um profissional que tenha uma maior desenvoltura na elaboração do seu


trabalho, certamente será melhor renomado porque sempre conseguirá melhores resultados.

Os textos jurídicos, portanto, precisam ser mais bem escritos para que a
sociedade em geral consiga compreendê-los.

155
UNIDADE 3 | A COMUNICAÇÃO JURÍDICA

3.2 COMO REDIGIR UM BOM TEXTO JURÍDICO


Já conversamos muito acerca de como escrever bons textos jurídicos, não
é mesmo, acadêmico? Mas vamos ainda tratar mais um pouco deste assunto,
porque ele realmente é de extrema importância.

Na Unidade 1 demos algumas dicas importantes para a elaboração dos


textos jurídicos, você lembra? Vamos retomá-las de maneira mais pontual agora.
Primeiramente, gostaria de lembrá-los de uma das regras de ouro que tratamos:

QUADRO 9 - DICA DE OURO PARA TER SUCESSO NAS NEGOCIAÇÕES A PARTIR DA


COMUNICAÇÃO

ANTES DE ESCREVER É PRECISO PENSAR

O pensamento sobre o que você pretende escrever deve estar


estruturado na sua mente antes que você o escreva. Coloque no rascunho.
Esta é uma das maneiras mais eficazes de desenvolver bons textos.

Sabe-se que na correria do cotidiano é difícil conseguir sentar


para que possamos organizar nossa escrita, até porque existe uma grande
dificuldade em organizar esse pensamento em nossa própria mente. Isso
ocorre porque muitas são as informações que circulam no dia a dia e
contaminam nossas ideias, fazendo com que se torne difícil organizá-las.

Esta contaminação que sofremos a partir de outras ideias nos leva


a escrever de maneira impulsiva, fazendo com que o texto, para o leitor,
se torne desconexo e por vezes até confuso. Lembre-se, acadêmico, em um
texto escrito isso não pode acontecer, pois não temos o recurso da fala para
suprir essa lacuna, ou seja, não é possível pedir ao escritor esclarecimentos
sobre o que ele quis dizer (pelo menos não imediatamente).

Assim, a dica é: coloque no rascunho suas ideias e depois, organize-


as. Divida sua ideia principal em várias mini-ideias. Estas mini-ideias
seriam, na teoria, seus tópicos frasais. Cada uma delas poderá, depois de
organizadas, compor um parágrafo. Esta estratégia certamente fará com
que o leitor perceba que sua ideia tem uma sequência lógica de raciocínio, e
que não se trata de um emaranhado de ideias desconexas.

FONTE: Adaptado de Gross (2013)

156
TÓPICO 2 | O DISCURSO JURÍDICO

E
IMPORTANT

Sempre antes de veicular seu texto para onde quer que ele seja publicado, leia-o
e pergunte-se: este texto está claro para meu leitor? Outra dica é dar o texto para que outra
pessoa o leia. Se a resposta for: “sim, está claro”, prossiga. Agora, caso a resposta seja “não
consegui entender” ou “fiquei com algumas dúvidas”, retome e verifique onde foi que seu
texto se perdeu.

Além destas dicas para a elaboração de um texto coerente, ainda há outras


questões que precisam ser observadas antes da veiculação de um texto jurídico.
Damião e Henriques (2000) trazem algumas dicas importantes para a elaboração
de textos bem-sucedidos.

Vamos a elas?

• Correção: Um texto bem escrito, além de ter um conteúdo com informações


relevantes, precisa também ser corretamente escrito. Obedecer às normas
gramaticais da língua portuguesa é elegante e demonstra responsabilidade.
• Concisão: este item nada mais é do que não encher linguiça. Diga o que é
preciso sem rodeios e tudo se tornará mais fácil, pois a concisão e a objetividade
caminham juntas.
• Clareza: esta habilidade consiste em não obscurecer as ideias quando postas
no papel. Deixe claras as suas intenções.
• Precisão: cada palavra deve encontrar-se no lugar certo. Lembre-se da
embalagem das peças.
• Naturalidade: não force a barra. Seja espontâneo ou seu texto não passará de
um amontoado de palavras chatas que ninguém gostará de ler.
• Originalidade: use seu próprio estilo ao escrever. Não seja um mero repetidor
de ideias.
• Nobreza: não use gírias, termos chulos ou excessos de jargões em seu texto.
Seja nobre em suas palavras, afinal, a língua portuguesa nos fornece muitas
riquezas.
• Harmonia: equilibre o texto em informação + leitura prazerosa + diversão.

Acadêmico, escrever não é uma tarefa simples, mas certamente é muito


gratificante. Cada minuto dedicado à escrita vale a pena. Quanto mais prática,
melhores serão seus resultados na busca da escrita perfeita.

Leia, aprimore-se, esforce-se. Seja o melhor.

157
UNIDADE 3 | A COMUNICAÇÃO JURÍDICA

3.3 A ELABORAÇÃO DAS PEÇAS JURÍDICAS 


Caro acadêmico. A escrita jurídica, em sua grande maioria, resume-se
à elaboração de peças processuais (ou peças jurídicas). Em linhas gerais, elas
são o texto que embasará o processo. As peças devem ser escritas, sempre em
observância à correção, concisão, clareza, precisão, naturalidade, originalidade,
nobreza e harmonia (vimos cada um deles anteriormente).

A linguagem na elaboração das peças jurídicas deve ser positiva e sem


muitos adornos, tendo como foco descrever exatamente o seu objetivo. Uma
dica que pode ser valiosa na hora de escrever a peça jurídica e que ainda não
foi mencionada por aqui é: não opine em demasia. Esteja atento e mantenha-
se focado a estas técnicas de redação, pois elas devem ter foco em normas
estabelecidas pelo direito.

O estilo de escrever um texto pessoal, como um artigo, por exemplo, não


deve ser confundido com a técnica. Vamos conhecer uma peça jurídica?

QUADRO 10 – MODELO DE PEÇA JURÍDICA

Modelo de peça jurídica referente a Pedido de Realização de Perícia em


Veículo Envolvido em Acidente

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA .........ª


VARA CÍVEL DA COMARCA DE .........

AUTOS:

Fulano de Tal, já qualificado nos Autos de AÇÃO DE REPARAÇÃO DE


DANOS em epígrafe, que lhe move ...., através de seu advogado ao final
firmado, vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência, expor e re-
querer o que segue:

Causou-nos espécie que o procurador do autor, em sua manifestação acer-


ca da peça contestatória, tenha usado termos como: "alegações infantis"
"dignas de discussões entre pessoas que não podem ser levadas a sério",
"desonestidade".

O nobre profissional, então procurador do autor, com décadas e décadas de


exercício profissional, parece nunca ter ouvido falar em ética profissional e
respeito, bastante comum entre aqueles que militam não só na advocacia,
mas no âmbito em geral.

158
TÓPICO 2 | O DISCURSO JURÍDICO

As impugnações e as alegações procedidas à peça contestatória não


procedem. Note-se que, o autor ao manifestar-se acerca do demonstrativo,
menciona que a média lá apresentada alcança o valor de R$ 35.000,00, maior
que o orçamento.
Mais uma vez demonstrada está a impossibilidade dos valores pleiteados,
pois os demonstrativos de preços efetuados pelo requerido referem-se à
aquisição de veículos, não podendo sequer de longe serem comparados
com os valores exorbitantes apresentados pelo autor para conserto.

Novamente repita-se que os orçamentos anexados pelo autor à peça inicial


não constam da autorização para a execução dos serviços, não podendo
servirem os mesmos de base de cálculo para os gastos havidos, inobstante
as ementas transcritas na manifestação.

O valor pretendido para conserto ultrapassa o valor de um carro que está à


venda no mercado.

No que se refere ao valor de R$ 35.000,00, apresentado pelo autor, trata-se


do custo de um automóvel Uno zero KM, com ágio.

Vale lembrar ao autor que estamos tratando de um Fiat Uno ano 2010 e não
um Fiat Uno ano 2018, cujo modelo e características são totalmente diversos.

Desta forma, o parâmetro usado nas argumentações do autor parece estar


um pouco distante da realidade fática.

O próprio autor no final de sua manifestação assim admite:

"A Autora mantém uma pequena oficina para resolver problemas mecânicos
dos veículos táxi e para efetuar pequenos reparos."

Para que se possa esclarecer de uma vez por todas quais foram os reais e
efetivos gastos que o autor possuiu para com o conserto de seu veículo, requer
o requerido que o MM. Juiz determine a autorização para a execução dos
serviços e a juntada da Nota Fiscal, onde discrimina as peças efetivamente
substituídas, assim como o valor da mão de obra necessária à época.

Segundo o autor, em sua manifestação, não houve necessidade de troca de


(descrição dos materiais).

Desta forma, tendo em vista que o abalroamento aconteceu na parte


traseira do veículo, imprescindível se faz que Vossa Excelência determine
uma perícia no automóvel objeto da ação a fim de que se verifique se as

159
UNIDADE 3 | A COMUNICAÇÃO JURÍDICA

peças trocadas foram as necessárias e devidas, não obstante o veículo já se


apresentar consertado.

Diante do exposto, espera o requerido seja deferida a perícia e a juntada dos


documentos pleiteados, sob pena de acarretar cerceamento de defesa.

Nestes termos,

Pede deferimento.

Local, 00 de fevereiro de 0000


Fulano de Tal, Advogado OAB/00000000

FONTE: <https://www.centraljuridica.com/modelo/298/peticao/pedido_de_realizacao_de_
pericia_em_veiculo_envolvido_em_acidente.html>. Acesso em: 6 fev. 2019.

Perceba que a peça está explicando o que ocorreu e, mesmo em uso de


inúmeros termos técnicos, é possível compreender do que se trata, não é mesmo?
Há alguns sites, como o <http://www.jusbrasil.com.br>, por exemplo, que trazem
inúmeros modelos de peças para cada ocasião.

ATENCAO

Damião e Henriques (2000) mostram o uso de alguns verbos que podem


auxiliar na redação das peças. Vamos a eles:

VERBO QUANDO USAR


Propor ou Deve ser utilizado na Petição Inicial, reconvenção, oposição e
requerer embargos à execução.
Apresentar ou Deve ser utilizado na contestação, na apresentação do rol de
oferecer testemunhas, na apresentação de quesitos e nas contrarrazões.
Arguir Deve ser utilizado nas exceções e preliminares.
Interpor Deve ser utilizado para os Recursos.
Impetrar Deve ser utilizado exclusivamente em: mandado de segurança;
habeas datas; habeas corpus, mandado de injunção, que são ações
mandamentais.
Opor Deve ser usado para os Embargos, nos quais não há mudança de
hierarquia do grau de jurisdição.

FONTE: Adaptado de Damião e Henriques (2000)

160
TÓPICO 2 | O DISCURSO JURÍDICO

Outro cuidado que deve ser tomado ao escrever peças é para que não haja
a contradição nas alegações, pois caso isso seja comprovado, o pedido poderá
ser anulado antes mesmo de ir a julgamento. Desta maneira, ao elaborar uma
peça processual, tenha em mente o seguinte silogismo: “a partir de determinados
fatos (premissa menor), há uma dada situação jurídica (premissa maior), razão
pela qual quero determinada providência jurisdicional e o pedido (conclusão)”
(DAMIÃO; HENRIQUES, 2000).

Resumindo, para um bom texto jurídico, é preciso que o advogado (ou


profissional do direito) tenha em mente que deve usar linguagem clara, delinear
apenas os fatos que são importantes, usar uma ideia para cada parágrafo (lembre-
se do tópico frasal) e lembrar-se de consultar um manual para conferir a legislação,
a doutrina e a jurisprudência corretas.

161
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• O discurso jurídico faz a ligação entre o homem, a lei e as instituições. É através


do discurso jurídico que se convence e angaria opiniões.

• O enunciado é a maneira de comunicação verbal real, na qual as mais variadas


formas de expressividade linguística se encontram.

• O discurso de defesa e o de acusação visam entusiasmar o(s) indivíduo(s) que


o(s) ouve(m) para influenciar no seu raciocínio, com o objetivo de potencializar
o convencimento.

• A redação jurídica é muito importante porque ela fica registrada.

• O parágrafo é a estrutura que mantém o texto além da palavra e da frase.

• O parágrafo é o bloco que alavanca as ideias e deve ser muito bem planejado.

• O tópico frasal é a ideia que o parágrafo busca transmitir em sua essência.

• Cada parágrafo deve trazer apenas um tópico frasal.

• É preciso pensar e organizar antes de escrever.

• Coloque no rascunho suas ideias antes de escrevê-las.

• A escrita jurídica resume-se à elaboração de peças processuais (ou peças


jurídicas).

162
AUTOATIVIDADE

1 Assinale a alternativa correta quanto à linguagem jurídica:

a) ( ) É através dela que se visa compreender a realidade social para ordenar


os comportamentos dos indivíduos por meio de normas jurídicas.
b) ( ) É através dela que se visa compreender a realidade individual das
pessoas para ordenar os comportamentos sociais por meio de normas
empresariais.
c) ( ) É através dela que se visa respeitar a realidade social para liberar os
comportamentos dos indivíduos por meio de normas jurídicas.
d) ( ) É através dela que se visa impor uma realidade social para classificar
os comportamentos dos indivíduos por meio de normas jurídicas.

2 Sobre discurso de defesa e o de acusação, analise as sentenças e marque V


para as verdadeiras e F para as falsas:

( ) A partir do discurso de defesa e acusação ocorre o julgamento.


( ) O discurso de defesa e o de acusação devem ser entusiasmados.
( ) A argumentação não é necessária para o discurso de defesa.
( ) Teatralização não se aplica aos discursos de defesa e acusação.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a resposta correta:

a) ( ) V – F – F – V.
b) ( ) F – V – V – F.
c) ( ) V – V – F – F.
d) ( ) F – F – V – V.

3 A técnica de refutação consiste em:

a) ( ) Rejeitar uma pessoa.


b) ( ) Não aceitar um advogado.
c) ( ) Desrespeitar o magistrado.
d) ( ) Ir contra uma premissa, decisão ou conclusão.

4 Um parágrafo bem estruturado consiste no desenvolvimento de:

a) ( ) Uma introdução.
b) ( ) Um tópico frasal.
c) ( ) Uma conclusão.
d) ( ) Um relatório.

163
5 Sobre as peças jurídicas, analise as sentenças e marque V para as verdadeiras
e F para as falsas:

( ) Elas podem ser chamadas de peças processuais.


( ) Palavras em latim tornam a peça mais convincente.
( ) Elas precisam ser rebuscadas e usar de juridiquês.
( ) É necessário clareza e concisão para elaborá-las.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a resposta correta:

a) ( ) V – F – F – V.
b) ( ) F – V – V – F.
c) ( ) V – V – F – F.
d) ( ) F – F – V – V.

164
UNIDADE 3
TÓPICO 3

ORATÓRIA FORENSE

1 INTRODUÇÃO
Conforme é do seu conhecimento, acadêmico, já estamos trabalhando
com a redação de peças jurídicas há algumas seções desta Unidade 3, correto?
Assim sendo, vamos agora a mais um tópico que trabalhará algumas questões
relacionadas a este assunto.

Vamos relembrar o que são as peças jurídicas? São os textos utilizados


para atividades do cotidiano jurídico, como processos, autuações, embargos e
outros. As peças jurídicas são específicas, portanto, muitas vezes será necessário
da ajuda de um bom dicionário para compreendê-las na íntegra.

Para que você possa compreender o que as peças jurídicas querem, quando
escritas, é necessário que você sempre leia bons textos da área e mantenha-se
sempre informado, afinal de contas, a leitura é uma das principais maneiras de
adquirir vocabulário.

Iniciaremos com os aspectos linguísticos e redacionais das peças jurídicas.


Vamos adiante.

2 ASPECTOS LINGUÍSTICOS E REDACIONAIS DE PEÇAS


JURÍDICAS
Acadêmico, muitas são as dicas que você já leu acerca de como escrever
bons textos jurídicos, não é mesmo? Aqui, focaremos nos textos (tanto orais
quanto escritos) de cunho forense. Trouxemos o conteúdo disposto em tópicos
porque acreditamos que é uma maneira mais tranquila de ler, não é mesmo?

Para esta seção, selecionamos para você um texto em forma de manual


desenvolvido pelos procuradores da República Gustavo Torres Soares e
Bruno Costa Magalhães. São 23 tópicos importantes que você deve atentar
para a elaboração de textos forenses. Vamos conhecê-los e, ao longo da escrita,
conversaremos sobre cada um deles.

165
UNIDADE 3 | A COMUNICAÇÃO JURÍDICA

QUADRO 11 – DICAS PARA MELHORAR A QUALIDADE DE ESCRITA DE PEÇAS JURÍDICAS

Dica número 1: um bom texto é simples, claro, objetivo e gramaticalmente


correto.

Simplicidade: embora obediente à língua culta, seu texto deve ser acessível,
com o mínimo de erudição possível, por exemplo, ao invés de outrossim,
use também.

Esta dica já estudamos, mas vale ressaltar. Seja simples e evite os vícios de
linguagem jurídica (lembra do juridiquês?)

Dica número 2: fuja da ambiguidade para não correr o risco de apresentar


dupla interpretação no seu texto, não seja irônico e não use meias-palavras.

Dica número 3: os juízes e tribunais não têm muito tempo, por isso, opte
por textos curtos e certeiros.

Aqui, é a dica da concisão: não encha linguiça.

Dica número 4: a correção gramatical é o ideal a todos os textos e,


infelizmente (ou felizmente), a única maneira de aprender é lendo.

Dica número 5: na margem esquerda, o espaço deve ser de quatro


centímetros para facilitar a leitura na hora de virar a página.

Dica número 6: qualquer destaque no texto, seja ele CAIXA ALTA, negrito,
sublinhado, itálico ou texto recuado, deve ser usado com moderação. Você
lembra do que dissemos na Unidade 1?

Destacar tudo é o mesmo que não destacar nada. Mas afinal, o que é
necessário destacar na peça jurídica? O cabeçalho (nº do processo etc.),
os itens e subitens da petição, a(s) palavra(s)-chave na conclusão de tese
desenvolvida na petição, o nome da demanda proposta ou ato processual
praticado (ação civil pública, denúncia, promoção de arquivamento etc.),
o nome das partes envolvidas; não necessitam de destaque os nomes de
testemunhas, juízes, tribunais ou autores.

Cuide também quando for usar as aspas. Elas podem evidenciar ironia,
trocadilho, citação, ambiguidade proposital, grande excepcionalidade,
ditado popular, frase-feita ou estrutura rígida de palavras. Caso não seja
nenhum dos casos anteriores, o uso é inadequado.

Dica número 7: Já no início da manifestação, seja direto. “Trata-se de


requerimento de devolução de valor indevido...” ou “O acusado requer,
na f. 35, autorização judicial para visitar o filho...”. No final, não é preciso
escrever “Nestes termos, pede deferimento”, pois é lógico que se há uma
petição, o desejo é de deferimento.

166
TÓPICO 3 | ORATÓRIA FORENSE

Dica número 8: Nos textos jurídicos, imediatamente após qualificar o(s)


acusado(s), narre com base nas informações já obtidas a(s) conduta(s)
penalmente típica(s) imputada(s) a ele(s), citando as causas de aumento e
as circunstâncias agravantes, respondendo: quem, quando, onde, como, o
que, por que, com que, com quem, para que, contra quem... e tudo o mais
que puder ajudar.

Dica número 9: contextualizar a peça é fundamental, pois ela é única.


Mesmo que de maneira sucinta, contextualize. Caso a pessoa que for ler
sua peça precisar consultar outro documento para entendê-la é porque não
ficou clara. O site citado traz o seguinte exemplo:

Evite usar: “O Ministério Público Federal, em atendimento ao despacho de


f. 145 e considerando o ofício de f. 143, reitera sua manifestação de f. 141,
para que seja reiterado o ofício de f. 139”.
Este tipo de fala apenas fará com que o leitor tenha que procurar leis e mais
leis para compreender.

Prefira uma fala assim:


“O Ministério Público Federal, em atendimento ao despacho de f. 145,
informa que, segundo o ofício de f. 143, emitido pela Receita Federal do Brasil
em Guarulhos, o parcelamento da dívida consolidada no procedimento
administrativo nº 10830.005902/2006-10, em nome da sociedade empresária
PREGOS & BROCAS LTDA. está sendo regularmente cumprido. Por isso, o MPF
aguarda a vinda de novas informações sobre o cumprimento do parcelamento;
caso elas não sejam trazidas aos autos em três meses, requer, desde já, para esse
fim, a expedição de ofício requisitório à Receita Federal do Brasil em Guarulhos.
Com a resposta, aguarda-se nova vista, para manifestação”.

Você deve estar se perguntando: mas e a concisão? Não é para escrever


textos curtos? Sim, mas neste caso, tudo o que precisava ser dito foi dito,
sem meias-palavras. Neste caso, não é “encher linguiça”, mas sim, facilitar
o texto para quem o lê. Não ser conciso quer dizer escrever coisas sem a
necessidade, o que não é o caso aqui.

Dica número 10: A abreviação para a palavra “folha” é “f.”, não importa se
no singular ou no plural. Não use “fl.” ou “fls.”. Quanto ao intervalo entre
folhas, separe-o por hífen (-), não pela barra (/).
Use: Na f. 10; nas f. 10-12.

Dica número 11: A abreviação de “número” é n. ou nº, não “n.º”.


Use: o pedido n. 10.

Dica número 12: Não use adjetivos desnecessários, por exemplo, “o nobre
Carlos de Sá”, “o supremo ensinamento do mestre Paulo Miranda”.

167
UNIDADE 3 | A COMUNICAÇÃO JURÍDICA

Exceções: quando se fizer referência ao juiz ou tribunal da causa, é comum


que, para amenizar a crítica a ser proferida, se use elogio moderado,
por exemplo: Digno juiz”, “nobre magistrado”, “douto juízo”, “egrégio
tribunal” etc.

Dica número 13: O adjetivo “anexo” concorda com o termo que o rege.
As folhas estão anexas.
A folha está anexa.
O documento está anexo.
Os documentos estão anexos.

Dica número 14: A expressão “sendo que” é uma maneira de prolongar uma
frase que poderia ter sido encurtada com um ponto. Em vez de dizer “duas
vítimas foram mortas no local, sendo que os bandidos fugiram” poderia ter
sido dita “duas vítimas foram mortas no local. Os bandidos fugiram”.

Dica número 15: A sigla “etc.” significa “e outros”. Quando, portanto, for
usar “etc.”, não use “e” ou vírgula.
Use: eles usaram máscaras, toucas, luvas etc.

Dica número 16: Não use nos seus textos o termo “menor”, mas sim
“criança” (até 11 anos) ou “adolescente” (entre 12 e 17 anos).

Dica número 17: Use números por extenso, por exemplo, a ligação caiu
duas vezes.

Exceções:
- Expressões de valores em moeda: R$ 350,00.
- Datas: 28/12/2018.
- Quantidades superiores a vinte: a ligação caiu 26 vezes.

Dica número 18: Mesmo não sendo necessário escrever valores monetários,
quando lhe for exigido, a maneira correta de escrever “R$ 1200,00” é “mil
e duzentos Reais”. O uso “um mil e duzentos reais” ou ainda “hum mil e
duzentos reais” são formas adotadas para preenchimento de cheques para
evitar alterações e estão erradas.

Dica número 19: No caso de medidas precisas de massa, espaço, tempo etc.,
embora não seja obrigatório, costuma ser útil a redação do numeral arábico
e por extenso: “1,254 g (mil, duzentos e cinquenta e quatro gramas)”, “28
m2 (vinte e oito metros quadrados)”, 19h36min (dezenove horas e trinta e
seis minutos).

Dica número 20: quando citar passagens do processo, fatos e documentos


importantes, mencione sempre as folhas em que está a informação. Isso
facilita enormemente o trabalho. Pode ocorrer que, depois do oferecimento

168
TÓPICO 3 | ORATÓRIA FORENSE

das denúncias e de outras petições iniciais os números das páginas


mudem, portanto, é importante dizer entre parênteses, logo no cabeçalho
da denúncia: “Os números de página aqui mencionados se referem à
ordenação dada pela Polícia, de modo que poderão ser alterados após
eventual repaginação judicial”.

Dica número 21: Preste atenção a esta impropriedade linguística: costuma-


se dizer que “o laudo foi anexado/acostado/apensado nas f. 13-17 dos
autos”. “Anexar” significa “reunir (o que era independente) a outra coisa,
considerada principal”; “acostar” remete a “costas”; e apensar é “juntar como
apenso (de outra coisa, considerada principal)”, ou seja: salvo nas situações
em que haja realmente a junção de feito principal e feito acessório (de modo
que este foi/será anexado/acostado/apensado naquele), prefira dizer que “o
laudo foi juntado/inserido/encartado/aposto/alocado nas f. 13-17 dos autos”.

Dica número 22: Segundo a ABNT, a forma correta de se mencionar o


município e a unidade da federação é a seguinte: Itajaí, SC (seguida ou não
de vírgula), dependendo do contexto, portanto, não use “Itajaí/SC”, “Itajaí/
S.C.” ou “Itajaí, Santa Catarina”.

Dica número 23: Todas as páginas das manifestações deverão ser numeradas
como o exemplo: “1/5”, “2/5”, “3/5”, “4/5” e “5/5”.
Lembre-se: “f. 1/5” significa “página 1, dentro do total de 5”. Já “f. 1-5”
significa “da folha 1 à folha 5”.

FONTE: Adaptado de Soares e Magalhães (2015)

Acadêmico, desejamos que você tenha aproveitado ao máximo estas dicas


de escrita forense. Agora, iremos ao tópico dedicado à oratória. Vamos adiante
que o aprendizado não para.

3 A ORATÓRIA FORENSE
Já sabemos que para a escrita forense, muitas são as dicas, conforme você
já estudou, mas, e para a oratória? Quais são as técnicas que devem ser utilizadas
para que o advogado convença o tribunal a partir da sua fala? Vamos lá.

Nascimento (2013) traz em seus escritos quais são os principais atributos


para que se domine a oratória. Há quem acredite que para ser um bom orador
basta dominar o que se está falando, não é mesmo? Ledo engano. Credibilidade,
uso da voz, uso do vocabulário, a expressão corporal e a aparência são grandes
aliados para que o orador seja bem-sucedido.

169
UNIDADE 3 | A COMUNICAÇÃO JURÍDICA

Pode-se dizer que convencer é uma das principais missões do advogado,


portanto, fazer com que sua informação seja aceita é uma das metas. É necessário,
para tal, estar preparado, caso contrário, corre-se o risco de não convencer ou de
ficar “falando sozinho”, sem que ninguém esteja, de fato, ouvindo o que a pessoa
que fala tem a dizer.

A fala com naturalidade também é comprovadamente mais bem aceita


do que a fala forçada, cheia de floreios. Para que esta técnica dê certo, é preciso,
segundo Nascimento (2013), envolver a emoção e demonstrar conhecimento
sobre o assunto em pauta.

Observe:

FIGURA 3 - O ADVOGADO

FONTE: <https://www.oversodoinverso.com.br/o-advogado-do-diabo/>. Acesso em: 07 dez. 2018.

A imagem nos faz refletir sobre o fato de que para falar com naturalidade
e demonstrar autoridade e conhecimento sobre o assunto, é preciso estudar
antecipadamente, treinando, inclusive. O bom orador não pode inventar o
conteúdo ou falar sobre o que não conhece, bem como não pode fingir ser o que
não é. Caso qualquer uma destas afirmações ocorra, ele estará dando “um tiro no
próprio pé”.

O conhecimento é a ferramenta, portanto, para fazer valer a palavra do


advogado, assim como sua credibilidade. Caso o júri ou a plateia, quando em
uma palestra, perceber insegurança nas suas palavras, haverá descrédito e sua
tarefa será descumprida, correndo até o risco de perder clientes (e se for o caso,
até o emprego).

170
TÓPICO 3 | ORATÓRIA FORENSE

Conversar naturalmente sobre o assunto é, portanto, a principal estratégia


para o bem convencer. Ninguém conversa naturalmente sobre algo que o deixa
desconfortável, não é mesmo?

Além da segurança e da naturalidade, outro lembrete importante,


segundo Nascimento (2013), é a coerência profissional. Mesmo que ainda
estagiando, não haverá crédito se você não mantiver dentro e fora do local de
trabalho certa postura. A conduta respeitosa, organizada e educada, bem como a
responsabilidade com prazos são essenciais para que você constitua a solidez de
sua imagem e aumente a credibilidade do seu discurso.

No cotidiano forense a oratória é algo praticável praticamente todos os


dias, mesmo quando não se tratar de algum julgamento. Exemplo disso é quando
o advogado vai ao gabinete do juiz para despachar um pedido ou petição urgente.
Quando chegar ao gabinete, lhe serão dados alguns minutinhos de atenção. Para
isso, é preciso dominar a oratória e comunicar exatamente qual é o problema e o
pedido, assim como destacar o motivo da urgência do caso.

A arrogância também não é um aliado favorável aos oradores forenses.


Se ao entrar na sala de audiências ele deixar transparecer arrogância, a impressão
inicial será prejudicial. Desorganização também não é uma aliada favorável. Ao
chegar com papéis caindo, amassados, com a gravata mal colocada, solta ou o
terno amassado, a impressão que passa é de uma pessoa sem responsabilidade e
sem cuidado. Lembre-se: a primeira impressão é a que fica.

Neste próximo tópico, trabalharemos com a formação do orador, a partir


de itens que auxiliarão você a trabalhar suas habilidades. Todos nós temos a
capacidade de sermos os melhores. Basta querer, se dedicar e ir além. Lembre-se
de que enquanto você está descansando, há alguém lutando para ser o melhor.

3.1 A FORMAÇÃO DO ORADOR


“Uma coisa bela persuade por si mesma, sem necessidade de um orador”,
já dizia William Shakespeare. Muitas são as características que o bom orador
precisa ter para se tornar bem-sucedido, já que é por meio delas que mesmo o
mais inexperiente é capaz de discursar bem diante da plateia.

Para além do já tão mencionado conhecimento de causa, ainda há algumas


características importantes das quais vale a pena lembrarmos. Vamos a elas?

3.1.1 Modulação da voz


Não há nada mais chato do que uma voz robótica falando ao microfone,
não é mesmo? Para ser um bom orador, evite este tom de voz ensaiado. A
velocidade e o ritmo constantes também precisam ser observados.

171
UNIDADE 3 | A COMUNICAÇÃO JURÍDICA

Uma excelente maneira de ver como você está se saindo é gravar-se


falando. Com a facilidade que temos a partir do uso dos celulares, por exemplo,
é muito tranquilo falar sobre um assunto e gravar sua própria voz. Depois, é
possível identificar os possíveis erros e ver se sua voz está monótona.

Pergunte-se: você gostaria de se ouvir? Por mais feliz que a mensagem


seja, por mais conteúdo que ela traga, um tom inadequado pode estragar
completamente a mensagem do seu discurso.

3.1.2 Autoconfiança
Confie em si mesmo. Se você foi chamado a palestrar é porque você é
bom. O medo da plateia é bem comum, mas pode ser evitado com algumas dicas
simples. Uma dessas dicas é conhecer sua plateia. Saiba se estará falando com
professores, com médicos, com administradores.

Outro item importante é: treine seu discurso previamente para que não
haja inconvenientes. Algumas pessoas, porém, ainda precisam de uma ajuda
extra. Há alguns cursos, inclusive on-line, que ajudam a perder o medo e a
insegurança na hora de falar ao público.

Uma dica que parece boba, mas que funciona: imagine que você está
sozinho no palco. Mentalize que está sozinho, falando com as paredes. Outra dica
é imaginar que, naquele momento, você está usando uma máscara e ninguém
pode ver seu rosto. Esta é uma dica que ajuda o pânico a ir embora rapidinho.

3.1.3 Empatia
Goste daquilo que você está falando e mostre que gosta. Acredite naquilo
que está falando e mostre que acredita. Ao falar sobre um assunto pelo qual é
apaixonado, você apaixonará sua plateia por ele. Imagine-se falando sobre seu
primeiro amor no auge da sua paixão. Deixe que seus olhos brilhem e você
encantará a todos.

Quando você não está seguro sobre o que realmente sabe sobre um assunto,
aprofunde-se. Encontre a essência. Somente assim você fará uma apresentação
memorável que valerá cada segundo gasto estudando.

3.1.4 Capacidade de síntese


Seja sucinto. Ao fazer isso, seu discurso será bem aceito pelo público. Caso
você não saiba como direcionar suas ideias, sua apresentação poderá ficar sem
rumo, entediante e confusa.

172
TÓPICO 3 | ORATÓRIA FORENSE

Certamente você já ouviu alguma palestra na qual o orador “falou, falou,


falou e não disse nada”, não é mesmo? Não deixe que as pessoas tenham essa
imagem de você. Prepare-se e seja o melhor.

3.1.5 Bom humor


O bom orador não é mal-humorado. A reação ao bom humor é natural do
ser humano, portanto, use-a a seu favor. Quando precisar inserir frases e situações
engraçadas em seu discurso, faça-as com entrega e perceba a reação do público.

Não esqueça, porém, de tomar cuidado quando o assunto for delicado,


pois o público pode entender de maneira equivocada e enxergar o bom humor
como deboche.

3.1.6 O orador na tribuna e o uso do microfone


Além de todas estas dicas, há ainda o tão temido microfone. Muitas
pessoas, ao receber em mãos um microfone, simplesmente travam. Quando o uso
do microfone é rotineiro esta situação não ocorre, mas quando é algo esporádico,
geralmente é isso que acontece.

Seja em situações relacionadas a trabalho ou a eventos particulares, todos


nós estamos sujeitos a, algum dia, encarar uma plateia. E junto a ela, o microfone.
Você sabe como usar o microfone corretamente? Antes de qualquer orientação,
faremos uma breve apresentação de cada um dos microfones existentes, ou pelo
menos dos mais comuns quando se trata de apresentações a público.

FIGURA 4 - MICROFONE DE PEDESTAL

FONTE: <https://goo.gl/M7KQzz>. Acesso em: 29 dez. 2018.

173
UNIDADE 3 | A COMUNICAÇÃO JURÍDICA

Este microfone fica apoiado em uma base fixa. Geralmente ele pode ser
retirado para dar maior mobilidade ao orador.

Cuidado: cuidado ao se aproximar do retorno, pois este é um dos


microfones mais suscetíveis à microfonia. Também tome cuidado caso o microfone
seja com fio, para não tropeçar.

FIGURA 5 - MICROFONE DE LAPELA

FONTE: <https://goo.gl/vD26TZ>. Acesso em: 29 dez. 2018.

Este tipo de microfone é usado preso à roupa por uma presilha.

Cuidado: ao usar cabelo solto, cuidado para não deixar com que ele fique
batendo insistentemente no microfone, causando ruídos desagradáveis.

FIGURA 6 - MICROFONE DE MESA

FONTE: <https://goo.gl/avFrz2>. Acesso em: 29 dez. 2018.

174
TÓPICO 3 | ORATÓRIA FORENSE

Este microfone fica sobre a mesa, apoiado em haste flexível.

Cuidado: antes de começar a falar, certifique-se de que o microfone é


ajustável, para não ter que ficar esticando o pescoço na hora de falar.

FIGURA 7 - MICROFONE AURICULAR (HEADSET)

FONTE: <https://www.keepsound.com.br/produto/2937/microfone-headset-condensador-
cardioide-sem-fio-sm35-tqg-shure.html>. Acesso em: 29 dez. 2018.

Este microfone é ligado a uma caixa presa à cintura, fixado à orelha, de


onde sai a haste que vai até a boca e capta o som.

Cuidado: não encoste muito a boca no headset, para que sua voz saia
naturalmente.

Dicas gerais para uso do microfone:

• Mantenha uma distância adequada: antes de iniciar sua fala, procure ajustar
o microfone a uma altura adequada, para que você não precise se esticar para
falar. Também é aconselhável que o microfone não cubra seu rosto. Sua voz
não deve sair muito estridente nem muito baixa. Caso seja microfone de lapela,
cuide com os cabelos.
• Tenha cuidado com os ruídos emitidos por você: mexer as mãos, mexer em
papéis, palmas, bater no peito, estalar a língua, soprar ou respirar com muita
intensidade ficam muito evidentes quando no microfone e são absurdamente
desagradáveis para o público. Para testar o microfone, diga em voz alta “teste”
ou “som”. Jamais dê palminhas no microfone ou assopre.
• Cuidado redobrado com os comentários próximos ao microfone. Já houve casos
extremamente constrangedores nos quais o palestrante fez um comentário
sobre a roupa de uma mulher pensando que o microfone estava desligado e na
verdade não estava. Não é preciso relatar quão constrangedora foi a situação.
• Crie um vínculo com seu público olhando para eles, fazendo brincadeiras,
estabelecendo uma conversa. Não fique olhando fixamente para um ponto apenas.

175
UNIDADE 3 | A COMUNICAÇÃO JURÍDICA

• Não enrole o fio do microfone enquanto fala. Isso pode causar problemas,
também não fique caminhando freneticamente de um lado para outro do
palco. As pessoas ficarão cansadas de acompanhá-lo.
• Por fim, evite a microfonia. Como ela ocorre? Quando você envolve com a
mão o globo do microfone como se quisesse tapá-lo ou quando você passa
na frente das caixas de retorno (caixa de som). A microfonia é extremamente
desagradável para quem ouve e pode tirar sua concentração.

3.2 A VOZ, A DICÇÃO E A PRONÚNCIA


Nesta etapa do seu material, estudaremos um pouco mais sobre a voz, a
dicção e a pronúncia das palavras. Estas são as matérias-primas do orador, você
concorda? Sem palavra, não há discurso.

O entendimento também faz parte do discurso, pois sem entendimento


não há compreensão. Para tal, cada palavra que está sendo pronunciada por você
precisa ser compreendida pelo seu público. Para que esta compreensão ocorra, é
preciso uma boa combinação entre voz, dicção e pronúncia. Vamos aos conceitos:

• Voz: A voz do ser humano é mais do que uma produção de som. Ela é a
principal forma de comunicação utilizada, por ser rápida e natural. A voz faz
parte da nossa personalidade e é um meio essencial de atingir o outro. Ela é
produzida quando as pregas vocais vibram pela passagem do ar. Ao falar ou
cantar, nosso cérebro envia mensagens aos músculos que controlam as pregas
vocais para que haja o controle da aproximação e do afastamento das pregas
vocais, fazendo com que diferentes entonações saiam.

FIGURA 8 - AS PREGAS VOCAIS

FONTE: Adaptado de <https://goo.gl/5fuwPT>. Acesso em: 07 dez. 2018.

176
TÓPICO 3 | ORATÓRIA FORENSE

• Dicção: consiste na maneira de falar com a articulação e modulação


corretas. Para aqueles que desejam se expressar melhor, é algo que deve ser
observado. Quando o orador alcança a dicção, sua expressão oral torna-se
mais compreensível, aumentando a eficácia da fala pelo fato de ele ser melhor
compreendido.
• Pronúncia: é a maneira que utilizamos para pronunciar os sons.

Percebe-se claramente que estes três conceitos caminham juntos, não é


mesmo? Porém, o bom uso da voz, da dicção e da pronúncia só será posto à
prova quando você tiver de encarar grandes desafios, como plateias maiores e
pronúncia de palavras difíceis.

Em diversas ocasiões, a pronúncia correta das palavras é tão importante


quanto a própria palestra em si. Para conseguir convencer ou persuadir alguém,
erros não são aceitos. Dependendo da ocasião, um erro na pronúncia pode por
tudo a perder.

Para aprender a falar com técnica, não existe nenhum milagre. Existem
sim o treino, o estudo e a dedicação. A nossa voz é nosso principal instrumento
na hora de nos comunicarmos. Quando a ideia da fala é persuadir, que é o caso da
linguagem jurídica, isso se reafirma ainda mais: um discurso claro e com a dicção
perfeita é meio caminho andado para o sucesso.

O ideal é que não ocorram erros na fala, mas podemos afirmar que quanto
menores forem os escorregões na hora da fala, maior será sua credibilidade.
Imagine-se monitorado por uma buzina: cada vez que você pronunciasse uma
palavra errada, a buzina soasse. Quantas vezes você seria surpreendido?

Uma dica para começar a sua fala sem problemas com a dicção é o
relaxamento. Na Unidade 1, nós passamos a você algumas dicas para relaxar a
voz. Elas serão, em parte, retomadas aqui. Para que seu discurso esteja relaxado
e bem articulado, sua voz precisa estar sem tremores e sua boca (língua e lábios)
devem estar relaxados.

E
IMPORTANT

Volte à Unidade 1 e veja quais são as técnicas usadas para o relaxamento da


voz. É importante.

Os trava-línguas, por exemplo (aquelas brincadeiras cheias de palavras


difíceis), são boas ferramentas para você repetir e trabalhar os músculos da boca.
Esses exercícios ajudam a articular a língua e os maxilares.

177
UNIDADE 3 | A COMUNICAÇÃO JURÍDICA

UNI

Recite trava-línguas para que você possa soltar a mandíbula e relaxar.

Outra dica para treinar a dicção é fazer algumas caretas. Os movimentos


exagerados costumam relaxar a face. Passar a língua de forma circular dentro
da boca, repetir a palavra “muá” com movimentos intensos e repetir sons como
“trrrrr” ou “vrrrrr” auxiliam (e muito) a ter melhor dicção. Uma dica é fazer seu
próprio cronograma.

Estes exercícios tonificam os músculos, o que é importante, porque nosso


corpo é esperto e sempre busca o caminho mais curto na hora de terminar a frase,
por exemplo. Isso faz com que nossa pronúncia de final de frase fique com menos
ênfase. Exercite a musculatura.

UNI

Pouco mais de meia hora por dia fazendo exercícios já é suficiente para que os
resultados sejam visíveis na hora da apresentação.

Tenha sempre em mente, acadêmico, que não adianta ter o conteúdo na


ponta da língua se você não consegue passar a mensagem que deseja. A voz, a
dicção e a pronúncia correta das palavras são fundamentais para se tornar um
bom orador, por isso treine, estude, faça os exercícios que forem precisos.

3.3 INTENSIDADE, FLUTUAÇÃO, VELOCIDADE


Nosso último tópico acerca da oratória forense trata-se da intensidade,
da flutuação e da velocidade com que você pronuncia suas palavras. De certa
forma, isso tem a ver com o tópico anterior, que trata de dicção, porém, podem
existir pessoas amplamente articuladas, mas que são oradores “mono tom”, ou
seja, falam sempre na mesma intensidade. Ou que falam corretamente, mas que
pronunciam tão rápido que as pessoas não conseguirão entender.

Equilíbrio é a chave. A pior sensação para o orador, acreditem, é perceber


que você fala, mas não é ouvido. Quem nunca passou por isso em casa? É
desagradável, não é mesmo? Quando nos propomos a falar, é porque há algo

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TÓPICO 3 | ORATÓRIA FORENSE

importante que precisa ser dito. Por este motivo, queremos que o outro nos ouça
e preste atenção.

Treasure (2014), em sua obra Sound Business, apresenta algumas técnicas


para quem deseja comunicar melhor. Qualquer um de nós pode aplicá-las, não só
para sermos oradores profissionais, mas para o dia a dia.

A primeira trata-se de encontrar uma frequência confortável para a sua voz.


Isto quer dizer que não adianta você falar mais alto do que costuma comumente,
ou muito baixo. Você até poderá sustentar esse tom por alguns minutos, mas logo
estará com a garganta irritada e com a voz aparentemente cansada.

Seu discurso, quando você fala confortavelmente, soará natural e você


evitará a possibilidade de ficar sem voz ou rouco no meio da apresentação.
Lembre-se: você tem microfone. Não precisa gritar ou falar cinco tons mais altos
que o seu normal. Não abuse dos graves e agudos e respeite seu intervalo vocal,
que é o seu máximo tanto para o grave (grosso) quanto para o agudo (fino).

A segunda dica trata-se da escolha do timbre ideal. Há pesquisas que,


segundo Treasure (2014), comprovam que as pessoas com voz suave são melhores
ouvidas do que as que têm voz mais áspera. Mas não se preocupe. Ter voz suave
é questão de prática.

Quanto ao ritmo da sua fala, fique atento para não engatar a primeira
marcha e sair correndo. Brincadeiras à parte, pessoas que falam muito rápido
transmitem ansiedade ou nervosismo e pessoas que falam muito devagar
transmitem moleza e preguiça. Assim sendo, fique atento e fale devagar e
constantemente.

A última e mais preciosa das dicas, por incrível que pareça, é: saiba
silenciar quando for necessário. Parece paradoxal quando falamos em discurso,
em oratória. Mas o silêncio faz parte da comunicação e saber usá-lo é muito
importante. Durante uma apresentação, as pausas são muito importantes.

Além de permitirem que os ouvintes assimilem o que ouviram e consigam


concentrar-se para o próximo bloco de ideias. Não tenha medo de silenciar.
Excelentes comunicadores usam esse recurso para que seus discursos fiquem
mais interessantes. Lembre-se sempre: o segredo é manter o foco dos ouvintes.
Bons oradores não dispersam o público.

Acadêmico, agora você já tem em mãos todas as ferramentas para ser um


excelente comunicador forense, desejamos que tenha todo o sucesso do mundo.
Faça leituras, leia os links indicados nos UNI e acesse a bibliografia básica e
complementar da disciplina. Aprimore sempre mais seus conhecimentos.

Desejo que tenha uma excelente jornada!

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UNIDADE 3 | A COMUNICAÇÃO JURÍDICA

LEITURA COMPLEMENTAR

Kelly Graziely da Cruz

Linguagem: qual sua importância no mundo jurídico?

A sociedade depende fundamentalmente da linguagem. O que é a


linguagem, porém? Em qualquer dicionário de língua portuguesa significa “o uso
da palavra articulada ou escrita como meio de expressão e de comunicação entre
pessoas”, isto é, a linguagem é a forma de comunicação entre os seres humanos e
para isso utiliza-se da ferramenta palavra e seus respectivos significados.

O Direito, por sua vez, é um conjunto de normas, ou seja, um dever ser


expressado por meio de textos escritos e transmissão oral que nada mais são do
que uma linguagem. A linguagem é um conjunto de signos naturais e artificiais.
Os signos artificiais são elaborados pelo homem e possuem uma base (dicionário)
e um contexto (da base retira-se um significado que seja mais coerente com o
contexto em análise). A linguagem tem três aspectos relevantes: a sintática (signo
+ signo); a semântica (signo + referente – a imagem convencionada culturalmente);
e a pragmática (signo + contexto e usuário). Logo, o mundo jurídico tem como
principal instrumento de labor a linguagem.

Atualmente o mundo jurídico busca soluções para os casos concretos


ou conflitos da sociedade na hermenêutica, com seus métodos interpretativos,
principalmente averiguando a linguagem das normas. Deve-se salientar,
entretanto, que ainda hoje se dá pouca importância à parte teórica do Direito,
preferindo-se mais o Direito substancial que o material, ação totalmente errônea,
pois a prática para ser boa necessita muito da formação teórica do profissional,
ou seja, de sua argumentação. Assim, é extremamente importante analisar a
interpretação e, consequentemente, a linguagem do Direito.

Em vista disso, percebe-se que o Direito instrumental não pode ser visto
como uma lógica matemática, em que dois mais dois são quatro, e sim interligado
ao Direito material, estudando os dois conjuntamente. Com isso vem à tona o
problema da linguagem e até onde o Direito tem uma linguagem extremamente
técnica? Será que o mundo jurídico se “aliena” da linguagem vulgar?

Para saber se o Direito tem linguagem técnica ou natural é preciso conhecer


as duas divisões. A linguagem natural se caracteriza por ser o instrumento de
comunicação por excelência entre os seres humanos, não se preocupando com
rigor científico ou técnico, enfim, é a linguagem espontânea. Por outro lado, a
linguagem técnica tem um caráter mais científico, com signos determinados,
embora encontre sua base na linguagem natural.

É fundamental destacar que a linguagem ordinária não é suprimida pela


jurídica, sendo que a vulgar possui pressupostos e elementos constitutivos do

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TÓPICO 3 | ORATÓRIA FORENSE

Direito. O Direito, muitas vezes, se afasta da realidade reduzindo as pessoas à


condição institucional. Várias vezes, se não em todas, o discurso da argumentação
jurídica alega posições que não aquela que nos convém naquele momento, sendo
este um discurso puramente institucional.

Em vista disso, para ser um jurisconsulto renomado, não se pode


esquecer a linguagem comum, visto que o cliente é afeito apenas à linguagem
diária e o advogado terá de lhe responder na mesma linguagem, caso contrário
não será entendido. A autora Joana Aguiar e Silva, citando o ilustre jurista
White, aborda o seguinte: “E uma vez que a história tanto começa como acaba
na linguagem e experiência vulgares, o essencial do Direito é o processo
de tradução através do qual tem que trabalhar da linguagem vulgar para a
jurídica e outra vez para a vulgar”.

A legislação não é imutável, uma vez que a sociedade se modifica a cada


minuto. O legislador se refere à mulher honesta, mas o que é honestidade hoje? É
o mesmo que significava quando a regra foi elaborada, em 1940?

É dizer que a linguagem possui vários segmentos no âmbito da sociedade,


como a dos médicos, dos juristas e da população em geral, que é universal e todos
a entendem. O Direito tem sua própria linguagem e é através das palavras ou
signos que se exterioriza a lei, que por sua vez deve ser interpretada e aplicada
ao caso concreto. Então, a arte das palavras faz com que o jurista descubra a
solução mais adequada. Salienta-se que o jurista com vocabulário pobre não terá
sucesso profissional. De outro lado, o Direito não pode esquecer da linguagem
comum, visto que tudo começa com a linguagem vulgar e com esta também
termina. Na verdade, o que ocorre é uma tradução, assim como traduzir uma
língua estrangeira desconhecida.

A linguagem, além disso, não é extremamente clara e objetiva, havendo


imprecisão em seus signos, entrando em cena as figuras da vagueza e da
ambiguidade. A vagueza tem uma dimensão denotativa (o que é?), por exemplo,
a palavra “careca” tem vários significados e deve-se averiguar no caso concreto
a qual deles a palavra está sendo aplicada. A ambiguidade, dimensão conotativa
(qual dos sentidos?), por exemplo, “manga”, pode ser de uma blusa ou uma fruta. O
Direito também contém em suas normas as figuras da vagueza e da ambiguidade,
tendo inúmeros casos de imprecisão ou de dúvidas de interpretação acerca da
significação de algum termo contido na lei.

O Direito, deste modo, é interligado à linguagem, quem sabe até mais


que o próprio curso de Letras, por isso a importância de aprofundar os estudos
com um vocabulário enriquecido e ao mesmo tempo conseguir a tradução desta
linguagem técnica para a comum, para ser entendida por todos indistintamente.

O mundo jurídico, com o uso da retórica, procura solucionar os conflitos


da sociedade e é por meio da linguagem que as leis se exteriorizam, sejam elas
escritas ou verbais. Daí a preocupação dos mestres em ensinar um palavreado

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UNIDADE 3 | A COMUNICAÇÃO JURÍDICA

mais rebuscado aos acadêmicos para que tenham uma formação mais aberta e não
sejam simples formalistas, quer dizer, aplicar a lei tal qual é, estritamente formal,
devendo aplicá-la, mas sob o aspecto social e atual, em que o fato se concretizou,
utilizando as palavras para obter o resultado almejado. De tal modo, no âmbito
jurídico a comunicação é o fator que viabiliza a existência do Direito.

Assim, a linguagem do Direito é técnica, porém é a vulgar que o torna


entendido pelos leigos. Por isso tal importância da linguagem na vida do jurista,
e até se deve conhecer mais a fundo as palavras e seus significados para construir
uma interpretação criativa com embasamento forte e convincente.

É necessário ainda inferir que a linguagem, sendo uma forma de comunicação


entre as pessoas, busca construir signos com significados para uma relação clara e
objetiva. A linguagem técnica, por ter um caráter de cientificidade, deixa muitas
pessoas confusas e por isso a importância de operadores jurídicos para sanar essas
dúvidas, esclarecendo os termos técnicos que a ciência do Direito possui.

Conclui-se nessa pequena e rápida análise que o Direito não deve reduzir-se
a uma só linguagem, apesar de não poder se afastar da tecnicidade de suas normas.
Ou seja, a linguagem do Direito não é exclusivamente natural ou exclusivamente
técnica, mas composta de ambas as espécies, podendo-se denominar a linguagem
jurídica como mista. Afinal, em decorrência da necessidade de se cumprir as
normas, a linguagem empregada nas normas jurídicas, ou melhor, na tradução
destas, deve se basear na linguagem natural para que o Direito cumpra o seu
papel de controle social e resolução de conflitos.

Linguagem e Direito são, portanto, como “a panela e a tampa”, e o Direito


nada seria sem a linguagem. Logo, o Direito não é e não pode ser uma linguagem
estritamente técnica nem especificamente vulgar, bem como o acadêmico ou
operador jurídico não deve se ater apenas ao Direito instrumental, “esquecendo-
se” do Direito material, devendo haver um equilíbrio entre ambos para obter um
bom desempenho jurídico e social, traduzindo os termos jurídicos e esclarecendo
as pessoas em geral.

FONTE: disponível em: <https://goo.gl/pG7QQf> Acesso em: 29 nov. 2018.

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RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• A escrita de peças jurídicas é bastante delicada, por isso requer muita atenção.

• Ser simples e objetivo são grandes ferramentas para poder alcançar o sucesso
nas peças jurídicas.

• A ambiguidade deve ser evitada nos textos jurídicos.

• É importante ficar atento para a correção gramatical do texto. Não há nada


pior do que textos com erros gramaticais.

• Credibilidade, uso da voz, uso do vocabulário, a expressão corporal e a


aparência são grandes aliados para que o orador seja bem-sucedido.

• Falar com naturalidade surte melhores efeitos no discurso jurídico.

• Nada de arrogância na sua fala!

• Ser bem-humorado e sintetizar a fala é importante para conseguir melhores


resultados.

• Quando usar microfone, ajuste-o antes de começar a falar.

• Deve-se tomar cuidado com a microfonia: evite passar na frente das caixas de
som e envolver o globo do microfone.

• Aquecer sua voz antes de entrar no palco é fundamental, bem como relaxar a
mandíbula.

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AUTOATIVIDADE

1 Assinale a alternativa correta quanto ao aquecimento da voz:

a) ( ) Aquecer a voz é imprescindível para qualquer atividade de fala.


b) ( ) Aquecer a voz é imprescindível quando a voz será usada por um
longo tempo.
c) ( ) Aquecer a voz não é necessário quando a palestra for curta.
d) ( ) Aquecer a voz provoca calos nas pregas vocais.

2 Sobre as peças jurídicas, analise as sentenças e marque V para as verdadeiras


e F para as falsas:

( ) As peças jurídicas devem ser escritas com rebuscamento.


( ) As peças jurídicas devem ser difíceis de compreender.
( ) A concisão é um dos elementos fundamentais para a elaboração das peças
jurídicas.
( ) Numerar as páginas é importante para o acompanhamento da peça.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a resposta correta:

a) ( ) V – F – F – V.
b) ( ) F – V – V – F.
c) ( ) V – V – F – F.
d) ( ) F – F – V – V.

3 A formação do orador deve ser para, exceto:

a) ( ) Um discurso fechado e monótono.


b) ( ) Uma fala natural e confiante.
c) ( ) Convencer e persuadir o ouvinte.
d) ( ) Manter a plateia atenta ao que está sendo dito.

4 É importante o profissional de direito manter a postura, mesmo fora do


ambiente de trabalho, porque:

a) ( ) Não é interessante entrar em desavenças.


b) ( ) A imagem do orador traz credibilidade ao discurso.
c) ( ) Há maiores chances de ser bem-sucedido.
d) ( ) Ninguém confia em pessoas que não têm postura.

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5 Sobre os cuidados que se deve ter quando se está no palco, analise as sentenças
e marque V para as verdadeiras e F para as falsas:

( ) Para testar o microfone deve-se dar leves tapas no globo ou assoprar.


( ) Não é interessante caminhar freneticamente de um lado para outro.
( ) Balançar os braços excessivamente pode demonstrar despreparo.
( ) Manter um tom de voz mais alto do que o seu, no ato da fala, demonstra
segurança.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a resposta correta:

a) ( ) V – F – F – V.
b) ( ) F – V – V – F.
c) ( ) V – V – F – F.
d) ( ) F – F – V – V.

185
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