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As Normas do Primeiro Congresso da Língua Nacional Cantada


por Luciano Carôso

1. Introdução

Dos dias 7 a 14 de julho de 1937, se reuniram no foyer do teatro municipal

de São Paulo, algumas das figuras mais representativas da época nas áreas de

lingüística, dramaturgia e musicologia no Brasil, com uma importante finalidade:

"estabelecer as normas de como se deve cantar na língua do país"1 . Este encontro, que

"foi também o primeiro Congresso musical realizado no Brasil", chamou-se Primeiro

Congresso da Língua Nacional Cantada. Seus anais são o objeto de observação deste

trabalho, mais especificamente, as Normas para bôa pronúncia da Língua Nacional no

canto erudito.2

2. Olhar Sobre Alguns Argumentos dos Congressistas

Apesar de não ser este o propósito principal no momento, é interessante

observar alguns aspectos expostos no trecho posterior à introdução, cujo título é A

Língua-padrão. Neste, seus autores apresentam justificativas para a normalização que

àquela altura se pretendia. Estas justificativas porém lançam argumentos que podem ser

questionados. Evidencia-se a necessidade premente das normas expondo-se:

Pode-se dizer que não existe país algum civilizado que não procure conhecer, estabelecer
e tradicionalizar as suas manifestações filológicas e artísticas. ( . . . . ) É sabido que na
Itália existe uma maneira artística de pronunciar o italiano, no teatro ou na declamação.
Na França uma longa tradição do bem falar se estabeleceu nos teatros, como o exemplo
normativo da Comédie Française e do Conservatório de Paris. Na Alemanha, a linguagem
do Hannover foi escolhida para o teatro erudito, como a que mais correspondia
foneticamente á pureza da língua alemã. [normas, pg. 4]

1
Anais do Primeiro Congresso da Língua Nacional Cantada, São Paulo, Departamento de Cultura, 1938.
As duas primeiras citações dizem respeito à Introdução, páginas 3 a 4. Todas as outras são das "Normas
para bôa pronúncia da Língua Nacional no canto erudito", páginas 49 a 94, doravante chamado
simplesmente de "Normas". A cópia usada para referencia neste trabalho é da Revista Brasileira de
Música, 1º fascículo, Rio de Janeiro, Escola Nacional de Música da Universidade do Brasil, 1938, páginas
1 a 35. A Bibliografia no final deste trabalho deve ser vista como relevante complemento ao leitor
interessado sobre o assunto ou, em alguns casos, como suporte de consulta.
2
Tais Normas foram elaboradas definitivamente por Antenor Nascentes, Luís Heitor Corrêa de Azevedo
e Mário de Andrade, a partir de um Anteprojeto proposto pelo próprio Departamento de Cultura.
2

Itália, França e Alemanha vêm de uma prática cultural milenar, sendo estes

países inclusive dos mais representativos na história da música cantada ocidental, além

de terem dimensões territoriais substancialmente menores que o Brasil, o que nos coloca

numa posição essencialmente diferente da deles. As padronizações que implementaram

são fruto de exercício contínuo durante séculos enquanto que aqui, mal saímos da

infancia cultural. Fala-se também em "artistas, Portugueses, Espanhóis e Italianos, ou

ainda mesmo Brasileiros filhos de estrangeiros, que surgem numerosamente no palco

nacional, num desprêzo cego do bem dizer, e que carreiam para a nossa linguagem sons

espúrios, sutaques estrambóticos, desnorteando a naturalidade e a pureza da língua!"

[Normas, pg. 5], salientando-se os malefícios das diversidades de pronúncias com

ênfase em regionalismos. Longe de querer por à prova a necessidade da normatização e

por considera-la essencial, torna-se mister afirmar que diversidade de pronúncias

fonéticas regionais não desnorteiam a pureza da nossa língua, até porque está é

improvável de acontecer, mesmo que restrita às manifestações artísticas, já que falamos

de uma quase incomensurabilidade geográfica aliada a profunda pluralidade étnica. O

texto inclusive se mostra, em alguns momentos, com idéias incongruentes já que fala

em língua-padrão e uniformidade de falar, declamar, cantar, mas afirma que "não existe

fonema sem timbre ou palavra sem sonoridade" [Normas, pg. 5]. Constata-se nos dias

atuais uma realidade antagônica à prevista pelos que consideravam a fixação dessa

língua-padrão como "mais um fator patriótico de unidade nacional" [Normas, pg. 6]:

não só não houve a padronização nos moldes colocados como, em níveis até mais

amplos, o orgulho parece brotar da diversidade e não da unidade.

A escolha da pronúncia carioca parece postar-se também em argumentos

poucos sólidos: "apresenta-se como a mais evolucionada dentre as pronúncias regionais

do Brasil" [Normas, pg. 6]; "a mais rápida e mais incisiva de todas" [Normas, pg. 7]; "a
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de maior musicalidade" [Normas, pg. 7]; "a mais elegante" [Normas, pg. 7]; "produto

inconsciente, uma síntese oriunda das colaborações de todos os brasileiros" [Normas,

pg. 7], etc. Como exposto anteriormente, distante da contraposição aos respeitáveis

nomes que participaram do evento,3 em total consciência da importância, pertinência e

validade de tal iniciativa, permanece a necessidade de compreender as circunstâncias

nas quais ela aconteceu para que se possa entender os sucessos e os fracassos desta

normatização nos anos que se seguiram.

3. Normas Propriamente Ditas

As Normas apresentadas pelos congressistas consideram separadamente

cada uma das 19 vogais e 25 consoantes que existiam na chamada língua padrão vigente

na época4 . Analisam também ditongos, hiatos, encontros consonantais e outros aspectos

além de sugerir o pronunciar correto em várias situações fonêmicas.5 Neste trabalho as

normas foram dispostas de forma um pouco diferente da original para melhor se

adequar aos propósitos do mesmo.

3.1 Valor Relativo de Vogais e Consoantes

"As vogais são na verdade os sons das palavras, e por isso devem tomar
aproximadamente todo o tempo que duram os sons musicais. As consoantes quer
precedendo, quer sucedendo á vogal silábica, são ruídos que se ajuntam ao som
vocálico. (. . .) Devem por isso as consoantes ser articuladas com nitidez perfeita, mas
sempre com a maior brevidade" [Normas, pg. 9].

Fig. 1
Vogais som, prolongamento
Consoantes ruído, brevidade

3
Mário de Andrade, Luis Heitor Corrêa de Azevedo e Antenor Nascentes são porta-vozes neste
documento de outros como Manuel Bandeira, Oneida Alvarenga, Frutuoso Viana, Camargo Guarnieri,
Francisco Mignone, Claude Levi-Strauss e Cecília Meireles.
4
Constatou-se pequenas modificações entre os fonemas considerados na época e os atuais. Este trabalho,
por seu caráter introdutório e enfoque histórico, mantém as vogais e consoantes originais.
5
Vale salientar que serviram como base para a elaboração do Anteprojeto usado como referencia, as
seguintes publicações: O Linguajar Carioca em 1922 e O Idioma Nacional - 1933 - Antenor Nascentes;
Lições de Português - 1934 - Souza da Silveira; O Português do Brasil - 1936 - Renato Mendonça; A
Língua do Nordeste - 1934 - Mário Marroquim; Dialeto Caipira - 1920 - Amadeu Amaral; além do
relatório apresentado pela Comissão nomeada para estudar a pronúncia carioca.
4

3.2 As Vogais

"São 19 as vogais da língua-padrão:

A
oral aberto (vatapá)
oral surdo (cola)
nasal fechado (rã)
E
oral aberto (fé)
oral fechado (ipê)
oral surdo (covarde)
nasal fechado (vem)
nasal surdo (então)
I
oral aberto (vil)
oral fechado (cima)
nasal (vim)
O
oral aberto (só)
oral fechado (cor)
oral surdo (ato)
nasal fechado (som)
nasal surdo (camondongo)
U
oral aberto (sul)
oral fechado (tudo)
nasal (rum)" [Normas, pg. 8]

3.2.1 Vogais Abertas e Fechadas

"Tanto na língua-padrão dos cariocas, como em geral em quasi todas as


pronúncias regionais cultas do Brasil, são mais numerosas as vogais fechadas que as
abertas. (. . .) Onde os Portugueses (. . .) dizem amámos, nós Brasileiros dizemos
amâmos" [Normas, pg. 9]. Há também influência da tônica sobre a pretônica ou as
pretônicas, ou seja: se a vogal tônica for aberta, há uma tendência que a anterior ou as
anteriores também o sejam. O mesmo se verifica se as vogais tônicas forem fechadas.

Fig. 2
Fechado Aberto
Esquecer (i)squ(i)ci
Remeter Remiti
Dever d(i)vi
de noite d(i) dia
ao pé d(â) cama ao pé d(á) casa

“Em muitos casos porém esta quase tendência (para a vogal fechada) não é

observada. Diremos com os cariocas adôtar, prêgar (religião), pêgada ao inverso dos
5

Portugueses: adòtar, prègar, pègada” [Normas, pg. 9]. Verifica-se porém que,

principalmente no norte e nordeste do Brasil, o falar português parece ser muito mais

praticado.

3.2.1.1 Regiões Compromissórias

Nos sons agudos e super-agudos do registro vocal, discretamente fechar.

Nas regiões graves e super-graves, abrir levemente. Isto parece ser uma tendência entre

os cantores eruditos e realmente há razão para tal. Caso contrário, tanto a evidência na

metalização acentuada do agudo como no timbre opaco do grave, dificultariam o

entendimento do texto.

3.2.2 Vogais Reduzidas

Preserva-se a tendência vinda da pronúncia regional nordestina na

brevidade, nunca total ensurdecimento, da vogal final. Camin(ho), Côc(o).

3.2.3 Normas Particulares para o A

Deve-se, no caso da crase, não diferencia-la da forma de cantar o artigo ou a

preposição separadamente, a não ser pela clarificação "discreta do a" [Normas, pg. 13].

Assim não haverá diferenças em se cantar "Vamos à praia" e "Veja a praia".

3.2.4 Normas Particulares para o E

Evitar no e a sonoridade aproximada de a surdo ou nasal como no falar

português: Dizer "espêlho" ao invés de espâlho. "Tambei" e não "tambâi".

O e das sílabas postônicas não finais é sempre fechado: "Andrógeno".

"As partículas em e como e, de, em, me te, se, lhe, lhes, soam com e surdo,

i, di, im, mi, lhi, lhis" a menos apareçam substantivadas "um quê de triste" ou façam

parte de exceções como dê-noite, cor-dê-rosa, etc. De uma forma geral, nos casos de e
6

surdo, deve-se usar uma vogal de compromisso, algo como "uma mistura vocálica de i

com e, mais próxima dêste por se movimentar o canto moderadamente" [Normas, pg.

14].

3.2.5 Normas Particulares para o I

Considera-se inculta e por isso é terminantemente rechaçada a "tendência

para, em sílabas pretônicas, trocar o i pelo e (dêreito, menistro), e para nasalizar o i oral

(inlustre)" [Normas, pg. 15]. No caso da palavra "muito" aceita-se a anasalamento

discreto do ditongo.

3.2.6 Normas Particulares para o O

Há uma forte predominância para o o fechado nos casos da vogal como

tônica ou pretônica.

Nos casos do o surdo, troca-se por uma vogal de compromisso entre o e u.

épuca, salvu-conduto, cuzinhar, etc.

3.2.7 Normas Particulares para o U

Evita-se a nasalização comum nos cantores populares.

3.2.8 Vogais Prolongadas

Constata-se este fenômeno em todo o território nacional: Perfíis, Paráa, ipêe,

baticúum, azúul, etc. Esta tendência porém "não será observada no canto nem no sons

rápidos nem lentos em nenhuma posição da frase" a não ser "apenas quando cair em

síncopas, cuja execução vocal implica exatamente, numa oscilação de voz" [Normas,

pg. 18].

"A ditongação de nasais pelo agrupamento de vogais diferentes" é aceita em

exemplos como "seim", "beim", "boum" por formarem ditongos com suas vogais de
7

compromisso e rechaçada em "péis", "retróis", "lúiz" por ser associada a formas incultas

de se pronunciar.

3.2.9 Ditongos e Hiatos

"Os ditongos devem ser considerados pelo cantor como uma vogal única

seguida nos ditongos decrescentes duma semivogal, ou precedida nos ditongos

crescentes duma semiconsoante" [Normas, pg. 18]. A brevidade sugerida nas normas

gerais vale também para este caso.

No caso de ditongos, tritongos e hiatos divididos pelo compositor entre dois

ou mais sons consecutivos, "cada elemento do grupo vocálico residirá necessariamente

no som que o compositor lhe destinou". A regra ai é "prolongar a vogal do ditongo

pelos vários sons dados a ele" [Normas, pg. 19]. Vejamos exemplo abaixo:

Fig. 3
Confidência, Heitor Vila-Lobos

Fig. 4
Forma incorreta: deforma foneticamente o ditongo

Fig. 5
Forma correta

"Quando (em andamentos lentos e moderados) o ditongo decrescente é

destinado a um som só pelo compositor, o cantor divide êsse som por tres ou quatro
8

partes iguais e dá o terço o quarto dessa divisão à semivogal final. Os hiatos que o

compositor reduzir a ditongos decrescentes, obedecem à mesma norma" [Normas, pg.

19]:

Fig. 6
Escrita Execução

Se o andamento for rápido, aconselha-se que se faça essa mesma divisão em

partes iguais, lembrando que, nos dois casos, deve-se fugir da rigidez matemática na

execução. É importante observar também que há de se encontrar exceções onde o bom

senso deve prevalecer ao canta-las.

Por analogia, no caso dos ditongos crescentes e hiatos ditongados

crescentemente dá-se um tratamento de apogiatura à semivogal:

Fig. 7
Escrita Execução

Há um detalhamento das especificidades de várias famílias de ditongos e

hiatos (AI, AU, AO, Ã0, ÊI, ÔI e OU, ÉA, EA e EÃO, AIA, AIO, ÊIA, ÊIO, IA, IO,

ÓIA, ÓIO, ÔIA, ÔIO, ÚIA, ÚIO, OA') que são importantes mas representam

peculiaridades das regras gerais expostas acima e que neste trabalho, por seu caráter

resumido, foram supressas.


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3.2.10 Ligação de Palavras e Tritongos

Num número incontável de casos "quando uma palavra termina por vogal e

a palavra seguinte começa também por vogal, o hiato resultante procura muitas vezes

desaparecer, quer contraindo-se em duas vogais num ditongo, quer uma delas

devorando a outra" [Normas, pg. 28]. "Você faç'a mesma coisa", "Ganhei

not'excelente", "Pobre d'ispírito", "Pobr'instinto", "Na cas'oposta à minha", Corre

camp'o boi bumbá", "O leit'umedecido". Os tritongos também têm incidências inúmeras

principalmente se considerarmos os oriundos das ligações de palavras. A relação direta

com o ritmo, em especial no canto, e a ênfase da pronúncia dificultam porém a criação

de regras nestas ocasiões. "Em quaisquer casos de ligações de palavras como de

tritongos, quando o fato ocorrer sob um som só da melodia, dependerá do cantor a

medida certa da divisão deste som, de forma a equilibrar as exigências do canto com as

da expressão psicológica do texto" [Normas, pg. 29].


3.3 As Consoantes

"São 25 as consoantes da língua-padrão

B
oclusiva bilabial sonora (bom)
fricativa bilabial sonora (aba)
C ou Q
oclusiva velar surda (caqui)
D
oclusiva dental sonora (dom)
fricativa dental sonora (brando)
F
fricativa labiodental surda (golfo)
G
fricativa velar sonora (pago)
oclusiva velar sonora (gato)
J
fricativa palatal sonora (junto)
L
fricativa lateral velar surda (final)
fricativa lateral alveolar sonora (lilás)
LH
fricativa lateral palatal sonora (falhando)
10

M
oclusiva nasal bilabial sonora (mamãe)
N
oclusiva nasal velar sonora (angú)
oclusiva nasal alveolar sonora (ninar)
NH
oclusiva nasal palatal sonora (manhã)
P
oclusiva bilabial surda (pipa)
R
vibrante alveolar sonora (aro)
vibrante alveolar surda (carta)
fricativa alveolar sonora (flor)
S ou C ou Ç ou X
fricativa alveolar surda (saci, massa, caça, próximo)
T
oclusiva dental surda (total)
V
fricativa labiodental sonora (vivo)
X ou CH
fricativa palatal surda (xixi, chuchu)
Z ou S
fricativa alveolar sonora (asa, azar)" [Normas, pg. 8]

3.3.1 Consoantes Omitidas

"São sistematicamente omitidas do canto erudito as consoantes j e x quando

ortograficamente representadas por s ou z , ou ainda pelo x diante de consoante

(echtático: extático ), evitando-se assim um chiado que (. . .) arreia o som de ruídos

espúrios que lhe destroem a claridade". "Nestes casos deverão ser usados os próprios

ruídos s e z, em seus valores de fricativas alveolares surda e sonora, como empregados

no Nordeste, no planalto central, na região baiana, na mineira paulista e em todo o sul

do país" [Normas, pg. 10]. O fato é que é exatamente a pronúncia carioca a maior

contribuinte para esses chiados considerados espúrios.

3.3.2 Algumas Consoantes e Algumas Particularidades

C - Evita-se o amolecer de determinadas pronúncias como Gosme por

Cosme ou Gosmético por Cosmético.


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L - Evitar o demasiado fechamento em palavras como animal, por vezes

pronunciada de forma inculta como "animau" sem que isto signifique o vício contrário

"que consiste no rolamento do l ao ponte de duplica-lo": "animall". O pronúncia então

deve ser o fenômeno inculto com uma leve prolação do l.

N - "Tende na pronúncia inculta a palatalizar-se diante de e surdo ou i

(demonho por demônio), o que não se usa no canto erudito" [Normas, pg. 32].

NH - Evitar a forma desleixada que tende a converter nh em n: compania

por companhia.

R - Analogamente ao caso do l, em finais de palavras, deve-se evitar o seu

completo ensurdecimento como seu demasiado rolamento. Nem o inculto palada, nem

ruidoso paladarr. Também a regra de pronúncia é a mesma que no l.

S - "Embora o s com valor de j e x (. . .) tenha sido recusado para o canto

erudito, dois casos há em que essa pronúncia é aconselhável, principalmente nas

melodias rápidas, pois que em vez de acrescentar ruídos, os diminue" [Normas, pg. 33]:

s diante de j (ge ou gi) ou de x (ch): a chaves por as chaves, o jarros por os jarros, o

xenófobos por os xenófobos.

As consoantes que não foram citadas se conservam íntegras em suas formas

primitivas, segundo os congressistas. Foram supressos os casos de repúdio a

incontestáveis formas erradas de falar como "quaji" por quase, fôia por folha, etc., pela

sua obviedade. Vale salientar que certas regras também não foram citadas por não

fazerem mais sentido na ortografia atual. Por exemplo, aquela que manda evitar o soar

do p em palavras como excepção, exceptuar e psalmo. O que mostra que naquela época

estas palavras já tendiam a ter o p retirado de sua ortografia.


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3.3.3 Grupos Consonantais

Se em grupos como ss, rr, lh, nh, as consoantes fundem-se em um único

ruído indivisível, há outras numerosas combinações consonantais onde cada consoante

mantém o seu valor próprio. "Em todos êstes casos a primeira consoante do grupo (ou

as duas primeiras nos agrupamentos ternários) deve ser conceitualmente concebida pelo

cantor como sí fosse uma apoiadura rapidíssima e as mais das vezes muito nítida"

[Normas, pg. 33]:

Fig. 8
Escrita Execução

3.4 Regionalismos e Estrangeirismos Musicais

Deve-se respeitar os regionalismos quando estes estiverem inseridos no

valor psicológico do texto. "É evidente que em casos tais, a dicção mesmo erudita,

deverá parodiar a pronúncia característica" [Normas, pg. 12].

Os estrangeirismos de qualquer espécie por sua vez, são energicamente

repudiados pelas normas. O caso porém da emissão do rr forte em grupos consonantais

que envolvem o r, à moda do belcanto italiano (brruto por bruto, trremer por tremer),

parece ser largamente "desobedecido" por muitos cantores e professores de canto.

4. Conclusão

Pela importância histórica e avanço que representaram, pela amplitude que

cobriram, pelo respaldo das pessoas envolvidas, as normas que são foco deste trabalho

representam um suporte de valor inestimável para quem deseja cantar e compor música

vocal em português. Claro que há carências de melhoramentos e atualizações, já


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passados 63 anos e havido inúmeras modificações nas dinâmica estrutura da língua

brasileira. Estas porém não me cabem na condição de humilde compositor. Deixo-as aos

linguistas, filólogos e musicólogos da atualidade. Sinto-me contudo tentado a olhadas

sobre aspectos aqui não mencionados e que dizem respeito à prosódia do ponto de vista

mais essencialmente composicional, como tonicidade silábica x tonicidade melódica e

suas implicações rítmicas além de tantas outras especificidades. Mas este já é assunto

para um novo trabalho.


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Bibliografia Complementar

Andrade, Mário de (1938). Os compositores e A Língua Nacional. Anais do I Congresso


da Língua Nacional Cantada. São Paulo, Departamento de Cultura: 95.

________________ (1938). Pronúncia Cantada e o Problema do Nasal Brasileiro


Através dos Discos. Anais do I Congresso da Língua Nacional Cantada. São Paulo,
Departamento de Cultura: 187.

Azevedo, Luís H. C. de (1938). A Imperial Academia de Música e Ópera Nacional e o


Canto em Vernáculo. Anais do I Congresso da Língua Nacional Cantada. São Paulo,
Departamento de Cultura: 587.

Carvalho, Murilo de (1938). Os Compositores e a Técnica do Canto. Anais do Primeiro


Congresso da Língua Nacional Cantada. São Paulo, Departamento de Cultura: 694.

Castro, Ênio de F. (1938). Uma Escola Brasileira de Canto. Anais do Primeiro


Congresso da Língua Nacional Cantada. São Paulo, Departamento de Cultura: 431.

Castro, Ariel (Consultado em 06/04/2000). Fundamentos da historia externa do


português do Brasil. Acessível em http://www.geocities.com/Athens/Crete/7424/index.html .

___________ (Consultado em 06/04/2000). Formação e desenvolvimento da língua


nacional brasileira. Acessível em http://www.geocities.com/Athens/Crete/7424/index.html .

Jatobá, Pedro (1938). Colisão entre as Acentuações Verbal e Musical no Canto. Anais
do I Congresso da Língua Nacional Cantada. São Paulo: 663.

Mignone, Francisco (1938). A Pronúncia do Canto Nacional. Anais do I Congresso da


Língua Nacional Cantada. São Paulo, Departamento de Cultura: 487.

Pereira, Antônio S. (1938). Guerra à Ênfase Declamatória. Anais do I Congresso da


Língua Nacional Cantada. São Paulo, Departamento de Cultura: 295.

Terra, Ernani (1995). Minigramática. São Paulo, Scipione.

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