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TREINAMENTO TÁTICO NAS CATEGORIAS DE BASE
Por Fabio Aires da Cunha
Muito se discute sobre a importância do treinamento tático nas categorias de base. Até que ponto a tática influencia no desempenho de uma equipe de jovens? Em qual
categoria deve‐se priorizar a tática em detrimento da técnica? Qual a progressão de ensino da tática? São questões que permeiam a cabeça dos técnicos e professores de
futebol.
Antes de falar no treinamento tático, deve‐se compreender e entender a função e formação do técnico/professor. Muitos acham que treinar taticamente uma equipe de futebol
é somente dividir dois times de onze jogadores, jogar uma bola e assoprar o apito. O treinamento tático envolve inúmeros fatores que podem influenciar positiva ou
negativamente o desempenho, principalmente quando se fala em formação, ou seja, em categoria de base.
Para FREIRE ﴾2003﴿, o técnico/professor deve possuir algumas características para exercer essa função: deve ter formação pedagógica, além da formação técnica em futebol;
deve participar ativamente da aula; deve planejar as aulas; deve fazer avaliação periódica de suas aulas; deve conversar sempre que possível com os alunos, sem se exceder no
tempo e no assunto; deve ministrar atividades lúdicas e prazerosas; deve levar em conta as necessidades e interesses dos alunos; deve promover o rodízio entre os alunos,
quanto mais novos, mais importante esse rodízio e deve ser flexível com os alunos, mas sempre sabendo impor limites, estabelecendo o respeito entre ambos. Segundo
MICHELS ﴾2001﴿ o técnico deve ser genuíno, capaz de transmitir didaticamente cada passo da sua visão e ser apto a formular objetivos claros e reais, além disso, deve explicar
aos jogadores os objetivos de cada treino. De acordo com TRAPATTONI ﴾1999﴿ o técnico deve entender o momento de dar suporte e tranqüilizar os atletas quando estes
cometem erros, isso é fundamental no lado psicológico. O professor deve ter sempre como objetivo principal auxiliar o desenvolvimento dos alunos levando em consideração
as características individuais ﴾GALLAHUE; OZMUN, 2001﴿. No caso de iniciantes, os técnicos devem evitar o excesso de conversa, procurando manter os atletas sempre em
atividade ﴾McGOWN, 1991﴿. SANTOS FILHO ﴾2002﴿ complementa que a capacidade de comunicação de forma adequada e precisa é fundamental no desenvolvimento do
treinamento de futebol.
Ao se planejar um programa de treinamento para crianças e adolescentes, o profissional que irá planejá‐lo deve conhecer bem os aspectos que envolvem a puberdade e aceitar
a variabilidade individual em que eles ocorrem ﴾TOURINHO FILHO; TOURINHO, 1998﴿.
Segundo McARDLE, KATCH e KATCH ﴾1991﴿, o preparo acadêmico do profissional que irá ministrar um programa de treinamento é de fundamental importância, seja ele para
jovens, adultos, idosos, sedentários ou atletas. A experiência prática é um aspecto tido como o melhor método, mas os autores acreditam que o conhecimento das razões do
treinamento e do exercício seja fundamental para o adequado desenvolvimento do programa de treinamento.
O técnico tem a responsabilidade em relação à correta programação do treinamento ﴾distribuição coerente das cargas gerais e específicas, do volume, da intensidade;
observação das particularidades biológicas; oferecimento de corretas informações pedagógicas de acordo com a faixa etária e outras﴿, à educação motora, intelectual e moral
dos jovens ﴾FILIN e VOLKOV; FILIN; SCHMOLYNSKI; MAGILL; FERNANDES, citados por AUGUSTI, 2001﴿.
As considerações colocadas por muitos autores e estudiosos são bem retratadas na afirmação de Claparède, citado por WEINECK ﴾1991, p. 246﴿: “a criança não é uma miniatura
do adulto e sua mentalidade não é só quantitativa, mas também qualitativamente diferente da do adulto, de modo que a criança não é só menor, mas também diferente.”
Enfim, conduzir um treinamento de futebol é uma tarefa complexa, que exige cuidado, planejamento, conhecimento, capacitação e criatividade.
O treinamento tático está diretamente relacionado com o desenvolvimento da técnica, com o condicionamento físico e com o preparo psicológico. Não se pode dissociar, no
futebol moderno, independentemente da categoria, o treinamento tático, do treinamento técnico, físico e psicológico.
Não adianta o técnico tentar implementar uma marcação pressão, se seu time não possui preparo físico para exercer esse tipo de marcação. Não adianta o técnico tentar
implementar um jogo a base de lançamentos longos se seus atletas não possuem qualidade técnica para realizar esse tipo de passe.
O desenvolvimento da tática está relacionado diretamente com a maturação, o crescimento, o desenvolvimento motor e a aprendizagem. O técnico deve estudar a fundo as
características fisiológicas, morfológicas e maturacionais de cada faixa etária, para entender em qual estágio de desenvolvimento seus atletas/alunos se encontram e, com isso,
aplicar a maneira mais adequada e eficiente de ensino da tática.
Até por volta dos 12 anos à ênfase no treinamento se dá pela técnica. A preocupação é aprimorar as habilidades motoras das crianças, desenvolver a inteligência espacial, o
pensamento rápido, enfim dotar os jovens futebolistas de condições para a próxima etapa de aprendizagem, etapa essa na qual se inicia o desenvolvimento dos aspectos
táticos no campo grande ﴾11 X 11﴿.
Ao longo da sua carreira, o técnico vai moldando sua filosofia de jogo. É necessário o conhecimento teórico e prático para estabelecer um esquema eficiente, mas é mais
importante ainda, saber empregar esse conhecimento adquirido para obter um desempenho satisfatório.
A tática é idealizada no todo, ou seja, num plano estratégico maior e, depois executada em partes durante os treinamentos.
Sua origem vem da palavra grega taktiké, que significa a arte de manobrar tropas. Segundo FERREIRA ﴾1995, p. 626﴿ “tática é o processo empregado para sair‐se bem num
empreendimento.” Para Zech, citado por DRUBSCKY ﴾2003﴿ tática é a capacidade de desempenho individual ou em time de oposição a um adversário. De acordo com LEAL
﴾2001, p. 99﴿ “tática significa o planejamento e a execução racional de dispor jogadores em campo, para sair‐se bem e tirar proveito em dada situação, surpreendendo o
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05/03/2017 TREINAMENTO TÁTICO NAS CATEGORIAS DE BASE – Fabio Cunha
adversário e dominando‐o, em consequência.” Conforme MELO ﴾1999, p. 38﴿ “tática é a arte de combinar a técnica individual de cada jogador, em suas diferentes linhas e
posições, de modo a obter o máximo de rendimento do conjunto, em um determinado jogo.” Para o técnico português José Mourinho, citado por OLIVEIRA et. al. ﴾2006﴿ é um
conjunto de princípios que dão forma ao seu modelo de jogo.
Sistema Tático
“É o conjunto das táticas que determinam as ações e características de uma equipe em campo. Compõe‐se de ideia de jogo, desenho tático, esquematizações, variações,
posturas, sistemas de marcação, detalhes táticos e estilo de jogo. Por convenção, adotam‐se as denominações numéricas, 4‐3‐3, 3‐5‐2 ou 4‐4‐2, por exemplo, para nomear os
sistemas táticos no futebol” ﴾DRUBSCKY, 2003, p. 93﴿.
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Esquema Tático
“É um elemento importante do sistema tático. Exemplificando, é uma movimentação de campo previamente determinada e treinada entre alguns jogadores e ou setores da
equipe. As esquematizações táticas são jogadas ensaiadas que fazem parte de um contexto de táticas maior, denominado sistema” ﴾DRUBSCKY, 2003, p. 93﴿.
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Estratégia
“Estratégia é planejamento visando a atingir determinado objetivo, explorando os fatores favoráveis e usando os meios disponíveis, quando, onde e como quiser” ﴾LEAL, 2001, p.
99﴿.
No futebol, a estratégia adota a mobilização, a concentração, o reconhecimento, as coberturas, perseguições e outros meios, visando a vitória final.
Exemplos: Marcar pressão desde o começo; atrair o adversário para contra‐atacar; jogar defensivamente para garantir resultado; marcar determinado atleta individualmente e
outros.
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Sistema de Jogo
Segundo LEAL ﴾2001, p. 33﴿ sistema de jogo é “a distribuição dos jogadores de um time em campo, em estrutura organizada, coordenados e unidos por princípio de
interdependência, com funções definidas que se complementam e que se movimentam, visando, com o menor esforço possível, alcançar a melhor produção e resultado.”
Referências:
AUGUSTI, M. Treinamento de endurance para crianças e adolescentes. In: Revista Digital, Buenos Aires, ano 7, n. 37, jun. 2001. Disponível em: <www.efdeportes.com>. Acesso
em: 15 nov. 2001.
DRUBSCKY, Ricardo. O universo tático do futebol: Escola brasileira. Belo Horizonte: Health, 2003.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário básico da língua portuguesa. São Paulo: Folha de São Paulo/Nova Fronteira, 1995.
GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J. C. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. Tradução de Maria Aparecida da Silva Pereira Araújo. São
Paulo: Phorte, 2001.
LEAL, Julio César. Futebol: Arte e Ofício. 2. ed. Rio de Janeiro: Sprint, 2001.
McARDLE, W. D.; KATCH, F. I.; KATCH, V. L. Fisiologia do Exercício: Energia, Nutrição e Desempenho Humano. Tradução de Giuseppe Taranto. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 1991. 510 p.
McGOWN, C. O Ensino da técnica desportiva. Treino Desportivo, Lisboa: [s.n.], II série, n. 22, p. 15‐22, dez. 1991.
MELO, Rogério Silva de. Sistemas e táticas para futebol. Rio de Janeiro: Sprint, 1999.
MICHELS, Rinus. Teambulding: the road to success. Spring City: Reedswain, 2001.
OLIVEIRA, Bruno; AMIEIRO, Nuno; RESENDE, Nuno; BARRETO, Ricardo. Mourinho: Porquê tantas vitórias? 4. ed. Lisboa: Gradiva, 2006.
SANTOS FILHO, José Laudier Antunes. Manual de futebol. São Paulo: Phorte, 2002.
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TOURINHO FILHO, H.; TOURINHO, L. S. P. R. Crianças, adolescentes e atividade física: aspectos maturacionais e funcionais. Revista Paulista de Educação Física, São Paulo:
Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo, v. 12, n. 1, p. 71‐84, jan./jun. 1998.
TRAPATTONI, Giovanni. Coaching high performance soccer. Spring City: Reedswain, 1999.
2011
http://fcunha.com.br/treinamentotaticonascategoriasdebase/ 3/3