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Tenectomia cuneana associada à infiltração perineural

neurolítica no tratamento de osteoartrite társica de


equino - Relato de caso*
Pierre Barnabé Escodro¹+, Jhonatan Daniel de Lima Silva², Ticiano Gomes do
Nascimento³, Márcia Kikuyo Notomi4, Tobyas Maia de Albuquerque Mariz5
e Josealdo Tonholo6

ABSTRACT. Escodro P.B., Silva J.deD.L., do Nascimento T.G., Notomi M.K.,


Mariz T.M.de A. & Tonholo J. [Cunean tenectomy associated with neurolytic
perineural infiltration in the treatment of tarsal osteoarthritis in horse - Case
report.] Tenectomia cuneana associada à infiltração perineural neurolítica no tra-
tamento de osteoartrite társica de equino - Relato de caso. Revista Brasileira de
Medicina Veterinária, 38(3):238-242, 2016. Grupo de Pesquisa e Extensão em Equí-
deos, Unidade de Ensino Viçosa, Universidade Federal de Alagoas, Fazenda São
Luis s/n, Viçosa, AL 57700-000, Brasil. E-mail: pierre.escodro@pq.cnpq.br
The tarsal osteoarthritis (TOA) is a form of ankylosing proliferative arthritis,
may also be referred to “bone spavin”, being a major cause of lameness in the
hindlimbs of horses. Treatments aimed at alleviating the pain and discomfort,
because the TOA is considered a degenerative disease, ranging from the use of
conservative treatments such as nonsteroidal anti-inflammatory drugs (NSAIDs),
intra-articular corticosteroid injections, administration of glycosaminoglycans
and changes in handling and shoeing; to surgical procedures such as arthroscopy
and cunean tenectomy, and in more severe cases arthrodesis is indicated. Althou-
gh the medical and surgical treatment of OAT results in temporary improvement
of claudication, approximately 50% of treated horses with lameness and remain
unable to exercise athletic functions previously performed. The aim of this study
was to report the case of a horse of Mangalarga Marchador breed with TOA, whi-
ch did not respond to medical treatment with anti-inflammatory and glycosami-
noglycans and underwent cunean tenectomy and perineural infiltration of neu-
rolytic ethanol composition ( with required patent in Brazil and overseas) in the
tibial and fibular nerves after prove the nonoccurrence of proprioceptive deficits
during the anesthetic block. The animal does not exteriorized pain or lameness
during twelve months, keeping active and not show deficits in locomotion. The
cunean tenectomy associated with perineural infiltration of neurolytic ethanol
composition appeared as satisfactory therapeutic option. From the report, raises
the need for more research on the use of neurolytic therapy in the nerves of pelvic
member associated to cunean tenectomy for the treatment of TOA.
KEY WORDS. Lameness, spavin, cunean tendon, chemical neurolysis.

* Recebido em 18 de outubro de 2015.


Aceito para publicação em 26 de janeiro de 2016.
1
Médico-veterinário, DSc. Grupo de Pesquisa e Extensão em Equídeos (GRUPEQUI), Unidade de Ensino Viçosa (UEV), Universidade Federal
de Alagoas (UFAL), Fazenda São Luis s/n, Viçosa, AL 57700-000, Brasil. Email: pierre.escodro@pq.cnpq.br – bolsista CNPq.
2
Médico-veterinário, GRUPEQUI UEV, UFAL, Fazenda São Luis s/n, Viçosa, AL 57700-000, Brasil. Email: jhonatanlima.87@gmail.com
3
Farmacêutico, DSc. Escola de Enfermagem e Farmácia, UFAL, Av. Lourival Melo Mota, s/n, Maceió, AL 57072-900, Brasil. E-mail: ticianogn@
yahoo.com.br - bolsista CNPq.
4
Médica-veterinária, DSc. GRUPEQUI, UEV, UFAL, Fazenda São Luis s/n, Viçosa, AL 57700-000, Brasil. Email: marcia.notomi@vicosa.ufal.br
5
Médico-veterinário, DSc. GRUPEQUI, UEV, UFAL, Fazenda São Luis s/n, Viçosa, AL 57700-000, Brasil. Email: tobyasmariz@hotmail.com
6
Químico, DSc. Instituto de Química e Biotecnologia, UFAL, Av. Lourival Melo Mota, s/n, Maceió, AL 57072-900, Brasil. E-mail: tonholo@
gmail.com bolsista CNPq.

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Tenectomia cuneana associada à infiltração perineural neurolítica no tratamento de osteoartrite társica de equino - Relato de caso

RESUMO. A osteoartrite társica (OAT) é uma for- conforto, visto que a OAT é considerada doença
ma de artrite proliferativa anquilosante, podendo degenerativa, variando de tratamentos conservati-
ser chamada também de “esparavão ósseo”, sen- vos como uso de anti-inflamatórios não hormonais
do uma das maiores causadoras de claudicação (AINEs), infiltrações intra-articulares de corticos-
nos membros pélvicos de equinos. Mesmo após teroides, administração de glicosaminoglicanos e
o tratamento clínico e/ou cirúrgico, cerca de 50% alterações no manejo e ferrageamento; até procedi-
dos animais permanecem com claudicação e não mentos cirúrgicos como a tenectomia do cuneano
conseguem exercer as funções atléticas anterior- (Bohanon 1999) e artroscopias, sendo que em casos
mente desempenhadas. O objetivo deste trabalho mais graves é indicada a artrodese (Labens et al.
é relatar o caso de um equino da raça Mangalarga 2007). Embora o tratamento médico-cirúrgico da
Marchador com osteoartrite társica submetido à te- OAT resulte em melhoria temporária da claudica-
nectomia cuneana e infiltração perineural de com- ção, aproximadamente 50% dos cavalos tratados
posição neurolítica etanólica (com patente requeri- permanecem com claudicação e não conseguem
da no Brasil e exterior) nos nervos tibial e fibulares, exercer as funções atléticas anteriormente desem-
após resposta negativa ao tratamento clínico com penhadas (Dowling et al. 2004).
anti-inflamatórios e glicosaminoglicanos. O animal
não exteriorizou dor ou claudicação durante doze HISTÓRICO
meses, mantendo-se em atividade e sem apresen- Um equino da raça Mangalarga Marchador, macho,
tar déficits proprioceptivos. A tenectomia cuneana castrado, oito anos de idade, 430 Kg, de utilidade lazer,
associada à infiltração perineural de composição foi encaminhado ao Ambulatório do Grupo de Pesqui-
neurolítica etanólica apresentou-se como opção te- sa e Extensão em Equídeos da Universidade Federal
rapêutica satisfatória no caso descrito. de Alagoas (GRUPEQUI-UFAL), com queixa clínica de
claudicação no membro pélvico direito (MPD) há cerca
PALAVRAS-CHAVE. Claudicação, esparavão, tendão de seis meses.
cuneano, neurólise química. Na anamnese, obtida pelo médico veterinário do
animal, relatou-se que o cavalo claudicou no dia pos-
INTRODUÇÃO terior a uma cavalgada de quarenta quilômetros, sendo
radiografado com diagnóstico de “esparavão” (OAT)
A Osteoartrite társica (OAT) é uma forma de
no MPD. Segundo o relator, o animal foi submetido ao
artrite insidiosa proliferativa e anquilosante, consi- tratamento com 2g (10 mL) de Fenilbutazona por via in-
derada como maior causa de claudicação nos mem- travenosa durante 5 dias; 20 mg (2 mL) de hialuronato
bros pélvicos de equinos. Acomete as articulações de sódio e 18 mg (3 mL) de acetonido de triancinolona
társicas, sendo de etiologia multifatorial, associada por via intra-articular; dez aplicações diárias intraveno-
à compressão e rotação de ossos distais do tarso du- sas de ácido tiludrônico; repouso por 90 dias e posterior
rante o exercício, artrite séptica, trauma, fratura de retorno gradativo ao exercício. Após aproximadamente
cinco meses do quadro inicial, o equino voltou à ativi-
ossos do tarso e osteocondrose (Zubrod et al. 2005,
dade, porém só conseguiu realizar dez quilômetros em
McIlwraith 2013). O principal sinal clínico da OAT uma cavalgada, voltando a claudicar e então sendo en-
é claudicação leve à moderada nos membros pél- caminhado para o atendimento no GRUPEQUI-UFAL.
vicos, associada ou não ao aumento de volume no Ao exame clínico o equino apresentava claudicação
aspecto medial das articulações intertársica, tarso- grau dois no MPD (Stashak 2006), com intensificação
-metatársica e/ou tíbio-társica por efusão sinovial, para grau três após teste de flexão das articulações do
normalmente progressiva e de apresentação uni ou tarso. Também apresentava leve aumento de volume
bilateral (Bohanon 1999). flutuante na face dorso-medial distal da articulação e
sensibilidade à palpação crânio medial articular. As
O diagnóstico é realizado através dos sinais clí- imagens radiológicas obtidas foram semelhantes àque-
nicos e teste de flexão das articulações társicas, que las obtidas há seis meses, sugestivas de OAT. Notou-se
promovem aumento do grau de claudicação. A reação periostal intertársica distal, reorganização pe-
confirmação ocorre normalmente através do exame riostal nas bordas mediais dos ossos central e terceiro
radiográfico (RX), obtendo-se imagens sugestivas tarsianos, estreitamento de espaço articular e alterações
para OAT como: irregularidade, esclerose ou lise na densidade do osso subcondral (Figura 1).
do osso subcondral, baixa definição corticomedu- Para o diagnostico foi efetuado o bloqueio anestésico
do nervo tibial com 8 mL de lidocaína 2 % sem vaso-
lar, aumento ou diminuição do espaço intra-arti-
constritor, aproximadamente 10 cm proximal à articula-
cular, anquilose, osteófitos, esporão ósseo dorso- ção tíbio-társica, na face medial do MPD, região onde o
proximal no terceiro metatarso e/ou formação de nervo é palpado na superfície caudal do músculo flexor
ponte óssea periarticular (Labens et al. 2007). digital profundo e cranial ao tendão de Aquiles, confor-
Os tratamentos visam alivio da dor e do des- me descrito por Moyer et al. (2007), através de inserção

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Pierre Barnabé Escodro et al.

de agulha 30X07 ( Figura 2-A). Após o bloqueio a clau-


dicação diminuiu para grau 1.
Optou-se então pela analgesia perineural do fibular
comum, que é ramificado em nervos fibulares superficial
e profundo, distribuindo-se para os músculos extensor
longo do dedo, fibular terceiro, extensor lateral do dedo
e tibial cranial (Iglesias et al. 2012). Os bloqueios peri-
neurais foram realizados também conforme preconiza-
do por Moyer et al. (2007), sendo anestesiados no aspec-
to lateral do membro, cerca de 15 cm cranio-proximal à
articulação tíbio-társica, no sulco formado pelos múscu-
los extensor digital longo e extensor digital lateral. Para Figura 2. Osteoartrite társica num equino. A - Local do blo-
anestesiar o nervo fibular profundo, um cateter 16 G foi queio perineural anestésico e neurolítico do nervo tibial, na
superfície caudal do músculo flexor digital profundo e cra-
inserido no sulco e direcionado levemente caudal até to-
nial ao tendão de Aquiles e B - Local do bloqueio perineural
car a borda caudal da tíbia ( Figura 2-B). Após depositar anestésico e neurolítico dos nervos fibulares, no sulco forma-
do pelos músculos extensor digital longo e extensor digital
lateral.

10 ml do de lidocaína 2% sem vasoconstritor no nervo


fibular profundo o cateter foi posicionado de forma mais
superficial, depositando mais 10 mL do anestésico local
em três planos para bloqueio do fibular superficial. Com
a analgesia perineural fibular e tibial, o animal cessou a
claudicação e não apresentou déficits de propriocepção.
A partir dos dados coletados de que o prognóstico da
afecção não foi favorável aos tratamentos conservativos,
se sugeriu os seguintes tratamentos: artrodese cirúrgica,
a utilização de agentes químicos promotores de artrode-
se ou a tenectomia de ramo medial do tibial cranial ou
cuneano, esta última visando diminuir a pressão exer-
cida pelo tendão sobre na região társica, objetivando
estacionar a anquilose articular. A escolha terapêutica
foi a tenectomia do cuneano, cuja efetividade é contro-
versa na literatura, sendo que a maioria dos autores não
a indicam pela variabilidade de resultados (Bohanon
1999, McIlwraith, 2013). Buscando maximizar o resul-
tado antiálgico da técnica, tomando como base os blo-
queios anestésicos previamente utilizados no paciente,
foram realizados concomitantemente com a cirurgia os
bloqueios dos nervos fibulares e tibial com composição
farmacêutica neurolítica etanólica (CNE) (álcool, trianci-
nolona e bupivacaína) com depósito nacional de patente
no INPI sob identificação PI 1107291-1 e internacional
sob identificação WO 2013/ 067612 A1. Os procedimen-
tos foram realizados após quatro dias dos bloqueios
anestésicos.
O procedimento anestésico para cirurgia a campo foi
realizado mediante administração de acepromazina na
dose de 0,05 mg/kg/IV, e, após 10 minutos, de clori-
Figura 1. Osteoartrite társica num equino. A - Incidência Ra- drato de xilazina, na dose de 0,5 mg/kg/IV, ambos uti-
diológica Dorso-Plantar exteriorizando imagens sugestivas lizados como medicação pré-anestésica (MPA). Para a
de reorganização periostal nas bordas mediais dos ossos indução anestésica, foi utilizado Diazepan, na dose de
central e terceiro tarsianos (seta); B - Incidência Dorsolate-
0,1 mg/kg, associado ao cloridrato de ketamina, na dose
ral-Plantaromedial indicando reação periostal na articulação
intertársica distal, sugerindo alterações no espaço sub-con-
de 2 mg/kg/IV. A manutenção anestésica foi com anes-
dral (seta); C - Incidência Dorsomadial-Plantarolateral indi- tesia intravenosa total, contendo éter gliceril guaiacol,
cando estreitamento de espaço articular intertársico distal na dose de 50 mg/kg, diluído em 500 ml de solução fi-
(seta) e D - Incidência Latero-medial indicando estreitamen- siológica, com diluição de 800 mg de ketamina e 400 mg
to de espaço articular e áreas indicativas de reação periostal de xilazina na solução, na velocidade de 160 macrogotas
na articulação intertársica distal (seta). por minuto.

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A cirurgia foi realizada em decúbito lateral confor- alívio da dor na OAT, sendo um procedimento de
me descrito por Bohanon (1999), com incisão no sentido fácil execução, porém com resultados variáveis.
das fibras tendíneas e retirada de cerca de 2 cm do ramo Eastman et al. (1997) citam que em acompanha-
medial do tendão tibial cranial. As injeções neurolíticas
mento de 285 casos de cavalos com OAT tratados
foram realizadas de forma similar aos bloqueios anesté-
sicos, com o animal anestesiado, facilitando a manipu- por TC, 83% dos proprietários acreditaram na téc-
lação do membro e depositando 7 mL de CNE em cada nica promovendo a diminuição da claudicação, re-
ponto (totalizando 21 mL). torno e incremento de performance do animal.
O pós-operatório foi de rotina com utilização de A opção pela TC foi realizada por escolha do
flunixin meglumine na dose de 1 mg/kg via intramus- proprietário e médico veterinário do animal, acre-
cular durante 5 dias e penicilina benzatina na dose de ditando que a artrodese poderia não proporcionar
20 000 UI/kg via intramuscular a cada 72 horas, num o retorno do cavalo castrado às cavalgadas. A par-
total de três administrações. Não se observou alteração
tir da decisão e dos resultados analgésicos positi-
de comportamento relacionado à dor durante o período
pós-operatório e intercorrências com a ferida cirúrgica. vos obtidos a partir dos bloqueios perineurais fibu-
O paciente ficou em repouso em baia durante 15 dias, lar e tibial, foi proposto infiltração da composição
quando foram retirados os pontos. Ficou solto em pi- neurolítica patenteada.
quete por mais 15 dias, quando iniciou caminhadas diá- O uso de fármacos neurolíticos perineurais em
rias de 15 a 20 minutos duas vezes ao dia. Aos sessenta equinos deve considerar a enfermidade a ser tra-
dias do pós-cirúrgico fez a primeira cavalgada de quin- tada, característica da dor, objetivo específico do
ze quilômetros sem apresentar claudicação.
tratamento, local a ser infiltrado, tempo de latên-
O acompanhamento clínico ocorreu durante o pe-
ríodo de doze meses, através de ligações bimestrais ao cia e meia vida do fármaco e o prognóstico do caso
proprietário e avaliações presenciais semestrais, sendo o clínico. Além disso, a neurólise química compõe
paciente retornou às cavalgadas mais longas e não apre- tratamento paliativo, pois não altera ou modifica a
sentou claudicação durante esse período. progressão da condição patológica; e sempre deve
ser precedida de bloqueio anestésico local, buscan-
DISCUSSÃO do avaliar a perda proprioceptiva do animal e pos-
O tratamento inicial com infiltrações intra-arti- sível interrupção de indicação (Escodro et al. 2011).
culares de triancinolona e glicosaminoglicanos não O bloqueio anestésico do nervo tibial não causa
sulfatados (acido hialurônico) condizem aos indi- déficit de propriocepção em equinos, atribuindo-se
cados na literatura para tratamentos de osteoartri- a diminuição no grau de claudicação pelo bloqueio
tes crônicas em equinos. Ainda, as aplicações intra- com lesões em ligamento suspensório do boleto e
venosas de acido tilurônico (tiludronato) têm sido região metatársica proximal plantar (Moyer et al.
indicadas de maneira positiva em casos de OAT 2007). Assim, segundo Moyer et al. (2007), o blo-
em equino, pois promovem apoptose de osteoclas- queio desse nervo não apresentaria resultado po-
tos (Zubrod et al. 2005, McIlwraith, 2013). Porém, sitivo no caso descrito, visto que a lesão articular
Kamm et al. (2008) ressaltam, através de revisão intertársica distal, no aspecto dorso-medial, não se-
sobre o fármaco em equinos, que o uso na espécie ria alvo da analgesia proporcionada pela técnica.A
ainda não tem eficácia comprovada, devido aos partir dos autores, dois fatores devem explicar o
resultados terapêuticos variáveis. Avaliando que ocorrido: subjetividade de avaliação pelos médi-
o tratamento conservativo não obteve resultado cos veterinários; ou lesão concomitante nas regiões
positivo, mesmo com um repouso prolongado, as anatômicas supracitadas ( o que não foi detectado
condutas cirúrgicas se tornavam indicadas para o em exames complementares). Porém, em biblio-
paciente, no intuito principal de analgesia e possí- grafia menos recente, Berg (1978) atribui ao nervo
vel retorno à função anteriormente desempenhada. tibial propriedades sensitivas sobre a toda a região
Segundo Zubrod et al.(2005), quando o trata- medial distal ao calcâneo, assim o bloqueio causa-
mento conservativo terapêutico para OAT não sur- ria analgesia parcial, conforme constatado no caso.
tir efeito, a artrodese torna-se a primeira indicação Considerando o bloqueio anestésico dos nervos
terapêutica paliativa, podendo ser realizada de fibulares, a maior controvérsia é o efeito mecâni-
forma química (principalmente através da injeção co causado pelo mesmo, que segundo Moyer et al.
intra-articular de monoiodoacetato de sódio) ou ci- (2007) pode resultar em déficits proprioceptivos,
rúrgica, através de destruição articular e utilização com o cavalo apresentando o sinal de elevação im-
de placas ou parafusos, ou ainda, através de utili- precisa e insuficiente do membro, ou seja, apresen-
zação de laser (Zubrod et al. 2005). Bohanon (1999) tar-se arrastando o pé. Esse fato inviabilizaria o uso
também indica a tenectomia do cuneano (TC) para de neurolíticos terapêuticos paliativos nos nervos

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Pierre Barnabé Escodro et al.

fibulares superficial e profundo, porém não foi ob- nervos tibial e fibulares mantiveram o equino por-
servada essa alteração durante o bloqueio anestési- tador de OAT na atividade antes desenvolvida por
co no paciente. 12 meses, podendo ser considerada como opção te-
A ausência de déficits proprioceptivos no caso rapêutica para a enfermidade. A partir do relato,
descrito pode ser explicada por dois motivos prin- levanta-se a necessidade de mais pesquisas sobre
cipais, sendo o primeiro a deposição de anestésico a utilização da terapia neurolítica em nervos do
em local impreciso, não acarretando a interrupção membro pélvico associada à tenectomia do cunea-
da condutividade nervosa, porém essa hipótese é no para tratamento de OAT.
descartada, visto que o animal cessou a claudicação
após a analgesia dos nervos fibulares. O segundo Agradecimentos. Ao Conselho Nacional de Desen-
motivo são as variações individuais das ramifica- volvimento Científico e Tecnólogico (CNPq) pelo finan-
ções nervosas dos nervos fibulares, já comprova- ciamento de bolsas para execução do Projeto Avaliação
clínica e motora de equinos submetidos à infiltração pe-
das em estudo de Iglesias, Silva & Vasconcelos
rineural de composição neurolítica com patente requeri-
(2012) com nervos fibulares de fetos equinos, onde da no Brasil e exterior e ao Núcleo de Inovação Tecnoló-
comprovaram diferenças significativas entre as ra- gica da Universidade Federal de Alagoas (NIT-UFAL),
mificações nervosas dos nervos fibulares superfi- pelo apoio incondicional à viabilização da combinação
cial e profundo sobre os músculos extensor lateral farmacológica veterinária desenvolvida.
do dedo, extensor longo do dedo, tibial cranial e
fibular terceiro. REFERÊNCIAS
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