You are on page 1of 3

Atividade: leitura e interpretação de texto

Leia o texto abaixo e responda às questões a seguir.

Bahira, o pajé que roubou o fogo

No passado, não havia fogo na tribo dos Kawahiwas. Seu dia a dia era uma luta: as mulheres faziam
das tripas coração pra que não se estragasse a caça trazida pelos maridos. Comida quentinha? Só se o sol
ajudasse. No inverno, tiritavam de frio. E, à noite, se o medo do escuro pesasse, que o aguentassem até
a aurora.
As índias, ouvindo histórias sobre cunhãs de tribos vizinhas que preparavam de um tudo sobre
moquéns, choravam suas mazelas junto a Bahira, o grande pajé. Este, de tanto aturar reclamação, se
encheu e resolveu dar um jeito. Os homens se alegraram, ao verem Bahira partir tão determinado. Apesar
de darem uma de durões, parecendo conformados com a falta do fogo, cobriram as mulheres de beijos.
Sonhavam, antecipadamente, com os assados que, enfim, provariam.
Bahira, enquanto caminhava, ia matutando. Ele sabia muito bem a quem pertencia o fogo. E que
o dono do fogo não o daria assim, de mão beijada, a qualquer folgado que chegasse pedindo-o! Bahira
precisaria bolar um plano bem esperto. E foi o que ele fez.
Tendo avistado um ninho de Itapicuins, dirigiu-se até lá e cumprimentou seus parentes (sim,
porque, nessa época, bicho era gente):
— Meus irmãos cupins, subam em mim, pois preciso parecer morto.
Os Itapicuins não eram de fazer muita questão do porquê das coisas. Daí que, saindo do ninho,
cobriram o corpo de Bahira.
O pajé estirou-se no chão, um morto perfeito. Urubu, o tal que era dono do fogo, lá do alto viu
aquela carniça maravilhosa. Maravilhosa pra bico de Urubu, bem entendido! E a tomou por ótima opção
de almoço. Chamou a mulher, chamou os filhos e convidou-os pra comer fora.
Naquele planar lento e desconfiado do Urubu, a família veio descendo do céu em volteios de
parafuso. Dizem que o Urubu não sai de casa sem carregar o fogo debaixo da asa. A fim de checar se o
boato procedia, Bahira abriu meio olho e viu o brilho do Tatá-miri no sovaco do bichão. Sossegado, voltou
a fingir-se de morto.
Na descida, juntou a parentada toda. Ao baixarem à terra, formou-se aquela mancha negra de
urubus num assanhamento só, diante da perspectiva do churrasco. Já sabemos que, nessa época, Urubu
era gente e, portanto, tinha mãos. Enquanto a mulher preparava o moquém, aos filhos coube a guarda
do defunto.
Os filhos, porém, viram que o morto estava bulindo e foram comunicar o fato ao pai, que não lhes
deu crédito.
E morto mexe desde quando? Larguem de preguiça e tomem conta direito! Usem suas flechinhas
pra matar as varejeiras: não quero comida minha com bicho!
Bahira aproveitou-se da discussão e, vendo que o fogo embaixo dele estava bem aceso, roubou-o
e fugiu. Quando o Urubu se deu conta do ocorrido, saiu em perseguição do almoço, ele e sua gente.
Entrou Bahira num oco de pau, o Urubu entrou atrás. Saiu Bahira do outro lado, saiu o Urubu atrás.
Na saída, um tabocal cerrado cruzava o caminho. Bahira venceu-o, mas o Urubu não conseguiu atravessar
e ficou pra trás, praguejando.
O pajé correu, correu até chegar às margens do braço de um rio, largo feito o mar. Espiou na outra
margem e viu sua tribo, que esperava a chegada do fogo novo. E agora? Que fazer pra atravessar, pela
água, com coisa que se apaga nela?
Chamou a Cobra-surradeira e pediu:
— Comadre, faça-me a gentileza de cruzar o rio com esse fogo em seu quengo, sim?
— Pois não, compadre. Ajeite ele no meu lombo.
A cobra, apesar da fama de andar rapidinho, só alcançou até a metade do rio. Ali mesmo morreu
queimada. Bahira arranjou uma vara comprida no mato e puxou o fogo de volta. Tentou a travessia com
parentes da surradeira, mas todas tiveram destino igual: viraram torresmo!
2
Nisso, veio passando um Pitu. O pajé pensou:
— Esse há de atravessar o fogo.
Repetiu-se o pedido e o pronto aceite. O Pitu, porém, findou-se igual às cobras: morreu queimado,
todo vermelho. E é assim até hoje: quando o fogo queima a casca do camarão, ela fica vermelhinha igual
pimenta!
O pajé recuperou o fogo, de novo, com a vara. Os Kawahiwas, na margem oposta, já estavam
nervosos, achando que a travessia ia gorar. Passou um Guaiá, andando de lado, e Bahira repetiu o pedido.
Impressionante a boa vontade dos bichos – todos diziam sim ao pedido do pajé! Lamentavelmente, com
o compadre caranguejo não foi diferente: no meio do rio, morreu tostado.
Então foi a vez da Saracura, da Uratinga, da Garça, da Upeca, da Piaçoca, da Ariramba, do Jacuaçu
e outras tantas aves de água doce. E todas, apesar da cortesia, se acabaram chamuscadas, antes de
completarem o percurso.
Estava Bahira em ponto de desistir, quando apareceu o Sapo Cururu. Os pulos do Cururu quase
completaram a missão. Perto de atingir a outra margem, o pobre acabou desmaiando com aquele fogaréu
no costado. Os Kawahiwas, repetindo o uso da vara aprendido de seu pajé, salvaram o fogo e o sapo,
levando os dois pra aldeia.
Bahira, vendo que tudo acabara bem, pensou de que jeito ele próprio atravessaria o rio. Nem
precisou esquentar muito a cabeça. Sendo um pajé poderoso, mandou o rio se estreitar e ele obedeceu.
Bahira deu um pulo e, pronto! Logo achou-se do outro lado.
Foi assim que os Kawahiwas arranjaram fogo e se fartaram de assados. E o valente Cururu virou
um pajé respeitado.

Flávia Savary. Lendas da Amazônia... e é assim até hoje. São Paulo: Salesiana, 2006. p. 12-15.
____________________________________________________________________________________
A reconstrução dos sentidos do texto

Antes de iniciar o estudo do texto, pesquise no dicionário o significado das palavras desconhecidas.

Questão 1 (0,4)
Escreva o sentido das expressões destacadas a seguir, para isso, volte ao texto e observe o contexto.

a) [...] as mulheres faziam das tripas coração pra que não se estragasse a caça [...].
____________________________________________________________________________________

b) As índias [...] choravam suas mazelas junto a Bahira [...].


____________________________________________________________________________________

c) E que o dono do fogo não o daria assim, de mão beijada [...]!


____________________________________________________________________________________

d) Os Kawahiwas [...] já estavam nervosos, achando que a travessia ia gorar.


____________________________________________________________________________________

Questão 2 (0,4)
Por que Bahira resolve sair da tribo em busca do fogo?
____________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________
3
Questão 3 (0,2)
Releia o oitavo parágrafo.
a) A princípio, Bahira não tinha certeza de que o Urubu estava com o fogo. Que expressão indica essa
incerteza?
____________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________

b) O que Bahira faz para confirmar que o fogo estava com o Urubu?
____________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________

Questão 4 (0,2)
Como é a relação de Bahira com os animais? Explique sua resposta.
____________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________

Questão 5 (0,4)
Releia o desfecho do texto, nos três últimos parágrafos.
a) Como, afinal, o fogo chega até a tribo dos kawahiwas?
____________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________

b) Bahira envolve os animais e outros membros da sua comunidade na tarefa de levar o fogo para a
tribo. Por que ele faz isso?
____________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________

You might also like