PREFACIO
Um observador atento percebe, sem o menor
esforco, que todos os bairros nobres, de qualquer
cidade brasileira, sao bairros de brancos. Neles os
negros e seus mesticos comparecem apenas para
prestar servicos.
Se este observador tentar descobrir a razdo desta
concentragao de riqueza, poder e prestigio em
mos brancas, ira se defrontar com um problema
social que transformou-se num verdadeiro tabu
brasileiro,
Quer entre brancos, quer entre negros, este € um
assunto maldito do qual todos querem se manter
afastados. Os brancos, porque temem despertar a
consciéncia negra. Os negros, porque possuem
um terrivel complexo de inferioridade perante os
brancos e tentam desesperadamente fugir da
cruel realidade ma qual séo rejeitados e mal
amados.
Este livro toca em feridas de um doente que tem
medo de procurar a cura. Toca em sentimentos de
opressores que vivem em paz com sua
consciéncia, porque se créem bondosos e justos.DEDICATORIA
AOS BRANCOS
Aqueles poucos que foram meus amigos sinceros = aos quais devo
lealdade e respeito, peco perdao por incitar a outra metade do Brasil a lutar
pelo justo direite de participar da riqueza e bem estar desta enorme nacio.
Se este livro tiver um minimo de aceltag&o entre negros, meus amigos
brancos e seus descendentes terao que se esforcar muito mais para
‘ocupar os espacos nobres de nossa sociedade.
Aqueles que me discriminaram, ¢ que n&o foram poucos, depois de
longo tempo de angustia, finalmente posso agradecer-ines, Atraves de seu
veneno facista aprendi a temperar meu animo e disposicao para a
competic&o. Aprendi finalmente a transformar seu racismo em poderoso
uulante para a luta
AOS NEGROS
Infelizmente, nestes anos tados dedicados a observar, debater e tentar
modificar a triste realidade dos negros perdi alguns dos poucos amigos
brancos que passuia sem conseguir colocar amigos negros em seus
lugares. Depois de algum tempo percebi que este comportamento é um
dos sintomas da grave doenca social que atinge grupos mal-amados,
rejeitados ¢ incapazes de reagir devido a sua impoténcia.
AOS MESTICOS
Pobres criaturas sem identidade. Vivem a ilusda de serem o que nunca
poderfio ser. Jamais conseguirio descansar em paz entre seus
semelhantes racials, pois rejeitam os negros ¢, pelos brancos, sao
rejeitados