You are on page 1of 4

Universidade Católica de Pernambuco

Aluno: Renato Araujo Medeiros


Professora Maria de Fátima Falcão
Direito Processual Penal II
Horário: 2 e 4 AB

A prisão em segundo grau e o princípio da presunção de inocência


O princípio da presunção de inocência, junto a outras garantias
constitucionais, garante ao acusado pela prática de uma infração penal um
julgamento justo, tendo em vista os preceitos de um Estado Democrático de
Direito. O referido princípio tem raízes anteriores à Constituição Federal
brasileira, e é tratado da seguinte maneira na Declaração Universal dos Direitos
Humanos aprovada pela ONU em 1948, em seu inciso XI:

1. Todo ser humano acusado de um ato delituoso tem o direito de ser


presumido inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de
acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido
asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa.
2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no
momento, não constituíam delito perante o direito nacional ou
internacional. Também não será imposta pena mais forte do que aquela
que, no momento da prática, era aplicável ao ato delituoso.

Aos poucos este princípio foi sendo incorporado nos mais diversos
sistemas jurídicos pelo mundo, e não foi diferente com o Brasil, que traz no art.
5º de sua Constituição Federal de 1988:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de
sentença penal condenatória;

Ou seja, o Direito Fundamental tratado garante que, até que ocorra o


trânsito em julgado de uma sentença penal condenatória, todos serão
presumidos inocentes.
O pacto de São José da Costa Rica também versa sobre o assunto, além
de trazer algumas garantias em seu art. 8º, 1 e 2:

1. Toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas garantias e


dentro de um prazo razoável, por um juiz ou tribunal competente,
independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na
apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou para que
se determinem seus direitos ou obrigações de natureza civil, trabalhista,
fiscal ou de qualquer outra natureza.

2. Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua


inocência enquanto não se comprove legalmente sua culpa. Durante o
processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguintes
garantias mínimas:
a. - direito do acusado de ser assistido gratuitamente por tradutor ou
intérprete, se não compreender ou não falar o idioma do juízo ou
tribunal;
b. - comunicação prévia e pormenorizada ao acusado da acusação
formulada;
c. - concessão ao acusado do tempo e dos meios adequados para a
preparação de sua defesa;
d. - direito do acusado de defender-se pessoalmente ou de ser assistido
por um defensor de sua escolha e de comunicar-se, livremente e em
particular, com seu defensor;
e. - direito irrenunciável de ser assistido por um defensor proporcionado
pelo Estado, remunerado ou não, segundo a legislação interna, se o
acusado não se defender ele próprio nem nomear defensor dentro
do prazo estabelecido pela lei;
f. - direito da defesa de inquirir as testemunhas presentes no tribunal e de
obter o comparecimento, como testemunhas ou peritos, de outras
pessoas que possam lançar luz sobre os fatos;
g. - direito de não ser obrigado a depor contra si mesma, nem a
declarar-se culpada;
e
h. - direito de recorrer da sentença para juiz ou tribunal superior.

Em relação a este princípio, José Afonso da Silva, em seu livro


“Comentário Contextual à Constituição” (Ed. Malheiros, 2014), observa que “a
norma constitucional do artigo 5º, inciso LVII, garante a presunção de
inocência por meio de um enunciado negativo universal: “ninguém será
considerado culpado até o trânsito em julgado de uma sentença penal
condenatória”. Esclarece, em seguida, que o trânsito em julgado se dá quando
a decisão não comporta mais recurso ordinário, especial ou extraordinário”
Segundo Luís Roberto Barroso, no Direito contemporâneo, a Constituição
passou a ser compreendida como um sistema aberto de princípios e regras. Que
é permeável a valores jurídicos supra-positivos, na qual as ideias de justiça e de
realização dos direitos fundamentais desempenham um papel central. Além
disso, diz ainda que os princípios jurídicos, especialmente de natureza
constitucional, viveram um vertiginoso processo de ascensão, que os elevou de
uma fonte subsidiária do Direito, nas hipóteses de lacuna, ao centro do sistema
jurídico.
Quanto à prisão em segunda instância, quando o Código de Processo
Penal foi promulgado, em 1941, época em que vivia-se em um contexto histórico
autoritário, a presunção de inocência não se fazia presente, pois ao contrário
disto, vivia-se em um juízo de antecipação da culpabilidade, e para recorrer da
prisão o condenado já teria que estar preso. Esta situação começou a mudar
quando, em 1973, o delegado Sérgio Paranhos Fleury teve a prisão preventiva
decretada, caso que teve tanta repercussão que fez a lei processual penal ser
alterada, pois foi abrindo a possibilidade de o réu primário que tem bons
antecedentes aguardar o julgamento em liberdade, e estabeleceu que a prisão
preventiva só deveria ocorrer em casos de necessidade, que é um doa pilares
da presunção de inocência. A lei foi duramente criticada com o argumento de
que apenas privilegiaria as pessoas mais influentes, e foi alterada anos mais
tarde e fez com que a fiança fosse aplicada apenas em casos excepcionais.
Com a atual Constituição Federal, de 1988, o princípio da presunção de
inocência foi legitimado, mas ainda havia um choque de ideologias entre a então
nova CF, que consta a presunção de inocência até o trânsito em julgado da
sentença e o Código de Processo Penal, que tinha valores que demonstravam a
antecipação de culpabilidade. À época vigente, a súmula 9 do STJ dizia que a
exigência da prisão provisória, para apelar, não ofendia a garantia
constitucional da presunção de inocência.
Porém em 2009 o STF mudou o entendimento, estabelecendo com o
julgamento do HC 84.078, que tratava de um caso de homicídio, em que
estabeleceu o direito do condenado em segunda instância de recorrer em
liberdade. No ano de 2016 a jurisprudência mudou novamente, pois o HC
126.292 tratava da legitimidade de ato do TJ/SP que, ao negar provimento ao
recurso exclusivo da defesa, determinou o início da execução da pena. Por
maioria dos votos, a jurisprudência foi mudada, permitindo a execução da pena
depois de decisão condenatória confirmada em segunda instância.
Recentemente a discussão tomou conta do país, em relação ao caso do
julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que foi condenado a 12
anos e 1 mês de reclusão pela Oitava Turma do Tribunal Regional Federal da
4ª Região, e teve negado seu Habeas Corpus preventivo pelo STF, ou seja,
dando julgamento favorável à execução da pena após a condenação em
segunda instância.

You might also like