Gênero textual - Entrevista

TEXTO

Normalmente, o jovem é associado à contestação, irreverência, quebra de valores. Mas será que
isso se confirma na prática? Que tipo de jovem você é: transformador ou conservador? Vejamos,
nessa
Entrevista concedida a revista Cláudia, o que diz sobre a juventude o jornalista Serginho
Groissman,
apresentador do Programa Livre, no SBT, que acumula uma experiência de mais de vinte anos de
trabalho com adolescentes.

Língua Portuguesa 1 GEPEM - Secretaria de Educação

 CLAUDIA: O que mudou entre o
adolescente dos anos 60 ou 70 e o de
hoje. Que frequenta o seu programa?
Groissman: O adolescente não muda o que
muda é sua relação com as transformações por
que passa o país. São as circunstâncias
políticas, culturais e sociais que levam a
juventude, ou uma parte dela, a ter uma
atuação destacada ou não na sociedade. Por
exemplo, uma parte da juventude estava
mobilizada e efervescente. Politicamente, nos
anos 70, porque a gente vivia numa ditadura e
a sociedade pedia sua participação quando
entramos num período de democracia e a
sociedade se mobilizou pela campanha das
Diretas Já, ou do impeachment, a juventude
também foi as ruas. O que significa isso? Que
o jovem não atua de forma isolada da
sociedade. Por isso, não acredito em uma
juventude transformadora.
CLAUDIA: Mas o jovem não foi sempre
mais livre mais irreverente?
Groissman: a juventude, em qualquer
década, usufrui de uma posição que lhe
permite ter menos vínculos com a sociedade.
Eles. Eles não têm chefe, não tem de prestar
contas à sua posição social ou profissional. O
que lhes facilita a abertura para o novo. Isso
não significa que exista uma juventude
brasileira que pensa de um determinado jeito.
O cara de 16 anos, preso na FEBEM, tem um
pensamento completamente diferente do que
estuda num colégio de classe média de São
Paulo. Como nos anos 70, por exemplo, o
grupo de jovens que protestava, era preso e
apanhava, na verdade, era pequeno. Existia
todo um outro grupo, infinitamente maior,
totalmente alheio ao que acontecia. É isso que
me leva a crer que não existe um parâmetro
universal para qualificar a juventude assim ou
assado.
CLAUDIA: Não existe, então um
comportamento típico dos jovens?
Groissman: Talvez existam alguns. Numa
sociedade mais democrática como a que
vivemos hoje, por exemplo, o que eu observo é
que eles não têm dogmas. Antes você era
obrigado a optar: ou era de esquerda ou era de
direita. [...]
CLAUDIA: os jovens não se situam mais
à esquerda ou à direita, politicamente?
Groissman: com a democracia isso acabou
a meu ver. O que existe hoje é o acesso à
informação, muito maior. E uma consciência
ecológica, talvez, um pouco maior do que
existia antes. Mas a atuação política é menor
por que a sociedade não está precisando
mobilizar ninguém. E, principalmente, por que
nenhum partido político, nenhum mesmo,
oferece aos jovens um canal de participação
ligado às suas necessidades. As lideranças
estudantis podem até convocar um protesto em
frente à Bolsa de Valores contra a privatização
da Vale do Rio Doce. Mas isso não interessa
ao jovem. Por que interessaria?
CLAUDIA: Na geração que tem hoje de 40
a 50 anos, usar cabelo grande, fumar
maconha ou ter vida sexual livre definia
uma forma de pensar. Isso ainda ajuda a
definir as turmas?
Groissman: não existe mais essa coerência
entre a atitude, o visual e as idéias em que um
jovem acredita. Outro dia, no programa, fiz uma
entrevista só com a platéia. Comecei a falar de
ecologia e uma menina me interrompeu
dizendo que devemos preservar a natureza e
os animais, e que a poluição está acabando
com nosso planeta. Ela me deu até um botão
do PV. Maravilha! Aí começamos a discutir o
linchamento. Algumas pessoas na platéia eram
favoráveis ao linchamento. Eu estava lá
abismado, sem dar minha opinião. Muitas
vezes eu tenho vontade de interferir, mas não
falo por que mataria a discussão. Aí, lembrei-
me da ecologista. E você? É a favor do
linchamento, perguntei, achando, na minha
cabeça pelo menos, que ela poderia ser um
pouco a minha representante naquela hora. Ela
respondeu: “Eu sou”. Mas como?, Retruquei
você não é a favor da vida, dos animais? Ela
disse: “ Veja bem, preservar a floresta, os
animais, tudo bem, mas se o cara entra na sua
casa estupra sua mãe, o seu irmão, este cara
tem que morrer?”. É um indicador de como
andam as coisas hoje.
CLAUDIA: Os adolescentes hoje sãos
mais incoerentes do que foram na
geração dos seus pais?
Groissman: naquilo que para gente seria
uma visão de esquerda, humanista, de
preservação da natureza e da cidadania, não.
Dou outro exemplo. Faço uma pesquisa
informal todo dia, com a platéia do programa.
Pergunto sempre a mesma coisa: quantos de
vocês sabem que se usando camisinha não
vão engravidar nem contrair o vírus da AIDS?
E 100% levantam a mão. E daí pergunto: e
quantos de vocês conhecem alguém de seu
mesmo nível de informação e idade que já
engravidou? Aí, 90% levantam a mão. Isso
acontece aonde eu vou. Em todo o Brasil. As
pessoas têm a informação, mas não sabem o
que fazer com ela. E isso não é só uma
característica da juventude, mas da sociedade,
que eu sinto através da juventude.
CLAUDIA: Quais são os problemas e os
anseios da juventude?
Groissman: o problema das drogas é
forte. O alcoolismo, principalmente, é um
problema grave. A sexualidade também. A
necessidade de ter objetos poderosos de
consumo, como carros, por exemplo, afeta
também muito os jovens.
CLAUDIA: Em que sentido a sexualidade
é um problema?
Groissman: a gravidez na adolescência é
um problema seriíssimo, por exemplo. É difícil
um não conhecer alguém de seu circulo que
tenha engravidado.
CLAUDIA: O que você costuma ouvir
sobre adolescentes que engravidam?
Groissman: as histórias que ouço de
garotas que engravidam, raramente acabam
bem, com a constituição de uma família. Ou o
garoto vai embora de vara ou fica um pouco
para ir posteriormente. em geral, a garota fica
sozinha com o filho. E, mesmo assim, poucas
andam com camisinha na bolsa. Por que se a
mãe descobre, é um escândalo. O namorado
também pode achar que ela é “fácil”. Sem falar
dos garotos do colégio, que se souberem vão
querer transar com ela. Com isso, a maior
prejudicada é a mulher. Ela acaba com um
filho, enquanto o garoto passa por garanhão.
CLAUDIA: Eles não fazem abortos?
Groissman: Dificilmente. Quer dizer, tem
muitos abortos, muitos mesmo, mas acho que
não é a regra de comportamento na juventude
de hoje.
CLAUDIA: A AIDS é uma preocupação?
Groissman: Não chega a ser tão grande.
Um pouco, acho, porque eles não conhecem
tantos colegas com AIDS. O índice de AIDS
entre os adolescentes é crescente, mas ainda
não está visível. A gravidez, sim, é uma coisa
muito clara para eles.
(Claudia Família, set. 1996.)
Atividade
1º) Contrariando o pensamento comum de
que o jovem é por natureza um ser
transformador, Serginho Groissman afirma
que o adolescente não muda e que não
existe uma “Juventude Transformadora”.
a) Para o apresentador existe hoje um
modelo único de jovem, brasileiro ou
universal? Por quê?
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b) Na resposta à primeira pergunta, que
argumento ele apresenta para
fundamentar seu ponto de vista?
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c) A opinião de Serginho Groissman sobre
a atuação política dos jovens é coerente
ou incoerente com a visão inicial de que a
juventude, por si só, não é
transformadora? Justifique sua resposta:
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d) Na 2ª pergunta, o entrevistador aponta
uma possível contradição do que afirma
Serginho, o jovem não seria sempre mais
livre mais irreverente? O apresentador
concorda, discorda ou concorda
parcialmente com essa visão? Justifique
sua resposta:
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2º) Respondendo à 5ª pergunta, Serginho
afirma que o jovem de hoje não apresenta
coerência entre ideias, atitudes e
aparência:
a) Para você em que consiste coerência
entre idéias, atitudes e modo de vestir? Dê
exemplos:
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b) Pelo que se subentende do texto, ele
acha que essa coerência existiu ou não
entre os jovens dos anos 60 a 70? Indique
um trecho do texto que comprove sua
resposta:
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c) Para justificar seu ponto de vista,
Serginho cita como exemplo a discussão
sobre linchamento feita em seu programa.
Na opinião do apresentador, em que,
consiste a incoerência da “garota
ecologista”?
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3º) Continue as ideias abaixo sendo
coerente a linha de pensamento do
apresentador.
* Obs: Você não pode copiar do texto, nem
parafraseá-lo. Não precisa ser uma
redação um parágrafo é suficiente.
a) “Mas, a atuação política é menor porque
a sociedade não está precisando mobilizar
ninguém.”
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b) “Em geral, a garota fica sozinha com o
filho. E, mesmo assim, poucas delas
andam com camisinha na bolsa.”
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c) “È isso que me leva a crer que não
existe um parâmetro universal para
qualificar a juventude assim ou assado.”
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d) “As pessoas têm a informação mas não
sabem o que fazer com ela.”
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