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outubro-dezembro 2018 // 3€

A REVISTA DO IEFP Dirigir & Formar N.º 21

INOVAR NA GESTÃO

SEPARATA
AVALIAÇÕES DE IMPACTO
DE POLÍTICAS DE COESÃO
A
criatividade e a inovação assumem hoje reconhe- de gestão pela inovação, mas baseada na experiência
cidamente uma importância estratégica crescen- pragmática de implementação de projetos ao longo dos
te nos mais diversos planos, constituindo cada anos nas empresas em Portugal e a nível internacional,
vez mais fatores diferenciadores que explicam com fre- bem como na interação direta regular com especialistas
quência a atratividade, o sucesso e a competitividade, e líderes de inovação em Silicon Valley, nos EUA».
nomeadamente das empresas, das cidades e das esco- No Dossier abordamos três exemplos ao nível setorial
las, e seguramente estão na base de muitas transforma- de como a inovação e o aumento das qualificações são
ções económicas e sociais. determinantes para o sucesso da competitividade em-
Ousar olhar o «nosso mundo» de forma diferente e ar- presarial, e procura-se dar a conhecer os principais as-
riscar a mudança, experimentar e implementar novas petos associados à evolução e ao impacto do «cluster
metodologias, são certamente constituintes decisivos aeronáutico» em Portugal, à evolução do setor agríco-
para novas ideias e para a melhoria de processos, pro- la e à importância dos projetos inovadores nesta área
dutos e aprendizagens. e como as tecnologias de informação e comunicação
O investimento na aprendizagem ao longo da vida e o têm promovido a inovação tecnológica, a transformação
aumento das qualificações profissionais e pessoais são e evolução constante das competências e, também, as
fundamentais no processo de criação e inovação e cons- novas formas de trabalho e modelos de negócio.
tituem seguramente um contributo decisivo, por exem- Neste contexto, os apoios dos fundos comunitários cons-
plo, para a competitividade empresarial. Aliás, na revista tituem um contributo extremamente positivo para a mo-
anterior abordámos diferentes aspetos da inovação na dernização das empresas, ajudando a desenvolver os
formação. seus índices de inovação e competitividade, pelo que se
A Inovação na Gestão, tema desta edição da Dirigir&Formar, reveste da maior importância avaliar e aferir a qualidade
é igualmente um fator estratégico da maior importância dos resultados obtidos, a sua eficácia e eficiência, ten-
na resposta aos desafios da competitividade, desenvol- do em conta, designadamente, os esperados objetivos
vimento e modernização das organizações. de mudança.
Estes desafios, transversais a todos os setores de ati- Assim, nesta Separata apresentam-se as principais
vidade, assumem hoje em dia uma enorme premência, conclusões dos estudos «Avaliação do Impacto dos
sobretudo face à velocidade e ao impacto da revolução FEEI no Desempenho das Empresas Portuguesas»
digital e da globalização dos mercados. Como refere o e «Avaliação do Contributo dos FEEI para as Dinâmi-
autor do artigo de abertura desta revista, «Inovar já não cas de Transferência e Valorização de Conhecimen-
é o que era», sublinhando que «só terá sucesso quem to», duas das avaliações previstas no PGA do PT2020
estiver atento às mudanças na forma de inovar» e que e coordenadas pela Agência para o Desenvolvimento
a inovação «só terá efeitos sustentáveis se envolver e Coesão (AD&C), estudos realizados respetivamente
toda a empresa e se se basear em processos transver- pelo Dinâmia-ISCTE e Augusto Mateus & Associados.
sais, com impacto na estratégia, na estrutura organiza- Esperamos, com esta edição, promover o debate e con-
cional e na cultura da empresa». tribuir para a discussão: Por onde se deve começar
Nos três artigos que constituem o Tema de Capa desta e como se deve estruturar o processo de inovação numa
revista o leitor poderá encontrar informação sobre vários empresa?
fatores determinantes do sucesso da inovação empre-
sarial no presente. Com refere Carlos Oliveira «a aborda- António Valadas da Silva
gem não é exaustiva. Nem sistematizada numa teoria Presidente do Conselho Diretivo do IEFP, I.P.

DIRIGIR&FORMAR N.º 21 1
ÍNDICE
EUROPA 5 DIVULGAÇÃO
04 A inovação já não é o que era EM NOTÍCIAS 71 Tome nota |
Nuno Gama de Oliveira Pinto
27 AED quer colocar Portugal no mapa. 69 Euroflash | Nuno Gama de Oliveira Pinto 72 Sabia que |
Nuno Gama de Oliveira Pinto
Entrevista ao general José Cordeiro,
presidente da AED
44 Investir na investigação e na inovação...
Começando pela educação

60 O digital na gestão dos recursos


humanos: mais que uma
necessidade, uma inevitabilidade

SEPARATA
TEMA DE CAPA AVALIAÇÕES DE IMPACTO DE POLÍTICAS DE COESÃO
04 A inovação já não é o que era | Carlos Miguel Valleré de Oliveira À implementação dos fundos comunitários está
12 Porquê e como promover uma cultura de inovação | Torben Rankine associada uma responsabilidade de prestação de
18 Como estruturar a inovação | Carlos Miguel Valleré de Oliveira contas e de avaliação, materializada no Plano Global
de Avaliação do Portugal 2020, desenvolvido pela
Rede de Monitorização e Avaliação do Portugal 2020
(composta pelos Programas Operacionais
e coordenada pela Agência para o Desenvolvimento
e Coesão – AD&C). Nesta Separata apresentam-se
as principais conclusões dos estudos «Avaliação
do Impacto dos FEEI no Desempenho das Empresas
DOSSIER Portuguesas» e «Avaliação do Contributo dos FEEI
CLUSTER AERONÁUTICO EM PORTUGAL para as Dinâmicas de Transferência e Valorização de
26 Aeronáutica, Espaço e Defesa representam já 1,8 mil milhões de euros | Rita Vieira Conhecimento», duas das avaliações previstas no
27 AED quer colocar Portugal no mapa. Entrevista ao general José Cordeiro, presidente da AED | Rita Vieira
PGA do PT2020 e coordenadas pela AD&C, estudos
32 A formação para a indústria aeronáutica no IEFP, I.P. | António Manuel Branquinho
SETOR AGRÍCOLA realizados respetivamente pelo Dinâmia-ISCTE
38 Inovação no setor agrícola | Luís Mira e Augusto Mateus & Associados.
41 Uma nova geração de agricultores | Revista Dirigir&Formar
TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO
44 Investir na investigação e na inovação… começando pela educação | Ana Maria Nogueira
48 O papel do IEFP, I.P. na nova era digital | Departamento de Formação Profissional do IEFP, I.P.
51 Os segredos para estar na vanguarda da inovação – O caso da Outsystems | Alexandra Monteiro

GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS FICHA TÉCNICA N.º 21


TEMAS DE GESTÃO
54 Coaching para executivos: moda, desafio ou dever? | Arménio Rego, Tomás Mota Rego, Miguel Pina e Cunha
PROPRIETÁRIO/EDITOR IEFP - Instituto do Emprego e Formação Profissional, I. P., Rua de Xabregas, 52 - 1949-003 Lisboa DIRETOR Paulo Feliciano RESPONSÁVEL EDITORIAL
60 O digital na gestão dos recursos humanos: Maria Fernanda Gonçalves COORDENADORA Lídia Spencer Branco CONSELHO EDITORIAL DA REVISTA Adélia Costa, Ana Cláudia Valente, António José de Almeida, Conceição
mais que uma necessidade, uma inevitabilidade | Isabel Viegas Matos, Fernando Moreira da Silva, João Palmeiro, Luís Alcoforado, Nuno Gama de Oliveira Pinto, Paulo Feliciano REVISÃO Laurinda Brandão REDAÇÃO: Revista Dirigir&Formar,
CARREIRAS: BREVES CRÓNICAS Gabinete de Comunicação e Relações Externas Tel.: 215 803 000 / Ext.: 90011 e 90014 CONDIÇÕES DE ASSINATURA Enviar carta com nome completo, data de nascimento,
morada, profissão e/ou cargo da empresa onde trabalha e respetiva área de atividade para: Rua de Xabregas, 52 - 1949-003 Lisboa, ou e-mail com os mesmos dados para:
64 Cinquenta anos todos os dias, o ontem veste-se de amanhã | João Palmeiro
dirigir&formar@iefp.pt ESTATUTO EDITORIAL https://www.iefp.pt/documents/10181/696230/Estatuto_Editorial_DirigirFormar.pdf NOTADA NO ICS | DATA DE PUBLICAÇÃO dezembro
TEMAS DE FORMAÇÃO 2018 PERIODICIDADE 4 números/ano PRODUÇÃO GRÁFICA Engirisco DESIGN HSC FOTOGRAFIA DE CAPA Deposito Photos/Fotobanco.pt FOTOGRAFIA Shutterstock; IEFP, I.P.
66 Criação de um portefólio digital | Fernando Ferreira IMPRESSÃO LIDERGRAF Sustainable Printing Rua do Galhano, EN 13 – 4480-089 Vila do Conde TIRAGEM 20 000 exemplares REGISTO Anotada na Entidade Reguladora para a
Comunicação Social DEPÓSITO LEGAL 348445/12 ISSN 2182-7532

Todos os artigos assinados são de exclusiva responsabilidade dos autores, não coincidindo necessariamente com as opiniões do Conselho Diretivo do IEFP, I.P. É permitida a reprodução dos artigos publicados, para fins não comerciais,
desde que indicada a fonte e informada a Revista.

2 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 3


TEMA DE CAPA

O
mundo está a mudar de uma forma acelerada. Este artigo aborda cinco de vários fatores determinan-
O contexto competitivo mudou. É, pois, natural tes do sucesso da inovação empresarial no presente.
que o modo de inovar também esteja a mudar. A abordagem não é exaustiva por limitação de espaço.

A INOVAÇÃO
Embora os decisores empresariais e públicos reconhe- Nem sistematizada numa teoria de gestão da inovação,
çam a existência de um novo conjunto de oportunidades mas baseada na experiência pragmática de implemen-
e ameaças, muitos não sabem por onde e como come- tação de projetos ao longo dos anos nas empresas em
çar. Só terá sucesso quem estiver atento às mudanças Portugal e a nível internacional, bem como na interação

JÁ NÃO É O QUE ERA


na forma de inovar. direta regular com especialistas e líderes de inovação
Adicionalmente, é necessário reconhecer à partida que em Silicon Valley, nos EUA.
a inovação é um desafio complexo, que só terá efeitos
sustentáveis se envolver toda a empresa e se se basear 1. A INOVAÇÃO HOJE
em processos transversais, com impacto na estratégia,
CARLOS MIGUEL VALLERÉ DE OLIVEIRA. na estrutura organizacional e na cultura, entre outros. i) INOVAR MAIS RÁPIDO
CEO DA LEADERSHIP BUSINESS CONSULTING (LBC),
EMPRESA COM UMA OFERTA EM INOVAÇÃO E Modelos simplistas – modelos «fontanários», modelos No passado, a inovação 1,2 era quase opcional. Uma
MENTOR DO GSI – GLOBAL STRATEGIC INNOVATION:
INTERNATIONAL EXECUTIVE PROGRAM, QUE «estáticos» e modelos «jogo», entre empresa poderia sobreviver no mercado por muitos
TODOS OS ANOS LEVA EXECUTIVOS DE TOPO AO outros – geram desilusão anos sem inovar. Hoje, quem não inovar vai perecer
CENTRO DE INOVAÇÃO MUNDIAL, SILICON VALLEY,
NOS EUA de expectativas nos muito mais rapidamente, pois a velocidade da mu-
decisores e nas dança na sociedade e nos mercados empresa-
FOTOS CEDIDAS PELO AUTOR, organizações. riais foi acelerada pela revolução digital e pela
ENGIRISCO
globalização dos mercados. O prazo médio
Inovar? Não. de companhias pertencentes ao Índice S&P
Já te nt ámos isso antes 500 (as 500 maiores empresas registadas
e não fucionou. na maior economia mundial – EUA) caiu de
61 anos, em 1958, para apenas 15 anos, em
2017. A este ritmo, 75% da atual lista de empre-
sas pertencentes à S&P 500 poderá ser substituí-
da nos próximos... 10 anos. Sete das dez maiores
empresas mundiais não existiam há 20 anos. Al-
gumas novas empresas com modelos inovadores
crescem de forma exponencial e não de forma
aritmética, como no século xx. Este movimento
é mais evidente nos EUA do que na Europa. Mas
as estatísticas são avassaladoras em qualquer
parte do mundo.
©Timoelliot

É hoje reconhecido que as empresas estabeleci-


das, especialmente as maiores, têm imensa difi-
culdade em inovar. São criadas para serem boas
executadoras do seu negócio, focadas na otimi-
zação operacional, e não para serem criativas
e inovadoras.
Mesmo nos setores tradicionais, e nas PME, verifica-
mos que há empresas a desaparecerem rapidamente
e regiões a entrarem em depressão económica por
falta de inovação. Quantos não são os casos de em-
presas de base familiar bem estabelecidas, em que
a primeira geração começa por construir uma empre-
sa sólida em termos de oferta competitiva, clientes
fidelizados, situação financeira robusta, e acaba por
entregar à geração seguinte uma empresa sem com-
petitividade e em grandes dificuldades financeiras.

4 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 5


TEMA DE CAPA A inovação já não é o que era

A mensagem é clara: o jogo agora não é apenas inovar, emergentes – como o big data, a cloud, blockchain, «A inovação aberta é a utilização de fluxos de conhecimento A mensagem é clara: a inovação terá maior impacto se
mas sim inovar mais rapidamente ou... desaparecer. a Internet das coisas, a inteligência artificial, a robóti- para fora e para dentro da entidade com o intuito de acele- for essencialmente colaborativa, dentro e fora da orga-
ca, a automatização do trabalho inteligente, a produção rar a inovação, expandir mercados e melhorar resultados.» nização, e se estiver focada no ecossistema da empresa
aditiva (incluindo impressão 3D), os materiais tecnolo- (Henry Chesbrough). e não apenas na própria empresa.
gicamente avançados, os drones, os carros autónomos, Isto requer novos modelos de gestão de parcerias,
novas formas de produzir e de armazenar energia – estão de gestão comum de propriedade intelec-
a virar do avesso muitos modelos de negócio. As fintech Mercado das outras empresas tual, de cultura colaborativa e
estão a desafiar a banca tradicional; os carros autóno- comportamentos de con-
mos irão transformar o setor automóvel e as cidades. Fluxo interno de ideias O nosso novo mercado fiança, aos quais as
A indústria 4.0 vai fazer convergir o mundo físico com empresas nem
o mundo digital, onde os equipamentos e as máquinas sempre estão
irão autonomamente gerir e otimizar as operações, em habituadas.
toda a cadeia de valor. O BIM – modelagem da informa- Base tecnológica interna
ção da construção – está progressivamente a digitalizar
todas as infraestruturas físicas – prédios, estradas, ca-
O nosso mercado atual
sas, condutas, etc.
Esta revolução tecnológica alterou o desafio da inovação,
que passou a ser mais disruptiva e a exigir muito mais de Investimentos internos/externos
cada decisor e de cada organização em termos de prio-
ridade estratégica, competências necessárias, esforço Base tecnológica externa
estruturado, recursos alocados e mentalidade. Fluxo externo de ideias:
A mensagem é clara: a inovação está mais complexa. clientes, fornecedores, parceiros, internet
E abordar a inovação de forma amadora ou como se fez
no passado não vai funcionar. Não há tempo para esperar apenas por processos inter- v) MASSIFICAR E ACELERAR OS PROCESSOS DE INOVAÇÃO
EVOLUÇÃO EM PORTUGAL nos. Nem a criatividade interna consegue abarcar to- Anteriormente, o departamento de inovação tratava do es-
iii) ASSEGURAR QUE A INOVAÇÃO É ESTRATÉGICA dos os grandes desafios que exigem respostas rápidas sencial dos desafios de inovação de uma empresa. Hoje
Nos últimos 20 anos registou-se uma enorme evolução Muitas empresas deixam que os seus processos de ino- e complexas. Quanto mais depressa os decisores toma- isso já não é suficiente. A inovação precisa de ser massifi-
na inovação em Portugal nas grandes empresas, em vá- vação se distanciem da sua dimensão estratégica fun- rem consciência deste facto, mais rapidamente terão cada por toda a empresa e de acontecer todos os dias. As
rios setores económicos, nas PME, nas universidades, no damental, que é criar valor para o cliente e lucros para sucesso na inovação. Adicionalmente, as inovações que ferramentas digitais internas e externas envolvem mais
setor público e no ecossistema do empreendedorismo. a empresa. A inovação não é criatividade, que trata de envolvem a cadeia de valor, o ecossistema empresa- gente e requerem respostas, mudanças e novas soluções
Nas empresas estabelecidas temos já exemplos que são processos cognitivos (ideias). A inovação não é inven- rial onde a empresa se insere, têm muito mais impacto para clientes num tempo muito mais acelerado.
líderes mundiais no seu setor, como a EDP, a Brisa ou, ção, que trata de processos tecnológicos (tecnologia). que as que são desenvolvidas apenas para a própria Se o desafio da inovação de produtos, serviços, processos
mais recentemente, a Farfetch. Nas novas empresas Ambos são críticos para a inovação mas não são inova- empresa. e modelo de negócio já é complexo, a montagem e gestão
temos também exemplos de destaque mundial, como ção. A inovação trata de processos de negócio (merca- As empresas reconhecidas como inovadoras adquirem de processos para o desafio do everyday innovation é bem
a Outsystems, a Talkdesk e a Feedzai. Vários setores tra- do). Ainda hoje, muitos modelos de inovação distraem-se a maior parte da sua inovação fora, através de aquisi- mais complexa.
dicionais inovaram substancialmente, assumindo lide- com a criatividade, a tecnologia e as idiossincrasias dos ções de startups de talentos e de tecnologia, de co- A mensagem é clara: as empresas têm de estabelecer pro-
rança tecnológica mundial, como o calçado e os moldes. agentes de inovação, que são instrumentos e não fins em laborações com fornecedores e até concorrentes, de cessos de inovação que envolvam toda a organização e
Mas se compararmos essa evolução com a de outros si mesmo. A inovação é um processo contínuo orientado investigação realizada por universidades e centros de todos os colaboradores no desenvolvimento da inovação.
países e, decisivamente, com os desafios, ameaças para a criação de valor, que torna uma ideia em valor investigação especializados e do envolvimento direto Ao mesmo tempo, são também precisos processos mais
e oportunidades dos próximos anos, temos de acelerar para o cliente e em lucros para a empresa. com os consumidores. rápidos para desenvolver novas soluções.
ainda mais. A mensagem é clara: o esforço de inovação tem de ter um De acordo com as estatísticas da plataforma Crunchba-
grande foco estratégico e ser uma mudança economica- se, só a Google (Alphabet), a Amazon, a Apple, a Facebook
ii) COMPREENDER A DISRUPÇÃO TECNOLÓGICA mente útil para a empresa. A única medida de sucesso da e a Microsoft compraram, em conjunto, em cada ano
A revolução tecnológica, nomeadamente a revolução digi- inovação são clientes/utilizadores satisfeitos e lucros/ desde 2010, entre 50 a 70 empresas bem estabeleci-
tal, está a acelerar e a aprofundar a mudança nas nossas benefícios para a empresa. das, fora as startups emergentes (só a Google adquiriu
vidas. Cada tecnologia por si tem um efeito altamente perto de 100 nos últimos cinco anos). Ainda segundo a Inovação especializada, Inovação por todos os
suportada por I&D, elementos da empresa,
disruptivo. Mas o resultado combinatório destas tecno- iv) DESENVOLVER A INOVAÇÃO ABERTA Crunchbase, em 2017 a Amazon gastou em aquisições análise sistematizada, operacional, por não
logias tem um efeito ainda mais disruptivo. No passado a inovação tinha lugar essencialmente den- 15 mil milhões de dólares. Segundo a CB Insights, estas com investimento de especialistas, a qualquer
longo prazo momento.
Além do impacto já registado da Internet, do móvel, das tro da empresa. Hoje a inovação tem lugar mais fora do mesmas cinco empresas adquiriram 35 empresas de Everyday innovation
redes sociais e de um vasto conjunto de tecnologias que dentro da empresa. inteligência artificial nos últimos cinco anos.
Uma Responsabilidade Uma Responsabilidade
da Empresa Individual

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TEMA DE CAPA A inovação já não é o que era

As empresas de maior sucesso na inovação têm mos- 2. COMO PROMOVER A INOVAÇÃO EMPRESARIAL e de uma só vez, reduzindo erros e experimentação, den-
trado que falhar rápido (fail fast), baseado em modelos A inovação é um processo tro da estabilidade natural da empresa. Não dão espaço
lean, é um modelo que reduz o desperdício de recursos, Tendo em consideração estas mudanças no modo de ao pensamento divergente e à possibilidade de se colo-
permite gerar mais ideias de um modo mais rápido e au- inovar, como deve uma empresa montar o seu proces- contínuo orientado para a car em causa o modo como as coisas são feitas. Não dão
menta a eficácia do processo de inovação. so de inovação? criação de valor, que torna uma espaço ao erro e à experimentação. 
ideia em valor para o cliente Por analogia, na área científica o progresso faz-se testando
Há inúmeros modelos disponíveis para todos os gostos. todas as hipóteses e eliminando variáveis. No desporto,
MODELO TRADICIONAL Seja qual for o modelo adotado, a prática ilustra que qua- e em lucro para a empresa. um atleta de alta competição desenvolve-se testando, ex-
tro dimensões parecem ser muito importantes para o su- perimentando, treinando, aperfeiçoando. Do mesmo modo,
cesso da promoção e gestão da inovação nas empresas. um sistema de inovação empresarial é um processo de
iii) IDENTIFICAÇÃO E EMPODERAMENTO DE aperfeiçoamento de ideias que exige aceitação do erro
CAMPEÕES DE INOVAÇÃO e da experimentação. De forma contraintuitiva, pode-se afir-
Cultura O sucesso da inovação requer liderança por um conjunto mar que um bom sistema de inovação é aquele que acelera
NOVAS FALHANÇO FALHANÇO SUCESSOS
IDEIAS LENTO RÁPIDO de Inovação de elementos-chave em cada um dos estágios do pro- o processo de falhar e de evoluir para uma solução melhor. 
cesso. A liderança pelo topo é fundamental para definir
Framework uma visão, mas a liderança operacional é fundamental Apostar em modas e fórmulas simples
MODELO LEAN de Inovação para que algo aconteça. Na maior parte dos casos, os A maioria das empresas aposta em fórmulas simplistas
campeões estão dentro da empresa e precisam de ser em vez de pensar e desenvolver um processo de inova-
identificados e empoderados. ção adequado à sua realidade.
Uma fórmula simplista é o modelo «estático». Criar um
Recursos iv) DISPONIBILIZAÇÃO DE RECURSOS E FERRAMENTAS departamento de inovação e aguardar que essa equipa
e Ferramentas Várias empresas investem em planos ambiciosos mas produza uma estratégia e um plano de inovação, que é
depois negligenciam a alocação dos recursos necessá- maquetado, publicado e anunciado internamente quan-
Campeões rios ao processo de inovação, sendo um deles a disponi- do há espaço comunicacional. Na maior parte das vezes
NOVAS FALHANÇO FALHANÇO SUCESSOS de Inovação bilização de tempo a certos colaboradores. As empresas a estratégia definida depara-se com muitos desafios de
IDEIAS LENTO RÁPIDO
têm inúmeras ferramentas de gestão mas negligenciam compreensão e de implementação por ter sido desenvol-
ferramentas de inovação. Se fizer o que sempre fiz, vou vida de forma isolada, sem envolvimento de potenciais
alcançar o que sempre alcancei. campeões de inovação, e por esbarrar com os vários silos
A empresa Adobe concebeu uma estratégia de inovação i) DEFINIÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE UM organizacionais. Na maioria dos casos este modelo tem
que se baseou essencialmente na identificação e remo- FRAMEWORK 3. OS PRINCIPAIS BLOQUEIOS À INOVAÇÃO um sucesso limitado mas, mesmo assim, importante,
ção dos bloqueios à inovação e no fail fast. Por exemplo, A inovação requer um processo estruturado, disci- de gestão de projetos de inovação formais com finan-
quem tinha uma ideia inovadora aprovada tornava-se plinado e formalizado – um framework de referên- Várias razões podem explicar porque há empresas que ciamento comunitário.
o «CEO da sua ideia», não tendo de justificar administra- cia – de geração, promoção, teste, aperfeiçoamento são inovadoras e outras que não o são. E porque mesmo Outra fórmula simplista é o modelo «fontanário». Iden-
tivamente o dinheiro que lhe era concedido nem como e introdução no mercado de novas ideias alinhadas as inovadoras deixam de o ser em certo momento. Três tificação de algumas ações de modernização, como a in-
gastava o seu tempo. Ao mesmo tempo democratizou com a estratégia da empresa, dentro de um modelo das razões mais comuns são as seguintes: trodução de novos sistemas de informação, ou de nova
a inovação, fazendo um kit – o Adobe Kickbox – que pro- consensualizado. tecnologia, que servem de âncora a uma imagem de ino-
porcionava as ferramentas base a toda a organização. Procurar modelos que são a antítese da inovação vação, que é apenas superficial e associada a um ou dois
As alocações financeiras baixaram de poucos projetos ii) DEFINIÇÃO E PROMOÇÃO DE UMA CULTURA Uma ideia vencedora no mercado é algo que tem de projetos concretos.
com um elevado financiamento, para muitos projetos DE INOVAÇÃO ser testado, experimentado, corrigido e aperfeiçoado. Outra fórmula simplista é o modelo «jogos», ou seja,
com baixo financiamento. Os resultados positivos obti- A existência de um ambiente indutor de geração e im- A maior parte das ideias que parece interessante não envolvimento da empresa em ações de mobilização as-
dos foram muito positivos. plementação de novas ideias é fundamental para o su- passa o teste da experimentação. Mesmo com a correta sociadas a ferramentas da moda. No passado foi a intro-
cesso da inovação. Os planos de inovação e as ações abordagem, as coisas podem falhar. E falham muitas ve- dução de plataformas de registo de ideias, na maior parte
isoladas (os jogos da moda) secam rapidamente se zes. A inovação envolve erro. Muito erro. É preciso criar dos casos sem enquadramento estratégico, organizacio-
não houver uma cultura que estimule cada colabora- uma cultura e um processo que promovam um grande nal e operacional. No presente a introdução de sessões
dor a ser inovador no dia a dia, por iniciativa própria número de ideias e a sua experimentação rápida, man- de pitches internos e de design thinking, mas que não
e no âmbito da sua atividade normal. É preciso definir tendo um investimento constante. têm continuidade ou inserção no dia a dia das organiza-
e promover os valores e os comportamentos que ge- No entanto, muitos decisores procuram um modelo de ções. São mais ações de sensibilização e de formação do
ram a inovação independentemente da existência de inovação empresarial que faça exatamente o contrário que ações de inovação real e sustentável. Enquadradas
normas e regras. Adicionalmente, os incentivos da or- – querem algo que lhes garanta que a melhor ideia é pen- num processo de inovação formal seriam desenvolvidas
ganização têm de ser consistentes com essa cultura. sada, construída e implementada à primeira tentativa de outro modo e com outro resultado.

8 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 9


TEMA DE CAPA A inovação já não é o que era

Pressão operacional a estratégia mas depois não têm mecanismos de gestão A-TO-BE, O MINDSET DE INOVAÇÃO ABERTA DA BRISA eletrónicas. Tudo partiu de um desafio inicial: melhorar
A pressão pelo desempenho operacional e dos resul- da inovação. As limitações operacionais mais comuns a cobrança e a segurança nas portagens. Ao invés de
tados imediatos é um dos fatores que mais condicio- são: reportes hierárquicos disfuncionais, a falta de tempo JORGE SALES GOMES
tentar resolver o problema internamente, a Brisa optou
na o desenvolvimento da inovação numa empresa. alocado à inovação, a ausência de recursos e de autono- CHIEF TECHNOLOGY OFFICER DA A-TO-BE por um modelo colaborativo e decidiu abrir as portas às
A prática mostra que planos ambiciosos de inovação mia, incentivos e métricas focados apenas em resulta- universidades e, trabalhando em conjunto, encontraram
esbarram com a realidade do dia a dia. Poucas empre- dos operacionais, introdução de maneiras de trabalhar as soluções de portagens que permitiram à empresa ser
sas têm formas de endereçar este dilema. Definem estranhas à organização sem o devido enquadramento. pioneira nas portagens eletrónicas.
O modelo de inovação aberta da A-to-Be coloca a orga-
A inovação na Brisa é um excelente exemplo de rápi- nização no centro, articulando-se com os seus parcei-
da adaptação às novas formas de abordar a inovação. ros – universidades, instituições que apoiam a inovação
A A-to-Be, empresa do grupo Brisa dedicada à inovação e financiadores. Com esta relação de partilha aberta a
na gestão de mobilidade, é um dos casos mais bem de- A-to-Be reduz os custos fixos e, simultaneamente, dá
Estamos muito ocupados senvolvidos de inovação aberta em Portugal. um contributo positivo à sociedade, tendo, fruto deste
A Brisa constatou uma maior abertura da sociedade para relacionamento sinérgico e aberto, criado sete startups
Não, obrigado! colaborar em rede, refletindo dois fenómenos comple- até à data.
mentares: a crescente disrupção trazida por novos mo- Adicionalmente, a A-to-Be responde à necessidade de
delos de negócio e novas soluções pensadas por star- inovar e aumenta a rentabilidade através de uma rede de
tups e o reconhecimento das empresas estabelecidas partilha de ideias estabelecida com as universidades, le-
que, para inovarem de um modo eficiente, mais do que vando os alunos a trabalharem diretamente na empresa.
utilizarem recursos in-house devem criar uma estrutura Assim, a empresa não necessita de crescer verticalmente
interativa e colaborativa, geradora de sinergias, de cus- e torna-se mais ágil e competitiva, permitindo aos alu-
tos mais reduzidos e com uma capacidade de implemen- nos ganharem em expertise e know-how em contexto de
tação mais célere. trabalho real e com desafios concretos para solucionar.
A A-to-Be aplica o modelo de inovação aberta desde A A-to-Be é continuamente gerida com um mindset co-
2010 e sabe por experiência própria os ganhos reais que laborativo e interativo, almejando «quebrar os limites
este modelo aporta – de que são exemplo as portagens da mobilidade».

O DIA DE AMANHÃ

A Internet está repleta de casos de estudo e de sites A inovação na Brisa é um excelente exemplo de rá-
especializados que podem, e devem, servir de refe- pida adaptação às novas formas de abordar a ino-
rencial para quem quiser desenvolver ou reforçar o vação. A A-to-Be, empresa do grupo Brisa dedicada
seu modelo de inovação. Na era digital, nada como à inovação na gestão de mobilidade, é um dos ca-
adaptar-se às novas oportunidades e tirar partido da sos mais bem desenvolvidos de inovação aberta em
maior base de informação e conhecimento do mundo. Portugal.

1
A inovação pode ser definida de forma diferente a partir de várias perspetivas e mo- negócio (interno ou na cadeira de valor), de processo (sistema, core ou simples), de
delos. A definição mais comummente aceite é a do designado «Manual de Oslo», que produto (performance do produto/serviço, serviço ao consumidor, bundles de produ-
a seguir se reproduz na adaptação feita pela COTEC Portugal – Associação Empresarial tos/serviços) ou de mercado (canal, experiência do utilizador, marca/comunicação).
para a Inovação. «A inovação corresponde à implementação de uma nova ou signi-
ficativamente melhorada solução para a empresa – novo produto/serviço, processo, 2
Uma qualquer melhor forma de resolver um problema, satisfazer uma aspiração ou
método organizacional, marketing – com o objetivo de reforçar a sua posição compe- necessidade, de atingir um objetivo, vai ser rapidamente adotada pelas pessoas inte-
titiva, aumentar a performance ou o conhecimento.» ressadas, sejam elas consumidores empresariais ou utilizadores de serviços públi-
COTEC, Manual de Identificação e Classificação de Atividades de IDI. cos. Num contexto de economia aberta e competitiva, a inovação é o fator decisivo de
Em termos operacionais é relevante classificar, estruturar, implementar e avaliar a criação de valor e de crescimento ou estagnação e morte das empresas. As empresas
inovação em várias categorias, nomeadamente inovação disruptiva (altera o modelo geram valor através da inovação, isto é, da geração e implementação de novas ideias
de negócio) ou incremental (não altera o modelo de negócio). De igual modo, a ino- de negócio, produtos, serviços e processos. Deste modo, estimulam o crescimento da
vação tem diferentes desafios e abordagens conforme seja inovação de modelo de economia e aumentam a qualidade de vida da sociedade.

10 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 11


TEMA DE CAPA

focado em desafiar os modelos de negócio instituídos, pois ao longo dessas décadas a tecnologia vai mudan-
que procura a mudança, que remunera a criatividade, que do. Estratégias e modelos organizacionais? São instru-
não penaliza o erro, a ambição, a diferença, as ideias di- mentais, pois vão mudando consoante as circunstâncias.
ferentes. Mas sempre focado em métodos pragmáticos O que estas organizações têm que as tornam bem-su-

PORQUÊ E COMO e em resultados. cedidas ao longo do tempo é uma cultura de inovação


e de liderança que lhes permite antecipar, criar e gerir
a mudança. As empresas que vencem no mercado têm

PROMOVER UMA CULTURA


um ambiente organizacional que inspira e impele cada
colaborador a estar desperto para oportunidades de ino-
vação a qualquer hora do dia, quando ninguém está a
ver (fora dos eventos de inovação e de apresentação de

DE INOVAÇÃO
plano estratégico e de inovação), e a implementar ino-
vações que fazem sentido para a organização. É ter uma
cultura de inovação.
De acordo com o futurista Gerd Leonhard, o sucesso das
POR TORBEN RANKINE, COUNTRY MANAGER DA LBC USA. empresas e das organizações no futuro será mais de-
TORBEN.RANKINE@LEADERSHIP-BC.COM terminado por traços humanos (como a criatividade, a
ENGIRISCO
imaginação, intuição, emoção e ética) do que pela tec-
nologia. Para vencer na inovação é preciso ir além da tec-
nologia e centrar-se nas pessoas e no ambiente que as
torna mais inovadoras. A inovação faz-se de pessoas,

M
uitos decisores empresariais e públicos consi- para as pessoas e por pessoas.
deram que o elemento mais importante para a
inovação é a tecnologia. É natural. A tecnologia A INOVAÇÃO FAZ-SE DE PESSOAS
transforma cada vez mais as nossas vidas. No futuro,
uma grande parte da nossa vida estará digitalizada, co- A inovação implica uma preparação mental e cultural.
nectada, automatizada, robotizada. Adicionalmente, as Nas organizações, os planos mental e cultural estão
decisões associadas ao desenvolvimento ou compra de intimamente ligados – um condiciona o outro. O plano
tecnologia são visíveis, diretas, mensuráveis. Mas a es- mental exige uma predisposição da mente para a aber-
sência do sucesso na inovação está na cultura. Uma cul- tura a pensar diferente, fazer diferente e promover a di-
tura de inovação é uma vantagem estratégica nos dias ferença, tendo em vista a criação de valor para o cliente
de hoje. final. O plano cultural implica um contexto organizacio-
Silicon Valley é o local do mundo onde mais inovações nal aberto e livre de preconceitos, que acolhe e promo-
são desenvolvidas, mais rapidamente escaladas e com ve a curiosidade, a criatividade e o pensamento disrup-
maior sucesso. Vários países, regiões e cidades defini- tivo, e que acolhe todas as ideias, por mais absurdas
ram formalmente e anunciaram o objetivo de replicar Sili- que pareçam, pois uma ideia absurda bem trabalhada
con Valley, e têm programas estruturados de ligação das pode dar origem aos resultados mais interessantes. Em
suas empresas e empreendedores ao maior hub mundial cada organização há que identificar, valorizar e apoiar
de inovação. Um grande número das maiores empresas os campeões da inovação, aqueles que facilitam e im-
mundiais tem representação em Silicon Valley. Empreen- pulsionam a mudança.
dedores e empresas de todas as áreas visitam Silicon Quando
Valley para aprenderem a ficar mais inovadores. pensamos A INOVAÇÃO FAZ-SE PARA AS PESSOAS
Eu próprio, em articulação com a minha empresa, já re- em Silicon Valley
cebi e orientei mais de 300 executivos portugueses em pensamos em compu- Muitos esforços de inovação falham por se deixarem
programas de imersão em Silicon Valley e apoiei 70 star- tadores, telemóveis, inteli- desviar para as idiossincrasias do investigador, espe-
tups lusas. Vivo em Silicon Valley há dez anos, depois de gência artificial, carros automáti- cialmente na Europa; ficam centrados na perspetiva e
ter vivido e trabalhado em três países europeus, entre cos, blockchain, realidade aumentada, 1. QUAL É O FATOR DETERMINANTE PARA A INOVAÇÃO? nas opiniões do criador. Cada ideia, conceito ou modelo
os quais Portugal. Partilho aqui a minha aprendizagem Apple, Google, etc. Mas, afinal, o que diferencia inovador tem em vista a criação de valor para um desti-
durante este trajeto, que considero relevante para o con- Silicon Valley? Não é a tecnologia. Silicon Valley é, O que permite às grandes empresas permanecerem lí- natário identificado: um consumidor, um utilizador, um
texto português. acima de tudo, um state of mind. Um estado de espírito deres décadas após décadas? A tecnologia? Raramente, beneficiário. Por este motivo, ferramentas como o design

12 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 13


TEMA DE CAPA Porquê e como promover uma cultura de inovação

thinking tornaram-se tão relevantes para o proces- 2. MAS O QUE É, AFINAL, UMA CULTURA DE INOVAÇÃO? I) VALORES PARTILHADOS estudo da Google, as equipas precisam de sentir uma
so de inovação. O design thinking parte da empatia Seis valores orientam as culturas de inovação. grande segurança psicológica.
com o destinatário da inovação, produto ou solução. Uma organização pode ter diversas iniciativas formais A maior parte das empresas que identificamos como íco- Adicionalmente, assume-se que o binómio autonomia
Baseia-se na identificação concreta de uma necessi- e organizadas de promoção da inovação. Estas resultam nes da inovação, quer pelos modelos de negócio, quer individual-responsabilidade coletiva é fundamental para
dade («dor») específica do observado e que justifica da estratégia formal, dos objetivos definidos. Mas no dia pela evolução tecnológica, têm em comum alguns va- se ter sucesso na inovação. Em vez de condicionar os
pensar, conceber e testar uma solução para a resol- a dia, fora dessas iniciativas, como se faz a inovação? lores partilhados, desde logo a curiosidade. Para se ser inovadores com limites orçamentais e calendários aper-
ver. Devido a abordar os problemas de forma vivencial O que acontece quando ninguém está a olhar? Fora desse inovador há que observar aquilo que nos rodeia, quase tados, responsabilizá-los pelos resultados atingidos.
e sob diversos ângulos, o design thinking tornou-se controlo existem valores, relacionamentos, comportamen- como um antropólogo que estuda uma sociedade anti- Por último, acredita-se que a partilha (e não o segredo)
uma ferramenta crítica da inovação. tos e atitudes que condicionam a atuação e os resultados ga e procura descobrir o seu modo de funcionamento de uma ideia é a alma do negócio, pois diferentes pers-
organizacionais. e a utilidade de cada artefacto, de cada edifício, de cada petivas reforçam o conceito e testam a aplicabilidade
A INOVAÇÃO FAZ-SE POR PESSOAS A inovação deve ser uma responsabilidade de todos, a todos estrutura social. A curiosidade é fundamental e é o ponto futura, evitando muitas vezes investimentos no desen-
os níveis da organização. Não é exclusiva de um departa- de partida para identificar as oportunidades existentes. volvimento de uma ideia que não vai gerar valor.
Nas empresas inovadoras os inovadores são mais va- mento de inovação nem da equipa de gestão, é partilhada A capacidade de assumir riscos é outro valor caracterís-
lorizados que as inovações, que acabam por ser o re- a todos os níveis, por todas as funções, e incorpora compe- tico das culturas inovadoras e é inversamente propor- III) HÁBITOS E ROTINAS
sultado dos primeiros. E como a inovação é feita por tências e responsabilidades específicas. A inovação faz-se cional ao receio de errar. A assunção de riscos implica Os hábitos são criados através de comportamentos
pessoas, voltamos ao conceito cultural e à responsa- no dia a dia, a todo o momento e por toda a organização. viver com as consequências do risco no qual se incorre. e atividades repetidos até se tornarem rotinas. Há cinco
bilidade individual que cabe a cada um assumir na sua Da nossa experiência de trabalho em mais de 900 empre- Associado à assunção de riscos está um elevado nível de rotinas que aumentam o sucesso da inovação.
organização. A inovação sem uma cultura organiza- sas em várias partes do mundo e de quase uma década de ambição que é necessário incutir na cultura de inovação. A experimentação e a iteração são um dos substratos da
cional que a incentive não se concretiza. A inovação interação direta e de trabalho com inovadores como Steve O respeito pelo outro e a colaboração também são fun- inovação e uma rotina fundamental de qualquer esfor-
implica um equilíbrio entre criatividade e disciplina: Blank, com universidades como Stanford ou com as em- damentais, especialmente no âmbito de desafios com- ço de inovação. O progresso faz-se essencialmente pela
criatividade para pensar diferente e encontrar novas presas líderes em Silicon Valley, através do programa GSI plexos e de equipas multidisciplinares. Ouvir primeiro aprendizagem por teste e erro (quase como no proces-
soluções; disciplina para fazer, errar, persistir e refa- – Global Strategic Innovation (http://globalstrategicinno- e deixar cada um expressar livremente as suas ideias so científico), o que permite evitar que sejam tomados
zer até chegar à solução geradora de valor. Para que vation.com/), identificámos os traços característicos de é uma regra fundamental. Ninguém faz nada sozinho passos ou decisões que produziriam resultados indese-
isso aconteça são necessários incentivos a determi- uma cultura de inovação: i) valores partilhados; ii) crenças; e são essenciais diferentes perspetivas. Envolver dife- jados no futuro. No âmbito de uma cultura de inovação,
nados comportamentos e atitudes. iii) hábitos e rotinas; iv) comportamentos. rentes departamentos, inclusivamente o departamento o erro é percebido como uma forma consolidada de atingir
financeiro, é essencial. Isto também quer dizer que re- o sucesso e uma etapa dificilmente evitável – não como
portes hierárquicos devem dar lugar a maior liberdade um fracasso. A perspetiva é a de que se não se estiver
de interação dentro da organização. preparado para errar não se conseguirá produzir uma
É fundamental ter a mente aberta para acolher todas as ideia original.
ideias, em particular as mais desafiantes, por oposição Numa cultura inovadora os hábitos promotores de ino-
à resistência à mudança e ao «sempre fizemos assim». vação começam por evitar feedbacks castigadores e in-
Segundo Steve Jobs, «só aqueles suficientemente lou- dutores de culturas de medo.
cos para pensarem que podem mudar o mundo o con- Por outro lado, o reconhecimento explícito, a atribuição
seguem mudar». de recompensas transparentes e a celebração dos su-
Por último, uma cultura de inovação está intrinsicamente cessos reforçam os comportamentos que se pretendem
VALORES PARTILHADOS CRENÇAS HÁBITOS E ROTINAS COMPORTAMENTOS baseada em relacionamentos de confiança, que deve ser incentivar e promovem outros aspetos positivos, como
• Curiosidade • Otimismo • Experimentação • Falar menos, fazer mais, reconquistada a cada dia de modo a garantir a abertura a coesão da equipa e a vontade de fazer mais e melhor.
• Assunção de riscos • Erro é parte do e iteração «show, don’t tell» necessária para a partilha saudável de ideias. O hábito da melhoria contínua nos processos, ativida-
• Respeito pelos outros processo • Aprendizagem • Valorizar a velocidade des e comportamentos também é parte da rotina diária.
• Colaboração • Autonomia individual, pelo erro • Assumir
• Mente aberta responsabilidade coletiva • Reconhecimento responsabilidades II) CRENÇAS
• Confiança • Partilha é a alma e recompensa • Julgar menos, As culturas de inovação acreditam que quatro fatores IV) COMPORTAMENTOS
• Curiosidade do conhecimento • Celebração de ganhar mais contribuem favoravelmente para o sucesso. Uma cultura de inovação evidencia quatro comportamen-
vitórias • Adotar A primeira crença característica de uma cultura de ino- tos-chave focados no pragmatismo e nos resultados.
• Melhoria contínua comportamentos vação é o otimismo, acreditar que vale a pena assumir Uma cultura de inovação é uma cultura de ação e não de
éticos riscos e que o seu trabalho tem impacto. Mas, caso não estudos, de estratégias, de modelos e de documentos.
se tenha sucesso, que o erro faz parte do processo e é Para se ser levado a sério numa empresa inovadora é pre-
uma oportunidade de aprendizagem e de melhoria numa ciso apresentar resultados. Menos teoria e mais trabalho.
cultura que promove a inovação, em vez de um estigma O show, don’t tell é uma regra de ouro para quem quer ser
Figura 1 – Traços culturais de uma cultura de inovação (LBC) ou um fracasso. Associar o erro a fracasso pode induzir levado a sério. Liderar pelo exemplo. As equipas têm de
uma cultura de medo e de falta de iniciativa. Segundo um almejar a excelência, concretizar objetivos.

14 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 15


TEMA DE CAPA Porquê e como promover uma cultura de inovação

Valorizar a velocidade e a tomada de decisões claras Por último, uma cultura de inovação, assim como qualquer 3. COMO SE PROMOVE UMA CULTURA DE INOVAÇÃO? 8 Forneça o framework e as ferramentas que facilitem
também é fundamental para uma cultura de sucesso. cultura saudável, tem de estar fortemente baseada em o processo de inovação. A inovação não ocorre sim-
Adiar, complexificar, justificar e não respeitar prazos é princípios éticos, sem os quais não se forma a confiança Promover uma cultura de inovação é o desafio de grande plesmente porque se deseja, é o resultado de um
contrário a uma cultura de resultados. A chave está na necessária à autonomia, à partilha e à assunção de riscos. parte das organizações. A cultura organizacional é uma processo que envolve riscos, incertezas, e precisa
simplificação, na evidência de resultados, mesmo que estrada de dois sentidos. Por um lado, está fortemente de gestão cuidada do equilíbrio entre a criatividade
negativos, pois isso permite fechar um caminho, poupan- Traço cultural definidor condicionada pelas dinâmicas com origem na base da e a disciplina.
do recursos, e saltar para outra oportunidade. pirâmide hierárquica, em sentido bottom-up. Por outro
Outro comportamento fundamental é a assunção de res- No entanto, estes traços culturais aplicam-se de um lado, podem – e devem – ser criadas as condições que
ponsabilidades pelos resultados obtidos, quaisquer que modo diferente nas empresas, conforme a estrutura incentivem os traços culturais que se pretendem imple-
sejam. De outra forma dificilmente haverá autonomia e competitiva do setor económico e o posicionamento mentar, e nesse sentido é top-down.
confiança para assumir riscos e trabalhar em equipas competitivo de cada empresa. Cada organização deve De uma forma muito pragmática, e a partir de casos das
colaborativas. definir um traço cultural característico e distinto, ali- empresas inovadoras de maior sucesso, sugerem-se oito
Uma cultura de inovação rejeita e expele a postura do nhado com o seu posicionamento estratégico. Muitas passos:
«advogado do diabo». A inovação tem início com um empresas consideradas inovadoras têm características
processo divergente de expansão de possibilidades. Por culturais que definiram estrategicamente e que querem 1 Crie um espaço físico estimulante, que promova a
isso, é essencial julgar menos e estar recetivo a todos ver reforçadas constantemente. criatividade e um estado mental positivo e descon-
os contributos e ideias. Uma ideia aparentemente ab- Foi assim que, entre outros, a Apple se focou no «Design, traído. Pequenas mudanças podem ter um grande
surda pode vir a ser genial. Numa fase mais adiantada design, design», a Google pretendeu ser «A fun place impacto.
do processo, contudo, é importante haver contraponto where you make things happen», a Logitech promoveu 2 Estabeleça o traço definidor da cultura de inovação
e discussão da aplicabilidade da ideia desde que sejam o «Think like a start-up» e a Amazon tornou a sua cultura da sua empresa em alinhamento com o negócio, i.e.,
aplicados os valores acima referidos. numa «Customer obsession». com as necessidades do cliente ou do utilizador final.
A cultura deve reforçar os diferenciadores da empre-
sa. Identifique o seu diferenciador, partilhe com a or-
ganização e promova o debate e a criatividade sobre
Um ambiente descontraído e aberto, baixa hierarquia, trabalho em equipas, o traço definidor.
espaço físico atraente e relaxado, proporcionam oportunidades
para exploração, experimentação, teste, descoberta, sem receio 3 Enquanto líder em inovação, deve criar um sentido de
de ser criticado, mas focado em resultados num período responsabilização nas pessoas criativas em termos
FUN PLACE TO WORK de tempo delimitado. dos objetivos da organização, das áreas de enfoque
core, das principais capacidades e dos compromissos
com os stakeholders.
O design focado no user experience é o traço orientador da cultura
4 Defina e comunique as atitudes e os comportamen-
da Apple, onde a simplicidade é valorizada e os designers
reportam diretamente ao topo da organização. O design thinking, tos desejados. Distinga erros operacionais de ten-
a prototipagem e a experimentação são elementos essenciais tativas de inovação sem sucesso. Comportamentos
DESIGN, DESIGN, DESIGN da cultura Apple. reiterados levam a hábitos de trabalho. Recom-
pense e incentive aqueles que deseja ver na sua
organização.
Estilo informal. Confiança nos colaboradores e empoderamento através 5 Promova um clima de novas ideias dentro e fora da
de uma cultura de partilha, assunção de riscos e aceitação do erro. empresa, e dê tempo e recursos para que sejam apre-
Promoção da dedicação e compromisso a todos os níveis da organização. sentadas, analisadas e debatidas. Promova debates
Aceitação do confronto de ideias construtivo. Com exigência de eficiência 24/7.
THINK LIKE A SART UP de ideias e workshops. A inovação aberta é um dos
melhores canais de inovação e frequentemente com
custos mais reduzidos.
Foco no consumidor e nas tendências de consumo. Decisões e respostas rápidas. 6 Empodere campeões, dê-lhes autonomia, tempo de-
Eliminação de processos burocráticos. Desafio dos limites e convenções limitado e responsabilidade para desenvolverem as
tradicionais para desenvolver ideias e soluções brilhantes.
Sucesso medido pelo possível, não pelo provável. Para os pioneiros hoje,
boas ideias. Recompense os sucessos e divulgue. Cada cultura organizacional é única. Descubra a sua
CUSTOMER OBSESSION não há melhor lugar para construir que a Amazon. 7 Mude os incentivos se sentir que não estão adequa- e desenvolva os aspetos que farão a sua empresa mais
dos. Por vezes, o incentivo não está no valor mas no inovadora, não no documento de estratégia de inovação
reconhecimento interno. Valorize e festeje. Comuni- mas no dia a dia, impulsionada por todos os elementos
Figura 2 – Traços culturais dos gigantes da inovação (LBC) que os sucessos, por mais pequenos que possam da empresa de forma natural.
parecer.

16 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 17


TEMA DE CAPA

COMO ESTRUTURAR 2. APOSTAR NA INOVAÇÃO ESTRATÉGICA

A evidência mostra que os líderes em inovação associam


4. ESCOLHER O MODELO

Cada empresa é mesmo única, e o modelo de inovação

A INOVAÇÃO
o seu processo de inovação ao processo estratégico deve ser construído de forma customizada, a partir de
e desafiam a organização a olhar para além dos limites do modelos de referência. Múltiplos fatores influenciam
negócio e dos modelos mentais existentes e a participar a definição do modelo de cada empresa.
na geração de novas possibilidades. Focar na inovação Os modelos de inovação têm evoluído bastante nas úl-
incremental e no curto prazo, ter apenas por objetivo timas décadas. Os primeiros eram lineares. Os mais re-
«crescer o negócio», é positivo mas gera resultados li- centes são modelos de network.
mitados. A inovação disruptiva que desafia o modelo de A primeira vaga correspondeu a modelos de push tec-
negócio da empresa e do setor tem o potencial de ge- nológico, partindo de uma invenção científica, para um
rar ganhos significativos e de gerar também inovações correspondente desenvolvimento tecnológico, para
incrementais. um processo de industrialização, seguido de push de
marketing, concluindo-se com vendas. A segunda vaga
correspondeu a um modelo de push de mercado, partin-
CARLOS MIGUEL VALLERÉ DE OLIVEIRA.
CEO DA LEADERSHIP BUSINESS CONSULTING (LBC),
do de necessidades de mercado para o desenvolvimen-
EMPRESA COM UMA OFERTA EM INOVAÇÃO, to, industrialização e vendas. A terceira vaga integrou
E MENTOR DO GSI - GLOBAL STRATEGIC INNOVATION:
INTERNATIONAL EXECUTIVE PROGRAM, QUE TODOS os dois anteriores e introduziu feedbacks no processo.
OS ANOS LEVA EXECUTIVOS DE TOPO AO CENTRO O Stage-Gate Model de Cooper é o mais conhecido, tem
DE INOVAÇÃO MUNDIAL, SILICON VALLEY, NOS EUA
várias vantagens e ainda é relevante e aplicado hoje,
ENGIRISCO E CEDIDAS PELO AUTOR se integrado com novas vertentes de inovação aberta.
A quarta vaga é um modelo interativo que integra, em si-
multâneo, várias funções dentro da empresa – marketing,
A inovação estratégica é focada na geração de oportuni- desenvolvimento de produto, etc., de que é exemplo

É
consensual que as empresas têm de inovar rapidamente e que têm de mobilizar e envolver o maior número de dades de crescimento através de novos produtos, ser- representativo o MIRP. A quinta vaga corresponde
colaboradores possível no processo de inovação. É também conhecido que uma grande parte dos esforços de viços, processos e modelos de negócio que geram valor a modelos de network que tentam abarcar a comple-
inovação – ideias e planos – falha. Por onde se deve começar e como se deve estruturar o processo de inovação significativo para os clientes e a empresa. xidade do processo de inovação promovendo as liga-
numa empresa? Este artigo aborda questões importantes no processo de estruturação da inovação numa empresa ções internas e externas da empresa, de que é exemplo
sem definir um modelo concreto em pormenor. 3. CRIAR CONDIÇÕES DE SUCESSO o Creative Factory Systems Innovation Model. A sex-
ta geração de modelos de inovação é a de inova-
Em muitos casos, a gestão de topo introduz um modelo ção aberta, conceito concebido recentemente por
1. INSTITUCIONALIZAR A INOVAÇÃO esteja formalizado. Muitas outras têm um documento de inovação sem criar as condições de sucesso. Adota- Chesbrough, em que a inovação vem de mecanismos
ou um processo definido algures, mas que poucos na -se muito facilmente uma abordagem bold stroke, uma colaborativos internos e, acima de tudo, externos à em-
A maioria das empresas tem dificuldade em gerir o pro- empresa conhecem e menos ainda usam. apresentação para impressionar, com grandes ambições presa. O foco já não é a empresa mas o ecossistema em
cesso de inovação porque... não tem um processo de A evidência mostra que um denominador comum en- e grandes mudanças na forma de atuar, onde os colabo- que esta se insere.
inovação institucionalizado. Falam de inovação, dis- tre os líderes de inovação é a existência de um proces- radores ficam como espectadores de um filme glamoro-
cutem a inovação, geram e desenvolvem novas ideias, so formal e disciplinado de gestão da inovação, desde so. Finda a sessão, tudo regressa à vida normal.
mas não têm modelos formais para pensar e imple- a ideia até ao lançamento no mercado, gerindo cada Mais uma vez, criar as condições de sucesso difere de O que é realmente importante
mentar a inovação, partilhados e adotados por toda estágio de forma rigorosa e medindo os fatores críticos caso para caso, mas são comuns elementos como: sen-
a organização. de sucesso em cada estágio. sibilizar para a urgência e importância da inovação, in- é a empresa ter um framework,
A verdade é que não há um modelo superior a todos os Por isso, uma grande parte do desafio da inovação co- formar e envolver toda a empresa, mobilizar patrocina- ou metodologia de abordagem,
outros que sirva de referência. O modelo deve ser desen- meça a vencer-se quando se adota um framework de dores e aliados a vários níveis da organização, definir e um plano de ação que seja
volvido conforme o setor, o negócio e estágio da empre- trabalho, se institucionaliza um processo e, de facto, uma ambição clara e KPI (Key Performance Indicator)
sa, os produtos e serviços, as pessoas-chave, a evolução se implementa o processo. Não precisa de ser nada de operacionais, formar as pessoas na inovação e nas novas consistente e coerente entre
dos concorrentes e dos clientes, entre outros fatores. muito complicado. «Uma viagem de mil milhas começa ferramentas, definir novos incentivos e introduzir me- todos os seus elementos.
O que é realmente importante é a empresa ter um frame- com um passo.» Este modelo inicial irá sinalizar uma canismos de auscultação, de envolvimento, de suporte
work, ou metodologia de abordagem, e um plano de ação intenção a toda a organização e irá permitir um processo e de medição do desempenho.
que seja consistente e coerente entre todos os seus ele- de aprendizagem e de melhorias que deve ser orientado Adicionalmente, importa analisar quais as barreiras con- Pela sua importância, destacam-se dois elementos fun-
mentos. Mas a maior parte das empresas simplesmente mais pela prática subsequente no dia a dia do que por cretas à inovação e trabalhar objetivamente para as re- damentais. Qualquer que seja o modelo adotado, deve
não tem um processo de negócio para a inovação que modelos teóricos complexos. mover ou mitigar. assegurar as duas componentes essenciais da inovação:

18 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 19


TEMA DE CAPA Como estruturar a inovação

pontos de decisão claros e facilitando o controlo do


a criatividade e a disciplina. A criatividade resulta de
processo de inovação.
processos bottom-up e de uma cultura de criatividade. NTES
• A qualidade das inovações resulta diretamente da qua- M ICROENVOLVE
A disciplina resulta de processos top-down e bem defini- nsultores • pa
rceiros • distribuidores • clientes •
lidade do processo de gestão da inovação e não apenas ecedores • co concorre
ntes
dos, compreendidos e aplicados por todos na empresa. forn
da criatividade dos colaboradores.
É preciso exercitar e aperfeiçoar estas duas pernas para
• A criatividade não é tanto um ato de inspiração mas
correr competitivamente e chegar antes da concorrência. l óg i
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essencialmente um processo de abrir o campo de pos-
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CIENTÍFICA E
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IMPLEMENTAÇÃO
• A introdução de vários pontos de interação e prototi- PILOTO •INOVAÇÃO DE MARKETING
•INOVAÇÃO ORGANIZACIONAL

pagem rápida – esquema ou desenvolvimento, teste, MERCADO

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feedback, aperfeiçoamento – aumenta a eficácia do •ViabilidadeTécnico/

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processo. •Projetos

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• A inovação nunca é um ato isolado mas o resultado de INiTatividae de o nhec
• C r ci d a d e c o
Parcerias múltiplas interações funcionais, internas e externas, pa
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Criatividade Processo CIMA C I O ES
e de pessoas com diferentes perspetivas. s is
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• É importante não negligenciar a análise da concorrên- ee
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cia. Além da preocupação de criação de valor, também MA oe IN BRE NIZ
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Adicionalmente, o modelo precisa de assegurar que CRO form
ação
SO ORG
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é preciso garantir a captação do valor criado. ENV • sis finan
o pensamento convergente dominante na gestão e na O LV E tem a cient
íifico e te regulad
ores •
NT ES cno lóg ico • inf rae
strutura informacional

engenharia é complementado com ferramentas de pen-
samento divergente (de criação de novas possibilidades) 5. MODELOS RELEVANTES
que enriqueçam o processo de inovação. É neste contex-
to que se torna importante introduzir ferramentas como Dos inúmeros modelos existentes, vale a pena referenciar
o design thinking, o customer journey, value creation fo- três tipos: o simples, o modelo normativo e o estratégico. Este modelo é simples de montar porque está normaliza- 2. Definição e alinhamento estratégico da inovação.
runs (pitching interno estruturado) e pretotyping, entre O modelo simples tem a vantagem de ser fácil de imple- do e testado e impõe disciplina no processo de inovação. 3. Definição dos objetivos, do processo e do plano de
outros, e abrir a empresa a fontes externas de inovação, mentar. Consiste em definir quatro vertentes de atuação No entanto, há uma grande diferença entre a burocracia inovação.
especialmente a interações com startups e a soluções co- e ir aprendendo, fazendo. da inovação e a gestão da inovação. Em alguns casos, 4. Criação de condições de sucesso.
laborativas com parceiros. as empresas preocupam-se mais com a componente do 5. Implementação focada em novos produtos, serviços,
Construir um ambiente de trabalho Estabelecer a direção
que promove a inovação em toda que enquadra a cumprimento formal, que pode ser pesado em algumas processos e modelos de negócio.
a organização, suportado por 1. Alinhar inovação, mobiliza as situações, não dando a atenção devida à componente da
comunicação e ações com a pessoas e os recursos,
de formação estratégia elevando o nível qualidade da inovação. São componentes importantes deste modelo a promo-
de ambição
O modelo de inovação estratégica é o que permite con- ção de uma cultura de inovação em toda a empresa;
4. Cultura
ceber uma solução mais adaptada a cada empresa por a introdução ou reforço de processos de compreensão
Modelo envolver uma abordagem que é essencialmente estra- das necessidades dos clientes; a identificação exigente
Simplificado
tégica, totalmente focada na criação de valor para o das necessidades e oportunidades do mercado; o de-
2. Gerar ideias cliente e de lucros. O essencial deste modelo é correr senvolvimento de campeões e de equipas de inovação;
3. Processo um checklist estratégico que pode ser mais simples ou a introdução e formação em novas ferramentas de ino-
Desenvolver um fluxo mais denso conforme a dimensão, ambição e recursos vação; a vigilância tecnológica e concorrencial; um pro-
Criar uma abordagem pragmática de ideias originais que da empresa, e que pode resultar num modelo simples ou cesso sólido de geração, filtragem e condução de ideias
O que é importante salientar desta análise é que um bom e flexível, suportada por ferramentas trazem valor para o
e incentivos, para gerir a inovação e colocar negócio (por exemplo: num modelo mais complexo, e que por este motivo não até ao mercado; a adaptação dos incentivos da empresa;
modelo deve adotar os seguintes princípios: no mercado as ideias inovadoras value creation foruns) tem uma representação gráfica neste artigo. o estabelecimento de parcerias e de interação com en-
• O processo de inovação necessita de um enquadra- No essencial, este modelo conjuga ferramentas do pro- tidades fora da empresa; a alocação de recursos funda-
mento estratégico para objetivar e focar os esforços Certas empresas optam pelo modelo normativo com cesso estratégico tradicional com ferramentas de ino- mentais e a medição permanente de resultados.
e os recursos. o objetivo de obter a certificação da inovação (Referência vação focadas no cliente e na criatividade. Os passos de De seguida apresentamos três exemplos de aplicação
• A inovação deve estar orientada para a identificação Normativa – Sistema de Gestão de Investigação, Desen- construção do modelo são: de um framework de inovação estruturado de acor-
e a satisfação das necessidades («dor») ou aspira- volvimento Inovação: NP 4456:2007 – Terminologia e de- do com uma estratégia de inovação global implemen-
ções dos clientes. finições das atividades de IDI; NP 4457:2007 – Requisitos 1. Diagnóstico (de ameaça estratégica, de cultura de ino- tada em cada uma das empresas: Infraestruturas de
• Segmentar a inovação em estágios ajuda a focar os do sistema de gestão da IDINP: 4458:2007 – Requisitos vação, de processos internos, etc.). Portugal, CTT e ADOBE.
recursos e simplifica a sua gestão, proporcionando de um projeto de IDI).

20 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 21


TEMA DE CAPA Como estruturar a inovação

IP LIGADA AO FUTURO ATRAVÉS DO SEU PLANO DE INOVAÇÃO


IP através da colaboração com startups, no contexto A existência deste framework de inovação possibilitou
JOÃO FIGUEIREDO. GESTOR DA UNIDADE DE INOVAÇÃO.
das atividades de IDI da empresa. que, desde a fundação da IP em 2015, a empresa já tenha
INFRAESTRUTURAS DE PORTUGAL 6 Otimização de parcerias, via o reforço da colaboração participado em 27 projetos internacionais de IDI, tendo
CEDIDAS PELO AUTOR
com entidades de C&T (ciência e tecnologia), através atualmente 20 a decorrer, envolvendo a participação de
da otimização dos procedimentos necessários para cerca de 100 colaboradores.
o estabelecimento de parcerias. A dinamização das atividades de inovação na IP permi-
O caso das Infraestruturas de Portugal (IP) ilustra novas soluções e produtos que fomentem a eficácia 7 Estratégia de comunicação de IDI, com a implementa- tiu à empresa a conquista de cerca de 5 milhões de eu-
como a existência de um framework de inovação pode e conduzem a novos negócios. ção de uma estratégia de comunicação que garanta ros de vários programas europeus de apoio à inovação,
começar a impulsionar uma entidade marcadamente O framework de inovação da IP concentra-se em seis o aumento de visibilidade das atividades de IDI de- como o H2020 e o CEF, entre outros, e ainda a obtenção
hierárquica, atuando num setor muito regulado e con- vertentes estratégicas: âmbito de atuação, modelo senvolvidas pela IP, através da sua comunicação tan- de benefícios fiscais de 2 milhões de euros do programa
dicionado por uma estrutura de negócio rígida, para de governação, atividades, parcerias, comunicação, to para o exterior como dentro da própria empresa. nacional SIFIDE.
um futuro onde a inovação poderá desempenhar um captação de recursos. E identifica cinco áreas cientí-
papel muito importante na maior competitividade ficas e técnicas prioritárias onde a inovação é priori- ÁREAS CIENTÍFICAS E TÉCNICAS PRIORITÁRIAS
e atratividade dos transportes rodo e ferroviários para tária: mobilidade, asset management, ITS, segurança
os clientes. e operações.
«Mais do que destinos, ligamos o presente ao futuro», Por forma a operacionalizar a inovação em toda a or-
é o mote do Plano de Inovação da IP – Infraestruturas ganização, o framework de inovação da IP propõe im-
de Portugal. Para a IP, a inovação é um agente dinami- plementar um conjunto de iniciativas inseridas em
zador da melhoria dos serviços que presta, originando sete áreas de atuação:
MOBILIDADE
ASSET ITS SEGURANÇA OPERAÇÕES
MANAGEMENT

VISÃO
PLANO DE INOVAÇÃO

A inovação é um agente dinamizador de melhoria dos serviços


da IP, criando novas soluções e produtos que incrementem
a eficácia e originem novos negócios A INOVAÇÃO KICKBOX NA ADOBE

5 ÁREAS C&T No artigo de abertura desta edição, «A inovação já não apresentar recibos, justificar despesas ou responder
MISSÃO
é o que era», foi referido que a empresa Adobe conce- a perguntas sobre gastos;
Desenvolver e promover atividades de investigação, Desenvolvimento PROJETOS DE IDI beu uma estratégia de inovação que se baseou essen- • ferramentas de inovação como scorecards, modelos,
e Inovação (IDI), em áreas científicas e técnicas prioritárias, Estratégicos Complementares
privilegiando o estabelecimento de parcerias e procurando beneficiar cialmente na identificação e remoção dos bloqueios exercícios e outros materiais para desenvolvimento de
dos apoios disponíveis a nível nacional e internacional
7 INICIATIVAS DE AÇÃO
à inovação e no fail fast. Passamos a descrever em que ideias;
consistiu o framework de inovação adotado. • instruções, incluindo cartões de referência com seis
6 VERTENTES ESTRATÉGICAS
A Adobe concebeu um framework de inovação que redu- níveis de desenvolvimento que, a serem superados,
Âmbito de Atuação Modelo de Governação Atividades ziu os custos dos projetos de inovação e aumentou os permitem ao colaborador receber uma caixa azul.
Parcerias Comunicação Captação de Recursos resultados consideravelmente. Como?
Em vez basear a inovação em modelos complexos e por Os níveis de desenvolvimento (framework) são:
vezes confusos, a Adobe apostou na promoção dos ino-
vadores como forma de potenciar a inovação. O princípio I. Inception – começar pela remoção dos bloqueios
1 Gestão de interfaces, que consiste em estabelecer panhamento dos projetos de IDI durante todas as orientador foi «Cada colaborador é o CEO da sua ideia», à inovação.
procedimentos para a vigilância tecnológica centra- fases de execução, estabelecendo mecanismos colocando a inovação nas mãos dos trabalhadores. A es- II. Ideate.
dos no acompanhamento da evolução do conhecimen- de sistematização da informação que permitam tratégia foi remover os obstáculos à inovação proporcio- III. Improve.
to científico e tecnológico em torno das áreas científi- estruturar e planear os projetos de IDI. nando aos colaboradores as condições necessárias e um IV. Iterate.
cas e técnicas consideradas prioritárias pela IP. 4 Cultura IDI, abrange o reforço da cultura de IDI em framework eficaz de inovação. V. Investigate.
2 Gestão de ideias, comporta implementar práticas termos internos, através da sensibilização dos co- Em termos práticos, a Adobe organiza workshops com VI. Infiltrate
para gerar, avaliar e gerir as ideias que possam con- laboradores para a importância da IDI e da criação colaboradores onde é distribuída a cada um (que pode
tribuir para solucionar problemas existentes e dar de grupos de trabalho por áreas científicas técni- optar por aceitar o desafio ou não) uma caixa encarna- No primeiro workshop de 60 colaboradores, 59 aceitaram
origem a projetos de IDI, alinhados com a estratégia cas prioritárias que dinamizem as atividades nes- da – a Kickbox, com: o desafio e 23 completaram os níveis e receberam as
e necessidades da empresa. ta área. • dinheiro que o colaborador/inovador pode usar no caixas azuis. Já foram distribuídas mais de 1000 caixas.
3 Gestão de projetos IDI, que constitui a definição 5 Fomento do empreendedorismo, passa por incen- desenvolvimento da sua ideia, sem necessidade de Atualmente o modelo é seguido por diversas empresas.
de uma metodologia para o planeamento e acom- tivar uma cultura de empreendedorismo dentro da

22 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 23


TEMA DE CAPA DOSSIER

UM FRAMEWORK DE INOVAÇÃO CTT

NUNO MATOS. GESTOR DE INOVAÇÃO

CEDIDAS PELO AUTOR

Os CTT atuam num negócio fortemente ameaçado pela


comunicação digital. Por forma a acelerar a sua resposta
e transformar ameaças em oportunidades, os CTT defini-
iii) Identificação e discussão de tendências que
poderão influenciar a oferta CTT (ie by CTT). ESTRATÉGIAS
SETORIAIS
ram um framework de inovação com o contributo de toda iv) Identificação de medidas ou programas que
a organização, o +INOVAÇÃO by CTT. podem alavancar a inovação e investigação,
quer a montante (PT2020), quer a jusante

DE INOVAÇÃO
Este framework tem como objetivo dinamizar a cultura (SIFIDE).
de inovação e apoiar e acelerar a implementação das
ações de inovação nos CTT. v) Apoio no desenvolvimento de projetos de
desenvolvimento internos e orgânicos
O + INOVAÇÃO by CTT atua de forma transversal e distri- (BIZDEV).
buída em rede. A sua gestão é feita pela equipa de Inova-
ção e Desenvolvimento de Negócio, mas a inovação é ge- As equipas de negócio, operacionais e de suporte ge-
rada de forma descentralizada, em toda a organização. ram a inovação, realizando e implementando ações de
A equipa de Inovação e Desenvolvimento de Negócio inovação e investigação, com o apoio da equipa de ino-
gere a inovação através de atividades que a alavancam: vação mas com total autonomia para conduzir projetos
que fazem parte dos seus planos de ação, garantindo
i) Gestão das ideias na plataforma INOV+ by CTT. assim a descentralização fundamental para o suces-
so das iniciativas de inovação. Em cada uma destas
ii) Identificação de startups alinhadas com objetivos equipas existe um pivot de inovação, ponto focal de
e estratégia dos CTT (1520 StartUProgram em interação com a equipa de Inovação e Desenvolvimen-
alusão à sua fundação). to do Negócio.

O
mundo está a mudar de forma cada vez mais da competitividade empresarial. A abordagem não
rápida e as empresas têm de responder cada vez é exaustiva, mas procura dar a conhecer os princi-
mais rapidamente a essa mudança, aumentando pais aspetos associados à evolução e ao impacto
a sua competitividade. E o segredo está na reinvenção do “ cluster aeronáutico” em Portugal, à evolução do
da inovação e na rapidez com que sejam capazes de setor agrícola e à importância dos projetos inovado-
transformar o conhecimento em inovação. A resposta res nesta área e como as tecnologias da informação
a este desafio é premente e é transversal a todos os e comunicação têm promovido a inovação tecnológi-
setores de atividade. Neste Dossier abordamos três ca, a transformação e evolução constante das com-
exemplos setoriais de como a inovação e o aumento petências e, também, as novas formas de trabalho
Figura 1 – Framework de inovação: Programa +INOVAÇÃO by CTT Figura 2 – Inovação descentralizada das qualificações são determinantes para o sucesso e de modelos de negócio.

24 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 25


DOSSIER CLUSTER AERONÁUTICO EM PORTUGAL

AERONÁUTICA, ESPAÇO E DEFESA ENTREVISTA GENERAL JOSÉ CORDEIRO

REPRESENTAM JÁ 1,8 MIL


AED QUER COLOCAR PORTUGAL NO MAPA

MILHÕES DE EUROS C
riada há cerca de quatro anos, a Associação Portuguesa para o Cluster das Indústrias da Aeronáutica, Espaço
e Defesa (AED) tem tido um papel fundamental para dar a conhecer a marca AED Portugal nestes três setores.
Até 2021 a indústria aeronáutica vai precisar de mais dois mil técnicos e duzentos engenheiros e formar
RITA VIEIRA, JORNALISTA RITA VIEIRA E ENGIRISCO
atempadamente recursos humanos qualificados para estes setores vai ser um dos grandes desafios da formação
profissional no nosso país.
UM CLUSTER EM FRANCO CRESCIMENTO E é certo que Portugal poderá continuar a crescer nestes
três subsetores de atividade por diversas razões. Por um Dirigir&Formar: A AED Cluster Portugal foi criada em
O Cluster da Aeronáutica, Espaço e Defesa nacional tem lado, é expectável que o número de passageiros venha a 2014. Como surgiu a necessidade de criar um Cluster
registado um desenvolvimento exponencial nos últi- duplicar nos próximos anos; por outro, a carteira de enco- da Aeronáutica, Espaço e Defesa?
mos anos. A vinda da Embraer para Portugal, há cerca mendas de aviões comerciais é já superior a cinco anos. General José Cordeiro: Até esta data existiam três asso-
de sete anos, foi a rampa de lançamento para o cresci- Em 2016 o setor aeronáutico na Europa teve um cresci- ciações setoriais e verticalizadas: uma específica para
mento destas três áreas de negócio. mento de 11% em relação ao ano anterior, tendo regista- a aeronáutica, outra para a defesa e outra para o espa-
Com um volume de negócios de cerca de 1,8 mil milhões do um volume de negócios de 222 mil milhões de euros. ço. A AED surge por razões que se prendem com o fac-
de euros, atualmente este cluster representa 1,4% do Além disso, representa já 848 mil empregos qualificados. to de estas áreas serem absolutamente transversais e
produto interno bruto (PIB) e prevê-se que em 2021 da perceção de que seria muito mais representativo do
esse valor duplique, atingindo os 3%. ASSOCIADOS DA AED CLUSTER DEVERÃO CRESCER ENTRE conjunto juntar as três entidades. Este processo ace-
Constituído por mais de 50 empresas, nove instituições 15 A 20% lerou-se ainda mais a partir da altura em que duas das
e seis universidades, o cluster nacional emprega cerca associações começaram a trabalhar no mesmo espaço
de 18 500 pessoas, altamente qualificadas, onde a for- O Plano Estratégico da Associação Portuguesa para o Clus- físico (nas instalações da CIP), e a AED é constituída em
mação profissional tem desempenhado um papel-chave. ter das Indústrias da Aeronáutica, Espaço e Defesa (AED) 2014. Em fevereiro de 2017 somos reconhecidos pelo
Prevê-se que, nos próximos três anos, seja necessário para 2018-2022 estabelece três eixos prioritários: o aumen- IAPMEI como um cluster de competitividade emergente.
formar duzentos engenheiros e mais de dois mil técni- to do peso da representação do cluster no PIB nacional, de
cos, o que vem confirmar o crescimento do setor. 1,4% para 3%; a duplicação da participação dos associados D&F: A partir do momento em que foi constituído o clus-
O investimento em formação profissional tem sido de- em projetos de investigação e desenvolvimento internacio- ter o peso da associação passou a ser diferente?
terminante na qualificação dos recursos humanos ne- nais; o aumento da notoriedade da marca AED Portugal. Para J. C.: Claramente. Este setor estava muito verticalizado e,
cessários ao desenvolvimento sustentável deste setor. a prossecução destes objetivos a AED espera uma subida portanto, houve uma alteração significativa da perceção
Trata-se de um exemplo de integração entre as políticas do número de associados entre os 15 e 20%. que havia relativamente à importância dos três setores.
de formação e económicas, de atração de investimento, A AED Cluster, associação que pretende promover e apoiar
mas também de inovação. o desenvolvimento competitivo dos setores da aeronáutica, D&F: Que balanço faz destes quatros anos de atividade?
A atividade deste cluster passa, sobretudo, pela manu- espaço e defesa, conta atualmente com 65 associados, dos J. C.: Foram anos que estiveram muito ligados à consti-
tenção e fabrico de estruturas aeronáuticas, conjuntos quais 20% correspondem a entidades do sistema científico tuição do cluster, em que tivemos de preparar as três as-
para aeronaves civis e militares, sistemas mecatróni- e tecnológico, 10% a grandes empresas e 70% a pequenas sociações para caminharem num sentido único. A cultura
cos, dispositivos de simulação, dispositivos de ensaios e médias empresas. de cada uma das associações era diferente. Por exem-
e testes espaciais, tecnologias e ferramentas indus- O aumento da notoriedade internacional da marca AED Por- plo, cada uma delas era associada de diferentes organi-
triais de apoio ao setor, além do desenho e fabrico dos tugal, um dos grandes objetivos definidos no Plano Estraté- zações internacionais. Portanto, houve que fazer uma
interiores de cabines. gico, está diretamente associado à capacidade de promoção harmonização. A partir de fevereiro de 2017 começa a
Recorde-se que, nos últimos anos, Portugal tem atraí- internacional do cluster, associando a imagem de Portugal ser o cluster a desenvolver os seus próprios projetos.
do investimento direto estrangeiro de diversas em- a uma elevada capacidade tecnológica.
presas multinacionais. Exemplo disso são a Embraer, A AED tem tido um papel de relevo na promoção internacional D&F: O que se pretende agora?
a Lauak e a Mecachrome. Isto fica a dever-se, entre do cluster português, nomeadamente através da sua presen- J. C.: Olhar para a frente.
outros fatores, à localização geográfica estratégica ça nas principais feiras internacionais do setor, entre as quais
do nosso país pelo facto de estar perto do continente a FIA – Farnborough e a Paris Air Show – Le Bourget. D&F: Que objetivos já têm definidos?
americano e do centro da Europa, à elevada qualifi- Para melhor perceber o impacto deste setor no nosso país e J. C.: Temos três eixos definidos para daqui a cinco anos.
cação dos recursos humanos e a um bom ambiente a sua mais-valia na nossa economia, a revista Dirigir&Formar Definir objetivos com um limite temporal superior é di-
de trabalho. foi entrevistar o Sr. General José Cordeiro, presidente da AED. fícil porque todas as empresas constituintes do cluster

26 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 27


DOSSIER CLUSTER AERONÁUTICO EM PORTUGAL Aeronáutica, espaço e defesa representam já 1,8 mil milhões de euros

funcionam internacionalmente. O mercado está todo no reconhecido como sendo de muito valor acrescentado D&F: Este setor já representa 1,4% do PIB nacional e ex- que é muito difícil entrar nas suas cadeias de abasteci-
exterior, ou seja, 87% daquilo que o cluster faz é para o e de grande crescimento. Basta dizer que, neste momen- porta 87% de um volume de quase 1,8 mil milhões de eu- mento mas, uma vez lá dentro, o lugar está garantido. Só
mercado externo. to, os engenheiros aeroespaciais têm pleno emprego. ros. Há pouco mais de sete anos isto seria impensável. entra quem dá todas as garantias de segurança e para
Este cluster tem um volume de negócios de 1,72 mil mi- Como comenta? dar todas as garantias tem de ter alguma dimensão e de
lhões de euros, o que representa cerca de 1,4% do produ- D&F: O que é que o nosso país «produz» ao certo neste J. C.: O ponto de partida foi precisamente a chegada da corresponder a critérios de grande complexidade.
to interno bruto (PIB) nacional. Queremos, em primeiro setor? Embraer a Évora. É essa empresa que começa a procurar
lugar, duplicar este valor, passando para os 3% do PIB, J. C.: Produzimos aviões e tudo o que está associado no mercado nacional empresas que sejam as suas D&F: Acha que essa associação de empresas já está
através da junção de novos associados, do aumento da à cadeia de abastecimento da aeronáutica. À exceção dos fornecedoras. a ser feita?
cadeia de valor dos próprios associados e da represen- motores, cada uma das fábricas faz uma parte do avião. J. C.: Estamos a caminhar nesse sentido, principalmen-
tatividade que Portugal terá de ter para atrair investi- D&F: Porque acha que a Embraer decidiu vir para te pelas empresas que se têm instalado no nosso país
mento externo. Em segundo lugar, sendo este um setor D&F: Onde são feitos os motores? Portugal? e que depois procuram junto das empresas portuguesas
diferenciador e de capacidade tecnológica, pretende-se J. C.: Na Alemanha. A grande tecnologia está no motor. J. C.: Aquilo que sentimos em relação a algumas em- criar massa crítica para que isso se faça. Algumas das di-
duplicar aquilo que está a ser feito ao nível da inovação, Nós não produzimos os motores mas fazemos compo- presas que estão a chegar ou chegaram há menos tem- ficuldades que temos é na aquisição de matérias-primas.
principalmente nos institutos que são nossos associa- nentes para os motores. po do que a Embraer é que essa decisão tem a ver, em As pequenas empresas têm dificuldade em adquirir ma-
dos (INESC TEC e INEGI, entre outros). E, por último, que- primeiro lugar, com os recursos humanos qualificados térias-primas no mercado a valores satisfatórios porque,
remos aumentar a notoriedade da marca AED Portugal, D&F: Havemos de lá chegar... e as competências tecnológicas necessárias à constru- para isso, precisam de comprar em grandes quantidades.
e a inovação aqui é fundamental para colocar Portugal J. C.: Depende da escala porque na Europa há apenas ção do setor aeronáutico e o bom ambiente que aqui se
no mapa de forma a que seja reconhecido como um país uma ou duas empresas que fazem isso. Nós temos é de vive. As empresas preferem trabalhar num país que tem D&F: Que práticas de inovação considera serem relevan-
que tem competências nestes três setores. Portugal ain- fazer parte dessa cadeia e ser fornecedores, os chama- segurança, bom tempo e boas condições. Aliás, os CEO tes ou distintivas do setor e quais os seus impactos nos
da não é conhecido por isso, a nossa experiência diz-nos dos teers. Há as OEM – Original Equipment Manufactu- de algumas das empresas que chegaram ao nosso país diferentes domínios da gestão (do conhecimento, das
isso. Nós somos membros de um grupo de 43 clusters rer (Fabricante Original do Equipamento) –, que são as já se estabeleceram em Portugal. pessoas, da organização)?
europeus – o European Aeronautic Cluster Partnership – grandes integradoras, depois há as teer 1, que produzem J. C.: Há dois pilares fundamentais: o primeiro é a eco-
e, dos contactos e das apresentações que temos feito, para o grande integrador e que recebem do teer 2 e do D&F: São apenas esses os fatores que fazem com que nomia do conhecimento, ou seja, os recursos humanos
há sempre algum desconhecimento daquilo que são as teer 3. Nós estamos no teer 1 e 2. Portugal se distinga de outros países neste cluster ou têm de ser muito qualificados para que se consiga criar
nossas capacidades. há mais? valor; o segundo é a capacidade de cooperação em rede
J. C.: Tem a ver também com a nossa posição geográfica. – mais uma vez as pequenas empresas têm muita difi-
D&F: A partir de que altura é que o setor da aeronáutica O facto de estarmos, por um lado, muito perto do Brasil culdade em se conseguirem afirmar neste mercado se
começou a crescer verdadeiramente em Portugal? e, por outro, muito próximos do centro da Europa. Algu- não cooperarem em rede. A nível mundial há três ou qua-
J. C.: Há cerca de sete anos, com a vinda da Embraer para
Queremos aumentar a mas empresas que estão em Portugal hoje produzem tro grandes players, a Boeing, a Airbus, a Bombardier e a
Évora. É a partir da chegada da Embraer que se começa notoriedade da marca AED materiais que durante a noite vão de comboio ou de ca- Embraer, ainda com escalas muito diferentes. E a maio-
a constituir o cluster. Portugal, e a inovação aqui mião para Sevilha, Toulouse ou outras cidades europeias. ria das empresas opera nas cadeias de abastecimento
Até porque uma das características desta indústria, ao e isso pressupõe que essas cadeias tenham conhecimen-
D&F: Foi a partir daqui que Portugal deu o salto neste é fundamental para colocar contrário da indústria automóvel, é o ritmo de produção. to e capacidade (recursos humanos qualificados, capa-
setor? Portugal no mapa de forma Enquanto na indústria automóvel se fabricam mil carros cidade tecnológica, capacidade financeira e dimensão).
J. C.: Sim, a Embraer serviu como elemento aglutinador, a que seja reconhecido como por dia, aqui são fabricados dois aviões por dia. A Airbus E, mais uma vez, para haver dimensão, para uma pe-
juntando outras entidades à sua volta. É nesta altura que está a produzir, em Toulouse, dois aviões por dia, o A320 quena empresa conseguir competir, ou se junta a ou-
se começa a criar aquilo que é atualmente o cluster, que um país que tem competências e o A330. Se eu produzir dez ou vinte peças e as mandar tras pequenas empresas e cria dimensão a partir da qual
não é constituído apenas por empresas – temos univer- nestes três setores. para um destes integradores, consigo satisfazer essa é reconhecida internacionalmente ou tem uma grande
sidades, centros de investigação, grandes e pequenas necessidade. dificuldade em entrar nesses mercados.
empresas e o próprio Instituto do Emprego e Formação
Profissional, I.P. (IEFP). De um modo geral, todos os clus- D&F: O que é que as nossas empresas ainda precisam D&F: Portugal tem conseguido atrair investimento dire-
ters nascem de uma universidade. D&F: Isso tem a ver com a dimensão das empresas? de fazer para ganharem mais massa crítica para compe- to estrangeiro de peso. Exemplos disso são a Embraer,
J. C.: Tem a ver com a dimensão e a especificidade da- tirem com outros países? a Lauak e a Mecachrome. Há outros a caminho do nos-
D&F: E quais são as universidades que fazem parte do quilo que fazem, porque se trata de uma cadeia de valor J. C.: Precisam de mais recursos humanos qualificados so país?
cluster português? acrescentado. Por exemplo, nós fazemos aeroestrutu- e de crescer na escala de valor, ou seja, a grande maioria J. C.: Sim, sei que há uma empresa que produz máscaras
J. C.: São as que formam engenheiros e técnicos ae- ras, ou seja, no interior de uma cabine temos de fazer as das nossas empresas são pequenas empresas que, para de oxigénio para os pilotos de caça que está interessada
roespaciais. São várias: a Universidade da Beira Interior, estruturas básicas, mas depois sobre essas são criadas ganharem competitividade externa, têm de se associar em instalar-se em Portugal.
o Instituto Superior Técnico, a Universidade do Porto, outras estruturas onde se colocam os aparelhos e os a outras através de consórcios, de modo a ganharem va- Quer a Lauak quer a Mecachrome têm um CEO com
e já começa a haver outras universidades que querem equipamentos. Cada um desses fabricantes faz parte lor para competirem no mercado internacional. Estas três uma relação de grande proximidade com Portugal.
ter este departamento. Isto porque se trata de um setor de um dos teer. áreas são profundamente conservadoras, o que significa Armando Gomes, CEO da Lauak, e Christian Santos, CEO

28 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 29


DOSSIER CLUSTER AERONÁUTICO EM PORTUGAL Aeronáutica, espaço e defesa representam já 1,8 mil milhões de euros

da Mecachrome, são luso-descendentes. Nós estivemos nosso produto interno bruto (PIB), 220 mil milhões de D&F: Tem de haver aqui uma relação direta? várias intervenções, o segundo dia foi de workshops se-
presentes numa apresentação que foi feita na embai- euros, e é nesse mercado que temos de estar. J. C.: Sim, isso é fundamental. Só para dar um exem- toriais e, no último dia, fizemos visitas às principais em-
xada de Portugal em Paris, com um conjunto de vinte plo, neste momento temos cerca de 26 mil doutorados presas nossas associadas.
e cinco empresas francesas que fazem parte do gru- D&F: Este cluster já emprega 18 500 pessoas mas em Portugal. Desses 26 mil, apenas 700 trabalham na
po GIFACE (o equivalente à nossa CIP), onde Christian o grande crescimento previsto para os próximos anos indústria.
Santos e Armando Gomes foram falar sobre a sua expe- vem colocar grandes desafios no que diz respeito às
riência quando se vieram instalar em Portugal, manifes- necessidades de oferta formativa. Prevê-se que a in- D&F: São uma minoria?
tando a sua satisfação em terem vindo para o nosso país. dústria aeronáutica venha a precisar de dois mil técni- J. C.: Menos do que uma minoria e o problema é esse: À data de fecho desta edição da revista está a decorrer
cos e duzentos engenheiros até 2021. O que é preciso como vamos passar os doutorados para a indústria? Isso em Lisboa, entre os dias 20 e 22 de novembro, a quinta
D&F: São bons exemplos para promover o país? fazer, no domínio da formação profissional, para fazer está a ser colmatado, em alguns clusters, através dos edição do evento anual AED Days, que voltou a reunir os
J. C.: Excelentes exemplos. São fundamentais porque face a este desafio? centros tecnológicos. Exemplo disso são o centro tec- main players nacionais e internacionais das Indústrias
estou a falar de empresas estrangeiras que vieram J. C.: Eu diria que há dois níveis distintos: o dos enge- nológico do calçado e o centro tecnológico dos têxteis. Aeronáutica, do Espaço e da Defesa para debater os desa-
para Portugal, dirigidas por elementos representativos nheiros e o dos técnicos. Aquilo que, neste momen- Foi dessa forma que estes dois setores deram o grande fios prementes e futuro destes setores em crescimento.
desses países e que têm a experiência de terem traba- to, seria desejável era haver mais formação na área salto qualitativo e hoje são reconhecidos internacional- O evento organizado pelo AED Cluster Portugal e pelo CEC
lhado lá e a experiência de trabalharem cá. da engenharia aeroespacial e na formação de técni- mente. Os centros tecnológicos são centros intermédios – Conselho Empresarial do Centro, enquanto membro
cos especializados. Aí, o IEFP tem feito um excelente que podem estabelecer a ponte entre as universidades da EEN-Portugal, integra no seu programa conferências,
D&F: São excelentes embaixadores da marca AED trabalho, quer em Setúbal, quer em Évora. Aquele que e as empresas. workshops, sessões de encontros B2B e visitas indus-
Portugal, não é? conheço melhor é o de Évora, onde a ligação à indús- triais.
J. C.: Sim, a marca AED Portugal é determinante. O nos- tria tem tido um papel fundamental. Isto porque não D&F: Há ainda um longo caminho a percorrer...
so maior valor é esse. basta fazer cursos teóricos, é preciso adaptarmo-nos J. C.: Nós temos dois tipos de mercado completamente
às necessidades das empresas. O IEFP tem feito um distintos: o mercado europeu, que é muito competitivo,
D&F: Na sua opinião, este setor só se pode desenvol- excelente trabalho por duas razões: por um lado, por- mas aberto, e aí estamos a tentar colocar as nossas em-
ver através da cooperação internacional? que promove formação de acordo com as necessida- presas na cadeia de valor das grandes empresas inter-
J. C.: Sim, tem a ver com o brand name de Portugal. des formativas da empresa e fá-lo dentro da própria nacionais (como ser fornecedor de uma Airbus), e há ou-
Portugal tem de se apresentar, em termos internacio- empresa, e depois porque desenvolve os conteúdos tros que são completamente distintos, como o mercado
nais, como um país com capacidades neste setor, as- formativos adaptados às necessidades da empresa. do Médio Oriente, da África Subsariana, do Magrebe e do
sim como nós reconhecemos a Suíça quando falamos Quer a Mecachrome, quer a Lauak, são exemplos disto. Sudeste Asiático. Estes mercados são altamente insti-
de aparelhos de precisão. Aquilo que digo é que o nome tucionais e aos quais só se consegue aceder através de
de Portugal tem de estar associado a conhecimentos, D&F: Por último, e como sabe, o investimento do relações governamentais.
valências e grande interesse do ponto de vista tecnoló- IEFP na tecnologia necessária e a planificação con- Neste momento, estamos a tentar entrar no mercado do
gico nestes três setores. Isso significa que, em primei- junta da formação entre o IEFP e empresas como Egito. Por exemplo, a nossa Força Aérea tem 12 aviões
ro lugar, temos de criar uma rede cooperativa e, como a Embraer e a Lauak têm permitido, nos últimos anos, F16 e o Egito tem 250, ou seja, são mercados com um
o mercado interno é irrelevante, não tem expressão, formar um número significativo de pessoas, apoiando grande potencial mas onde as empresas per si têm mui-
naturalmente que temos de estar ligados ao exterior. a estruturação do setor. Quais os desafios que se co- tas dificuldades em entrar.
Mas, para isso, temos de ser conhecidos. Temos de locam ao IEFP para que possa ser um parceiro ainda
ver e ser vistos. É isso que o cluster tem de fazer: dar mais estratégico deste setor? D&F: E «essa ponte» está a ser feita pelo nosso governo?
a conhecer as capacidades nacionais junto do exterior, J. C.: Referindo-me de um modo mais genérico às rela- J. C.: Sim, pelo ministro da Defesa, pelo ministro da Ad-
e para isso temos de estar presentes nas grandes fei- ções entre as universidades e as empresas que é, nes- ministração Interna e, principalmente, pelo secretário de
ras internacionais, o que já estamos a fazer. te momento, uma das nossas maiores dificuldades, Estado da Internacionalização, além dos contributos do
Contudo, uma vez que as nossas empresas são pe- o que acho é que aquilo que as universidades fazem Ministério da Economia e do AICEP.
quenas e são poucas as que têm capacidade para ir tem de chegar às empresas e vice-versa, e isso só ago-
a uma grande feira internacional e ter um stand pró- ra começa a ser feito. As universidades estavam fe- D&F: Em 2017 a AED promoveu um evento, a AED Days,
prio, por causa dos custos que isso envolve, aquilo chadas num mundo à parte. Aquilo que agora estamos onde estiveram reunidos os main players nacionais
que fazemos, em termos de cluster , é disponibilizar a tentar fazer, através das universidades, dos cen- e internacionais das Indústrias Aeronáutica, do Espaço
uma área — o Portuguese Meeting Point — para onde tros tecnológicos e dos centros de investigação, é e da Defesa para debater os desafios prementes e o fu-
convidamos todas as empresas portuguesas que, não que as universidades comecem a refletir nas neces- turo destes setores em crescimento. Qual o balanço que
tendo possibilidade de ter stand próprio, queiram estar sidades específicas das empresas e, por sua vez, faz desta iniciativa?
presentes na feira. procurar que as empresas procurem também co- J. C.: O ano passado correu muito bem. Tivemos 320 par-
O mercado europeu neste setor (aeronáutica, espaço locar dentro dos seus quadros pessoal altamente ticipantes, sendo que metade eram empresas. Decor-
e defesa) está a crescer a 10% ao ano, o equivalente ao especializado. reu durante três dias: o primeiro dia foi de plenário, com

30 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 31


DOSSIER CLUSTER AERONÁUTICO EM PORTUGAL

A FORMAÇÃO IEFP, I.P.

PARA A INDÚSTRIA
AERONÁUTICA
na rede de Centros de Gestão Direta do IEFP, outras são
pouco comuns, senão mesmo inovadoras, no contexto
da formação, como, por exemplo, a autoclave na oficina
de produção e transformação de compósitos, a linha

NO IEFP, I.P.
de tratamento de metais, o laboratório de metrologia
devidamente equipado, etc.

Paralelamente, o IEFP desenvolveu um trabalho meticu- Quer ao nível da construção de raiz, em Évora, ou reabi-
ANTÓNIO MANUEL BRANQUINHO, TÉCNICO SUPERIOR DA loso e minucioso, que passou pela definição de planos litação/adaptação de instalações, em Setúbal, dos espa-
DIREÇÃO DE SERVIÇOS DE EMPREGO E FORMAÇÃO PROFIS- ENGIRISCO
de equipamento, definição de layouts, adaptação destes ços de formação, quer ao nível dos equipamentos, por
SIONAL, DELEGAÇÃO REGIONAL DO ALENTEJO, IEFP, I.P.
aos espaços e condicionalismos existentes e contactos parte da equipa do Departamento de Formação Profis-
com empresas do setor, determinantes para iniciar em sional do IEFP houve uma manifesta preocupação em
ENQUADRAMENTO significativo, um considerável trabalho prévio de desen- tempo útil um conjunto de ações de formação que per- garantir a coerência e o ajustamento à realidade do con-
volvimento de recursos físicos e humanos e um conjunto mitiu à Embraer ter mão-de-obra qualificada em tempo texto industrial com soluções que permitem enriquecer
Em Portugal, a indústria ligada ao setor aeronáutico, pro- de ações de modo a garantir as condições necessárias oportuno. a formação e majorar as competências adquiridas pelos
fícuo em oportunidades de trabalho, investimento, in- ao desenvolvimento das ações de formação profissional Para garantir as condições necessárias ao desenvolvi- formandos em plena sintonia com as necessidades das
vestigação e inovação, conheceu nos últimos anos um e capacitação de pessoas para trabalharem neste exi- mento das ações de formação profissional foi definido e empresas.
crescimento exponencial. gente setor da indústria. realizado um conjunto de ações, das quais se destacam: Resolvidas as questões dos recursos físicos, foi neces-
Um dos marcos determinantes para este rumo, o mais Os Centros de Emprego e Formação Profissional de Évora sário resolver «o outro lado da formação», a questão
mediático e também, provavelmente, o mais decisivo e e de Setúbal foram designados os centros responsáveis • A construção, em Évora, e a reabilitação, em Setúbal, dos recursos humanos, particularmente daqueles que
com um forte efeito catalisador, foi a instalação de duas por organizarem as ações de formação conducentes às dos espaços de formação necessários ao desenvol- mais contribuem para os resultados da formação, os
fábricas da Embraer (terceiro maior fabricante de aviões qualificações definidas para esta área profissional. Évora vimento dos diferentes exercícios práticos de forma- formadores.
na hierarquia mundial) em Évora. Hoje existe em Portu- devido à instalação da Embraer e à perspetiva de cresci- ção nas diferentes saídas profissionais. Foram criados
gal um verdadeiro cluster aeronáutico, com a indústria mento do setor na região, e Setúbal, onde já se encontra- e equipados laboratórios e oficinas. INÍCIO
2008 2009 2010
nacional a ser potenciada pelo crescimento e instalação va a Lauak, devido à proximidade da OGMA e ao contexto
de empresas multinacionais como, por exemplo, a Lauak industrial da região.
FORMAÇÃO PARA A INDÚSTRIA AERONÁUTICA INÍCIO DA FORMAÇÃO EM SETÚBAL
e a Mecachrome. Com a Embraer e a Agência Nacional para a Qualificação INVESTIMENTO INICIAL

O envolvimento do Instituto do Emprego e Formação Pro- e o Ensino Profissional (ANQEP) desenvolveram-se os INSTALAÇÕES EQUIPAMENTO TOTAL A FORMAÇÃO DE FORMADORES

fissional, I.P. (IEFP) na formação para a indústria aero- currículos formativos e procedeu-se à elaboração de re- SERVIÇO DE OS REFERENCIAIS DE FORMAÇÃO
1 600 000 € 1 500 000 € 3 100 000 € FORMAÇÃO DE
náutica surge estrategicamente ao acompanhar a carta ferenciais de formação de nível IV para dar resposta às ÉVORA

de compromisso celebrada em 2008 entre a empresa necessidades emergentes das empresas a operar no SERVIÇO DE
“A CARTA DE COMPROMISSO..”
400 000 € 1 000 000 € 1 400 000 € FORMAÇÃO DE
Embraer – Empresa de Aeronáutica, SA e a Agência para contexto da indústria aeronáutica. SETÚBAL

o Investimento e Comércio Externo de Portugal, E.P.E. Foram quatro as saídas profissionais e os referenciais de
2 000 000 € 2 500 000 € 4 500 000 €
(AICEP). O IEFP comprometeu-se a garantir a qualifica- formação que, em articulação tripartida, IEFP/Embraer/ IEFP, I.P.

ção de profissionais no domínio da indústria aeronáutica ANQEP, foram criados e publicados no Catálogo Nacional A dimensão, à data, do setor industrial aeronáutico, adi-
através da sua rede de Centros de Formação Profissional. de Qualificações e que ambos os centros de formação vinhava a falta de formadores para estas áreas. Face
desenvolvem atualmente, nomeadamente: às dificuldades na contratação de técnicos com com-
O DESAFIO • A aquisição de equipamentos e ferramentas necessá- petências na área, desenvolveu-se uma estratégia de
– Técnico/a de Produção e Transformação de Compósitos. rias ao desenvolvimento dos diferentes currículos for- identificação e preparação de formadores para a área
Tratando-se de uma intervenção em áreas formativas – Técnico/a de Maquinação CNC. mativos. Se algumas oficinas e laboratórios têm uma aeronáutica que, entre outras, passou por ações de for-
novas para o IEFP e até à data sem grande expressão – Técnico/a de Tratamento de Metais. natureza e estrutura semelhante a outras já existentes mação para formadores e pela realização de parcerias
a nível nacional, mesmo ao nível de empresas e ou- – Técnico/a de Produção Aeronáutica: Montagem de Estruturas.
tros operadores económicos, foi necessário, obede-
cendo a um planeamento estratégico, um investimento

32 DIRIGIR&FORMAR N.º 21
DOSSIER CLUSTER AERONÁUTICO EM PORTUGAL A formação para a indústria aeronáutica no IEFP, I.P.

com outras entidades. Entre estas, foi celebrado um pro- Tecnológico, que aproximasse o mais possível as práti- FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO
tocolo de colaboração entre o IEFP, a Universidade de cas formativas ao contexto em que as empresas ope-
Évora e o Instituto Politécnico de Setúbal. Desde o início ram, utilizando ferramentas inovadoras em contexto de Passados dez anos da assunção do compromisso que
agilizaram-se ações de formação de índole técnica para formação mas de prática corrente em muitas empresas. o IEFP assumiu para a qualificação de profissionais para
capacitar potenciais formadores em áreas como a pro- a indústria aeronáutica, é consensual e unanimemente
dução de peças em material compósito, assemblagem 2013 2014 2015 reconhecido por terceiros a eficácia e o sucesso de que
de estruturas, processos especiais em aeronáutica, me- se revestiu a sua intervenção nesta matéria garantin-
trologia, CNC, cultura aeronáutica, lean e ferramentas da TRANSFERÊNCIA MAZAKS do, através dos seus Centros de Formação, a disponibi-
qualidade. Estas ações decorreram com a colaboração AQUISIÇÃO CNC 5 EIXOS lidade de mão-de-obra qualificada que permitiria não só
de empresas do setor, entre as quais a Lauak, que foi OBRAS-AMPLIAÇÃO CNC o arranque em tempo útil das atividades da Embraer,
inexcedível no apoio prestado. Foram realizadas visitas mas também disponibilizar mão-de-obra que contribuiu
MECACHROME-ASSINATURA EM ÉVORA
a empresas com equipas de formadores para uma melhor para ajudar à expansão e crescimento de empresas como pelos formandos, o que resulta num elevado con-
«incorporação» das práticas utilizadas nesta indústria. FORMAÇÃO CRIOGENIA
a Lauak e à instalação de novas, como a Mecachrome. tributo para a sua motivação para a formação e o
SEMANA FORMADORES «ON»JOB NA EMBRAER São vários os aspetos que podemos considerar relevan- trabalho.
INÍCIO EM ÉVORA: tes e destacar para o sucesso da intervenção do IEFP • Os referenciais de formação desenvolvidos apor-
2011 2012
nesta matéria – visão estratégica, planeamento, recur- taram à formação conteúdos e temas à data pouco
sos físicos, trabalho de proximidade com as empresas comuns, como questões relacionadas com o lean ,
INSTALAÇÃO DE OFICINAS E LABORATÓRIOS Em simultâneo, e na vertente de formação modular, tam- do setor e capacitação de formadores –, sendo os mais cultura industrial e metrologia, o que permitiu de-
MARÇO-CONCLUSÃO DAS OBRAS DO PT bém se têm desenvolvido ações de formação no âmbito importantes: senvolver competências nos formandos mais ajus-
MARÇO-INÍCIO DA FORMAÇÃO DAS RESTANTES ÁREAS DE FORMAÇÃO da Qualidade Industrial, Desenho Técnico, Ferramentas • O planeamento e sua execução na dotação de condi- tadas ao contexto industrial atual.
de CAD/CAM, Logística, Dimensionamento e Tolerân- ções e recursos dos Centros de Formação, que pas- • A atenção, proximidade e envolvimento frequente
CAPACITAÇÃO DE FORMADORES PARA CONTEXTO DA AERONÁUTICA ciamento Geométrico e TPM. Entre os dois centros já saram pela adaptação e construção de espaços de dos centros com as empresas do setor permite um
ABRIL-INÍCIO DA CONSTRUÇÃO DO POLO TECNOLÓGICO se desenvolveu um considerável número de ações de formação e uma dotação de equipamento ajustado ajustamento on time da formação às necessidades
MARÇO-INÍCIO DA FORMAÇÃO EM ÉVORA-CNC formação, ultrapassando hoje os 4000 formandos que à realidade das empresas, em que uma das mais-va- reais do mercado de trabalho, desenvolvendo prá-
concluíram ações com aproveitamento. O elevado nú- lias residiu na aproximação ao contexto real da in- ticas e rotinas na formação que contribuam para a
mero de formandos em formação modular no SFP de dústria. Estes recursos, a sua organização e o modo melhor e mais rápida integração dos formandos no
A OPERACIONALIZAÇÃO DA FORMAÇÃO Évora prende-se, essencialmente, com ações de forma- como os Centros de Formação os gerem e utilizam posto de trabalho.
ção para ativos empregados, a maioria detentores de uma permitem um incremento qualitativo no processo • A capacitação dos formadores e o seu posterior desem-
As ações de formação para este setor da indústria tive- das formações qualificantes referidas, ou na área da me- formativo, facilitando a aquisição de conhecimento penho foi essencial para consolidar todo o processo
ram início em 2010 no Serviço de Formação Profissional catrónica ou manutenção industrial, contratadas pelas
(SFP) de Setúbal, em março de 2011 iniciou-se a primeira empresas do setor aeronáutico, visando o reforço ou alar-
gamento de competências específicas. Estas ações, com
uma duração de 25 a 100 horas, versam essencialmente
a capacitação técnica em diversos tipos de software de
programação CNC (CATIA, MasterCam, NX) em GD&T, Apli-
cação de Selantes, Pintura Aeronáutica e TPM.

FORMAÇÃO NA ÁREA AERONÁUTICA


(PONTO DE SITUAÇÃO EM DEZEMBRO DE 2017)
NÚMERO DE FORMANDOS
2010/2017

DESIGNAÇÃO DE MAQUINAÇÃO PRODUÇÃO DE MONTAGEM TRATAMENTO QUALIDADE MODULAR TOTAL


AÇÕES CNC COMPÓSITOS DE ESTRUTURAS DE METAIS

Nº DE FORMANDOS

ação em Évora de Maquinação CNC e em março de 2012, QUE CONCLUÍRAM 312 126 255 109 187 1474 2463
SFP-ÉVORA

quando concluídas as obras de construção e instalação Nº DE FORMANDOS


das oficinas, iniciaram-se em Évora as ações de for- QUE CONCLUÍRAM 300 205 417 203 - 184 1309
SFP-SETÚBAL
mação nas restantes saídas profissionais. No SFP de
Évora, desde o início deste projeto foi definida uma estra- TOTAL 612 331 672 312 187 1658 3772
tégia de organização da formação, que deu corpo ao Polo

34 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 35


DOSSIER CLUSTER AERONÁUTICO EM PORTUGAL A formação para a indústria aeronáutica no IEFP, I.P.

e retirar partido das restantes condições criadas. de pessoas capazes de suprir as necessidades de mão-
Mais uma vez se releva a importância do contacto -de-obra qualificada nesta indústria e contribuir para o
próximo com a realidade das empresas, o que permite aumento da sua competitividade num setor particular-
aos formadores um conhecimento atual das práticas mente exigente na qualidade dos seus recursos humanos.
e rotinas das mesmas e contribui para a elaboração Os recursos formativos disponíveis e as práticas desen-
de exercícios de formação facilitadores da aquisição volvidas no contexto da formação têm sido referidos
de competências úteis, atuais e operacionais, de que como fatores extremamente positivos e diferenciado-
resulta um trabalho mais motivante para os forman- res pelas empresas que visitam as instalações dos dois
dos bem como o desenvolvimento de uma cultura or- Centros de Formação e que têm contratado formandos
ganizacional próxima da realidade empresarial que oriundos destas ações. A AICEP tem dado um excelente
atenua a fronteira entre a passagem da formação ao contributo, essencialmente como facilitador na ligação
mundo do trabalho. com as empresas e na divulgação da capacidade forma-
Além das ações de formação desenvolvidas pelos Servi- tiva do IEFP para este setor.
ços de Formação, algumas dinamizadas por entidades O reconhecimento por parte das mais diversas em-
externas, as visitas às empresas foram determinantes. presas e instituições do trabalho que o IEFP tem de-
Entre as demais, e a título de exemplo, a semana em que senvolvido no âmbito da formação aeronáutica e o
formadores dos dois Centros de Formação estiveram nas interesse que tem suscitado em muito se deve ao
fábricas da Embraer em Évora, nas linhas de produção, a planeamento e orientação estratégica que marcou
acompanhar o processo produtivo ao lado dos operado- o início e traçou o rumo da mesma, promovendo prá-
res com o objetivo, entre outros, de identificarem oportu- ticas e rotinas pouco habituais e inovadoras no âmbi-
nidades de melhoria a montante no processo formativo. to da formação e muito ajustadas ao contexto indus-
Situações semelhantes também já se desenvolveram trial. Muitas destas práticas passaram pela orientação
com as empresas Lauak e Mecachrome. e preparação prévia dos formadores, um benchmarking
A proximidade com as empresas e os recursos dispo- ativo e uma proximidade efetiva junto das empresas des-
níveis permitem um enquadramento da formação coe- ta indústria. A manutenção deste standard é garantida
rente com a realidade empresarial, com um ajusta- por uma atenção constante e sensibilidade para com
mento entre as competências necessárias no mercado o meio envolvente de modo a garantir uma resposta for-
e as desenvolvidas pelos Centros de Formação, poten- mativa em tempo útil, qualitativa e quantitativamente
ciando o contributo que o IEFP pode dar na qualificação ajustada às necessidades do mercado de trabalho.
O PONTO DE SITUAÇÃO O nível de empregabilidade dos formandos que têm
frequentado estas ações de formação é superior
O efeito «âncora», desejável e já expetável, da instala- a 90%, revelando a dinâmica do setor e a validade do
ção da Embraer em Évora levou à instalação de outras investimento de todos os atores envolvidos nesta
empresas como, por exemplo, a multinacional francesa formação.
Mecachrome e a Air Olesa. Esta dinâmica também já ar- O desenvolvimento e crescimento das empresas neste
rasta outros distritos, surgindo em Beja, Ponte de Sor setor, a evolução permanente dos processos de pro-
e Grândola empresas de várias áreas ligadas ao setor dução industrial e os desafios colocados pelo contex-
aeronáutico que necessitam de mão-de-obra com com- to da «Indústria 4.0» obrigam ao desenvolvimento
petências específicas ajustadas aos seus requisitos. Em contínuo de novas competências nos seus atores.
Grândola, numa nova fábrica, a Lauak, vai iniciar a produ- O dinamismo que o setor industrial em geral tem evi-
ção já no início de 2019. O surgimento destas novas em- denciado sugere uma atenção e investimento cons-
presas, associadas ao crescimento da Embraer, aporta tante dos operadores de formação para conseguir
cenários de empregabilidade pouco comuns no Alentejo, o melhor ajustamento entre as competências desen-
com necessidade de mão-de-obra qualificada em áreas volvidas no seio das ações de formação e as neces-
também novas para a região. Situação idêntica ocorre sárias no mercado de trabalho.
na esfera de intervenção do Centro de Formação de Se- Formar para as empresas, disponibilizando-lhes
túbal, onde o crescimento de empresas como Lauak, a mão-de-obra qualificada que lhes é necessária para
Mecachrome e OGMA garantem empregabilidade total a sua competitividade, é um dos contributos mais im-
aos formandos oriundos das ações de formação ligadas portantes que o IEFP pode dar para o desenvolvimento
à indústria aeronáutica. social e económico do país.

36 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 37


DOSSIER SETOR AGRÍCOLA

uma correlação entre o aumento da população ao longo tecnologias da informação e comunicação, por exemplo
dos tempos e o tamanho e a potência dos tratores utili- com os sistemas de GPS, aplicações informáticas e In-
zados pelos agricultores. A mecanização tem permitido ternet móvel, a dar um contributo importantíssimo para
que, cada vez mais, a agricultura dispense da sua pro- que a atividade agrícola se torne cada vez mais produti-
dução um número cada vez maior de pessoas que po- va, eficiente e, inclusivamente, sustentável do ponto de
dem assim beneficiar do aumento da produção agrícola vista ambiental.
e dedicar-se a outras atividades, fazendo evoluir a nossa Na CAP somos com frequência questionados acerca de
sociedade, enfim, investigando e desenvolvendo novas questões muito específicas e técnicas, por exemplo em
tecnologias que permitam à agricultura dar o salto tec- relação a matérias relacionadas com a saúde e a segu-
nológico seguinte. rança alimentar e, com a mesma frequência, explicamos
Além da mecanização, recentemente a inovação gené- que os agricultores não são cientistas e que devemos
tica em plantas e animais tem sido determinante para confiar na ciência face a qualquer situação especulativa
o desenvolvimento do setor, sendo que nas plantas os ou alarmista que possa surgir. No entanto, há uma mis-
processos de desenvolvimento e de observação de re- são, no que concerne à disseminação do conhecimento,
sultados são significativamente mais rápidos. Por outro da qual não abdicamos: transmitir aos jovens informa-
lado, verifica-se uma sensibilidade ambiental muito sig- ção sobre o setor agrícola, sobre como funciona e sobre
nificativa na Europa, sem par a nível mundial, nomeada- a inovação que atualmente integra nos seus processos
mente em relação à preservação dos solos, da água e do produtivos.
meio ambiente de um modo geral. Com efeito, temos vindo a desenvolver iniciativas, como
A gestão da água, em particular, que tanto tem vindo um concurso universitário e politécnico sobre a inovação

INOVAÇÃO NO SETOR
a preocupar-nos ao longo dos últimos anos, nomeada- no setor agrícola e o Dia Nacional da Agricultura nas Es-
mente tendo em conta as alterações climáticas e as colas, com o intuito de disponibilizar aos mais jovens o
secas cíclicas com as quais no deparamos, beneficia conhecimento sobre a agricultura moderna que hoje em

AGRÍCOLA
atualmente de avanços muito significativos em termos dia se pratica no nosso país e que ao longo de muito anos
de sistemas de rega e de gestão dos recursos hídricos. não esteve presente no espírito dos portugueses, desva-
Ainda assim, estou convencido de que sem investigação lorizando os agricultores e, assim, desfavorecendo a agri-
científica e inovação que permita adaptar culturas e pro- cultura enquanto atividade economicamente relevante.
LUÍS MIRA
SECRETÁRIO-GERAL DA CONFEDERAÇÃO DOS
cessos produtivos, os efeitos que podemos já começar A falta de atualização de conhecimento sobre a ativida-
AGRICULTORES DE PORTUGAL (CAP) a antever em termos da produção agrícola de uma forma de agrícola, alguma dela até politicamente conveniente
ENGIRISCO
geral seriam verdadeiramente devastadores para a eco- a determinadas visões da sociedade, leva a que a popula-
nomia e a nossa própria estabilidade enquanto espécie. ção geral dê como adquiridas noções que não correspon-
Felizmente, observo que as soluções para os problemas dem à realidade. O recurso a agroquímicos, atualmente
que iremos enfrentar no futuro surgem a cada momen- de aplicação muito restrita, quer por razões económicas,

O
setor agrícola é, provavelmente, um dos que mais tem vindo a transfigurar-se devido à crescente introdução to e, mais uma vez, poderemos confiar na ciência para quer porque existem instrumentos que permitem a apli-
de novas tecnologias nos processos produtivos. Mas, curiosamente, é uma das áreas de atividade económica prevalecer sobre as dificuldades que a natureza e a pró- cação dos produtos só quando são realmente necessá-
mais conotadas, na mente do observador comum, com métodos tradicionais e pouco evoluídos. É evidente pria civilização nos colocam. É claro que isso exigirá aos rios e em quantidade absolutamente controlada, cons-
que o facto de se tratar do setor primário e fundador da atividade económica em geral contribui para que a perceção agricultores um enorme esforço de adaptação ao longo titui um mito que só com muito trabalho de informação
dos cidadãos seja mais simplista e baseada no passado, mas isto também significa que o setor precisa de mostrar de décadas ou séculos, para corresponder aos desafios e divulgação é possível colmatar.
mais à sociedade aquilo que faz no seu quotidiano. das alterações climáticas que me parecem inevitáveis. De facto, a inovação joga sempre a favor dos agricultores
De qualquer modo, estou convencido de que a sociedade e, curiosamente, apesar de a sociedade nos ver como um
– até porque disso depende a sua própria estabilidade e setor pouco moderno, são precisamente os agricultores
Sendo a agricultura uma atividade milenar, é fácil perce- GPS, os drones, os smartphones, os sensores, a gestão sobrevivência – não deixará de apoiar a transformação que maior esforço fazem por inovar, em primeiro lugar
ber que não existiria ou, pelo menos, de pouco serviria à de dados e mesmo os robôs, que hoje em dia os agricul- que, em muitos casos e muitas culturas, será necessá- porque estão mais distantes dos centros de inovação e,
sociedade moderna, se não estivesse constantemente tores portugueses usam no seu dia a dia para produzi- rio implementar. em segundo lugar, porque o facto de não inovarem tem
a evoluir, a inovar, a aplicar novos instrumentos, técni- rem o que consumimos e exportamos, são «apenas» No que concerne à ciência, creio até que grande parte consequências desastrosas para as suas produções e a
cas e tecnologias. Portanto, a inovação está na génese as últimas novidades de um longo caminho de evolução da inovação necessária não carece de investigação es- sua própria sobrevivência.
do setor desde que o homem percebeu que podia passar e de inovação. pecífica em relação à atividade agrícola, uma vez que se A agricultura de precisão que se pratica em inúmeras ex-
a cultivar em vez de apenas estar dependente de que Neste percurso, a mecanização é certamente o aspe- trata sobretudo de adequar sistemas e tecnologias que plorações agrícolas nacionais tem vantagens muito signi-
exista algo para colher. Desde essa inovação primordial, to mais determinante da evolução tecnológica do setor, já foram inventados ou que até já foram implementa- ficativas e acréscimos relevantes em termos de compe-
a agricultura nunca mais parou de inovar. Os sistemas de até porque é possível observar que existe, por exemplo, dos noutras áreas. Assim, têm sido as chamadas novas titividade e sustentabilidade, nomeadamente ao nível da

38 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 39


DOSSIER SETOR AGRÍCOLA

aplicação de sementes, fertilizantes, pesticidas, água, cultivo, de forma coordenada entre si, realizando ta-

UMA NOVA GERAÇÃO


plantação, colheita, etc., aspetos complementados refas que ainda implicam mão-de-obra significativa,
com a recolha e gestão de dados, as ferramentas de dificuldades logísticas e esforço de coordenação que,
diagnóstico, deteção de doenças e outros problemas, a nível humano e num ambiente de campo aberto, nem
assim como de monitorização dos solos, dos climas, sempre é fácil.

DE AGRICULTORES
das plantas e dos animais. Esta possibilidade representa um ponto de viragem
A agricultura europeia, na qual nos integramos, é a em termos de mecanização com base em tratores de
mais avançada do mundo no que concerne à aplica- grande dimensão e potência e é particularmente re-
ção de sistemas e regras de controlo ambiental e de levante para a agricultura portuguesa, praticada em REVISTA DIRIGIR&FORMAR CEDIDAS PELO ENTREVISTADO
segurança alimentar e bem-estar animal. Esta posição terrenos de pequena e média dimensão, nem sempre

E
da Europa, num quadro de economia e concorrência compatíveis com a dimensão destes veículos mas per- m Portugal está a surgir uma nova geração de agricultores: são jovens com formação superior, mais informados,
globalizada, só é sustentável para os produtores eu- feitamente compatíveis com este novo sistema de pe- mais dinâmicos, arriscam mais e são mais inovadores. Conseguem tirar maior vantagem das novas tecnologias
ropeus com níveis de produtividade e competitivida- quenos robôs. Além disso, esta possibilidade permite e da abertura dos mercados, têm uma visão empresarial da agricultura.
de consideráveis, o que implica precisamente a ma- considerar o acesso à tecnologia através de aluguer Exemplo disso é o caso de Manuel Grave que, apesar de se ter licenciado numa área completamente diferente, re-
nutenção de um elevado nível de inovação, baseado a utilização pontual, quando for necessário. Acresce gressou às origens e lançou-se num projeto agrícola inovador que consiste num amendoal plantado em sebe ou su-
num forte investimento em investigação científica. ainda como vantagem o recurso à energia solar para perintensivo, com 2469 plantas por hectare, onde as amendoeiras formam uma sebe em vez de árvores isoladas
É neste meio que nos movimentamos e que temos de carregamento dos equipamentos o que, em Portugal, e que tem várias vantagens relativamente às plantações tradicionais de amêndoa, nomeadamente permite produções
competir, o que aliás seria completamente impossível, com o índice anual de incidência solar de que dispo- mais precoces, menores custos de manutenção anual e uma maior preocupação ambiental.
por mais apoios que possam existir, sem inovação. mos, constitui uma vantagem acrescida para a agri-
À medida que os equipamentos vão ficando ligados cultura nacional.
entre si através da Internet e que os sistemas de Assim, tendo em conta todo este enquadramento
inteligência artificial permitem a interação automá- e apesar das condicionantes e dificuldades com as ENTREVISTA MANUEL MARIA COSTA GRAVE
tica entre eles, assistimos, também na agricultura, quais nos vamos confrontar num futuro muito próximo,
a uma nova fase que nos leva da mecanização à au- estou perfeitamente convicto de que continuaremos PERFIL
tomação. Com efeito, recentemente tive oportunida- a inovar e a atrair as novas gerações para um setor Manuel Maria Costa Grave, idade 29 anos
de de tomar conhecimento de um novo sistema que que tem vindo a crescer e a recuperar a sua posição Licenciado em Medicina Dentária e mestrado em
permite a pequenos robôs operarem nos campos de no quadro da economia nacional. Engenharia Agronómica
Empresário e sócio gerente da Gravera, Lda.

Dirigir&Formar: Apesar de o setor agrícola ter, nos úl-


timos anos, vindo a desenvolver-se quer através da in-
trodução de novos processos produtivos quer pela in-
trodução de novas tecnologias, ainda é percecionado
por muitos jovens como uma profissão pouco apelativa
mas essa situação está a mudar. Este não foi o seu caso.
Como surgiu o seu interesse pela agricultura? A sua fa-
mília tem alguma ligação à terra? um projeto na área dos frutos secos. Ao longo do proces-
Manuel Grave: Desde novo que tenho a sorte de contac- so de procura por informação sobre essa cultura acabei
tar com a agricultura, uma vez que cresci numa família por conhecer o Sr. Federico Lopez, diretor de uma empre-
de agricultores, com grande ligação à terra, e desenvol- sa de consultoria agrícola sediada em Badajoz (NogalTec
vi uma grande paixão por esta profissão. Estive noutros Ingenieros), para onde fui trabalhar e onde tive uma ex-
cursos mas a agricultura chamou mais alto. periência maravilhosa, recheada de aprendizagem. Mas
o projeto do amendoal continuou a ser desenvolvido em
D&F: Apesar de ser muito jovem quer contar-nos como paralelo e foi tomando forma, pelo que passado um ano
tem sido o seu percurso enquanto jovem agricultor? tive de sair da NogalTec para me dedicar à execução
M. G.: Comecei por fazer um estágio no IEFP, numa empre- e acompanhamento do mesmo.
sa familiar, onde contactava com vários ramos da agri-
cultura, como a vinha, produção de cereais e forragens D&F: Conte-nos o seu dia a dia, como é a vida de um jo-
e gado bovino. Nessa altura começou a surgir a ideia de, vem agricultor.
juntamente com o meu pai (Carlos Grave), desenvolver M. G.: O dia a dia é, felizmente, muito imprevisível. Estou

40 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 41


DOSSIER SETOR AGRÍCOLA Uma nova geração de agricultores

com o meu pai neste projeto e também nas explorações o prémio de melhor projeto «Jovem Agricultor do Ano»
familiares, pelo que, além do projeto do amendoal, há 2018, o que nos permitiu a representação de Portugal no
dias dedicados às culturas anuais, como as forragens Congresso Europeu de Jovens Agricultores. Neste con-
ou os cereais, dias dedicados à vinha, dias dedicados curso, foi uma grande surpresa e uma honra enorme ter
ao gado e, inevitavelmente, muitos dias dedicados ao ganho o prémio, pois não tinha noção da qualidade do
escritório e à gestão do negócio, que é uma das partes projeto. Estes prémios, além da felicidade e orgulho que
mais importantes. nos proporcionaram, deram-nos muita confiança para o
futuro pois representam a opinião de muitas pessoas,
D&F: Acha que se está a desenvolver, no nosso país, uma ligadas ao setor e não só, de que esta exploração tem
nova geração de jovens empresários agrícolas? o que é preciso para ser uma exploração de sucesso e,
M. G.: Penso que começa a haver cada vez mais, sim. além disso, que as escolhas inovadoras que fizemos, que
A agricultura é uma ocupação cada vez mais falada sempre suscitam algum receio, são acolhidas por quem
e melhor vista na sociedade e tem despertado interesse avaliou o projeto, deixando-nos ainda com mais vontade
a muitas pessoas que, mesmo não sendo do meio, gos- de trabalhar e de honrar estas distinções ao garantir que
tariam de levar um modo de vida diferente. Além disso, este amendoal será mantido à luz de todos os conheci- grande parte das despesas de manutenção quando efe- diversos postos de trabalho na região e pela criação de
os apoios europeus para os projetos também são uma mentos que forem aparecendo de modo a estar sempre tuadas à mão. valor para o setor. Quer comentar? O que destaca como
grande ajuda, pois ajudam a perceber a sustentabilidade na vanguarda da agricultura. Tem como desvantagem o maior investimento inicial em inovador no projeto?
dos mesmos pela sua aprovação e fornecem algum apoio plantas, no entanto esse investimento é coberto pelas M. G.: A inovação deste projeto reside no sistema de plan-
financeiro, muito importante para quem se está a lançar. D&F: Na sua opinião, qual a mais-valia deste tipo de pré- produções precoces e pelo menor custo de manuten- tação em si (sistema superintensivo ou em sebe) que,
mios para o desenvolvimento do setor? ção anual. como expliquei, é um sistema mais eficiente, que atin-
D&F: Considera que o facto de ter uma formação acadé- M. G: Estes prémios são de grande importância para o Este sistema superintensivo ou em sebe começou na ge as mesmas produções que o sistema intensivo com
mica superior foi importante para a sua profissão e o de- setor uma vez que alertam a sociedade para o valor e zona de Barcelona há cerca de oito anos e foi necessá- menor utilização de recursos e menores custos de ma-
senvolvimento do seu trabalho? Explique como e porquê. modernidade da agricultura contemporânea, valorizam o ria muita investigação para o seu sucesso, tendo sido nutenção anual. É um sistema que ainda não está com-
M. G.: Ter uma formação superior é sempre uma ajuda trabalho agrícola demonstrando que utiliza tecnologia e desenvolvidos porta-enxertos adequados para este sis- pletamente provado, daí a inovação, mas que se está
na entrada no mundo profissional, abre-nos portas para promove inovação ao nível de muitas áreas profissionais, tema e as variedades a utilizar também têm de ser cui- a revelar bastante promissor com base nos resultados
empregos que possam surgir e, além das bases de co- tornando-o cada vez mais apelativo e como uma primei- dadosamente escolhidas, no entanto os resultados têm que tem vindo a apresentar.
nhecimento que nos proporciona, dota-nos da capaci- ra opção de ocupação para mais pessoas. Esta valoriza- surpreendido os agricultores cada vez mais pela positiva. Há também a vertente da zona onde foi implementado,
dade de saber onde procurar o conhecimento e como o ção da agricultura promove cada vez mais dinamismo e O desenvolvimento desta plantação, como referi, vai ser que é uma zona desfavorecida do centro do Alentejo, no
aplicar. Ninguém sai do curso capacitado para responder inovação, culminando num desenvolvimento cada vez levado a cabo à luz de todo o conhecimento e tecnologia concelho de Portel, onde a agricultura estava condena-
a todas as necessidades da profissão, sai sim com as fer- mais ativo e numa competitividade cada vez mais forte que possuímos atualmente, por forma a que chegue ao da ao pastoreio de gado e às culturas de sequeiro. Com
ramentas necessárias para ir pesquisar e tornar-se cada relativamente ao resto do mundo. cruzeiro produtivo no máximo das suas capacidades. Isto o projeto Alqueva outras possibilidades surgiram para
vez melhor. Foi esta a influência que a formação teve na implica um controlo minucioso dos tratamentos preventi- esta zona, uma vez que nos deu a capacidade de regar.
minha vida profissional e que me ajudou a desenvolver D&F: Fale-nos agora do seu projeto – em que consiste, vos relativamente a pragas e doenças, das três ou quatro Assim, projetos como este ajudam a criar trabalhos fixos
este projeto de caráter inovador. como vai desenvolvê-lo e como o prémio que conquistou podas mecânicas a efetuar anualmente, das regas, das e sazonais e, inclusivamente, fixação na zona de empre-
pode contribuir para o seu desenvolvimento. fertilizações, etc. É sempre necessário um controlo aten- sas prestadoras de serviços à cultura, combatendo deste
D&F: Em junho deste ano foi considerado o «Jovem Agri- M. G.: Consiste num amendoal plantado em sebe ou super- to da cultura para que qualquer problema que apareça modo a desertificação de uma zona desfavorecida e cada
cultor do Ano» pela Confederação dos Agricultores de intensivo, com 2469 plantas por hectare, onde as amen- seja resolvido com a maior brevidade de modo a evitar vez menos populosa do nosso país.
Portugal. Mais recentemente, no dia 18 de outubro, no doeiras formam uma sebe em vez de árvores isoladas, o períodos de stress na planta, o que compromete o seu
âmbito do Congresso Europeu de Jovens Agricultores, que representa uma grande inovação nesta cultura, que desenvolvimento. D&F: O que considera estar a mudar em Portugal no setor
foi distinguido pelo Parlamento Europeu com o prémio costuma ser plantada num sistema dito intensivo, com Os prémios que recebemos contribuem para o reconhe- agrícola ao nível da sua dinâmica e das mentalidades?
«Melhor Jovem Agricultor Europeu» de 2018. Esta distin- cerca de 300 árvores por hectare, onde a plantação é cimento da empresa, facilitando todas as relações co- M. G.: Considero que atualmente a agricultura já não é
ção é motivo de orgulho para Portugal. Conte-nos como tratada árvore a árvore. Este sistema em sebe tem como merciais, seja com empresas fornecedoras, compradoras vista como uma ocupação simples, pouco apelativa, des-
tudo aconteceu, o que o levou a concorrer e como sentiu vantagens o menor consumo de água porque, apesar de ou mesmo prestadoras de serviços, fomentando assim tinada a pessoas do campo, mas como uma área de ne-
este reconhecimento pelo seu trabalho. ter mais plantas por hectare, tem menor área foliar, que o seu desenvolvimento. No entanto, acarretam também gócio crescente, com muitas opções interessantes para
M. G.: Foram realmente distinções que nos deixaram in- implica menor evapotranspiração, atingindo produções a responsabilidade de manter a exploração como uma investir e criar empresários de sucesso. Assim, penso
crivelmente felizes com o nosso trabalho. Tudo começou similares (mais eficiente) e entrada em produção mais referência na produção de amêndoa. que cada vez mais a agricultura não está destinada ape-
com a empresa de consultoria em projetos Consulai, que precoce, há casos de produções de cerca de 1000 qui- nas àqueles que têm ligação à terra, mas a todos os que
assessorou o nosso projeto, que nos informou do con- los de miolo ao terceiro ano, algo impossível de atingir D&F: Além de outros motivos o seu projeto foi ainda es- têm paixão por este setor e pretendem trabalhar numa
curso e nos ajudou na candidatura. Aconteceu que, para no sistema intensivo, e a possibilidade de mecanização colhido pelas preocupações ambientais que revela, pela área em crescente modernização tecnológica com mui-
grande felicidade nossa, em junho deste ano ganhámos das colheitas e podas, trabalhos que representam uma gestão dos recursos hídricos, pela inovação, por originar tas opções de inovação.

42 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 43


DOSSIER TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO

INVESTIR NA INVESTIGAÇÃO Os Estados-membros precisam de preparar melhor as


pessoas para mercados de trabalho em permanente
mutação e para a cidadania ativa em sociedades mais
Estima-se que cerca de metade
dos atuais postos de trabalho

E NA INOVAÇÃO…
diversificadas, móveis, digitais e globais. Para este
efeito, a Recomendação do Conselho sobre as Compe- em todo o mundo desaparecerão
tências Essenciais para a Aprendizagem ao Longo da durante os próximos vinte
Vida6 privilegia especificamente o desenvolvimento de e cinco anos e que surgirão
COMEÇANDO PELA EDUCAÇÃO
atitudes empreendedoras e mentalidades orientadas
para a inovação. novas profissões que requerem
Uma criança que comece a escola primária hoje terá competências digitais avançadas.
o seu diploma universitário em meados da década de
ANA MARIA NOGUEIRA ENGIRISCO
ana.nogueira@ep.europa.eu 2030 e sua carreira durará até 2060 ou mais. Embora
não possamos prever exatamente quais serão as ne-
cessidades do mercado de trabalho a meio do século, Comissão Europeia, dificultando a vida aos Estados-
já sabemos que estão a mudar e continuarão a mudar -membros em termos de coordenação, cooperação
ao mesmo ritmo dos avanços tecnológicos. e divulgação.
Então, uma questão se coloca: como preparar as gera- Para as reformas dos sistemas educativos terem su-
ções futuras para prosperarem neste cenário em mu- cesso são necessários três ingredientes: primeiro, po-
dança e mesmo antecipar a mudança? líticas ou programas razoavelmente bem projetados;
Não será certamente ensinando os mesmos assuntos segundo, as instituições – e as pessoas que nelas tra-
e com os mesmos métodos que se ensinavam há vinte balham – precisam de possuir as competências ne-
ou mais anos. Os debates sobre o futuro da educação cessárias para implementar efetivamente a reforma;
centram-se sobre como mudar a maneira de ensinar, terceiro, deve haver alinhamento político em torno da

I
nvestir na investigação e na inovação é investir no futuro da Europa, é essencial para competir a ní- abraçar a tecnologia na sala de aula, mas quase não reforma educacional para que o aluno seja sempre
vel mundial e assegurar o nosso modelo social único, permite melhorar a vida quotidiana de milhões há debate acerca de como mudar o que ensinamos. o único foco dos esforços de reforma.
de pessoas na Europa e em todo o mundo, ajudando assim a solucionar alguns dos nossos maiores Qualquer discussão sobre o futuro do trabalho deve Quando esses três fatores se juntam – design razoável,
desafios societais 1 . andar de mãos dadas com uma discussão sobre o fu- capacidade de implementação e alinhamento político –
turo do currículo. teremos alunos melhor preparados, com as competên-
A resolução de problemas, pensamento criativo, com- cias-chave, não só para o emprego mas também para
A União Europeia (UE) tem de investir mais nas políticas científica. Estima-se que cerca de metade dos atuais petências digitais e o trabalho colaborativo são compe- a promoção de uma sociedade inclusiva e tolerante.
de investigação e inovação e nas tecnologias disrupti- postos de trabalho em todo o mundo, e 30% na União tências cada vez mais procuradas pelos empregadores Teremos alunos criativos e motivados, equipados com
vas, promovendo as mudanças necessárias para igua- Europeia, desaparecerá durante os próximos vinte e cin- mas não são ensinadas nas nossas escolas. Mesmo as competências necessárias para resolverem proble-
lar, e mesmo superar, o que tem sido feito nos Estados co anos e que surgirão novas profissões que requerem quando o digital faz parte do currículo, é para ensinar mas, inovarem e terem sucesso.
Unidos e na China. competências digitais avançadas4, o que significa que como utilizar a tecnologia – como criar um documen-
O investimento em investigação e desenvolvimento da estamos a educar as nossas crianças para empregos to ou uma apresentação – em vez de (também) como
UE e dos seus Estados-membros deve ser simplificado, que ainda não existem. criar tecnologia.
mais ágil e, acima de tudo, os fundos devem chegar às Em todo o mundo, líderes de governos e da indústria A UE e os Estados-membros precisam de trabalhar em
empresas muito mais depressa do que acontece atual- debatem o futuro do trabalho e as mudanças trazidas conjunto com vista a promoverem e financiarem inicia- Para o período 2021-2027, de acordo com as propostas11
mente. A gestão consciente do risco deve substituir uma pela tecnologia digital. Apesar disso, não estamos tivas regionais e locais que apoiem a transformação da Comissão Europeia, será feito um esforço no sentido
atitude às vezes excessivamente cautelosa por parte dos a reagir suficientemente rápido para atualizar os sis- dos conteúdos e práticas pedagógicas com o objetivo de gerir e tirar partido das complementaridades e criar
gestores dos programas2. temas de educação. Isso mesmo é referido num re- de promover a inovação. sinergias operacionais através de uma melhor articula-
O facto de as reformas nos sistemas de educação serem latório da Comissão da Cultura e Educação do Parla- Com o objetivo de ajudar os Estados-membros a ti- ção entre os programas e instrumentos financeiros da
lentas (e a resistência às mesmas) não contribui para mento Europeu, lamentando que, apesar do potencial rarem o máximo partido das tecnologias digitais no UE a fim de maximizar o impacto das intervenções com-
a disrupção tão necessária à criatividade e inovação. da digitalização em termos de promoção e reforço da ensino e na aprendizagem existem muitas iniciativas binadas, tais como os Fundos Europeus Estruturais e de
É urgente repensar os programas curriculares e os mé- aprendizagem, o impacto das tecnologias digitais na e instrumentos a nível da UE, como o recente Plano de Investimento12, o programa ERASMUS, Europa Digital13
todos de ensino. As escolas devem ensinar o currículo própria educação seja limitado, manifestando igual- Ação para a Educação Digital7, a Semana Europeia da e Horizonte Europa14, entre outros. A União fornece os
do futuro, não o do passado. Além disso, o contributo mente a preocupação pelo facto de os investimentos Programação8, a coligação para as competências digi- meios mas são os Estados-membros que detêm o poder
do ensino e formação profissional deve ser valorizado3. em TIC nas escolas e nos centros de formação não te- tais para o emprego9, SELFIE10, bem como iniciativas para fazer as reformas necessárias.
Robôs, inteligência artificial e automação deixaram rem ainda dado origem à desejada transformação das no domínio da literacia digital. No entanto, muitas das
há muito de ser apenas material dos filmes de ficção práticas educativas5. iniciativas provêm de diferentes Direções-Gerais da

44 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 45


DOSSIER TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO Investir na investigação e na inovação... começando pela educação

PROGRAMA EUROPA DIGITAL suscitadas e garantir a existência de um quadro o acesso de todas as empresas, nomeadamente das Além do programa Europa Digital, será necessário pros-
ético e jurídico adequado. O programa Europa Di- PME, às tecnologias e conhecimentos pertinentes. seguir e reforçar o financiamento da investigação e da
A Comissão propôs em junho deste ano investir 9,2 mil gital facilitará o acesso das autoridades públicas Os polos de inovação digital funcionarão como «bal- inovação no domínio das tecnologias digitais da próxi-
milhões de euros no primeiro programa digital de sempre e das empresas, em especial as mais pequenas, às cões únicos» para as pequenas e médias empresas ma geração, no contexto do próximo quadro financeiro
a fim de que o próximo orçamento da UE a longo prazo instalações de ensaio e experimentação de IA nos e as administrações públicas, permitindo-lhes ter plurianual, a título do programa Horizonte Europa. Os
para 2021-2027 possa dar resposta aos desafios cada Estados-membros, ao passo que os investimen- acesso a conhecimentos tecnológicos especializa- dois programas funcionarão em conjunto: enquanto o
vez maiores do setor digital. tos mais avultados na investigação e na inovação dos e a instalações de ensaio e prestando serviços programa Horizonte Europa apoia investimentos essen-
Entre estes desafios destacam-se os que dizem respeito a título do programa Horizonte Europa permitirão de aconselhamento tendo em vista uma melhor ciais no domínio da investigação e da inovação, o pro-
à computação de alto desempenho, à inteligência artifi- à UE permanecer na vanguarda dos progressos avaliação da viabilidade comercial dos projetos de grama Europa Digital baseia-se nos resultados obtidos
cial, à cibersegurança e às competências digitais avan- científicos e tecnológicos no domínio da IA. A Co- transformação digital. Será prestado apoio à cria- para criar as infraestruturas necessárias, bem como
çadas, bem como às ações destinadas a garantir a sua missão propõe criar «bibliotecas europeias» co- ção de uma rede de polos de inovação digital, que apoiar a criação e o desenvolvimento de capacidades,
ampla utilização e acessibilidade em todos os setores da muns de algoritmos acessíveis a todos a fim de garantirá a maior cobertura geográfica possível na o que, por sua vez, contribuirá para futuras atividades
economia e da sociedade, tanto por parte das empresas ajudar o setor público e privado a identificarem Europa. Os polos de inovação digital são, hoje em de investigação no domínio da inteligência artificial,
como do setor público. e adquirirem as soluções mais adaptadas às suas dia, um dos elementos-chave da estratégia de digi- da robótica, da computação de alto desempenho e dos
necessidades. Será facultado o acesso, em toda a talização da indústria europeia. megadados.
A PROPOSTA DA COMISSÃO CENTRA-SE EM CINCO Europa, a plataformas abertas e a espaços de da-
DOMÍNIOS: dos industriais para a inteligência artificial, que
estarão disponíveis nos polos de inovação digi-
1 Supercomputadores: um montante de 2,7 mil mi- tal onde as pequenas empresas e os inovadores
lhões de euros servirá para financiar projetos des- locais poderão usufruir de instalações de ensaio
tinados a desenvolver e reforçar a supercomputa- e obter conhecimentos. 1
https://ec.europa.eu/commission/sites/beta-political/files/budget-may2018-
ção e o tratamento de dados na Europa, aspeto de 3 Cibersegurança e confiança: vão ser investidos 2 mil research-innovation_pt_0.pdf
2
«Harnessing disruptive technologies: Converting EU research into successful
importância fundamental para o desenvolvimento milhões de euros na proteção da economia digital, start-ups» organizada pelo Serviço de Pesquisa do Parlamento Europeu (EPRS)
de inúmeros domínios – dos cuidados de saúde da sociedade e das democracias da UE através da a 10 de julho de 2018.
3
CEDEFOP – Inovação e formação: parceiros na mudança, novembro 2015.
e das energias renováveis à segurança dos veí- promoção da ciberdefesa e da indústria da ciberse- 4
http://eskills-scale.eu/fileadmin/eskills_scale/all_final_deliverables/scale_
digitalisation_report.pdf
culos e à cibersegurança. Este financiamento ga- gurança da UE, do financiamento de equipamentos 5
O mesmo relatório salienta que a falta de conectividade em várias escolas em todos
os Estados-membros tem um impacto negativo na formação em competências
rantirá uma utilização mais eficaz e generalizada e infraestruturas de ponta no setor da cibersegu- digitais.
6
https://eur-lex.europa.eu/resource.html?uri=cellar:395443f6-fb6d-11eb8f5
da supercomputação, tanto a nível do setor públi- rança, bem como do apoio ao desenvolvimento das 01aa75ed71a1.0009.02/DOC_1&format=PDF
co como do setor privado, incluindo as pequenas competências e conhecimentos necessários. http://europa.eu/rapid/press-release_IP-18-102_pt.htm
7
8
https://ec.europa.eu/digital-single-market/en/news/code-week-2018-bringing-
e médias empresas. O programa Europa Digital 4 Competências digitais: serão investidos 700 mi- coding-schools-europe
9
http://europa.eu/rapid/press-release_IP-16-4081_pt.htm
terá por objetivo criar uma infraestrutura de cra- lhões de euros a fim de garantir que a mão-de- 10
Self-reflection on Effective Learning by Fostering the use of Innovative Educational
Technologies https://ec.europa.eu/education/schools-go-digital_pt
veira mundial em matéria de supercomputação -obra atual e futura tenha a oportunidade de adquirir 11
As propostas encontram-se em análise e discussão no Parlamento Europeu e no
Conselho.
e de tratamento de dados com uma capacidade facilmente competências digitais avançadas gra- 12
https://ec.europa.eu/portugal/news/eu-budget-2021-2027_pt
à exaescala (um trilião ou 10 18 cálculos por se- ças a ações de formação, a curto e longo prazo, e a http://europa.eu/rapid/press-release_IP-18-4043_pt.htm
13
14
http://europa.eu/rapid/press-release_IP-18-4041_pt.htm
gundo) até ao final de 2022/2023 e estruturas estágios em contexto laboral, independentemente FONTES
pós-exaescala até 2026/2027, de forma a que do Estado-membro de residência. No quadro do pro-
EU framework programme processes Adoption, implementation, evaluation
a UE possa dispor dos seus próprios recursos tec- grama Europa Digital, os polos de inovação digital https://www.ffg.at/sites/default/files/downloads/page/eprs_bri2018614663_en.pdf
Horizon Europe – the next research and innovation framework programme
nológicos independentes e competitivos, atingir levarão a cabo programas específicos para ajudar https://ec.europa.eu/info/designing-next-research-and-innovation-framework-
programme/what-shapes-next-framework-programme_en
um elevado nível de excelência no que se refe- as pequenas e médias empresas e as administra- 10 key messages for Horizon Europe from the League of European Research Universities (LERU)
re às suas aplicações e ampliar a disponibilidade ções públicas a dotarem o seu pessoal das compe- https://www.leru.org/files/Publications/10-key-LERU-messages-for-Horizon-Europe.pdf
European Union, 2017, Satellite broadband for schools: Feasibility study
e a utilização da supercomputação. tências avançadas necessárias para poderem ter EPRS conference: EU needs policy overhaul to spur disruptive innovation
https://epthinktank.eu/2018/07/18/eprs-conference-eu-needs-policy-overhaul-
2 Inteligência artificial (IA): está previsto um mon- acesso às novas oportunidades proporcionadas to-spur-disruptive-innovation/
Digitalization, jobs, and convergence in Europe: strategies for closing the skills gap
tante de 2,5 mil milhões de euros para promover pela supercomputação, a inteligência artificial e a http://eskills-scale.eu/fileadmin/eskills_scale/all_final_deliverables/scale_
digitalisation_report.pdf
a difusão da IA no conjunto da economia e da so- cibersegurança. Relatório especial do Tribunal de Contas Europeu 2018, A banda larga nos
ciedade europeias. Este orçamento tem por base 5 Garantir a utilização generalizada das tecnologias Estados-Membros da UE: apesar dos progressos, nem todos os objetivos da
Estratégia Europa 2020 serão alcançados
a iniciativa europeia em matéria de IA apresen- digitais em todos os setores da economia e da so- https://www.eca.europa.eu/Lists/ECADocuments/SR18_12/SR_BROADBAND_PT.pdf
How can the EIT strengthen EU innovation?
tada em 25 de abril de 2018: o objetivo consis- ciedade: serão investidos 1,3 mil milhões de euros https://epthinktank.eu/2018/07/02/how-can-the-eit-strengthen-eu-innovation/
Designing the successor to the Horizon 2020 research and innovation framework
te em estimular os investimentos a fim de tirar para garantir a transformação digital da administra- programme
http://www.europarl.europa.eu/RegData/etudes/IDAN/2018/620215/EPRS_
o máximo partido da IA, tendo simultaneamente ção pública e dos serviços públicos e a sua intero- IDA(2018)620215_EN.pdf
em conta as evoluções socioeconómicas por estas perabilidade à escala da UE, bem como para facilitar Overcoming innovation gaps in the EU-13 Member States
http://www.europarl.europa.eu/RegData/etudes/STUD/2018/614537/EPRS_
STU(2018)614537_EN.pdf
What should students learn in the 21st century?
https://oecdeducationtoday.blogspot.com/2012/05/what-should-students-learn-in-21st.
html

46 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 47


DOSSIER TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO

A
s competências digitais estão intrinsecamente ligadas à empregabilidade, a «digitalização» do merca-
do de trabalho exige novas capacidades. Uma população ativa mais capaz cria mais empregos novos,
assim como mercados e produtos inovadores, e desenvolve atividades económicas mais competitivas
e robustas. A falta de competências digitais por parte da população ativa torna-a vulnerável a um maior risco
de desemprego, pobreza e exclusão social.

LITERACIA DIGITAL E EMPREGABILIDADE


IDES 2018 - desempenho relativo por dimensão

mais elevada
A era digital está a expandir-se em todas as áreas das nos-

Pais com a
pontuação
sas vidas, e não é só quem trabalha em tecnologias da in-
formação que deve estar alerta para a transformação digital.
A falta de competências digitais é real. Perspetiva-se que,
no futuro, cerca de 90% dos postos de trabalho vão reque-
rer algum nível de literacia digital, sendo que na atualidade
cerca de 52% da população portuguesa não tem as com- DESI 1 2 3 4 5
petências digitais básicas necessárias para aceder eficaz- Conetividade Capital Utilização Integração Serviços

Pais com a
pontuação
mais baixa
Humano da das Públicos
mente à Internet (versus 44% na UE), 30% não tem quais- Internet Tecnologias Digitais
Digitais
quer competências digitais (versus 19% na UE) e 22% dos Portugal UE
adultos empregados não possuem competências digitais
(o dobro da média da UE). O CONTRIBUTO DO IEFP PARA O AUMENTO DAS
Assim, para garantir contextos de equidade e de coesão so- COMPETÊNCIAS EM TICE
cial que promovam um desenvolvimento equilibrado e sus-
tentável, é essencial sensibilizar a população portuguesa O IEFP, no âmbito da sua missão, tem apostado num re-
para a importância das competências digitais, nomeada- forço da oferta formativa na área das Tecnologias da In-
mente através da criação de centros de recursos e conteú- formação, Comunicação e Eletrónica (TICE), implemen-
dos, bem como de ações de formação na ótica do utilizador. tando um conjunto de medidas para colmatar as lacunas
verificadas na população ativa portuguesa em matéria de
QUALIFICAÇÃO DA POPULAÇÃO ATIVA PORTUGUESA. competências digitais, através da implementação de uma
QUE EXPECTATIVAS? rede alargada de academias e laboratórios orientados para
a formação em competências digitais nos centros de em-
Torna-se necessário proceder à qualificação da população prego e formação profissional do IEFP e nas instituições de
ativa portuguesa no sentido de a dotar de competências ensino superior, em particular nos institutos politécnicos,
adequadas às necessidades das empresas, em domínios com o objetivo de formar e capacitar os cidadãos com as
específicos das Tecnologias da Informação e Comunicação competências necessárias para o sucesso na economia
(TIC), incluindo em linguagens de programação, através da digital, em estreita colaboração com as empresas.

O PAPEL DO IEFP, I.P.


frequência de formação de nível intermédio certificada ou
da obtenção de certificações especializadas oferecidas pela OFERTA DE FORMAÇÃO
indústria.
Desenvolver projetos especiais de formação de requalifi- A rede de centros do IEFP dispõe de uma vasta oferta de

NA NOVA ERA DIGITAL


cação dirigidos a licenciados desempregados e a desem- formação destinada à qualificação de ativos, empregados
pregados de longa duração, dotando-os de competências e desempregados, adaptada à procura em áreas que res-
digitais e potenciando o ingresso ou retoma do exercício pondam às necessidades das empresas que atuam em
de atividade profissional, bem como promover processos diversos setores de atividade.
DEPARTAMENTO DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL de certificação reconhecidos internacionalmente ao nível O Plano de Formação de cada centro contempla oferta for-
DO IEFP, I.P.
das competências digitais da indústria. mativa em TICE destinadas a jovens e a adultos e adequa-
ENGIRISCO
Esta necessidade é reforçada pela análise do IDES – Índi- -se aos diversos níveis de qualificação e de modalidades
ce da Digitalidade da Economia e da Sociedade, publicado de formação.
anualmente pela União Europeia, e que, em 2018, apresen- Na área das ciências informáticas, pode realizar-se for-
ta a seguinte realidade: mação de operador/a de informática, programador/a de

48 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 49


DOSSIER TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO

informática, técnico/a de informática – instalação e ges-


tão de redes, técnico/a de informática –, sistemas, técni-
co/a especialista em aplicações informáticas de gestão,
literacia digital dos desempregados com habilitação su-
perior, cujas competências se revelam desajustadas face
às atuais exigências da economia e do mercado de tra-
OS SEGREDOS PARA
ESTAR NA VANGUARDA
técnico/a especialista em gestão de redes e sistemas balho, fomentando a utilização das TICE, tanto no âmbito
informáticos e técnico/a especialista em tecnologias e curricular, elevando as competências, como no mercado
programação de sistemas de informação. Na área dos de trabalho, estimulando o aumento dos respetivos ní-

DA INOVAÇÃO
audiovisuais e produção dos media, as de técnico/a de veis de empregabilidade.
multimédia e de técnico/a especialista em desenvolvi- A formação teórica desenvolvida neste âmbito é asse-
mento de produtos multimédia. gurada pelos respetivos institutos politécnicos, sendo
Durante o período de 2016 a outubro de 2018 foram acrescida da realização de formação prática em contex-
abrangidos cerca de 41 077 formandos na área de ciên- to de trabalho, assegurada por empresas parceiras de
cias informáticas e 6303 na área de audiovisuais e pro- cada região, com vista a potenciar a empregabilidade O CASO DA OUTSYSTEMS
dução dos media, num total de 47 380. dos formandos.
Existe também a possibilidade de proceder ao reconhe- Também ao nível da certificação profissional em áreas ALEXANDRA MONTEIRO, SENIOR DIRECTOR,
ALEXANDRA MONTEIRO
PEOPLE SUCCESS AT OUTSYSTEMS
cimento, validação e certificação das competências pro- relevantes para a indústria tecnológica, fortalecendo a
fissionais (processos RVCC profissional) adquiridas por respetiva empregabilidade e as condições para o regres-
NOTA EDITORIAL
via da experiência profissional, ou noutros contextos, so à vida ativa, surgiram as parcerias entre o IEFP e diver-
nas áreas referidas, obtendo-se, deste modo, uma certi- sas empresas de renome nacional e internacional. Estas O setor das TIC assenta na inovação tecnológica, na transformação e evolução constante das competências e, tam-
ficação profissional através da rede de Centros Qualifica parcerias, grosso modo, são desenvolvidas no âmbito de bém, em novas formas de trabalhar. Por estes motivos, podemos dizer que é um setor de charneira ao nível da intro-
academias de aprendizagem instaladas no IEFP e assen- dução de novos modelos de negócio associados a novas práticas de gestão.
tam em programas de formação direcionados para jovens Muitas destas novas dinâmicas empresariais são propostas e desenvolvidas em startup e, posteriormente, consoli-
e adultos. A obtenção destas certificações de vertente dadas e aperfeiçoadas em empresas de maior dimensão e com uma implementação sólida no mercado.
A rede de centros do IEFP profissional revela elevada empregabilidade pela garan- Com este artigo pretendemos visitar as práticas de gestão de caráter inovador de uma empresa emblemática deste
tia de acesso às soluções tecnológicas mais recentes, setor – a OutSystem – com o objetivo de descrever como esta empresa se posiciona para enfrentar os desafios e a
dispõe de uma vasta oferta ampliando assim as oportunidades de (re)inserção no competição num mercado que é muito concorrencial, quer a nível nacional, quer a nível global.
de formação destinada à mercado de trabalho de quem as conclui.
qualificação de ativos adaptada Para terminar uma questão se nos coloca enquanto en-

Q
tidade pública executora das políticas ativas de emprego uando a OutSystems nasceu, há dezassete anos, OUTPERFORM
às necessidades das empresas, e formação profissional: podemos dizer que estamos no tinha uma missão e propósito bem claros: sim-
nomeadamente em domínios caminho certo para nos adaptarmos à nova era digital? plificar e acelerar o desenvolvimento de software O OutPerform é um programa que orienta os colaborado-
específicos das Tecnologias O progresso tecnológico é algo que exige esforços na para poupar o esforço e tempo dos developers em tare- res da OutSystems na direção certa para garantir o nosso
resolução de um desafio que está a preocupar todos: fas repetitivas e, desta forma, libertando-os para se fo- sucesso e dos nossos clientes.
da Informação e Comunicação. a revolução nos processos das empresas. As empresas carem em software realmente impactante para o negó- Este novo modelo de gestão de desempenho pode ser
precisam de se atualizar, de mudar, dado que as empre- cio. Algo nunca antes visto. Desde então a nossa missão visto como uma viagem trimestral assente em três pi-
sas e/ou setores de atividade que não se adaptaram às mantém-se, adaptando-se e ultrapassando as barreiras lares fundamentais:
PARCERIAS ESTABELECIDAS novas tecnologias, ou seja, à transformação digital, estão tecnológicas dos tempos modernos, como o desenvolvi-
condenadas a sair do mercado, assim como os trabalha- mento mobile e a inteligência artificial. 1) Objetivos e Alinhamento
O IEFP tem promovido e participado em diversos proje- dores que não possuam as competências necessárias Mas muitos têm sido os desafios enfrentados ao longo No início de cada trimestre, a senior management team,
tos para a dinamização do emprego digital através da para trabalhar nestas «novas» empresas estão conde- dos anos. Enquanto empresa que se guia pela inovação incluindo o CEO e os vice-presidentes de cada um dos de-
realização de ações de formação nas áreas emergentes nados ao desemprego. e pela satisfação dos clientes, à medida que nos fomos partamentos da OutSystems, reúnem-se para definir os
das TIC, orientadas para desempregados de curta e longa Perspetivando-se que em 2020, a nível europeu, 900 mil aproximando dos cem, depois dos quinhentos e agora objetivos para os próximos três meses. De seguida, as
duração, de empregabilidade mais reduzida. ofertas de emprego na área das TIC fiquem por preencher, dos mil colaboradores em todo o mundo, tornou-se cada várias equipas dispersas pelos diversos departamentos
Ainda recentemente estabeleceu diversas parcerias 15 mil das quais em Portugal, e considerando que em Por- vez mais desafiante assegurar que estávamos todos definem as suas próprias metas alinhadas com a direção
denominadas Competências Digitais Mais, integradas tugal se encontram cerca de 350 mil pessoas inscritas a navegar na mesma direção. Foi aí que percebemos que da empresa. Essas são metas multifuncionais nas quais
no quadro da Iniciativa Nacional Competências Digitais nos serviços públicos à procura de emprego, é evidente precisávamos de mudar a maneira como operávamos pessoas de diferentes departamentos colaboram para o
e.2030 – Portugal INCoDe.2030, com o Conselho Coor- que há ainda muito a fazer. Contudo, e apesar de ser ne- para continuarmos como uma equipa global e distribuí- mesmo resultado.
denador dos Institutos Superiores Politécnicos e seis cessário continuar a trabalhar, para não deixar escapar da mas unificada. Para tal, adotamos a metodologia dos Objetivos e Resul-
institutos politécnicos, designadamente os de Bragan- oportunidades e sensibilizar todos, empresas e popu- Foi assim que criámos um novo modelo de gestão de tados-Chave (Objective and Key Results, OKR) utilizada
ça, Cávado e Ave, Castelo Branco, Leiria, Setúbal e Viseu. lação ativa, o IEFP está preparado para, etapa a etapa, desempenho para conseguirmos eliminar quaisquer obs- por várias empresas de sucesso como a Amazon, Google
Estes acordos visam promover o aumento dos níveis de enfrentar esse enorme desafio. táculos e superarmo-nos a nós próprios. e Netflix, por exemplo. Todos os OKR por departamento,

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DOSSIER TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO Os segredos para estar na vanguarda da inovação – O caso da Outsystems

LIVRO DA CULTURA DA OUTSYSTEMS: THE SMALL BOOK o modo como nós estamos a atuar, os nossos clientes
OF THE FEW BIG RULES ou até mesmo os nossos concorrentes.

Mesmo nos tempos mais difíceis (e houve muitos), REGRA #4: BE HELPFUL
a OutSystems sempre teve uma ótima cultura. Face ao «Essa não é a minha responsabilidade» é algo que não se
crescimento acelerado e elevado ritmo de contratação ouve com frequência na OutSystems. Todos sabemos que,
de pessoas em todo mundo, queríamos garantir que ao estarmos disponíveis para ajudar ou para oferecer orien-
a nossa cultura fosse preservada e enraizada nas novas tação, avançamos muito mais rapidamente. Deste modo,
contratações. conseguimos poupar horas extra de trabalho interminá-
Tendo como base essa premissa, criámos um pequeno veis e sentimo-nos parte de uma equipa realmente grande.
livro com as principais regras de comportamento que
praticamos na OutSystems e que a tornam uma empresa REGRA #5: 80/20
tão inovadora e um ótimo lugar para se trabalhar. A quinta regra baseia-se no Princípio de Pareto, segundo
o qual 80% dos efeitos provêm de 20% das causas. Isso
REGRA #1: ASK WHY é imensamente poderoso quando aplicado à priorização
A primeira regra é, provavelmente, também a mais im- de cargas de trabalho especialmente quando se resolvem
portante. A OutSystems nasceu em 2001 com um grande problemas muito grandes. Na OutSystems dividimos os
problema para resolver, uma folha de papel em branco problemas em pequenas partes, classificamos, estabe-
No final de cada trimestre, os managers e as respetivas e nenhum produto semelhante para copiar. Por isso, des- lecemos uma linha do tempo e executamos a solução.
equipas celebram as conquistas alcançadas ao longo de o início fomos forçados a entender o porquê antes de Implacavelmente. Projeto após projeto.
dos últimos três meses e preparam-se para o trimestre começar qualquer tarefa. Procuramos entender porque
por equipa e até mesmo de cada pessoa, estão disponí- seguinte. estamos a fazer o que está a ser feito e questionamos REGRA #6: COMMUNICATE TO BE UNDERSTOOD
veis para consulta numa plataforma on-line. Este nível Apesar de distintos, estes três pilares estão intrinseca- se esse é o caminho certo. É assim que continuamos É comum a utilização jargões quando a conversa ocorre
de transparência permite a qualquer pessoa da empresa mente ligados; um não funciona sem os outros dois. A de- a pensar diferente e à frente dos outros. Na OutSystems, entre especialistas de determinadas matérias. Mas cada
pesquisar e entender o «porquê» de qualquer projeto finição de objetivos no início de cada trimestre garante os melhores managers não são determinados pelo cargo pessoa tem um background diferente. Foi assim que criá-
(ver a caixa complementar, regra #1) que esteja a ser o alinhamento interdepartamental, a transparência e a co- mas por estarem preparados para responder a pergun- mos a sexta regra da nossa cultura. Colocamo-nos no lugar
desenvolvido por uma equipa ou colaborador. laboração de que precisamos para assegurar o sucesso tas como «porquê», a esclarecer questões e a estimular dos outros e ajustamos a nossa comunicação para poder-
Assim, conseguimos garantir que estamos todos alinhados e dos nossos clientes. Por outro lado, a comunicação aberta a autonomia com um propósito. mos ser compreendidos por todos.
que quebramos os tradicionais silos departamentais. Além com o manager baseada em feedback frequente e momen-
disso, ter acesso aos objetivos dos colegas também esti- tos de comemoração é a cola que liga tudo isto e garante REGRA #2: THE SMALL CRISIS REGRA #7: EXCEL
mula a colaboração, na medida em que se torna mais fácil que esses objetivos são cumpridos. Embora pequenas, ao longo dos anos tivemos de en- Por último, mas certamente não menos importante, o que
para os colegas entenderem o que outros estão a fazer e frentar algumas crises. Prazos, clientes exigentes, fal- fazemos, fazemo-lo da melhor forma. É preferível focarmo-
gerar conversas e planos produtivos em torno dos projetos. O IMPACTO DO OUTPERFORM ta de validação do mercado, por exemplo, e com isso -nos em menos coisas mas com resultados de qualidade,
aprendemos rapidamente que uma pequena crise é em vez de fazermos várias coisas mas tudo pela metade.
2) Feedback Num mercado tão competitivo e complexo como o das tec- sempre mais fácil de consertar do que uma grande.
Ao longo do trimestre, os managers são incentivados a nologias da informação, o OutPerform ajuda-nos a sermos Sempre que encontramos algo que não está certo, ma-
realizarem reuniões individuais com os membros da sua ágeis e rápidos. A cada trimestre redefinimos os nossos ob- nifestamo-nos – perguntamos o porquê – mesmo que
equipa para reconhecerem o que está a correr bem e identi- jetivos como uma empresa suportada por todas as equipas isso «não seja a minha responsabilidade». Deste modo,
ficarem o que podia ser melhorado para atingir os objetivos e colaboradores, independentemente do departamento ou corrigimos um pequeno problema antes que este se
definidos até ao final do trimestre. nível de senioridade. torne um grande problema.
Este pilar assume a importância da comunicação para ga- O OutPerform foi adotado no início deste ano e claro que
rantir que todos os colaboradores estão no caminho certo ainda existe espaço para o aperfeiçoar. Mas para já, todas REGRA #3: CHALLENGE THE STATUS QUO
ou se há espaço para melhoria. Assim, na altura da avalia- as pessoas que fazem parte da OutSystems sabem como «Falha rápido e barato» é algo que se ouve muito na Out-
ção final o colaborador tem uma ideia clara e realista do podem chegar ao sucesso em cada trimestre. Todas elas Systems, e dizemos isso desde os primeiros dias. Pelo
seu percurso ao longo de todo o ano. têm a liberdade e o apoio para tomarem as suas próprias contrário, não é comum ouvir «esta é a maneira como sem-
decisões, cometerem erros e aprenderem com os mesmos. pre se fizeram as coisas». Procuramos sempre encontrar
3) Reconhecimento Esta combinação estimula um ambiente de criatividade e soluções inovadoras, mesmo que isso signifique falhar
Há tantas coisas boas a serem feitas ao longo do trimestre inovação que nos permite sermos líderes no mercado de algumas vezes. «Desafiar o status quo» é mesmo isso;
que, por vezes, esquecemo-nos de parar um bocado e cele- low-code, oferecendo velocidade e valor aos nossos clien- é criar soluções inovadoras nunca vistas, analisando
brar o que foi feito. Por isso adicionámos este último pilar. tes todos os dias. situações de uma perspetiva diferente e questionando link para donwload do livro: https://www.outsystems.com/the-small-book/ 

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GESTÃO RH TEMAS DE GESTÃO

COACHING O CHEFE DANDO LUGAR AO COACH

O formador, executivo de uma multinacional alemã, in-


Infelizmente, é frequente assumir-se que os processos
de formação e desenvolvimento passam, sobretudo, pela
formação em sala. Ignora-se que, no quotidiano organi-

PARA EXECUTIVOS:
dagou os formandos, todos gestores a operar em Por- zacional, existem inúmeras oportunidades de partilha
tugal, sobre qual a função principal que lhes cabia. As de conhecimento e experiências que, se bem aproveita-
respostas foram diversas mas muitas alinharam com a das, estimulam o crescimento de todos os envolvidos.
ideia da moda: «A nossa função é criar valor.» No final Os líderes são, porventura, a entidade mais relevante
MODA, DESAFIO OU DEVER? da ronda, o formador foi perentório: «A vossa principal nesses processos de partilha quotidiana. Por um lado,
função é desenvolver os membros da vossa equipa.» podem criar condições para que os liderados assumam
ARMÉNIO REGO, LEAD.LAB, CATÓLICA PORTO BUSINESS SCHOOL; TOMÁS MOTA REGO, FITNESS/ STRENGTH A tese pode parecer estranha a alguns e bizantina a ou- a sua ignorância e peçam ajuda, partilhem informação
AND CONDITIONING COACH; E MIGUEL PINA E CUNHA, NOVA SCHOOL OF BUSINESS AND ECONOMICS
tros. Mas representa uma valiosa filosofia de liderança: e conhecimentos e assumam os seus desaires. Por ou-
ENGIRISCO o líder como coach, mais do que como chefe. tro lado, os líderes podem ser atores diretos de forma-
Os mais críticos poderão considerar que estamos, tão-só, ção e desenvolvimento dos seus liderados – pelo modo
perante mais uma moda. Naturalmente, alguns colocam como atuam e falam, pelo exemplo que veiculam, pela
a palavra coaching na boca e nos escritos por meras ra- disponibilidade para desafiar e apoiar os liderados e pela
zões de moda. Quando tal acontece, os efeitos não po- capacidade de partilhar experiências e conhecimentos.
dem ser os melhores. Mas daí não pode concluir-se que Em suma: os líderes podem atuar como coaches desen-
o coaching é simplesmente moda. O coaching é incum- volvimentistas dos liderados. A capacidade de fazer coa-
bência dos líderes. Esse é o primeiro aspeto aqui abor- ching é de tal modo relevante que a Google a identificou
dado. Quando mudanças constantes e céleres requerem como competência essencial dos líderes mais eficazes2.
respostas organizacionais ágeis, deixa de fazer sentido O paradigma subjacente é o de que o chefe deve trans-
o modelo tradicional que encara o chefe como ser pen- formar-se em coach.
sante e o subordinado como entidade meramente obe- Ao atuar como coach, um líder não desenvolve apenas
diente. Esta mudança requer que o líder trate as pessoas os liderados. Também contribui para edificar uma cultura
como adultas e lhes promova a aprendizagem contínua em que é desejável que todos partilhem conhecimentos,
e o desenvolvimento1. O segundo aspeto aqui abordado ideias e experiências, dando origem a uma organização
UMA BOA CHEFE é o seguinte: para que o líder atue como coach dos lide- que opera como rede de coaches3. Quando a liderança
rados há vantagens em que se autoconheça para que se de topo desempenha o papel de coach, é mais provável

R
ita sacrificava a vida pessoal e familiar em prol da autodesenvolva. Esse processo de autoconhecimento que os restantes líderes sejam contagiados e se desen-
empresa que fundou com o marido. Raramente em prol do desenvolvimento pode beneficiar da ajuda de volva uma cultura organizacional de coaching contínuo.
fruía de um fim de semana tranquilo com a famí- um coach profissional e do recurso a uma avaliação 360º.
lia. Férias há muito não tinha. Invariavelmente, prepa- Com estas duas ideias em mente, seguidamente dare-
rava a sua agenda diária. Mas era incapaz de cumpri-la: mos conta da importância dos líderes como agentes de
respeitada pelos colaboradores, era por eles abordada desenvolvimento dos liderados e construtores de cultu-
sistematicamente para resolver grandes e pequenas ras de coaching. Explanamos, depois, o perfil comporta-
questões. Numa sexta-feira, no dia anterior ao aniver- mental desejável do líder-coach. Discutimos, então, três
sário, um colaborador ofereceu-se para a substituir no grandes desafios que o líder-coach enfrenta. Encerramos
escritório durante o sábado de modo a que ela pudesse o artigo com alguns comentários de síntese.
despender o dia com a família. Rita agradeceu – mas,
com sentimentos de culpa, passou o sábado na empresa. UM PROCESSO CONTÍNUO E MULTIDIRECIONAL
Rita estava numa encruzilhada: dormia pouco, sentia
amargura perante os «protestos» dos filhos e queria A formação e o desenvolvimento contínuos dos membros
delegar mas sentia que os liderados não estavam pre- organizacionais são cruciais para o respetivo bem-estar
parados para assumirem tarefas importantes. Os lidera- e desempenho.
dos sentiam que ela se dedicava «de alma e coração» Ademais, trabalhadores que se desenvolvem a tempo
à empresa. Receavam tomar iniciativas porque ela era inteiro são membros organizacionais mais realizados
muito focada em pormenores e a evitar o erro. Preferiam, e eficazes, ficam mais capacitados para promoverem
e Rita também, que fosse ela a «fazer as coisas» mais a prosperidade das suas famílias e contribuem para
importantes e a resolver os problemas. Consideravam- o desenvolvimento das comunidades e da economia
-na uma boa chefe. como um todo.

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GESTÃO RH TEMAS DE GESTÃO Coaching para executivos: moda, desafio ou dever?

COMO ATUA O LÍDER-COACH


TABELA 1. REFLEXÕES PARA A AÇÃO
Quando atua como coach, o líder leva a cabo ações que – O LÍDER COMO COACH
se vão entranhando no seu estilo. Trata os liderados
como adultos. Faculta-lhes feedback regularmente. • Desafie a apoie – para que o/a liderado/a possa fazer
Respeita-os, escuta-os e envolve-os no processo de uso do seu (dele) potencial.
tomada de decisão. É exigente com eles mas também • Encoraje o/a liderado/a a pensar «fora da caixa» e a
apoiante em momentos críticos, sem ser intrusivo. olhar para a realidade a partir de diferentes perspetivas.
Ajuda-os a identificarem as respetivas forças e per- • Proporcione feedback (positivo ou negativo) regular
mite-lhes fazerem uso das mesmas onde são mais ao/à liderado/a, de modo assertivo, respeitador e
necessárias. Tal como um chef de cozinha, potencia apoiante.
os «ingredientes» combinando-os de modo apropriado • Tome a avaliação de desempenho mais como uma
e criativo. Partilha informação, conhecimentos e ferramenta de promoção do desempenho do que como
ideias. Ajuda e, quando não sabe ajudar, encaminha avaliação.
os liderados para quem está mais capacitado para o fa- • Proporcione recursos, conhecimentos e informação
zer. Cria condições para que a confiança se desenvol- que permitam ao/à liderado/a aprender, desenvolver-
va e os liderados se sintam confortáveis a mostrarem -se e tomar melhores decisões com autonomia.
hesitações e dúvidas. Não alimenta a dependência – • Remova os obstáculos ao progresso do/a liderado/a.
antes cria condições para que liderado desenvolva a • Ajude o/a liderado/a a definir objetivos ambiciosos,
capacidade de trabalhar com autonomia. realistas e com significado.
O líder como coach reconhece, respeita e valoriza as • Seja empático/a e coloque-se na «pele» do/a
particularidades de cada liderado. Procura modos liderado/a.
de potenciar o uso dessas capacidades. Usa o erro • Não pretenda criar um clone de si próprio/a. O/A lide
(honesto), a falha e o fracasso como oportunidade rado/a é um ser humano único.
para a aprendizagem. Ajuda o liderado a responder • Apoie o/a liderado mas não lhe crie dependência. Ajude-
a questões – em vez de ser ele próprio, como chefe, -o/a a encontrar respostas – não lhas dê.
a fornecer as respostas. Não encara uma questão ou • Coloque questões – e permita que o/a liderado/a lhas
um pedido de ajuda da parte do liderado como sinal coloque também. Escute. TRÊS DESAFIOS pode recear que a partilha (de forças, mas também de
de fraqueza, ignorância ou incompetência – mas como • Se quer estimular a curiosidade e o desejo de aprendi- fragilidades, dúvidas e hesitações) durante o processo
oportunidade de crescimento mútuo. Nesta «parce- zagem no/a liderado/a, dê o exemplo: seja curioso/a e Pelo exposto compreende-se que a liderança como de coaching o deixe fragilizado no processo de avalia-
ria», o líder ajuda o liderado a celebrar as pequenas desejoso/a de aprender. coaching é um empreendimento exigente, reforçado ção. A gestão deste equilíbrio pode ser uma tarefa ár-
e as grandes vitórias. Contribui para aumentar a au- • Prime, acima de tudo, pela relação de confiança. por três desafios. Primeiro: o coaching requer intera- dua. Mas pode, porventura, ser facilitada pela criação de
toconfiança do liderado. Esta autoconfiança (não se • Tome o seu papel de coach como via para o empodera- ções mais frequentes, entre líder e liderados, do que as uma cultura em que a gestão do desempenho se foca
confunda com hiperautoconfiança) é um nutriente mento do/a liderado/a. que normalmente ocorrem em estruturas hierárquicas mais no desempenho futuro do que na avaliação do
essencial do desempenho. Capacita o liderado para • Melhore continuamente a sua ação como coach. Socor- tradicionais. Essas interações consomem tempo, pelo passado. Num mundo em mudança, esta transição de
tomar decisões autónomas. ra-se, se necessário, de um/a coach (veja Tabela 2). que o líder pode ser tentado a descurar a atividade de uma cultura de avaliação para uma de desenvolvimen-
coaching. Daqui decorre uma espiral viciosa: (a) o líder to vem sendo implementada por um número cada vez
não escuta, não delega e não envolve porque sente que maior de empresas desejosas de criar culturas ágeis4.
o liderado não é capaz; (b) ao não delegar nem envolver, Estas organizações não pretendem «matar» a avalia-
desperdiça oportunidades de desenvolver o liderado – ção de desempenho – pois, para crescerem, as pes-
e assim continua a alimentar o receio de que o liderado soas precisam de saber como estão a desempenhar
não seja capaz. O ciclo quebra-se se o líder despender o seu papel. Antes a usam como ferramenta de apoio
tempo e energias a desenvolver e capacitar o liderado. e desenvolvimento, em vez de arma de arremesso na
Deste modo, fica mais liberto para delegar e focar-se arena competitiva em que a organização se transforma.
em atividades mais estratégicas. Assim se inicia uma O terceiro desafio é o do próprio desenvolvimento do
espiral virtuosa. líder como coach. Para atuar como coach e desenvol-
O segundo desafio é igualmente complexo. Ao atuar ver-se para o exercício eficaz desse papel o líder pode
como coach, o líder cria condições para que o liderado beneficiar do recurso ao coaching – não apenas o inter-
se exponha e seja transparente nas interações. Todavia, no (provindo de outrem na organização) mas também
porque o líder também é «chefe» avaliador, o liderado o externo, levado a cabo por um profissional competente.

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GESTÃO RH TEMAS DE GESTÃO Coaching para executivos: moda, desafio ou dever?

O COACHING DO LÍDER-COACH Uma avaliação 360º permite basear o processo de coa- tendo em vista o desenvolvimento permanente de am- pois, que escute, estimule a expressão de perspetivas
ching em algo mais substantivo do que um diagnóstico bos os participantes no processo. É um processo sobre- críticas e convide os liderados a substituírem o «respei-
A grande vantagem do coaching do líder-coach radica no «opinativo» resultante de conversas mais ou menos in- tudo conversacional, que vai muito além da transmissão tinho» pelo «desrespeito saudável».
autoconhecimento. O líder que pretende atuar como coach formais. Um líder que está em processo de coaching pode unidirecional de informação e conhecimento do coach
dos seus liderados deve conhecer-se nas suas forças fazer finca-pé em que não se revê na imagem que os ob- para o coachee. Não é aconselhamento (embora possa 1
Ellinger et al. (2003); Rego e Cunha (2018).
e fraquezas, desejos e receios, derrotas e vitórias, po- servadores dele traçam. Mas não pode recusar que eles incorporar conselhos) nem psicoterapia (embora pos- 2
Garvin (2013).
3
Bossert et al. (2018); Kaplan (2011).
tencialidades e fragilidades. Caso contrário, como po- lhe tracem essa imagem. É incumbência do coach suscitar sa ajudar na resolução de problemas e dificuldades). 4
Cappelli e Tavis (2016, 2018).
5
Kets de Vries (2012, p. 180).
derá ser credível e respeitado dos seus liderados? Um sentimentos de segurança psicológica no líder para que É, antes, apoio ao autoconhecimento e ao desenvolvi- 6
Kets de Vries (2012).
7
Lyle e Cushion (2010).
processo de coaching desta natureza pode começar este encare o retrato como oportunidade de desenvolvi- mento. Neste plano não difere do coaching desportivo7. 8
Bartholomew (2017).
com um exercício de avaliação 360º. Não é por acaso mento e não como ameaça. O coach não julga o líder. Há naturalmente diferenças, mas o coaching para exe- Jowett e Poczwardowski (2007).
9
10
Gumbel e Reich (2018).
que as Business Schools mais prestigiadas do mun- A nossa experiência sugere que um processo de cutivos pode beneficiar do conhecimento existente sobre 11
Kaplan (2011).

do ministram programas de desenvolvimento de lide- coaching, quando está genuinamente orientado para o coaching desportivo. Em ambos os domínios, importa
rança assentes em ferramentas de avaliação 360º. o desenvolvimento do líder e é levado a cabo num clima substituir (ou, pelo menos, complementar) a tendência REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Kets de Vries, consultor, coach e prestigiado académi- de confiança, pode ser uma viagem frutuosa ao teatro in- «informar, ordenar e exigir» pelo lema «perguntar, escutar BARTHOLOMEW, B., Conscious coaching: The art & science of building buy-in,
Bartholomew Strength, 2017. 
co da INSEAD Business School, foi bastante enfático5: terior do líder-coach6. Pode representar um ponto de par- e observar cuidadosamente8». Convém desenvolver BOSSERT, O., KRETZBERG, A. e LAARTZ, J., «Unleashing the power of small,
independent teams», McKinsey Quarterly, julho de 2018 (https://www.mckinsey.
tida para melhorias significativas no bem-estar do líder, a autoconsciência dos coachees (mediante processos com/business-functions/organization/our-insights/unleashing-the-power-of-small-
independent-teams).
«A autoconsciência é um dos fatores mais importantes no seu desempenho como líder e no seu impacto junto de autorreflexão, introspeção e consciencialização), em CAPPELLI, P. e TAVIS, A., «HR goes agile», Harvard Business Review, março-abril de
no estabelecimento da autoestima e da confiança. A au- da equipa e de outras pessoas que com ele interagem. especial dos que subestimam e dos que sobrestimam as 2018, pp. 46-53.
CAPPELLI, P. e TAVIS, A., «The performance management revolution», Harvard
toconsciência ajuda-nos a compreender o que nos orienta, suas qualidades e realizações. Requer-se uma relação Business Review, outubro de 2016, pp. 58-67.
ELLINGER, A. D., ELLINGER, A. E. e KELLER, S. B., «Supervisory coaching behavior,
o que nos desliga, o que nos faz felizes e o que nos apai- assente na estabilidade, na lealdade e na confiança9. employee satisfaction, and warehouse employee performance: A dyadic perspective
in the distribution industry», Human Resource Development Quarterly, 2003, 14(4),
xona. Ajuda-nos a clarificar o que precisamos de melhorar TABELA 2. REFLEXÕES PARA A AÇÃO Uma nota final: o foco que aqui concedemos ao coaching pp. 435-458.
GARVIN, D. A., «How Google sold its engineers on management», Harvard Business
(...). Infelizmente, o caminho para a autoconsciência nem – O LÍDER COMO CLIENTE DO COACH dos líderes e ao coaching exercido pelos líderes não Review, dezembro de 2013, pp. 74-82.
sempre é fácil. Tal como Tolstoi escreveu: “Toda a gente pretende subestimar o coaching exercido pelos pares GUMBEL, P. e REICH, A., «Building the workforce of tomorrow, today», McKinsey
• Comece um processo de coaching com uma avaliação Quarterly, novembro de 2018 (https://www.mckinsey.com/business-functions/
quer mudar o mundo, mas ninguém pensa em mudar-se a (a multinacional alemã SAP tem-no adotado para fomen- organization/our-insights/building-the-workforce-of-tomorrow-today).
360º – ou, pelo menos, com informação fiável sobre o JOWETT, S. e POCZWARDOWSKI, A., «Understanding the Coach-Athlete Relationship»,
si próprio.” Frequentemente, processos defensivos emer- tar o desenvolvimento de competências ajustadas às in S. Jowette e D. Lavallee (Eds.), Social Psychology in Sport, Champaign, IL, Human
seu impacto nos seus interlocutores. Kinetics, 2007, pp. 3-14.
gem quando enveredamos por jornadas interiores. (...) mudanças tecnológicas) ou mesmo pelos subordinados. KAPLAN, R. S., «Top executives need feedback – here’s how they can get it»,
• Procure um coach confiável (um coach não confiável McKinsey Quarterly, setembro de 2011 (https://whispersandshouts.typepad.com/
Um método ideal para entrar devidamente neste processo Este último é especialmente desafiante. À medida que files/the-need-of-execs-for-feedback.pdf).
não é coach), genuinamente orientado para ajudá-lo/a. KETS DE VRIES, M., «Star performers: Paradoxes wrapped up in enigmas»,
é o uso de ferramentas 360º. (...) Pode ser extraordinaria- um líder progride na carreira vai recebendo menos feed-
• Seja assertivo/a, coloque questões, não tenha receio Organizational Dynamics, 2012, 41, pp. 173-182.
mente benéfico incluir feedback da vida privada do exe- back dos seus liderados, criando uma espécie de bolha LYLE, J. e CUSHION, C., Sports coaching e-book: Professionalisation and practice,
de mostrar dúvidas e fragilidades. Elsevier Health Sciences, 2010. 
cutivo (amigos, familiares – e mesmo crianças crescidas). que o «protege» do contacto com a realidade. Importa, REGO, A. e CUNHA, M. P., Que líder sou eu? (2.ª ed.), Lisboa, Sílabo, 2018.
• Se os resultados emergentes da avaliação 360º lhe
O feedback deste grupo é particularmente poderoso.»
criarem desconforto, não recuse a realidade.
• Seja humilde: aprenda a reconhecer as suas fraquezas
As ferramentas 360º são instrumentos de autoconheci-
e forças, esteja disposto/a a reconhecer as qualidades
mento assentes em informação provinda de várias fontes:
dos outros e a aprender.
o líder compara a sua autoimagem com a imagem formada
• Seja determinado/a e alimente essa determinação com
pelos seus superiores, pares, subordinados e outras en-
humildade.
tidades como a família, amigos e, até, clientes. A compa-
• Não crie dependência do coach.
ração dos dois retratos, mas sobretudo o retrato traçado
pelos outros, confronta o líder com algo que pode ser mais
ou menos agradável. Por vezes, é desconfortável. A dife-
rença entre a (boa) autoimagem e a (menos boa) imagem COMENTÁRIOS FINAIS
traçada pelos outros pode ferir a autoestima e suscitar
mecanismos de defesa. Mas, pelo menos, permite ao lí- O coaching, quer seja o levado a cabo pelo líder ou exe-
der saber como os outros o encaram. Se este exercício for cutado pelo coach profissional para desenvolvimento
enquadrado por um processo de coaching apropriado, o do líder-coach, é um processo centrado no coachee, nas
líder fica mais predisposto para «cair em si» e identificar suas especificidades, necessidades e aspirações. Requer
vias de desenvolvimento. Quando a imagem criada pelos que o coachee seja encarado como ser humano único do-
outros é favorável, o líder fica mais capacitado para com- tado de especificidades psicológicas, emocionais, espiri-
preender quais são as suas maiores forças – e potenciá- tuais, relacionais, familiares e profissionais. Recomenda
-las em contextos apropriados. probidade moral e confiança. Exige ações deliberadas

58 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 59


GESTÃO RH TEMAS DE GESTÃO

PORQUÊ UM NOVO POSICIONAMENTO PARA A GESTÃO DE RH? Em suma, são sobretudo gerações diversas, onde o grande
fator comum é a conectividade, estarem permanentemente
«Human centricity», «Agile Organizations», «Digital Trans- conectados. São os digital natives, que hoje representam já
formation», «Costumer Experience» e «Employee Jour- mais de 30% do mercado de trabalho.
ney» são expressões que fazem parte do nosso vocabulário, Esta nova realidade traz desafios muito profundos ao nível
ainda que muitas vezes ainda num domínio aspiracional. da gestão de recursos humanos (RH). A nível estratégico,
A transformação digital que as empresas estão a empreen- os RH são sobretudo um desafio ligado à criação de ambien-
der tem-se centrado em tornar mais ágil e fácil a experiência tes de mudança que é hoje permanente: redifinir as cultu-
dos clientes na relação com as mesmas. Hoje os clientes ras das empresas, promover a alteração de mentalidades,
querem ter acesso anytime e anywhere aos produtos/ser- recentrar toda a organização na conectividade com clien-
viços que pretendem adquirir, gastando pouco tempo nos tes e colaboradores, na criação de ambientes que facilitem
processos de transação e tendo uma experiência fácil e po- a inovação e a colaboração. Também a nível dos processos,
sitiva no momento da compra. ser um agente ativo da transformação significa que, desde
Esta nova atitude dos consumidores, potenciada pelos avan- o recrutamento ao acolhimento e integração, ao desenvolvi-
ços tecnológicos surpreendentes dos últimos anos em ter- mento ou ao reconhecimento, a gestão de RH tem de mudar
mos de conectividade, está a obrigar as empresas a assu- no sentido de corresponder às exigências dos «talentos di-
mirem a necessidade de inovar e de avançar com processos gitais», oferecendo processos mais transparentes, de mais
de transformação que são vitais para a sua sobrevivência. fácil acesso e apreensão.
O mesmo tem acontecido ao nível da gestão dos colaborado- E, tal como acontece na relação mais moderna com os clien-
res das empresas. Não nos podemos esquecer que as em- tes, também a gestão de RH tem de dar um passo em frente
presas espelham a realidade do mercado, logo os colabora- e acrescentar a individualização à segmentação. Não basta
dores que estão nas organizações assumem nas empresas trabalhar os diferentes segmentos do nosso universo de
os comportamentos que têm enquanto clientes: querem ter colaboradores (diretivos, jovens de elevado talento, esta-
uma experiência positiva na sua empresa, querem ter pro- giários, etc.), é necessário conhecer cada colaborador em
cessos ágeis, fáceis, rápidos, o que se consegue com recurso profundidade, saber o que pode aportar à organização, o que
às tecnologias e tornando esta relação também mais digital. aspira fazer, o que o motiva, o que mais valoriza em termos
Esta realidade é potenciada se pensarmos na relação das de reconhecimento, etc. Depois, ter capacidade para criar os
gerações mais recentes (Y e Z), mais qualificadas, logo mais instrumentos, políticas e iniciativas que garantam que cada
exigentes, com as empresas com que colaboram. São pro- colaborador tem a melhor experiência naquela empresa.
fissionais que estão sempre conectados, abertos à diver- Da minha experiência atual a acompanhar diversas empre-
sidade, que procuram ambientes mais informais para tra- sas e áreas de RH tenho uma profunda convicção que as
balhar, flexibilidade na gestão do tempo, que irão oscilar a áreas de RH que estão mais próximas dos colaboradores,
sua carreira entre períodos por conta de outrem e períodos que se posicionam no conhecimento de cada indivíduo que

O DIGITAL NA GESTÃO DOS


de iniciativas de empreendedorismo. Querem participar em compõe o universo da empresa, são as que entenderam
projetos com significado e um propósito e gostam de ter o seu verdadeiro papel. A segunda convicção que tenho é
feedback muito regular relativamente ao seu deliverable. que sem tornar a gestão de RH mais digital não será possível

RECURSOS HUMANOS:
Estas gerações, sobretudo a geração Y (conhecida por ge- que cumpra o seu maior objetivo. À semelhança dos CRM,
ração millennial), são também referidas por serem jovens a gestão de RH tem de desenvolver um ERM, com data que
que preferem viver experiência a acumular bens, quase lhe permita, com rapidez e fiabilidade, fazer a gestão numa
compulsivos no desejo de viajar e conhecer outras realida- base individualizada.

MAIS QUE UMA NECESSIDADE, des, com preocupações relacionadas com a preservação do
planeta e a saúde e que, no que toca à sua relação com as EM SÍNTESE...
empresas, fixam-se menos às organizações (sempre com

UMA INEVITABILIDADE one foot on the door) e valorizam a realização do trabalho


com autonomia. Mais qualificados que as gerações anterio-
res, querem líderes que os orientem e inspirem em vez de
Ser uma empresa centrada no cliente implica ser, igualmen-
te, uma empresa centrada no colaborador. É nesta dualida-
de que as organizações aprendem o verdadeiro significado
ISABEL VIEGAS, DOCENTE NA UNIVERSIDADE CATÓLICA. serem geridos à tarefa. do que é criar experiências positivas.
CONSULTORA E ADVISOR EM ESTRATÉGIA DE RH Temos, contudo, que ter em atenção que sempre que cata- E se as novas gerações nos estão a «empurrar» para esta
logamos gerações estamos a excluir muitos jovens dessas tomada de consciência, as gerações anteriores não quise-
ENGIRISCO
idades que não se identificam com estas características. ram sempre o mesmo?

60 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 61


GESTÃO RH TEMAS DE GESTÃO O digital na gestão dos recursos humanos: mais que uma necessidade, uma inevitabilidade

OS 10 MAIORES DESAFIOS PARA A GESTÃO DE RH 6 Disseminar competências digitais por toda a orga-
nização
1 Digitalizar!
É uma forma de aproximar diferentes gerações que
Investir em ter os processos administrativos o mais coexistem nas organizações, ao mesmo tempo que
informatizados possível, conduzir muitas tarefas favorece o desenvolvimento individual e o acesso à in-
para aplicações digitais, permitirá às equipas foca- formação hoje residente em múltiplos meios digitais.
rem-se em trabalhos mais interessantes, mais exi-
gentes do ponto de vista intelectual, e tudo isto atrai 7 Introduzir novas formas de trabalhar
bons profissionais!
Perceber o que o negócio permite em termos de
2 Ser um «provocador» da mudança a todos os níveis teletrabalho e flexibilidade de horários, já que são
das organizações dois dos mais solicitados requisitos das novas gera-
ções ou em determinadas fases da vida de qualquer
Estar muito próximo do negócio, de todas as áreas colaborador. Estas novas formas de trabalhar po-
do negócio e ajudá-las a questionarem-se e a inovar. dem exigir alterações significativas nos processos
que as empresas têm institucionalizados e onde
3 Criar ambientes de trabalho colaborativos a tecnologia e a digitalização podem dar uma ex-
celente ajuda.
Desenvolver nas organizações espaços e mentali-
dades onde a colaboração seja valorizada e facilita- 8 Formar líderes «completos»
da. Facilitar plataformas digitais para a dissemina-
ção do conhecimento residente e que assim pode Desenvolver os líderes para serem capazes de atuar
ser utilizado por todos. E incentivar metodologias de enquanto «gestores» (alinhando e assegurando as
projetos interáreas mais do que o trabalho em silos, condições para que as suas equipas atinjam resulta-
que muitas vezes as estruturas rígidas provocam. dos), enquanto líderes (identificando talentos, desen-
volvendo as suas equipas, motivando, reconhecendo)
4 Criar empresas abertas à diversidade e à inclusão e enquanto coaches (dando e recebendo feedback re-
gularmente e apoiando cada elemento da sua equipa
Não basta termos empresas que dizem respeitar a na sua journey na empresa).
diferença. É preciso desenvolvermos empresas e líde-
res que percebem as vantagens de ter equipas diver- 9 Produzir data
sas e que aprendam a tirar partido dessa diversidade.
É a diversidade que traz inovação! Produzir data que permita aos RH lerem a realidade
da empresa em cada momento, nas suas múltiplas
5 Quando recruta... facetas. Sem informação dificilmente se tomam as
decisões mais acertadas ou se melhoram realida-
a) Recrutar fora das habituais zonas de expertise: tra- des. A informação deve ser para os RH um dos ali-
zer para as empresas profissionais com competên- mentos essenciais para poder acrescentar valor real
cias e experiências diferentes das comuns alarga as às organizações.
possibilidades de se pensar de forma distinta e assim
termos mais valor acrescentado para o negócio e para 10 Não perder o face-to-face!
os clientes.
Apesar dos ambientes digitais, o face-to-face conti-
b) Saber usar a tecnologia e o mobile para se aproximar nuará a ter um lugar fundamental na criação e forta-
do mercado, criando uma imagem positiva da empresa lecimento das relações nas organizações. E a gestão
logo desde o primeiro touch com potenciais candidatos. de RH deve ser exemplar neste domínio.

62 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 63


GESTÃO RH CARREIRAS: BREVES CRÓNICAS

CINQUENTA ANOS
TODOS OS DIAS,
O ONTEM VESTE-SE
DE AMANHÃ Lisboa e encontro da tecnologia de jornalismo do Google
em Lisboa também, bem como o encontro anual da
próximo futuro, que partilho esta grande oportunidade
que é olhar para os tais 600 meses de correria, cansei-
JOÃO PALMEIRO, PRESIDENTE DA
ENGIRISCO
Federação Europeia de Jornalistas) esteve no centro da ras, sonhos e desilusões, construções e concretizações
ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DA IMPRENSA
construção do entendimento do lugar e do papel dos media e perceber como posso contribuir para que os que, como
num mundo digital e desmaterializado em que quere- eu, se interrogam sobre a vida e o significado do trabalho,
mos o melhor para a prática de um sistema político justo participem de uma plataforma de esperança e de realiza-
Não será (ainda) aqui e agora o tempo de escrever sobre e equilibrado, em que a diversidade e o pluralismo das ção deixando para os que nos seguem a certeza de que
esses anos fundamentais para a pessoa profissional que opiniões não estejam fundados na deturpação dos fac- o trabalho pode ser a mais-valia do nosso sossego e um
sou, coincidente com a minha entrada na Faculdade de tos, na desinformação e na manipulação do jornalismo. contributo para um mundo melhor.
Direito de Lisboa, com o maio de 68, com a chegada da E eu lá estive, de evento em evento, recordando maio de É verdade, o conhecimento que adquirimos na escola
tão ilusionada primavera marcelista e que diariamente 68, dezembro de 71 (Angra do Heroísmo, Açores, Nixon e o desenvolvimento que obtemos no nosso aperfeiçoa-
me proporcionava, como tarefa, a leitura de dezenas de e Pompidou), junho de 1980 (Unesco, Paris, Maria de mento profissional são essenciais mas, para mim, nada
jornais e revistas estrangeiras, muitas vedadas ou es- Lourdes Pintasilgo, declaração sobre a livre circulação é mais importante do que o momento diário em frente
condidas dos meus concidadãos. Essa foi a escola, foi da informação – governação do programa internacional ao espelho em que o ontem se transforma em amanhã.
a formação profissional que nunca me abandonou e que para o desenvolvimento da comunicação), para só falar Assim, para continuar a não pensar digital com uma ca-
hoje reconheço ter sido tão importante para a pessoa nos momentos internacionais, marcos da minha vida pro- beça analógica.
como para o profissional que sou. fissional e que mais ajudaram a construir a minha visão
Ao longo destes 600 meses perguntei-me muitas vezes sobre o mundo que nos rodeia, em que o todo sobre que
como seria a vida (também a minha) quando chegasse construímos certezas se foi desmultiplicando em seg-
(?) aos 50 anos de atividade e aos 70 de vida (está qua- mentos cada vez mais reduzidos e contraditórios.
se, os 50 anos de vida profissional já passaram e os 70 Se tivesse de me lembrar dos três autores que quase
de vida estão aí à porta). Longe de imaginar tudo o que todos os dias cito para mim mesmo, Ota Sik (a terceira
estamos a viver, mas sempre acreditando que seriam via), Durkheim (a anomia e o caos e a entropia) e Stephen
anos fantásticos; anos mais tarde uma amiga, a MJCF, Hawking (o tempo) seriam os escolhidos pois começo ou
ofereceu-me um estudo da minha carta astrológica com acabo sempre procurando uma outra solução, eliminando
uma recomendação: prepara-te para os fantásticos e fe- o que está a mais ou não faz sentido e reconhecendo que
lizes anos do final da tua vida. o que não está no seu tempo sempre se perde.
Confesso que nunca esqueci essa recomendação, e em De todas as decisões que tive de tomar nestes 50 anos
cada dia procurei o início da tal época fantástica. Mas de vida profissional lembro-me que foi muito difícil imple-
agora percebo que esses dias não tinham começo, foram mentar, em 1985, a que os jornais, as revistas as rádios
começando, construindo-se sobre um quadro de peque- e as televisões portuguesas podiam aceder diretamente
nos detalhes, grandes tristezas ou desfeitas, realizações aos dados do escrutínio eleitoral ligando-se diretamente

F
oi nos primeiros dias de outubro de 1968, nos a que possivelmente nunca dei o devido valor, ajustan- ao computador escrutinado e na época (e mesmo hoje
primeiros dias dos meus 19 anos, que entrei no do-se aos poucos até ao final deste ano de 2018 em que em dia) quase ninguém reparou ou entendeu o verdadei-
Palácio Foz em Lisboa, na Direção-Geral da Infor- vou viver (Deus assim o permita) a resposta a tantas ro alcance dessa solução, que representa o primeiro ato
mação, direção dos serviços de informação, repartição perguntas feitas ao longo da minha vida. público digital dos media portugueses.
da imprensa estrangeira, como (tarefeiro) estagiário Em junho, Portugal (congresso mundial de editores no É assim que no final 2018, olhando já para os 50 anos de
de redator da Imprensa Estrangeira. Estoril, encontro mundial de dirigentes jornalistas em atividade como passado e para os 70 anos de vida como

64 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 65


GESTÃO RH TEMAS DE FORMAÇÃO

CRIAÇÃO DE UM CRIAR UMA CAPA

Na capa iremos inserir um padrão de fundo, um título,

PORTEFÓLIO DIGITAL com o nome da empresa, a sua área de trabalho e o seu


nome e fotografia para melhor ser reconhecido na co-
munidade escolar. Para inserir o nome da empresa, por
FERNANDO FERREIRA - ENGENHEIRO INFORMÁTICO FERNANDO FERREIRA exemplo, EDUCANDO COM SOFTWARE, faça clique no bo- Faça clique na página n.º 2 e insira aí os conteúdos. Faça
tão + e depois em Text. Escreva o nome da empresa e o mesmo para as outras páginas.

U
m portfolio (ou portefólio) é um dossier, que pode ter suporte físico (papel) e/ou digital. Aí, o seu autor pode colocar formate a seu gosto.
trabalhos por si realizados, no âmbito de algum projeto, devidamente selecionados tendo em conta o objetivo do CRIAR A ÚLTIMA PÁGINA
portefólio. Sendo uma construção contínua, progressiva e dinâmica, o conteúdo do portefólio pode ser melhorado,
alterado ou aumentado sempre que for oportuno. Na área do ensino ou formação este é mais um elemento de avaliação do Sempre que desejar inserir uma nova página, faça clique
progresso, servindo como reflexão do trabalho desenvolvido, as dificuldades, as melhorias, as áreas de interesse e a auto- no botão +. Na última página vamos inserir o nome da em-
avaliação do trabalho. Tudo isto é importante para o docente ou formador, assim como para o próprio aluno ou formando, para presa, o email e web site. Para isso, recorra ao botão Text.
melhorar a sua capacidade de organização. Na sua organização, no caso do ensino, deve incluir um índice, reflexões, resumos Insira depois a sua área de trabalho, por exemplo SOFT- Para inserir hiperligação ao web site da empresa, utilize
das matérias, resolução de exercícios, pesquisas acerca dos conteúdos, testes, outros elementos (anexos), avaliação obti- WARE PARA O GRUPO DE MATEMÁTICA. Insira, por baixo, a o botão com cadeado para inserir o link e depois o botão
da em cada período. Se aplicar o portefólio a nível empresarial a estrutura deve ser diferente, dependendo do seu objetivo. sua fotografia. Para isso opte pelo botão Import. Escolha Save para gravar.
a imagem no seu computador ou da Internet.

PROPOSTA DE PROJETO com/sign-in e optar pelo botão I am a teacher.


Depois, opte pela forma de registo: Google ou Email.
Vamos apresentar os passos para a criação de um porte-
fólio empresarial de uma empresa de desenvolvimento de
software educativo, em que cada funcionário (vendedor)
terá de criar o seu portefólio pessoal em função do soft- Dimensione a imagem a seu gosto e posicione-a na folha.
ware que pretende vender com o objetivo de o apresentar
nas várias escolas do país. Um dos aspetos que importa Insira aí o email (com o botão Text) e o logotipo da em-
ter em atenção para vender um produto é a identificação No email terá acesso a um código, o qual terá de partilhar presa (com o botão Import). Insira nesta última página a
e o reconhecimento do consultor por parte da população com os seus colaboradores, para assim acederem ao Book mesma cor de fundo da capa, atrás selecionada.
a quem o mesmo se destina, no caso a população escolar: Creater no perfil estudante, pois ao acederem devem optar
professores, alunos e encarregados de educação. pelo botão I am a student. OUTRAS FERRAMENTAS

O BOOK CREATOR CRIAÇÃO DO PORTEFÓLIO Insira do lado direito da fotografia o seu nome e email. Com o Book Creator pode ainda criar outros elementos.
Para isso recorra ao botão Text.
O Book Creator é uma aplicação que permite ao utilizador Com o código gerado pelo gestor, cada colaborador irá Para inserir o padrão de fundo, por exemplo com uma cor,
criar os seus próprios livros (ebooks) em diversas plata- então criar o seu portefólio. opte pelo botão i. Em seguida selecione a cor de fundo.
formas – tablets iPad, Android, Windows – com uma va- Após executar o Book Creator, para criar um novo projeto
riedade de recursos muito interessante. Trata-se de uma faça clique no botão New Book.
ferramenta útil para livros de imagens para crianças, livros
artísticos, livros de culinária, manuais, livros escolares, por-
tefólios empresariais... e cuja utilização depende apenas O comando Import já foi apresentado. O comando Camera
da sua imaginação! permite inserir um elemento (fotografia ou vídeo) dire-
Em seguida, selecione o formato desejado para o seu tamente da câmara do seu computador.
CRIAÇÃO DE UMA BIBLIOTECA novo livro.
CRIAR AS PÁGINAS
O responsável pela equipa deve proceder à criação de
uma biblioteca de modo a que os seus colaboradores Para adicionar uma página ao portefólio faça clique no
possam ter um código gerado pelo Book Creator, para botão Pages.
assim criarem os seus portefólios individualmente. Para
isso, terá de aceder ao web site https://app.bookcreator.

66 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 67


GESTÃO RH TEMAS DE FORMAÇÃO EUROPA EM NOTÍCIAS 4

EUROFLASH
Para inserir uma fotografia, opte por Take a Picture. Para ordem dos objetos sobrepostos (Move to front, para ficar
inserir um vídeo, opte por Record Video. sobreposto, ou Move to back, para ficar debaixo).
O comando Pen permite simular uma caneta para escre-
ver ou assinalar algo diretamente na página.

NUNO GAMA DE OLIVEIRA PINTO, PROFESSOR E


INVESTIGADOR UNIVERSITÁRIO (CEI/ISCTE-IUL; UAB). ENGIRISCO
INVESTIGADOR ASSOCIADO (IPRI-UNL)
PUBLICAR O PORTEFÓLIO
O comando Text já foi apresentado.
O comando Record permite gravar um texto recorrendo Para visualizar o aspeto e a animação de mudança de NOVO FUNDO PROMOVE EFICIÊNCIA PUBLICAÇÕES ELETRÓNICAS COM IVA
ao microfone do computador, útil se desejar associar áu- páginas, opte pelo botão Play (seta). Navegue pelas pá- ENERGÉTICA REDUZIDO
dio como complemento ao texto do portefólio. No final da ginas recorrendo às setas < e > situadas lateralmente
gravação faça clique em Stop Recording. no seu ecrã. A Comissão Europeia e a Breakthrough Energy, de Bill O Conselho da União Europeia aprovou recentemente
Gates, criaram o fundo comum Breakthrough Energy Eu- uma diretiva que permite aos Estados-membros a apli-
rope, destinado a apoiar investimentos tecnológicos em cação de taxas de IVA reduzidas às publicações eletróni-
energias limpas. Os 100 milhões de euros, que o fundo irá cas, como sucede com as publicações em papel. A taxa
Para publicar, opte pelo botão Publish. ter disponíveis, servem para ajudar a reduzir as emissões mínima de 15% poderá agora descer até aos 5%.
de gases com efeito de estufa e a promover a eficiência
energética em diferentes áreas e setores de atividade.
Na página ficará disponível um ícone para executar o som
gravado, bastando para isso fazer clique sobre o ícone. PROPOSTA SOBRE OS DIREITOS DE
AUTOR APROVADA PELO PARLAMENTO
EUROPEU
Aqui pode optar por publicar o livro online (Publish on-
line), descarregar o livro como ebook (Download as O Parlamento Europeu votou favoravelmente a proposta
ebook) ou imprimir (Print) diretamente para a impres- de reforma sobre os direitos de autor no mercado único
sora ou para gerar um ficheiro em PDF. digital. Depois de terem rejeitado, em julho de 2018, o
Para inserir objetos gráficos, opte pelo comando Shapes. Se optar por Publish online, configure o livro: mandato de negociação da comissão parlamentar dos As-
suntos Jurídicos sobre a proposta, os deputados votaram
favoravelmente a nova versão do documento, com mais
de 200 emendas, que pretende atualizar os direitos de
autor, no quadro do mercado único digital, e uniformizá-
-los no espaço europeu. A proposta foi aprovada em ple-
nário com 438 votos a favor, 226 contra e 39 abstenções.

Opte pela forma desejada e formate-a a seu gosto, como No final, faça clique em Publish Book.
cor, tamanho e posição.
CONCLUSÃO

Tenha em conta que o portefólio vai ser avaliado pelo seu


chefe mas, essencialmente, pelos seus futuros clien-
tes! Assim, e além de uma estrutura geral devidamente MAIS DE 3,1 MILHÕES DE NOVAS
organizada, tenha sempre em atenção a apresentação AUTORIZAÇÕES DE RESIDÊNCIA
estética, que deve ser atrativa, aliando sempre a sim-
plicidade e o design. Não se esqueça do ditado popular: O ano passado a União Europeia concedeu mais de 3,1
Se recorrer ao botão direito do rato e fizer clique sobre a «Uma imagem vale por mil palavras!» milhões de novas autorizações de residência a cidadãos
página obterá um menu de contexto, que pode ser bas- oriundos de países terceiros (37 mil das quais em Portu-
tante útil: pode cortar objetos, copiar, colar e definir a Bom trabalho. gal), sobretudo por motivos familiares.

68 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 69


4 EUROPA EM NOTÍCIAS DIVULGAÇÃO BREVES 5

TOME NOTA
FUNDO EUROPEU DE AJUSTAMENTO PRÉMIOS REGIOSTARS
À GLOBALIZAÇÃO
O Centro de Negócios e Serviços Partilhados do Fundão e
o Museu Vista Alegre, em Ílhavo, foram distinguidos pela
Comissão Europeia com os prémios RegioStars 2018.

NUNO GAMA DE OLIVEIRA PINTO, PROFESSOR E


INVESTIGADOR UNIVERSITÁRIO (CEI/ISCTE-IUL; UAB). ENGIRISCO
INVESTIGADOR ASSOCIADO (IPRI-UNL)

BANCO EUROPEU DE INVESTIMENTO entre 7,5 e 75 milhões de euros) a projetos de demons-


APOIA TECNOLOGIA INOVADORA EM tração inovadores em domínios ligados à transformação
PORTUGAL do sistema energético, incluindo, entre outros, as tecno-
logias de energias renováveis, os sistemas energéticos
A empresa portuguesa inteligentes, o armazenamento de energia ou a captura e
Windplus vai receber utilização de carbono, ajudando assim a suprir as neces-
A Comissão Europeia propôs a concessão a Portugal de um empréstimo de 60 sidades financeiras desde a fase de demonstração até à
um apoio no valor de cerca de 4,7 milhões de euros, ao milhões de euros, con- comercialização.
abrigo do Fundo Europeu de Ajustamento à Globalização, cedido pelo Banco Eu-
destinado a ajudar os trabalhadores do setor do vestuário A iniciativa, criada pela Comissão Europeia em 2008, visa ropeu de Investimento INSTRUMENTO PME PREMEIA EMPRESAS
que ficaram sem emprego em resultado da concorrência premiar projetos inovadores, e de boas práticas de de- (BEI) ao abrigo do programa InnovFin – Projetos de De- PORTUGUESAS
acrescida de artigos de vestuário fabricados noutras par- senvolvimento regional, apoiados por fundos europeus. monstração no setor da Energia – para instalar um parque
tes do mundo. eólico flutuante na costa norte de Portugal. Sete pequenas e médias empresas portuguesas (PME) vão
NOVAS NOTAS DE 100 E 200 EUROS Localizado a 20 km ao largo da costa de Viana do Castelo, receber 50 mil euros para desenvolverem os seus planos
PROGRAMA ERASMUS+ o projeto irá acelerar a implantação comercial de uma tec- de negócio, com o apoio do Instrumento PME (Fase 1) do
As novas notas de 100 e 200 euros vão entrar em cir- nologia eólica inovadora, denominada «WindFloat», que Programa Horizonte 2020, que irá financiar mais 246 PME
A Comissão Europeia lançou o convite à apresentação de culação a partir de 28 de maio de 2019. Terão a mesma permite aproveitar os recursos eólicos abundantes em de 24 países europeus, entre os quais Portugal.
candidaturas em 2019 para o programa Erasmus+. No cor mas serão mais pequenas do que as atuais, dispondo águas profundas, onde não é possível instalar fundações
próximo ano o programa irá ter um orçamento global no também de novos elementos de segurança. Recorde-se fixas no fundo marinho.
valor de 3 mil milhões de euros, o que representa um au- que as notas de 5, 10, 20 e 50 euros já tinham sido A empresa planeia construir e explorar um parque eóli-
mento de 10% face ao montante disponível para este ano. renovadas. co flutuante offshore pioneiro, utilizando plataformas
semissubmersíveis.
Além do empréstimo do BEI, o projeto também receberá
o apoio da Comissão Europeia através do Mecanismo de
Financiamento de Projetos de Demonstração no setor da
Energia, um programa de investimento temático ao abri-
go do InnovFin – Financiamento da UE para Inovadores –
apoiado financeiramente pelo Programa Horizonte 2020. «Estas sete empresas agora premiadas juntam-se a ou-
«Através deste acordo o Banco da União Europeia financia tras 88 PME que, desde 2014, foram financiadas pelo Ins-
tecnologia energética de ponta que será implementada em trumento PME (Fase 1). Juntas comprovam, mais uma
Portugal e possibilitará a instalação de parques eólicos em vez, que os empreendedores portugueses que apostam
locais que anteriormente não eram viáveis, contribuindo na inovação conseguem desenvolver projetos de quali-
para a liderança da Europa no desenvolvimento de respos- dade e competir ao mais alto nível internacional», referiu
tas inovadoras ao desafio colocado pelas alterações climá- o comissário europeu para a Investigação, Ciência e Ino-
ticas», salientou a vice-presidente do BEI, Emma Navarro. vação, Carlos Moedas.
O InnovFin – Projetos de Demonstração no Setor da Ener- Desde o lançamento do programa, a 1 de janeiro de 2014,
gia – concede financiamento sob a forma de emprésti- foram apoiadas financeiramente 3115 empresas euro-
mos, garantias ou participações de capital (geralmente peias ao abrigo da Fase 1 do Instrumento PME.

70 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 DIRIGIR&FORMAR N.º 21 71


5 DIVULGAÇÃO BREVES

SABIA QUE
NUNO GAMA DE OLIVEIRA PINTO, PROFESSOR E
ENGIRISCO
INVESTIGADOR UNIVERSITÁRIO (CEI/ISCTE-IUL; UAB).
INVESTIGADOR ASSOCIADO (IPRI-UNL)

AÇÕES URBANAS INOVADORAS APOIAM de melhorarem a qualidade de vida em todas as cidades


EMPREGO E COMPETÊNCIAS NA do mundo. Na sequência dos trágicos ataques terroris-
ECONOMIA LOCAL tas dos últimos anos a segurança urbana e a segurança
dos espaços públicos passaram a ser uma preocupação
O projeto Aveiro fundamental dos cidadãos, motivo pelo qual apoiamos
SteamCity foi distin- as cidades nos esforços que envidam para proteger os
guido pela Comissão seus habitantes», sublinhou Corina Cretu, comissária
Europeia numa inicia- responsável pela Política Regional.
tiva destinada a pro-
mover Ações Urbanas 190 MILHÕES DE EUROS PARA APOIAR
Inovadoras. A candidatura apresentada pela Câmara Mu- PME PORTUGUESAS
nicipal de Aveiro foi uma das 22 propostas selecionadas
entre 184 concorrentes, tendo garantido um financia- O Fundo Europeu de Investimento irá apoiar investimen-
mento a fundo perdido no valor de 4,9 milhões de euros. tos no valor de 190 milhões de euros em pequenas e
O projeto, distinguido na área do emprego e competên- médias empresas (PME) inovadoras com base em dois
cias na economia local, pretende ajudar a preparar a co- novos fundos de capital próprio, geridos pela Vallis Capi-
munidade local para uma nova revolução tecnológica, tal Partners e pela Mustard Seed MAZE. Os investimentos
com a adoção de infraestruturas e tecnologias 5G, e um serão apoiados pelo Fundo Europeu para Investimentos
observatório laboral para aumentar a resposta educativa Estratégicos, que está no cerne do Plano de Investimento
e em termos de qualificações. para a Europa (Plano Juncker).
Esta iniciativa da Comissão Europeia, que visa apoiar fi-
nanceiramente projetos inovadores apresentados por
cidades da União Europeia, tem uma dotação global de
372 milhões de euros, provenientes do Fundo Europeu
de Desenvolvimento Regional, para o período de 2014
a 2020. Pretende identificar, testar e divulgar soluções
concretas para desafios urbanos comuns, estando a de-
correr, até janeiro de 2019, o 4.º convite para a apresen-
tação de candidaturas.
Para este novo concurso a Comissão Europeia irá dispo-
nibilizar 100 milhões de euros para financiar projetos
inovadores destinados a proteger e a reduzir a vulnera-
bilidade dos espaços públicos no âmbito da Agenda Euro-
peia para a Segurança. Serão também financiados proje-
tos digitais, ambientais e no domínio da inclusão social. Os dois fundos, que foram recentemente lançados durante
«Com estes convites à apresentação de propostas es- a Web Summit 2018, vão beneficiar do apoio financeiro da
tamos a transformar as cidades da União Europeia em União Europeia no âmbito do mecanismo InnovFin Capital
verdadeiros laboratórios para testar soluções capazes Próprio, do programa COSME EFG e do Plano Juncker.

72 DIRIGIR&FORMAR N.º 21

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