Professional Documents
Culture Documents
Algébricas
Material Teórico
História da Álgebra Abstrata e Corpo
Revisão Textual:
Prof. Ms. Claudio Brites
História da Álgebra Abstrata e Corpo
OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Nesta Unidade, estudaremos alguns aspectos históricos da álgebra
abstrata e o corpo. Na parte histórica, iremos nos aprofundar em
equações, discorrendo sobre sua representação na álgebra clássica,
até o momento em que se inicia a utilização de letras nas equações,
como utilizamos atualmente. Apresentaremos alguns exemplos em
que o conceito de corpo foi formalizado, antes da formalização do
conceito abstrato. Antes de estudarmos o corpo, discorreremos sobre
domínio de integridade. Ao término deste estudo, esperamos que
você consiga distinguir corpos e domínio de integridade.
ORIENTAÇÕES
Para um bom aproveitamento da aula, realize a leitura integral do conteúdo
teórico, acompanhando e refazendo os exemplos resolvidos. Quando
aparecer alguma dúvida, entre em contato com seu(sua) tutor(a) utilizando a
ferramenta Mensagens ou o Fórum de Dúvidas.
UNIDADE História da Álgebra Abstrata e Corpo
Contextualização
A História do Corpo
Muitos matemáticos, durante muito tempo, dedicaram-se aos estudos sobre
equações algébricas. Um dos que se dedicou a esse estudo foi Evariste Galois.
Galois, apesar de ter morrido aos 20 anos, em 1832, com uma bala no estômago
em consequência de um duelo com Pescheux d’Herbinville, deixou muito material
escrito relacionado às suas ideias sobre equações algébricas. Na verdade, alguns
materiais foram publicados ainda em vida, enquanto outra parte, sempre que era
submetida à publicação, era impedida por algum evento a ser publicada.
Em uma noite anterior ao duelo, escreveu toda a sua teoria em cartas para seu
amigo Chevalier, sendo esse material publicado depois.
Gauss trabalhou com outra linha de pesquisa que leva o estudo de corpos à
teoria dos números. Em seus estudos, introduziu os números complexos da forma:
a + bi, a, b ∈ Z
xn + yn = zn, n ≥ 2
xp + yp = zp, p primo
E utilizou a fatoração
6
Xp-1 + Xp−2 + · · · + X + 1 = 0
α = a0 + a1 δ + · · · + ap−2δp−2
7
7
UNIDADE História da Álgebra Abstrata e Corpo
8
Explor
Para detalhes sobre a bibliografia de Diophanto, acesse o material complementar.
O que você achou da representação de Viéte? Imagine como seriam as nossas aulas de
Explor
9
9
UNIDADE História da Álgebra Abstrata e Corpo
Uma limitação que aparece tanto nos trabalhos de Viéte, como no de Descarte
é que as letras representavam somente os números positivos. O primeiro a utilizar
letras para representar coeficientes formados tanto por números positivos quanto
por negativos foi John Hudde, em 1657.
Outra linha de pesquisa que levou ao estudo sobre corpo foi a teoria dos números,
com trabalhos de Gauss. E foi a partir de trabalhos sobre teoria dos números que
Richard Dedekind (1831-1916) formalizou o conceito de corpo.
A teoria abstrata sobre corpo tem início em 1903, tendo vários matemáticos
envolvidos. Com tantas variedades de corpos definidos, surge uma motivação para
estudos dessa teoria, como os desenvolvidos pelo alemão Ernst Steinitz (Figura 3),
em 1910, e pela matemática alemã Emmy Noether (Figura 4), em 1929.
É possível observar que foi percorrido um longo caminho até se chegar à álgebra que
conhecemos hoje. O processo para a formalização e aceitação de todos os símbolos
universais que usamos com tanta facilidade em nosso cotidiano foi realmente lento.
A abstração, ou ainda, a formalização do conceito abstrato surgiu após exemplos
concretos e aplicações, como ocorreu com as estruturas de grupos e corpos.
10
Domínio de Integridade
Para estudarmos a estrutura corpo, teremos que nos aprofundar um pouco mais
na estrutura anel. Isso ocorre porque todo corpo é um anel.
Um dos exemplos de anel que vimos é o conjunto dos números reais com a
operação de adição e multiplicação. Apesar de ser exemplo, vimos que existem
várias diferenças, muitas estão relacionadas à operação de multiplicação. Vamos
relembrar algumas diferenças:
• A operação de multiplicação não é necessariamente comutativa, mas os anéis
que possuem essa operação são denominados comutativos;
• O anel não tem necessariamente o elemento neutro em relação à operação
multiplicação denominado unidade; o anel com essa característica é denominado
anel com unidade.
Vamos relembrar outras diferenças entre a estrutura anel e o anel dos conjuntos
numéricos.
Por exemplo, suponhamos que o anel A não possua divisores de zero, ou seja,
existe a, b ∈ A tal que a . b = 0, então a =0 ou b = 0. Quando o anel não possui
divisores de zero, dizemos que A é um anel sem divisores de zero.
11
11
UNIDADE História da Álgebra Abstrata e Corpo
e g(x) , Figura 6.
12
Portanto, F é um anel com divisores de zero.
B= eD=
Observemos que tanto B como D não são matrizes nulas, mas a multiplicação
entre as mesmas resulta em uma matriz nula, como podemos ver:
B.D = =
Vimos também que é possível fazer cálculos com a estrutura de anel, como
nos conjuntos numéricos, levando em consideração as diferenças. Temos a lei do
cancelamento em relação à adição. Será que é válida a lei do cancelamento com
respeito à multiplicação? A próxima propriedade falará sobre esse assunto.
a.b = a.c
13
13
UNIDADE História da Álgebra Abstrata e Corpo
(b+(-c)) + c = 0A + c
b+((-c) + c) = c
b+ 0A = c
b= c
Portanto, b = c.
Corpo
As próximas linhas estão dedicadas a estudar a estrutura corpo. Para tanto,
continuaremos fazendo uso de resultados anteriores.
Q[ 2 ] = {a +b 2 | a, b ∈ Q}
Sejam x, y ∈ Q[ 2 ], tal que x= a +b 2 , y = c +d 2 , a operação adição é
definida por
14
• A operação adição é associativa. Sejam x, y, z ∈ Q[ 2 ], tal que x= a + b 2 ,
y = c +d 2 , z = h + j 2 .
(x + y) + z = ((a +b 2 ) + (c +d 2 )) + (h + j 2 ) =
= ((a +c) + (b +d) 2 ) + (h + j 2 ) =
= ((a +c) + h ) + ((b +d) + j) 2 =
= (a + (c + h )) + (b + (d + j)) 2 =
= (a + b 2 )+ ((c + h ) + (d + j)) 2 =
= (a + b 2 )+ ((c + d 2 ) + ( h + j 2 )) =
= x + (y + z).
Portanto, (x + y) + z = x + (y + z).
• A operação adição é comutativa. Sejam x, y ∈ Q[ 2 ], tal que x= a + b 2 ,
y = c +d 2 .
x + y = (a +b 2 ) + (c +d 2 ) =
= (a + c) + (b + d) 2 =
= (c + a) +(d + b) 2 =
= (c + d 2 ) + (a + b 2 ) =
= y+x.
0 + x = (0 + 0 2 ) + (a + b 2 ) =
= (0 + a) + (0 + b) 2 =
= a + b 2 = x.
Logo, x+(-x) = 0.
15
15
UNIDADE História da Álgebra Abstrata e Corpo
= (a + b 2 ) ((c + d 2 ) (h + j) 2 ) =
= x . (y . z).
Portanto, (x . y) . z = x . (y . z).
• A operação multiplicação é distributiva em relação à adição. Sejam x, y, z ∈
Q[ 2 ], tal que x= a + b 2 , y = c +d 2 , z = h + j 2 .
x .( y+ z) = (a +b 2 ) ((c +d 2 )) + (h + j 2 )) =
= (a +b 2 ) ((c + h) + (d + j) 2 ) =
=xy +xz.
Portanto, Q[ 2 ] é um anel.
16
Dizemos que Q[ 2 ] é um corpo. Para tanto, é necessário que seja um domínio
de integridade. Será que Q[ 2 ] é um domínio de integridade? Para responder a
essa questão, é necessário verificarmos se o anel Q[ 2 ] tem unidade, é comutativo
e não possui divisores de zero. Esse será o nosso próximo objetivo:
• Q[ 2 ] é um anel com unidade. De fato, ao considerarmos 1= 1+0 2 ∈ Q[
2 ], para todo x ∈ Q[ 2 ], tal que x=a+b 2 , temos:
= (a+0) + (b +0) 2=
=a+b 2 = x.
Logo, 1.x = x, para todo x ∈ Q[ 2 ], deixamos para resolver o caso em que x.1
= x. Portanto, Q[ 2 ] é um anel com unidade.
• Q[ 2 ] é um anel comutativo: sejam x, y ∈ Q[ 2 ], tal que x= a + b 2 , y = c
+d 2.
xy = (a +b 2 ) (c +d 2)=
= (c + d 2 ) (a + b 2 ) = yx
Logo, xy = yx.
omitir algumas demonstrações. Por quê? Quais as demonstrações que poderiam ser
omitidas?
Como,
17
17
UNIDADE História da Álgebra Abstrata e Corpo
temos,
ou seja,
(1) ac + 2bd = 0
(2) bc + ad= 0
ad = -bc
(3) d = - a-1bc
ac +2b(-a-1bc)=0
ac - 2a-1b2c = 0
(a - 2a-1b2) c = 0
a - 2a-1b2 = 0 ou c = 0
Se a - 2a-1b2 = 0, temos:
a = 2a-1b2
a2 = 2b2
b 1 b 1
= ou −
a 2 a 2
18
Sejam x ∈ Q[ 2 ]-{0}, tal que x = a + b 2 , sabemos que x(1/x) =1. Se
mostrarmos que 1/x ∈ Q[ 2 ], então o elemento inverso de x pertence a Q[ 2 ].
Temos:
1/x = =
= =
= =
= +
Logo,
1/x = + .
Agora é necessário verificar se essa solução é válida. Para isso, precisamos que
a – 2b2 ≠ 0. Vejamos o que acontece quando a2 – 2b2 = 0.
2
a
a Como x ≠ 0, sabemos que a ≠ 0 ou b ≠ 0. Se b ≠ 0, obtemos que b = 2 ou
b = - 2 . Porém, essa solução é impossível visto que a e b são números racionais.
Se a ≠ 0, o raciocínio é parecido. Logo, é a2 – 2b2 ≠ 0.
Portanto, Q[ 2 ] é um corpo.
Q[ p ] = {a +b p | a, b ∈ Q e p primo}
definidas em Q[ 2 ], é um corpo?
19
19
UNIDADE História da Álgebra Abstrata e Corpo
Exemplos
1) Seja A um domínio de integridade, encontre as soluções da equação x2 = x,
para todo x ∈ A.
Resolução:
Resolução:
A2 = =
Resolução:
20
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Nesta unidade, estudamos a história da álgebra abstrata e a estrutura algébrica corpo. Para
que você possa ampliar e aprofundar seus conhecimentos sobre como se desenvolveu
esses assuntos, indicamos algumas leituras.
Livros
Elementos de álgebra abstrata.
ALENCAR FILHO, Edgard de. 4. ed. São Paulo: Nobel, 1988.
Álgebra Moderna
DOMINGUES, H.H.; IEZZI, G. São Paulo: Atual, 2003.
Elementos de Álgebra
GARCIA, A.; LEQUAIN, Y. Rio de Janeiro: Associação Instituto Nacional de
Matemática Pura e Aplicada, 2002.
Introdução à Álgebra
GONÇALVES, A. Rio de Janeiro: Associação Instituto Nacional de Matemática
Pura e Aplicada, 2003.
Tópicos de Álgebra
HEIRSTEIN, I, N.São Paulo: Universidade e Polígono, 1970.
Iniciação às estruturas algébricas
MONTEIRO, L. H. Jacy. 6. ed. São Paulo: Nobel , 1973.
Sites
Aritmética de Diophanto:
ALEJANDRIA, D. Diophanti Alexandrini Arithmeticorum libri sex et De numeris
multangulis liber unus: nunc primùm Graecè & Latinè editi, atque absolutisimis
commentariis illustrat. Ed. sumptibus Hieronymi Drouart, 1621.
Disponível em: https://goo.gl/1Vsz2U
Bibliografia Diophanto:
Disponível em: http://www.somatematica.com.br/biograf/diofanto.php
Acesso em: 20 ago. 2015.
Leitura
Breve história da Álgebra Abstrata.
MILIES, C. P. In: II Bienal da Sociedade Brasileira da Matemática. Salvador. 2004.
Disponível em: http://www.bienasbm.ufba.br/M18.pdf
Acesso em: 11 jun. 2015.
21
21
Referências
ALENCAR FILHO, Edgard de. Elementos de Álgebra Abstrata. 3. ed. São Paulo:
Nobel, 1982.
Webgrafia
MILIES, C. P. Breve história da Álgebra Abstrata. In: II Bienal da Sociedade
Brasileira da Matemática. Salvador. 2004. Disponível em: < http://www.bienasbm.
ufba.br/M18.pdf> Acesso em: 11 jun. 2015.
22