You are on page 1of 34
ERIC ROLL Ex-Professor de Economia e Comércio no University College de Hull ’ Historia das Doutrinas Econdémicas Tradugdo de Cw Sirvema e Ricuarp Paut Neto e Constantino JANNI 4.3 edicdo, revista e ampliada COMPANHIA EDITORA NACIONAL shO.PAULO CAPITULO SEGUNDO O CAPITALISMO COMERCIAL E SUA TEORIA 1. A decadéncia do escolasticismo O sistema classioo da economia politica preparou-se nos trés séculos que separam a Idade Média da aparicao da Riqueza das Nagées. Durante esse periodo de veemente discussio eco- némica aumentou rapidamente o niimero de escritores sobre questdes dessa natureza. Esta abundante producio teérica ha- via sido descuidada até ha pouco; os historiadores, no entanto, prestaram-lhe maior atengéo nestes ultimos anos, pelo que é possivel agora descortinar-se mais claro panorama das muta- goes da doutrina econdmica desde fins do século XV até o final do século XVIII. Sob o ponto de vista técnico-econdmico, muitos escritores dessa época merecem ser pormenorizadamen- te estudados. Para 0 nosso Ppropésito de agora, basta porém esbogar a tendéncia geral do desenvolvimento econdmico. A economia politica pré-classica pode dividir-se em duas partes. A Primeira, de que trataremos neste capitulo, representa 0 1¢ flexo ideolégico do nascimento do capitalismo comercial e é geralmente conhecida pelo nome de “mercantilismo”. Na se gunda, que acompanha a expansio do capital industrial de fins do século XVII e Pprincipios do sécuk SVE jo os verda- deiros fundadores d: ida arene 7 esto Ja tra- aremetearer ‘a ciéncia da economia politica, e dela paradamente no capitulo seguinte, O relato, feito amide, de transformagées que levaram uma 00) ii - te eters ae Particularista, ao desenvolvimento do com’ do predmbulo a tode eae: ticos © poderosos, deve § todo exame da teoria mercantilista. 38 Muitos fatores contribuiram para acabar com o mundo feudal. Com o crescimento dos estados nacionais, impacientes tanto por destruir o particularismo da sociedade feudal como o universalismo do poder espiritual da igreja, surgiu grande in- teresse pela riqueza € pelo aceleramento da atividade econdmica. O enfraquecimento da autoridade doutrindria central, conse- qiiéncia da Reforma, e 0 progresso que © conceito de direito natural fez na jurisprudéncia e nas idéias politicas, prepararam © terreno para um contato racional e cientifico com os pro- blemas sociais, sem contar que a invengio da imprensa mul- tiplicou esse contato. O feudalismo tornou-se inadequado como método de produgio. A revolugdo nos métodos agricolas des- truiu as bases da economia feudal, provocando a superpopu- lagio rural, a majoracao de tributos feudais o aumento das dividas dos senhores feudais, que por isso se viam compelidos a recorrer ao comércio ou aos novos métodos agricolas, o que implicava em venda no mercado. Outro fator poderoso foram os descobrimentos maritimos, que consigo trouxeram impor- tante expansio do comércio exterior. Estas duas transformages ligaram-se intimamente. Na In- glaterra, por exemplo, onde se pode observar com mais nitidez o desenvolvimento do capitalismo, o crescimento do comércio destruiu a agricultura de consumo, obrigando-a a depender cada vez mais do mercado. Acelerou-se desse modo 0 movimento de confisco, talvez o mais importante fendmeno econémico dos fins da Idade Média e principios da era moderna. Esse mo- vimento teve algumas vezes 0 objetivo de dar maior expansao aos novos métodos de lavoura e outras o de converter em pastos as terras lavradas, com as conseqiiéncias j4 bastante descritas pelos historiadores sociais. Em ambos os casos obrigou a agricultura a depender dos grandes mercados e do capital mercantil que os dominava, capital cuja acumulagio apressou © desenvolvimento do comércio exterior. Com fito de lucro, de poder politico ou de prestigio, foi esse capital invertido em terras, enquanto que entre a aristocracia latifundidria se iniciava movimento oposto. Os casamentos completaram a unido entre o capital comercial e financeiro e as classes latifundiarias. A revolugio comercial foi acompanhada por mudanga na organizagao da produgdo. Chegou-se a fase especial em que o capitalista mercador dominava o processo produtivo, executado Bor pequenos artesiios. Os lucros do comerciante eram produto ‘© monopélio e da extorsio. Foi absoluto, durante essa fase, 0 89

You might also like