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Expediente / Índice

imprensa@sieeesp.com.br

DIRETORIA

Presidente
Benjamin Ribeiro da Silva
Colégio Albert Einstein
1º Vice-presidente
José Augusto de Mattos Lourenço
Colégio São João Gualberto 4 Matéria de Capa
2º Vice-presidente O que esperar da economia daqui para a frente?
Waldman Biolcati
Curso Cidade de Araçatuba
1º Tesoureiro
José Antônio Figueiredo Antiório
Colégio Padre Anchieta
2º Tesoureiro
Antônio Batista Grosso

18 42
Colégio Átomo
1º Secretário
Censo Escolar Opinião
Itamar Heráclio Góes Silva
Educ Empreendimentos Educacionais Censo da escola Leitura
2º Secretário
Antônio Francisco dos Santos privada no estado de
Colégio Novo Acadêmico
São Paulo
Diretores de regionais
ABCDMR
Oswana M. F. Fameli - (11) 4437-1008
44 Comportamento
Que tal sair da zona
Araçatuba
Waldman Biolcati - (18) 3623-1168 28 Jurídico
de conforto?
Bauru
Gerson Trevizani - (14) 3227-8503 A importância da
Campinas regularidade fiscal das
Antonio F. dos Santos - (19) 3236-6333
Guarulhos
Wilson José Lourenço Júnior - (11) 4963-6842
Instituições de Ensino
46 Crítica
Marília
Luiz Carlos Lopes - (14) 3413-2437
A força de uma escola

34
Ribeirão Preto
João A. A. Velloso - (16) 3610-0217 Desenvolvimento
Osasco
José Antonio F. Antiório - (11) 3681-4327
Presidente Prudente
Antonio Batista Grosso - (18) 3223-2510
Desenvolvimento
Infantil – Fatores de 48 Ensino

Santos risco e proteção Os desafios


Ermenegildo P. Miranda - (13) 3234-4349 (e soluções) para
São José dos Campos
Maria Helena Baeza - (12) 3931-0086 a Educação do
século XXI
38
São José do Rio Preto
Cenira Blanco Fernandes Lujan - (17) 3222-6545 Saúde
Sorocaba
Edgar Delbem - (15) 3231-8459 Audição na
JULHO DE 2016
primeira infância
52
Editor Obrigações
Adhemar Oricchio - MTB 8.171

40
Repórteres
Gisele Carmona Responsabilidade Digital
Ygor Jegorow
Assessoria de Imprensa e
Produção Editorial
Editor-chefe: Adhemar Oricchio
A liberdade de
expressão nos
54
Editor gráfico: Balduíno Ferreira Leite Cursos
Site: Gisele Carmona
Redes Sociais: Ygor Jegorow
meios digitais
Impressão: DuoGraf
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• Carlos Alberto Nonino
• Clemente de Sousa Lemes
• Ivaci de Oliveira • Jocelin de Oliveira
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2 Escola Particular • Julho de 2016


Editorial

Benjamin
Ribeiro da Silva
Presidente do Sieeesp

As esperanças benjamin@einstein24h.com.br

se renovam
V ivemos momentos de tran-
sição nas áreas política,
ciamos a formação dos nossos
cidadãos e sua base de ensino.
econômica e social do país.
A saída de Dilma Rousseff e a
E é justamente ai que a iniciativa
privada pode e deve participar,
É no ensino básico
posse de Michel Temer, como colaborando com sua experiên- que residem
presidente interino, gera expec- cia e seus investimentos na área
tativas, principalmente na área de tecnologia. Nós, que repre- as maiores
educacional. A partir de agora
quais serão as prioridades do
sentamos a escola particular,
sempre estivemos à disposição
preocupações,
novo ministro Mendonça Filho? das autoridades educacionais como a falta de
O Plano Nacional de Educação, do país para levar a bom termo
recém aprovado, será cumprido? a tarefa de ensinar. Infelizmente, vagas nas creches
E a Base Nacional Comum Cur-
ricular? O Pátria Educadora, slo-
nos últimos anos, nunca tivemos
acesso às discussões das novas
em todo o país
gan do antigo governo, bastante políticas educacionais.
contestado, terá algum futuro? Duas renomadas educadoras
Como ficam as relações do poder foram escolhidas pelo minis-
público com o setor privado? tro Mendonça Filho e terão a
Sempre entendi que a Edu- responsabilidade de dirigir o
cação deva ser uma política de Ministério da Educação: Maria
Estado e não de Governo, pois Helena Guimarães de Castro, ex-
seus projetos dependem de secretária de Educação de São o corte de verbas do Pronatec, o
continuidade administrativa. Paulo, será a Secretária Execu- programa do ensino técnico, que
Não podemos e não devemos tiva da pasta, e Maria Inês Fini, causaram uma grande evasão.
ficar ao sabor das mudanças de uma das idealizadoras do Enem Mas é no ensino básico que resi-
governo e dos seus ministérios, no governo Fernando Henrique dem as maiores preocupações,
temos que ter em mente uma Cardoso, será a nova presidente como a falta de vagas nas creches
política de gerações e é isso do Inep (Instituto Nacional de em todo o país, somente em São
que esperamos do governo que Estudos e Pesquisas). Ambas Paulo a defasagem é de aproxima-
acaba de se instalar. Embora são ligadas ao meio há muitos damente 180 mil e só não entrou
tenhamos que entender que a anos e, com certeza, conhecem em colapso devido os acordos
grave crise econômica e a falta bem os problemas do ensino do feitos com a iniciativa privada
de recursos devam prejudicar país. Espera-se que elas tenham que é responsável pelas creches
a execução do Plano Nacional tempo e autonomia suficientes conveniadas.
de Educação, não podemos para desenvolver um bom plane- Como se vê, são inúmeros os
esquecer que para atingir suas jamento e conseguir colocá-lo desafios que aguardam o novo
19 metas serão necessários in- em execução. governo e esperamos que, com
vestimentos de 10% do PIB para Além da educação básica, bom-senso e um bom planeja-
a educação pública. setor que as duas educadoras mento, o Brasil consiga êxito
São muitos os problemas que conhecem muito bem, o novo go- nessa empreitada. Nós, da escola
teremos que enfrentar em nossa verno tem grandes desafios na particular, estamos aqui para
área educacional, o mais urgente área educacional, como, por exem- auxiliar no que for possível e já
e o que requer mais atenção é o plo, Fies, o financiamento aos manifestamos apoio ao governo
ensino básico, pois é ai que ini- estudantes do ensino superior e Michel Temer.

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Matéria de Capa
Divulgação

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O que esperar
da economia
daqui para a frente?
Gisele Carmona

A China cresceu
muito nos últimos
anos baseada
E ntre os dias 18 e 21 de maio desse ano,
a Bett Brasil Educar, com a chancela
do Sindicato dos Estabelecimentos de
no aumento do
Com relação à China, Loyola diz que vale
a pena assinalar uma acomodação suave da
economia chinesa, ou seja, os movimentos
Ensino no Estado de São Paulo (Sieeesp),
realizou um grande evento de educação
investimento e do cambio chinês devem ser graduais e isso
reflete no preço das commodities. Ele tam-
com o tema: “Melhor Educação, Melhor
Sociedade”.
no aumento de bém menciona que é irreversível a mudança
do modelo de crescimento do país. A China
E, para saciar a ansiedade com o
atual cenário econômico de nosso país,
suas exportações cresceu muito nos últimos anos baseada no
aumento do investimento e no aumento
no dia 19 de julho, após a Assembleia de líquidas para o de suas exportações líquidas para o resto
Mantenedores realizada pelo Sieeesp, os do mundo, daqui para frente, ela terá o
participantes tiveram a oportunidade de resto do mundo seu crescimento fortemente baseado no
ouvir uma palestra de Gustavo Loyola, aumento do consumo doméstico, já que
economista brasileiro, doutor em Eco- houve um aumento na renda dos chineses.
nomia pela Escola de Pós-Graduação da Isso, para o Brasil, não é um cenário
Fundação Getúlio Vargas, onde também negativo. Embora a queda do investimento
cursou mestrado. afete a demanda por commodities de uma
Loyola, inclusive, exerceu a presidência maneira geral, principalmente os metais, o
do Banco Central e foi eleito o “Economista aumento da renda per capita chinesa sig-
do Ano de 2014”, premiação outorgada pela economista, estas questões podem definir nifica o aumento do consumo de proteínas,
Ordem dos Economistas do Brasil, em vota- o crescimento da economia mundial, os principalmente as animais, o que tende a
ção direta da categoria. Hoje é sócio da em- preços das commodities (artigos de co- favorecer países como o nosso, que é um
presa Tendências, que oferece consultoria mércio, bens que não sofrem processos de forte produtor agrícola e de carnes, tanto
e participa de conselhos de administração alteração ou que são pouco diferenciados, aves, quanto bovinos e equinos.
de empresas brasileiras. como frutas, legumes, cereais e alguns me- Portanto, Loyola diz que o Brasil pode
Ele começa, inclusive, falando do tais) e taxas globais de juros e de câmbio. continuar se aproveitando desse cresci-
cenário internacional e dizendo que há Em relação a um panorama global, o mento chinês, embora o preço das com-
importantes fatores de incertezas globais dólar perdeu fôlego, porém, é prematuro modities, ou seja, dos produtos básicos em
para o curto e médio prazo, entre eles, a apontar essa acomodação como definitiva. geral, dificilmente voltará ao mesmo nível
normalização da política monetária dos Se começarmos a analisar o que aconteceu que tinham no inicio dos anos 2000.
EUA e o ritmo de desaceleração e movi- nos últimos dias, veremos uma recupera- Todas essas explicações foram para
mentos do câmbio na China. Segundo o ção do preço da moeda americana. dar uma visão do que está acontecendo

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Matéria de Capa

no mundo, onde existe uma expectativa


de crescimento mundial em torno de 3,2%
e 3,3%, sendo está uma taxa de crescimento
bem razoável.
“O que nós notamos nesse momento
é que o mundo não está em crise. Essa
coisa de falar que o Brasil está com pro- Estamos em uma situação ruim,
blemas porque o mundo está em crise não
é verdade. Na realidade, nós estamos em que não é tão favorável quanto foi no
uma situação ruim, que não é tão favorável
quanto foi no inicio dos anos 2000, mas
início dos anos 2000
não significa dizer que o Brasil esteja se
defrontando com uma grave crise global”.
Para provar isso, Loyola apresenta as
taxas de crescimento projetadas para vários
países, e entre eles, o EUA aparece com
a taxa em torno de 2,5%, a região do Euro
tem um crescimento em torno de 1,5% e o “Analisando o nosso cenário político, Loyola pressupõe que o relacionamen-
crescimento chinês por volta de 6% ao longo consideramos 90% de chance do afasta- to entre o poder Executivo e o Congresso,
dos próximos anos. (Vide imagem acima) mento da presidente Dilma ter sido de- um dos fatores básicos, vai ser qualitativa-
O economista explica que, no Brasil, finitivo. Não podemos dizer que é 100% mente superior ao que foi durante o gover-
nós estamos no segundo ano consecutivo de chance, porque evidentemente ainda no da presidente Dilma, principalmente
de forte recessão e que isso tem mais a ver existe um processo em curso e isso pode agora, no inicio do seu segundo mandato.
com as nossas políticas domésticas. ser revertido, mas as circunstâncias políti- “Nós vamos reestabelecer aquela
Logo, a palestra entra no tema sobre cas são muito desfavoráveis à presidente, dinâmica, aquele padrão típico do nosso
o cenário econômico do atual governo então, é muito pouco provável que ela presidencialismo. Ou seja, um relacio-
Temer. tenha condições de retorno”. namento mais parecido com o que nós

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Matéria de Capa

Arquivo Sieeesp
observamos nos governos dos presidentes
Fernando Henrique e Lula. O poder Exe-
cutivo tem a capacidade de passar pelo
Congresso as medidas de seu interesse.
É claro que este não é o sistema ideal.
O sistema político brasileiro é extrema-
mente fragmentado. Essa legislatura que Acreditamos
estamos tendo hoje nos mostra uma maior
fragmentação política partidária que a
que o presidente
legislatura anterior. É até muito mais difícil
construir maiorias estáveis. No entanto,
Temer tem uma
nós acreditamos que o presidente Temer
tem uma habilidade política superior a da
habilidade política
presidente Dilma, em termos pessoais, e
as condições políticas pós-impeachment
superior a da
favorecem muito mais esse tipo de acordo”. presidente Dilma
Para o economista, isso significa maio-
res chances de ajustes necessários da eco-
nomia brasileira e afeta positivamente as
expectativas, aumentando a confiança dos
agentes econômicos, o que é importante
no processo de recuperação.
Outro aspecto importante que ele Embora, Loyola lembre que esses
salienta no governo Temer, que o distingue ajustes devem ocorrer com reformas mais
do governo Dilma, é a existência de um viés singulares, já que reformas mais complexas
mais liberal do que no governo petista. talvez sejam uma carga pesada para um
“Aquela carga ideológica que a gente via governo de transição como o dele.
nos governos petistas, embora recheado “Nós estamos percebendo claramente
com uma boa dose de pragmatismo, não uma melhora da confiança dos agentes
existe mais. Então, nós podemos esperar econômicos a partir da saída da presidente
políticas públicas mais liberais. E, no caso Dilma. E é nesse momento que começamos
da política econômica, isso significa reduzir a olhar as projeções econômicas, começan-
a presença do Estado, incentivar a parceria do pelo PIB. O que a gente salienta aqui é que
de programas em sistema público-privado, esse ano o Brasil ainda terá uma recessão
buscar a venda de artigos públicos para di- forte, em torno de 4%. Os primeiros meses
minuir a participação do Estado em certos do ano foram muito fracos, ainda percebe-
segmentos da economia e alcançar alguns mos uma fraqueza da economia, mas a boa
avanços importantes, principalmente no noticia é que, aparentemente, já chegamos
caso da Previdência”. ao fundo do poço, e há uma tendência de

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recuperação que deve começar a ocorrer a TABELA 1
partir do final do segundo semestre. O PIB,
em 2017, deve ter um crescimento de 1,2% e,
depois, um crescimento em torno de 2% ou
2,5% em 2018”.
Ou seja, para o especialista a economia
vai entrar na trajetória de crescimento e o
que está por trás dessa retomada é a me-
lhora da confiança dos agentes econômi-
cos e o fato da economia também estar
muito desaquecida por fatores ociosos de
produção: você tem mão de obra e capi-
tal sobrando na economia, então é mais
fácil a recuperação da produção nessas
condições. TABELA 2
A última coluna da tabela 1 mostra a
queda do PIB esse ano. Enquanto na tabela
2, olhando de uma forma mais segmentada,
sob a ótica da produção, mostra que tanto
a indústria quanto o setor de serviços estão
com números negativos. Loyola explica
durante a palestra que, ano passado e este
ano, esses números contrariaram uma
sequência histórica positiva que vinha
desde 2004.
Também, se analisarmos sob a ótica
da demanda, do consumo das famílias,

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Matéria de Capa

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que teve um forte retorno de cresci-
mento brasileiro a partir de 2003, foi se
enfraquecendo a partir de 2014, indo
para o terreno negativo em 2015 e 2016.
Nessa mesma análise, a Formação Bruta de
Capital Fixo (FBCF), que é o investimento, já
vinha enfraquecida desde 2014. A educação é um segmento
“Nesse momento, o segmento que está
se recuperando é o segmento das exporta- que se sustentou relativamente bem
ções. Não apenas pelo enfraquecimento da
economia brasileira, o que leva as empresas
se comparado a outros serviços
a exportarem, buscando alternativas para
sobreviver, como também pela própria
desvalorização do real que incentiva as
exportações”.
Como é que então, nesse pano de
fundo, fica a situação do setor de educação?
“A demanda do serviço de educação é Para Loyola, a educação é um seg- A crise econômica dos últimos dois anos
muito sensível à renda das famílias e, evi- mento que se sustentou relativamente levou ao aumento do número de pessoas
dentemente, é justamente aí que devemos bem se comparado a outros serviços, e, procurando por trabalho.
procurar entender a dinâmica dela. Essa ta- justamente por isso, não tem uma recu- “As pessoas deveriam ficar desanima-
bela mostra que o consumo das famílias so- peração abrupta. No entanto, há uma das em procurar emprego, mas a verdade
freu muito ao longo dos últimos dois anos, recuperação lenta da demanda do setor é que, como muitas famílias viram seus
isso contando com 2016. O ano que vem nós em 2017, acelerando-se em 2018. salários reais diminuírem, isso levou outros
esperamos uma recuperação, que está por “A recuperação não vai ser muito forte membros da família, que estavam em casa,
trás daquele aumento do PIB de 1,2%, e nós ainda em 2017 por causa do mercado de a voltarem ao mercado de trabalho. Isso
acreditamos no crescimento do consumo trabalho. Ele ainda continua se deterio- ocorreu principalmente entre os jovens e
das famílias entre 1% e 1,1% ano que vem. rando e esse ano a renda continua caindo, as mulheres”.
Ou seja, temos desse lado uma perspectiva mas o ano que vem já existe a criação de Ele salienta que a maioria dessas
mais positiva para o setor do serviço de novos postos de trabalho, embora a taxa pessoas estava afastada do mercado de
educação, onde os consumidores estarão de desemprego não vá cair”. trabalho graças a certos programas do
mais otimistas, com certo aumento da O economista explica que, embora o governo relativos justamente à educação,
renda, ou, pelo menos, a estabilidade dela. emprego aumente, paradoxalmente, o de- principalmente a superior e a técnica, como
Isso vai levar a um aumento pequeno da semprego não cai. A geração de empregos o Pronatec e o Fies. O financiamento à edu-
disposição de consumo de bens de serviço no ano que vem será inferior ao número de cação, segundo o especialista, levou muitos
e, em particular, da educação”. novos entrantes no mercado de trabalho. jovens a optarem por ficar fora do mercado

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Julho de 2016 • Escola Particular 11
Matéria de Capa

de trabalho e continuarem estudando. A custos de todas as empresas, mas o ano que


crise econômica e a restrição orçamentária vem a situação inflacionária será melhor.
nesses programas induziu a volta dessas Acreditamos que o Brasil terá uma política
pessoas ao mercado de trabalho. monetária correta, como aparentemente
“Já para 2017 o mercado de trabalho a equipe econômica do presidente Temer
deve melhorar um pouco, mas a mensagem vai perseguir, já que é um pessoal muito
para vocês é que ele não vai se aquecer competente”.
muito. Isso, do lado negativo, significa evi- O que essa perspectiva de queda de
dentemente que a renda não deve crescer inflação trás para nós é uma queda da taxa
tanto ano que vem, e do lado positivo, é que de juros. O Banco Central, segundo palavras
vocês empresários não vão se defrontar do economista, começará a diminuir os
com pressões muito fortes do lado dos juros no segundo semestre desse ano. Essa
custos trabalhistas”. redução ocorrerá de maneira gradual, já
Mudando de assunto e passando a que a inflação ainda não se estabilizou no
falar sobre a inflação, Loyola diz que esse é nível da meta, que é 4,5%.
um setor aonde as boas notícias chegarão “A taxa de juros hoje está entre 14% e
antes. Entre o ano passado e esse ano, a 25%. A taxa de juros básica da economia –
inflação foi de 10%. Todos sentiram forte- SELIC - deve cair para 12,75% ao longo do
mente o aumento de custo. No entanto, ele final desse ano e para 12,25% ao final do ano
diz que ainda esse ano há uma expectativa que vem”, comenta.
de queda, ficando em torno de 7%. Para ele, Quais são as consequências disso?
ano que vem a inflação deve cair ainda mais Deve haver uma reativação gradual do
e ficar em torno de 5%. crédito, e isso também afeta o segmento
“A inflação de 2015 teve muito a ver com da educação.
o descongelamento de preços públicos, “Os consumidores que estão endivida-
como a energia elétrica e os combustíveis, dos vão ter algum alivio financeiro e, evi-
que estavam mantidos artificialmente dentemente, isso afeta a renda disponível
baixos em 2013 e, principalmente, em 2014, deles. Isso tem toda uma dinâmica positiva
durante o período pré-eleitoral. Então, para o lado dos consumidores. E, do lado
houve ai claramente erros graves da políti- das empresas, o custo do capital deve cair
ca econômica. Ano passado nós tivemos um pouco e as condições do mercado de
essa dinâmica de preços, ela afetou os crédito também devem melhorar ao longo

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Para alguns segmentos da
economia, esse ajuste fiscal pode ser
negativo em curto prazo

do ano que vem. Não é uma melhora ime- processo de retomada do preço, aí o Banco
diata, gosto de chamar a atenção para isso, Central pode induzir ao derrubar as taxas
não é algo espetacular, não tem mudanças de juros”.
rápidas, mas é o inicio de um processo de Sendo a política fiscal um aspecto
descompressão do crédito na economia importante para alguns segmentos rela-
que a gente espera para o final desse ano cionados à educação, ele ratifica que temos
e inicio do ano que vem”. hoje uma equipe econômica de viés muito
Para ele, os bancos ainda sofrem com fiscalista, comprometida com o ajuste das
uma inadimplência muito alta. “A inadim- contas públicas, e uma grande chance do
plência é uma onda. Mesmo depois da governo aprovar as medidas de ajuste. Para
crise, ela continua ocorrendo. Os bancos alguns segmentos da economia, esse ajuste
continuam tendo, por mais algum tempo, fiscal pode ser negativo em curto prazo,
uma postura mais conservadora, então o principalmente para aqueles que depen-
crédito ainda é escasso e caro. No entanto, dem de transferências governamentais.
em algum momento, ao longo do processo “Sabemos que a crise fiscal não está
de retomada da economia, há também um restrita ao governo federal, ela atinge os

Julho de 2016 • Escola Particular 13


Matéria de Capa

estados e os municípios, já que a recessão isso tem contribuído para muitos segmen- “A linha vermelha mostra aquilo que
trouxe uma queda forte de arrecadação tos reduzirem o custo do trabalho. Inclu- é chamado risco país. Quanto que o país
de todo mundo. Portanto, segmentos sive, algumas desonerações que existem paga acima da taxa de juros americana
econômicos que dependem do gasto do podem ser retiradas. Enfim, eu acho que para captar recursos do exterior. A linha
governo diretamente podem continuar temos que estar preparados para algumas azul é a taxa de câmbio. Vocês veem que
tendo dificuldades ao longo desse ano e medidas desse tipo”. as duas linhas são muito próximas uma
no ano que vem. Não devemos esperar, Do lado da contenção de despesas, da outra e vocês veem, lá no final desse
por exemplo, aumento de linhas de crédito, segundo o economista, o governo vai gráfico, uma queda. Ou seja, ao longo do
inclusive para a educação, é praticamente procurar ter mais flexibilidade para reali- primeiro semestre houve uma queda do
impossível isso acontecer, e outros pro- zar cortes, por exemplo, com os repasses risco Brasil. O nosso país passou a ser visto
gramas do gênero”. para o BNDES, além de atacar com várias como um país menos arriscado. Por quê?
Loyola diz que a crise fiscal induz a re- medidas e também buscar a reforma da Por causa do aumento das chances nesse
pensarmos o modelo da educação infantil Previdência, mas, com efeito, mais a médio período da saída da Dilma. A perspectiva
e da educação fundamental. Até que ponto e longo prazo, para lidar com a questão da presidente Dilma sair foi vista como uma
o setor privado pode fazer parcerias com fiscal. Poderão ocorrer também algumas notícia boa para o risco Brasil. Essa ideia de
o setor público? receitas extraordinárias. que o Brasil pode ser mais bem gerido, do
“A crise fiscal ajuda os gestores públicos “E quais são essas receitas extraor- ponto de vista econômico, com o governo
a pensarem em alternativas eficientes e dinárias? Basicamente virão de concessões Temer do que com a presidente Dilma não
econômicas para o atendimento das neces- e de venda de empresas, e é desse modo é tanto por razões de qualidade pessoal da
sidades da sociedade, com um gasto menor que o governo deve lidar com a crise presidente, mas é que havia uma percepção
de recursos públicos. Portanto, eu vejo fiscal em curto prazo. Isso não será sufi- de que ela não tinha condições políticas de
isso como um desafio em vários segmen- ciente para estabilizar o crescimento da fazer medidas de ajuste. Ela tentou o ano
tos, como o educacional, de saúde, entre divida pública antes de 2018 e 2019, mas passado inteiro com o ministro Joaquim
outros, em que o Estado tem obrigações vai diminuir o crescimento dela. Ou seja, Levy e não foi bem sucedida. O congresso
sociais, mas onde os serviços podem ser não se consegue estabilizar, mas tem aí não deu a ela aquilo que foi pedido por
prestados por empresas privadas mediante alguma melhora no ritmo de crescimento. razões políticas”.
parcerias. Vejo aqui uma possibilidade, uma Isso deve ajudar a melhorar a confiança Na medida em que o governo Temer
oportunidade”. do Brasil”. for entregando aquilo que ele prometeu,
A situação fiscal chegou a tal ponto que O Brasil, mesmo com essas mudanças, se isso acontecer há uma tendência fa-
não tem uma receita mágica que vai trazer não vai recuperar o chamado grau de vorável à nossa moeda: o real pode se
o equilíbrio de volta. É importante acom- investimento. Para Loyola nem isso será o valorizar. “Nesse caso, nós vamos ter duas
panhar quais são as medidas que o governo suficiente. “Para isso vale um esforço adi- forças contrárias. De um lado a memória do
vai tomar e como pode nos impactar. A cional que virá apenas com o governo eleito risco Brasil e, do outro, os juros americanos
pergunta que, nesse caso, mais se faz é: o em 2018. Se o governo eleito tiver o perfil voltando a subir. Nós temos duas forças
governo vai aumentar impostos? de responsabilidade fiscal, poderemos atuando em sentido contrário. Uma cami-
“Sim, existem alguns riscos. Eu não continuar nessa linha e os frutos virão ao nhando em direção ao fortalecimento da
acredito na CPMF, para mim ela não tem longo dos anos”. moeda brasileira e outra na direção do for-
condições políticas para ser reintroduzida, Falando em câmbio, ele lembra que as talecimento da moeda americana. É difícil
mas eu vejo algumas medidas tributarias condições monetárias dos EUA afetam a antecipar exatamente o que vai acontecer,
que podem nos impactar. Por exemplo, cotação do dólar normalmente, mas que então podemos dizer que haverá vola-
mexer no lucro presumido ou mudar muitos temos que levar em conta é o que acontece tilidade, o dólar vai flutuar muito. Ficamos
desses regimes das chamadas ‘pejotinhas’, no Brasil. (Vide gráficos abaixo) com uma previsão de o dólar fechar o ano

14 Escola Particular • Julho de 2016


Julho de 2016 • Escola Particular 15
Matéria de Capa

em torno de R$ 3,70 ou R$ 3,75, poster-


gando a perspectiva de endurecimento e Se o Banco Central deixa o real
de restrição monetária dos EUA”.
Loyola lembra que um aspecto im- se fortalecer muito, ficamos menos
portante a se considerar no dólar é o que
o Banco Central vai fazer. O BC intervém competitivos no exterior
no mercado de câmbio comprando e ven-
dendo moedas estrangeiras ou os produtos
derivativos dessa moeda.
“Nós acreditamos em uma postura do
Banco Central, no sentido de evitar que o
real se valorize muito. O motivo é que isso
seria uma ducha de água fria sob os seg- Após todas essas explicações, o es- trabalho e com certo aumento da renda
mentos de exportação brasileiro, e nós es- pecialista oferece um resumo aos partici- real, inclusive favorecido pela própria que-
tamos vendo esse ano, pela primeira vez, a pantes da palestra: da da inflação, mas a taxa de desemprego
indústria brasileira voltando a exportar. Se Primeiro, haverá uma recuperação da ainda estará aumentando.
pegarmos a indústria automobilística como economia brasileira nos próximos meses Ele avisa que esse cenário pode ser
exemplo, o Brasil tem uma capacidade de impulsionada pela melhora da expectativa, maior, melhor ou pior, dependendo do grau
produção de 5 milhões de veículos por ano da confiança e pela queda dos juros. de sucesso do presidente Temer na articu-
e nós estamos vendendo para o mercado Segundo, essa recuperação ainda será lação com o Congresso e na aprovação das
interno menos da metade disso, ou seja, se pequena, ela não vai levar a taxas espe- medidas de ajuste. Sendo assim, também
torna uma capacidade ociosa tremenda. E taculares de crescimento e a economia existem as dúvidas:
é justamente por isso que essas empresas brasileira ainda vai trabalhar sobre uma Há a possibilidade remota, mas, que
estão voltando a exportar. Isso foi ajudado, restrição fiscal muito forte, por uma neces- não é zero, de a presidente Dilma voltar
de certa forma, pela capacidade ociosa e sidade de se corrigir o déficit público. ao poder, o que pode gerar uma mudança
também pela taxa de cambio”. Terceiro, a recuperação de crédito do cenário. “Nesse caso, voltaríamos ao
Logo, segundo o economista, se o Ban- também será lenta. Deve acontecer, mas cenário de fraqueza política da presidente,
co Central deixa o real se fortalecer muito, ela será lenta. sendo que ela voltaria em situação muito
ficamos menos competitivos no exterior, o Quarto, a recuperação no mercado de difícil e a gestão econômica passa a ser
Brasil fica mais caro e, consequentemente, trabalho vai começar a ocorrer no ano que muito mais complexa em 2017. As expecta-
a produção brasileira fica mais cara. vem pela geração adicional de postos de tivas podem piorar novamente”.

16 Escola Particular • Julho de 2016


Daqui a pouco estaremos vivenci- não serem otimistas demais, já que ain-
ando as eleições de 2018, então, o clima da temos muitos problemas pela frente.

Arquivo Sieeesp
econômico desse período já vai estar “Fecho dizendo que a minha visão é de que
influenciado pelas perspectivas eleitorais, aparentemente o pior já passou. Eu acho
e hoje não estão muito claros quais são os que daqui para frente a situação tende a
principais atores políticos candidatos que melhorar, embora eu não queira também
podem ter chances eleitorais. “A econo- vender uma ideia de otimismo excessivo.
mia de 2018 vai reagir muito às chances Eu vejo o Brasil ainda cheio de problemas,
dos diversos candidatos e aquilo que os tem muita coisa boa acontecendo, como a
analistas atribuem a cada um deles como operação Lava-Jato, por exemplo, que vai
programa de governo, como postura em trazer realmente mudanças, mas também
relação à economia”. temos ainda muitos problemas. É só ver
Loyola comenta que Marina Silva pode a qualidade dos políticos que nós temos.
ter alguma chance. “Um candidato com o O governo indica um líder para a Câmara
perfil da Marina tem um ponto de partida que tem não sei quantos processos, e isso
bom, já que é o tipo de candidato que é é a política brasileira. Nós estamos ainda
razoavelmente conhecida do eleitorado e muito longe de viver em uma situação
cujo nome não está associado a nenhum ideal. Nós também não sabemos quem
desses escândalos de corrupção. Ela pode a Lava-Jato vai atingir amanhã. Tudo
capturar um eleitorado que o PT deixou isso ainda pode gerar alguma instabili-
órfão, o eleitorado de esquerda - que repele dade política, então, tem muitos fatores
o PT por razões éticas, como também o negativos presentes no cenário, tanto
eleitorado não petista, mas que se sente, político quanto econômico. No entanto,
de alguma forma, decepcionado com os comparado a alguns meses atrás, eu diria
partidos tradicionais, principalmente com o que a gente pode hoje ser um pouquinho
PSDB. Ela tem um perfil que pode ser com- mais otimista”. •
petitivo, mas eu não estou aqui querendo
adiantar nada a respeito disso, só queria
colocar esse ponto aqui para vocês. É algo Todo o material foi produzido com a
que talvez ano que vem já se desenhe”. palestra oferecida por Gustavo Loyola
durante a Bett Brasil Educar e com os slides
Para encerrar, o economista incen- da Tendências Consultoria Integrada.
tiva os participantes a acreditarem, mas

Julho de 2016 • Escola Particular 17


Censo Escolar
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18 Escola Particular • Julho de 2016


O Censo Escolar apresenta os dados
consolidados do questionário que
todas as escolas da educação básica,
partir de 2009. Permanecemos com o
entendimento que assim os mantenedores
têm uma visão de longo prazo, no que diz
ressaltar que pequenas diferenças de
números podem ser encontradas. En-
tretanto, cabe lembrar que o objetivo é
públicas e privadas, respondem ao INEP respeito ao comportamento da educação evidenciar tendências*, ou seja, peque-
anualmente. básica nos últimos anos. nas diferenças não comprometem uma
Nas próximas páginas, são apresen- Os dados foram disponibilizados visão macro sobre o comportamento do
tados os dados históricos do censo* a pelo Ministério da Educação. Importante mercado.

* Fonte: portal.inep.gov.br/básica-censo-escolar-sinopse

Matrículas
No ano de 2015, mesmo diante de um momento conturbado da economia, observa-se uma evolução das matrículas das escolas
privadas no estado de São Paulo. Em 2015, a escola privada paulista recebeu aproximadamente 77.000 alunos a mais que o ano
anterior, o que aponta um crescimento de 3,46%. A escola pública continua investindo nos segmentos em que ainda há defasagem
de vagas. Entretanto a tendência de diminuição do número de alunos permanece. Do ano de 2014, para o ano de 2015 a escola
pública saiu de 8.054.792 para 7.825.929 de matriculas, correspondendo a uma diminuição de 230.000 alunos (-2,84%).

Apresentamos, nas próximas tabelas, o comportamento dos diversos segmentos educacionais. O destaque é o crescimento da
educação de jovens e adultos. Na educação infantil, cujo crescimento anual tem sido 4 a 5 pontos porcentuais, tendência que permanece.

Matrículas - Educação Infantil

Julho de 2016 • Escola Particular 19


Censo Escolar

As matrículas na educação infantil das escolas privadas apresentaram um aumento em 2015 de 4,51%. Esse segmento vem
apresentando um crescimento constante desde 2010.

Matrículas - Ensino Fundamental

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20 Escola Particular • Julho de 2016


Julho de 2016 • Escola Particular 21
Censo Escolar

No ensino fundamental, as matrículas dos anos iniciais da escola privada permanecem indicando pequeno crescimento. Em
2015, observa-se um aumento de 2,49 pontos porcentuais, se comparados com 2014. Os anos finais, que em 2014 sinalizaram uma
diminuição de matrículas, em 2015 praticamente permaneceram com as matrículas no mesmo patamar. Por outro lado, ainda nos
anos finais, a escola pública perdeu cerca de 8% das matrículas, no mesmo período. Se considerarmos o ensino fundamental como
um todo, o segmento na escola privada aumentou 1,52%. Saiu de 1.026.803 matrículas em 2014 para 1.042.440 em 2015.

Matrículas - Ensino Médio

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No ensino médio, a escola privada permanece em 2015 mantendo o número de matrículas, que gira em torno de 280.000.
Mesmo assim, o segmento aumentou a participação de mercado, saindo de 14,71% em 2014 para 15,26% em 2015. Isso se deveu ao
fato de, no mesmo período, a escola pública ter recebido 76.000 matrículas a menos.

Matrículas - Educação Profissional

22 Escola Particular • Julho de 2016


Na educação profissional, houve uma queda expressiva do número de matrículas. Se em 2014 houve um aumento considerável,
em 2015, possivelmente pelas dificuldades enfrentadas junto ao governo federal com repasse de verbas do Pronatec, o segmento
encolheu 7,39%. Ao mesmo tempo, as escolas públicas receberam pouco mais de 40.000 alunos, o que permitiu um crescimento
de 26,37%.

Matrículas - Educação de Jovens e Adultos

No que diz respeito à educação de jovens e adultos, a escola privada registrou um aumento considerável. Tal situação é o
provável resultado de uma demanda reprimida e da mudança da legislação que favoreceu a retomada da atuação da escola privada
no segmento. No ano de 2015 a escola privada recebeu cerca de 49.000 alunos a mais que em 2014. Por essa razão saiu de uma
participação de menos de 1%, para quase 12% do mercado no segmento.

Estabelecimentos de Ensino

No período analisado, verifica-se uma pequena variação no número de estabelecimentos de educação básica no estado de São
Paulo. As tabelas, a seguir, mostram o total de escolas e os segmentos oferecidos (uma escola que ofereça mais de um segmento
é contada mais de uma vez.).

Estabelecimentos de Educação Infantil

Julho de 2016 • Escola Particular 23


Censo Escolar

À medida que as matrículas da educação infantil tiveram um aumento na escola privada, houve também um aumento de
estabelecimentos que oferecem o segmento. No período 2014/2015, cerca de 290 estabelecimentos a mais passaram a oferecer
educação infantil no estado de São Paulo.

Estabelecimentos de Ensino Fundamental

No que tange ao ensino fundamental, o período 2014/2015, aponta um crescimento de quase 10% do número de estabelecimen-
tos. Em números, significa dizer que cerca de 380 escolas passaram a oferecer esse segmento em São Paulo.

Estabelecimentos de Ensino Médio

Os estabelecimentos de ensino médio variaram muito pouco no período 2014/2015.

Estabelecimentos de Educação Profissional

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Julho de 2016 • Escola Particular 25
Censo Escolar

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Os estabelecimentos de ensino de educação profissional permaneceram em 2015 nos mesmo patamar que em 2014. A variação
é de aumento, mas pequena. São Paulo conta hoje com 948 estabelecimentos de ensino com oferta de educação profissional.

Estabelecimentos de Educação de Jovens e Adultos

Os estabelecimentos de ensino na educação de jovens e adultos acompanharam o crescimento das matrículas. Nota-se um
crescimento de mais de 500% no número de estabelecimento com oferta de EJA, totalizando 259 estabelecimentos em 2015.

Distribuição de alunos por Regional - Sieeesp

A tabela ao lado apresenta a distri-


buição dos alunos de cada uma das 14
Regionais do Sieeesp no Estado de São
Paulo. •

Danilo Almeida Abdala


Graduado em Administração
Escolar – PUC – MG; MBA – Pós-
graduação em Gestão de Negócios
– Centro Universitário UNA-MG.
Gestor da RS Educacional,
responsável pelas áreas de MKT,
comercial, operação e financeiro.

26 Escola Particular • Julho de 2016


Julho de 2016 • Escola Particular 27
Jurídico

A importância
da regularidade
fiscal das Instituições
de Ensino
Apesar deste cenário aparentemente favorável,
a regularidade fiscal continua sendo um dos
maiores desafios para a sustentabilidade das
atividades das pessoas jurídicas

E m 8 de agosto de 2014, foi publicada


a Lei Complementar nº 147/2014 que
alterou a Lei Complementar nº 123/2006.
remanescentes (no período de ocorrência
dos respectivos fatos geradores) caso o
encerramento, da pessoa jurídica, seja rea-
1) Na prática, o que significa ter regu-
laridade fiscal?
De acordo com o Código Tributário
Aludida alteração legislativa foi aplau- lizado sem a apresentação das certidões Nacional, a Certidão Negativa de Débitos é
dida, à época, ao passo em que além de negativas. Vale dizer, eventual baixa da o documento emitido pela Administração
ampliar o rol de atividades passíveis de sociedade não impede posterior cobrança Tributária hábil a comprovar a inexistên-
adesão ao Simples Nacional, estabeleceu de tributos. cia de débitos pendentes de quitação pe-
a dispensa de apresentação das Certidões Apesar deste cenário aparentemente rante o Fisco. Documento semelhante e
Negativas de Débitos Tributários, Traba- favorável, alinhado à pleiteada desburo- portador dos mesmos efeitos da Certidão
lhistas e Previdenciários para a baixa das cratização no Brasil e passados quase dois Negativa de Débito, é a Certidão Positiva
sociedades. anos da publicação da Lei Complementar com Efeitos de Negativa correspondente
Se por um lado a novidade atinente nº 147/2014, utilizada a título exemplifica- ao documento no qual a Administração
à dispensa de regularidade fiscal, para tivo, a regularidade fiscal continua sendo Tributária certifica que existem débitos
a baixa das sociedades, foi reconhecida um dos maiores desafios para a sustenta- pendentes de quitação, mas que estão
como uma verdadeira evolução em razão bilidade das atividades das pessoas com sua exigibilidade suspensa nos mol-
da nítida redução do prazo para o encer- jurídicas, sejam elas com fins lucrativos des de uma das 6 (seis) hipóteses legais
ramento de pessoas jurídicas, por outro (sociedades limitadas ou anônimas, por previstas no artigo 151, do Código Tribu-
lado, aludido avanço legislativo trouxe exemplo) ou sem fins lucrativos (Associa- tário Nacional, quais sejam: a moratória, o
indubitável ônus, qual seja, o da respon- ções e Fundações). depósito no montante integral do débito,
sabilidade solidária dos titulares, dos só- Vejamos algumas questões práticas as defesas e os recursos administrativos,
cios e dos administradores pelos débitos que permeiam a regularidade fiscal. a medida liminar em Mandado de Segu-

28 Escola Particular • Julho de 2016


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rança, a medida liminar ou a de tutela efetuada mediante a apresentação de Este cenário impõe a existência de
antecipada em outras espécies de Ação certidão expedida conjuntamente pela contabilidade e de área fiscal eficientes
Judicial ou parcelamento. Vale realçar que Secretaria da Receita Federal do Brasil e transparentes concatenadas com os
a Certidão emitida para a pessoa jurídica (RFB) e pela Procuradoria- Geral da controles internos da pessoa jurídica que,
é válida para o estabelecimento matriz Fazenda Nacional (PGFN) denominada por seu turno, são procedimentos cujos
e suas filiais. “Certidão de Débitos relativos a Créditos objetivos são: proteger os ativos, produzir
Note-se que o gênero “Certidão Fis- Tributários Federais e à Dívida Ativa da dados contábeis confiáveis e auxiliar na
cal” comporta 3 (três) espécies, quais União” e tem validade de 180 (cento e condução ordenada dos negócios da pes-
sejam, Certidão Positiva de Débitos, oitenta) dias, a partir da data de emissão. soa jurídica. Em outras palavras, de nada
Certidão Negativa de Débitos e Certidão adianta um exímio trabalho contábil e
Positiva com Efeitos de Negativa, sendo 2) O que pode ser óbice à emissão da fiscal se os controles internos, da pessoa
certo que para fins de regularidade fiscal Certidão Negativa de Débitos ou da Cer- jurídica, são falhos, uma vez que estes,
são aceitas, tão somente, as duas últimas tidão Positiva com Efeitos de Negativa? no final das contas, não traduzirão da
espécies, nos ditames dos artigos 205 e O não pagamento de tributos, o paga- realidade.
206 do Código Tributário Nacional. mento a menor, o pagamento a destempo
As Certidões em comento são emi- sem multa e juros, o não cumprimento de 3) Quais operações, atualmente, exi-
tidas pelas 3 (três) esferas de governo obrigações acessórias ou a transmissão gem regularidade fiscal para as pessoas
(federal, estadual e municipal) e têm vali- destas após o prazo legal (declarações jurídicas?
dade específica de acordo com o órgão como o ECD - Escrituração Contábil Digital, Abaixo elencaremos algumas situações
emissor. A título de exemplo, a prova de ECF - Escrituração Contábil Fiscal, emissão que são impactadas ou obstadas pela au-
regularidade fiscal no âmbito federal é de Notas Fiscais). sência de regularidade fiscal:

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Jurídico

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a) Organizações da Sociedade Civil: dentre eles, está a apresentação de Cer- para pessoas jurídicas, é exigida a Certidão
(OSC’s – Associações, Fundações, Orga- tidão Negativa ou de Certidão Positiva com Negativa de Débito-CND, fornecida pelo
nizações Religiosas e as Sociedades Co- Efeitos de Negativa de Débitos relativos aos órgão competente, nos casos de alienação
operativas previstas na Lei no 9.867/99): tributos administrados pela Secretaria da ou de oneração, a qualquer título, de bem
nos termos do Decreto nº 8.726/2016 que Receita Federal do Brasil; imóvel ou direito a ele relativo. Em que
regulamentou a Lei nº 13.019/2014, as OSC’s c) Habilitação em licitações: a Lei nº pese a discussão reiteradamente veiculada
selecionadas para a celebração de Parcerias 8.666/93 prevê, em seu artigo 27, rol taxa- na mídia acerca da decisão do Supremo
com o Poder Público (Termo de Colabo- tivo de documentos para fins de habilitação Tribunal Federal proferida no âmbito das
ração, Termo de Fomento ou Acordo de em licitações e, dentre eles (inciso IV) está Ações Diretas de Inconstitucionalidade
Cooperação) deverão apresentar, antes da a prova de regularidade fiscal e trabalhista. nº 173/DF e 394/DF, a exibição da Certidão
celebração do respectivo Termo, diversos A documentação relativa à regularidade Negativa de Débito continua obrigatória
documentos e, dentre eles, a Certidão de fiscal, conforme o caso, consistirá em nestas situações, exceto nos casos de tran-
Débitos Relativos a Créditos Tributários prova de regularidade para com a Fazenda sações imobiliárias envolvendo empresa
Federais e à Dívida Ativa da União; Federal, Estadual e Municipal do domicílio que explore exclusivamente atividade de
b) Fruição de imunidade - CEBAS - Cer- ou da sede do licitante, ou outra equiva- compra e venda de imóveis, locação, des-
tificado de Entidade Beneficente de As- lente, na forma da lei. O SICAF - Sistema de membramento ou loteamento de terrenos,
sistência Social: é a certificação opcional Cadastramento Unificado de Fornecedores incorporação imobiliária ou construção de
para entidades sem fins lucrativos das áreas do governo federal que tem por finalidade imóveis destinados à venda, desde que o
de educação (Ministério da Educação), de cadastrar e habilitar parcialmente os imóvel objeto da transação esteja conta-
saúde (Ministério da Saúde) e de assistên- interessados, pessoas físicas ou jurídicas, bilmente lançado no ativo circulante e não
cia social (Ministério do Desenvolvimento em participar de licitações realizadas por conste, nem tenha constado, do ativo per-
Social e Agrário). Trata-se de requisito para órgãos/entidades da Administração Pública manente da empresa. No julgamento das
fins de fruição da imunidade de contri- Federal, bem como acompanhar o desem- Ações Diretas de Inconstitucionalidade nº
buições sociais como, por exemplo, da penho dos fornecedores cadastrados e 173/DF e 394/DF o Supremo Tribunal Federal
cota patronal, conforme o disposto na Lei ampliar as opções de compra do Governo declarou inconstitucionais o artigo 1º, seus
nº 12.101/2009 regulamentada pelo Decreto Federal, também exige a apresentação de incisos I, III e IV, e parágrafos 1º, 2º e 3º, da Lei
nº 8.242/2014. A entidade beneficente certi- Certidão de Regularidade Fiscal para fins nº 7.711/88. Note-se que o artigo 47, da Lei
ficada fará jus à imunidade do pagamento de cadastramento; nº 8.212/91 (vigente), exige a apresentação
das contribuições de que tratam os artigos d) Operações com Imóveis: nos termos de Certidão Negativa de Débitos - CND o
22 e 23 da Lei nº 8.212/91, desde que atenda, do artigo 47, da Lei nº 8.212/91 (que dispõe que representa a regularidade fiscal do
cumulativamente, a alguns requisitos e, sobre a organização da Seguridade Social), contribuinte admitindo-se, deste modo,

30 Escola Particular • Julho de 2016


Julho de 2016 • Escola Particular 31
Jurídico

também, a Certidão Positiva com Efeitos de Apoio_Financeiro/Patrocinio/Introducao/ especialmente na esfera federal para que,
Negativa. Já o artigo 1º, da Lei nº. 7.711/88, documentos_necessarios.html); e desta forma, possa agir preventivamente
julgado inconstitucional pelo Supremo Tri- f) Opção e manutenção - Simples Na- de modo a sanar eventuais pendências
bunal Federal, exigia a prova da quitação de cional: não poderá recolher os impostos antes do vencimento da Certidão.
créditos tributários exigíveis e, deste modo, e as contribuições na forma do Simples O ideal é que o contribuinte atue pre-
não admitia eventuais situações de suspen- Nacional (Lei nº 123/2006) a microempresa ventivamente, tendo em vista que quando
são da exigibilidade do crédito tributário (receita bruta anual igual ou inferior a R$ não é possível a emissão de Certidão Nega-
(artigo 151, do Código Tributário Nacional); 360.000,00) ou a empresa de pequeno tiva ou Positiva com Efeitos de Negativa
e) Patrocínio de eventos culturais - porte (receita bruta anual superior a pela internet, uma vez protocolizado o
BNDES – Banco Nacional do Desenvolvi- R$ 360.000,00 e igual ou inferior a R$ pedindo junto à Receita Federal, o prazo
mento: o BNDES pode conceder patrocínio 3.600.000,00) que possua débito com o para a análise será de 10 (dez) dias e, em
a projetos culturais que contribuam para Instituto Nacional do Seguro Social - INSS muitos casos, tal situação configura óbice
a valorização de sua marca; divulguem ou com as Fazendas Públicas Federal, Es- à celebração de negócios, à tomada de
sua atuação, produtos e serviços junto a tadual ou Municipal, cuja exigibilidade não empréstimos, bem como à participação em
públicos de interesse e potenciais clientes esteja suspensa nos termos do artigo 151, licitações o que, em muitos casos, enseja a
e contribuam para a ação institucional do Código Tributário Nacional supracitado. impetração de Mandado de Segurança que,
do BNDES no relacionamento com entes Aliado ao cenário acima, acrescente-se apesar de não ter honorários sucumbenci-
públicos e privados visando à consecução o fato de que a era digital mudou a forma ais, tem custas processuais.
de seus objetivos e metas. Dentre os docu- como as pessoas se relacionam com a Diante deste cenário, resta evidente
mentos necessários para a contratação, os informação, inclusive no que tange à regu- que a manutenção da regularidade fiscal,
Projetos Selecionados deverão apresentar, laridade fiscal. Há tempos é possível, ao com o preventivo se sobrepondo ao repres-
dentre outros documentos, certidões contribuinte, acompanhar pela internet sivo, fomenta as boas práticas de gestão
comprobatórias da regularidade fiscal da aquilo que chamamos de “situação fiscal”, das instituições de ensino. •
entidade solicitante no que diz respeito aos
débitos relativos aos créditos tributários
federais e à dívida ativa da União, o que
inclui as contribuições previdenciárias e
Vanessa Ruffa Rodrigues
de terceiros (emitida em conjunto pela Advogada Tributarista / Terceiro Setor da Meira Fernandes. Coordenadora de Atualização
Legislativa para Assuntos do Terceiro Setor da OAB/SP. Professora da Escola Superior de Advocacia
Secretaria da Receita Federal do Brasil e de São Paulo e da Escola Aberta do Terceiro Setor. Membro do ISTR - International Society for Third
pela Procuradoria-Geral da Fazenda Na- Sector Research.
Graduada em Direito pela FMU. Especialista em Direito Tributário pela Universidade Mackenzie.
cional – Fonte: http://www.bndes.gov.br/ Extensão em Direito Tributário e Societário pela FGV (GVLaw). Extensão em Tributação do Setor
Comercial pela FGV (GVLaw). MBA em Gestão de Tributos e Planejamento Tributário pela FGV (FGV Management-SP).
SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Institucional/

32 Escola Particular • Julho de 2016


Julho de 2016 • Escola Particular 33
Desenvolvimento

DESENVOLVIMENTO
INFANTIL
Fatores de risco e de proteção

Q uando se fala em desenvolvimento


infantil, não se fala só de desen-
volvimento motor, de fala e de cognição.
Pretendo com isso chamar a atenção e pro-
vocar reflexões sobre possíveis atuações
dos educadores em relação à prevenção e
Pensa-se, de forma mais ampla e integra, à proteção das crianças.
na necessidade de desenvolver todas as Os fatores de riscos são condições ou
áreas, juntas e simultaneamente, incluindo variáveis ambientais, biológicas, genéticas
a psicológica, social e familiar: ou sociais que corroboram para o apare-
cimento de uma desordem emocional ou
O desenvolvimento integral faz comportamental e/ou interferem negati-
referência a um crescimento har- vamente no desenvolvimento da criança
mônico da aparelhagem e funcio- em qualquer área.
nalidade sensorial, perceptiva, psi- A violência doméstica, por exemplo,
cológica, intelectual, motora, física é um fator de risco importante e de alta
e da linguagem. Este crescimento probabilidade de gerar sequelas em um
ocorre especialmente durante as ou mais aspectos do desenvolvimento
etapas críticas do desenvolvimento infantil, podendo ser físico, psicológico, de
e maturação neurocerebral do indi- negligência, conjugal ou sexual.
viduo. (LEGARDA, 2010, pg 15). O artigo referido ressalta, a partir
de uma revisão bibliográfica, fatores de
Há pesquisas, métodos e estudos em riscos e aspectos referentes aos pais e
número considerável sobre tratamen- à família que podem ser sinalizadores
tos de doenças e transtornos. Porém, e disso. Destaca os fatores relacionados
infelizmente, pouco é pensado, feito e à violência doméstica, como, pais com
estudado sobre medidas de prevenção, baixa tolerância à frustração, baixa au-
principalmente, quando pensamos em toestima, rigidez ou autoritarismo em
transtornos psíquicos, emocionais ou com- demasia, ausência de empatia. Outros
portamentais. Para agir preventivamente fatores, como, uso de substância psi-
é necessário não apenas compreender a cotrópica lícita ou ilícita, depressão ou
doença, mas, principalmente, conhecer outros problemas psicológicos, doen-
seus possíveis desencadeadores. ças, menor compreensão dos relacio-
Quando o assunto é a criança e a im- namentos sociais e do papel parental,
portância de perceber possíveis gatilhos expectativas não realistas sobre o filho
para o desenvolvimento de algumas doen- ou percepção negativa dele. Finalmente,
ças, concluímos que o meio mais eficaz é as presença de deficiência mental, baixa
pessoas mais próximas estarem cientes e escolaridade, famílias com distribuição
atentas. Essas pessoas são, além da família, desigual de autoridade e poder, situação
os profissionais da educação, considerando de crise ou estresse social, família muito
o tempo grande que a criança passa na numerosa ou ausência de um dos pais.
escola. Portanto, é fundamental a reflexão Aponta ainda que crianças menores
sobre os fatores de risco e de proteção no de cinco anos, prematuras, que apresen-
desenvolvimento infantil. tam algum tipo de deficiência ou com-
Este texto é um resumo do artigo de portamentos agressivos, desafiadores,
Maia e Williams (2005) que faz uma boa motoramente agitadas ou outros com-
revisão bibliográfica sobre o assunto. portamentos consideráveis inadequados

34 Escola Particular • Julho de 2016


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socialmente, podem apresentar maior risco
de estarem sendo submetidas à violência.
Destaca aspectos que podem agravar os
fatores de riscos, como os ambientais: lar
violento, discórdia conjugal, baixo status
socioeconômico, aprovação da violência e
da punição física pela sociedade.
As consequências desses abusos das
crianças são inúmeras e podem se apre-
sentar de formas variadas dependendo da
severidade que se apresentam e do está-
gio de desenvolvimento que essa criança
se encontra, bem como da intensidade,
gravidade, frequência e cronicidade com
que esses abusos acontecem. Dentre as
consequências, os autores desse texto em
análise destacam:
• abandono da casa (de crianças e
adolescentes) para viverem na rua;
• repetição do comportamento vio-
lento no futuro;
• desnutrição;
• atraso no desenvolvimento;
• morte;
• prejuízo dos pensamentos intrapes-
soais como: medo, baixa-estima, ansiedade
e depressão;
• prejuízo na saúde emocional (dificul-
dade de controle de impulso, transtornos
alimentares, abuso de substâncias);
• dificuldades sociais como: antissocial,
diminuição da simpatia e empatia, delin-
quência, criminalidade;
• dificuldade na aprendizagem e di-
minuição do rendimento escolar;
• queixas somáticas e falha no desen-
volvimento;
• comportamento agressivo, regres-
sivo ou autolesivo;
• distúrbio de atenção;
• transtorno pós-traumático;
• prostituição e promiscuidade;
• ideação suicida.

As consequências
desses abusos
das crianças
são inúmeras
e podem se
apresentar de
formas variadas

Julho de 2016 • Escola Particular 35


Desenvolvimento

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No contraponto aos fatores de risco, Maia e Williams (2005) também dis- Vale ressaltar o papel da escola que
estão os fatores de proteção, que são sertam sobre práticas educativas positi- é tão importante quanto o da família.
condições ou variáveis ambientais, bio- vas, isto é, no uso adequado da atenção A escola assume um papel importante
lógicas, genéticas ou sociais que agem a e estabelecimento de regras; no afeto no desenvolvimento infantil, pois é o lo-
favor do desenvolvimento da criança e seguro e contínuo; no acompanhamento cal onde se sistematiza a educação e se
atuam na prevenção de aparecimento de das atividades escolares e de lazer; no estabelece a função social de promover a
desordem emocional ou comportamen- comportamento familiar que desenvolva aprendizagem dos conteúdos da cultura,
tal. Esses fatores de proteção podem ser empatia, senso de justiça, de responsabi- estimulando as capacidades da criança
resumidos em um bom funcionamento lidade, de trabalho, de generosidade e de em sua forma singular de ser e de fazer
familiar, existências de vínculos afetivos, conhecimento do certo e errado; grau de (BISSOLI, 2014, p. 595). Ainda segundo
apoio e monitoramento parentais e extra escolaridade materna e seu baixo nível Bissoli (2014, p. 595) “cabe ao professor
familiar. São destacados os seguintes de depressão; vínculo afetivo positivo compreender que a cultura, por diferen-
fatores: com outros cuidadores; crenças religio- tes formas de mediação, pode ser apro-
• atividades adequadas para a criança; sas; presença de amigos; frequência na priada pela criança, contribuindo para
• autonomia na medida correta; escola e bons vínculos com professores. sua formação como pessoa completa”.
• orientação social positiva; Citam evidências de resultados positivos Dessa forma, proporciona às crianças um
• autoestima; de intervenção junto a familiares de espaço estruturado e organizado para
• coesão familiar; adolescentes, promovendo a supervisão se conhecer e testar suas capacidades e
• afetividade e ausência de discórdia familiar e o monitoramento, facilitando desenvolve-las.
familiar; assim a comunicação intrafamiliar com o É por meio do fazer que se constrói
• fontes de apoio individual ou institu- objetivo de criar vínculos efetivos. um desenvolvimento harmônico, sólido
cional para família e criança; Outra temática interessante apontada e estruturado, além de dar continuidade
• bons relacionamentos da criança com pelo texto é a importância da resiliência na ao papel importante da escola, é indis-
seus pares e pessoas de fora da família; criança como um fator de proteção. Para o pensável trabalhar na conscientização
• suporte cultural. desenvolvimento desse comportamento é das famílias com o objetivo de contribuir
importante o relacionamento positivo com no entendimento de seus atos. Mas
ao menos um adulto significativo, a existên- não sendo isso possível ou suficiente, o
cia de uma crença religiosa, expectativa professor pode desempenhar um papel
acadêmica, ambiente familiar positivo, in- importante como fator de proteção,
É por meio do fazer teligência emocional e habilidade para lidar
com o estresse.
pois de fato, alem de ensinar, ele de-
sempenha vários dos itens de fatores
que se constrói um Concluem os autores do texto in-
sistindo sobre a importância dos profis-
de proteção citados acima, como por
exemplo, ser um adulto que a criança
desenvolvimento sionais, que atuam junto à infância e
adolescência, conhecerem esses fatores
estabelece um relacionamento positivo,
mesmo que o único em seu contexto
harmônico, sólido e para poderem atuar e intervir. Assim
como conhecer a rede de proteção social,
pode ser o suficiente. •

estruturado, além instituições, como: conselho tutelar, as-


sistência social e de saúde que têm como
de dar continuidade princípio de ação garantir os direitos de
um desenvolvimento integral às crianças
ao papel importante e adolescentes, também como estraté-
Virginia Deiró Nosella
Terapeuta Ocupacional da Clia
Psicologia, Saúde & Educação
gia da prevenção ou para situações de
da escola
www.cliapisicologia.com.br
(11) 4424-1284 / (11) 2598-0732
intervenção.

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Julho de 2016 • Escola Particular 37
Saúde

Audição na
Primeira
Infância
A audição é uma via de entrada que
nos mantém conectados com o meio
desde o ventre materno. Quanto mais
da criança, semestralmente, ainda que se
tenha constatado funcionamento normal
da orelha interna, ao nascer, através do
precocemente um problema de audição “exame da orelhinha”.
é detectado, maiores as possibilidades de Observo na prática clínica enganos
minimizar seu impacto no desenvolvimento frequentes a respeito das formas de se
da linguagem e na aprendizagem escolar. avaliar a audição:
“Surdez na infância é uma das mais • O teste da orelhinha (EOA: Emissões
sérias limitações que pode ocorrer a uma Otoacústicas) é universal, ou seja, indicado
criança pequena, porque ela não permite para todos os bebês. É gratuito – é uma
que se atinja um desenvolvimento ótimo e triagem neonatal. Não garante a audição,
afeta a relação com o mundo em que vive.” mas pode assegurar função coclear
(O médico e a criança surda: APA - Comitee normal.
on Children With Handicaps - 1973) • O BERA (Resposta Auditiva Evocada
◊ Infelizmente ainda é frequente a de- do tronco Cerebral) garante a integridade
mora no diagnóstico da surdez. até o tronco cerebral. Pode assegurar
Esta demora no diagnóstico pode ser função normal até os núcleos localizados
explicada, em parte, porque na maioria no tronco cerebral.
dos casos de déficits auditivos, o desen- • Audiometria de reflexos condicio-
volvimento motor e psicossocial é normal. nados (indicado para crianças maiores
Além disso, a emissão vocal é aparente- de 2 anos). É um exame rápido, de fácil
mente normal durante os primeiros 6 ou 8 realização, não invasivo e divertido para
meses de vida. Muitas crianças ficam sem a criança. Pesquisa o nível mínimo de
diagnóstico porque a postura diante de resposta auditiva.
um atraso de aquisição e desenvolvimento • Avaliação do Processamento Au-
de linguagem costuma ser muito mais ditivo. Existem testes pediátricos que
“aguardar” do que “investigar”. permitem o acompanhamento do desen-
Outro fator que explica a falta de volvimento da criança pré escolar. Avalia
diagnóstico é que existem graus variados a audição em situações de escuta difícil, o Somente o
de perdas auditivas. Assim, a criança pode
responder a alguns sons, mais altos, ou
que permite inferir como está a compreen-
são de linguagem. diagnóstico precoce
mais graves, e não a outros, o que pode
confundir os pais. Em caso de perdas
◊ Ainda é frequente a falta de diag-
nóstico de alterações no Processamento das alterações da
unilaterais, ou assimétricas, o lado bom
pode responder, dando a impressão de
Auditivo.
Mesmo crianças que escutam perfeita- audição permite a
que o problema não existe.
Importante lembrar também que algu-
mente os sons, podem apresentar atrasos
significativos do desenvolvimento das
intervenção
mas perdas são progressivas, daí a neces-
sidade de realizar um acompanhamento
habilidades auditivas que constituem o
Processamento Auditivo. Este se refere a
a tempo

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como o cérebro interpreta as informações Somente o diagnóstico precoce das


que chegam através do ouvido. alterações da audição ou do processa-
Na criança normal as habilidades en- mento auditivo permite a intervenção a
volvidas no processamento auditivo central tempo com a escolha da melhor forma Maria José Lopes de Andrade
Fonoaudióloga graduada e com
desenvolvem-se em paralelo ou em rela- de tratar, estimular ou reabilitar, a fim especialização em Distúrbios
ções recíprocas com habilidades de lingua- de sanar ou minimizar os impactos na da Comunicação Humana na
Universidade Federal de São Paulo
gem (KEITH, 1988). Embora o diagnóstico vida da criança. (UNIFESP), com Aprimoramento
em Audiologia Clínica pela Santa
de Transtorno do Processamento Auditivo Assegurar que a criança possua inte- Casa de Misericórdia de São Paulo e no Sistema
Verbotonal de reabilitação da audição e da fala.
só possa ser dado a crianças mais velhas, os gridade das vias auditivas a fim de usufruir Atua no grande ABC desde 1986 na área clínica –
atrasos podem ser detectados muito pre- da estimulação que o ambiente propor- diagnóstico e reabilitação – na assessoria a escolas
e é responsável pelo setor de audiologia da CLIA
cocemente, antes que as repercussões se ciona e desenvolver o máximo de suas Psicologia Saúde e Educação.
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mostrem na linguagem e na aprendizagem. potencialidades é o nosso papel. •

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Responsabilidade Digital

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A LIBERDADE DE EXPRESSÃO NOS MEIOS DIGITAIS
E ela chegou para ficar e dá mostras a
todo instante o porquê e para que Ofensas no meio de São Paulo incluiu replicadores de con-
teúdo em uma sentença, fazendo com que
veio. Até os mais resistentes encontram-se
rendidos e o fato é que sem ela não dá mais.
digital podem cada um fosse condenado junto com quem
criou a postagem. E já há recomendação
E veio para resolver muita coisa, inclusive,
os problemas que não tínhamos antes de
causar danos de para que tal decisão seja constituída como
jurisprudência e aplicada sempre que uma
seus recentes avanços. todas as ordens, situação semelhante surgir.
Com toda a sua magnitude, a internet Assim, há responsabilidade legal quan-
hoje bem representa uma nova forma de especialmente moral do violada a honra, imagem e dignidade de
se viver. São negócios, relacionamentos, um indivíduo, assim como o direito a justa
entretenimento, informação e muito mais. honra (calúnia, injúria e difamação), racismo, indenização em casos de danos a estes di-
Quem ousa dizer, hoje em dia, que os uso indevido de imagem, entre outros, reitos, garantidos a todos pela Constituição
amigos cabem na palma de sua mão? São praticados na e por meio das redes sociais. Federal Brasileira, nos artigos 1º, III e 5º, X.
tantos, para alguns centenas, para outros Pessoas atentam para o direito cons- A depender das circunstâncias, ofensas
até milhares. titucional à liberdade de expressão e no meio digital podem causar danos de to-
As redes sociais têm conectado pes- ignoram a informação de que a mesma lei das as ordens, especialmente moral, sendo
soas de maneira nunca imagináveis. Graças que vos confere tal direito, veda expressa- certo que, de acordo com os artigos 186 e
a esta fantástica evolução, pessoas desapa- mente o anonimato (isso mesmo, inclusive 927 do Código Civil Brasileiro, aquele que
recidas são encontradas, notícias circulam aquele aplicativo que promete preservar causar dano a outrem, ainda que exclusi-
o mundo todo em segundos e há vida soli- sua identidade, o qual, em caso de suspeita vamente moral, fica obrigado a repará-lo
tária somente quando se perde a conexão de violação aos direitos de outrem está e, neste cenário, não é demais lembrar, os
com o Wi-Fi, 3 ou 4G. Pois é, muitos vivem obrigado a contribuir com a justiça para pais respondem civilmente pelos danos
este paradoxo. Aquele indivíduo “seguido” sua reparação, revelando para começar, causados por seus filhos e a escola por seus
por outros três mil, extremamente sociável, sua identificação), confere direito de res- educandos, conforme determina o artigo
(no mundo digital), quando desconectado posta ao ofendido e o direito de requerer 932, I e IV, do mesmo código.
sente-se absolutamente solitário. em juízo, indenização por eventuais danos Em tempos de internet, a frase de
Mas ainda assim, não há como negar, morais e/ou patrimoniais sofridos. Ou seja, Charles Chaplin “Cada segundo é tempo
as redes sociais hoje ocupam um espaço muitos comportamentos impensados, tem- para mudar tudo para sempre” não podia
de destaque e representatividade na rotina pestivos e inconsequentes desdobram-se ser mais perfeita. Por isso sempre digo:
de todos, inclusive na vida profissional. As “facilmente” em condenações, tanto na se estiver bêbado não poste; muito fe-
mídias sociais são fortemente utilizadas esfera cível como na criminal. liz ou muito triste, não poste; muito abor-
por empresas, tanto para contratações E não para por aí, considerando o recido, também não poste. Na internet,
como também desligamento de muitos poder de disseminação e perpetuidade escrevemos a caneta e um segundo pode
colaboradores. promovidos pela internet, sobretudo pelas mudar tudo para sempre. •
No entanto, vale destacar que, esta redes sociais. Indivíduos que não postam,
poderosa ferramenta também tem sido mas que curtem e compartilham ofensas
um novo campo de atuação para ciber- também podem ser responsabilizados
criminosos, principalmente pelo pseudo judicialmente, isto porque, contribuíram Alessandra Borelli
anonimato que “promove”. para que a exposição da vítima fosse ainda Advogada atuante na área do
direito digital e Diretora Executiva
Nunca se ouviu falar tanto em ajuiza- maior. E não são poucas as decisões que da Nethics Educação Digital
mento de ações relacionadas a crimes contra temos neste sentido. O Tribunal de Justiça

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Opinião

LEITURA
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S omos um povo inculto.
As notícias chegam, telegráficas, pelo
rádio e TV. Revistas e grandes jornais são
dos. A leitura ensina a língua, tão judiada
pelo rádio e internet.
Com pouca leitura, consagramos a
pouco lidos. oralidade como meio de transmissão da
Manchetes são mais lidas que o con- cultura e informação. A oralidade pode, em
teúdo, e costumam aglomerar multidões determinados contextos, gerar guetos e ali-
defronte as bancas. Comprar e ler livros é mentar vícios, aí incluídos os preconceitos
um hábito de poucos. e superficialidades.
A leitura escolar sobrevive por ser com- Na verdade, a escrita costuma ser bem
pulsória, quase limitada a obras didáticas, mais cuidadosa e elaborada que a fala, e
ou enunciadas nos vestibulares. Livros daí mais acreditada. Pouquíssimos autores
foram substituídos por apostilas, e já são escrevem “menas”, termo recentemente
raros os autores isolados. utilizado até por um senador da República,
A internet tem sido o maior elo entre em sua tribuna.
o brasileiro e a formação cultural, mas os Povos mais cultos e informados cons-
acessos buscam, em regra, redes sociais, troem ambientes amadurecidos e politica-
que alternam boas escritas a línguas es- mente mais estáveis, sendo pouco recepti-
tranhas, fatos e boatos, com farta desin- vos aos aventureiros de sempre. Costumam
formação. Bem utilizada, a internet pode ser mais respeitadores e solidários.
ser tão útil quanto um bom livro impresso. No contexto mundial, figuramos em
Rádio, TV e internet substituíram os péssima posição, no quesito leitura. Ou-
jornais, no quesito notícia. Antes de abrir o tros povos ensinam a leitura como hábito
jornal, o cidadão já foi informado do fato, e exemplo familiar.
o que tem levado as publicações a comen- Nossa triste condição pode ser avaliada
tários, análises e descrições de contextos. pelos baixos índices de audiência de noticio-
Esporte, fofocas políticas e sociais, sos, entrevistas e reportagens especiais, e
horóscopo e manchetes escandalosas altíssimos índices dos programas de fofo-
disputam a preferência dos leitores, sem- cas e intimidades de famosos. Em nosso
pre ansiosos pelo caderno de negócios, meio, são poucas e pouco frequentadas as
sejam de veículos, animais, imóveis e bibliotecas. Vamos mal! •
materiais usados, além da oferta de em-
pregos e serviços. O caderno de negócios
costuma ser o alvo predileto dos gatunos
de bancas. Pedro Israel Novaes de Almeida
Engenheiro agrônomo e
A leitura atenta desenvolve habi- advogado, aposentado.
lidades, como a capacidade de abstração, pedroinovaes@uol.com.br

memorização e entendimento de enuncia-

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Julho de 2016 • Escola Particular 43
Comportamento
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Será que possibilitar o acesso de


T emos acompanhado mudanças sem
precedentes em decorrência do
alunos e professores à tecnologia
advento da tecnologia digital. Estamos
diante de equipamentos tão avançados
pode produzir avanços no sentido
que surpreendem pelo pouco tempo de de formação humana?
existência, em relação ao nível de com-
plexidade. As máquinas fotográficas,
por exemplo, praticamente, perderam o visualizações. Inclusive, alguns cantores e infindáveis possibilidades, jovens estão
seu lugar para os celulares que a cada dia artistas foram lançados na TV em razão do encontrando um novo espaço de atuação,
ganham em sofisticação. Estes, com uma sucesso nas redes sociais. Portanto, esse haja visto os blogueiros, os profissionais
infinidade de aplicativos, dentre os quais es- novo advento ao qual estamos submetidos especializados em lojas virtuais, cursos,
tão WhatsApp e Waze tornaram-se quase está transformando o nosso modo de ser e start-ups. Até outro dia este ambiente
uma segunda pele. As redes sociais como de ver o mundo. sequer existia, atualmente é um mundo
Facebook e Instagram são consideradas o Temos acesso a um sem-fim de informa- de novas oportunidades. Hoje, pensar de
porta-voz de um sem-fim de pessoas. ções à disposição, bastando alguns toques forma colaborativa, ser empreendedor
A mídia televisiva, que no passado no teclado de um celular ou computador. O no sentido de viabilizar propostas que
podia controlar quais tipos de informação conhecimento, antes restrito àqueles que possibilitem o ganha-ganha, ter espírito
o povo poderia ter acesso está com os frequentavam as instituições de ensino inovador, e, sobretudo, ética é quase uma
seus dias contados. Hoje, os papéis estão, e bibliotecas públicas, hoje, mesmo em garantia de resultados de qualidade no
praticamente, invertidos, embora ainda países ditos do terceiro mundo, está ao campo profissional.
haja influência de canais de TV, quem deter- alcance de um grande número de pessoas, Mas e a escola, como está? Será que
mina o que será assistido são as pessoas. E ou seja, tornou-se mais democrático. De disponibilizar equipamentos de última
não estou mencionando controle remoto. fato, demos um salto no que diz respeito à geração com vistas a aprimorar a quali-
Estes mesmos canais se renderam ao You- produção, bem como o acesso ao conhe- dade da aula, desconsiderando o conhe-
tube e trazem para a sua programação cimento. cimento que vem sendo produzido pelas
arquivos postados por pessoas comuns Muitas empresas estão apostando ciências da educação é suficiente? Será
e que tiveram um número enorme de nesse novo veículo que mostra a cada dia que continuar pensando apenas de forma

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linear, do tipo causa-efeito, permitirá o à formação de cidadãos, e vêm traba- quase em tempo real, por meio das novas
avanço em direção a uma visão compar- lhando efetivamente o seu Projeto Po- tecnologias. É preciso explorar!
tilhada de um mundo formado por redes? lítico Pedagógico, tirando-o do papel e Desafiar o humano em sua generici-
Será que possibilitar o acesso de alunos e trazendo-o à vida. O objetivo é compro- dade, romper barreiras, inovar, ter inicia-
professores à tecnologia, em detrimento misso social, amparado na ética, ou seja, tivas, empreender, é possível! Para tanto,
do investimento em uma cultura escolar promover ações politicamente pensadas é preciso entender que o mundo é rico em
na qual o coletivo de professores esteja para a construção de uma sociedade justa biodiversidade e em possibilidades e que
envolvido em estudos, debatendo novas e sustentável. uma das maiores características do homem
perspectivas, principalmente, aquelas Mesmo com os tropeços, não desistem, é o seu poder de transformação e, princi-
que apontam para a efetividade da apro- porque entendem que as grandes mudan- palmente, de superação. O homem tem à
priação do conhecimento por crianças e ças começam com a crise e com os que têm sua espera um universo de oportunidades,
jovens, pode produzir avanços no sentido coragem de pensar sobre ela e ousam sair e são elas que permitirão o desenvolvimen-
de formação humana? E o conhecimento da zona de conforto. Enfrentam dificul- to de novos espaços escolares, aqueles
ao qual me refiro está para além daquele dades inerentes ao processo, e, o pior, a que farão o mundo entender que a maior
considerado importante para testar crítica daqueles que não se dão ao trabalho riqueza não está nos bens, nos objetos, na
alunos. sequer de pensar em uma tentativa de tecnologia e sim nas pessoas, na cultura, no
A escola de fachada está com os seus recomeço. Estes, como diz o ditado, estão conhecimento, na sociedade.
dias contados, embora ainda tenha de- caminhando pelo amor. O mundo clama por uma nova escola! •
manda em decorrência do aumento do É preciso mudar, renunciar a mesmi-
número crianças. Aqueles que ocuparem ce e assumir o risco de pôr a mão na massa.
os espaços promovendo uma nova con- É trabalhoso, mas garante contribuições
cepção de escola, voltada às demandas do ao coletivo, faz avançar a humanidade e Lucy Duró Matos Andrade Silva
Pedagoga, Psicopedagoga,
século 21, certamente, estarão apostando confere um prazer inenarrável quando Especialista em Medicina
no futuro, inclusive no seu. começam a aparecer os primeiros frutos. Comportamental pela
Universidade Federal de São
Tenho observado que algumas es- Estão acontecendo experiências edu- Paulo e Mestranda em Psicologia
Escolar e do Desenvolvimento
colas estão repensando o seu papel, cacionais promissoras em várias partes do Humano pelo Instituto de Psicologia da
Universidade de São Paulo.
enquanto instituições sociais voltadas mundo e estas podem ser acompanhadas,

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Crítica

ESCOLA
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A FORÇA DE UMA

Eu amo os estômagos exigentes, recalcitrantes,


capazes de escolher a sua própria comida
e odeio as avestruzes, capazes de passar em todos
os testes de inteligência por sua habilidade de digerir tudo.
(Nietzche)

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R esponda-me, leitor ansioso: hoje
em dia, qual escola escolheria para
o seu filho? Optaria por uma grande ou
persegue o objetivo de formar cidadãos
que saibam estudar com afinco, respeitar
os professores, acatar ordens, além de
Nadando no mar das desigualdades
sociais que inundam o nosso País, a
escola forte passou a ser lugar de ricos,
pequenina? Perto ou longe de sua casa? vivenciar, dia-a-dia, o sentido sensível, co- enquanto a fraca, lugarejo de pobres. Com
A que seguisse um método X ou a qual só munitário e sociocêntrico da vida. o absoluto e absurdo abandono por parte
preparasse para o vestibular? Enfim, uma Ações de amor estão distantes dos do Estado brasileiro de políticas públicas
“forte” ou uma “fraca”? clássicos (e por vezes rígidos e desne- consistentes para a Escola de Base e Mé-
Não é digno qualificar instituições cessários) sistemas de avaliação de con- dia, não deu outra: pobreza passou a ser
de ensino, quaisquer que forem, com teúdos acadêmicos, os quais forçam o sinal da indignidade e da submissão, quiçá
conceitos simplórios como esses que, aluno a estudar só para fazer parte de da exclusão!
vira-e-mexe, aparecem em discussões estatísticas, traduzindo, assim, a sua quali- O que está em jogo é o destino do
só gerando confusão. Seria tão ingênuo, dade pelo número de estudantes inseridos século XXI. Este mora nas mãos dos que
quanto perguntar a um filho: nas Universidades ou com notas altas nos educam. Igual e fatalmente, tal destino
— Qual a melhor mãe do mundo? modernos Enems da vida. está também nas mãos dos que não foram
— A minha, responderia ele, acres- Ações de amor contextualizam conhe- educados. Enfim, para ser duro, nu e cru, só
centando — porque eu a amo e ela me ama! cimentos, espalham na alma dos jovens para deixar de lado as aparências engana-
Ora, seguindo tal lógica, a melhor escola a responsabilidade social, tornando-os doras da hipocrisia nacional, dados do TSE,
é aquela na qual a criança se sente feliz e cúmplices da realidade e desenvolvendo o nos dão conta de 28 milhões de eleitores, os
acolhida. compromisso de serem agentes modifica- quais sabem apenas ler e escrever o próprio
Vou direto ao assunto: não há escola dores da sociedade. Afinal, quando apren- nome e de outros 72 milhões que não pos-
fraca ou forte, nem boa ou má. A melhor deremos a ver a escola como orientadora suem o Ensino Fundamental completo. Ora
é a que concretiza o amor. Todavia, o que das reformas da sociedade? bolas, diria eu à Machado de Assis: cuido
direi a você sobre esse “amor”? O amor Ações de amor, longe de qualquer que estamos ficando doudos, pois não há
é um sentimento abstrato, inexplicável sentimentalismo piegas, concretizam-se nem a forte, tampouco a fraca. Não há
e indescritível que emerge no coração. na participação dos jovens em projetos são escolas!
O coração é um músculo, e músculo não que estimulem a solidariedade e a sensibi- Então, com o número de brasileiros
pensa, só sente... ao contrário, quando lidade, aumentando a compreensão de si dela excluídos e com a porcentagem de
se transforma em ação, o amor passa e plantando ideais de cooperação. Aí, a es- analfabetos, a escola brasileira, a forte
a ser concreto, explicável e descritível. cola exibe a sua força: quando desenvolve ou a fraca, a boa ou a má, como queiram,
Esclareço: nos alunos uma visão ética, nunca baseada espelhando a sociedade, tornou-se elitista,
Escola que ama, respeita o seu filho, na simples acumulação de conhecimentos racista e classista. Foi o nosso pecado mor-
não o abarrota de conteúdos inúteis ou ou, tampouco, na obsessão pela aquisição tal, o erro maior.
descompassados da idade cronológica; de bens materiais ou na futura busca Entendamo-nos finalmente. Provo
acolhe-o, respeitando o seu próprio ritmo. descomedida de dinheiro; muito menos meus argumentos com exemplos que, não
Igualmente, impressiona-me como muitos na supervalorização da beleza exterior e sendo regra, são significativos: inúmeros e
colégios se incharam de matérias e colo- do físico exuberante. afamados políticos, altos executivos, todos
caram as crianças e jovens em situação Amorosidade é traduzida na trans- líderes da assim denominada elite sociocul-
de pressão estéril. Por exemplo: por que formação de uma visão ingênua de pais, tural são, vira-e-mexe, os responsáveis pelo
ensinar Informática para crianças de 6 ou educadores e educandos, em olhares críti- desvio de verbas públicas, pelos crimes
7 anos? Não bastasse o fato de não terem cos da realidade consumista, calcada no hediondos, tais como o dos mensalões e
consistência mental para tanto, gostaria, desperdício e no esbanjamento. Tirando petrolões, enfim, os de colarinho branco.
isto sim, vê-las no parque, brincando na as máscaras, ela diz a que veio e revela a Ora, ora, pois... vejam só: a maioria deles
areia, rodando pneus velhos, ou, no jardim, colaboração que lhe cabe dar à comuni- estudou em escolas fortes e de afamada
aprendendo plantar e colher flores... dade. Afinal, quando aprenderemos ver a moralidade religiosa, formaram-se nas me-
Esteja onde estiver, Escola com E maiús- escola como instituição essencialmente de lhores Universidades e cursaram puxados
culo, é a que ensina a criticar o mundo e contribuição? cursos superiores.
Dito isso, cada um dos meus leitores tire
as suas conclusões. As minhas já as sabem:
forte, nem sempre significa bom; fraco, não
é sinônimo de mal. Ostentação, não denota
profundidade; quanto menos aparato cor-
responde à competência. •
Escola com E maiúsculo,
é a que ensina a criticar o mundo e
persegue o objetivo de formar cidadãos Paulo Afonso Ronca
Doutor em Psicologia Educacional
pela UNICAMP e escritor, entre
outros, de “Quem são nossos
filhos? – Compreender o mundo
para saber educá-los”. Os números
citados acima correspondem a
índices datados de 2012. pronca@esplan.com.br

Julho de 2016 • Escola Particular 47


Ensino

Os desafios (e soluções)
para a Educação do século XXI
“Os estudantes estão decorando
coisas que nem sequer entendem.”
Bernard Charlot

“O papel do professor deveria ser


de ensinar o aluno a pensar provo-
cando a curiosidade do mesmo.”
Ruben Alves

“Temos um sistema que instrui e


usa de forma equivocada, a palavra
educação para designar o que é
apenas a transmissão de informa-
ções... Para que serve passar anos
oferecendo aos jovens o conheci-
mento do mundo exterior quando
já o encontramos no Google?...
Para que eles somente aprendam
a se sentar quietos? Para treinar a
obediência?”
Claudio Naranjo
(indicado ao prêmio Nobel da Paz 2015)

O grande desafio
da Educação
Brasileira é tirar o
foco do conteúdo
na educação básica
e aprender as
novas técnicas e
metodologias de
ensino
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D e acordo com a UNESCO, os quatro


eixos que devem nortear a educação
no Século XXI são:
Podemos concluir, então, que o grande
desafio da Educação Brasileira é tirar o foco
do conteúdo na educação básica, como a
Aristóteles (330 a.C.) como “uma folha em
branco”. E a professora era a detentora do
saber, tinha o poder de “ensinar”, marcar
Aprender a aprender maioria dos países desenvolvidos já o fez, e a “folha em branco” e determinar quem
Aprender a fazer aprender as novas técnicas e metodologias aprendeu e quem não aprendeu, e também
Aprender a conviver junto de ensino que vem fazendo sucesso nestes tinha o poder do método.
Aprender a ser países. Para isso, precisamos também rever Hoje, as crianças que estão ingressando
Percebe-se que os pensamentos de toda a nossa arcaica metodologia de ensino na vida escolar não são mais uma “tábula
Bernard Charlot, Ruben Alves e Claudio e romper, definitivamente, os paradigmas rasa”, elas chegam à escola já tendo as-
Naranjo, acima, tem tudo a ver com a con- da educação do século XX. sistido cerca de 5.000 horas de televisão
junção dos quatro eixos propostos pela Aquela professora coercitiva, de aven- e até com alguns títulos de campeãs de
UNESCO. Quando conseguirmos, mesmo tal branco, escrevendo conteúdos com giz jogos de computador. Elas são nativas
que superficialmente, atingir a proposta da no quadro negro para crianças ingênuas, digitais, tem o status do domínio de uma
equação (Ser-Conviver-Aprender-fazer) no é uma visão jurássica para as gerações Z e tecnologia adquirida desde que nasceram,
Brasil, teremos dado um imenso passo em Alfa. As crianças do passado não possuíam que, para muitas professoras imigrantes
direção à transformação e ao desenvolvi- status algum quando ingressavam na digitais, ainda é inalcançável. Isso precisa,
mento humano. escola, eram a “tábula rasa” descrita por no mínimo, ser respeitado. “Essas crian-

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Julho de 2016 • Escola Particular 49
Ensino

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ças da nova geração tem uma incrível de foco na educação já apresentada ao conseguimos criar) aquilo que está dando
aceleração cerebral, nunca antes vista, mundo nos últimos anos -, compactua certo lá fora?
graças ao domínio da tecnologia”, afirma em grau, gênero e número com os resul- No entanto, qualquer mudança deste
o Dr. Miguel Nicolelis, um dos maiores tados da pesquisa do Instituto Ayrton nível na educação básica em nosso país,
Neurocientistas do mundo. Senna. Ele apresenta em sua obra mais implicará em novos métodos de formação
Já deveríamos ter implantado a “Educa- de 200 referências bibliográficas, todas aos educadores, principalmente no que se
ção 3.0” há muito tempo no Brasil. Essa foi fundamentadas cientificamente, para refere ao uso de tecnologia em sala.
a proposta de James G. Lengel, do Hunter apontar que a inteligência, essa da forma Assim, dada as propostas apresentadas
College, City University Of New York, que conhecemos, não tem mais a mesma acima sobre a mudança no foco da educa-
apresentada no 5º Simpósio Hipertexto e importância do passado para o sucesso ção, onde o caminho é o desenvolvimento
Tecnologias da Educação, e 1° Colóquio In- profissional dos jovens do século XXI. da Criatividade, Determinação, Resiliência
ternacional de Educação com Tecnologias, Sugere o autor que, Determinação, Cu- e Curiosidade dos alunos, os educadores
em Recife, 2013. riosidade, Criatividade e Resiliência, são precisarão de formação com uma gene-
Dentro dessa perspectiva, O Instituto muito mais importantes para uma educa- rosa cadeira de Psicologia da Educação
Ayrton Senna realizou uma pesquisa, tam- ção moderna de sucesso. E mais, aponta em seu currículo, onde estarão incluídas,
bém em 2013, com 3.700 diretores e profes- os passos das instituições pioneiras que entre outras, as disciplinas de Desenvolvi-
sores sobre o desenvolvimento de quais revolucionaram a educação neste século, mento Pessoal e Interpessoal, e Psicologia
habilidades a escola deveria promover nos EUA, e em outros países. Cognitivo-Comportamental.
aos alunos. Quase 70% dos respondentes Por que países do terceiro mundo, Estes, entre outros, são os conteú-
declararam que as principais competências como o Brasil, com imensas dificuldades dos do nosso novo livro “Os Desafios (e
a serem desenvolvidas na escola são: so- de implantar novos métodos e tecnolo- Soluções) Para a Educação do Século XXI”
cialização, autonomia, pensamento crítico gias na educação, não copiam (já que não (2016 – Navegar Editora, SP). •
e resolução de problemas, ou seja: chega
de conteúdo.
Paul Though, pesquisador ameri-
cano e autor do livro “Uma Questão Caio Feijó
Psicólogo, Pós-graduado em Psicologia Educacional e Psicologia Clínica, Mestre em Psicologia da
de Caráter” (Intrínseca Editora, Rio Infância e da Adolescência pela UFPR, Professor, Palestrante e Escritor, autor de “Preparando os
2014) - que consideramos uma das mais Alunos Para a Vida” e “Pais Competentes, Filhos Brilhantes”, entre outros.

importantes propostas de mudança

50 Escola Particular • Julho de 2016


Julho de 2016 • Escola Particular 51
Classieeesp

AGENDA de obrigações • agostO DE 2016 •


• 05/08/2016 SALÁRIOS - ref. 07/2016 • 19/08/2016 INSS (Empresa) - ref. 07/2016
FGTS - ref. 07/2016 PIS – Folha de Pagamentos - ref. 07/2016
CAGED - ref. 07/2016 SIMPLES NACIONAL - ref. 07/2016
E-Social (Doméstica) - ref. 07/2016 COFINS – Faturamento - ref. 07/2016
• 08/08/2016 ISS (Capital) - ref. 07/2016 PIS – Faturamento - ref. 07/2016
• 30/08/2016 IRPJ – (Mensal) - ref. 07/2016
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