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04 DE JUNHO/19 (TERÇA-FEIRA)
(SAMARA)
I. O HOMEM E A NATUREZA (KHALIL GIBRAN)
"Ao romper do dia, sentei-me na campina, travando conversa com a Natureza, enquanto o
Homem ainda descansava sossegadamente nas dobras da sonolência. Deitei-me na relva verde
e comecei a meditar sobre estas perguntas:
Será a Beleza Verdade? Será Verdade a Beleza?
E em meus pensamentos vi-me levado para longe da humanidade. Minha imaginação descerrou
o véu de matéria que escondia meu íntimo. Minha alma expandiu-se e senti-me ligado à Natureza
e a seus segredos. Meus ouvidos puseram-se atentos à linguagem de suas maravilhas.
Assim que me sentei e me entreguei profundamente à meditação, senti uma brisa perpassando
através dos galhos das árvores e percebi um suspiro como o de um órfão perdido.
“Por que te lamentas, brisa amorosa?” perguntei.
E a brisa respondeu: “Porque vim da cidade que se escalda sob o calor do sol, e os germes das
pragas e contaminações agregaram-se às minhas vestes puras. Podes culpar-me por lamentar-
me?”
Mirei depois as faces de lágrimas coloridas das flores e ouvi seu terno lamento… E indaguei: “Por
que chorais, minhas flores maravilhosas?”
Uma delas ergueu a cabeça graciosa e murmurou: “Choramos porque o Homem virá e nos
arrancará, e nos porá à venda nos mercados da cidade.”
E outra flor acrescentou: “À noite, quando estivermos murchas, ele nos atirará no monte de lixo.
Choramos porque a mão cruel do Homem nos arranca de nossas moradas nativas.”
Ouvi também um riacho lamentando-se como uma viúva que chorasse o filho morto, e o
interroguei: “Por que choras meu límpido riacho?”
E o riacho retrucou: “Porque sou compelido a ir à cidade, onde o Homem me despreza e me
rejeita pelas bebidas fortes, e faz de mim carregador de seu lixo, polui minha pureza e transforma
minha serventia em imundície.”
Escutei, ainda, os pássaros soluçando e os interpelei: “Por que chorais meus belos pássaros?”
E um deles voou para perto, pousou na ponta de um ramo e justificou: “Daqui a pouco, os filhos
de Adão virão a este campo com suas armas destruidoras e desencadearão uma guerra contra
nós, como se fôssemos seus inimigos mortais. Agora estamos nos despedindo uns dos outros,
pois não sabemos quais de nós escaparão à fúria do Homem. A morte nos segue, aonde quer
que vamos.”
Então o sol já se levantava por trás dos picos da montanha e coloria os topos das árvores com
auréolas douradas. Contemplei tão grande beleza e me perguntei:
“Por que o homem deve destruir o que a Natureza construiu?”
INTERVALO
(DULCINÉIA DEBETTIO)
I. AMA TEU RITMO (Ruben Dario)
INTERVALO
(REGINA)
I. Passa uma borboleta por diante de mim
E pela primeira vez no Universo eu reparo
Que as borboletas não têm cor nem movimento,
Assim como as flores não têm perfume nem cor.
A cor é que tem cor nas asas da borboleta,
No movimento da borboleta o movimento é que se move,
O perfume é que tem perfume no perfume da flor.
A borboleta é apenas borboleta
E a flor é apenas flor.
(RENAM)
II. Sou um guardador de rebanhos
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.
(ANDREW)
III. Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...
(DARLYN)
IV. Se eu morrer muito novo, ouçam isto:
Nunca fui senão uma criança que brincava.
Fui gentio como o sol e a água,
De uma religião universal que só os homens não têm.
Fui feliz porque não pedi cousa nenhuma,
Nem procurei achar nada,
Nem achei que houvesse mais explicação
Que a palavra explicação não ter sentido nenhum.
Não desejei senão estar ao sol ou à chuva —
Ao sol quando havia sol
E à chuva quando estava chovendo (E nunca a outra cousa)
06 DE JUNHO/19 (QUINTA-FEIRA)
(EDES)
I. ÁRVORE (MANOEL DE BARROS)
(GABI)
II. HISTÓRIA “ÁRVORE GENEROSA”
Mas o menino sumiu por muito tempo... E a Árvore ficou tristonha outra vez.
Um dia, o menino veio e a Árvore estremeceu tamanha a sua alegria, e disse: "Venha, Menino,
venha subir no meu tronco, balançar-se nos meus galhos e ser feliz."
"Estou muito ocupado pra subir em Árvores", disse o menino. "Eu quero uma esposa, eu quero ter
filhos e para isso é preciso que eu tenha uma casa. Você tem uma casa pra me oferecer?"
"Eu não tenho casa", disse a Árvore. "Mas corte os meus galhos, faça a sua casa e seja feliz."
O menino depressa cortou os galhos da Árvore e levou-os embora para fazer uma casa.
E a Árvore ficou feliz!
O menino ficou longe por um longo, longo tempo, e no dia que voltou, a Árvore ficou alegre, de
uma alegria tamanha que mal podia falar.
"Venha, venha, meu Menino", sussurrou, "venha brincar!"
"Estou velho para brincar", disse o menino, "e estou também muito triste." "Eu quero um barco
ligeiro que me leve pra bem longe. Você tem algum barquinho que possa me oferecer?"
"Corte meu tronco e faça seu barco", disse a Árvore. "Viaje pra longe e seja feliz!"
O menino cortou o tronco, fez um barco e viajou.
E a Árvore ficou feliz, mas não muito!