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XXIV ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DA SOLDAGEM,
XI CONGRESSO LATINO-AMERICANO e
V ÍBERO-AMERICANO DE SOLDAGEM
Fortaleza - CE
De 20 a 23 de Setembro de 1998

O EFEITO DO TEOR DE OXIGÊNIO SOBRE A TAXA DE FUSÃO E


PROPRIEDADES DO ARCO EM SOLDAGEM MIG COM AÇO INOXIDÁVEL

Américo Scotti(1)
Denis E. Clark(2
Eric D. Larsen(3)

RESUMO
Neste trabalho é apresentado os efeitos de diferentes níveis de oxigênio em Argônio industrial
sobre a taxa de fusão e propriedades do arco, tais como resistência elétrica e aquecimento
anódico. Soldas foram realizadas com eletrodo de aço inoxidável. Gráficos de corrente e
comprimento do arco em função da velocidade de alimentação foram traçados para
identificar os efeitos. Causas para o diferente comportamento dos gases são discutidas com
base na física do arco. Modelos estocásticos foram usados para validar as conclusões.
Concluiu-se que a mistura com 1%O2 apresenta pior resistência elétrica do que o Ar puro ou
a mistura com 2%O2, mas gera mais calor no ânodo do que o Ar com 2%O2. A mistura
Ar+2%O2 é a que apresenta a menor taxa de fusão para a mesma corrente e comprimento
de eletrodo. O comportamento variado destes gases é devido a uma complexa interação das
suas diferentes propriedades com os parâmetros de soldagem.

ABSTRACT
The effects of oxygen concentrations in Ar shielding gas on melting rate and arc properties,
such as electrical resistance and anodic heating, are presented. Welds were made with
stainless steel electrodes. Plots of current and electrode extension as a function of the wire
feed speed identified the effects. Causes for the distinct behaviors of the gases are
discussed in the light of the arc physics. Stochastic modeling was used to validate the
conclusions. Ar+1%O2 has poorer electrical resistance than pure Ar or Ar+2%O2. However, it
generates more heat at the anode than Ar+2%O2. Ar+2%O2 had the lowest melting rate for
the same current and electrode extension. The varied behaviors with these gases are due to
the complex interactions of their different properties to the welding parameters.

(1) Engenheiro Mecânico, PhD em Soldagem, professor/pesquisador do LAPROSOLDA da Universidade


Federal de Uberlândia, 38400-902, Uberlândia, MG, tel (034) 239 4192, fax (034) 239 4206, e-mail:
ascotti@ufu.br
(2) Engenheiro Metalúrgico, MSc. em Soldagem, pesquisador principal do Idaho National Engineering and
Environmental Laboratory, PO Box 1625-MS 2210, Idaho Falls, ID83415, EUA, fax (208) 526-0690, e-mail:
lln@inel.gov
(3) Engenheiro Mecânico, MSc. em Soldagem, pesquisador assistente do Idaho National Engineering and
Environmental Laboratory, PO Box 1625-, Idaho Falls, ID83415, EUA, fax (208) 526-0690, e-mail:
ed14@inel.gov

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XXIV ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DA SOLDAGEM,
XI CONGRESSO LATINO-AMERICANO e
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Fortaleza - CE
De 20 a 23 de Setembro de 1998

1 - Introdução
É razoavelmente bem conhecido o emprego da adição de oxigênio no Argônio como
gás de proteção nas soldagens MIG de aço inoxidável. Além do efeito de crescer a emissão
de elétrons (estabilização do arco), através da formação contínua de óxidos na superfície
metálica, adições de até 2% são consideradas ativas sobre a transferência metálica, fluidez
da poça e molhabilidade do metal de base. O caráter oxidante da mistura gasosa, entretanto,
pode levar à alguma perda de elementos de liga do material da solda (compensável pelo
arame de alimentação), além de oxidar a superfície do cordão.
Entretanto, pouco se sabe sobre os efeitos colaterais do oxigênio, tais como sobre a
taxa de fusão. Desta forma, procurou-se estudar neste trabalho a influência que teores de
oxigênio normalmente encontrados em gases comerciais poderia ter sobre esta propriedade
operacional, assim como encontrar justificativas através das possíveis alterações das
propriedades físico-químicas do plasma.

2 - Procedimento e Resultados Experimentais


Uma série de soldagens foram realizadas na posição plana em corpos de prova com
dimensões e materiais especificados na Figura 1. Três gases de proteção foram usados:
Argônio com pureza industrial (Ind. Ar) e as misturas industriais Ar+1%O2 e Ar+2%O2. Para
efeito de comparação, pequenos cordões de solda (≈ 25 mm) com os mesmos parâmetros
de ajuste (velocidade de alimentação - Valim, distância bico de contato-peça - DBCP, tensão
da fonte - Vref, velocidade de soldagem - Vsold) foram feitas em pares, alterando-se apenas
o gás de proteção. Foi usado uma fonte inversora, no modo tensão constante. A DBCP foi
mantida em 13 mm (a partir da superfície da chapa) e foi usado o eletrodo AWS ER308L,
diâmetro de 0,9 mm. A Vsold foi ajustada em cada caso em função da Valim, para se ter
sempre cordões de mesmo tamanho. Os sinais de corrente (I) e tensão (Varco) foram
adquiridos a uma taxa de 5 kHz por canal e tratados para se obter os respectivos valores
médios e desvios padrão.
Um sistema de Shadowgrafia por laser (He-Ne) e uma câmera de vídeo de alta
velocidade (1000 quadros/s) foram usados para medir o comprimento do eletrodo. O critério
para definir comprimento de eletrodo é explicado pela Figura 2.
As Tabelas 1 e 2 mostram como os pares com mesmos parâmetros de ajuste
(caracterizado pela Valim) apresentam valores médios de I diferenciados, enquanto os
valores de Varco são muito próximos (a diferença na Varco é causada principalmente pela
diferença em I, já que a fonte apresentava uma característica estática um pouco inclinada,
representada por Vref = Varco + 0,028 I). Estes dados foram colocados na forma de
gráficos, possibilitando verificar uma tendência da I ser maior para a mistura Ar+2%O2 do
que para a Ar+1%O2 (Figura 3). Quanto à comparação entre a mistura Ar+1%O2 e o gás
Ind. Ar, a I é quase sempre maior para a mistura a baixos valores de Valim
(consequentemente baixa I) e é sempre menor para a mistura a altos valores de Valim
(Figura 4). O ponto de interseção está em cerca de 200-250 mm/s, não muito bem definido.
Estes resultados mostram uma tendência genérica do aumento de oxigênio no gás vir a
demandar maior corrente, mas este efeito parece ser dependente da Valim (e/ou I).
Duas justificativas são propostas para explicar a necessidade de uma maior corrente
para fundir a mesma quantidade de arame, ou sejam: (a) os eletrodos, apesar da mesma
DBCP, apresentam-se com menores comprimentos, possivelmente devido às diferenças
nas propriedades dos gases (potencial de ionização, condutividade térmica e/ou potencial de
oxidação, os dois primeiros afetando a resistência elétrica e o último afetando a emissão
catódica na placa); e/ou (b) menos calor fornecido ao eletrodo através da conexão anódica.

3 - Análise das Justificativas


A medição das propriedades dos gases de proteção no ambiente de um arco elétrico é
uma tarefa difícil, devido à presença de altos valores e gradientes de temperatura,

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movimento de massa, forças eletromagnéticas, etc. Desta forma, uma macro análise do
problema parece ser mais eficiente, como a seguir.

3.1 - Análise relativa às propriedades elétricas, térmicas e químicas dos gases de


proteção
A seguinte hipótese é levantada: A adição de oxigênio no Ar muda as propriedades dos
gás de proteção de tal forma que menos/mais tensão por unidade de comprimento do arco é
requerida para manter o arco aberto. Como a tensão disponível é aproximadamente a
mesma (fonte de tensão constante), o comprimento do arco (consequentemente do
eletrodo) torna-se diferente. Assim, para a mesma taxa de fusão, valores diferentes de
corrente são requeridos.

Pode-se considerar que

∆Varco = ∆Vplasma + ∆Veletrodo (Equação 1), ou

∆Varco = ∆Vplasma/unidade de comp. do arco (média) x comp. do arco +


∆Veletrodo/unidade de comp. do eletrodo (média) x comp. do eletrodo (Equação 2).

Pode-se também assumir que ∆Vplasma/unidade de comp. de arco >>


∆Veletrodo/unidade de comp. do eletrodo, para uma dada I, e que os valores destes
parâmetros são invariáveis para uma dada condição (mesmos gás de proteção e eletrodo).
Se ∆Varco é constante e ∆Vplasma/unidade de comp. de arco torna-se, por exemplo, menor
em valor (devido a mudança de gás), então o arco necessita de se alongar para satisfazer o
primeiro termo da Equação 2. Entretanto, se o arco se alonga, o comprimento do eletrodo
tem de se tornar mais curto, já que a DBCP é constante. Então, o segundo termo da
Equação 2 (= ∆Veletrodo) diminui em valor. Para manter o equilíbrio, ∆Vplasma precisa se
tornar maior, uma vez que ∆Varco é uma constante (Equação 1).
Se ∆Vplasma torna-se maior ao mesmo tempo que ∆Vplasma/unidade de
comprimento de arco assume um valor menor, então o comprimento do arco cresce (única
solução possível).
Concluindo, para uma mesma corrente e tensão, se um gás de proteção fornece
menor resistência e/ou maior facilidade de emissão catódica, o seu arco é mais longo (e o
eletrodo mais curto)

3.2 - Análise relativa ao calor gerado na conexão anódica


Outra hipótese, não excludente, seria: A adição de oxigênio no Ar muda os
mecanismos de geração e transferência de calor na conexão anódica de tal forma que
menos/mais corrente é requerida para fundir a mesma quantidade de eletrodo.
Para um dado diâmetro e material de eletrodo, a taxa de fusão de um eletrodo, em MIG
polaridade inversa, é uma função da corrente média (I), comprimento do eletrodo (Celet) e
propriedades do gás de proteção. Esta função pode ser expressa por:

TF = αI + β Celet x I2 (Equação 3),

onde os coeficientes α e β estão relacionados com as propriedades do gás. Em regime, a


taxa de fusão é igual à velocidade de alimentação (Valim).
Concluindo, para se ter a mesma Valim usando gases cujos coeficientes α and β são
diferentes, a corrente média e/ou o comprimento do eletrodo tem de variar de um modo
balanceado.

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4 - Análise dos Resultados


Alcançar exatamente as mesmas condições de soldagem em dois experimentos é
muito difícil, mesmo em laboratórios com equipamentos automáticos e precisos. Existe uma
série de fatores difíceis de controlar, tais como, tolerâncias na forma da junta, distorção e
movimento da chapa (os quais dependem do tamanho e da posição do cordão na chapa),
etc. Além disto, o fenômeno da formação do arco é sistêmico, e a chance de se obter
exatamente a mesma freqüência de transferência de gotas, por exemplo, em uma solda
replicada, é muito baixa. Desta forma, propõe-se analisar as tendência observadas dos
experimentos como um todo, ao invés de comparar resultados isolados.
Figuras 5 e 6 mostram as diferenças nos comprimentos dos eletrodos para os
experimentos dos pares Ar+2%O2/Ar+1%O2 e Ar+1%O2/Ind. Ar, respectivamente. Como
visto na Figura 5, existe uma tendência das soldas feitas com Ar+2%O2 de apresentar
eletrodos mais curtos (arcos mais longos) do que aqueles com Ar+1%O2. Entretanto, esta
tendência é enfraquecida na direção de maiores valores de Valim, tornando inversa (e
indefinida) acima de aproximadamente 350 mm/s. Tendência similar pode ser observada na
Figure 6, mas o ponto de reversão acontece a valores de Valim muito mais baixos (200
mm/s). Há também uma ampla faixa de indefinição (de 50 a 200 mm/s).
Analisando as Figuras 3 e 5 do ponto de vista das propriedades dos gases (item 3.1),
poderia-se dizer que as propriedades fornecidas pela mistura com 2%O2 são melhores do
que as do Ar+1%O2, uma vez que os arcos apresentaram-se mais longos (comprimento de
eletrodo mais curto) em quase toda a faixa de Valim. Entretanto, esta relação entre
comprimento do arco/propriedade do gás só é válida quando a comparação é feita com o
mesmo valor de corrente, o que não é o caso. No presente caso, os arcos com
comprimento mais longos também tendem a apresentar correntes maiores. Para fazer com
que as correntes tornem-se as mesmas, uma forma seria crescer ainda mais o
comprimento dos arcos mais longos (este objetivo é atingido ao reduzir-se a Valim). Isto
pode ser demonstrado com o auxílio de gráficos de características estáticas, como o a ser
apresentado na Figura 8. Por isto, a suposição de que Ar+2%O2 fornece melhores
propriedades pode estar correta.
Existe um outro ponto a ser considerado. Como as diferenças nos comprimentos de
eletrodos são dependentes do valor de Valim, outros fenômenos podem estar acontecendo
concorrentemente, tal como o modo de aquecimento na conexão anódica (item 3.2). Se, por
alguma razão, os coeficientes α e β para Ar+2%O2 são similares aos do Ar+1%O2, ou a
corrente necessita crescer, ou o eletrodo precisa se alongar (ou ambos), de tal forma a se
manter a mesma taxa de fusão (= Valim). Aparentemente, o efeito da melhora das
propriedades do gás predomina a baixos valores de Valim, e o efeito do calor na conexão
prevalece a altas Valim. Observando a Equação 3, pode-se deduzir que o efeito conexão
torna-se mais pronunciado quando a corrente (consequentemente a Valim) cresce.
Examinando agora os resultados apresentados nas Figuras 4 e 6, a predominância
das propriedades do gás parece tornar-se efetiva para altas Valim, ou seja, Ind. Ar parece
fornecer menor resistência do que o Ar+1%O2 (comprimentos de eletrodos mais curtos -
arcos mais longos). Como a redução no comprimento do eletrodo parece ser compensada
pela corrente mais alta, os coeficientes α e β dos gases são provavelmente similares.
Porém, indo na direção de menores Valim, existe uma clara tendência de decrescer o
efeito das menores resistências do Ind. Ar. Abaixo de cerca de 200 mm/s, não há somente
uma inversão de tendências para as diferenças de I e Celet, mas também um
comportamento indefinido (um grupo de experimentos apresentou Celet mais longos e
correntes mais baixas para o Ind. Ar, enquanto outro grupo apresentou o mesmo para
Ar+1%O2).
Para investigar este comportamento bizarro, as diferenças de I entre Ind. Ar e
Ar+1%O2 foram traçadas contra tanto o valor absoluto do Celet do Ind. Ar, como as
diferenças de Celet entre Ind. Ar e Ar+1%O2. Somente dados na faixa de baixa Valim (50 a
220 mm/s) foram usados. A Figura 7 mostra uma tendência dos valores absolutos de Celet

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serem maiores quando a I é maior para Ar+1%O2 (lado esquerdo da curva) e mais curto
quando a I é maior para o Ind. Ar (lado direito da curva). Entretanto, não há uma disposição
definida em relação às diferenças de Celet (pode-se considerar que em média os eletrodos
apresentam os mesmos comprimentos para cada par de experimento). A oscilação do Celet
em torno da linha zero de diferenças pode ser justificada pela instabilidade típica do
comprimento de eletrodos em soldas em regime de transferência do tipo Globular ou Curto-
circuito.
Esta observação pode levar à conclusão de que, ao comparar Ind. Ar e Ar+1%O2 a
baixa Valim, o fenômeno que causa diferenças na corrente é dependente do valor absoluto
de Celet (que por sua vez é controlado pela Vref). O efeito do modo de aquecimento no
ânodo é esperado ser insignificante a baixas Valim, mesmo se α e β fossem diferentes, uma
vez que a corrente é baixa (veja Equação 3), sobrando o efeito das propriedades dos gases
para explicar as diferenças de corrente.
Com o auxílio da Figura 8, pode-se demonstrar que a corrente deve alterar-se para
manter o mesmo comprimento de arco, se dois gases com propriedades diferentes são
usados para soldar com os mesmos parâmetros de ajustes. Somente uma grande diferença
nos coeficientes da expressão para taxa de fusão poderia mudar este comportamento. A
questão, então, é como um mesmo gás pode ora se comportar como de melhores
propriedades e ora como de piores propriedades.
Inicia-se pela situação na qual o arco é mais longo (Celet mais curto, lado direito da
Figura 7). Se a Valim e o Celet são os mesmos, uma corrente mais alta apresentada pelo
Ind. Ar significa, de acordo com a Figura 8, que este gás tem melhores propriedades do que
o Ar+1%O2. Usando agora a situação em que os comprimentos de arco são curtos (longos
Celet, lado esquerdo da Figura 7), o gás que apresenta maior corrente é o Ar+1%O2.
Assumindo novamente não haver o efeito do calor na conexão anódica, esta observação
sugere uma inversão nas propriedades elétricas/térmicas/químicas destes dois gases nesta
faixa de Valim, isto é, a mistura Ar+1%O2 tornando-se a melhor.
Entretanto, outro fenômeno predominante pode estar agindo concomitantemente nesta
faixa de Valim. Para pesquisar esta possibilidade, o modo de transferência de cada par de
experimentos foi também colocado sobre o gráfico da Figura 7. Como esperado,
transferência por curto-circuito é mais provável acontecer em soldas com eletrodos mais
longos. Durante este tipo de transferencia, a corrente é conduzida parcialmente pelo arco e
parcialmente através do metal fundido, fato que pode afetar as características de resistência
do plasma (e/ou outras também bastante complexas, como tensão superficial do líquido,
facilidade de re-ignição do arco e características dinâmicas da fonte). Além disto, a corrente
média torna-se função da duração e freqüência dos curtos-circuitos, parâmetros de difícil
controle, mas certamente relacionado com o tipo de gás. Por isto, a variação em corrente
para a mesma Valim e comprimento de arco para diferentes gases pode também ser devido
às ocorrências de curto-circuito. Se for o caso, o efeito do curto-circuito não deve ser
predominante, pois não foi observado a mesma tendência na comparação entre Ar+2%O2 e
Ar+1%O2.

4 - Validação dos Resultados


Para validar a análise acima, Regressão Linear foi usada para desenvolver modelos
experimentais. Estes modelos visam a “quantificação” de duas características dos gases, ou
sejam, a tensão requerida pela coluna de plasma e o calor gerado na conexão anódica.
Característica Estática de Arco (CEA) parece ser uma boa forma de se determinar a
capacidade de um gás para conduzir elétrons e fazer emiti-los da superfície da chapa, ou
seja, a resistência elétrica. A tensão requerida é função desta resistência elétrica.
Considerando que o Celet, a I e a Varco foram medidos em todos experimentos, a solução
dos coeficientes da Equação 4 pode fornecer os meios para comparar os gases. A Tabela 3
apresenta os coeficientes e respectivos índice estatístico obtidos da Análise de Regressão
Linear Múltipla, enquanto a Figura 9 ilustra o efeito dos valores estimados para os três gases.

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Varco = κo + κ1 I + κ2 Celet (Equação 4).

Como pode ser visto na Figura 7, as estimativas da tensão para manter o arco aberto
apresentam-se com a mesma inclinação para os diferentes comprimentos de eletrodos (ou
comprimentos de arco). Entretanto, esta inclinação pode variar de gás para gás, como
mostra as linhas para o Ind. Ar. A diferença entre os valores estimados entre Ar+1%O2 e
Ar+2%O2 é muito pequena para eletrodos longos, mas um eletrodo curto com Ar+1%O2
demanda mais tensão do que com Ar+2%O2 para manter o mesmo comprimento de arco.
Ind. Ar também parece ser melhor condutor/emissor do que Ar+1%O2, mas as linhas dos
valores estimados destes dois gases se cruzam. Esta possibilidade foi prevista pela análise
acima.
Mas ainda não está claro o porquê da adição de oxigênio a 1% deteriorar esta
propriedade dos gás de proteção, enquanto uma adição de 2% aumenta a capacidade
novamente. Isto sugere que o Argônio tem um potencial de ionização menor do que os das
misturas com Oxigênio. Entretanto, o alto potencial de ionização alcançado nos teores de
2% pode compensar esta desvantagem através do crescimento da emissão catódica. Foi
também observado nos experimentos não haver a faixa de limpeza catódica ao lados dos
cordões feitos com gás contendo Oxigênio. Este fenômeno característico das soldas com Ar
puro mostrou-se reduzir com o aumenta da corrente. Como todas as soldas foram
realizadas com o mesmo volume, consequentemente a mesma largura da poça de fusão, a
largura da faixa de limpeza catódica torna-se um bom parâmetro para avaliar a emissão
catódica. E esta observação poderia explicar a existência dos pontos de interseção
mostrados na Figura 9; a baixas corrente, a emissão catódica prevalece sobre a resistência
elétrica, principalmente a arcos curto (arcos longos demandam mais da resistência elétrica)
Com relação ao calor gerado na conexão anódica, a determinação dos coeficientes da
Equação 3 parece ser a melhor forma de avaliar esta propriedade. A Tabela 4 apresenta os
coeficientes e índice estatístico resultantes da Análise de Regressão, enquanto a Figura 10
ilustra o comportamento estimado para cada gás a um dado comprimento de eletrodo (6
mm)
A pequena diferença entre Ind. Ar e Ar+1%O2 justifica a causa da não interferência
desta característica dos gases na análise comparativa entre estes dois gases. O maior
efeito induzido por altas correntes com Ar+2%O2 concorda com a justificativa para a redução
na diference entre Celet, quando este gás foi comparado com Ar+1%O2.

5 - Conclusões
Da análise baseada nas diferenças entre corrente para soldas com os mesmos
parâmetros de ajuste, as seguintes conclusões, relativas à soldagem MIG de aço inoxidável,
foram tiradas:
a) A mistura de proteção Ar+2%O2 apresenta melhor característica de resistência elétrica do
que a mistura Ar+1%O2, característica que lhe confere arcos mais longos (menores
comprimentos de eletrodos) e maior corrente de soldagem;
b) Ar+2%O2 gera menos calor na conexão anódica do que Ar+1%O2, característica
responsável pela redução da diferença no comprimento do eletrodo quando ambos gases
são usados à altas velocidades de alimentação;
c) O Argônio com grau de pureza industrial também apresenta menor resistência elétrica do
que a mistura Ar+1%O2, com as respectivas conseqüências sobre o comprimento do arco e
corrente. Entretanto, a baixos valores de velocidades de alimentação, a diferença desta
propriedade entre os dois gases parece diminuir ou até reverter.
d) A diferença entre o calor gerado no ânodo entre o Ar industrial e a mistura Ar+1%O2
parece ser pequena.
e) O Ar industrial e a mistura Ar+1%O2 apresentam similar taxa de fusão para uma mesma
corrente e comprimento de eletrodo, a qual é maior do que para a mistura Ar+2%O2.

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Entretanto, deve-se tomar cuidado, pois para o mesmos parâmetros de ajuste, estes gases
proporcionam diferentes comprimentos de arco, em função de uma complexa inter-relação
entre suas propriedades.

Tabela 1 -Pares Ar+2%O2 x Ar+1%O2 Experimento Valim I V ∆I ∆V


Experimentos Valim I V ∆I ∆V BES7-AS-2 82.1 90.1 27.8 -3.3 0
BES8-AS-61 56.7 78.4 26.0 -22.3 0.1 BES8-AS-28 107.3 117.2 24.7
BES8-AS-1 56.7 56.1 26.1 BES8-AS-8 107.3 119.6 24.5 -2.4 0.2
BES8-AS-75 65.0 79.3 22.5 3.0 0.0 BES8-AS-22 111.7 135.5 27.6
BES8-AS-15 65.0 82.3 22.5 BES8-AS-2 111.7 121.4 27.3 14.1 0.3
BES8-AS-60 82.1 128.7 27.4 -38.6 0.4 BES7-AS-21 113.5 81.1 23.3
BES7-AS-2 82.1 90.1 27.8 BES7-AS-1 113.5 100.4 22.7 -19.3 0.6
BES8-AS-62 111.7 155.7 27.0 -34.3 0.3 BES7-AS-27 141.5 120.5 24.7
BES8-AS-2 111.7 121.4 27.3 BES7-AS-8 141.5 125.0 26.9 -4.5 -2.2
BES8-AS-63 166.0 203.6 28.5 -28.1 0.1 BES8-AS-31 148.2 129.4 21.9
BES8-AS-3 166.0 175.5 28.6 BES8-AS-11 148.2 141.4 21.2 -12.0 0.7
BES8-AS-66 317.1 310.5 31.9 -31.6 0.2 BES8-AS-23 166.0 191.4 28.8
BES8-AS-6 317.1 278.9 32.1 BES8-AS-3 166.0 175.5 28.6 15.9 0.2
BES8-AS-165 333.5 241.3 25.8 -23.3 -0.2 BES8-AS-27 183.4 185.9 27
BES7-AS-5 333.5 218.0 25.6 BES8-AS-7 183.4 183.0 26.9 2.9 0.1
BES8-AS-168 459.3 336.5 32.8 -17.0 0.2 BES8-AS-25 193.0 215.4 29.3
BES7-AS-9 459.3 319.5 33.0 BES8-AS-5 193.0 196.6 29.1 18.8 0.2
BES8-AS-78 403,6 337,3 32,8 -4,7 0,1 BES8-AS-29 193.3 174.7 25.6
BES8-AS-18 403,6 332,6 32,9 BES8-AS-9 193.3 170.4 25.5 4.3 0.1
BES10-AS-61 309,0 284,3 30,5 -5,7 0,2 BES8-AS-24 220.2 236.1 30
BES10-AS-1 309,0 278,6 30,7 BES8-AS-4 220.2 211.6 30 24.5 0
BES10-AS-63 141,7 182,9 27,3 -3 0,1 BES7-AS-26 249.9 239.1 30.5
BES10-AS-3 141,7 179,9 27,4 BES7-AS-6 249.9 238.4 30.6 0.7 -0.1
BES10-AS-64 414 304,4 30,5 7,5 -0,2 BES7-AS-29 287.9 246.1 26.3
BES10-AS-4 414 311,9 30,3 BES7-AS-10 287.9 215.1 27.2 31.0 -0.9
BES10-AS-65 100,2 121,6 26,2 -3,4 0,1 BES8-AS-26 317.1 315.1 31.9
BES10-AS-5 100,2 118,2 26,3 BES8-AS-6 317.1 278.9 32.1 36.2 -0.2
BES10-AS-66 200,7 241,3 30,4 -4,5 0 BES7-AS-25 333.5 247.1 25.1
BES10-AS-6 200,7 236,8 30,4 BES7-AS-5 333.5 218.0 25.6 29.1 -0.5
BES10-AS-67 370,4 317,8 32,1 -8,7 0,3 BES7-AS-28 459.3 341.2 32.4
BES10-AS-7 370,4 309,1 32,4 BES7-AS-9 459.3 319.5 33 21.7 -0.6
BES10-AS-21 309,0 303,4 30,0
Tabela 2 - Pares Ind.Ar x 1%O2 BES10-AS-1 309,0 278,6 30,7 24,8 -0,7
Experimento Valim I V ∆I ∆V BES10-AS-25 102,2 108,6 26,6
BES8-AS-21 56.7 81.3 26.1 BES10-AS-5 102,2 118,2 26,3 -9,6 0,3
BES8-AS-1 56.7 56.1 26.1 25.2 0 BES10-AS-26 200,7 226,2 30,8
BES8-AS-36 60.0 78.5 24.6 BES10-AS-6 200,7 236,8 30,4 -10,6 0,4
BES8-AS-16 60.0 80.9 24.5 -2.4 0.1 BES10-AS-27 370,4 327,4 31,9
BES8-AS-35 65.0 79.4 22.6 BES10-AS-7 370,4 309,1 32,4 18,3 -0,5
BES8-AS-15 65.0 82.3 22.5 -2.9 0.1
BES7-AS-22 82.1 86.8 27.8

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Tabela 3 - Coeficientes e índice estatísticos calculados para a Equação 4

Gás de Coeficientes da Equação 4 Coef. de Corre-.


Proteção κ1 κ2 κ3 lação (R2)
Ind. Ar 27.8199898 0.024799709 -0.750304045 0.89
Ar+1%O2 27.45836755 0.034681969 -0.893972977 0.91
Ar+2%O2 24.49624329 0.035124601 -0.523159075 0.87

Tabela 4 - Coeficientes e índice estatísticos calculados para a Equação 3

Gás de Coeficientes da Equação 3 Coef. de


Proteção α β Correl. (R2)
Ind. Ar 0.6389798289 0.0002939327 0.97
Ar+1%O2 0.6044550980 0.0002981035 0.96
Ar+2%O2 0.5743193376 0.0002747117 0.99

Figura 1 - Forma e dimensão da junta Figura 2 - Critério para definir o Comprimento de Eletrodo (Celet) de
usada nos corpos de prova acordo com o modo de transferência, onde “d” é o diâmetro do eletrodo

Figura 3 - Diferenças de corrente entre soldagens com mesmo ajustes usando Ar+2%O2 e Ar+1%O2

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Figura 4 - Diferenças de corrente entre soldagens com mesmo ajustes usando Ar+1%O2 e Ind. Ar

Figura 5 - Diferenças de comprimento de eletrodo entre soldagens com mesmo ajustes usando Ar+2%O2 e
Ar+1%O2

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Figura 6 - Diferenças de comprimento de eletrodo entre soldagens com mesmo ajustes usando Ar+1%O2 e
Ind. Ar

Figura 7 - Gráfico mostrando a dependência da diferença de corrente das soldas com Ind. Ar e relação às
soldas com Ar+1%O2 em relação ao comprimento absoluto do eletrodo com o Ind. Ar, à diferença de
comprimentos dos eletrodos com ambos gases e ao tipo de transferência

Figura 8 - Características Estática de 2 arcos diferentes (Gás2 tem melhores propriedades do que Gás 1) para
o mesmo comprimento de arco (Celet1 = Celet2) e Valim.

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Figura 9 - Curvas estimadas de Característica Estática de Arcos com diferente gases, para dois
comprimentos de eletrodos diferentes (4 e 8 mm). Para calcular o comprimento de arco visível, subtrai-se o
Celet de 13 mm.

Figura 10 - Curvas de consumo para os três gases, para um comprimento de eletrodo igual a 6 mm

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