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divorciados
e recasados
- A Igreja
não vos esqueceu
ISBN: 978-85-7517-087-8
3. REFLEXÕES EXEGÉTICAS / 7
5. B IB L IO G R A F IA /13
6. ANEXOS / 14
1 Uma realidade a aceitar
Cada casal é um único casal diante de Deus, do Deus que “só Ele conhe
ce o que há no interior do homem” (João Paulo II, Homilia de 22/10/1978).
Jesus não veio “para condenar, mas para salvar... veio para doentes e.pe
cadores” .
Cada casal, diante de Deus, deve ver a sua própria realidade, essa que só
Ele conhece.
A Igreja sofre diante de tantos casais vivendo uma segunda união, mas
está presa à Palavra de Jesus (Mc 10, 11-12): “Quem repudia sua mulher e
se casa com outra, comete adultério contra a primeira. E se a mulher repudia
o marido e se casa com outro, comete adultério” .
A nossa Igreja presa e prendendo tantos casais, impedindo-os de se
aproximar do Banquete Eucarístico...
Mas a mesma Igreja reconhece: “Em todos os homens de boa vontade,
neles a graça opera de modo invisível. Assim, tendo Cristo morrido por to
dos e sendo uma só a vocação última do homem, devemos admitir que o
Espírito Santo oferece a todos a possibilidade de se associarem, de modo só
conhecido por Deus, ao mistério pascal” (Gaudium et Spes, cap. 1, n. 268).
Aceitem a sua realidade, não se excluam, nem se sintam excluídos da
Igreja, muito menos do abraço do Pai que é amor, ternura e misericórdia.
Cada casal deve experimentar a ternura, a misericórdia desse Pai que,
como ao Filho Pródigo, dizia: “Meu filho, meu filho! Você nunca deixou de
ser meu filho!”
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Embora a Eucaristia seja o grande meio de união com o Senhor, Ela não
é o único meio. A Rússia Comunista viveu quase um século sem Ela e, ao
terminar o Comunismo, como a Igreja novamente refloriu!
Vamos, pois procurar ter uma vida cristã com outros meios.
Retomamos as orientações do Papa João Paulo II, presentes na Exorta
ção Apostólica Familiaris Consortio, n. 84.
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das as coisas e minha alma suspira p o r Vós. Mas, como não posso receber-
Vos agora no Santíssimo Sacramento, vinde, ao menos espiritualmente, ao
meu coração. Abraço-me convosco como se já estivésseis comigo: uno-me
convosco inteiramente. Ah! não permitais que torne a separar-me de Vós! O
Sumo Bem e doce amor meu, vulnerai e inflamai o meu coração, a fim de
que esteja abrasaáo em Vosso Amor para sempre. Amém ” (Santo Afonso
Maria de Ligório).
Participem na Missa e na caridade. Não poder comungar não significa
ficar excluído da Igrçja.
O Senhor está perto de quem tem o coração ferido, das muitas pessoas
que se divorciaram e que vivem uma nova união.
A impossibilidade de aproximar-se da Comunhão Eucarística, para os
casados que vivem estavelmente uma segunda união, não implica um juízo
sobre a relação que une os divorciados que voltaram a se casar.
O fato de que, com freqüência, estas relações sejam vividas com senso
de responsabilidade e com amor, no casal e para com os filhos, é uma reali
dade que a Igreja e seus pastores levam em consideração.
E um erro considerar que a norma que regulamenta o acesso à Comu
nhão Eucarística signifique que os cônjuges divorciados que voltam a se
casar estejam excluídos de uma vida de fé e de caridade, vividas dentro da
comunhão eclesial.
Certamente, a vida cristã tem seu cume na plena participação da Eucaris
tia, mas não se reduz só a seu cume.
Os divorciados que voltam a se casar participem com fé da Missa, ainda
que não possam comungar, pois a riqueza da vida da comunidade eclesial
continua à disposição de quem não pode aproximar-se da Santa Comunhão.
A Igreja espera destas pessoas uma presença ativa e uma disponibilida
de para servir a quem tem necessidade de sua ajuda, começando pela tarefa
educativa que, como pais, têm de desempenhar com as fam ílias de origem.
A Igreja não vos esqueceu e não vos rejeita nem vos considera indignos.
Para a Igreja, sois irmãos e irmãs amados.
Quando se rompe um matrimônio, não sofrem só os interessados, mas a
Igreja também sofre: Por que o Senhor permite que se rompa o vínculo que
constitui o grande sinal de seu amor total, fiel e inquebrantável?.
Quando se rompe este laço, a Igreja, em certo sentido, se empobrece, fi
ca privada de um sinal luminoso que devia ser motivo de alegria e consolo.
A Igreja deve tratar com amor aquelas pessoas que, por sua situação
pessoal, não podem comungar.
Não comungar não significa estar excluído da Igreja e muito menos ex
comungado.
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Há requisitos pessoais que limitam tal direito: a necessidade do estado de
graça para receber a Sagrada Comunhão, a ser julgado pelo interessado e há
também algumas expressões externas que interpelam os sagrados pastores.
Segundo escreveu João Paulo II na Encíclica Ecclesia de Eucharistia,
“nos casos de um comportamento externo grave, aberta e estavelmente con
trário à norma moral, a Igreja, em seu cuidado pastoral pela boa ordem co
munitária e por respeito ao Sacramento, não pode mostrar-se indiferente” .
A esta situação de manifesta indisposição moral refere-se a norma do
Código de Direito Canônico que não permite a admissão à comunhão euca-
rística aos que “obstinadamente persistam em um manifesto pecado grave”,
escrevia o Papa Karol Wojtyla.
Esta norma refere-se a uma grande diversidade de situações irregulares:
todas, contudo, devem observar-se com amorosa paciência e solicitude pas
toral, para tentar que sejam regulares e para evitar que nenhum fiel se afaste
da Igreja, ou que, mais ainda, considere-se excomungado apenas pelo fato
de não poder receber a Comunhão.
A proibição de comungar' aos divorciados que se casaram novamente
não é uma lei inventada pela Igreja, mas obedece à lei de Deus.
Se duas pessoas se casaram e se esse matrimônio é válido diante de
Deus e da Igreja, ainda que esse matrimônio tenha fracassado, não temos o
poder de desfazer esse matrimônio, que é válido ante Deus e a Igreja.
O que fazer? Uma coisa é ter compaixão por eles porque sofrem, e algo
muito distinto é dizer que podem encontrar outro marido ou outra mulher e
viver juntos e receber a comunhão,
São membros da Igreja, mas neste estado não podem - atendendo-se à
verdade de vida - ter acesso à comunhão.
Nós, bispos e padres, não somos mais que*ministros, e temos que res
ponder perante Deus por isso.
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Todos esses casais poderão e deverão se dedicar a obras de caridade e
misericórdia e mesmo liderar iniciativas em prol da justiça nos grupos da
paróquia. Realizam assim o Mandamento do amor fraterno. Unem-se a todos
os homens de boa vontade que querem instaurar uma terra mais justa e mais
fraterna, mais próxima do ideal do Reino que quer construir um mundo de
irmãos. O fato de que esses casais não possam receber o Sacramento do Ma
trimônio não tira o valor de sua atividade. Os divorciados não são cidadãos
de segunda categoria na Igreja. Não precisam jamais trabalhar de maneira
escondida.
3 Reflexões exegéticas
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E o que Jesus falou com essa mulher, cuja vida parecia para ele um livro
aberto? Iniciou com ela um dos mais belos diálogos mistagógicos que os
evangelhos nos transmitiram. Disse claramente a ela que conhecia a sua vida
irregular: “Falaste bem: ‘não tenho m arido’, pois tiveste cinco maridos e o
que tens agora não é teu marido” (Jo 4, 17-18). Ela estava juntada com um
homem, sem a sanção legal do casamento. E Jesus não lhe disse: “Não posso
falar contigo, pois estás numa situação irregular. Resolve o teu problema,
realiza o casamento com o homem ou separa-te dele - então podes voltar e
eu vou-te ensinar como rezar ao Pai” . Não!
Ele a acolheu, na situação em que estava, e a evangelizou tão profunda
mente que ela se tomou apóstola na cidade. Não nos consta que ele deu ins
truções morais a ela. Será que ele confiou na força transformadora da Boa-
Nova que produz a conversão também dos costumes? Nesta linha não de
vemos também afirmar que a Igreja existe para evangelizar, não para mora
lizar? Que ela também deve confiar na força da conversão evangélica que
desabrochará na conduta moral certa? “Agora sois luz no Senhor: andai co
mo filhos da luz” (E f 5 ,8 ). “Se vivemos pelo Espírito, pelo Espírito também
pautemos a nossa conduta” (G1 5, 25).
A atitude pastoral de Jesus para com a samaritana não contradiz a sua
afirmação categórica sobre a indissolubilidade do Matrimônio. Os discípulos
precisam aprender com o Mestre a junção'polarizada e fecunda dos dois
enfoques: o equilíbrio. Nenhuma posição extremista: nem um rigor legalista
que abafe a misericórdia da atividade pastoral; nem uma tentativa reducio-
nista na interpretação das afirmações claras e fortes sobre Matrimônio e
adultério.
Há quem diga que existem outras palavras radicais de Jesus que a Igreja
não interpreta ao pé da letra.
Como, por exemplo, “caso tua mão direita te leva a pecar, corta-a e lan
ça-a longe de ti” (Mt 5, 30). Claro que o cristianismo não prescreve o que se
encontra na legislação extremista de alguns países muçulmanos.
Não se poderia também tentar uma interpretação mais branda das afir
mações sobre o matrimônio? A versão de Mateus não vai nesta direção? De
fato, ele coloca uma ressalva: “Eu vos digo que todo aquele que repudia a
sua mulher - exceto por motivo de fomicação - e desposar uma outra, co
mete adultério” (Mt 19, 9).
A palavra grega correspondente a “fomicação” é “pom éia” . A Bíblia de
Jemsalém comenta: “Alguns querem ver aí a fomicação no casamento, isto
é, o adultério, e assim acham aqui a permissão para divorciar em caso seme
lhante; é o que fazem as Igrejas ortodoxas e protestantes. Mas nesse sentido
seria de esperar óutro temio, ‘moicheia’. Ao contrário, no contexto, por-
néia’ parece ter o sentido de 'zenut' ou 'prostituição', como se encontra nos
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escritos rabínicos, o qual se aplica a toda união tomada incestuosa em virtu
de de um grau parentesco interditado pela lei”.
Parece que a TEB (A Bíblia - Tradução Ecumênica) acompanha este ra
ciocínio, traduzindo o trecho da ressalva por “exceto em caso de união ile
gal”. Em tal situação não haveria casamento e a declaração da nulidade en
volveria a separação.
Nesta linha, a Igreja, desconhecendo o divórcio, aplica a declaração de
nulidade, quando num processo canônico se evidenciou falha grave legal na
constituição de um casamento.
A versão sem ressalvas por parte de Marcos e Lucas é reforçada por São
Paulo quando diz: “Quanto àqueles que estão casados, ordeno, não eu, mas o
Senhor: não se separe a mulher do marido; se, porém, se separar não se case
de novo, ou reconcilie-se com o marido; e o marido não repudie a sua espo
sa” (IC or 7, 10-11).
São Paulo se refere ainda a uma situação que parecia bastante comum
naquela época: a união matrimonial entre uma parte cristã e outra pagã. O
seu conselho é que fiquem unidos se a outra parte respeita o compromisso
cristão do cônjuge. Se não, ele admite a separação. “Se o não-cristão quer
separar-se, separe-se. O irmão ou a irmã não estão ligados em tal caso; foi
para viver em paz que Deus vos chamou” (1 Cor 7, 15). Não diz claramente
que, em tal caso, a parte cristã poderia contrair o sacramento do Matrimônio
com outro parceiro cristão.
Em outro lugar, sim, dá ao casamento entre cristãos um valor e vigor su
perior: “Maridos, amai as vossas mulheres como Cristo amou a Igreja... É
grande este mistério: refiro-me à relação entre Cristo e a Igreja” (Ef 5, 25-32).
A Igreja interpretou as palavras de São Paulo na linha do chamado “pri
vilégio Paulino”, isto é, como concessão de um novo casamento entre partes
cristãs, depois da separação de uma união matrimonial entre cristão e não-
cristã. Dessa maneira se destaca o aspecto sacramental do Matrimônio entre
cristãos. Mas a indissolubilidade do Matrimônio, segundo as palavras de
Jesus, não repousa apenas sobre a forma sacramental e, sim, sobre a inten
ção do Criador.
Jesus, a respeito do Sacramento, usa formulações radicais, a ponto de as
sustar os próprios discípulos, que comentaram: “Se é assim a condição do
homem em relação à mulher, não vale a pena casar-se” (Mt 19, 10). E Jesus
não recua com explicações lenitivas. Mas parece que só a respeito da Eucaris
tia ele assumiu tal posição radical. Não fez concessões aos judeus escandali
zados pela afirmação de ser Ele o Pão Vivo descido do Céu. Antes provocou
os discípulos mais próximos: “não quereis vós também partir?” (Jo 6, 67).
Quanto à Eucaristia, como quanto ao Matrimônio indissolúvel, Jesus não
admite reduções. Antes, com sua plena autoridade, maior que a de Moisés,
anula permissões de divórcio e reconduz tudo ao estado inicial, como foi
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intencionado pelo criador: “Moisés, por causa da dureza dos vossos cora
ções, vos permitiu repudiar as vossas mulheres, mas desde o principio nào
era assim. E eu vos digo...” (Mt 19, 8-9).
“Foi dito aos antigos... Eu, porém, vos digo” (Mt 5, 21-22).
Jesus assume claramente o seu papel de enviado do Pai para restaurar e
salvar a criação. Deus fez repousar a história da humanidade sobre a base da
família. “Não lestes que desde o princípio o criador os fez^ homem e mu
lher?” (Mt 19, 4). De fato, no Gênesis se lê que Deus disse: “Façamos o ser
humano à nossa imagem e semelhança” (Gn 1,26). .
Os Padres gregos descobriram no verbo em plural uma pista trimtana,
numa releitura cristã do texto. Deus criou homem e mulher e disse: “sedes
fecundos, multiplicai-vos” (Gn 1, 28). A família é célula-mãe de toda a so
ciedade humana. A convivência humana é ameaçada nos seus fundamentos
quando se destrói a consistência da família. Daí a palavra impositiva. O
que Deus uniu o homem não deve separar” (Mt 19, 6).
Sempre me tem impressionado a “vida oculta” de Jesus de Nazaré. Trin
ta anos! Anos “perdidos”? Ou teria gastado todo esse tempo para lançar o
fundamento da Igreja, pelo cultivo paciente da primeira Igreja doméstica: a
Sagrada Família, Jesus, Maria, José?
Segundo São Paulo, Jesus,' amando a Igreja, se tomou modelo para 9
Matrimônio cristão, que assume um aspecto sagrado e sacramental. E como
tal, com reforços divinos de graça, pode qualificar os cristãos casados e, por
eles, a Igreja toda, a ser fermento na massa humana, ameaçada de se cor
romper na dissolução dos costumes.
As palavras de Jesus sobre adultério de recasados são duras, intransigen-
tcs?
A Igreja é intransigente ao receber e aplicar essas palavras, em todo seu
vigor? • • « . ,
Quando Jesus anunciou em forma intransigente a Eucaristia, muitos cie
seus discípulos, ouvindo-o, disseram: ‘essa palavra é dura! Quem pode escu-
tá-la?’... A partir daí, muitos discípulos voltaram atrás e não andavam mais
com ele” (Jo 6, 60-66). ^ ^
Muitos católicos recasados se chocam com a “intransigência da Igreja a
respeito da irregularidade de um segundo casamento, sobretudo diante da
“exclusão” da Eucaristia.
Quem é Jesus? É difícil ser entendido por nossos sistemas e paradigmas.
Ele é “intransigente” na total obediência ao Pai, até a morte. E é, ao mesmo
tempo, a visibilidade da misericórdia do Pai. Em nossos paradigmas huma
nitários” confundimos misericórdia com permissividade. A cena da adúltera,
levada aos pés de Jesus, para ele a condenar, é ilustrativa para a pessoa e
conduta de Jesus: “Ninguém te condenou?... Também eu não te condeno;
vai, e de agora em diante não peques mais” (Jo 8, 10-11).
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Jesus, como o Pai, ama os pecadores, mas não compactua com o pecado.
Levanta os errantes, mas não declara, permissivamente, o erro como conduta
cejta.
É pena que São João tenha terminado a história da adúltera com a exor
tação de Jesus: “não peques mais”. Gostaria de saber o que aconteceu na
vida dessa mulher. Ela, convertida e absolvida por Jesus, voltou ao marido?
O marido também a perdoou e eles então viveram fiéis e felizes até o fim da
vida? Ou o marido não a aceitou de volta e ela foi para a casa dos pais? Es
ses a aceitaram e ela viveu uma vida recolhida e piedosa com eles? Ou nem
os pais a acolheram e ela ficou “na rua”, sem eira nem beira, e caiu na pros
tituição?
Á vida tefn tantas variantes imprevisíveis! Uma coisa é certa: até na
prostituição o Pai misericordioso a ama.
Sabemos de outra mulher “irregular”, da qual haviam saído sete demô
nios (Lc 8, 2), e que se tom ou discípula distinta de Jésus: Maria Madalena.
Sabemos que Jesus defendeu a “pécadora”, que lavou seus pés com lágri
mas, contra a condenação do fariseu que o convidou: “ela demonstrou muito
amor” (Lc 7, 47).
A falta de amor, o rigor excludente de uma auto-suficiência moral orgu
lhosa é, aos olhos de Jesus, mais detestável do que os pecados contra o sexto
e sétimo mandamentos: “Os publicanos e as prostitutas vos precederão no
Reino de Deus” (Mt 21, 31).
É evidente que, para Jesus, os pecados contra o sexto mandamentç não
são os mais pesados.
Por que então a aparente discriminação dos católicos recasados diante da
Eucaristia? “Discriminação” vem da mesma raiz de “discernir” . Para todos
os cristãos, São Paulo põe uma barreira diante da Eucaristia: “Que cada um
examine a si mesmo antes de comer desse pão e beber desse cálice, pois
aquele que come e bebe sem discernir o Corpo, come e bebe a própria con
denação” (IC or 11, 28-29). No contexto, São Paulo não se dirige a recasa
dos, mas aos Coríntios ricos que se banqueteavam, discriminando os pobres
(cf. ICor 11, 17-22).
Davi é apresentado no AT como amigo de Deus, apesar de não ser mo-
nogâmico. E no pecado de adultério dele o que mais provocou a repreensão
de Deus foi ter eliminado o marido da mulher com quem cometeu adultério.
O próprio Davi viu, no fim da vida, na sua violência o motivo de ter desa
gradado a Deus, que não lhe permitiu constmir o templo, dizendo: “Tu não
constrairás uma casa ao meu nome, pois derramaste muito sangue sobre a
terra” (1 Cr 22, 5).
Antes de receber a Eucaristia, todos dizem: “Senhor, eu não sou digno
de que entres em minha casa” . Todos somos pecadores, necessitados do
perdão. O aparente rigor eclesiástico para católicos recasados, não permitin
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do o acesso à comunhão, está na palavra “discriminatória” do próprio Jesus
sobre o adultério.
A Igreja não sabe como perdoá-los eclesial e visivelmente, enquanto
permanecer a situação de um segundo casamento, que representa situação
permanente de adultério. Talvez muitos outros pecados sejam mais graves.
Mas são fatos isolados que, depois de arrependidos, podem ser perdoados.
Mas os problemas de recasados não são fatos isolados e, sim, uma situação
irregular permanente.
Deus ama a todos eles, mas não é a Igreja que pode resolver a situação
por uma interpretação permissiva da palavra de Jesus sobre a indissolubili-
dade do matrimônio.
Devido ao fato de não poderem comungar, a Igreja reza por eles e com
eles. Todos devemos estar muito unidos à dor que experimentam por não
comungar. A comunidade da Igreja se une carinhosamente a eles e sabe que
eles estão contribuindo para a edificação do Corpo de Cristo. Tudo isso su
põe, da parte dos divorciados recasados, uma sincera e constante busca de
Deus, um desejo de viverem o Evangelho. Outra coisa é o caso de divorcia
dos que, depois de se recasarem, nunca tendo vivido vida eclesial, agridem a
Igreja. Todo o nosso carinho se volta para aqueles que vivem sua situação
com dor no coração.
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5 Bibliografia
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6 ANEXOS
14
de e de justiça” (ef. Congregação para a Doutrina da Fé, Carta aos Bispos,
1994, n. 6).
“A prática da comunhão espiritual, tão querida à tradição católica pode
ria e deveria ser em maior medida promovida e explicada, para ajudar os
fiéis a melhor se comunicarem sacramentalmente quer para servir de verda
deiro conforto a quantos não podem receber a comúnhão do Corpo e do
Sangue de Cristo quer por várias razões. Pensamos que esta prática ajudaria
as pessoas sozinhas, em particular os deficientes, os idosos, os presos e os
refugiados. Conhecemos - afirmam os Bispos do Sínodo - a tristeza de
quantos não podem ter acesso à comunhão sacramental devido a uma situa
ção familiar não conforme com o mandamento do Senhor (cf. Mt 19, 3-9).
Alguns divorciados que voltaram a casar aceitam com sofrimento não poder
receber a comunhão sacramental e oferecem-no a Deus. Outros não compre
endem esta restrição e vivem uma frustração interior. Reafirmamos que,
mesmo se na irregularidade da sua situação (cf. CIC 2384), não estão ex
cluídos da vida da Igreja. Pedimos-lhe que participem na Santa Missa domi
nical e que se dediquem assiduamente à escuta da palavra de Deus para que
ela possa alimentar a sua vida de fé, de caridade e de partilha” (Mensagem
da XI Assembléia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos ao Povo de Deus.
Cidade do Vaticano, 21 de outubro de 2005).
A Exortação Apostólica pós-sinodal Sacramentum caritatis de 22 de fe
vereiro de 2007 confirma: “Mesmo quando não for possível abeirar-se da
comunhão sacramental, a participação na Santa Missa permanece necessária,
válida, significativa e frutuosa; neste caso, é bom cultivar o desejo da plena
união com Cristo, por exemplo, através da prática da comunhão espiritual,
recordada por João Paulo II (170) e recomendada por santos mestres de vida
espiritual” (1 7 1 /S C , 55).
b) Na Teologia
É importante, segundo o Pe. G. Muraro redescobrir a doutrina do desejo
do sacramento - através da Comunhão espiritual - para continuar a presença
de Jesus na vida dos divorciados. Ele apela ao antigo princípio segundo o
qual o caminho sacramental não esgota todos os caminhos da graça.
O lugar teológico de referência para entender este caminho alternativo se
encontra em Santo Tomás, aonde ele trata da comunhão espiritual.
Segundo a explicação de Santo Tomás, a realidade do sacramento pode
ser obtida antes da recepção ritual do mesmo sacramento, somente pelo fato
que se deseja recebê-lo (cf. S. Tomás de Aquino, Summa Theologicae, III, q.
80, a, 4).
O valor da Comunhão espiritual como caminho extra-sacramentário da
graça, encontra apoio no fato que a Igreja “com firme confiança crê que,
mesmo aqueles que se afastaram do mandamento do Senhor e vivem agora
15
neste estado, poderão obter de Deus a graça da conversão e da salvação, se
perseverarem na oração, na penitência e na caridade FC 84” (cf. G. Muraro,
I divorziati risposati nella comunitá cristiana, Cinisello Balsamo, Paoline,
1994 in Sc. Catt. art. cit. 564-565).
Dom Edvaldo, enfatizando o valor e o bem espiritual da Comunhão Es
piritual, encoraja os casais em segunda união aconselhando a fazer a Comu
nhão Espiritual na Santa Missa, devidamente dispostos e desejosos de rece
ber o .Corpo de Cristo por uma oração sincera. Se sua fé e amor for tão in
tenso e apaixonado, é possível talvez que eles obtenham maior proveit» es
piritual do que aqueles que, por rotina e sem piedade alguma, recebem a
sagrada hóstia em nossas celebrações sem nenhuma convicção e adequada
preparação espiritual.
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“Maridos amai vossas mulheres como Cristo amou a Igreja e por ela ,se
entregou... (fidelidade até a morte). É grande este mistério; digo-o em rela
ção a Cristo e à Igreja” (E f 5, 25.32). Pela Eucaristta os esposos participam
desta união indissolúvel e fiel aliança de Cristo com a Igreja.
Aqui está o problema: a segunda união rompeu, contradiz esta união in
dissolúvel e fiel aliança dos esposos em Cristo realizada pelo matrimônio-
sacramento. Não pode haver em Cristo duas alianças. A segunda união é
ruptura, contradição destes dois elementos essenciais do matrimônio-
sacramento.
A Pastoral Familiar se baseia sobre dois princípios: o princípio da com
paixão e da misericórdia e o princípio da verdade e da coerência.
Os Padres do Sínodo colocaram bem claro a coexistência e a influência
mútua dos dois princípios. Sendo eles igualmente importantes e complemen-
tares, os mesmos andam juntos, de tal forma que um não pode ser mais
acentuado do que o Outro, Deste modo a Igreja professa a própria fidelidade
a Cristo reconhecendo o princípio da verdade: o matrimônio sacramento é
indissolúvel e o princípio da compaixão e da misericórdia infinita acolhedo
ra “igualmente importante” .
Baseando-se nestes dois princípios complementares, a Igreja não pode
mais do que convidar os seus filhos, que se encontram nestas situações dolo
rosas, a aproximarem-se da misericórdia divina por outras vias, mas não
pela via dos sacramentos, especialmente da Penitência e da Eucaristia, até
que não tenham podido alcançar as condições requeridas.
A Igreja, mãe misericordiosa, comporta-se nestes casos com espírito ma
terno para com estes filhos, esforçando-se infatigavelmente por oferecer-
lhes os meios de salvação ou seja, o caminho espiritual-pastoral.
A Igreja lembra que há múltiplas presenças de Cristo... A Eucaristia é o
grande encontro com Jesus, mas não é o único. A Palavra de Deus, o sacrifí
cio da Missa, a Adoração ao Santíssimo, a oração, as obras de penitência e^
da caridade podem e são outrossim encontros com Jesus.
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' Esta disposição da Igreja, porém, não impede que a mesma, como mãe
carinhosa, tenha uma atitude pastoral materna. João Paulo II, de fato, na FC
84 ofereceu aos divorciados recasados a oportunidade de aproximar-se do
Sacramento da Reconciliação - que abriria o caminho ao sacramento euca-
rístico - contanto que:
1. Sejam arrependidos de ter violado a indissolubilidade, que é o sinal da
Aliança e da fidelidade a Cristo;
2. Sejam sinceramente dispostos a uma forma de vida não mais em con
tradição com a indissolubilidade do matrimônio.
3. Assumam a obrigação de viver em plena continência.
Não se deve esquecer, todavia, que a Igreja com firme confiança vê que,
mesmo aqueles que se afastaram do mandamento do Senhor e vivem agora
nesse estado, poderão obter de Deus a graça da conversão e da salvação, se
perseverarem na oração, na penitência e na caridade.
18
possível o matrimônio indissolúvel e a solidariedade para com a vida nas
cente” .
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se muito mais sozinhos. Convertem-se em cautelosos e com freqüência re
servados. Não sabem a quem pertencem. Sentem que têm de resolver as
grandes questões da vida por eles mesmos. Lutam com uma enorme perda
que causa impacto em sua vida espiritual. E fazem isso no isolamento e no
silêncio, porque ninguém fala do trabalho que lhes impôs: dar sentido sozi
nhos aos dois mundos diferentes de seus pais” .
Como resultado de seus dois mundos, “os filhos de divorciados têm me
nos probabilidades de ter uma implicação consistente em uma confissão
religiosa quando crescem”; por isso, segundo as estatísticas, “são menos
religiosos que os filhos de famílias unidas”, explicou Marquardt.
Marquardt também revela em sua pesquisa que muitos filhos de divor
ciados têm grande dificuldade para compreender que Deus é pai, devido à
distância das relações paternas. Agora, para os que têm fé, disse Marquardt,
sua relação com Deus preenche um vazio. “Movem-se a Deus em busca de
amor e guia, ante a ausência de um pai ou de uma mãe, ou para evitar uma
vida solitária.”
“Está claro - concluiu Marquardt - que independentemente de que che
guem a ser mais ou menos religiosos, os itinerários espirituais dos filhos de
divorciados refletem consistentemente histórias de perda, dor e solidão.”
M arquardt disse que as Igrejas podem prestar uma enorme ajuda aos fi
lhos e famílias afetados pelo divórcio, por isso se trata de um tema que não
se deve evitar. “É plenamente possível ser compassivos com os filhos de
divorciados e sublinhar a importância do matrimônio e ao mesmo tempo
afirmar e apoiar os progenitores sozinhos e divorciados.”
Por sua parte, Thom sublinhou que “o pecado do aborto se estendeu tan
to que é um imperativo que a Igreja não apenas mantenha sua postura profé
tica de proteção das vidas humanas não-nascidas, mas também que ajude a
curar os milhões de pessoas que ficaram envolvidas no mal do aborto, vo
luntariamente ou obrigadas, conscientes ou ignorantes da realidade, esten
dendo a eles o perdão e a cura de Deus” .
“As mulheres que experimentam a cura através da misericórdia e do
amor de Deus não realizam mais abortos. Os homens que se recuperam do
aborto trabalham com diligência para acabar com os abortos, assim como as
mulheres. Com efeito - concluiu Thom - , estas pessoas se convertem em
pedras angulares da cultura da vida.”
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