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Ano 2 - Número 9 - Maio 2016
www.violaomais.com.br
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E mais:
Exercícios de aquecimento
A vihuela dos mariachis
As novidades da MusikMesse
“Eight Days a Week”, dos Beatles
Rasgueo e escalas duetadas
Filó
Machado
A mistura de tudo
Paráfrases, citações e afins Por onde começo meu solo?
editorial
Nove meses depois...
Chegamos à nona edição de nossa revista, com muito carinho. Modéstia à parte, está
ótima! Nossa capa estampa, orgulhosamente, a foto de um dos maiores músicos em
atividade no mundo: Filó Machado, um cara simples, a serviço da música. Com diversos
talentos, é um dos poucos no Brasil a dominar o scat, improviso vocal imortalizado por
Louis Armstrong. Só que faz isso com uma rítmica absolutamente fantástica no violão,
além de harmonizações incríveis e originais. Provavelmente, cada música executada por
Filó seja uma obra única. Nas páginas da entrevista, você poderá perceber que nada disso
veio de graça. E poderá rir dos acasos que quase transformaram esse gênio da música
em talento do futebol! A seção Retrato traz outro grande talento, que se mostra múltiplo
no palco, com a quantidade de instrumentos de cordas que toca: Webster Santos,
disputado por artistas do porte de Zélia Duncan e Zizi Possi, só para citar alguns, pois a
lista é gigante! Ele nos conta como consegue atingir esse nível de excelência, seja como
músico, diretor musical ou produtor. Também fala dos seus projetos pessoais. Tudo com
alegria e simpatia contagiantes. A seção História volta nesta edição, trazendo muitas
informações e curiosidades sobre música
e a escrita musical do passado. A seção
Mundo fala da vihuela dos mariachis, uma
tradição mexicana apreciada pelo mundo
inteiro. A seção Academia fala sobre como
construir um solo, em uma contribuição
fantástica de nosso colaborador Walter
Nery. Não deixe de prestar atenção,
também, na qualidade do trabalho de
Andrea Perrone, escolhida do mês na
seção Você na V+. Falando em colunas,
estão cada vez melhores. Se a gente
contar tudo aqui, perde a graça. Abra a
revista e se delicie!
Luis Stelzer
Editor-técnico
4 54
Você na V+ Siderurgia
6 56
No Player Em grupo
61
Iniciantes
66
Flamenco
8 26 68
Retrato Filó Machado Viola caipira
18
Conexão 38 51 72
Internacional História Como estudar De ouvido
42 76
Mundo Academia
46 82
Sete Cordas Coda
4 • VIOLÃO+
você na violão+
Moça Tinhosa
A gaúcha Andrea Perrone tem um violão muito ousado, cheio de percussões
e contrapontos. Porto-alegrense, também é cantora e compositora, mas
o trabalho como violonista é o que impressiona. Autodidata, tem fluência
em vários gêneros musicais, desde MPB, samba e choro a flamenco,
jazz e outros. Usa afinações alternativas em seu instrumento, buscando
texturas e coloridos diferentes. Também gosta de aplicar técnicas de
outros instrumentos ao violão. Nos últimos anos, Andrea conquistou
importantes prêmios da música instrumental no Brasil, como o famoso
Festival de Música Instrumental para Viola, Violão e Guitarra de Vinhedo,
em São Paulo, ficando, na categoria Violão, em segundo lugar, em 2011,
com “Tinhosidade”, e em terceiro lugar, em 2012, com “Ontonte do Infinito”,
ambas de sua autoria. Em 2015, “Tinhosidade” foi eleita a melhor música
instrumental do maior festival de música no Brasil, o FAMPOP de Avaré,
também em São Paulo. Sentindo a necessidade de novos desafios, bem
como muita vontade de mostrar seu trabalho autoral como instrumentista
e compositora, Andrea entrou em estúdio no primeiro semestre de 2013
para gravar Page One, seu primeiro EP de violão-solo autoral. Por conta
da qualidade do seu trabalho, já realizou apresentações na Itália e no
México. Vale muito a pena ouvir Andrea Perrone.
VIOLÃO+ • 5
NO PLAYER Por Ricardo Luccas
Referências
fora do violão
Recentemente, me deparei indiretamente com a
pergunta provocada por esta mesma revista, ao refletir,
durante a leitura da coluna “No Player”, sobre qual
LP havia me influenciado, transformado minha visão
sobre música. Tive e tenho dificuldade de localizar
um, apenas um. Depois, fui diretamente provocado
por Luis Stelzer, editor da revista, a contar pelo menos
uma experiência de escuta de LPs. Então, vamos lá!
Sou da época dos LPs e das fitas Pablo Milanés, Quilapayun (e tantos
cassete, em que gravávamos e outros que vou parar de citar para não
difundíamos os poucos LPs que ser injusto); também se ouvia música
chegavam até nós. Cresci em uma clássica, jazz e muita música brasileira.
casa onde se ouvia música a todo Como iniciei o estudo musical desde
momento, música variada: os latinos pequeno e pela escola clássica, logo
Atahualpa Yupanqui, Mercedes Sosa, comecei a montar meu acervo: Andrés
6 • VIOLÃO+
NO PLAYER
Webster Santos
8 • VIOLÃO+
RETRATO
E quem disse
que a gente
não pode?
VIOLÃO+ • 9
RETRATO
Violão+: Começando de trás para vórtices de energia no corpo. Cada
frente, quais são seus projetos atuais ponto desse no corpo é relacionado com
e para o futuro? um tom, com um a nota. Eles são sete,
Webster Santos: O projeto atual é o como as notas musicais. Construindo
disco novo, chamado Música Cura. em cima de tudo isso, o disco está
Ele já está na parte de diagramação, e dividido em sete faixas, se relacionando
indo para a fábrica. Esse projeto é uma com essa frequência do corpo. Quando
parceria com o amigo Alê Siqueira, um se toca, promove sensações, aberturas
dos maiores produtores do Brasil e do para outras coisas, para sintonizar e
mundo. É um estudo de frequências, ter um bem-estar nessa história. Abro
usando a afinação dos violões e dos parcerias com pessoas que tem esse
outros instrumentos em 432 e 444 (Hz) lado holístico. Por exemplo, tenho uma
que é, na verdade... Tudo isso é matéria parceria com uma professora de ioga,
e frequência. Quando você toca com a Wal Nunes. Quando ela faz a prática de
afinação padrão, 440 Hz, essa vibração ioga dela, de olhos vendados, que é a
atinge as pessoas de determinada especialidade dela, toco. Então, além da
maneira. A proposta é trazer para uma condução dela do corpo, com as posições,
afinação que atinja o ser humano de também estou energizando com o som,
outra maneira, partindo de uma visão provocando sensações. Porque, com a
dos indianos, os chakras, que são como música, você se concentra melhor, ela te
10 • VIOLÃO+
RETRATO
traz essa conexão. Fora o trabalho com
outros artistas, cantores, como a Zélia
Duncan, a Zizi Possi, a Luciana Melo. E
também tem as gravações de estúdio...
E você vai estar tocando. Se aparece um Carminho, que hoje é bem famosa, era
instrumento diferente aqui, eu pego e uma cantora de casas de fado. Eu sentei
começo a identificar o que ele tem, o que na frente de um incrível instrumentista,
eu posso manusear e, aí, desenvolvo. chamado Luis Guerreiro, um grande
Um amigo comprou uma guitarra na guitarra portuguesa. Passou a noite
portuguesa. Eu não tenho guitarra inteira, ele tocando bem na minha frente,
portuguesa. A primeira coisa que vi foi sem saber que também sou músico. E
a afinação. Pelo meu conhecimento eu, admirado, absorvendo tudo. Aquilo
técnico e teórico, sei como montar as fica em você. Quando a gente pega o
coisas. Já vou criando. Depois, vejo os instrumento, naturalmente cria-se uma
especialistas. Eles fazem assim. Opa! relação com as referências que a gente
Você já incorpora alguma coisa. Daqui a tem. Acho que isso é para todo mundo,
pouco, você está tocando o instrumento. não só para mim.
E descobre referências. Uma vez, eu
estava em Portugal, acompanhando Lendo seu release, fiquei cansado
a Zélia Duncan e a Simone. Fomos só de ver o tanto de coisa que você
convidados para jantar na casa de faz: muita gente, muitos trabalhos
uma mulher que cantava fado. Que diferentes. De onde vem essa sua
legal! E tinha essa coisa do rodízio, a formação tão ampla, tão aberta?
cada momento, era um novo cantor. A Família de músicos. Minha mãe,
12 • VIOLÃO+
RETRATO
formada em piano, teve escola de piano, aos dezoito anos. Havia um professor
depois foi dar aula de pedagogia. Na de vôlei que tocava violão e teclados.
Bahia, havia uma grande quantidade de E outro guitarrista também, que
bandas que tocavam em trios elétricos. estudava na minha classe, o Jurandir
E uma grande diversidade de músicas. Santana, que mora hoje em Barcelona.
Sempre gostei de tudo. Estava tocando Tinha sempre essa coisa da música
violão, meus primos também tocavam. permeando a minha vida. Esse professor
O Vicente Sales, guitarrista da banda de educação física era o Rui Braga,
Cheiro de Amor, jogava buraco com que tocava teclado no Olodum e com
o meu pai. Ele dava aulas e meu pai o Edson Gomes, o famoso reggaero.
sugeriu que eu fizesse aulas com ele. Ele me levou para tocar com o Edson
Fui para tocar violão e meu irmão para Gomes, com dezessete anos. Eles
bandolim. Ele não conseguiu aprender eram rastas, e eu, estudava em colégio
a tocar, aí eu disse: “deixa que eu militar! Já viu que confusão, né? (risos)
aprendo!”. Isso porque o Vicente achou Peguei pela primeira vez uma guitarra
que eu ia estudar baixo, pois me viu importada e pude usar dois pedais, o
tocando esse instrumento em uma Overdrive e o Chorus. Veio dessa época
bandinha. Daí, entrei no curso técnico o ecletismo. Eu tocava bandolim, que
da Universidade Católica de Salvador. tinha o Armandinho como referência,
Estudei em colégio militar dos sete tocando em uma banda de reggae, como
VIOLÃO+ • 13
RETRATO
o pessoal puxando a minha orelha, foi muito presente. Na música, a parte
porque tinha que tocar para trás. E tinha rítmica é que determina a coisa, o pulso
que fazer base e solos. O reggae tem das coisas. Quando se pensa em valsa,
outro comportamento. Porque música é não vem um 4 por 4, mas em 3 por 4.
comportamento. O tipo de música que é Igual à música cubana: se pensa em
feita na Jamaica, o reggae, se comporta clave! Não dá para acompanhar ou tocar
daquela forma porque eles comem música cubana sem entender a clave.
daquela forma, eles bebem daquela Se pegar isso e trouxer para o Brasil,
forma... Então a música vai ser o produto vai ver que as claves estão lá. Só que
daquilo que eles vivem, assim como aqui ninguém parte delas para entender
qualquer outro tipo de música. Sempre as músicas. Se eu faço um “tum-pá-tum-
digo que se você quer tocar a música de pá”, você fala que isso é o que?
algum lugar, é bom que você vá a esse
lugar, respirar aquilo, ter a pulsação, o Rock.
sotaque, porque isso constrói. Então, Eu não precisei cantar nada, só fiz o
vim desse caldeirão que é a Bahia, que ritmo. Então, quando entendi isso,
tinha essa coisa de tocar de tudo. E tudo clareou. É isso que Cuba faz! O
uma coisa africana muito forte, mesmo. Alê Siqueira, que produziu a Omara
Mas uma coisa solta, nada realizado Portuondo, estava lá, perto de uma
formalmente. A coisa do ritmo sempre escola. As crianças estavam brincando
14 • VIOLÃO+
RETRATO
VIOLÃO+ • 17
CONEXÃO INTERNACIONAL Por Alex Lameira
20 • VIOLÃO+
CONEXÃO INTERNACIONAL
VIOLÃO+ • 21
CONEXÃO INTERNACIONAL
22 • VIOLÃO+
CONEXÃO INTERNACIONAL
VIOLÃO+ • 23
CONEXÃO INTERNACIONAL
24 • VIOLÃO+
CONEXÃO INTERNACIONAL
VIOLÃO+ • 25
matéria de capa
A mistura
de tudo
Filó Machado é do interior de São Paulo
e desde os dez anos de idade toca
profissionalmente. Teve épocas, no Bixiga,
em que chegava a fazer doze entradas como
músico, três em cada bar, em uma mesma
noite. Seu trabalho é respeitado por todos,
uma rara unanimidade no meio musical,
dentro e fora do Brasil. Sua postura de
aprendiz da música, que colhe frutos em
todas as vertentes musicais, é comovente.
Seus scats de improviso são uma coisa
rara em nossas terras. Poderia ser um
cara chato. Mas é uma pessoa simples, de
conversa franca, com a tranquilidade de
quem já deu muito à nossa música. E ainda
vai dar muito mais...
Por Luis Stelzer
Filó Machado
Violão+: Fale sobre seus projetos Cantando Um Samba, que foi concebido
atuais. O que você está fazendo? em vários pontos aqui de São Paulo,
Filó Machado: Recentemente gravei em vários estúdios. Costumo muito
um novo CD, chamado Quando fazer isso, o trabalho artesanal... Uma,
Se Quer Amar, que foi concebido porque sou muito livre, mesmo! Fico
praticamente só por mulheres. São 15 muito feliz fazendo assim. E, também,
músicas inéditas, 15 diferentes letristas por causa de minha situação. Me tornei
mulheres, com produção de minha filha independente, não estava mais a fim
Camila Machado. É um CD somente de de ficar em uma companhia de discos.
voz e violão. E está muito bacana. Há Eu não via resultados... Se é para não
várias parcerias maravilhosas, com Badi ter resultados, é melhor que eu mesmo
Assad, Sílvia Góes, Cibele Codonho, faça! Se não tiver saída, tudo bem,
Judith de Souza, que é minha parceira sou pequeno. O que não dá é alguém
bem assídua, e outras... Acabei de saber fazer no teu lugar, dizer que você está
que cópias dele estão sendo levadas vendendo muito no Nordeste, e ser
para uma comissão julgadora que vai tudo mentira. Não vou compactuar com
fazer a indicação para o Grammy Latino. nada disso. Prefiro fazer uma coisa pé-
Já fui indicado uma vez. Fiquei entre os no-chão, artesanal. É um trabalho que
40 indicados, na categoria Latin Jazz, vem sendo feito já há uns bons anos
no ano de 2000, com um CD chamado dessa forma, dando bons resultados.
28 • VIOLÃO+
Filó Machado
Consegui fazer coisas legais, como Comecei a fazer viagens que duravam
gravar em Paris com Michel Legrand. pouco tempo. Uma semana, 10 dias,
Ele participou do meu CD Milagre no máximo, 20. Lugares que fui com
Da Canção e foi uma coisa muito frequência: Rússia, Ucrânia, Hungria,
legal. Depois, nos Estados Unidos, a Dinamarca, a própria França, Itália,
participação de Cesar Camargo Mariano, Inglaterra, depois China, Japão. Essas
Kenny Burrel, Romero Lubambo, Paulo viagens me deram a possibilidade de
Braga, Teco Cardoso, Gabriel Grossi, tomar conhecimento de outras culturas,
Daniel Santiago, Daniel Alcântara, vivenciando, uma coisa muito legal. Em
foi uma coisa muito bacana. Em cada todas as viagens, procuro participar da
disco que faço há parcerias legais, uma cultura do lugar, do país onde eu esteja.
colaboração muito bacana. Arismar do
Espírito Santo, Vinícius Dorin... Isso chega a influenciar seu som?
Muito! Porque volta-e-meia estou
Como esses trabalhos circulam? No compondo, criando, então penso em
Brasil e no exterior? alguma coisa que aconteceu comigo
Há as viagens. Em 1985, comecei a na Rússia, ou em Tóquio, em alguns
viajar para fora. Em 1989, mudei para a lugares no interior da Ucrânia. Conheço
França. Fiquei 5 anos morando em Paris a Ucrânia inteira, viajo muito para lá.
e voltei para o Brasil, para São Paulo. Recebo muito carinho por parte das
VIOLÃO+ • 29
Filó Machado
pessoas, e correspondo sempre. É uma Logo depois, passamos a fazer alguns
coisa maravilhosa, realmente. Além trabalhos juntos. Também havia várias
da interação com os músicos locais. orquestras, muitos improvisadores e
Às vezes, faço masterclasses nesses improvisadoras, e sempre fiquei ali,
países, com crianças, adultos, cantores atento... As maravilhosas composições
e instrumentistas. É muito legal. de Stravinski, Bartok, Berg, Shcoenberg.
Há também o outro lado, de ficar ligado
De onde vem essa facilidade rítmica, na turma da Motown. Depois, ouvir o
que sugere que há três violões e quatro pessoal do jazz, o Wes Montgomery. Eu
vozes, mas é só você e o violão... Como tirava coisas dele e colocava harmonias
é isso? minhas. Influências de Petrushka, de
Essa condição de fazer a rítmica vem Stravinski, que tiro e vou explorando.
das influências que aconteceram desde Tive muita influência, inclusive, dos
criança, com o lorde do ritmo do Brasil, indígenas, dos africanos, uma influência
Jackson do Pandeiro. Na mesma época maravilhosa. Depois que mudei para
do Jackson, tinha o Caco Velho, que Paris, tive como conhecer melhor o
era uma espécie de scat brasileiro, trabalho musical africano: Papa Wemba,
dentro do samba. Depois, passei a ouvir Salif Keita, vários, que pude conhecer
vários cantores maravilhosos, como Jon o trabalho antes de despontarem como
Hendricks, um grande improvisador. sucesso mundial, quando eles estavam
© Sonia Parma
30 • VIOLÃO+
Filó Machado
ainda gravando em fita cassete. Tive Onde você se encontra mais no meio
acesso a essas coisas e esse contato me de tudo isso?
emocionou muito, me influenciou, com O meu lado é mais do harmonizador.
certeza. E aqui, tenho os meus ídolos Sou compositor, então, gosto desse
maravilhosos, como Milton Nascimento, negócio de harmonizar. Fico ouvindo
Dori Caymmi, Toninho Horta, Guinga, esse mestres da harmonização, uma
o próprio Jobim. Descobri uma fórmula, coisa maravilhosa. Trechos, cores dos
que é mais ou menos assim: você ouve motivos deles. É maravilhoso com um
um trecho, e depois que ouviu, vai cara como Dori Caymmi consegue
estudar, assim como a gente estuda os harmonizar. A forma que ele dá, a forma
pequenos arquétipos das Fugas de Bach. que um Egberto Gismonti trabalha, que
O professor Koellreutter me deu aulas em um Hermeto Pascoal trabalha. Estudo
um curso de 30 dias. Eu ficava 12 horas muito essa gente. Muito mesmo!
por dia com ele, então pude entender Paralelamente, sou uma pessoa que
muita coisa sobre música contemporânea. não reclamo de nada. Muita gente vive
Com todas essas informações, quase dizendo por aí: “ah, como a música
não conseguia sair de casa. Ainda hoje, brasileira está acabada, agora tem uma
fico trabalhando, buscando, fazendo, música que não sei o que...”. Olha, isso
colocando uma coisa ou outra, ouvindo, é uma coisa que se você pesquisar lá
selecionando, prestando atenção a um atrás, nos anos 1940, as pessoas mais
trecho... Gravo, coloco ali, pego meu velhas falavam: “ninguém quer ouvir
instrumento, faço alguma coisa junto. um Zequinha de Abreu ou um Nazareth,
VIOLÃO+ • 31
Filó Machado
© Giselle Ventura
todo mundo quer ouvir Charleston, Como você seleciona o que ouve?
essa dança, essa coisa de momento...”. Dá para ouvir os novos atentamente,
Mas a vida é isso aí mesmo. Tem essa também?
renovação, que é melhor para alguns Sim, mas não vou ser desonesto com
e pior para outros. Algo totalmente você: se estou ouvindo, seja na televisão,
normal. Agora, o que vale é que acredito rádio, teatro ou em algum outro lugar, e
muito na minha música, então, nem não sinto algo de interessante naquele
tenho tempo de me preocupar se vou som, não perco meu tempo. Se ele não
ou não ter espaço. E sempre tive o meu tem uma boa estrutura harmônica, se
espaço. Também não me importo se há não tem uma boa estrutura musical,
vários cantores de outras linguagens, de alguma coisa maravilhosa para jogar
outros estilos. Que eles façam sucesso, para mim e eu aprender alguma coisa,
vendam milhões! Que fiquem ricos, que não vou perder o meu tempo. Fico vendo
tenham muito sucesso. Agora, acredito Miles Davis, fico vendo os grandes. Às
que posso fazer meu trabalho bem legal, vezes, paro para ouvir alguma obra
da maneira mais caprichada possível, de Chico Buarque. Que coisa linda
sobreviver, vender meu disco de mão aquilo! O Chico lá no palco, com o
em mão... O importante é que com grupo dele, é maravilhoso, é lindo. A
cada pessoa com que eu tenha contato, única coisa que não faço na música é
cada pessoa que eu me aproxime, seja perder tempo. Ah, deixa eu ver se vou
aqui ou no exterior, eu possa selar uma analisar esse cara... Se ele é um fraco,
coisa carinhosa, de amizade. Isso é o na minha forma de ver, não perco meu
mais importante. tempo com ele. Para mim, interessa se
32 • VIOLÃO+
Filó Machado
ele toca bem, se tem uma harmonia, Isso se passou num lugar chamado
se tem algo bom ali, vou parar e ouvir, Dom Casmurro, na rua Major Sertório.
independentemente de onde estiver. Depois disso, fui fazer um trabalho
Pode ser no meio da rua, tudo bem. no Carinhoso. Toquei um pouquinho
Depois, vou tecer o meu comentário: ali, com um pessoal muito legal, no
que lindo, isso é maravilhoso. Faço a começo de 1972. No mesmo momento,
minha comunicação, é uma forma de o Bebeto - grande amigo, maravilhoso
não perder tempo. Sou muito honesto, cantor e compositor, que era comparado
musicalmente falando. Acredito que a ao Jorge Benjor - já muito enraizado
música mudou muito e estou aceitando aqui em São Paulo, gravava jingles
essa mudança. no Estúdio Eldorado, inclusive tendo
gravado o jingle do jornal Popular da
Você ganhou uma notoriedade muito Tarde, que fez muito sucesso. Enfim, a
grande na época de ouro dos bares gente fez uma amizade muito bacana
do Bixiga. Me contaram, ou eu vi, que e ele arrumou um emprego para mim,
você corria de um bar para o outro, na rua Pamplona, num bar chamado
para dar conta das entradas. Vi você Samba Nostro. Cantei nesse bar por uns
contar isso no programa Ensaio, do oito meses. Voltei para o Bixiga, ainda
já saudoso Fernando Faro... nos anos 70, para o Carinhoso. E vários
É verdade. A morte do Faro dói no bares estavam precisando de cantores
coração da gente. Ainda bem que deu a todo momento. Então, começaram
tempo de fazer um programa maravilhoso as minhas dobras. Eu fazia uma dobra
com ele. Essa história é verdadeira. Em no Carinhoso, depois fazia outra no
1971, quando cheguei nesta cidade, a
primeira coisa que consegui fazer foi
com um amigo do meu pai, que era um
grande músico da minha cidade natal,
Ribeirão Preto. Esse violonista foi aluno
do meu pai, então, quando me viu,
conversamos um pouco, e ele falou: “
venha tocar um pouco comigo!”. A gente
tocava de mesa em mesa. Quando
ele viu que eu tinha muita facilidade
para harmonizar, propôs: “você fica
harmonizando e eu canto”. Beleza, tá
bom! E todo mundo gostava. Eu era
um jovem de 20 anos fazendo aquilo.
As pessoas iam enfiando as gorjetas
dentro do violão! Tocávamos durante
40 minutos. Quando dava o intervalo,
a gente chacoalhava o violão para cair
o dinheiro, que a gente dividia. (risos)
VIOLÃO+ • 33
Filó Machado
E depois? Durou muito esse negócio
dos quatro bares?
Depois, fiquei no Igrejinha, acom-
panhando a Simone, que estava
começando a carreira. Também tinha
um duo de violões com a Rosinha de
Valença. Catedral, Igrejinha, um pouco
mais tarde, fui trabalhar no Cartola,
onde estavam a Alaíde Costa e o Zé Luiz
Mazziotti, a Ana Maria Brandão, Dora e
Walter. Um pouco depois, de 1972 para
Jogral, que ficava na rua Avanhandava, 1973, conheci o Arismar do Espírito
em seguida vinha para o Zibuca, que Santo, bem menino, tocando na noite
ficava na Consolação, ainda fazia uma com o irmão dele. Johnny Alf... De vez
outra entrada no Bar do QG, que ficava em quando aparecia Milton Nascimento.
na Álvaro de Carvalho. Lenny Andrade, que cantava na Catedral
do Samba. Tempo muito bom! O Bixiga
Tudo na mesma noite? era um lugar de efervescência. Nos anos
Tudo na mesma noite. Eu subia no 80, trabalhei no Boca da Noite, durante
palco 12 vezes por noite com meu oito anos. Paralelamente, trabalhei em
violão! Faltando 2 minutos para acabar três ocasiões no Jogral. Na última vez
a entrada, o porteiro do bar parava um em que trabalhei lá compus a música
taxi, eu ainda estava cantando. O povo “Jogral”. Três anos depois, o Djavan fez
do bar ficava gritando mais um, eu a letra. Eu e o José Neto compusemos
saindo correndo, pulava no taxi e em essa música no intervalo de subir
três minutos já estava tocando no outro ao palco. No intervalo, acontecia um
bar. Eram 12 entradas, três em cada bar! campeonato de botão. A gente ficava
jogando botão, tinha hora que o palco
Haja preparo físico! até ficava vazio (risos). O dono da
Para mim isso não era problema, eu tinha casa ia lá e esculhambava a gente,
um preparo físico muito legal! (risos) porque todo mundo estava ligado no
Além de ter me preparado tecnicamente campeonato de botão, que tinha nos
para a música, eu também me preparei bastidores do bar! Como ele proibiu a
fisicamente. Eu vim pra São Paulo, no gente de jogar, compus a música com
fim de 1971, na verdade, para fazer um o José Neto. Foram muitas coisas
teste no time de futebol do meu coração, lindas, maravilhosas, que aconteceram
que é a Portuguesa. Roxo, fanático. Eu para mim na cidade de São Paulo. Eu
já estava jogando profissionalmente no agradeço muito! São Paulo me deu a
interior. Eu fazia música, fazia baile e possibilidade de abrir as portas do
jogava futebol. Um dos meus colegas mundo inteiro. Me sinto bem e feliz aqui.
de jogar bola na rua em Ribeirão Preto Daqui há alguns dias tenho que ir para o
era o Doutor Sócrates! Canadá, depois para a Rússia de novo,
34 • VIOLÃO+
Filó Machado
para um festival de jazz. E assim, fico artista. Compõe muito bem e tem o faro
indo e vindo. comercial da música.
VIOLÃO+ • 35
Filó Machado
muito em Marília e Tupã. Também acompanhantes de um lado, 25 de
toquei em bandas, grupos de música outro e, no meio, vários solistas.
jovem. Toquei muito também em São
José do Rio Preto, que era um grande Isso é muito interessante. Vocês se
centro da região. Era uma infinidade de apresentavam? Qual o repertório?
bandas de baile e algumas orquestras. Nossas apresentações eram um
Tínhamos até um ponto de encontro tremendo sucesso. Saíamos de ônibus
na cidade. Em Fernandópolis, toquei e pela região. Nosso repertório era muito
comecei a jogar futebol. refinado. O pessoal fazia cara de que
não ia ser bom, só música fácil. Eu era
Que posição você era? o regente e tocava baixo. Saía ótimo,
Na época do 4-3-3, eu era meia- porque a gente ensaiava todo dia. Um
direita. Joguei muito, fiz muito gol. padre de lá me ensinou uma coisa muito
Fiz isso durante três anos. Depois, fui importante: “Filó, se você quiser crescer
para Monte Aprazível, estudar em um no mundo artístico, sabe o que você
colégio interno, o Colégio Dom Bosco. faz? Estuda e ensaia todo dia. Porque
Ao mesmo tempo, cuidava da música aí, um dia você vai chegar onde quiser.
do colégio. Eu tinha liberdade para ir E, em cada lugar que você estiver, não
para a rua, os outros não, pois eu era vai sentir intimidação nenhuma. Porque
assistente. Lá, montei uma orquestra você vai estar seguro. Porque você
de violões. Tinha 80 componentes trabalhou”. Fiz isso com essa orquestra.
e 15 alunos menores, que faziam Deu muito certo. Fiz isso a minha vida
o coro e tocavam flautas. Mais 25 musical inteira. Não me arrependi.
36 • VIOLÃO+
história Por Rosimary Parra
A arte da canção
acompanhada Parte II
Partindo de obras dos vihuelistas do século 16, serão abordadas
aqui questões relacionadas à elaboração da parte instrumental em
gêneros próprios do canto acompanhado
“De Antequera sale el moro” (Romance) – “Quiero dormir y no puedo” (villancico a 3 vozes)
Cristobal Morales / Libro de Musica para Vihuela – Juan Vásquez / Orphénica Lyra (1554) de
Orphénica Lyra (1554) de Miguel de Fuenllana. Miguel de Fuenllana
40 • VIOLÃO+
história
“Si te vas a bañar Juanica” (villancico) – Libro de Musica de Vihuela (1552) de Diego Pisador
Referências bibliográficas
COELHO, Victor Anand. Performance on Lute, Guitar and Vihuela.
Cambridge University Press, 1977.
GRIFFITHS, John. La vihuela en la época de Felipe II. Ed. J.Griffiths e
J. Suárez-Pajares. Música Hispana. Madrid: Instituto Complutense de
Ciencias Musicales, 2004. Rosimary Parra
MOODY, Ivan. Texto do encarte do CD: Miguel de Fuenllana - Orphénica Violonista com mestrado em Música pela Universidade
Lyra, 1554 / José Miguel Moreno (GlOSSAcabinet) Estadual Paulista (UNESP). Professora de violão clássico na
PISADOR, Diego. Libro de Musica de Vihuela. Salamanca, 1552. Facsimile. Fundação das Artes de São Caetano do Sul (FASCS).
VIOLÃO+ • 41
mundo Por Luisa Fernanda Hinojosa Streber
A vihuela dos
mariachis
Além da pimenta e das pirâmides, os maricahis
e seus instrumentos são um grande símbolo do
México e de seu povo
Um pouco de história
Como já foi comentado, não havia
instrumentos de corda na América antes
da chegada dos europeus. A vihuela
espanhola teve seu esplendor no século
16, quando era tocada, principalmente,
em conjunto com alaúdes. Ela cruzou o
Atlântico e, no Novo Mundo, tomou novas
identidade e morfologia, sobrevivendo
na ativa até os dias de hoje em terras
mexicanas.
42 • VIOLÃO+
mundo
Afinação
A vihuela mexicana é mais aguda que o violão e, por causa de seu fundo
avultado, apresenta um retardo no som. Esse formato peculiar é chamado
“Peito de Galo”. Possui cinco cordas e se afina como o violão, sendo Lá, Ré,
Sol (oitava acima), Si e Mi. Se deve cuidar que as cordas que se coloquem
estejam na ordem correta:
44 • VIOLÃO+
classif icados
Cursos de
Harmonia
Arranjo
Percepção
Leitura Musical
Violão
Contrabaixo
Reinaldo Garrido Russo
Maestro regente e arranjador
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VIOLÃO+ • 45
sete cordas
acordes
cleberassumpcao@gmail.com
diatônicos em
tonalidades maiores
Bem-vindos a mais uma edição! Até o momento,
apresentamos um conteúdo considerável, e tenho certeza de
que quem está acompanhando nossa coluna, tem bastante
material para desenvolver durante algum tempo, certo?
Por isso, nesta edição, a ideia é verificar como podemos
aplicar os elementos estudados dentro de cadências de
preparação para acordes do campo harmônico maior.
Mais uma vez, gostaria de frisar que minha intenção, aqui,
não é aprofundar os assuntos teóricos, mas é extremamente
importante que busquem estudar, principalmente, os
conteúdos relacionados à harmonia - campos harmônicos,
funções harmônicas, cadências - para que possam
compreender e desenvolver as ideias apresentadas no
decorrer de nossas lições.
I – Maior
II – Menor
III – Menor
IV – Maior
V – Maior
VI – Menor
VII – Diminuta
46 • VIOLÃO+
sete cordas
Entrando um pouquinho na teoria, existe uma “regrinha” da
harmonia que diz que qualquer acorde de estrutura perfeita
(que tem o intervalo de quinta justa em sua formação) pode
ser precedido (preparado) pelo seu dominante, que, por sua
vez, é um acorde maior com sétima menor, cuja fundamental
está uma quinta justa acima (ou quarta justa abaixo) da
fundamental do acorde de resolução. Tal movimento
harmônico é chamado de “cadência autêntica”. É importante
observar que, dentro de uma tonalidade maior, apenas o VII
grau não poderia ser precedido pelo seu dominante, por
que possui uma quinta diminuta em sua formação.
O acorde dominante que prepara para o I grau é chamado de
dominante primário, e os acordes dominantes que preparam
para os demais graus diatônicos (com exceção do VII grau)
recebem o nome de dominantes secundários.
Verifiquem o exemplo em Dó Maior:
Exercícios de Aplicação
Exercício 1: Condução dos baixos aplicando as “notas de
acorde”.
48 • VIOLÃO+
sete cordas
VIOLÃO+ • 49
sete cordas
Exercício 3: Aplicação das escalas maiores e menores
harmônicas sobre os “dominantes secundários”.
50 • VIOLÃO+
como estudar
Digitação:
prelúdios de
Breno Chaves
brechaves@gmail.com
Villa-Lobos Parte 3
Quando Villa-Lobos esteve em Paris pela primeira vez, em
1923, o pianista Arthur Rubinstein apresentou-o ao editor
Max Eschig, que, posteriormente, publicou e divulgou a
obra do compositor brasileiro na Europa. No processo de
edição, os manuscritos entregues por Villa-Lobos continham
algumas informações (em português) que os editores
ignoraram. Em obras polifônicas, Villa-Lobos utilizava a
notação proporcional: o uso de diferentes tamanhos de notas
para ajudar a visualizar a textura com mais clareza. Na obra
editada, digitações importantes não foram especificadas,
há andamentos e marcas de expressão que divergem do
original e sinais de repetição não aparecem em alguns
trechos, além de seções serem simplesmente omitidas.
Portanto, vamos dedicar as próximas edições de Violão+
aos “Cinco Prelúdios” de Villa-Lobos para passar algumas
dicas no que se refere as digitações e demais elementos
musicais que possam gerar dúvidas.
Vamos ao Preludio Nº 3, que dividiremos em duas
edições por conta das diversas informações que essa
obra contém.
Preludio Nº 3
Curiosamente, no Preludio Nº 3, é muito comum observar
que, no início da música, o compasso, que é anacrúsico,
soa, na maioria das interpretações que, como se fosse
tético. Costuma-se acentuar a sexta inicial fazendo que
o resto da frase pulse em colcheias em vez da semínima
que está escrita pelo compositor. O mesmo acontece nos
compassos 5 e 6.
VIOLÃO+ • 51
como estudar
Linha de baixos
Outra impropriedade bastante comum é tocar a linha dos
baixos deixando as notas soarem uma por cima das outras.
O correto seria cada nota soar em seu tempo específico, o
que se consegue abafando o baixo após a nota ser tocada.
Na versão para piano de Vieira Brandão, esse Prelúdio está
em compasso quaternário e cada nota do baixo no violão
corresponde a um acorde na mão esquerda do piano,
reforçando a ideia de notas independentes.
É importante lembrar que essa transcrição para piano foi
trabalhada por Brandão com o próprio Villa- Lobos e nela
se pode observar diversas diferenças (importantes) nas
dinâmicas, andamentos e fraseados do original para violão.
52 • VIOLÃO+
como estudar
Sugestão de digitação (M.D.) para os compasso 5 e 6
Essa digitação é interessante pois facilita a execução
desse trecho e, além de não comprometer musicalmente,
favorece a ressonância, pois as sétimas e sextas são
tocadas com cordas soltas. Bons estudos!
www.teclaseafins.com.br
Teclas & Afins é compatível com
& AFINS
VIOLÃO+ • 53
siderurgia
Aquecimento
Eduardo Padovan
Olá amigos da Violão+! Durante o mês que passou estive
assistindo vídeos de masterclasses de alguns músicos
que admiro. Para minha surpresa, o assunto que mais
me chamou atenção foi a importância dada por eles ao
momento do aquecimento. Por isso, decidi trazer esse
tema para nossa coluna e sugerir uma possibilidade de
aquecimento que une sugestões dadas por dois artistas
que me influenciam muito: o clarinetista Alexandre Ribeiro
e o guitarrista Kurt Rosenwinkel.
Nesse aquecimento que estou sugerindo, vamos tocar a
escala de Dó maior em grau conjunto por todo o braço
do violão (acompanhem a tablatura para o entendimento
da digitação), seguindo o ritmo de quatro semicolcheias
por tempo, sem nenhuma interrupção na transição de
uma região do braço para a outra. Isso, por si só, já é
uma prática que considero ótima para aquecimento. No
entanto, eu gostaria de acrescentar mais um desafio a
ela: junto ao ritmo constante de semicolcheias, iremos
acrescentar acentuações de padrões rítmicos brasileiros
de livre escolha. No nosso caso, escolhi o padrão rítmico
do samba.
VIOLÃO+ • 55
em grupo
Concepção dos
Arranjos
Thales Maestre
Tutti
Os arranjos para o grupo completo, formação tutti, são
construídos para cinco naipes, para os quais, geralmente,
são explorados:
Naipe A: tem a região aguda mais explorada;
Naipe B: transita entre médios e agudos nos contracantos
e nas melodias;
Naipe C: explora mais a região média-grave nos contracantos
e nas melodias e acompanhamentos agudos;
Naipe D: trabalha, principalmente, com as linhas de
acompanhamento (acordes);
Naipe E: trabalha com as linhas mais graves – baixos de
sustentação – baixarias de contracanto.
VIOLÃO+ • 57
em grupo
Essa descrição revela a estrutura básica de um arranjo.
Cada item não significa atribuição fixa de um determinado
naipe, embora a disposição espacial do grupo traga padrões
referentes, principalmente, às distribuições das alturas. Da
esquerda para a direita tem-se, normalmente, gradações do
agudo para o grave, como ocorre com um quinteto de cordas.
Aliás, este, por corresponder a uma formação tradicional,
é um exemplo pertinente para ilustrar o funcionamento da
camerata.
Um quinteto de cordas, normalmente, trabalha com primeiro
e segundo violino, viola, violoncelo e contrabaixo. Dois
naipes capazes de explorar regiões agudas, outro passando
pela região média, e os demais caminhando para os graves.
Na camerata de violões, o naipe A tem a região aguda mais
explorada. O naipe B transita entre médios e agudos. O naipe
C explora mais a região média e acompanhamentos agudos.
O naipe D trabalha com as linhas de acompanhamento, e o
naipe E com os baixos. Não se pretende imitar a configuração
das vozes do quinteto. O exemplo é só para perceber que
temos uma estruturação parecida, porém as especificidades
do violão são consideradas.
Essas características estão presentes na maioria dos
arranjos, porém não as tomamos como regras definitivas, a
ponto de engessar possibilidades. Os naipes podem assumir
58 • VIOLÃO+
em grupo
novos papéis a partir dessa estrutura básica descrita,
conforme veremos a seguir. Em face dessas considerações,
que apresentaram procedimentos elementares, listamos
algumas características presentes nos arranjos:
• A voz principal pode ser fixa em um determinado naipe ou
transitar pelos naipes, explorando diálogos, diferenças
espaciais e diferentes alturas.
• O naipe de acompanhamento deve ser rigorosamente
escrito para que o bloco de naipe soe homogêneo e
equilibrado. Toda indicação que torne a execução mais
clara é bem-vinda, pois, assim, consegue-se evitar
situações como a prolongação de uma determinada
nota, que pode se “chocar” com as notas de um acorde
seguinte. Essa situação traz prejuízo para o resultado,
gerando ao ouvinte a sensação de que algo está
“embolado”.
• Quando há necessidade de mais vozes no decorrer de
um arranjo, recorremos aos divisis dentro do bloco de
naipe (em certos momentos, alguns arranjos chegam a
abrir até dez vozes).
• Dobras de oitavas são utilizadas como recurso para obter
maior intensidade de determinados fraseados.
• Explorar o uso de solistas, ou poucos executantes por
naipe, para obter nuances de intensidade; maior segurança
e sincronia na execução de trechos, com maior liberdade
rítmica e finais refinados, como rallentandos e pianos.
• É preciso que as características do instrumento sejam
preservadas e valorizadas. A escrita é para violão,
portanto, vale lembrar que devemos utilizar os recursos do
instrumento respeitando suas limitações. Não se trata de
um coral ou uma orquestra de cordas, mas, sim, violões.
Assim, é importante, em um arranjo, não explorar notas
de longa duração por longos trechos apenas visando à
complementação da harmonia. O violão tem limitações
relacionadas a notas de longa duração. Então, é importante
recorrer a linhas com sentido fraseológico. O resultado
musical fica mais interessante e, para o naipe, fica tudo
mais estimulante.
• Explorando outras sonoridades: nos arranjos,
procuramos explorar as diversas possibilidades sonoras
do instrumento. Além das mencionadas até aqui, é
importante considerar as características essencialmente
VIOLÃO+ • 59
em grupo
violonísticas: rasgueios, dedilhados em arpejos, técnicas
de acompanhamento e recursos comuns aos violonistas –
como os pizzicatos e harmônicos. Também é interessante
explorar as possibilidades percussivas do instrumento
ou outros efeitos sonoros – usos não tradicionais do
violão –, criando sonoridades capazes de iludir o ouvinte.
Muitos compositores contemporâneos, quando exploram
sonoridades não tradicionais, precisam descrever em uma
folha extra como o executante deve proceder nos trechos
em que as mesmas aparecem. Criam-se símbolos e, ao
lado destes, a devida explicação de como executá-los; às
vezes, uma breve explicação sobre a pauta já é suficiente.
Poderá ser conferido, em alguns arranjos, o uso da
percussão (golpes no cavalete, no tampo, na faixa), sons
oriundos de golpes antes da primeira pestana, cordas
cruzadas, acordes executados esfregando os dedos
sobre as cordas, e os comuns glissandos, harmônicos e
pizzicatos. Os trabalhos realizados por meio do “violão
preparado”, ou “técnica expandida”, também são bem-
vindos, podendo utilizar objetos como recursos para
obtenção de novos sons.
• Embora a maior parte do repertório seja para cinco
naipes, também adotamos peças para quatro ou seis
naipes. Por vezes, temos a abertura de até dez vozes,
e para tanto recorremos aos divisis dentro de cada
bloco de naipe. Desse modo, é possível trabalhar com o
grupo a partir de uma redistribuição dos blocos de naipe
ou desenvolver trabalhos com agrupamentos menores
dentro do próprio grupo. Isso representa uma boa
diferença de colorido durante o concerto, “quebrando”
a referência constante do tutti.
Termino aqui mais uma coluna, com o propósito
de compartilhar experiências. Pretendo, sempre,
disseminar o que foi desenvolvido, postando arranjos
e vídeos ilustrativos. Na edição anterior, o leitor pôde
acessar uma peça de Américo Jacomino. Nesta,
compartilho mais um arranjo completo. Trata-se do
“Xodó da Baiana”, de Dilermando Reis. Pego carona
na citação desses dois grandes do violão brasileiro
para selar o próximo compromisso desta coluna: a
importância das bases culturais no direcionamento de
trabalhos artísticos pedagógicos.
60 • VIOLÃO+
iniciantes
Week”
rnluccas@gmail.com
VIOLÃO+ • 61
iniciantes
64 • VIOLÃO+
iniciantes
Vamos começar com um vídeo explicativo sobre como
entender a partitura em relação à sequência que devemos
tocar e os sinais de repetição, como ritornelo, casa 1,
casa 2, segno (seção ou parte da música) e coda (parte
final da música).
VIOLÃO+ • 65
f lamenco
MI A M I I
E B7/F# E7 A
66 • VIOLÃO+
f lamenco
#FicaAdica
Rosas del Amor
(1987)
Tomatito
VIOLÃO+ • 67
VIOLA caipira
Voando com os
duetos Fábio Miranda
www.fabiomirandavioleiro.com
68 • VIOLÃO+
VIOLA caipira
As fatias são pensadas por meio do exercício da
imaginação. O recorte é feito baseado na necessidade do
tocador. Eu, por exemplo, imaginei essas fatias baseado
na proximidade entre os graus, facilitando o trabalho de
deslocamento da mão.
Olhem só, de perto, essa segunda fatia:
VIOLÃO+ • 69
VIOLA caipira
1 1 1 1 1 7 2 2 2 2 2 2 2 1 3
Eu não troco-o meu ranchinho marradinho de cipó
3 3 22 1 1 7 7 6 6 5 5 4 4 3
Pruma casa na cidade, nem que seja bangaló
3 3 3 3 3 4 4 4 6 66 6 5 4 3
Eu moro lá no deserto, sem vizinho-eu vivo só
1 1 1 1 1 7 2 1 7 6 7 6 5 4 3
Só me-alegra quando pia lá praqueles cafundó
1 1 3 b3 2 7 7 2 2 1 (repete)
É o-Inhambú-xintã e o Xororó
ÓIÁ BEM! O grau “b3” significa que o 3º grau está bemol, ou seja,
meio tom mais grave do que é. Para fazer isso, basta arrastar só
uma casa o 3º grau para o grave.
70 • VIOLÃO+
VIOLA caipira
E que tom seria esse? O nome do tom depende da
posição da tônica. Descubram qual é a nota que está
sendo apertada no I grau – vocês descobrirão qual é o
tom da escala. Se a nota for Ré, a escala a partir dali
será Ré maior; se a nota for Mi, a escala a partir dela
será Mi maior, e assim por diante.
VIOLÃO+ • 71
de ouvido
Ouvir
tonalmente Parte 3
Reinaldo Garrido Russo
www.musikosofia.com.br
duemaestri@uol.com.br
42
No final desta matéria, o leitor encontrará a partitura
completa da peça, e poderá constatar o que acertou. O
exercício é muito simples, mas é necessário concentração.
O segundo exercício que proporemos é reconhecer cada
nota de “Capelinha de Melão”. Não escreva: simplesmente
cante e não confira com o instrumento. O ponto principal
de conferência é a nota tônica. Cante as primeiras notas
VIOLÃO+ • 73
de ouvido
com nomes que suponha estarem corretos. Confira com a
primeira nota da escala. Certifique-se de que o intervalo
que compõe a última nota cantada e a tônica está correto.
Tenha em mente que a nota inicial dessas canções não
é a tônica obrigatoriamente. Pode ser qualquer grau da
escala. Geralmente, as notas 1, 3 e 5 são mais usadas
para iniciar a melodia:
Ca – pe – li – nha de me – lão
sol sol sol lá sol fá mi
5 5 5 6 5 4 3
DÓ RÉ MI FÁ SOL LÁ SI DÓ
I II III IV V VI VII VIII
tônica sobretônica mediante subdominante dominante sobredominante sensível tônica
TOQUE DE SILÊNCIO 1
“Toque de Silêncio”
42
lento
74 • VIOLÃO+
VIOLÃO+ • 75
academia Por Walter Nery
Por onde
começo meu
solo?
A despeito do tom informal do início do título, este artigo
procura discutir e analisar a questão da incorporação
dos elementos musicais contidos em um determinado
tema como fonte de informação e inspiração para a
elaboração de um improviso idiomático sobre sua
base harmônica. Ao final, concluímos ser esta uma
possibilidade que outorga importante teor de coerência
e unidade ao discurso musical.
Uma questão que aflige boa parte dos algum tipo de relação com elementos
músicos profissionais e alunos que do tema, sejam eles intervalares,
estudam improvisação diz respeito ao motívicos, essencialmente rítmicos ou
seguinte: o solo deve estabelecer uma de natureza harmônica.
relação de continuidade com o tema Em todas as épocas e culturas, a
sobre o qual se vai improvisar ou pode questão da improvisação musical é
ser um discurso musical totalmente muito bem estabelecida e propagada
original, destituído das características nos meios musicais. Compositores
e propriedades intrínsecas deste sempre foram admirados e agraciados
tema? De fato, estas alternativas não por suas habilidades de improvisar. No
são excludentes e de modo algum jazz, em especial com o advento do
desobrigam ao envolvimento com um Be-bop na década de 40 nos Estados
tipo ou outro destes procedimentos. Unidos, a improvisação se tornou um
Para todos os efeitos, no entanto, ao ideal de aprimoramento musical que
longo deste texto lançaremos um olhar transpôs sobremaneira os limites de
apenas sobre os improvisos que mantêm espaço e tempo impostos pelas Big
76 • VIOLÃO+
academia
Bands das décadas de 20 e 30. A partir algumas situações em que existe uma
daí grandes nomes da improvisação clara assimilação de elementos contidos
estabeleceram suas bases e alçaram no tema e sua consequente utilização na
voos cada vez mais longos e profundos elaboração do improviso sobre a base
sob a perspectiva do conteúdo musical. harmônica do mesmo.
Técnicas modernas começaram a ser
absorvidas, muitas advindas da própria Paráfrases, citações e afins
música erudita: elaboração melódica, Um dos conceitos musicais mais
sobreposição harmônica, polirritmia, conhecidos e que conduzem conteúdo
além da incorporação de elementos temático ao improviso é o de Paráfrase.
dissonantes e cada vez mais associados Neste caso uma parcela considerável
ao ruído. O free jazz de Ornette Coleman do próprio tema é exposta em um
e Pharoah Sanders são exemplos deste determinado trecho do solo, às vezes
último caso. com algumas alterações, outras de
Este panorama de complexidade e modo quase literal. O solo de Stan Getz
evolução não necessariamente serviu em “Desafinado” (Tom Jobim) no disco
como garantia de um discurso musical Getz/Gilberto de 1963 gravado pela
coerente e unificado, mas certamente Verve é um clássico exemplo. Aqui o
revolucionou e ampliou o âmbito das saxofonista, logo na abertura do solo,
possibilidades a respeito da improvisação reprisa quase que literalmente a frase
idiomática. Neste texto exemplificaremos inicial do tema:
Exemplo 1: melodia de “Desafinado” e abertura do solo de Stan Getz com a frase inicial (cc. 1 – 8).
VIOLÃO+ • 77
academia
Perceba-se que as linhas A e A’ são trajetória do solo, como é o caso deste
mais próximas no quesito contorno, a improviso específico.
primeira ritmicamente mais alongada Outra ocorrência de Paráfrase recai
que a segunda. As linhas B e B’ são mais no solo sobre a canção “How Deep is
distantes, porém possuem terminação the Ocean” (Irving Berlin) executado
idêntica que incide sobre o par Sib- por Kurt Rosenwinkel no disco Intuit de
Réb. É interessante observar que este 1998. O guitarrista encerra o improviso
procedimento inicial pode nortear toda a parafraseando a frase final do tema:
Exemplo 2: paráfrase no final do solo de Kurt Rosenwinkel (cc. 125 – 129) sobre a canção “How Deep is the Ocean” (cc. 29 – 32).
Uma relação um pouco mais subjetiva no improvisador utiliza entre uma frase e ou-
tocante a utilização de elementos temáti- tra. Ainda no início do solo de Rosenwinkel,
cos ao longo da improvisação diz respeito encontramos a ocorrência desta possibili-
à questão da respiração, também conhe- dade, utilizada como um fator contiguidade
cida por pacing (CROOK, 1990, p. 17). entre o tema e o improviso. O guitarrista
Efetivamente esta é uma característica di- enuncia frases com extensões compatíveis
retamente ligada ao espaçamento que o com aquelas existentes no tema.
78 • VIOLÃO+
academia
Exemplo 3: frases com extensões compatíveis entre a melodia de “How Deep is the Ocean” (cc. 1 – 12) e o início do improviso
de Rosenwinkel (cc. 1 – 9).
Exemplo 4: pequenos fragmentos incorporados por Miles Davis e utilizados na elaboração do solo de “So What” (cc. 1 – 7).
VIOLÃO+ • 79
academia
Alguns símbolos geométricos foram solo, Miles “respira” em conformidade
utilizados para facilitar a identificação com o espaçamento das frases do
e comparação: o quadrado tracejado tema, tocando frases curtas por sobre
identifica os pequenos gestos de Quinta os compassos iniciais.
Justa da melodia e reproduzidos no Voltando ao solo de Rosenwinkel
solo. Os pequenos círculos enfatizam sobre “How Deep is the Ocean”,
as terminações rítmicas que fecham as percebemos que o guitarrista recicla
frases tanto do solo quanto da melodia. algumas “bordaduras”, pequenos
Os triângulos delimitam uma espécie gestos componentes do próprio tema.
de “bordadura dupla” da melodia que Esta é uma forma bastante sutil de
surge de modo retrogradado no solo. se manter conectado a elementos
Perceba-se também que, no começo do característicos da melodia original:
Exemplo 5: “Bordaduras” de “How Deep is the Ocean” usadas por Kurt Rosenwinkel (cc. 1-2 e 6-7).
80 • VIOLÃO+
academia
Exemplo 6: comparação entre a melodia de “All the Things You Are” e sua exposição improvisada por Charlie Parker (cc. 1 – 15).
Bibliografia
COKER, Jerry. Jerry Coker’s Complete Method for Improvisation.
California: Alfred Music, 1997.
CROOK, Hal. How to Improvise – An Approach to Practicing
Improvisation. Rottenburg: Advance Music, 2002.
LARSON, Steve. Composition versus Improvisation?. Journal of
Music Theory, Vol. 49, No. 2 (Fall, 2005), pp. 241-275
LEVINE, Mark. The Jazz Theory Book. Pentaluna, CA: Sher Music
CO., 1996.
MURPHY, John P. Jazz Improvisation: the Joy of Influence. The Black
Perspective in Music, Vol. 18, No. 1/2 (1990), pp. 7-19.
NETTL, Bruno. Thoughts on Improvisation: a Comparative Approach.
The Musical Quarterly, Vol. 60, No. 1 (Jan., 1974), pp. 1-19.
TIRRO, Frank. Constructive Elements in Jazz Improvisation. Journal
of the American Musicological Society, Vol. 27, No. 2 (Summer,
1974), pp. 285-305.
Walter Nery
Compositor, guitarrista e violonista natural de São Paulo, é doutorando em música pela Universidade
de São Paulo, com foco em composição. Como guitarrista desenvolve um trabalho autoral com o
grupo “RdT” com o qual lançou três Cd’s contendo músicas autorais. Como violonista, é integrante do
“Cássio Poleto Acoustic Strings”, que recria o repertório do lendário “Hot Club de France” de Django
Reinhardt e Stèphane Grapelli. Produziu e arranjou os dois CDs da Cantora de blues e jazz Ruthe
London. Como docente, foi professor de guitarra do Conservatório de Tatuí e de matérias teóricas
da Faculdade Mozarteum de São Paulo. Atualmente é professor do Conservatório Souza Lima e da
Pós-Graduação da Faculdade de Música Souza Lima.
VIOLÃO+ • 81
coda
Três horas?
Como assim?
Luis Stelzer
Sou professor de violão há mais de trinta anos. Tenho uma orquestra de violões
há mais de vinte e cinco. Dei aula em conservatório grande e faculdade de
música. Toquei em barzinho e em sala de concerto. Escrevi colunas em revistas
especializadas (hoje, até edito uma revista especializada, essa que você lê!).
Fiz métodos de ensino. Digamos que levei a sério o meu sonho. É, sim, um
sentimento muito bom, olhar para o que se fez e perceber que você não fugiu
da raia, lutou muito e conseguiu, pelo menos até hoje, viver do que gosta e
acredita. E que isso se expandiu, até, do que se imaginou lá para trás.
VIOLÃO+ • 83