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Hà pà pê mẽ apej!

(saudação)

O meu nome é Hakakwoi e sou uma mehi (índia) Kraó.

Vivo numa kri (aldeia) no Tocatins, no meio da floresta amazónica.

A minha família vive no lado oeste da aldeia, que tem a forma de um circulo, divido em fatias
como uma tarte, com uma praça no meio onde nos reunimos para os nossos rituais.

A minha ikre (casa) é feita de palha e folhas de palmeira, e vivo nela com os meus pais, irmãos,
tios e avós.

Enquanto o meu pai e tios vão caçar, eu, a minha mãe e as minhas irmãs cuidamos da horta
e vamos buscar água ao rio.

Às vezes vêm kupẽ (“civilizados”) à nossa aldeia e ensinam-nos português. De vez em quando
trazem um pad-ré (padre) que nos fala do Deus deles e dos seus milagres.

Mas nos nossos rituais, o inkrerekatí (xamã) diz que foram os heróis Sol e Lua que criaram os
homens, que foi a mulher-estrela que nos deu as plantações, e que o fogo o tirámos ao
jaguar.

Temos muitos rituais, o ponti, festa da batata doce, o ponhê, festa do milho e a corrida de
toras e em todos eles cantamos e dançamos. Mas os ritos mais importantes são os da
mudança das estações.

As pessoas da aldeia estão divididas de várias maneiras e têm diferentes papéis em cada
ritual, mas a divisão mais importante é a divisão este-oeste, seca-chuva, sol-lua.

Esta divisão é feita à nascença, pelo nome que nos é dado. Como o meu nome é Hakakwoi,
que significa “jibóia”, eu faço parte da metade da estação das chuvas, Katamye. A minha
prima, Krokari, que significa “areia”, faz parte do Wakamye, metade da estação das secas.

Em cada estação, a metade correspondente governa a aldeia, e para marcar a mudança


existem dois rituais que fazemos todos os anos.

Eu atingi este ano a maioridade e vou poder participar no meu primeiro ritual Katamye, assim
que a primeira chuva cair.

Normalmente os kupẽ não podem participar, mas acho que se pode abrir uma exceção.
Querem vir? Hacú! (vamos)

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