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RESUMO
O presente artigo discute o contexto da Psicologia como ciência no processo do pré e pós-
operatório de amputação de membros em pacientes diabéticos, tendo em vista as implicações
e sentimentos experimentados por pacientes e familiares nesta situação. Buscou-se, através da
revisão de literatura concernente a temática em questão, compreender esse fenômeno. Trata-
se, portanto, de uma pesquisa bibliográfica. Desse modo, foi possível desvelar algumas
facetas do fenômeno amputação à luz do referencial fenomenológico, além de compreender a
pessoa amputada em sua situacionalidade, tal como ela se mostra em si mesma, em sua
essência. A ansiedade e o estado emocional do paciente podem facilitar ou dificultar o
processo. Assim sendo, um programa eficaz e efetivo de abordagem psicológico pré e pós-
operatório deve considerar a individualidade e singularidade do paciente, para reduzir a
ansiedade e aumentar a adesão ao tratamento, podendo diminuir o tempo de convalescença,
reduzir as sequelas e oferecer ao paciente um novo olhar para sua realidade.
ABSTRACT
This article discusses the context of Psychology as a science in the pre and post-operative
process of limb amputation in diabetic patients, considering the implications and feelings
experienced by patients and families in this situation. It was sought, through the literature
review concerning the subject in question, to understand this phenomenon. It is, therefore, a
bibliographical research. In this way, it was possible to reveal some facets of the amputation
phenomenon in the light of the phenomenological referential, in addition to understanding the
person amputated in his situationality, as it shows itself in its essence. Anxiety and the
patient's emotional state can make it easier or more difficult. Thus, an effective and effective
program of pre and post-operative psychological approach should consider the patient's
individuality and uniqueness, to reduce anxiety and increase adherence to treatment, reducing
convalescence time, reducing sequelae, and giving the patient a new look at their reality.
1
Graduanda em Psicologia pelo Centro de Ensino Superior de Maceió (CESMAC)
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Graduanda em Psicologia pelo Centro de Ensino Superior de Maceió (CESMAC)
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Professora Especialista do Centro de Ensino Superior de Maceió (CESMAC)
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1. INTRODUÇÃO
De acordo com Luccia et al (1996), as cirurgias fazem parte dos procedimentos mais
antigos da medicina e seus avanços são consideráveis, visto que, em outros tempos,
considerava-se uma vitória sobreviver a uma operação.
Em geral uma cirurgia implica grande impacto sobre o bem-estar físico, social e
emocional do paciente, com aumento dos níveis de ansiedade e stress e pelo
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cotidiano desse novo ser no mundo, mas também a compreensão de que a readaptação poderá
trazer sentimentos de autonomia em seu dia-a-dia, consequentemente um estado emocional
mais favorável a mudanças.
A experiência cirúrgica se mostra ao paciente em suas possibilidades, pois torna
possível uma existência de modo diferente. Pode-se ver a perspectiva de uma existência
incompleta, pois há perda de parte do corpo, ou pode ser simplesmente a perspectiva de
abertura a novas vivências, livre da dor, da parte deformada, da parte orgânica que também
traz sofrimento e que, muitas vezes, modifica o movimento do ser - no - mundo
(CAVALCANTE, 1994).
No tocante a essa nova existência, percebe-se a necessidade de um olhar diferente às
necessidades de um sujeito amputado, pois quem apresenta alguma necessidade física pode
sentir-se fragilizado diante de algum obstáculo que antes não se apresentava para ele. É o seu
existir tendo a concepção de se readaptar por muitas vezes em seu cotidiano para realizar ou
participar de alguma atividade diária.
Ainda para Cavalcante (1994) vivenciar uma amputação implica em experiência
marcada por alterações biopsicossociais, espirituais e culturais, repleta de estigmas,
decorrentes da deficiência instalada e de sentimentos diversos, convergentes e divergentes,
que se entrelaçam e se une formando um todo. É uma vivência constituída por sentimentos
que se confundem, sendo permeada pela razão, que visualiza a cirurgia como necessária e a
emoção que não aceita a perda.
Constituindo assim para o paciente um momento de ruptura com sua autonomia e
liberdade de ir e vir, no que implica sua dependência física para as atividades mais simples do
cotidiano, pelo menos a princípio. A percepção afetada pela perda e toda dinâmica envolvida
nesse processo impede o paciente de ver um futuro próspero.
Ainda para Canesqui (2017), é muito penoso para o paciente aceitar a substituição de
uma parte do seu corpo por uma peça mecânica. A forma de reação diante de tais fatos varia
de pessoa para pessoa e na sua maioria é crise de choro convulsivo; apatia aparente,
sentimento de menos-valia, agressividade e até idéia de autodestruição. No entanto, há
pacientes que desesperados pelo longo período de dor e incapacidade, aceitam a amputação
com certa resignação e objetividade.
O Psicólogo deverá assistir o paciente, procurando identificar cada uma das suas
reações e ajudá-lo nesta fase tão difícil. É essencial que ele acredite que da sua atitude
profissional dependerá o progresso do amputado. O profissional de psicologia estará
conquistando a confiança do doente ao ouvir suas queixas, conhecer seus medos e
proporcionar meios para elucidar suas dúvidas (FRUTUOSO, 2017).
A forma adequada de transmitir segurança é indispensável ao êxito do tratamento.
Sendo possível, junto com trabalho dos profissionais de enfermagem, levar o paciente a
conhecer outro paciente amputado, de idade equivalente, em fase de treinamento com prótese
e que possa transmitir suas experiências. Este contato tem como objetivo ajudar o paciente a
aceitar a nova situação e reformular alguns aspectos de sua vida.
A atuação do psicólogo pode ocorrer antes, durante e depois da cirurgia. Sendo a
última dividida em pós-operatório imediato e tardio e que cada um destes momentos possui
peculiaridades. As possibilidades de intervenção psicológica variam conforme a
especificidade do paciente e de sua família, da doença, da equipe médica, da estrutura
hospitalar – centro cirúrgico, unidade de terapia intensiva, equipamentos e medicações
disponíveis (ISMAEL e OLIVEIRA, 2008). Estes autores explicitam fatores que precisam ser
considerados na prática psicológica: o tipo da doença, a possibilidade cirúrgica, os riscos
relativos a esta, a dimensão do órgão ou membro atingido, a escolha do anestésico, a idade do
paciente, a existência de outras patologias, a experiência de cirurgias anteriores, adoecimentos
e perdas.
Com toda a dinâmica envolvida desde o pré até o pós-operatório o psicólogo terá que
recorrer a todos os recursos e informações necessárias a respeito do paciente, da família e do
círculo social no qual o paciente está inserido, para com esses dados reconhecer seus pontos
fracos e pontos fortes utilizando-os para a evolução do paciente.
Cavalcanti (1994) pontua que a indicação da intervenção do psicólogo deve ser
pautada nas necessidades individuais de cada paciente. Neste sentido, o autor coloca que o
trabalho é complexo ao englobar questões sociais, psíquicas e biológicas, necessitando da
cooperação dos diversos especialistas envolvidos no processo cirúrgico.
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Uma doença cuja principal característica é o aumento de açúcar no sangue. Ela altera o metabolismo do açúcar,
da gordura e das proteínas (In: https://www.infoescola.com/doencas/diabetes-mellitus/).
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É uma condição em que ocorre o estreitamento e endurecimento das artérias que transportam o sangue para os
membros inferiores do corpo, como as pernas e os pés (In:http://www.minhavida.com.br/saude/temas/doenca-
arterial-periferica)
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Doença cardíaca arteriosclerótica ou aterosclerose coronariana é a causa mais comum subjacente de eventos
cardiovasculares e morte. (In: http://medicos-especiaistas.blogsport.com.br/2013/01/doença-cardiaca-
arterosclerotica.html).
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Pequenos ramos arteriais que regulam a resistência ao fluxo sanguíneo. Estruturalmente suas paredes são ricas
em fibras musculares e também são conhecidos como vasos de resistência, pois quando se contraem aumentam a
pressão arterial do sangue (In:http://www.hemodinamica.com.br/glossario.htm).
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de vida que os contemple nesse novo modo de ser - no - mundo. Receber cuidados
individualizados e planejados é essencial para que o processo de reabilitação se dê de forma
mais adequada possível e consiga atingir os objetivos almejados (COMARÚ e CAMARGO,
2014).
De acordo com Marques, Vargas e Cols (2014), a reabilitação deve ser considerada
como mais uma etapa do tratamento, pois permite que a pessoa continue a lançar-se no mundo
e a viver novas experiências. O retorno às atividades traz consigo uma sensação de bem-estar,
onde as possibilidades tornam-se concretas e deixam de fazer parte de um mundo desejado
para um mundo vivenciado.
Com a realização deste estudo foi possível desvelar algumas facetas do fenômeno
amputação num momento de transição na vida do paciente, na passagem da possibilidade de
um vir - a - ser à concretude dessa possibilidade com a realização da cirurgia. Há uma
infinidade de sentimentos envolvidos no processo de alteração do corpo e, portanto, de todo o
existir, já que este corpo tem importância vital como meio de inserção e relação com o
mundo, através da percepção.
De acordo com os autores citados acima, Marques, Vargas e Cols (2014) acrescentam
ainda, que o preparo para a independência deve ser iniciado o mais precoce possível, já nos
primeiros dias de pós-operatório, e progredir de tal forma, que a dependência para a
realização de cuidados pessoais seja mínima. Quando se aproxima a época da alta e o paciente
já atingiu ao máximo a sua independência, outras medidas de enfermagem deverão ser
adotadas. Será convocado um familiar ou a pessoa que irá conviver com o paciente, para
aprender com o profissional de enfermagem alguns aspectos essenciais para a continuidade de
sua assistência no lar.
A ocasião do preparo para a alta, os cuidados específicos com a pele do coto deverão
ser executados pelo paciente, na presença do familiar e da enfermeira, que reforçará
os pontos importantes. O familiar deverá aprender a lavar, secar, massagear e fazer a
verificação da pele do coto. A atenção zelosa com a prótese aumenta a sua
durabilidade é garante seu funcionamento. É essencial que o familiar · veja o
paciente executando todas as atividades comuns com destreza, para não assumir
atitudes de superproteção. O paciente sente-se valorizado quando as pessoas
reconhecem seu esforço. (REVISTA BRASILEIRA DE ENFERMAGEM, 2014,
p.173).
Dessa maneira através da análise da autora acima citada, fica evidente que o
profissional da área de saúde, especificamente no processo de recuperação, do pós-operatório
por amputação de membro por complicação com a diabetes, deve exercitar neste paciente
amputado e em sua família o processo de ressignificação e resgate de autonomia do sujeito
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operado. Tendo em vista que este externamente ao ambiente hospitalar vai enfrentar a
realidade que lhe será apresentada a partir do convívio sem o membro que lhe foi amputado.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COSTA, P. & Leite, R.C.B.O. (2009), Estratégia de enfrentamento utilizado pelos pacientes
ontológicos submetidos a cirurgias mutiladoras. Revista Brasileira de Cancerologia, 55
(4), 355-364. Disponível em: <http://docplayer.com.br/9210699-Atencao-psicologica-aos-
pacientes-cirurgicos-adultos-e-infantis-nos-periodos-pre-e-pos-operatorio.html> Acessado
em: 10/05/2018.
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LUCCIA N, Goffi FS, Guimarães JS. Amputações de membros. In: Goffi FS, Tolosa EMC,
Guimarães JS, Margarido NF, Lemos PCP. Técnica Cirúrgica: Bases anatômicas,
fisiopatológicas e técnicas da cirurgia. 4 ed. São Paulo (SP): Atheneu; 2001.p.180-99.