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coleção entretelas

TELALTERNATIVAS

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organização

Junia Barreto
Telmo Fadul
TELEALTERNATIVAS
Coleção Entre Telas

Organização:
Junia Barreto
Telmo Fadul

Capa e contracapa e identidade:


João Lin

Desenhos:
Alex Hornest, Alex Sena, João Lin, Marcelo Machado, Pedro Franz

Entrevistas: Daniel Lukan, Victor Cruzeiro e Gustavo Menezes

Tradução: Junia Barreto e João Arthur Pugsley Grahal

Transcrições de áudio: Bernardo Chacur

Projeto gráfico: Junia Barreto


suMÁRIo

Telas
Pensando as Telas, Junia Barreto - 8
João Paulo Cuenca entre telas..., Walmir Góis - 18
Entrevista com João Paulo Cuenca - 21
Após o fait divers, o romance e o filme sobre a morte de João Paulo
Cuenca, o quadrinho de João Lin - 26
Por que você morreu no meu lugar, HQ de João Lin — 27

Fotografia, desenho, pintura, quadrinhos


A TELA: o que dizem quadrinistas, críticos e
profissionais dos quadrinhos - 45
Por uma poética do olhar fotográfico, Rodrigo Fontanari - 51
Desenhar... escrever- 58

Minha Madrid, Pedro Franz - 60

Artes urbanas, arquitetura, teatro e performance


Cidades - Redes - Articulações compartilhadas - 78
Criando telas... na paisagem urbana - 81
Apontamentos sobre intervenção urbana e paisagem,
uma experiência de Karina Dias - 82
Pichação, uma escrita na tela da cidade, na fala de
Regina Helena Alves - 95
Performar... dança em tela na cidade - 96
A dança de Trisha Brown: heterotopia do corpo na cidade,
Marina Guzzo - 98
Grafite e domesticação, na fala de Pedro Russi -108
Poéticas da tela na cena teatral contemporânea,
Andrea Caruso Saturnino - 114
Cinema e literatura

Cinema, literatura BL tecnologias: o que dizem cineastas, escritores


e acadêmicos - 136
Universidade, cultura e publicação. Para quê editora?, na fala de
José Roberto Barreto Lins - 144
Vladimir Carvalho... em tela - 148
Valor percebido nas telas, Marcus Ligocki Júnior - 153

Midias eletrônicas
Marcelo Machado: homem tela — depoimento - 162
Se umjogador numa noite de inverno, Felipe Dal Molin — 169
Games e o cinema de Harun Farocki, na fala de Patricia Moran - 187
Matrizes, vetores, cartografias: narrativas entre-telas,
Daniel Hora - 190

O conceito de editorial/'zação para pensar a cultura transmidiática,


Gérard Wormser - 208
Produzindo Entre Telaas, Telmo fadul - 231
TOTEM 8L TELA (manifesto-performance), Augusto Rodrigues - 238

Referências, 254
Sobre os autores, 250
Galeria de fotos, 260
Matrizes, vetores, cartografias:
narrativas entre-telas
por Daniel Hora

O texto aqui apresentado é um ensaio em torno das seis questões


propostas para o grupo de trabalho Narrativas de Mídias Eletrônicas,
reunido por ocasião do IEncont/'o Entre Te/aas. O conjunto de interpe-
lações sugeridas para a mesa de discussão se refere aos impactos da
comunicação mediada por telas sobre a narratividade. Ao comentá-Ias,
pretendo indicar proposições especulativas de caráter experimental.
Para isso, tomo como base as referências acumuladas em meu percur-
so de comunicador, critico de artes e cultura, pesquisador e professor
dedicado ao campo da estética.

Canais e códigos em rede


Como se diz exaustivamente, a comunicação telemática é um meio
distinto de seus antecedentes por oferecer contiguidade multidirecio-
nal e suportar, ao mesmo tempo, o agenciamento múltiplo e simultâ-
neo em escala planetária - o que complica o diagrama comunicacional
de Roman Jakobson (2008), pois a ligação que se estabelece entre di-
versos pontos de emissão e recepção passa a se compor (e recompor)
por meio de uma infraestrutura reticular pervasiva, que assegura uma
narrabilidade automatizada e generalizáveli.
Entre as telas em rede, não há percurso exclusivo. Imperaria, portan-
to, a itinerância aleatória por suas malhas. Mas, de fato, determinadas
rotas se tornam recorrentes e redundantes, como comprovam as bo-
lhas e mobilizações ideológicas formadas pelas mídias sociais. Por que
isso ocorre? A resposta está atrelada aos controles vetoriais subjacen-
tes nos modos de apropriação da própria materialidade ambígua dos
pontos e das linhas telemáticas.

l Essa abrangência, entretanto, não se efetua de modo radical, uma vez que termi-
na por abrandar as diferenças no próprio ato de seu suposto acolhimento.

190
Por meio dessa materialidade, viabilizam-se, de um lado, vincula-
ções relativamente livres e globais ponto-a-ponto, te/a-a-te/a. Por ou-
tro lado, essa situação está subjugada a regulações, inevidentes mas
necessárias à própria operacionalidade reticular. Institui-se o paradoxo
de uma liberdade comunicacional ampla, cujos intercâmbios, porém, se
codificam de modo compatível - e, portanto, sob o regime de requisi-
tos de transmissão intricados e cripticos.
Em que pese a tecnofobia do argumento, esse alto grau de "artifi-
ciosidade” em que se assenta a comunicação e a narrativa telemática
constitui por si mesmo uma ameaça. Pois tende a favorecer o desen-
tendimento, a pós-verdade e a implosão da significação em favor da
sedução. Problemas que são consequência da hipertrofia tele-fática
apontada por Jean Baudrillard (1990), desenvolvimento excessivo que
gera o prazer autorreferente do estar conectado. Como se a mera dis-
ponibilidade do sinal e a locatividade de pontos de emissão e recepção
bastassem ao diagrama de Jakobson.
Por outro ângulo, contudo, o extravasamento da função fática in-
dicada por Jakobson corresponde a demandas operativas de narração
que vão além da dialogia recursiva de um sinal natural ("hein?”, "era
uma vez...”) ou de baixa codificação (como o tom de disponibilidade
telefônica e o toque inverso de desconexão ou terminal ocupado). Na
relação tela-a-tela, é necessária a absorção de um código no próprio
canal. Na internet, esse código é composto pelos protocolos de trans-
missão (TCP/IPZ) e de controle dos endereços (DNS3).

2 O conjunto de protocolos TCP/IP (Protocolo de Controle de Transmissão e Pro-


tocolo de Internet) habilita os computadores a se comunicar à distância por meio
de uma rede. O TCP é usado na verificação'dos destinos dos pacotes de informa-
ção transmitidos. Por sua vez, IP se refere à transferência de dados entre os nós
da rede. O conjunto TCP/IP fundamenta os fluxos multidirecionais pela internet
(CHRISTENSSON, 2005; ROUSE; WIGMORE, 2014).
3 O Sistema de Nomes de Domínio (DNS) organiza a localização e a tradução de
domínios em endereços da internet, ou seja, a equivalência entre expressões de
fácil memorização e as sequências numéricas atribuídas aos respectivos pontos
de acesso a informações e serviços. Os servidores das listas de correspondência
entre nomes de domínio e endereços encontram-se distribuídos geograficamente
conforme uma hierarquia que possibilita referências mútuas entre si para a resolu-
ção de nomes - a conversão dos domínios em números IP (CHRISTENSSON, 2005;
ROUSE; WIGMORE, 2014).

191
Tais protocolos são controlados por computadores em fluxogra-
mas de retroalimentação: asseguram comunicabilidade e instituem a
ordenação do sistema que rege o tráfego informacional. Deriva de seu
domínio um poder protoco/ógíco, entremeado, porém, por tendên-
cias contraprotoco/Óg/'cas- encontradas nas conjugações da produção
hacker com a mídia tática e a net arte, conforme Alexander Galloway
(2004).
Esse contexto de protocolos e contra protocolos está associado a
duas vertentes paralelas e entrelaçadas. A primeira diz respeito à (alta)
fidelidade da mensagem conduzida pelo canal. Nesse caso, a função
fática ajuda a assegurar uma suposta integridade da mensagem e sua
chegada ao pretendido destino. Este seria o suposto ideal da comuni-
cação: tornar algo comum a mais de uma instância - como deve ocor-
rer em uma partida de videogame ou em uma conferência em rede,já
que sem esse compartilhamento informacional não é possível a signifi-
cação telemática conjunta.
No meio eletrônico, entretanto, esse processo de transmissão da
mensagem depende também da semicondução. Essa condição abran-
ge a fidelidade baixa ou relativa de caráter intencional, ou os acidentes
da infidelidade fortuita. Abandona-se a reprodução ¡ps/s litter/s, a fim
de que se propicie a mudança da mensagem e de seu direcionamento
por força ou por defeito da função fática específica das redes. A se-
micondutividade oferece ao sinal efeitos de conversão, amplificação,
transferência, ruído... que asseguram ou inviabilizam inclusive a condu-
tividade impossível de se obter sem seus aparelhos. Essa instância de
processamento do sinal é, por exemplo, necessária para que um sensor
embarcado em uma plataforma móvel interprete e abstraia a ocorrên-
cia informacional no trânsito entre espacialidades e temporalidades
materialmente sensíveis ou eletrônicas. Assim, a presença, o movimen-
to, a temperatura, o som, a imagem, tornam-se sinais para a regulação
de diversos tipos de acionamentos automatizados em microcircuitos.
As conjugações da fidelidade com a infidelidade geram efeitos
técnicos e culturais de narrabilidade. A comutação de circuitos ou de

192
mensagens (integrais, segmentadas em pacotes ou encriptadas) de-
f

pende do ajuste da função fática entre o que se pretende com a confir-


mação de um canal de comunicação e a compreensão de seus limites,
dos efeitos de ruído e desvio, e das eventuais entropias informacionais.
Certamente, a função fática se relaciona com os protocolos TCP/IP e
DNS, já que são elementos indispensáveis ao controle da comutação.
Mas, a função fática também se relaciona com o desempenho da ma-
terialidade de equipamentos condutores e semicondutores. Essa mate-
rialidade é mais ou menos estável conforme sua persistência se altera
por condições intrínsecas e ambientais - como o aumento da intensi-
dade de fluxos de dados, o desgaste físico-químico de componentes,
a contaminação por algoritmos falhos ou perversos e os fenômenos
climáticos (temperatura, umidade, campos eletromagnéticos) que in-
terrompem o seu funcionamento habitual.
Com isso, os sentidos da comunicação telemática oscilam entre a
recepção (tendente à fidelidade e à redundância, como nos filtros-bo-
lhas de opinião e da pós-verdade) e a decepção (inclinada à infideli-
dade e à intempestividade da informação, fatores frequentemente ex-
plorados pela arte e o ativismo). Com essa oscilação, outros aspectos
do diagrama de Jakobson são afetados. Podemos citar, por exemplo,
o controle de quais emissores a (semi)condutividade do canal acolhe
em cada circunstância e conforme seu posicionamento entre o redun-
dante e o imprevisível. Há também o declínio do referente contextual
estável (a partir da introdução do próprio meio de comunicação como
referência para si). Por fim, temos o ajuste da de-codificação ao canal,
uma vez que o tratamento do sinal impacta profundamente a natureza
e a agilidade do que se comunica.
O fato de haver mais comunicabilidade entre as telas em rede não
`resulta em mais entendimento. Pelo contrário, o excesso pode resultar
em distorção e pane quando privilegia determinados pontos em de-
trimento da inapreensível totalidade do conjunto. A sobrecodificação
do mundo, por outra parte, acumula excedentes que propagam ruído
sobre a própria habilidade para codificar e decodificar a mensagem.

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Tal efeito ultrapassa a temporalidade de uma algazarra, ao acrescentar
a especialização absurda de escalas intangíveis que se comprimem em
bytes estocados em conjuntos de microchips cada vez mais compactos.

Datacorpo
No contexto entre-telas, somos agentes duplos - ou múltiplos. Os
corpos biológicos convivem há algum tempo com a fidelidade e infi-
delidade de sinal de seus dublês, aptos para as proezas de "estar" e
agir em muitos lugares ao mesmo tempo. Essas figuras fantasmagóri-
cas são compostas pelo registro incessante dos dados colhidos (desde
a modernidade) pelos exames clínico-laboratoriais, pelas políticas de
Estado, pela performance cultural no cotidiano vivido e pela produção
de rastros que visam constituir arquivos de memória e propiciar o en-
cadeamento futuro de mais e mais comunicação.
Temos, porém, um problema: os corpos desses dublês não nos per-
tencem, embora sejam alimentados por nós. A situação é próxima do
que a ficção científica demonstra com o cultivo de colônias de huma-
nos para servir como fontes de energias, baterias biológicas, na trilogia
cinematográfica Matrix. Na prática, porém, os protocolos das políticas
de uso, propriedade e privacidade das mídias sociais nos impõem va-
riados graus de alienação.
Muitas questões se apresentam inquietantes. Estaríamos cumprindo
uma função predeterminada, programada, da caixa preta de Flusser
(2002), alastrada da fotografia para todo aparato técnico/algoritmico
que nos serve de extensão sensório-motora e cerebral, como previa
McLuhan (2010)? Somos operários no formigueiro cibernético? A má-
quina universal de Turing alcança, por fim, a máquina biológica hu-
mana e a substitui por inteligências artificiais - bootnets - em breve,
ciborgues/androides?
O coletivo Crítica/Art Ensemble (2001) previa o embate entre o no-
madismo do corpo virtual e o controle sobre o corpo de dados. Se
o primeiro se apresenta como potência recombinante biotecnologi-
ca, usufruída desde as simulações de identidades e de vivências nos
ambientes eletrônicos de socialização e de jogo, o corpo de dados é
computado a partir das informações pessoais monitoradas e organiza-
das para assegurar e ampliar o poder das corporações e das forças de
repressão do Estado.
Vivemos entre a virtualidade de explorações emancipadoras e o cál-
culo insistente e pervasivo de nossas atitudes. Podemos multiplicar o
imediato e o instantâneo em favor da expressão narrativa autônoma.
Mas também nos tornamos presas fáceis da instrumentalização que
nos multiplica em narrativas de telas publicitárias, sem consentimen-
to. Vemos isso nas composições automatizadas que recolhem dados
dispersos, montam perfis e contam ou inventam histórias — como nas
recordações do Facebook, em que determinadas ocorrências passadas
são celebradas conforme sua data de publicação, ou no sequenciamen-
to cinético de imagens oferecido por serviços como Google+.
Parece que somente o instante estaria sob o domínio autônomo.
Desde então, existir além do instante telemático é resistência ou re-
-existência Pois o que perdura pode ser batalha contra o apagamen-
to (quando interesses espetaculares tentam livrar espaço para novas
cargas por meio da promoção do esquecimento) ou o soterramento
(quando o acúmulo de dados em sijá nos faz esquecer do que havia há
pouco ou muito tempo). Mas, o que é decorrente da resistência contra
obliteração e o sufocamento pode se converter em existência multipli-
cada, reexistências.

Metafísica matricial. vetorial ou cartográfica


Há duração na mobilidade, embora circunstancial, o que torna essa
palavra inapropriada. Trata-se, na verdade, mais de ritmo do que de
duração - algo que Steven Shaviro (2015) explora em sua concepção
do conceito de imagem-ritmo como sucedâneo dos conceitos de ima-
gem-movimento e imagem-tempo de Gilles Deleuze. Por sua vez, não
há apenas memória no sentido biopsicológico ou sociocultural. Em vez
disso, há arquivo ou memória expandida, protética, contida em artefa-
tos de inscrição subjetiva e de ampla comunicabilidade narrativa.

195
As telas eletrônicas de inscrição se apresentam como interface entre
a memória bio-psico-socio-cultural e as memérias protéticas. Essa dis-
posição fundamenta o mapeamento dos bits que controlam os pixels
pela composição vetorial de linhas, em múltiplos comprimentos e di-
reções. Mas, isso que parece trivial na computação gráfica nos provoca
a pensar sobre a questão metafísica quando consideramos a existên-
cia duplicada entre a imagem corpórea atual e a imagem incorpórea
virtual. › .t

O que poderíamos dizer de uma metafísica mapeada ou matricial?


O termo apontaria para uma correspondência transdutiva entre con-
juntos de estados de energia (ou de sua falta) e o resultado de tais
combinações sobre a materialidade. Haveria, portanto, uma visualiza-
ção de dados bastante complexa quando consideramos o big data e a
mobilidade. Porque não há como reduzir a imensidão de dados a uma
corporificação específica, ela sempre é uma perspectiva entre muitas,
um fragmento, com escalabilidade limitada.
Por sua vez, a mobilidade assegura o nomadísmo situacional dessas
corporificações, já que a conexão proporciona um novo aqui-e-agora
transformado em a/Í-e-subitamente do que está distante, porém ao
alcance, em nuvem. Esse vocabulário nos remete a Walter Benjamin
(1985) e à questão da reprodutibilidade técnica. Porém, se na relação
entre big data e mobilidade hé alguma aura, esta reside na atualização
contingente da virtualidade, que pode ser considerada como evento
único, derivado de uma maleabilidade complexa de instanciações infi-
nitas. Porém, não há unidade decorrente da exclusividade constitutiva
que interditaria a cópia.
Em segundo lugar, poderíamos falar de uma metafísica vetorial.
Nesse caso, a definição de pontos, distâncias e direções determina a
existência de algo - como na computação gráfica, a opção vetorial con-
fere escalabilidade muito mais flexível em prejuízo do detalhamento
possível quando se lida com as matrizes. Uma metafísica vetorial ofe-
receria, portanto, percursos de relacionamento capazes de constituir
existências de modo mais esquemático. Em relação ao big data, essas

196
rotas constituiriam um nível mais elevado de abstração, ou seja, de
escolha parcial de elementos que seriam significativos ou'da própria
fonte de dados (nesse caso, portanto, indiciais), ou de associações pro-
priamente simbólicas. Por sua vez, a mobilidade resultaria no reforço
da adaptabilidade vetorial, em um aqui-e-agora atópico e atemporal.
Por fim, é possível a especulação sobre uma metafísica cartográfica,
em uma aproximação à teoria esquizoanalítica de Félix Guattari. Nesse
caso, teríamos uma opção intermediária, em que o detalhamento (ma-
tricial) se conjugaria com a escalabilidade (vetorial). Como proposto
por Guattari e Deleuze (1980), a cartografia permitiria o experimento
e um efetivo nomadismo criativo em busca de subjetividades, que se
apropriariam da representação ou do esquematismo em benefício de
conexões maquínicas rizomáticas com a memória bio-psico-socio-tec-
no-cultural. O big data forneceria, assim, os seus acervos exploratórios,
enquanto a mobilidade permitiria conjugar esse vasto repertório com
as diferentes instanciações espaço-temporais.

O signo, o objétil e a superjetividade


A passagem da reprodutibilidade técnica de Benjamin para a repro-
gramabilidade algorítmica corresponde à substituição do caráter idên-
tico pelo diferencial nas instanciações obtidas a partir das instruções
numéricas, conforme Mario Carpo (2011). Com essa transição, rom-
pe-se a relação meramente mimética entre a materialidade da matriz
de registro analógico (o filme fotográfico ou o desenho projetivo, por
exemplo) e a impressão (ou construção) mecânica.
Em seu lugar, ocorre a emergência de uma fenomenologia híbrida,
conforme os termos da semiótica de Charles Peirce (2010). Ela se am-
para em uma relacionalidade que varia entre superfícies icônicas (pelo
uso da semelhança com objetos físicos nas interfaces de interação hu-
mano-computador), estruturação simbólica (pela abstração utilizada
na linguagem do código de programação) e materialização indicial (se
tomamos como efeito consequente do processamento a extração sen-
sorial em modelos gráficos, protótipos físicos ou produtos acabados).

197
Com a transposição computacional dessa fenomenologia híbrida,
os efeitos semióticos da ascensão da variabilidade digital, apontada
por Mario Carpo, nos conduz de volta ao problema da abertura ou res-
trição ao jogo proposto por Walter Benjamin - aqui entendido como
processo de ressignificação. Se a reprodutibilidade técnica fez com que
objetos replicados se tornassem acervo disponível para recombinação
(como indicam os exemplos da montagem cinematográfica ou da ar-
quitetura com elementos pré-fabricados), a reprogramabilídade algo-
rítmica extrapola a evanescência da autenticidade objetual em favor da
diferenciação da objetilidade.
Com esse termo, fazemos referência ao objét¡/, conceito que Deleuze
(1988, p. 32-33) atribui à maleabilidade desdobrável de um objeto ou
projeção genérica, um "geometral", com caracteristicas transitórias de
instanciação. O objéti/é reinterpretado por Mario Carpo (2011) como
"a função paramétrica que pode determinar uma infinita variedade de
objetos, todos diferentes (um para cada conjunto de parâmetros) em-
bora similares (já que a função subjacente é a mesma para todos).
Os meios de produção implicam configurações de trabalho. Com o
informalismo não é diferente: uma tensão se apresenta na divisão de
tarefas que ele orienta - pois o informacionalismo impacta quem, o
que, onde, quando, por que, e como se produz4 Se a automação mecâ-
nica da cópia ocupa parte significativa do predomínio do artesão e das
corporações de ofício, por sua vez, a automação da programabilidade
e o desenvolvimento de inteligência artificial generativa ameaçam de-
salojar as figuras até aqui conhecidas como o artista, o engenheiro, o
cientista, o intelectual. Porque, ao lidar com a derrocada do objeto em
favor do objétil, a subjetividade íntima analogamente se transforma em
superjetividade, termo de Alfred North Whitehead com o qual Deleuze
indica a condição a composição do ser a partir de seu agenciamento
com o mundo.
Torna-se indispensável pensar que essa superjetividade se disse-
mina dos humanos aos aparatos, à medida que eles se tornam inte-
ligentes e replicantes, capazes de reprodutibilidade e diferenciação.

198
Nessa evolução artificial, experimentamos o paradoxo de uma crescen-
te in-falibilidade. Para que a reprogramabilidade algoritmica continue
gerando informação relevante (capaz de agregar valor semiótico ou
financeiro), ela deve estar preparada para acolher o imponderável que
lhe contagia sem que se possa absorver por inteiro. Essa abertura leva
Ifuciana Parisi (2013) a conceber uma arquitetura digital contagiosa.
Sem essa predisposição, adentramos no estado da iminência do colap-
so entrópico, problema que leva à desorganização informacional por
efeito do uso de programas maliciosos e das falhas internas.
Como vimos, essa abertura da circunscrição algorítmica (sua unida-
de) ao inesperado tem aqui um sentido diverso, mas complementar, ao
modelo de código aberto e livre defendido nos arranjos produtivos co-
laborativos (como na FLOSS4 arte) e no design participatório. A adap- .
tabilidade é paralela à solidariedade que Benjamin, aliás, observa nas
lutas emancipatórias que fragmentam a massificação sem, no entanto,
provocar uma total dispersão sem vínculos de interesse. A ampliação
de agentes que o código aberto propicia expropria o poder que algu-
mas estratégias de espetacularização tentam sequestrar e reservar aos
privilégios da astrarquíteturas, do culto às celebridades e da afetividade
rendida ao consumo do valor associado às marcas.
Nesse sentido, o excepcional pode unir o diverso em ações díspares,
mas colaborativas: pois, se a autonomia pudesse ser completamente
conferida a uma máquina, não restaria espaço para a variabilidade di-
gital. Em termos éticos, no entanto, o acesso ao erro converte-se em
questão fundamental para o agenciamento superjetivo, tanto no caso
de explorações hackers não consentidas (o que inclui não só invasão
de sistemas), como, também, no aproveitamento de lacunas para a re-
alização de processos inusitados (os exploits). Conforme a analogia de

4 Sigla para Free/Libre Open Source Software. A sigla é usada como adjetivação
da produção artística baseada em programas ou plataformas livres e em código
aberto. .
5 Tradução livre para o amálgama inglês starchítecture, que designa a produção de
arquitetos cuja celebridade e aclamação crítica os tornam ídolos do público espe-
cializado ou geral. Entre outros nomes da astrarquítetura podem ser mencionados
Frank Gehry, Rem Koolhaas, Zaha Hadid e a dupla Herzog 8L de Meuron.

199
Benjamin, em lugar do mágico e do pintor, o cirurgião, o cineasta e,
mais recentemente, o hacker recorrem a interferências diretas no equi-
pamento adotado como realidade fragmentada.

Medi-ação in-direta
A produção hackeré inerente e está inevitavelmente atrelada à con-
trovérsia que orbita ao redor de toda prática tecnológica explorató-
ria descentrada. Por conta disso, sua dimensão política se configura
pelas margens de contato com as batalhas contra o poder opressivo.
O contorno que resulta desse contato se constitui como o parergon
cartografado pelos laços ético-estéticos entre a externalidade e inter-
nalidade da produção artística e lúdica.
O hackeamento se apresenta como força de oposição endógena
ao poder tecnocrático instituído. Sua resiliência se compõe a partir do
reconhecimento de sua própria inserção nas dinâmicas humanas e ¡nu-
manas da enunciação e da produção processual, segundo gradações
de controle e descontrole que escapam da plena identificação. Por esta
indeterminação, as mesmas estruturas de opressão servem também à
rebeldia.
Projetos de arte de grupos como Electronic Disturbance Theater
— EDT, Critical Art Ensemble — CAE e UBERMORGEN.COM despontam
em evidente contraposição a atividades governamentais e corpora-
tivas. Por usos divergentes nas ações baseadas no Tactical Zapatista
FloodNet(1998), na série biotecnologica do CAE e na paródia empresa-
rial de UBERMORGEN.COM, a indeterminação da telemática é decidida
em singularizações narrativas que divergem dos padrões protocológi-
cos de dominação.
Com o projeto Tactical Zapatista FloodNet (1998), o coletivo EDT6
(em atividade desde 1997) disponibiliza um sistema para ações de de-
sobediência civil eletrônica. Por meio dele, cerca de 10 mil indivíduos
dispersos se engajam em protestos virtuais contra a opressão neoli-
beral e em apoio ao movimento rebelde dos indígenas zapatistas. Ao
6 http://www.thing.net/~ rdom/ecd/ecd.html

200
carregar uma página Web, os ativistas acionam uma aplicação para en-
vio de mensagens com nomes de indígenas assassinados pelas forças
armadas mexicanas e expressões associadas às suas lutas contra o po-
der. O objetivo é sobrecarregar e interferir no funcionamento de sites
escolhidos como alvo: presidências do México e EUA, bolsas de valores
mexicana e de Frankfurt, Pentágono e bancos.
Como não há registro das vítimas nos bancos de dados assediados,
a capacidade de processamento dos servidores é desviada para a tarefa
vã de informar essa inexistência e acrescentar o evento ao arquivo de
registro de ocorrências (log) do sistema (RALEY, 2009). Assim, a mensa-
gem de erro 404 demonstra o que os discursos e ações da hegemonia
política não comportam. O próprio site atacado reconhece pela des-
territorialização: a justiça, a liberdade ou as vítimas da opressão não
são encontradas na lógica institucional corporificada na memória e no
ambiente de operacionalidade fornecido por suas máquinas.
Por meio de táticas de dramatização de laboratórios nômades onde
são conduzidos experimentos de caráter amadorístico e paródico, o
coletivo CAE estimula a polêmica sobre os rumos das políticas de re-
produção assistida e de aperfeiçoamento da espécie humana - em
Flesh Machine (1997-1998) e Cult of the New Eve (1999-2000); denun-
cia os subterfúgios para iludir a rejeição pública à engenharia genéti-
ca - em GenTerra (2001-2003), Molecular Invasion (2002-2004) e Free
Range Grain (2003—2004); aponta ainda o oportunismo da retomada do
discurso e de programas voltados a guerras baseadas em agentes bio-
lógicos - em Marching P/ague (2005-2007) e Target Deception (2007).

Flesh machine, 1997,98


Fonte: Critical Art Ensemble
(httpz//critical-art.net/?p=101)
201
Cu/t of New Eve,
1999-2000
Fonte: Critical
Art Ensemble
(httpz//critical-art.
net/?p=90)

Marching pla-
gue, 2005-2007
Fonte: Critical
Art Ensemble
(http://critical-a rt. -
net/?p=34)

Target decep-
tion, 2007
Fonte: Critical
Art Ensemble
(httpz//critical-art.
net/?p=32)
GenTerra (2001 -2003) e MolecularInvasíon (2002-2004), por exem-
plo, são laboratórios de teatro científico. No primeiro projeto, os
participantes manipulam amostras transgênicas de bactérias, com o
propósito de ampliar seu entendimento sobre a avaliação dos riscos
sanitários e ambientais da biotecnologia. Já em Molecular Invasion, o
coletivo CAE e as artistas Beatriz da Costa e Claire Pentecost convidam
estudantes a desenvolver engenharia reversa de três espécies de vege-
tais modificados (canola, milho e soja). A proposta é usar substâncias
atóxicas para transformar fatores de adaptabilidade em suscetibilida-
de. O conceito é retomado em Free Range Grain (2003—2004), projeto
destinado à verificação do fluxo global de alimentos geneticamente
modificados, a partir de um laboratório ambulante.

Genterra, 2001 -2003


Fonte: Critical Art
Ensemble (http://criti-
cal-art.net/?p=228)

Molecular invasion, 2002


Fonte: Critical Art
Ensemble (httpz//cri-
ticaI-art.net/?p=1)
A paródia antimonopolista caracteriza os trabalhos das séries intitu-
ladas EKMRZ Trilogy7 (Trilogia do Comércio Eletrônico, realizada entre
2005 e 2009) e Hacking Monopolism Trilogy (Trilogia do Hackeamento
do Monopolismo, realizada entre 2005 e 2011). Trata-se de trilogias
que desvirtuam a operacionalidade de grandes empreendimentos do
mundo digital — Google, Amazon, Ebaye Facebook. As duas primeiras
intervenções são fruto da parceria entre UBERMORGENCOMB, ativa
desde 1995, e os italianos Alessandro Ludovico e Paolo CirioQ.
Em GWEI- Google Will Eat Itselzqo (2005-2009), por exemplo, o sis-
tema de receita publicitária da Google adquire comportamento au-
tofágico e é impelido a uma longínqua e hipotética auto liquidação,
insolitamente prevista para mais de 200 milhões de anos adiante. Seu
mecanismo de contabilidade baseada em cliques converte-se em um
ciclo automatizado que gera fundos por meio de sites incógnitos com
botnets programados para gerar mais acessos aos seus próprios anún-
cios. Os recursos são usados na compra de ações da Google, então
redistribuídas aos usuários.

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GWEI — beagle wm Eat Itself, 2005 — 2009


Fonte: http://www.gwei.org.br

7 http://www.ubermorgen.com/EKMRZ_Trilogy/ e catálogo (BERNHARD; LIZVLX;


LUDOVICO, 2009).
8 Composta por Lizl e Hans Bernhard, este também integrante do coletivo etoy.
9 http://paolocirio.net/
10 http://www.gwei.org/

204
Com o EDT, a comunicação reticular adotada como estrutura de pro-
testo torna a opressão perceptível pelo reflexo lançado sobre os seus
próprios responsáveis - os direitos humanos e as vítimas indígenas
procuradas em vão nas máquinas de gestão informacional da política
e da economia. Com o CAE, a intervenção genômica e sua avaliação
de vantagens e riscos deixam de ser exclusividade das corporações e
Órgãos estatais reguladores. Transformam-se em repertório produtivo
socialmente compartilhado.
Pela incisão que rompe com a operacionalidade eficiente e proprie-
tária das redes e da engenharia genética, arranca-se nestes exemplos
a cisão da incongruência dos interesses políticos e econômicos. Ao
corporificar as engrenagens do poder empresarial e torná-las susce-
tíveis ao exame crítico, UBERMORGEN.COM, Paolo Cirio e Alessandro
Ludovico encenam gestos dissidentes das predeterminações de usos
da tecnologia em favor dos lucros monopolistas. A mesma internet se
concretiza em dominio restritivo dos vetores dos meios de comunica-
ção que convertem em commoditie o fluxo e o alcance distributivo da
informação, bem como proporcionam os desvios de rotas realizados
dentro dessa malha em favor daquilo que Wark (2004) denomina uma
economia da dádiva11 - ou uma não economia (impossível?), uma vez

_..

11 Wark (2004, nota 308, na seção Writings) retoma e atualiza o conceito de dádiva,
entendido por Marcel Mauss como o serviço concedido no contato comunitário de
sociedades arcaicas, em condição estrutural anterior à distorção da moralidade das
trocas ao utilitarismo liberal da economia de mercado. A dádiva envolve artefatos
carregados de significações identitárias e solidárias estabelecidas por um grupo.
Com a abstração informacional, não só a economia de commodities se expande. O
compartilhamento e a adesão coletiva também encontram novas expressões, uma
vez que se realiza à distância, sem privar o doador daquilo que é dado ao dona-
tário Ainda que eventuais expectativas de ganho de reputação possam anular a
integridade da dádiva, a abstração informacional em condições de excessividade
(em desbloqueio constante, relativamente suficiente ou hipoteticamente total) sus-
tentaria a disrupção do caráter incondicional de sua performance.

205
que se espera suprimir ou prorrogar interminavelmente a intenção do
comércio12 (DERRIDA, 1992).
A desobediência civil eletrônica do EDT descreve um método re-
belde de apropriação humana de agentes tecnológicos, seguido por
reações institucionais e repercussões na mídia de massas. Mas, não se
concede primazia ao humanismo, nem ao determinismo tecnológico
-tampouco ao individualismo, ao comunitarismo ou ao institucionalis-
mo. Por sua vez, a difusão de uma consciência crítica sobre a biotecno-
logia pelo CAE depende da exploração de ferramentas informacionais
para a decodificação e modificação genética. Neste caso, além de pes-
soas envolvidas, há artefatos laboratoriais e computacionais, conheci-
mento científico acumulado e organismos vivos associados em uma
mesma ação.
As interferências nos circuitos da economia digital igualmente con-
clamam o envolvimento de artistas, público, empresas, detentores de
direitos intelectuais e indústria, meios de comunicação e instituições
de governo ejustiça. Os processos dependem de como esses agentes
se comportam dentro da estrutura informacional de correspondências
entre suas forças. O resultado do jogo é a corporificação mensurável
pelos indicadores de valor acionário, os registros de acessos, o volume
de dados capturados.

Tela de toque
Para além da tomada de signos pelas táticas de guerrilha comu-
nicacional, acrescenta-se à produção hackero imperativo materialista
e, de certo modo, tátil ou háptico. Não basta subverter o discurso e
12 Conforme Derrida (1992, p. 7): ”If there is gift, the given of the gift (that which
one gives, that which is‘ given, the gift as given thing or as act of donation) must
not come back to the giving (let us not already say to the subject, to the donor). It
must not circulate, it must not be exchanged, it must not in any case be exhausted,
as a gift, by the process of exchange, by the movement of circulation of the circle
in the form of return to the point of departure. If the figure of the circle is essential
to economics, the gift must remain aneconomic. Not that it remains foreign to the
circle, but it must keep a relation of foreignness to the circle, a relation without rela-
tion of familiar foreignness. It is perhaps in this sense that the gift is the impossible.
Not impossible but the impossible”.

206
sua contextualidade. Seus circuitos de composição e circulação devem
também ser colocados em disponibilidade para o contato e a recom-
posição concreta. Ato que se realiza conforme a permuta que o agen-
ciamento do humano com o inumano proporciona. Na transduç'ão
entre sistemas, a codificação é procedimento mediador, enquanto a
corporificação manifesta as tangências.
Da mídia tática ao hacktivísmo, CAE, EDT e UBERMORGEN.COM se
aplicam na passagem da subversão semiótica para o materialismo con-
testatório e especulativo. Esses grupos e demais praticantes revelam o
interesse pela intervenção nos circuitos de comunicação que se move
para as implicações materialistas, corporais e biológicas, em um per-
curso da med/-ação in-díreta, que começa nas interfaces entre huma-
nos e computadores para desembocar na hibridação ciborgue entre
suas respectivas programações e estruturas físicas.
A atenção dada às mídias de acesso e uso disseminado surgidas nos
anos 1990 desloca-se para as tecnologias com capacidade de interferir
e beneficiar a vida cotidiana. Estão ai incluídas as tecnologias médi-
cas e os dispositivos de segurança com aplicações baseadas em GPS
(Sistema de Posicionamento Global), bem como a abordagem crítica
do cotidiano denominada como life hacking— o hackeamento da vida.
Ao ser reconduzida à materialidade, a guerrilha semiológica ope-
ra pelas rupturas emergentes da aparente repetição fidedigna do que
está decidido em sua origem pretendida. Nas entre-telas, a expecta-
tiva de alta fidelidade produz também decepção crítica, pois o que é
sent/d0 (percebido) pelo destinatário não segue exatamente no senti-
do (na direção) correspondente ao sentido (significado) desejado pelo
emissor. Os (três) sentidos se modificam como sistema de diferenças e
alteridade do código e de sua corporificação narrativa.
u

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