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25/12/2015 O perigo de se encantar pela tecnologia e as Estradas Solares | Universo Racionalista

O perigo de se encantar pela tecnologia e as
Estradas Solares
Por Guilherme Ferreira Franco  - jul 9, 2014 8

     
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Ilustração de como seriam as ruas com os painéis solares inteligentes

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Com a tecnologia realizando feitos cada vez mas incríveis e promissores, nos envolvendo
cada vez mais, não é inesperado o encanto que ela causa, uma noção de altíssima
capacidade de realização. Chega até a criar uma noção de magia e de super­poder, como
se tudo com a tecnologia fosse possível, como se a sofisticação de todos sistemas com
mais tecnologia fosse sempre vantajoso.

A tecnologia torna possíveis inúmeras diferentes soluções para diferentes problemas,
porém, há de se ser realista e crítico ao se escolher uma solução para um problema em
uma sociedade fervilhante de transformações, que não pode parar a nenhum momento,
inclusive criando vários problemas quanto à manutenção da mesma, pois esta há de
sempre acompanhar seu regime de funcionamento.

Por mais que um projeto seja possível de ser implementado – e mesmo que seja
plenamente viável – fazê­lo dependerá de suas vantagens sobre os outros projetos nos
quais pode se investir para obter resultados semelhantes.

Certos projetos, pelo encanto que causam em suas propostas, podem parecer idéias
magníficas, viáveis, e até mesmo vantajosas sobre todas outras, e ao usar da tecnologia e
da sofisticação, somam ao seu encanto esta noção exagerada de capacidade extraordinária
da tecnologia moderna.

Talvez vocês já tenham ouvido falar do projeto estadunidense que pretende transformar
estradas, ruas, calçadas, estacionamentos, praças e quadras em gigantescos arranjos de
painéis solares inteligentes, que ficou conhecido como o projeto das Estradas Solares.

Seu conceito é magnífico e muito engenhoso, mas quem entende de gestão de projetos,
logística, engenharia material, estradas, sistemas informatizados (e a manutenção destes),
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deve ter ficado com um pé atrás (e com razão).

O projeto inclui muitas funções em um mesmo sistema, e talvez de forma exageradamente
sofisticada, além de requerer uma mudança muito grande e custosa no sistema atual. Além
disso, na divulgação do projeto, há aparentemente uma certa falta de realismo, e um certo
exagero nas considerações ao mesmo, como se fosse a solução pra maioria problemas
atuais das cidades, deixando evidente o como ele usa desse encanto com a tecnologia, com
sua sofisticação e engenhosidade como um dos seus pontos fortes ao conseguir apoio, ao
invés de uma análise crítica e conclusão de suas vantagens em um cenário realista de
implementação.

Há de haver muita seriedade e realismo quando se fala de projetos que pretendem mudar
radicalmente a infraestrutura de cidades, movimentar economias inteiras, gerar empregos
em massa, principalmente se visando um futuro bem próximo.

Eu escolhi esse projeto como um exemplo de como projetos podem encantar na sua
apresentação, mas podem parecer terríveis  ao analisar a fundo todas suas implicações em
um cenário realista – considerando sua real escala, em um país gigantesco, onde não há
como contar com cenários ideais para a implementação do mesmo, e onde esta há de
garantir segurança, establidade, e baixo transtorno nas atividades vitais da sociedade,
havendo muitas complicações técnicas e humanas envolvidas, além da existência de outros
projetos que também podem prover as mesmas soluções (mesmo que separadamente).

Então, já leram sobre o projeto, vamos começar?

Custo e viabilidade econômica

Vamos lembrar como são feitas as estradas de asfalto? Então, as estradas de asfalto usam
muito material reciclado – como a borracha de pneus, o asfalto de outras estradas etc –  e
aproveitado – como restos de refinarias de petróleo, restos de pedreiras e restos de
construções – , enfim, muitos materiais são reciclados e aproveitados, são abundantes e de
baixo custo. Elas ajudam a reciclar muito material, além de seres recicláveis elas mesmas.

Apesar do maquinário que opera nas estradas de asfalto ser grande e parecer lento, se bem
feitas, as operações de manutenção e re­condicionamento são esporádicas, e andam em
um passo bem rápido na verdade, principalmente em estradas, em áreas urbanas tem
algumas complicações com a infraestrutura que anda junto com ruas de asfalto (Circuitos
hidráulicos, elétricos, etc).

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E os painéis solares? Bem, se você viu o projeto, deve ter visto que eles não são nada,
nada simples. Usam um vidro especial que supostamente suporta altíssimas pressões
(caminhões podem impor uma pressão de mais de 100 PSI no solo), tem um sistema
eletrônico um tanto complexo, com microprocessador, controle microprocessado de
energia, capacidade de comunicação com os outros painéis (o que envolve todo um sistema
de endereçamento e proteção contra invasão), e controle de vários LED’s que ficam em sua
superfície, e que junto com os outros, transformariam todo o chão em uma tela gigante.

Além disso, eles ainda tem sistema de aquecimento para derreter a neve, e tem uma
grande infraestrutura abaixo, com canais para escoamento de água, além de toda a rede
elétrica e rede de comunicação. Haveria uma grande infraestrutura, o que significaria cavar
fundo nas estradas atuais, criando uma base mais funda ainda, para sobre ela construir
estes canais e a base dos painéis, para ainda por cima destes, instalar o sistema de painéis.

Wow! Such engenhosidade! Não há dúvidas de quão útil e genial isso tudo seria. Mas e o
preço disso tudo? Bem, tenho péssimas notícias.

Cálculos revelaram que só o preço da implantação, nos Estados Unidos inteiro, seria de
mais de um trilhão de dólares no mínimo,alguns calculando em cerca de 60 trilhões.
Péssima notícia. Mas, a substituição não poderia ser gradual, usando o economizado para
alimentar o processo aos poucos? Sim, poderia, mas ainda sim, cálculos e análises
mostram que, possivelmente, o custo de operação e manutenção fariam com que o
economizado não fosse suficiente para continuar com o projeto, ou fosse muito pouco,
fazendo o processo se tornar lento demais, e acabando por ficar ultrapassado antes que
tomasse proporções consideráveis.

Mesmo que isso não ocorresse, essas desvantagens econômicas com certeza fariam o
projeto não mostrar vantajem sobre outros projetos de energia renovável (somados a
outros projetos para as demais questões) menos complexos e de mais simples
implantação, operação e manutenção.

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Mas, além da questão de dinheiro, e se todos botassem a mão na massa pra fazer, e se
começassem a implantar agora, com mão de obra voluntária e disponibilidade de recursos?

Viabilidade técnica e problemas na manutenção e operação

Com grande sofisticação, complexidade e número de funções, vem grande problemas e
muitas adversidades. Não é desejável tornar um sistema mais complicado do que precisa
ser, nunca é.

Como citou um crítico da sofisticação exagerada de sistemas informatizados, existe uma
tendência de querer sempre sofisticar mais e mais estes sistemas, usando computadores
embutidos com sistemas operacionais completos, na maioria das vezes um Linux adaptado.

Em vários destes, daria para substituir os computadores por sistemas muitíssimo mais
simples, como micro­controladores, e criar um simples programa em Assembly para
controlá­lo. Dessa forma, apesar de tornar um pouco mais complexo o código do programa,
não haveria sequer uma instrução sendo executada no sistema sem ser as que estão no
código, e eo programa também não recorreria de funções de software externas que podem
apresentar falhas. O sistema seria completamente estável, e qualquer erro haveria de estar
ou no código ou no hardware (com uma pequena chance de ser no firmware, mas nestes
sistemas simples, ele apenas inicia o micro­controlador e carrega o programa, muito difícil
de ter algum problema).

As placas solares do projeto usam de uma tecnologia bem sofisticada e complexa, incluindo
um sistema de comunicação que permite torná­las em uma gigante tela de LED’s. Isso é
muito legal, até que alguém invada o sistema e jogue o trânsito de uma pista contra outra.
Tornar esse intrincado sistema seguro iria requerer ainda mais processamento por parte
das placas, mais artfícios de software, dando ainda mais espaço pra falhas, tanto de
software quanto de hardware,  corroborando para uma alta demanda de manutenção.

Falando nisso, e a manutenção? Bem, as placas poderiam ser trocadas facilmente, porém
reparos na infraestrutura inferior necessitariam de pessoas debaixo da estrada.
Reparos muito provavelmente seriam mais frequentes do que em estradas de asfalto, mais
caros, e gastariam um bom tempo. Para reduzir a interrupção, poderiam botar os
funcionários para trabalhar debaixo da estrada sem parar o trânsito, o que aumentaria
bastante os riscos da função, além de deixá­los mais estressados com as vibrações dos
veículos logo acima.

Isso tudo ainda considerando que estas placas aguentarão o castigo das vibrações e do

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peso dos veículos. Como citou um dos críticos, ao parar ao lado de uma rodovia nos
Estados Unidos, ele ficou abismado com o estado da estrada. Naquela parte, haviam placas
de concreto de ao menos 10 polegadas (25.4cm) de espessura no chão, todas
profundamente rachadas.

As placas de vidro que protegem os delicados painéis solares dos veículos logo acima tem
de 0,5 a 1 polegada apenas. Mesmo se elas suportarem bem, de qualquer forma, vale
lembrar que no seu design, elas tem pequenas protuberâncias cilíndricas na superfície,
dispostas a uma distância de aproximadamente uma polegada uma da outra. Em um carro
de passeio a aproximadamente 90km/h, você ouviria um tom agoniante de 1kHz (não
exatamente igual a este, porém). Dependendo do veículo, esse som pode ficar abafado,
porém em um carro de passeio, seria provavelmente notável.

É necessário lembrar que, motoristas mais estressados causam mais acidentes, não é uma
boa idéia fazer uma estrada barulhenta. Além disto, esta vibração mais as outras vibrações
dos veículos aceleram muito o desgaste de equipamentos eletrônicos.

Conclusão

Apesar do quanto encantadora é essa idéia, ela não parece ser muito viável, e parece criar
toda uma gama de problemas práticos, técnicos, humanos, etc.

Não querendo desmerecer a idéia, porém ela parece tentar solucionar muitos problemas em
um só sistema, tornando­o complexo demais, além de usar de uma sofisticação
desnecessária, fazendo­o perder a competitividade contra outros projetos também muito
úteis, engenhosos e fáceis de implementar, como fazer coberturas de panéis solares para
telhados, estacionamentos e outras áreas, que não usam vidros especiais, nem
microprocessadores, LED’s, nem nenhuma eletrônica avançada, são baratíssimos,
produzidos em massa, e ajudam a suprir a demanda local dos lugares, alguns podendo usar
somente a energia gerada por eles.

Até agora, esse projeto conseguiu mais de 1.4 milhões de dólares em financiamento
colaborativo, porém isso ainda está muito longe de fazer uma grande transformação com
ele, enquanto, se usado para painéis solares simples em coberturas, poderia já ter coberto
centenas de lugares, produzindo bastante energia, reduzindo a demanda de energia da rede
elétrica convencional destes lugares.

Devemos sempre ser críticos e nunca nos deixar levar pelo encanto, que pode ser
prejudicial tanto individualmente, fazendo­nos pagar mais caro por sofisticação

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desnecessária (comogeladeiras que acessam a internet.), quanto coletivamente, fazendo
projetos pouco viáveis e pouco (ou não­)vantajosos ganharem um apoio demasiado,
enquanto outros projetos poderiam recebê­lo e trazer resultados melhores e mais
rapidamente.

Fontes:

http://jalopnik.com/why­the­solar­roadway­is­a­terrible­idea­1582519375

http://www.extremetech.com/extreme/183130­solar­roadways­passes­1­4­million­in­
crowdfunding­just­short­of­the­56­trillion­required­but­not­bad­for­a­crazy­idea

http://www.solarroadways.com/

http://www.tecmundo.com.br/energia­solar/4616­estrada­solar­o­asfalto­da­vez­a­
tecnologia.htm

http://www.universoracionalista.org/o­perigo­de­se­encantar­pela­tecnologia­e­as­estradas­solares/ 7/7

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