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A dinâmica demográfica da Venezuela segundo as novas projeções da ONU

José Eustáquio Diniz Alves


Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

A dinâmica demográfica da Venezuela não ficou imune à crise econômica e política que acomete
o país. Os principais indicadores foram afetados. A população venezuelana, que era de 5,5
milhões de habitantes em 1950 (representando 0,22% da população mundial de 2,5 bilhões),
cresceu continuamente nas décadas seguintes e atingiu 30,1 milhões de habitantes em 2015
(representando 0,41% da população mundial de 7,4 bilhões), conforme mostra o gráfico abaixo,
com dados das novas projeções da Divisão de População da ONU (Revisão 2019).

Mas a profunda crise que atinge o país natal de Simon Bolívar provocou uma redução da
população que caiu no quinquênio 2015-20 e deve ficar em 28,7 milhões em 2020 (0,36% da
população mundial de 7,8 bilhões). A população venezuelana deve retomar o crescimento em
2021 até atingir o pico de 37,6 milhões de habitantes em 2063 (0,37% da população mundial de
10,3 bilhões) e iniciar, em seguida, um processo de decrescimento até alcançar 34,2 milhões de
habitantes em 2100 (0,31% da população mundial de 10,9 bilhões).

Além dos números da população (barras azuis e eixo esquerdo), o gráfico abaixo também mostra
que a crise venezuelana fez as taxas de crescimento anuais (linha laranja e eixo direito) ficarem
negativas no quinquênio 2015-20. A maior parte deste declínio foi causado pela saída de
refugiados. A Divisão de População projeta um retorno de parte dos emigrantes e refugiados a
partir de 2021. Obviamente, esta hipótese ainda terá que ser verificada nos próximos anos.

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A crise também afetou outros indicadores. A taxa de mortalidade infantil que estava em 101
mortes para cada mil nascidos vivos no quinquênio 1950-55 caiu para 15 por mil no quinquênio
2010-15 e voltou a subir para 26 por mil em 2015-20 e só deve ficar abaixo de 15 por mil no
quinquênio 2040-45, conforme mostra o gráfico abaixo. Portanto, a Venezuela que tinha taxas
de mortalidade infantil bem abaixo da média da América Latina, na segunda metade do século
passado, agora possui uma das taxas mais elevadas. A esperança de vida ao nascer que chegou
a 73,1 anos no quinquênio 201-15, caiu para 72,1 no atual quinquênio.

A Taxa de Fecundidade Total (TFT) que estava em 6,5 filhos por mulher em 1950-55 caiu para
2,4 filhos no quinquênio 2010-15, apresenta um declínio acentuado durante a crise e deve ficar
em 1,9 filho no quinquênio 2020-25, portanto, abaixo do nível de reposição. Ou seja, as taxas de
mortalidade subiram e a fecundidade caiu devido à situação difícil do país.

O gráfico abaixo apresenta a transição demográfica na Venezuela. A Taxa Bruta de Natalidade


(TBN) que estava em torno de 46 nascimentos por mil habitantes na década de 1950 tem caído
continuamente e deve ficar em 10,1 nascimentos por mil no quinquênio 2075-80, quando será
superada pela Taxa Bruta de Mortalidade (TBM) que deve atingir 10,6 por mil no mesmo
período, dando início, consequentemente, ao decrescimento da população (na condição de uma
migração próxima de zero).

O crescimento natural (TBN-TBM) que havia apresentado uma elevação na década de 1950,
manteve uma tendência de queda e deve ficar negativo exatamente no quinquênio 2075-80. Já
a taxa líquida de migração que era muito alta na década de 1950 (a Venezuela atraiu muitos
imigrantes neste período) continuou positiva até 1990 (atraindo imigrantes) e se tornou
negativa nas 3 décadas seguintes, especialmente no quinquênio 2015-20, com grande fluxo de
emigrantes. As projeções da ONU indicam que a taxa líquida de migração vai continuar negativa
no restante do século, mas com volumes menores nos fluxos de saída.

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Como visto nos gráficos acima, a crise econômica, social e política na Venezuela afetou os
diversos indicadores demográficos. Mas o pior de tudo é que a população venezuelana estava
passando pelo melhor momento da estrutura etária de sua história. Ou seja, o auge do bônus
demográfico da Venezuela vai ocorrer entre 2015 e 2030. Não basta apenas ter grandes reservas
de petróleo. O país precisaria estar melhorando as condições de saúde e educação, mas
principalmente, deveria garantir o pleno emprego e o trabalho descente.

Porém, o casos social está fazendo a renda per capita decrescer (hoje em dia a renda per capita
está cerca da metade do que era na década de 1950) e a economia venezuelana totalmente
desorganizada está jogando fora a janela de oportunidade. Não haverá novas condições
demográficas tão propícias, já que, no futuro, haverá um forte envelhecimento populacional.
Desta forma, a Venezuela pode ficar conhecida como um caso especial de país que regrediu de
uma condição de renda alta para renda baixa. A mobilidade social descendente pode fazer o
país de Simon Bolívar ficar preso, eternamente, na “armadilha da pobreza”.

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