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A dinâmica demográfica da Venezuela não ficou imune à crise econômica e política que acomete
o país. Os principais indicadores foram afetados. A população venezuelana, que era de 5,5
milhões de habitantes em 1950 (representando 0,22% da população mundial de 2,5 bilhões),
cresceu continuamente nas décadas seguintes e atingiu 30,1 milhões de habitantes em 2015
(representando 0,41% da população mundial de 7,4 bilhões), conforme mostra o gráfico abaixo,
com dados das novas projeções da Divisão de População da ONU (Revisão 2019).
Mas a profunda crise que atinge o país natal de Simon Bolívar provocou uma redução da
população que caiu no quinquênio 2015-20 e deve ficar em 28,7 milhões em 2020 (0,36% da
população mundial de 7,8 bilhões). A população venezuelana deve retomar o crescimento em
2021 até atingir o pico de 37,6 milhões de habitantes em 2063 (0,37% da população mundial de
10,3 bilhões) e iniciar, em seguida, um processo de decrescimento até alcançar 34,2 milhões de
habitantes em 2100 (0,31% da população mundial de 10,9 bilhões).
Além dos números da população (barras azuis e eixo esquerdo), o gráfico abaixo também mostra
que a crise venezuelana fez as taxas de crescimento anuais (linha laranja e eixo direito) ficarem
negativas no quinquênio 2015-20. A maior parte deste declínio foi causado pela saída de
refugiados. A Divisão de População projeta um retorno de parte dos emigrantes e refugiados a
partir de 2021. Obviamente, esta hipótese ainda terá que ser verificada nos próximos anos.
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A crise também afetou outros indicadores. A taxa de mortalidade infantil que estava em 101
mortes para cada mil nascidos vivos no quinquênio 1950-55 caiu para 15 por mil no quinquênio
2010-15 e voltou a subir para 26 por mil em 2015-20 e só deve ficar abaixo de 15 por mil no
quinquênio 2040-45, conforme mostra o gráfico abaixo. Portanto, a Venezuela que tinha taxas
de mortalidade infantil bem abaixo da média da América Latina, na segunda metade do século
passado, agora possui uma das taxas mais elevadas. A esperança de vida ao nascer que chegou
a 73,1 anos no quinquênio 201-15, caiu para 72,1 no atual quinquênio.
A Taxa de Fecundidade Total (TFT) que estava em 6,5 filhos por mulher em 1950-55 caiu para
2,4 filhos no quinquênio 2010-15, apresenta um declínio acentuado durante a crise e deve ficar
em 1,9 filho no quinquênio 2020-25, portanto, abaixo do nível de reposição. Ou seja, as taxas de
mortalidade subiram e a fecundidade caiu devido à situação difícil do país.
O crescimento natural (TBN-TBM) que havia apresentado uma elevação na década de 1950,
manteve uma tendência de queda e deve ficar negativo exatamente no quinquênio 2075-80. Já
a taxa líquida de migração que era muito alta na década de 1950 (a Venezuela atraiu muitos
imigrantes neste período) continuou positiva até 1990 (atraindo imigrantes) e se tornou
negativa nas 3 décadas seguintes, especialmente no quinquênio 2015-20, com grande fluxo de
emigrantes. As projeções da ONU indicam que a taxa líquida de migração vai continuar negativa
no restante do século, mas com volumes menores nos fluxos de saída.
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Como visto nos gráficos acima, a crise econômica, social e política na Venezuela afetou os
diversos indicadores demográficos. Mas o pior de tudo é que a população venezuelana estava
passando pelo melhor momento da estrutura etária de sua história. Ou seja, o auge do bônus
demográfico da Venezuela vai ocorrer entre 2015 e 2030. Não basta apenas ter grandes reservas
de petróleo. O país precisaria estar melhorando as condições de saúde e educação, mas
principalmente, deveria garantir o pleno emprego e o trabalho descente.
Porém, o casos social está fazendo a renda per capita decrescer (hoje em dia a renda per capita
está cerca da metade do que era na década de 1950) e a economia venezuelana totalmente
desorganizada está jogando fora a janela de oportunidade. Não haverá novas condições
demográficas tão propícias, já que, no futuro, haverá um forte envelhecimento populacional.
Desta forma, a Venezuela pode ficar conhecida como um caso especial de país que regrediu de
uma condição de renda alta para renda baixa. A mobilidade social descendente pode fazer o
país de Simon Bolívar ficar preso, eternamente, na “armadilha da pobreza”.