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ESTUDANTES EM EAD
Resumo:
Os gêneros, como formas de ação social, desempenham um papel
fundamental em organizar a vida e a atividade das pessoas (MILLER, 2012;
BAZERMAN, 2005). O objetivo deste trabalho é caracterizar e discutir, do
ponto de vista dos Novos Estudos do Letramento e dos Estudos Retóricos de
Gêneros, os conjuntos e sistemas de gêneros com os quais os estudantes de
graduação lidam em um curso de letras em EAD. Para tanto, observamos os
gêneros que os estudantes de 04 disciplinas selecionadas do curso leem
e/ou escrevem, analisando-os no que concerne ao seu enquadramento em
diferentes conjuntos e/ou sistemas, além de discutir seu lugar no processo
de letramento acadêmico dos alunos.
Palavras-chave: gêneros, conjuntos e sistemas de gêneros, letramentos.
Abstract:
Genre as a form of social action plays a key role in organizing life and
activity of people (Miller, 2012; Bazerman, 2005). In this paper, we
describe and discuss, drawing on Rhetorical Genre Studies and on New
Literacy Studies, genre sets and systems with which undergraduate
students deal in a language studies course in DE. Therefore, we observed
the genres that students from 04 disciplines selected from the course read
and/or write, analyzing genres in relation to their belonging to different
sets and/or systems, besides discussing its place in the process of students'
academic literacy.
Keywords: genre, genre sets and systems, literacies.
Introdução
No âmbito de uma teoria que encara os gêneros como ação social (MILLER,
2012) e como fenômenos de reconhecimento psicossocial (BAZERMAN, 2005),
admite-se que os gêneros textuais desempenham um papel fundamental em
organizar a vida das pessoas em sua relação com as instituições. Não é diferente no
que tange às atividades acadêmicas e à relação com instituições de ensino
superior. Nesse ambiente, talvez até mais do que em muitos outros, as ações dos
participantes são essencialmente mediadas por textos em diferentes gêneros. Este
Cada vez que se senta para escrever para nós, o aluno tem que inventar a
universidade para aquela circunstância – inventar a universidade, ou seja,
uma ramificação dela, como História, Economia, Antropologia ou Inglês.
Ele tem que aprender a falar nossa linguagem, falar como falamos,
Uma vez que o letramento acadêmico diz respeito a práticas sociais que
envolvem leitura e escrita, deve-se admitir a necessária existência de uma relação
entre letramento e gêneros, conforme também argumentei em trabalhos anteriores
(BEZERRA, 2010, 2012). Nesses trabalhos, apresentei a concepção de Russell et al.
(2009), para quem o conceito de gêneros está implícito ou explícito em seja qual
for o modelo de abordagem da escrita dos estudantes no ensino superior 7, mudando
apenas a perspectiva pela qual se encaram os gêneros em cada caso.
Assim, no modelo das habilidades de estudo, os gêneros são considerados
essencialmente como um conjunto de traços formais redutíveis a um modelo ou
estrutura. No modelo da socialização acadêmica, procura-se ressaltar para os
alunos como os gêneros se configuram em diferentes culturas e normas
disciplinares, por sua vez definidas com base nos textos “escritos por acadêmicos
de uma determinada comunidade” (RUSSELL et al., 2009, p. 405). A perspectiva
dos letramentos acadêmicos, finalmente, “se alinha a uma visão de gênero como
prática social, e não ao conhecimento de gêneros em termos da comunicação
disciplinar em si, embora esta seja, por sua própria natureza, essencial para uma
perspectiva de prática social” (p. 405).
Street (2010, p. 352) ressalta a necessidade, no contexto dos letramentos
acadêmicos, de “ajudar os alunos a se tornarem mais conscientes das diferentes
práticas linguísticas – e semióticas, em sentido mais amplo – associadas a diferentes
gêneros“. Na concepção de Lea e Street (2006), um dos aspectos relevantes do
modelo de letramentos acadêmicos consiste precisamente em enfatizar a
importância do ensino explícito das “mudanças de gêneros e modos à medida que
os alunos se movem entre trabalhos em grupo, expressão oral, tomada de notas,
apresentações, escrita mais formal, etc.” (p. 229). Para os autores, a relação entre
práticas culturais e gêneros deve ser identificada e ressaltada nos variados
processos de letramento.
10 06 11 08 08
Considerações finais
Referências
BARTHOLOMAE, David. Inventing the university. In: ROSE, M. (Ed.). When a writer
can’t write: studies in writer’s block and others composing process problems. New
York: Guilford Press, 1985. p. 273-285.
LEA, Mary R.; STREET, Brian V. Student writing in higher education: an academic
literacies approach. Studies in Higher Education, London, v . 23, n. 2, p. 157-172,
jun. 1998.
_____. The “academic literacies” model: theory and applications. Theory Into
Practice, v. 45, n. 4, p. 368-377, 2006. Disponível em: <http://www3.unisul.br/
paginas/ensino/pos/linguagem/cd/English/22i.pdf> Acesso em: 26 ago. 2010.
MILLER, Carolyn R. Gênero como ação social. In: MILLER, Carolyn R. Gênero
textual, agência e tecnologia. Recife: Ed. da UFPE/São Paulo: Parábola, 2012. p.
21-41.
1
Benedito Gomes BEZERRA, Prof. Dr.
Universidade de Pernambuco (UPE)
beneditobezerra@yahoo.com.br
2
Embora eventualmente se use o termo no singular, entende-se que o letramento não é único, é sempre plural. Assim, neste
trabalho, referimo-nos preferencialmente a letramentos acadêmicos para designar o modo como os alunos lidam com a
leitura e a escrita no âmbito do ensino superior à distância.
3
Aqui retomo parcialmente considerações feitas em Bezerra (2010, 2012).
4
Ou seja, a abordagem das habilidades de estudo, da socialização acadêmica e dos letramentos acadêmicos. Para detalhes
sobre essas abordagens, conferir Bezerra (2010, 2012).
5
Para um exemplo de estudo sobre letramentos acadêmicos, enfocando o ensino na graduação, ver Dionísio & Fischer (2010).
No nível da pós-graduação, é possível citar o trabalho de Figueiredo & Bonini (2006).
6
Embora o termo “mediacional“ me pareça claramente inadequado para designar um gênero, a problematização desse
aspecto fugiria aos propósitos deste trabalho.
7
Ver nota 4.
8
A pesquisa, ainda inédita, resultou na dissertação intitulada Letramentos acadêmicos: práticas e eventos de letramento na
educação a distância, com defesa agendada para fevereiro de 2013. Agradeço à pesquisadora pela generosidade em ceder os
dados.
9
“Ferramentas pedagógicas“ e “gêneros científicos“ são termos usados por Dionisio e Fischer (2010) para diferenciar os
gêneros típicos da sala de aula dos gêneros “propriamente“ acadêmicos. Neste trabalho, ambos sao considerados generos
acadêmicos, mesmo quando a finalidade de sua produção e recepção se esgota na sala de aula.
10
O professor elaborador do fascículo idealmente será o mesmo que acompanha os alunos ao cursarem a disciplina, mas pode
acontecer de ter sido substituído por algum motivo justificável.