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Comunicado ABMeVeC sobre o uso de estímulos aversivos no treinamento de animais,

Revista APAMVET, Vol. 10.

Em resposta à reportagem ¨Conversando com o Dr. Luiz Luccas- fevereiro de 2019”,


veiculada na revista “Boletim APAMVET" (volume 10, n.1, 2019), a Associação Brasileira de
Medicina Veterinária Comportamental (ABMeVeC) sente-se compelida a esclarecer alguns pontos.
O termo “adestramento positivo”, utilizado de maneira informal para nomear o treinamento
de animais sem o uso de estímulos aversivos é defendido por diferentes associações, colégios e
órgãos internacionais de médicos veterinários comportamentalistas e de treinadores modernos,
baseando-se em evidências científicas que demonstram ser uma técnica eficiente e com menor
comprometimento do bem-estar animal.
Estudos mostram que o uso de estímulos aversivos gera medo em animais, sendo o medo
uma emoção altamente negativa que devemos evitar ao máximo, prejudica a comunicação entre
animais e pessoas, pode causar dor e desconforto, frequentemente suprime comportamentos
normais e naturais, pode facilitar a agressão (normalmente relacionada ao medo) e o desamparo
aprendido e, ainda, associações errôneas podem acontecer.
Os médicos veterinários que atuam na área da Etologia Clínica, a partir do diagnóstico da
motivação por trás do comportamento inadequado (seja um problema simples ou um problema
grave comportamental e que pode também estar associado a problemas médicos, como os casos de
agressividade) elaboram um protocolo de tratamento que se baseia em três pilares: modificação
comportamental, modificação ambiental e medicamentos (psicotrópicos, feromônios ou
nutracêuticos). A modificação comportamental, sempre presente no tratamento de distúrbios
comportamentais, baseia-se principalmente no treinamento de cães com o uso de reforço positivo,
para ensinar comportamentos adequados frente a determinadas situações. Existem técnicas
diferentes para o resultado final, mas independente da escolhida, o uso de aversivos não é indicado
pelos motivos citados acima no texto.
O bem-estar animal, pilar do trabalho veterinário amplamente divulgado pelo CFMV, e um
vínculo humano-animal saudável são balizadores da prática da etologia clínica, por isso
frequentemente são indicados ajustes no ambiente e rotina para que os pacientes tenham
oportunidade de manifestar comportamentos naturais de maneira adequada. As famílias em que
esses animais estão inseridos são esclarecidas sobre esses pontos e porque são responsáveis por
suprir essas necessidades básicas.
A ABMeVeC gostaria de esclarecer que toda a prática defendida pela associação tem
embasamento científico moderno, seguindo as maiores associações do tema no mundo, tendo,
inclusive, sócios beneméritos de outros países, referências na pesquisa e prática clínica na área do
comportamento e do bem-estar animal. Assim como outras especialidades da medicina veterinária,
a medicina do comportamento utiliza recursos terapêuticos baseados em dados científicos, sempre
evoluindo conforme novos estudos surgem. O treino sem o uso de estímulos aversivos não é apenas
uma tendência ou moda, como sugerido no texto, mas sim a prática mais adequada para
modificações comportamentais e educação de cães e gatos.
Sabemos que a medicina veterinária comportamental está em franco desenvolvimento no
Brasil e apesar de ainda não possuir requisitos para ser reconhecida como especialidade pelo
Conselho Federal de Medicina Veterinária, a ABMeVeC vem trabalhando para divulgação,
capacitação e reconhecimento da especialidade no Brasil. Sendo assim, segundo a RESOLUÇÃO
Nº 935, DE 10 DE DEZEMBRO DE 2009 o título de especialista pelo veterinário só poderá ser
utilizado após o reconhecimento da especialidade e pelos profissionais que cumprirem todos os
requisitos exigidos para tal.
Poucos cursos de graduação abordam o tema e, nesse cenário, a divulgação de uma matéria
com tantos equívocos técnicos em uma revista distribuída junto à revista do CRMVSP e com amplo
alcance entre colegas veterinários prejudica os profissionais que atuam na área, as famílias que
buscam aconselhamento com seu veterinário sobre o comportamento do animal e, principalmente,
tem grande potencial de impactar negativamente o bem-estar de cães e gatos.
A ABMEVEC coloca-se à disposição para eventuais esclarecimentos e dúvidas.

Diretoria Executiva ABMEVEC

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