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A CONDIÇÃO DE PRODUÇÃO DE LEITURA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E

ADULTOS

Eixo do trabalho (X) Pesquisa concluída ou em andamento

Resumo

Este trabalho objetiva compreender como o sujeito se presentifica na produção escrita


e no seu discurso. Discutir as reais condições de produção do sujeito leitor e as
formações discursivas e imaginárias nas quais ele se inscreve e de que forma essas
se apresentam nas suas opiniões e ideologias. Refletir as competências
interpretativas de cada sujeito-leitor. A partir disso, discutir as proposições
apresentadas nas produções de leitura dos alunos da Educação de Jovens e Adultos
(EJA) da Escola Estadual João Rezende de Azevedo do município de Alto Boa Vista
-MT. Faz parte desse trabalho de cunho dissertativo, os estudantes da referida escola,
numa proposição comparativa, visto que em 2012 foi iniciado um trabalho avaliativo
com vistas ao ensino de leitura na abordagem discursiva. Em 2018, retoma-se para a
materialização com recorte junto a turma única do II EJA, no intuito de comparar
perspectivas discursivas. Essa amostragem foi colhida por meio do trabalho com a
leitura do texto na prática da sala de aula. Obteve-se por parte dos estudantes
participantes significativas respostas, a partir da aplicabilidade dos textos, “O bicho”,
de Manuel Bandeira.

Palavras-chave: Leitura, Formação Imaginária, Discursiva.

Introdução
A condição da produção de conhecimento para Análise de Discurso não é vista
como estando separada das condições materiais de existência do sujeito. Ao
contrário, passa a ser entendida como função vital movente da linguagem e produção
de significado.
Seguindo esse pressuposto, pensaremos a língua na sua essência como um
conjunto de signos e a linguística com todas as regras gramaticais, esta vem para
auxiliar os falantes com fontes do bem dizer para chegar a competência da análise
discursiva.
Nessa perspectiva é de suma importância atentar-se para a produção da
leitura, com vistas a trabalhar com a problematização de compreender como o sujeito

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26 a 28 de setembro de 2018
se presentifica na produção escrita e no seu discurso, discutindo as reais condições
de produção do sujeito leitor e as formações discursivas e imaginárias nas quais ele
se inscreve e de que forma essas se apresentam nas suas opiniões e ideologias.
São participantes desse trabalho, de cunho dissertativo, os estudantes da
Escola Estadual Professor João Rezende de Azevedo da cidade mato-grossense Alto
Boa Vista, numa proposição comparativa, sendo que em 2012, iniciou-se um trabalho
avaliativo do ensino da leitura na abordagem discursiva com estes participantes. E,
em 2018, retoma-se objetivando a materialização a partir de um recorte na turma
única, II EJA, no intuito de comparar a perspectiva discursiva, buscando a
problematização da leitura.
Nesse propósito, seguimos a conferência das respostas dadas as questões dos
textos com o objetivo da construção da análise levando em consideração: O que nos
dizem os textos dos alunos de EJA? Como é presentificada sua formação imaginária
e discursiva, no campo interpretativo apresentado na leitura dos textos de outras
décadas, tendo em vista outros apontamentos.
Tais indagações foram relevantes à metodologia desse trabalho, pois
trouxeram um olhar para os apontamentos e para a constituição social da turma
pesquisada, esta composta por vinte e três (23) estudantes na sua grande maioria
mulheres, de trinta (30) a quarenta e nova (49) anos o que dá a essa turma, uma
característica bastante diferenciada.

Desenvolvimento
Para a realização desse trabalho, buscamos suportes teóricos nos compêndios
do desenvolvimento das habilidades de leitura, preconizados em documentos oficiais
entre os pensadores críticos do assunto.
Considerando o fato de como a leitura é produzida, é de suma importância
também se atentar para as condições em que estão definidas por conhecimentos que
revelam experiências, fato esse, que interfere na subjetividade do leitor.
Busca-se então, outras discussões dentro da proposta pedagógica da EJA,
bem como nas afirmações de Orlandi (2004), “as condições de produção se dão em
dois contextos distintos: circunstâncias de enunciação ou contexto imediato”. Refletir
com vistas a mesclar com as palavras de Possenti (1990, p. 170), “a leitura de um

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texto obedece também às regras que não provém somente da coerência textual
interna, mas das condições extratextuais de enunciação”.
As competências interpretativas aqui discutidas são singulares a de um sujeito
de EJA, com condições de um letramento desfavorecido. O que chama atenção para
o fato de haver uma necessidade de se trabalhar um texto antes de abordar uma
atividade.
Nesse sentido, frisa-se que a interpretação dos sentidos que um enunciado
pode ter, sendo necessário as condições de produção, pois a leitura se mantém ativa
no interdiscurso, na memória e na ideologia.

Discussão e Resultados
Para a construção das análises buscou-se compreender a formação imaginária
e discursiva dos informantes em cada recorte feito, sabe-se que suas filiações
imaginárias são determinantes nas respostas dadas. Essas marcas se constituem na
oralidade, pois a condição de produção interpretativa não se dissocia das condições
matérias do sujeito.
Nesse contexto, os recortes analisados foram referentes às seguintes
indagações: - Depois de ter lido o poema, comente o ato humano de comer, degustar,
com a atitude da degradação humana, que coloca o homem na zoomorfização; - A
metáfora tem propriedade de ressaltar um aspecto do ser por ela designado, pois o
autor enfatizou O Bicho; - Na sua opinião, a sociedade está preocupada com o menos
favorecido? Ou está cada vez mais individualizada? Comente e aponte soluções. Com
base nas respostas, obtivemos dos informantes, denominados “A” (mulher, 35 anos,
evangélica), “B” (mulher, 33 anos, ...) e “C” (mulher, 39 anos, esta tem acesso e usa
as redes sociais.): - Diz o “A”: “o que traz homem a essa situação é a falta de
administração humana, falta de princípio por não ajudar o, de ajuda ao próximo...e ser
amante de si próprio...”. Após ler o trecho respondeu a indagação, enfatizando que a
desigualdade social apontada no texto do autor é de responsabilidade pessoal e
individual, não consegue fazer uma leitura de cunho social, além de afirmar que se
alguém tiver condições de administrar sua vida, não terá desafios em relação ao caos
da sociedade explicitada no texto.
Nesse sentido podemos dizer que houve a falta de condição de produção para
essa estudante, que apesar de ser maior de trinta (30) anos, suas interpretações foram
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apenas de modo superficial. No entanto, se possuísse outras leituras certamente teria
afirmado que na sociedade existem vários domínios ou áreas de atividade humana e
que certamente esse homem em condição degradante faz parte de uma camada
desfavorecida.
Em relação ao informante “B”: Não gosta de ver televisão, não tem paciência
para usar as redes sociais. Ele fez essa comparação devido a falta de valores que
está entre os seres humanos, que não estão mais valorizando uns aos
outros...perderam a noção dos valores seres humanos...que não estão mais
valorizando uns aos outro...”
Com vistas ao recorte da informante “B”, este nos remete a formação imaginária
de uma mulher que interpreta as condições sociais dos sujeitos da sociedade atual,
com os princípios fundantes na formação religiosa, quando diz que os humanos, é que
não estão mais valorizando uns aos outros. Em nenhum momento, a informante B,
discute a formação política e social. Suas respostas não apresentam como esses
valores são adquiridos por uma organização social, não diz que esses sujeitos estão
sendo massacrados pelas relações de poder. Apesar de citar que há uma importância
nos valores, não argumenta quais valores são esses, demonstrando baixa
familiaridade com a prática social da leitura.
Em relação ao recorte da informante “C”, esta tem acesso e usa as redes
sociais. Esta diz, “em minha opinião os pequenos estão ficando mais pequenos e os
grandes estão ficando mais grandes devido ambição humana... pra o mundo de hoje
não tem solução para sustentar a “dividualidade”. Para mim só Deus para dá jeito é a
solução, seria o no meu ponto de vista tem que te mais geração de emprego uma boa
administração dos governantes...”
Sobre a resposta da informante “C”, apesar da presença de vários desvios nos
marcadores argumentativos e na construção ortográfica, podemos perceber uma
aproximação maior com a leitura, uma resposta presentificada por uma melhor
condição de produção, pois sabemos que a leitura é marcada por territórios
particulares, quando frisa: “na minha opinião os pequenos estão ficando mais
pequenos e os grandes estão ficando mais grandes devido ambição humana, apesar
de se limitar a uma resposta fechada, quando diz que os grande estão cada vez maior,
e os pequenos cada vez menor”.

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Ao analisar esse recorte, o mesmo nos traz marcas que nos leva a entender
que a informante comenta de maneira superficial a desigualdade social, bem como
denunciada no texto abordado em sala, que perpassa por condições interpretativas
diferenciadas, tendo características e marcas de outras leituras e, por isso se perpetua
de acordo com a historicidade de cada um, fato esse, que está relacionado com a
identidade sócio-histórico-cultural dos estudantes participantes da pesquisa.
Em face dessa interpretação, podemos concluir que as condições de produção
em sala de aula são de suma importância. Nesse cenário o docente deve manter
propositalmente um diálogo sobre as questões sociais, levando seus estudantes a
outros questionamentos. Dito de outra maneira, a interpretação de um texto pode ser
para um o que não significa para o outro.
Ao longo dos parágrafos anteriores nos atentou-se tendo em vista os recortes
extraídos do texto de Manuel bandeira “O Bicho”. Para confirmar as particularidades
discursivas desse sujeito recorreremos a (ORLANDI, 2000 p. 44), a autora afirma:

Cada sujeito caracteriza-se pela sua formação imaginária e discursiva


na qual este está inserido. E isso se presentifica na perspectiva
discursiva individual, uma vez que cada sujeito leitor, possui suas
particularidades nas competências interpretativas (ORLANDI, 2000 p.
44).

As marcas das proposições interpretativas apresentadas pelos informantes,


estão atreladas às condições de produção do sujeito leitor, seja ela advinda do
ambiente social ou ofertadas pelo processo ensino/ aprendizagem, isso se confirma,
principalmente porque sabemos que a formação discursiva está intrinsecamente
representada na produção de sentido e que essa ressurge nos elementos
argumentativos, materializando-se de forma involuntária.

Considerações finais
Com base nas análises dos recortes trabalhos na pesquisa, enfatiza-se que a
produção de leitura dos estudantes da EJA/Ensino Médio da E.E. João Rezende de
Azevedo no ano de 2018, sinalizam que as condições de produção marcam a posição
de sujeitos leitores com condições interpretativas diferenciadas daquelas
preconizadas pelas políticas educacionais da modalidade em estudo.

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Assim, fica pressuposto a diferença no que tange a construção da leitura (ler
ou apenas decodificar) num trabalho pedagógico proposto em uma turma de EJA,
carece de outras motivações e que estas poderão dar as reais condições de produção
aos estudantes e que nesse caso, a escola ainda não consegue visualizar as
necessidades formativas desses sujeitos. Ao mesmo tempo percebe-se que os
estudantes/informantes da pesquisa, precisam ser estimulados para a construção de
sentido nas atividades por meio do ensino da leitura.

Referências

ORLANDI, Eni. Análise do discurso: A linguagem e seu funcionamento: as


formas do discurso. 4 ed. Campinas-SP: Pontes, 2001.

______________. A História da Leitura in Discurso e Leitura, 6 ed., São Paulo,


Cortez; Campinas-SP, editora da Universidade do Estado de São Paulo,2001,
coleção passando a limpo.

POSSENTI, Sírio. A leitura errada Existe in estado de leitura – Campinas-SP.


Mercado das Letras: Associação de leitura Do Brasil, 1999 (Coleção leituras no
Brasil).

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