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Maçonaria e Educação:
contribuições para o ideário republicano (1889-1930)
Rio de Janeiro
2013
Fernando da Silva Magalhães
Maçonaria e Educação:
contribuições para o ideário republicano (1889-1930)
Rio de Janeiro
2013
CATALOGAÇÃO NA FONTE
UERJ / REDE SIRIUS / BIBLIOTECA CEH/A
rc CDU 37(091)(81)”1889-1930”:061.236
CDU XXXX
______________________________ ___________________
Assinatura Data
Fernando da Silva Magalhães
Maçonaria e Educação:
contribuições para o ideário republicano (1889-1930)
Banca Examinadora:
_____________________________________________
Prof.ª Dra. Lia Ciomar Macedo de Faria (Orientadora)
Faculdade de Educação da UERJ
_____________________________________________
Prof.ª Dra. Edna Maria dos Santos
Secretaria de Educação de Pernambuco
_____________________________________________
Prof.ª Dra. Isabel Lustosa
Fundação Casa de Ruy Barbosa
_____________________________________________
Prof. Dr. Joaquim Antônio de Sousa Pintassilgo
Universidade de Lisboa
_____________________________________________
Prof. Dr. José Gonçalves Gondra
Faculdade de Educação da UERJ
Rio de Janeiro
2013
AGRADECIMENTOS
Figura 06 – Anuário do Colégio Souza Marques (1937, p.10 e 17) ................ 110
Figura 29 – Alunas. Foto sem data exposta na Secretaria do ICMS .............. 241
Figura 30 – Retrato de Antônio Joaquim de Macedo Soares paramentado
como maçom ............................................................................... 242
Figura 43 - Alunos da escola mista da loja “Progresso” (Campos, RJ) ......... 301
INTRODUÇÃO ......................................................................................... 14
INTRODUÇÃO
Neste sentido assinalo que esta tese auxilia uma releitura historiográfica das
relações no Brasil entre Educação, Escola, Estado e Sociedade, a partir da
identificação das possíveis marcas legadas pela Maçonaria.
Ao longo do estudo, busquei analisar os diálogos entre o Grande Oriente do
Brasil, principal potência maçônica do país, as Lojas Maçônicas e o Estado
brasileiro, a partir de sua produção documental epistolar, voltada para o incentivo,
financiamento e a construção de escolas em todos os estados do Brasil. Ao mesmo
tempo, também investiguei as relações, articulações, nexos e conexões entre o
pensamento ilustrado mundial e a maçonaria, tendo como cenário o processo
educacional no país.
Nessa elaboração da escrita, como assinala Roland Barthes, em seu livro O
Prazer do Texto (1973), propõe-se a “Idéia de um livro no qual estaria entrançada,
tecida, da maneira mais pessoal, a relação de todas as fruições: as da “vida” e as do
texto, no qual uma mesma anamnese captaria a leitura e a aventura.” (BARTHES,
1973, p. 176).
Neste sentido, a construção do conhecimento se dá numa relação de tensão
entre sujeito e texto, ação e pensamento; estabelecendo um conflito permanente,
mobilizador e ativador da teoria, assim como também uma relação amorosa com
aquilo que é pesquisado:
17
Se leio com prazer esta frase, esta história ou esta palavra, é porque foram escritas
no prazer (este prazer não está em contradição com as queixas do escritor). Mas e o
contrário? Escrever no prazer me assegura (a mim, escritor) o prazer de meu leitor?
De modo algum. Esse leitor, é mister que eu o procure (que eu o “drague”), sem
saber onde ele está. Um espaço de fruição fica então criado. Não é a “pessoa” do
outro que me é necessária, é o espaço: a possibilidade de uma dialética do desejo,
de uma imprevisão do desfrute: que os dados não estejam lançados, que haja um
jogo. (BARTHES, 1973, p. 8).
(...) Se aceito julgar um texto segundo o prazer, não posso ser levado a dizer: este é
bom, aquele é mau. Não há quadro de honra, não há crítica, pois esta implica
sempre um objetivo tático, um uso social e muitas vezes uma cobertura imaginária.
Não posso dosar, imaginar que o texto seja perfectível, que está pronto a entrar num
jogo de predicados normativos: é demasiado isto, não é bastante aquilo; o texto (o
mesmo sucede com a voz que canta) só pode me arrancar este juízo, de modo
algum adjetivo: é isso! E mais ainda: é isso para mim! (BARTHES, 1973, p.20-21).
As luzes, que pensavam que Gutenberg tinha propiciado aos homens uma
promessa universal, cultivavam um modo de utopia. Elas imaginavam poder, a partir
das práticas privadas de cada um, construir um espaço de intercâmbio crítico das
ideias e opiniões. O sonho de Kant era que cada um fosse ao mesmo tempo leitor e
autor, que emitisse juízos sobre as instituições de seu tempo, quaisquer que elas
fossem, e que, ao mesmo tempo, pudesse refletir sobre o juízo emitido pelos outros.
Aquilo que outrora só era permitido pela comunicação manuscrita ou a circulação
dos impressos encontra hoje um suporte poderoso com o texto eletrônico.
(CHARTIER, 1998).
1984). O que se observa também nos estudos de Marco Morel (1995), Eliane
Colussi (1998), Frederico Guilherme Costa (1999), Alexandre Mansur Barata (2002)
e Célia Maria Marinho de Azevedo (2010), entre outros. O aspecto novo que
pretendemos aprofundar é o desvelamento deste conceito no campo educacional,
entendendo-o doravante, menos como ideologia, e mais como estratégia maçônica.
Sob este aspecto, importa esclarecer que os espaços de interlocução criados
pela maçonaria nos países onde se estabeleceu, proporcionaram a existência de
microclimas (SIRINELLI, 1986) favorecedores, dentro da rede de sociabilidade
maçônica, do florescimento de discussões livres da repressão monárquica. Esta
prática continua a ser desenvolvida mesmo posteriormente, ao longo dos diversos
governos republicanos.
Desta forma, entendemos que a partir destes microambientes, e apoiados
pelo ideário de fidelidade e mutualismo entre seus pares, foi possível à ordem
maçônica traçar seus projetos e diretrizes institucionais no campo da educação. Tais
estratégias buscavam, assim, ocupar um possível espaço deixado vago pela Igreja
nesta área, tradicionalmente voltada, desde o período colonial, preponderantemente
para a educação das elites.
Portanto, nosso esforço metodológico concentra-se na busca pelo diálogo
entre as fontes manuscritas, discursos e narrativas, promovendo articulações entre a
teoria e a empiria no processo de construção do objeto do conhecimento. Nesse
sentido, a pesquisa de caráter histórico, pretende recorrer menos ao que dizem os
comentadores de fora da maçonaria, mas, preponderantemente, aos próprios
personagens em ação. Da macro-história social (HOBSBAWN, 2012) desenvolvida
no primeiro capítulo, à micro-história (LEVÍ, 1992), destacando a compreensão dos
aspectos específicos deste núcleo de representações, a partir deste lócus,
desenvolvemos uma análise microscópica dos procedimentos utilizados pela
comunidade maçônica, no tocante a atividades desenvolvidas na área da educação.
Por este prisma, Veyne nos conduz ao que considera um problema central da
prática da pesquisa histórica: a determinação de constantes, acima das
modificações. A observação de uma constante histórica faz-nos sair de nós mesmos
e obriga-nos a explicitar as diferenças que nos separam dela, gerando problemas
que não pensamos inicialmente formular. Novas questões tornam-se exploráveis,
pondo em xeque as questões tradicionais de uma historiografia consensual.
2
O inventário das diferenças. São Paulo, Brasiliense, 1983, p.07-08.
21
3
O Iluminismo foi um fenômeno intelectual que teve lugar na Europa em meados do século XVIII. Tinha por
principal baliza a referência da crítica; compreendendo o mesmo conceito de crítica como o reconhecimento das
possibilidades, mas também dos limites da capacidade humana de conhecer. Mais do que isso, os iluministas
compreendiam que a instrução conduziria não apenas a um acréscimo de conhecimento no sujeito, mas também
a um aprimoramento do indivíduo que se instrui. Movimento crítico do Absolutismo; crítico da sociedade
estamental; dos consequentes privilégios da aristocracia e do clero; crítico, enfim, das instituições de uma ordem
política considerada arcaica. Propunha-se refundar a nacionalidade; e, para tanto, havia de ser criado um novo
pacto civil. Apostando no avanço do espírito humano e do conhecimento, no progresso dos povos e na
caminhada do gênero humano rumo a um indefectível percurso de aprimoramento – a que chamava
perfectibilidade –, o Iluminismo foi também um movimento de fé: fé na razão, no futuro, na flecha de um tempo,
no comércio entre os homens e, finalmente, fé na educação. (BOTO, 2010, p. 282.)
22
4
Este conceito é trabalhado no campo da historiografia nacional por MOREL (2008).
23
5
Expressão que os maçons utilizam para denominar os relatórios de suas reuniões.
24
Na cena do texto não há ribalta: não existe por trás do texto ninguém ativo (o
escritor) e diante dele ninguém passivo (o leitor); não há um sujeito e um objeto.
O texto prescreve as atitudes gramaticais: é o olho indiferenciado de que fala um
autor excessivo (Angelus Silesius): “O olho por onde eu vejo Deus é o mesmo olho
por onde ele me vê” (BARTHES, 1973, p.23-24).
25
“”Senhor”, teria dito a Napoleão o grande matemático Laplace, quando lhe foi
perguntado em que parte de sua mecânica celeste se encaixava Deus, “não tenho
necessidade de tal hipótese”. O ateísmo declarado ainda era relativamente raro,
mas entre os eruditos, escritores e cavalheiros que ditavam as modas intelectuais do
final do século XVIII, o cristianismo franco era ainda mais raro. Se havia uma religião
florescente entre a elite do final do século XVIII, esta era a maçonaria racionalista,
iluminista e anticlerical”. (HOBSBAWN, 2012, p.347).
6
Abordagem defendida pelo historiador Marco Morel em sua obra O poder da maçonaria. (MOREL, SOUZA,
2008).
7
COLUSSI, 2002, p.15-25.
26
8
Sobre a chegada das idéias liberais e iluministas no Brasil através de estudantes de universidades européias
que lá se tornam maçons e fazem penetrar tais ideários revolucionários na colônia brasileira, ver AZEVEDO,
Célia Maria Marinho de. Maçonaria, anti-racismo e cidadania. Uma história de lutas e debates transnacionais.
São Paulo, Annablume, 2010, e BARATA, Alexandre Mansur. Maçonaria, Sociabilidade Ilustrada e
Independência (Brasil, 1790-1822), Dissertação de Doutorado, Unicamp, Campinas, 2002, dentre outros.
27
9
O campo acadêmico de pesquisas sobre a maçonaria atribui como um de seus maiores contributos históricos o
de esta instituição formar espaços de sociabilidade nos séculos XVII, XVIII e XIX. Espaços esses que, segundo
Agullhon (1984) favoreceram a emergência de um novo comportamento capaz de amalgamar diferentes
camadas sociais, que, ali, puderam expressar sua insatisfação contra o regime monárquico absolutista.
Pesquisadores brasileiros também se associam a esta idéia e corroboram as ligações históricas entre o
surgimento dos espaços de sociabilidade maçônica e a emergência das revoltas burguesas. O historiador
maçônico William Almeida Carvalho nos diz, com base nas idéias de Kosseleck (1999) e Habermas (1984): “Pelo
segredo, as lojas maçônicas representavam uma nova forma de poder burguês no qual a própria burguesia
começou a corroer o Estado Absolutista por dentro. (...) Kosseleck e Habermas usam a construção no século
XVIII de um novo espaço público como um verdadeiro prisma para lançar luz sobre a nova sociabilidade. Os
maçonólogos universitários utilizam essa plataforma conceitual para realçar o papel que a maçonaria
desempenhou na construção dessa mesma sociabilidade (...) No Brasil, esse conceito buscará orientar as
pesquisas de nossos historiadores, agora no início do século XIX, de como essa nova forma de sociabilidade
concorreu para a independência do país, as novas pautas políticas, o constitucionalismo no primeiro e segundo
império, a luta contra o monopólio eclesiástico dos cemitérios, a filantropia, a nova educação mais laica, etc.”
(CARVALHO, 2010).
10
Segundo AMARAL, 1999: “Muitos maçonólogos consideram o antigo Egito o remoto berço da Maçonaria, de
onde ela teria se irradiado para o resto do mundo. Esses estudiosos, como afirma Tambara (1995), costumam
dividir a história da maçonaria em três períodos distintos: Maçonaria tradicional, Maçonaria operativa e
Maçonaria especulativa. A Maçonaria tradicional tem suas raízes na Antiguidade e sobre ela quase nada pode
28
O novo mundo que surge na Inglaterra, é visto, tanto por Pinsky quanto por
Mondaini, pelo prisma da leitura marxista da acumulação primitiva do capital, valores
esses concentrados nas mãos de uma classe social capaz de operacionalizar a
transformação deste capital em instrumentos concretos de produção: a burguesia.
Uma segunda causa destas profundas transformações que resultariam na
Revolução que observamos, é a liberação da mão de obra responsável pela
formação do proletariado fabril, liberado pela mudança da agricultura de cereais para
uma ampliação das fazendas de criação de ovelhas. Nas incipientes manufaturas,
no entanto, esta liberação caminhou com maior lentidão por conta da incapacidade
das corporações de ofício em acompanharem o desenvolvimento da indústria
doméstica rural.
Por fim, não se pode esquecer que no século XVIII ocorre uma série de
progressos tecnológicos que proporcionarão uma nova e muito diferente divisão
social do trabalho. A era das máquinas havia começado.
A revolução que significou a transição do capital comercial ao capital
industrial, tem na agricultura, no desenvolvimento dos transportes e na
superprodução, suas principais mudanças estruturais.
Politicamente, a hegemonia do Estado monárquico absolutista, baseado na
figura do príncipe centralizador, ungido pelos direitos divinos de sucessão hereditária
e vitalícia dá lugar a um momentum em que se desenvolve uma consciência
histórica das desigualdades. Morre o súdito, e, a partir daí surge o cidadão. Neste
preciso momento, a revolução produz uma importante transição de uma Era dos
Deveres para uma Era dos Direitos. Entre 1642 e 1689, gesta-se no seio da
revolução inglesa o primeiro país capitalista do mundo.
Não por acaso, a Maçonaria moderna, dita Especulativa, surge exatamente
na Inglaterra deste período.
A chamada Maçonaria especulativa emerge na passagem do século XVII para
o XVIII, conforme se pode atestar através da análise de antigos documentos
narrando os usos e costumes das corporações de ofício das Lojas operativas
medievais. Esta característica especulativa encontra a sua origem "operativa" na
Grã-Bretanha, especialmente na Escócia, onde, em sua capital, Edimburgo, se
30
14
NÉGRIER, Patrick.Les Symboles maçonniques d'après leurs sources suivi de La Métaphysique de la Génèse
et du Temple de Salomon. Paris, Ed. Télètes, 1990.
15
Os Arquivos, ou Manuscritos de Edimburgo são os mais antigos catecismos maçônicos conhecidos. Estes
textos, que serviram de modelo para a Ordem na atualidade, referem-se a dois temas principais: o simbolismo do
Templo de Salomão e o sigilo, traduzido no uso das palavras e senhas de passe nos graus do aprendizado
maçônico.
16
CARR, Harry. Textes fondateurs de la Tradition maçonnique 1390-1760. Introduction à la pensée de la franc-
maçonnerie primitive. París, Bernard Grasset, 1995
17
STEVENSON, David. As Origens da Maçonaria. O século da Escócia (1590-1710). SP, Madras, 2005.
18
No século XVII, a Inglaterra era um reino em franco desenvolvimento. Durante os governos de Henrique VIII e
Elizabeth I, a nação fora unificada e pacificada. Com a instituição da Igreja Anglicana, a influência do catolicismo
romano foi sensivelmente diminuída. Paralelamente, a expansão naval começava a prenunciar o poderio inglês
em escala global. Como Elizabeth I, da dinastia Tudor, não gerou descendentes, ascendeu ao trono, em 1603,
James I, da dinastia escocesa dos Stuart, efetuando a unificação das coroas da Escócia, Inglaterra e Irlanda.
Pela Carta Magna de 1215, a monarquia exercia seu poder conjuntamente com a Câmara dos Comuns; o
Parlamento inglês, que reunia a burguesia urbana e os produtores rurais, setores sociais que ganhavam cada
vez mais relevo político e econômico. Ignorados pela realeza e insatisfeitos com os desmandos morais da corte,
estas camadas sociais aderiam cada vez mais ao puritanismo, uma ramificação do protestantismo calvinista.
19
William Schaw (ou Schawn), Mestre de Obra, Vigilante Geral de Pedreiros e Mestre do Trabalho do Rei,
nomeado em 1584 por James VI da Escócia, foi o maçom compilador do conjunto de regras que recebeu seu
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nome, os “Estatutos Schaw”, de 1598. Neles, figura pela primeira vez o termo “Cowan” (Profano). Estes estatutos
eram códigos de conduta e regras para maçons operativos. A palavra Profano originariamente é descrita no
Novo Dicionário Inglês como “aquele que constrói paredes de pedra seca”, e era aplicado como um insulto a
quem fazia o trabalho de um pedreiro, mas não tinha sido um aprendiz regular do ofício, ou por ser um pedreiro
trabalhador que não ingressara corretamente na fraternidade, não tendo sido devidamente admitido em uma loja.
Sobre isso, rezavam os Estatutos, conforme o Livro de Atas da Loja Maçônica Mary Chapel’s n.° 1, de
Edimburgo, Escócia: “que nenhum Mestre Maçom ou Companheiro receba um Profano para trabalhar em sua
sociedade ou companhia, nem enviar qualquer um dos seus empregados para trabalhar com Profanos sob pena
de punição de 20 libras.” (JENKINS, Trevor. The roots of Freemasonry. Pietre-Stones Reviw of Freemasonry).
20
ANATALINO, João. Conhecendo a Arte Real - a Maçonaria e Suas Influências Históricas e Filosóficas.
Madras. 2007.
32
21
JUILLET, Sabrina. Do berço escocês para a França. In: História Viva. Os Maçons, n.º24. SP, Duetto,
Out./2005.
22
Elias Ashmole (1617-1692) militar, político, astrólogo, antiquário, estudioso de música sacra, heráldica e
alquimista, foi um dos fundadores da Royal Society de Londres, instituição criada em 28 de novembro de 1660
por um grupo de doze estudiosos que incluía maçons como Benjamin Franklin, que ali publicou seus estudos
sobre eletricidade, em 1752. Com o ingresso de Ashmole na ordem, a maçonaria operativa inicia um processo de
transformação lento e gradual atraindo para seu seio não mais mestres do ofício da construção (maçons
operativos), mas também nobres, cientistas, pensadores e profissionais liberais.
23
FINDEL, Joseph Gabriel. História General de la Francmasonería. In: Diccionario Enciclopédico de la
Masonería, tomo IV, Editorial del Valle de Mexico, México, 1977.
24
MELLOR, Alec. Dicionário da Franco-Maçonaria e dos Franco-Maçons. São Paulo, Martins Fontes, 1989.
33
recorrente é substituído por uma linearidade temporal, que formará nas mentes
ocidentais um novo conceito: a ideia de Progresso. Assim, se substitui o “Verbo”
divinal pela figura antropocêntrica, uma importante característica da simbólica
maçônica, e do próprio homem como sujeito da História. Para o homem do mundo
moderno, e mais ainda para o pedreiro-livre, o titã Prometeu não mais necessita
dobrar-se aos deuses, em sua cíclica, permanente e imutável pena de ter as
entranhas devoradas pelo sombrio abutre, símbolo da danação eterna.
O termo Revolução, quando de sua criação, por Copérnico, no campo da
astronomia, exemplificava exatamente o oposto: o lento circuito do caminhar dos
astros, sempre exato. Aqui, e no campo da História e das ciências sociais, passa a
ter o sentido de acelerada e profunda mudança de um estado de coisas para outro,
totalmente diferente.
O historiador Paolo Rossi (1989) em “Os filósofos e as máquinas”, analisa a
percepção do homem do século XVII; esta revolucionária mudança de concepção de
pensamento que perpassava a alma humana naquele momento, e que marcaria as
mudanças paradigmáticas dos campos da religião, da ciência e, mais
especificamente, da Educação neste período:
“Se os romanos se ufanaram por ter conduzido suas armadas pelo oceano até a ilha
da Inglaterra, que glória se deverá àquele que ensinou aos portugueses como
navegar até um incógnito pólo, de um horizonte ao outro? (...) Muitos acentuam o
caráter milagroso das invenções de nosso tempo. Certamente ficaríamos incrédulos
se nos tivessem asseverado que através da Imprensa, seria possível escrever uma
infinidade de livros em pouco tempo e com uma velocidade mil vezes maior do que a
com que se fala, e transmitir nossas concepções aos nossos descendentes,
adquirindo desta forma uma espécie de imortalidade.” (ROSSI, 1989, p.80-81).
Para John Locke, que viveu num país em que o parlamento já exercia bastante
influência sobre o Estado, há três sortes de leis: A Lei divina, que regulamenta o que
é pecado e o que é dever; a Lei civil, que regulamenta o crime e a inocência, ou
seja, a lei do Estado, ligada à coerção cuja tarefa consiste em proteger o cidadão; e
a lei especificamente moral, que arbitra sobre o vício ou a virtude, que é revelada
pela opinião pública.
Uma vez que não é autorizada pelo Estado, a opinião pública só existia
secularmente nos clubes, cafés e salões, onde as pessoas transitavam e emitiam
seus juízos. Não legislavam diretamente, mas a força de seu julgamento autônomo
residia na censura, donde a necessidade de publicizá-la. É neste contexto que se
compreende o movimento intelectual de Locke que, ao interpretar a lei filosófica
25
LOCKE, John. Pensamientos sobre la educación. Madrid: Akal, 1986.
37
26
O pesquisador maçônico William Almeida de Carvalho assinala esta influência, associando as ideias de Locke
a outro importante personagem (Jean Teóphile Desaguliers) que, ao lado do pastor James Anderson, compilou e
38
organizou o pensamento operativo dos maçons, aliando a estes a filosofia e a religiosidade em voga no século
XVIII. De Locke, a nascente maçonaria especulativa absorverá o fulcral conceito de Tolerância, dentre outros
preciosos contributos, que conformam ainda hoje, o ideário da Ordem, bem como sua pedagogia maçônica. Ver
sobre isso: CARVALHO, William Almeida de. Maçonaria, Tráfico de Escravos e o Banco do Brasil São Paulo,
Madras, 2010, p. 117
27
“Ninguém pode impor-se a si mesmo ou aos outros, quer como obediente súdito de seu príncipe quer como
sincero venerador de Deus: considero isso necessário, sobretudo para distinguir as funções do governo civil e da
religião, e para demarcar as verdadeiras fronteiras entre a Igreja e a comunidade. Se isso não for feito, não se
pode pôr um fim às controvérsias entre os que realmente tem, ou pretendem ter, um profundo interesse pela
salvação das almas de um lado e, por outro, pela segurança da comunidade (...) Mostraremos que não cabe ao
magistrado civil o cuidado das almas, nem tampouco a quaisquer outros homens. Isso não lhe foi outorgado por
Deus, porque não parece que Deus jamais tenha delegado autoridade a um homem sobre outro para induzir
outros homens a aceitar sua religião. Nem tal poder deve ser revestido no magistrado pelos homens, porque até
agora nenhum homem menosprezou o zelo de sua salvação eterna a fim de abraçar em seu coração um culto ou
fé prescritos por outrem, príncipe ou súdito”. (LOCKE, John. Carta acerca da tolerância. In: Os Pensadores, Vol.
John Locke, 2ª ed., 1978).
39
“No gesto de construir uma nova capital em mármore branco de padrão clássico
estava instituída a capacidade extraordinária da elite dos EUA para resgatar traços
da memória histórica e política e constituir um simbolismo à exposição nacional”
(PINSKY, 2003, p. 136).
Esta elite, em considerável parte formada por maçons nos séculos XVIII e
XIX, conta hoje, com o maior contingente de membros da maçonaria no mundo.
Cerca de um milhão e trezentos mil maçons regulares nos Estados Unidos são
Iniciados da Ordem31.
31
Existem aproximadamente 3 milhões, de maçons espalhados pelo mundo. O Continente Americano
atualmente concentra 71% das Obediências maçônicas reconhecidas internacionalmente, 56% das Lojas
Maçônicas do mundo, e 78% dos maçons regulares. Em números absolutos: 1.339.051 nos Estados Unidos;
231.074 no Reino Unido e 190.108 no Brasil, que ocupa a terceira posição. No caso da França (43.492), que
aparece em 5º lugar, atrás do Canadá (86.979), seu número relativamente baixo pode se dever ao fato de que
esta é uma compilação de dados apenas das Obediências em âmbito internacional que são reconhecidas por
Grandes Lojas norte-americanas. Considerando a importância da maçonaria mista e feminina na França,
provavelmente o número, incluindo as mulheres, seja maior. No Brasil, os maçons regulares estão distribuídos
em 4.700 Lojas sendo 27 Grandes Lojas (CMSB), 18 Grandes Orientes (COMAB) e um número não determinado
federadas ao Grande Oriente do Brasil (GOB). Fonte: LIST OF LODGES MASONIC. Pantagraph Bloomington,
IL., Printing and Stationery Company, 2012.
41
32
“Pode-se observar de passagem, que a sociedade secreta ritualizada e hierárquica, como a maçonaria, atraía
muito fortemente os militares, por razões compreensíveis”. ( HOBSBAWN, 2012, p.193).
33
Os mais antigos registros maçônicos das 13 Colônias datam de 1730, e informam que um certo Daniel Coxe
fora nomeado Grão-Mestre de Nova York. Em 1733, Henry Price foi nomeado Grão-Mestre da Nova Inglaterra, e
patenteou lojas em Boston e em outras partes da colônia. A mais antiga Loja conhecida é a St. John, na
Filadélfia, patenteada em 1731. Nela, filiou-se o maçom Benjamin Franklin. (JOHNSTONE, 2010, p.113-114).
42
34
MORETTI, Fernando. Maçonaria nas Américas. São Paulo, Escala, 2010, p. 26.
35
MORETTI, op.cit. p. 27.
43
significariam que os britânicos viriam por mar; uma lanterna iluminando a escuridão;
viriam por terra. A lanterna sinalizadora de Paul Revere até hoje é reverenciada nas
escolas públicas americanas na forma da “cavalgada noturna de Paul Revere”, um
ícone da Revolução bem popular no seio da sociedade estadunidense.
No entanto, a revolução americana não se iniciou como um movimento
unicamente maçônico. Na época, em fins do século XVIII, o peso dos puritanos nas
colônias inglesas da América era enorme. Para Vidal (2006), dos quase três milhões
de americanos, 900.000 eram puritanos de origem escocesa, 600.000, puritanos
ingleses e outros 500.000, calvinistas de origem holandesa, alemã ou francesa.
Dentre os dois grupos iniciais, de escoceses e ingleses, como vimos na seção
anterior, provavelmente muitos maçons teriam aportado às terras do novo mundo.
Por outro lado, os anglicanos que viviam nas colônias eram em boa parte
simpáticos ao calvinismo. Assim, pelo menos dois terços dos habitantes do futuro
Estados Unidos eram calvinistas, e o terço restante, em sua maioria, identificava-se
com grupos de dissidentes, como os quakers ou os batistas. Já a presença dos
católicos era praticamente testemunhal, enquanto os metodistas ainda não tinham
marcado presença com a força que teriam nos Estados Unidos36.
O panorama denominacional de cunho protestante e puritano era tão claro
que a guerra pela independência americana foi chamada na Inglaterra de “rebelião
presbiteriana”, e o próprio rei Jorge IV afirmou: “Atribuo toda a culpa destes
extraordinários acontecimentos aos presbiterianos”. O primeiro ministro inglês
Horace Walpole resumiu os acontecimentos ante o parlamento afirmando que “a
prima América foi embora com um pretendente presbiteriano”37.
Exemplo significativo: quando o britânico Cornwallis foi obrigado a retirar-se,
para logo em seguida capitular em Yorktown, todos os coronéis do exército
americano eram pastores presbiterianos e pouco mais da metade dos soldados e
oficiais restantes do exército pertenciam a essa corrente religiosa. O que não
significa que não havia maçons entre eles. Em cargos mais elevados da oficialidade,
a presença maçônica nos postos de liderança da revolução era bastante expressiva.
Segundo Madeleine Du Chatenet (2009), dos 72 generais do exército americano,
36
VIDAL, César. Os maçons. A sociedade mais influente da História. RJ, Relume Dumará, 2006, p. 68.
37
VIDAL, 2006, op.cit. p.68.
44
41
Sobre a construção do mito cívico do Tiradentes, ver, entre outros: MILLIET, 2006; FARACO, 1980;
GRIECCO, 1990; BUENO, 2010; CARVALHO, 1990. Há uma hipótese, ainda não comprovada, de que
Tiradentes fora iniciado na Ordem pelo, esse sim, comprovado, maçom José Álvares Maciel; que sobreviveu ao
enforcamento/esquartejamento com o auxílio dos maçons e exilou-se na França, onde participou dos eventos
revolucionários.
47
42
VIDAL, César. Os maçons. A sociedade mais influente da História. RJ, Relume Dumará, 2006.
43
CASTELLANI, José. A ação secreta da maçonaria na política mundial. SP, Landmark, 2007, 2ª ed.
44
CASTELLANI, op.cit. p.40.
45
Thomas Paine (1737-1809); nascido na Inglaterra, na juventude foi corsário, professor e comerciante; migrou
para a América aos 36 anos, adotando-a de coração a partir de então. Assim como Thomas Jefferson, não há
evidência documental de que Paine tenha sido iniciado maçom, o que não significa que este pensador não possa
ser considerado um grande intérprete do ideário maçônico da época, tanto na Revolução Americana, com seu
Common Sense (1776), quanto na posterior Revolução Francesa, da qual também participou ativamente,
deixando-nos Os direitos do Homem (1791) e A Idade da Razão (1793-94), onde explica o conceito do Deísmo,
um dos fundamentos basilares do pensamento maçônico. Integrante da Royal Society, ali conheceu o maçom
Benjamin Franklin, que patrocinou sua vinda para a América e lhe forneceu carta de recomendação. Ainda a
título de ilustração de seu profundo envolvimento com a ordem maçônica, basta citar que Paine foi o autor
(póstumo) de uma obra sobre a maçonaria que, até hoje, é referencial para os maçons: An Essay on the Origin of
Free Masonry, New York, 1810.
48
Franklin e Randolph. Apenas Jefferson não concordava, e foi ele quem, finalmente
cedeu à posição do grupo dos maçons. Ao final deste processo, a nascente
República, ao emergir com a sua Constituição, estava de acordo com a planejada
imagem ideal; aquela que refletia os ideais da Maçonaria.
Maçons eméritos como Benjamin Franklin tiveram grande importância na
construção da relevância da cultura e da educação, no imaginário dos cidadãos
estadunidenses, por seus exemplos de vidas dedicadas ao saber e ao livre
pensamento, nos primórdios da estruturação do sistema escolar dos Estados
Unidos, ainda no século XVIII, durante e logo após os eventos da Revolução
Americana. Porém, para esta pesquisa, além de Franklin, que não pode deixar de
ser mencionado, será de maior relevância e de melhor entendimento a análise
biográfica complementar de outro personagem ilustre daquele país. Ambos, na
aurora do século XIX, estruturaram as bases do sistema público de ensino,
aproximando-o da conformação atual a partir de suas convicções maçônicas
exaradas de seu convívio no seio das fraternidades dos pedreiros-livres.
Tratam-se das importantes contribuições dos maçons Benjamin Franklin e
Horace Mann. Para ambos, a Educação Pública representava o motor de uma
sociedade mais justa.
De acordo com Rone Amorim, em seu Prefácio à edição brasileira da
Autobiografia de Benjamin Franklin (2010)47, este nasceu em Boston, em 17 de
janeiro de 1706, filho de um merceeiro Josiah Franklin, que teve dezessete filhos,
sendo ele o décimo quinto e o caçula entre os homens. Como a maioria dos colonos,
os Franklin viviam de forma modesta. O jovem Benjamin cresceu envolvido em
negócios de seu pai, ingressando na escola aos oito anos de idade. Aos dez já se
iniciava no labor, trabalhando com o pai em um negócio de confecção de velas de
sebo, tarefa que detestava, mas deveria cumprir, visto a necessidade de fazer renda
para sustentar as quase vinte bocas que formavam a família. Aos treze, começou a
trabalhar com um de seus irmãos, James, em uma pequena tipografia, operando
uma máquina de impressão recém-chegada da Inglaterra. Jovem ainda, portanto,
Benjamin irá aprender este ofício extremamente relevante para sua futura carreira,
no campo da propagação das ideias e da transmissão de valores e conceitos
educacionais.
47
FRANKLIN, Benjamin. Autobiografia. São Paulo, Martin Claret, 2ª Edição, 2010.
50
Após alguns desentendimentos com seu irmão James, Benjamin deixa Boston
e vai para a Filadélfia em outubro de 1723. Aos dezoito anos viaja para Londres, e,
empregado em duas tipografias, passa a assinar seu próprio nome em seus artigos,
ganhando a partir daí reconhecimento na literatura e no mundo editorial.
Em outubro de 1726, volta à Filadélfia, onde retoma suas atividades literárias,
organizando um grupo de debates, ao qual dá o nome de "Juntos". Em 1729,
adquire o jornal "Gazeta da Pensilvânia", tornando-o com sua espirituosidade e
saber jocoso, uma publicação de muito sucesso. Casa-se em 1730.
Uma das maiores contribuições que Franklin dá à cultura e à Educação dos
Estados Unidos se dá quando ele funda a primeira biblioteca pública da América, na
Filadélfia em 1731. A partir da disponibilização de seu acervo pessoal de livros,
conjugado a outros acervos de amigos consorciados neste projeto, todos eles
maçons como o próprio Franklin, já iniciado desde fevereiro do ano anterior pela
Loja maçônica Saint John, na própria Filadélfia. (MORETTI, 2010, p. 28).
Tal iniciativa, tomada por Franklin e com o apoio incondicional dos seus novos
irmãos da maçonaria, denota a importância desta instituição e de seu modo de
pensar e agir no desenvolvimento da educação naquele país. Deste
empreendimento inicial, a rede de bibliotecas nos Estados Unidos nunca mais parou
de crescer. E Franklin já tinha à época, a consciência de que esta iniciativa seria de
grande relevância para a construção do espírito independente do novo país e de
seus cidadãos.
A partir de 1732, Franklin dá outra grande contribuição à formação
educacional do cidadão estadunidense, sob o pseudônimo de “Richard Saunders”,
iniciando a publicação do "Almanaque do pobre Ricardo". O periódico, de alta
popularidade, ganha rápido apreço social pelo seu conteúdo, baseado no
pensamento iluminista e racionalista, marcando de forma significativa a identidade
americana.
Provavelmente pelo seu sucesso e popularidade, bem como sua afinidade
com o pensamento libertário e pedagógico maçônico, Benjamin Franklin aos vinte e
oito anos de idade, assume o cargo mais elevado da maçonaria, tornando-se Grão-
Mestre em 24 de junho de 1734.
Extremamente ativo e irrequieto, colaborou ainda para a criação da primeira
companhia de bombeiros, introduziu novos métodos de melhoria da pavimentação
52
pratica uma pedagogia voltada para a liberdade absoluta de consciência desde seus
preceitos básicos e fundamentais, o que se observa é que em épocas de conflitos
políticos e revoluções armadas, seja perseguida pelos governos que se mantêm
pela força no poder.
Há casos documentados, mesmo na contemporaneidade, de maçons
brasileiros que, só ao falecerem, sendo a família contatada pelos seus “irmãos”, é
que vêm a tomar conhecimento de que seu marido, pai e avô pertencera por boa
parte de sua vida à Ordem.
Desta forma, se compreende a omissão histórica referente às situações de
Franklin e de Mann, visto ambos se inserirem em um contexto social onde a
maçonaria era vista com forte objeção e desconfiança pelos governos instituídos.
Tendo em vista também a aberta beligerância com a Igreja, que será objeto de
maiores considerações no Capítulo II, onde abordamos a situação da Ordem no
Brasil.
Horace Mann foi um personagem de fundamental importância para a
configuração do ensino público estadunidense, mesmo sendo considera ambígua
sua condição de maçom, não se pode negar um perfeito alinhamento de sua
contribuição ao ideário maçônico. Através dos séculos XVII, XVIII e XIX, destacamos
a imbricação do pensamento de Horace Mann e a influência de sua pedagogia de
caráter maçônico oriunda dos Estados Unidos.
No que tange ao campo educacional brasileiro do século XIX, Mesquida
(1994) assinala a chegada das chamadas escolas adventistas, partícipes do
movimento maior de educação protestante, pela via principal do interior paulista.
Junto com a liberalização e multiplicação das denominações religiosas após a
separação oficial das relações entre o Estado e a Igreja, que incentiva a vinda de
expressivos contingentes de cidadãos estadunidenses, em fuga dos acontecimentos
relativos à Guerra de Secessão, entre 1861 e 186349.
Os adventistas, assim como todos os protestantes em suas diversas
denominações, no Brasil pautavam suas ações educacionais e sua estruturação
escolar pelos modelares “Relatórios” elaborados anualmente por Mann, a partir de
sua passagem pela secretaria de educação de Massachussets, em 1837. Assim,
nos narram Corrêa e Miguel (s/d):
49
MESQUIDA, Peri. Hegemonia norte-americana e educação protestante no Brasil: um estudo de caso. Juiz de
Fora, EDUFJF, 1994.
56
Em 1843, Mann dedicou cinco meses ao estudo das escolas de vários países
europeus, e suas conclusões e observações foram publicadas no 7º relatório anual,
que acabou por se tornar um clássico educacional, cujos apontamentos podem ser
assim resumidos: a educação deve ser popular e universal; deve ser livre de
discriminação étnica, social e religiosa; deve ser ministrada por professores
capacitados e dotados de conhecimentos pedagógicos; cada escola, e também a
comunidade, devem ter sua própria biblioteca, os melhores prédios e equipamentos;
métodos aperfeiçoados; insistia na pontualidade e na regularidade da freqüência
que deve ser obrigatória; reivindicava remuneração mais alta para os professores;
leis rigorosas contra o trabalho infantil; dez meses letivos; mais escolas secundárias
estaduais; o abandono do castigo corporal e providências para a educação de
crianças desamparadas e com defeitos físicos.
Em 1838, Mann fundou o Jornal da Escola Comum e, por sua influência foram
fundadas 3 escolas normais para formação de professores. Ele acreditava que a
grandeza da escola comum estava em seu poder de livrar as crianças do crime, o
que, para ele, era melhor do que tentar corrigi-las depois. Com essa crença elaborou
sua grande tese que divulgou por todos os meios de expressão: “A Escola Comum é
a maior descoberta feita pelo homem.”.
Após deixar a Secretaria da Educação para assumir uma cadeira no Congresso
Nacional, Mann se integrou à campanha abolicionista e, quando perdeu a eleição
para Governador, assumiu a direção do Colégio Antioch, Ohio, onde permaneceu
por 6 anos até sua morte (CORRÊA, MIGUEL, s/d).
50
Para entender a importância de Mann e o seu ideário relacionado à construção da escola pública
estadunidense, recomendamos a leitura de MANN, Horace. A educação dos homens livres. São Paulo, Ibrasa,
1963.
58
Paralelamente aos grandes teóricos liberais do século XIX, na Europa e nos EUA,
difundia-se uma crença do senso comum no valor do indivíduo. A pobreza não era
vista como uma chance de caridade ou um dado natural e consagrado, mas como
fruto da preguiça e falta de esforço. Sair dela era um ato de vontade, jamais uma
imposição do sistema em si (PINSKY, 2003, p.149).
51
Andrew Jackson governou os Estados Unidos de 1828 a 1837. Foi iniciado maçom na Loja St. Tammany, nº 1,
em Nashville, Tennesee, em 1800. (VIDAL, 2006, p.68).
61
52
Irving Berlin, compositor, além de God bless América, de outros importantes sucessos musicais como “White
Christmas”, recebeu seus três graus da maçonaria na Munn Lodge, em Nova York em 12 de maio, 26 de maio e
03 de junho de 1910, tornando-se membro vitalício da Loja em 12 de dezembro de 1935. Berlin recebeu o Grau
32 do Rito escocês em 23 de dezembro de 1910. Também foi iniciado na Shriner em Meca, Santuário do
Templo, em 30 de janeiro de 1911, tornando-se um membro vitalício do Santuário, em dezembro de 1936. Fonte:
http://www.masonicnetwork.org/blog/2009/brother-irving-berlin/ Acessado em: 13 de março de 2011.
62
maçônicos às vistas de todos que ali vão. Um dos maiores responsáveis por estas
mensagens simbólicas foi o artista Allyn Cox (1896-1982).
Considerado um dos muralistas mais talentosos da América, Cox trabalhou
por aproximadamente 30 anos na composição das imagens que ornamentam o
edifício do Capitólio. Ali pintou 26 murais, alguns deles fazendo referências à
simbologia maçônica. Há murais de sua autoria também no Senado, e o friso sobre
a cúpula do Capitólio, que concluiu em 1953, é todo de sua autoria. O mural “George
Washington colocando a Pedra Angular do Capitólio Nacional”, mostra o presidente
Washington recebendo uma trolha (colher de pedreiro) de prata, com a qual
cimentou a Pedra Fundamental do Capitólio dos Estados Unidos, durante a
cerimônia maçônica ali realizada, em 1793, sob os auspícios da Grande Loja de
Maryland. A referência é clara: a maçonaria ocupa lugar especial no momento
fundador da nação. A Ordem gesta, dá a luz e embala o futuro Estado.
Mural pintado por Allyn Cox, Alexandria, VA, 1952. Direitos Autorais, George Washington Masonic
National Memorial Association.
64
cantada pelo próprio Rouget de Lisle, acompanhado pela Sra. Dietrich, esposa do
anfitrião do encontro. Ambos, o prefeito e o compositor, eram maçons. Até a senhora
Dietrich, nos informam as fontes, fora iniciada na maçonaria feminina, organização
sempre forte na França, desde os primórdios do surgimento da ordem dos pedreiros-
livres naquele país55.
O irmão Rouget de Lisle atingiu o grau 31 da maçonaria e, dentre outras
atividades maçônicas, foi instalador da Loja “Igualdade”, no Porto, em Portugal,
tendo pertencido à Loja “União”, também na cidade do Porto. Tais imbricações serão
de importante relevo para o desenvolvimento desta tese no Capítulo II, ao
analisarmos a chegada e forma de atuação da maçonaria no Brasil, visto que esta,
originariamente, aqui aportará através de Portugal.
Rouget de Lisle morreu em 1836, em Choisy-le-Roy, na França. À frente de
seu funeral estavam Jacques-Philippe Voïard e Geral Belin, ambos importantes
maçons franceses, que assinaram seu atestado de óbito. Em sua cidade natal, Lons-
le-Saunier, uma estátua foi-lhe erigida. O autor da estátua não é outro senão
Frédéric Auguste Bartholdi, membro da Loja Alsace-Lorraine, que se tornaria famoso
anos depois pela autoria do projeto da estátua "A Liberdade iluminando o mundo",
oferecida pela França em 1886 como presente aos Estados Unidos da América, em
comemoração ao centenário de sua independência e, atualmente, conhecida como a
"Estátua da Liberdade"56, em Nova York.
55
Rouget de Lisle (Claude Joseph), 1760-1836. O famoso autor de La Marseillaise pertencia à loja Les Frères
Discrets, Oriente de Charleville. Vários membros de sua família pertenciam à Loja L’Intimité, Oriente
de Niort. Iniciado, passou ao posto de companheiro, alcançando em poucos meses o grau de Mestre, em 1782,
de acordo com os costumes da época. Rouget de Lisle era freqüentador assíduo do salão do prefeito de
Estrasburgo. É certo que todos eles pertenciam à Maçonaria, o que criou de imediato uma ligação especial entre
eles. (...) Não há dados para afirmar que Madame Dietrich pertencia à maçonaria feminina em 1792. Mas ela tem
ciência da filiação de seu marido. O que as fontes atestam, é que ela é um membro da maçonaria depois de
1800. Em 15 de setembro de 1805, a Loja de Paris, Francs-Chevaliers é transferida para Estrasburgo, com o fito
de criar e manter ali uma Loja de Adoção (loja maçônica formada por mulheres). Seu presidente, como Grão-
Mestre, é a Baronesa de Dietrich . Nesta oficina, ela tem a honra de receber a imperatriz Josefina, e iniciá-la na
presença de suas damas de honra. (LIGOU, Daniel. Dictionnarie de la Franc-Maçonnerie. Paris, Presses
universitaires de France, 1987).
56
Bartholdi incorporara símbolos da Maçonaria em seu projeto: a tocha, o livro em sua mão esquerda, e o
diadema de sete espigas em torno da cabeça, como também a tão evidente inspiração ligada à deusa Sophia,
que compõem o monumento como um todo. Não é de surpreender, visto ele ser maçom. Segundo os iluministas,
por meio desta doação, foi dada "sabedoria" de acordo e baseada nos ideais da Revolução Francesa. O
presente monumental foi, portanto, uma lembrança do apoio intelectual dado pelos americanos aos franceses na
sua revolução, em 1789.
Ainda sobre a Estátua, uma curiosidade pertinente a esta tese: Existem três réplicas da Liberdade no Brasil. A
Estátua da Liberdade que existe na Praça Miami, Bangu, Rio de Janeiro, foi feita pelo próprio Frédéric Auguste
Bartholdi em 1899, por encomenda do Barão do Rio Branco (maçom) para comemorar o 10º aniversário
da República do Brasil. Até 1940 a estátua era de propriedade da família Paranhos. Em 1940 ela foi passada
para o Estado da Guanabara. Em 20 de Janeiro de 1964, Carlos Lacerda, governador do Estado
66
da Guanabara colocou a estátua na Praça Miami. (FONTAINHA, Affonso. História dos Monumentos do Rio de
Janeiro. Estado da Guanabara. Vol.1, Rio de Janeiro, Ed. A.Fontainha, 1963)
57
Joseph Jérôme Le François de Lalande (Bourg-en-Bresse, 11 de julho de 1732-Paris, 4 de abril de 1807).
Foi um astrônomo francês. Consagrou-se no estudo dos planetas do sistema solar, publicando em 1759 uma
edição corrigida das tabelas de Edmond Halley (1656-1742), onde adiciona uma história do cometa de
Halley que foi observável aquele ano. Com a ajuda de Alexis Clairaut e de Nicole-Reine Lepaute, calcula a data
de regresso e os elementos orbitais deste astro. Em 1778 abandona temporariamente o estudo das estrelas para
dedicar-se à hidrologia, redigindo "Des Canaux de Navigation, et spécialement du Canal de Languedoc".
Produziu cerca de 250 artigos sobre astronomia, contribuindo enormemente para a divulgação e popularização
desta matéria. É o autor de uma crônica das ciências da sua época em dois volumes denominada "Bibliographie
astronomique" (1804). Adquiriu fama com as publicações que emitiu sobre o trânsito de Vênus de 1769. Uma
curiosidade: Lalande causou alvoroço público em 1773, quando discutiu a possibilidade de uma colisão entre a
Terra e um cometa. Seu trabalho sobre a perturbação dos cometas pelos planetas indicava que a órbita de um
cometa pode ser alterada o suficiente a ponto de tornar uma colisão com a terra possível. Ele percebeu que a
probabilidade de tal colisão era extremamente pequena, mas não conseguiu enfatizar suficientemente este
ponto. O resultado foi um pânico em Paris com base no boato de que Lalande havia previsto a iminente
destruição da Terra. Mesmo a publicação imediata de todo o trabalho não conseguiu tranqüilizar totalmente o
público da época. Ao lado de seus esforços incansáveis para melhorar tabelas astronômicas, a maior
contribuição de Lalande se deu como escritor de livros didáticos. O mais importante e conhecido foi seu Traité
d'astronomie, de 1764, com edições subsequentes em 1771 e 1792. Tornou-se um livro padrão e tinha vantagem
sobre outros textos por conter variadas informações práticas sobre instrumentos e métodos de cálculo. Até seu
falecimento, em 1807, Lalande permaneceu sendo uma figura importante no campo das ciências em geral e
especificamente da astronomia francesa.
67
acreditava que a promoção das artes liberais e das ciências deveria ser o objetivo
primordial da maçonaria.
Lalande era membro muito ativo da ordem maçônica e, além de fundador da
Loja Nove Irmãs, teve papel importante na história da fundação do Grande Oriente
de França, em 1771. Sua “Mémoire historique sur la Maçonnerie” (1777), bem como
o verbete "Franco-Macon", para o suplemento da Enciclopédia revelam suas
marcas. A Loja Nove Irmãs foi projetada para ser uma “loja enciclopédica”,
ambicionando reunir homens de saber e talento de diversas áreas do conhecimento
humano. Tal objetivo, originalmente concebido por Helvétius 58 em parceria com
Lalande, foi perseguido por este após a morte daquele, em 1771. Depois de alguma
dificuldade na obtenção de permissão da hierarquia maçônica, a Oficina dos
pedreiros-livres foi constituída em 1777. Deste modo, buscava filiar aqueles que
eram dotados de um talento específico nas artes ou nas ciências e deram prova
pública de seus conhecimentos. O quadro social desta loja, coroado pela iniciação
de Voltaire, em 1778, reflete o pensamento iluminista e maçônico de Lalande, que
buscava atrair para o centro de união maçônico os escritores mais ilustres,
cientistas, artistas e personalidades políticas da época.
De acordo com Amiable (1897)59:
A Loja Nove Irmãs, na sua base, deve promover as Artes e as Ciências. O objetivo
da Loja é a restauração delas ao seu lugar de dignidade. As Artes e as Ciências não
servem como fundação das grandes civilizações e nações? Trabalhar, em seguida,
com zelo para preservar e fazer avançar a Civilização e a nossa Fraternidade.
Lembrar-se, então, que a base sustenta o edifício. Os ornamentos não devem
mascarar a dignidade da Maçonaria.” (AMIABLE, 1897, apud GAGLIANONE, 2012,
p. 256 e 323).
58
Claude-Adrien Helvétius (1715-1771). Filho de um médico da corte de Luís XV. Estudou com os jesuítas no
colégio Louis-le-Grand. Aos 23 anos, obteve o cargo de caseiro geral, com uma boa renda que lhe permitiu levar
uma vida sem problemas, freqüentando os meios literários e artísticos. Casando-se, retirou-se para o campo,
onde se dedicou à literatura. Hesitou muito tempo antes de encontrar o gênero literário que lhe convinha, até
apresentar sua obra filosófica Do espírito. Devido, sobretudo ao seu anticlericalismo, o livro foi condenado por
uma carta apostólica do papa Clemente XIII, em 1759. Com isso, resolveu nada mais publicar. Influenciado pelas
idéias de John Locke e Condillac, Helvétius pretendeu ampliar o empirismo às questões morais e políticas.
Através da educação, os homens deveriam ser levados a fazer com que seus interesses individuais coincidissem
com os interesses da coletividade. Mas para isso era indispensável combater os grandes obstáculos constituídos
pelas superstições e preconceitos religiosos, fomentados pelo egoísmo da classe sacerdotal. Sua esposa, Anne-
Catherine de Ligniville, Madame Helvétius , manteve um salão literário que contava com a presença das
principais figuras do Iluminismo por mais de cinco décadas. (FERRATER MORA, José. Diccionário de Filosofia.
VOL.I. Buenos Aires, Editorial Sudamerica, 5ª edição, 1975, p.828).
68
daquele período se tornam mais compreensíveis. Seus embates com o clero, por
exemplo, delineiam-se como um posicionamento a favor da doutrina iluminista da
liberdade absoluta de pensamento, seja ela, social, política ou religiosa.
Os maçons da “Nove Irmãs” discordavam do domínio que as ordens católicas
exerciam na educação francesa, protestando que o Estado deveria financiar e
controlar o sistema de ensino do país. Defendiam ainda, que o modelo de escola
deveria ser o público, aberto a todos, custar pouco e enfatizar na sua grade
curricular as Ciências.
Conforme Gaglianone (2012, p.270), os maçons daquela oficina aprovaram
sugestão de Benjamin Franklin, para que a loja alocasse recursos para a criação e
manutenção de uma escola nos moldes por eles preconizada, visto que a Coroa
pouco ou nada fazia neste sentido. Desta forma, aprovada a proposta, na gestão de
Franklin como Venerável-Mestre daquela loja, ocorreu a fundação da Sociedade
Apolínea, em 17 de novembro de 1780. Posteriormente sendo denominada de Liceu,
e, mais tarde, recebendo o nome de Liceu de Paris60. Tal escola foi a origem do
desenvolvimento da educação pública na França, visando, como ditavam os
pressupostos daqueles pedreiros-livres, encorajar o progresso das várias ciências,
relacionadas às Artes e ao Comércio. O presidente e primeiro diretor das atividades
da instituição, destacado ainda em 1779 para esta função, foi o maçom Antoine
Court de Gébelin, à época, o secretário de ofício da loja maçônica.
Desta forma, aberta ao público em geral, a Sociedade Apolínea ofereceu
diversos cursos a baixo custo. Muitos irmãos da Nove Irmãs fizeram parte de seu
primeiro corpo docente. O próprio Gébelin lecionava Lingüística e Filosofia Antiga. O
ensino de Música Antiga era ministrado pelo maçom Rozier, e a cadeira de
Literatura Européia era dada pelo também maçom La Dixmerie. A instituição
enfatizava os cursos das chamadas artes liberais, e publicava um jornal cujo
conteúdo eram as palestras proferidas pelos membros da Nove Irmãs que
lecionavam na escola (Gaglianone, 2012, p.270).
A loja maçônica patrocinou ainda duas outras escolas de existência efêmera,
e que, ao agregarem-se, dariam origem posteriormente ao Liceu. Uma, inaugurada
em 1781, oferecia um programa que atuava nas áreas de Ciências Humanas; seus
60
Les origines maçonniques du Musee de Paris et du Lycee. La Révolution Française, 14 décembre, 1896. In:
AMIABLE, Louis. Une Loge maçonnique d’avant 1789: La Loge des Neuf Souers. Monografia, Arquivos do
Grande Oriente de França, 1897.
69
Afirmar que o movimento foi uma exclusiva obra maçônica é uma inverdade histórica
de que muitos autores maçônicos têm lançado mão; em contrapartida, outros
autores, principalmente os adversários da maçonaria, têm caído no extremo oposto,
negando-lhe qualquer participação na revolta. (CASTELLANI, 2007, p.25).
Para este autor, se não houve, de fato, uma conspiração revolucionária por
parte da maçonaria, deve-se por outro lado convir que ela funcionava como eficiente
veículo de debates, discussão e transmissão das novas ideias liberais; seja nos
salões literários, como os do casal Helvétius, seja diretamente dentro dos templos
dos pedreiros-livres.
Assim, através de Condorcet, pode-se vislumbrar uma importante contribuição
da maçonaria francesa para o mundo.
Ao mesmo tempo, importa aqui assinalar, Condorcet foi mais um maçom
condenado e aprisionado pelo pensamento que apregoava. Para Vovelle (1999),
61
FURET, François. Pensar a revolução francesa. Lisboa, Ed. 70, 1988.
62
HOBSBAWN, Eric. A era das revoluções (1789-1848). 19ª ed., RJ, Paz e terra, 2005.
73
Condorcet, foi um dos últimos filósofos iluministas, aderiu à Revolução sem ser
revolucionário, muito menos um político. Como acreditava na educação como força
motriz das transformações sociais, eleito deputado, ainda na Assembléia Nacional,
propôs um projeto de instrução pública e um outro de Constituição, este último
elaborado em parceria com Thomas Paine. Ambos foram rejeitados por influência de
Robespierre. Tal proposta fundava-se na sua obra Cinco memórias sobre a
instrução pública63, lançada em 1791 e na qual defendia que a desigualdade da
educação era uma das principais fontes da tirania, entendia a instrução como uma
obrigação social que o Estado devia assumir. A educação pública, universal, laica e
distanciada da Igreja, como defendia o autor ao longo da primeira das cinco partes
das “Cinco memórias”, toda ela dedicada à instrução enquanto bem e serviço
público.
Condorcet morreria no cárcere de Bourg-Clamart, ao que se julga cometendo
suicídio com um veneno dado por Pierre-Jean George Cabanis, seu companheiro de
presídio. Para lá fora remetido em Março de 1794, após uma fuga de oito meses,
sob a acusação de conspirar contra a República, que lhe foi movida por François
Chabot, em Julho de 93, um dantonista adversário dos girondinos, ironicamente,
guilhotinado com Danton, sete dias depois64.
Logo, a maçonaria, também se fez presente na Revolução Francesa. A partir
deste momento histórico, divulgará o pensamento dos iluministas, dentre eles,
Condorcet. Suas concepções, com ênfase na busca pela criação e desenvolvimento
dos incipientes direitos civis, serão consideradas no caso brasileiro, conforme nos
aponta Costa (1996). 65
Ausente em uma sociedade baseada no modo de produção escravista e na
concentração de renda nas mãos de uma elite alicerçada nos direitos adquiridos por
herança e vitalícios, contra tal cenário, a maçonaria surge configurando uma
63
CONDORCET Cinco memórias sobre a instrução pública. SP, UNESP, 2008.
64
VOVELLE, Michel. Jacobinos e jacobinismo. SC, EDUSC, 2000.
65
Conforme anteriormente citado, Frederico Guilherme Costa elabora interessante monografia de bacharelado
versando sobre o tema. Intitulada “A lei do ventre-livre: A proposta ilustrada da abolição lenta e gradual do
elemento servil. O papel da maçonaria brasileira”, foi defendida no curso de História do Instituto de Filosofia e
Ciências Humanas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro em 1994. A pesquisa aborda a atuação da
maçonaria brasileira no episódio da Abolição, defendendo a hipótese de que os maçons desenvolveram ao longo
do século XIX uma estratégia que intentava a libertação lenta e gradual dos escravos. Posteriormente, a
monografia foi publicada. In: COSTA, Frederico Guilherme. Maçonaria na Universidade 2. Londrina, Editora
maçônica A Trolha, 1996.
74
66
Por fim, destacamos a informação contida no Dicionário de Mellor (1989) ,
de que Condorcet foi membro da Loja “As nove irmãs” desde antes da Revolução
Francesa.67
De fato, o Relatório Condorcet nos auxilia na compreensão daqueles
revolucionários ideais, defendidos naquele momento também por Voltaire, Rousseau
e seus contemporâneos, levando-nos a vislumbrar o arejamento de consciências
que se produzirá na segunda metade do século XIX no seio da sociedade brasileira,
herdeira passiva dos princípios católicos-lusitanos, que tinham no Padroado seu
bastião mais poderoso de resistência às ideias libertinas68 francesas.
Portanto, o estudo aponta que, relacionadas entre si, as Revoluções Gloriosa,
Americana e Francesa, representam experiências revolucionárias significativas para
a construção do pensamento maçônico.
Ao mesmo tempo, tendo em vista o seu aspecto pedagógico, de cunho
democrático, laico, igualitário e universal, os ideais iluministas explicitados numa
ação pragmática por parte dos maçons organizados nestas partes do mundo,
contribuem para a produção de um novo conceito de cidadania, a partir do final do
século XVIII, que se estruturará em uma nova cultura política a partir e ao longo do
século XIX.
66
MELLOR, Alec. Dicionário da franco-maçonaria e dos franco-maçons. SP, Martins Fontes, 1989. p. 274.
67
“Condorcet, Antoine Caricat, Marquis de (1743-1794). French mathematical and philosopher. He was famous
for his treatise on political philosophy. He was said member of Lodge Les Neuf Soeurs, at Paris”. In:
Freemasonry. A celebration of the craft. General Editors, John Hamill and Robert Gilbert, United Kingdom,
Mackenzie Publishing, 1992. Foreword By HRH he duke of Kent. Gallery of. 275 famous masons, p. 230.
68
Segundo Barata (2006) a expressão era usada na época de forma pejorativa para desqualificar, em Portugal e
no Brasil o iluminismo francês. Ver sobre isso o Capítulo 1: “Libertinos, afrancesados e pedreiros-livres”, da
referida obra deste pesquisador.
75
Sabemos que Proust não descreveu em sua obra uma vida como ela de fato foi, e
sim uma vida lembrada por quem a viveu. O importante para o autor que rememora,
não é o que ele viveu, mas o tecido de sua rememoração, o trabalho de Penélope da
reminiscência. Ou seria preferível falar do trabalho de Penélope do esquecimento?
Não seria esse trabalho de rememoração espontânea, em que a recordação é a
trama e o esquecimento a urdidura, o oposto do trabalho de Penélope, mais que sua
cópia? Pois aqui é o dia que desfaz o trabalho da noite. Cada manhã, ao
acordarmos, em geral fracos e apenas semiconscientes, seguramos em nossas
mãos apenas algumas franjas da tapeçaria da existência vivida, tal como o
esquecimento a teceu para nós. Cada dia com suas ações intencionais e, mais
ainda, com suas reminiscências intencionais, desfaz os fios, os ornamentos do
69
olvido . (BENJAMIN, 1987, p.37)
69
BENJAMIN, Walter. A imagem de Proust. In: Obras Escolhidas. Vol. I. Magia e técnica, arte e política. SP,
Brasiliense, 1987. p.37.
76
Não há neutralidade, nem mesmo no uso mais aparentemente cotidiano dos signos.
A entrada no simbólico é irremediável e permanente. Estamos comprometidos com
os sentidos e o político. Não temos como não interpretar. Isso, que é contribuição da
análise de discurso, nos coloca em estado de reflexão e, sem cairmos na ilusão de
sermos conscientes de tudo, permite-nos ao menos sermos capazes de uma relação
menos ingênua com a linguagem. (ORLANDI, 2005, p. 9).
70
ORLANDI, Eni Puccinelli. Análise de Discurso: Princípios e procedimentos. Campinas, SP, Pontes, 6ª edição,
2005
71
No Brasil, a vertente francesa da maçonaria estabeleceu o sistema de Grande Oriente. A maçonaria Brasileira
na sua origem é toda inspirada na Francesa, que aqui aportou via Portugal, onde, no século XIX era
predominante. Assim, o sistema-padrão nacional considerado é o de Grande Oriente. A maçonaria brasileira
atual, além da sua raiz francesa, à qual se somaram as influências inglesa e estadunidense, acrescentou a sua
própria cultura. A maçonaria Francesa, revolucionária, filosófica e sempre questionadora, criou o Rito Moderno,
onde não é necessário afirmar a crença em Deus, criando também a maçonaria feminina. Ao contrário da
Inglesa, a maçonaria do restante da Europa foi perseguida pela Igreja e pelos governos autoritários. Na
Alemanha e França, por Hitler; na Itália, por Mussolini; na Espanha, por Primo de Rivera e por Franco; e, em
Portugal, por Salazar (Pessoa e Matos, 1935). Portugal teve sua maçonaria recentemente reerguida, recuperou
seu patrimônio e os cinco ritos que a conformam. Enquanto na Igreja Católica o clima antimaçônico se não
melhorou, pelo menos se estabilizou, nas igrejas neopentecostais a animosidade e a desconfiança contra os
maçons impera.
77
72
Para Benjamin, o conceito de atualização suplanta a ideia de progresso linear da civilização. No trânsito das
ideias pelo tempo e pelo espaço, é lida e entendida em suas rupturas, atropelos e contrapelos, pelas vozes
perdidas do passado.
78
Trago às costas um pesado fardo, que nenhum futuro dá a ninguém neste nosso
desgraçado país e que, no entanto impõe-me deveres, que o meu caráter e brio
exigem que sejam fielmente cumpridos e hão de ser. Nas lutas enérgicas que em
mim se dão entre o coração e o dever, este último há de ser sempre o vencedor.
Tem paciência, resigna-te à má sorte do teu marido, lembrando-te que a intenção
dele não é fazer-te passar desgostos e provações. (Carta de Benjamin Constant á
sua esposa. Província de Corrientes, 29 de março de 1867. in: LEMOS, 1990, p.
138).
Como professor, aspecto que mais nos interessa, lecionou nas escolas Militar
(predecessora do Instituto Militar de Engenharia), Politécnica, Normal da Corte
(predecessora do Instituto de Educação, atual ISERJ, Instituto Superior de Educação
do Rio de Janeiro) e Superior de Guerra, entre outras.
Adepto do positivismo, em suas vertentes filosófica e religiosa, cujas idéias
difundiu entre a jovem oficialidade do Exército brasileiro, foi um dos principais
articuladores do levante republicano de 1889, aliado aos maçons da época.
80
73
Pesquisa em andamento coordenada por Walkyria Lobão. Centro de Memória Institucional do ISERJ – Instituto
Superior de Educação do Rio de Janeiro. CEMI-ISERJ, 2006.
81
74
A Liga da Defesa Nacional atua até hoje na discussão e análise do cenário educacional das escolas públicas
do Brasil. Formada essencialmente por militares reformados, a presença de maçons em seu seio, é, ainda hoje,
representativamente importante, assinalando uma outra forma de inserção dos conceitos maçônicos de civismo,
cidadania e nacionalismo, ainda no momento presente, no pensamento pedagógico de nosso país. A Liga atua
em manifestações de civismo através de palestras e atos públicos em períodos comemorativos do orgulho pátrio,
como na Semana da Pátria, em setembro, e as comemorações da Proclamação da República, em novembro.
75
A doutrina do "soldado-cidadão", idealizada à época da “Questão Militar” pelos maçons republicanos Quintino
Bocaiúva Júlio de Castilhos, tinha como objetivo incitar os militares a intervir na política, criando embaraços ao
governo imperial. A “cidadãos fardados” não se podia negar o direito de participação na vida política do país. O
conceito, fundamental para o entendimento do comportamento da mocidade militar, ingrediente importante nos
eventos que geraram a queda da Monarquia, tinha para Benjamin Constant um significado particular, aqui visto
como o direito do militar de participar da vida política do país. O soldado-cidadão era produto da educação
integral positivista, que o prepararia para o exercício da cidadania e para atuar como agente da transição para a
sociedade positiva. A pregação deste pensamento por Constant nas salas de aula tornou-o uma liderança junto
aos estudantes militares. (Cf. CARVALHO, José Murilo de. As Forças Armadas na Primeira República: o poder
82
desestabilizador. In: FAUSTO, Boris (org.). História Geral da Civilização Brasileira, Tomo 3, vol. 2. SP, DIFEL,
1977).
83
Em primeiro lugar, porque quase toda a elite possuía estudos superiores, o que
acontecia com pouca gente fora dela: a elite era uma ilha de letrados num mar de
analfabetos. Em segundo lugar, porque a educação superior se concentrava na
formação jurídica e fornecia, em conseqüência, um núcleo homogêneo de
conhecimentos e habilidades. Em terceiro lugar, porque se concentrava, até a
Independência, na Universidade de Coimbra e, após a Independência, em quatro
capitais provinciais, ou duas, se considerarmos apenas a formação jurídica.
(CARVALHO, 2006, p.65).
76
SENADO FEDERAL. Decreto 981, Regulamento da instrução primária e secundária do Distrito Federal.
Senado Federal, 08 de novembro de 1890
77
ZOTTI, Solange Aparecida. Sociedade, educação e currículo no Brasil: dos Jesuítas aos anos de 1980.
Campinas, SP: Autores Associados/Brasília,DF: Editora Plano, 2004.
84
Essa Loja maçônica (Loja América) tem uma história brilhante: é a iniciadora das
escolas noturnas neste país; pobre, uma das mais pobres, fundou, contudo, uma
biblioteca popular, escolas para a mocidade de ambos os sexos e para adultos;
pode ensoberbecer-se de ser uma laboriosa precursora da emancipação do
elemento servil; das que conheço, enfim, é a que mais úteis cometimentos tem
empreendido. Tive a honra de servir entre esses bons amigos da humanidade. Deles
me despedi com melancolia, neles ainda cismo com doçura. Não consinta Deus que
eu perpetre a cobardia ingrata de os renegar. (BARBOSA, Ruy. Discurso de 17 de
dezembro de 1909. Vol. 7, 1880, Tomo 1, p. 124. In: MAGALHÃES, REJANE M.
MOREIRA DE A.: Trajetória política e jurídica de Ruy Barbosa. RJ, Fundação Casa
de Rui Barbosa, 1999).
78
Não temos a pretensão nesta pesquisa de elaborar um texto laudatório sobre Ruy Barbosa. Isto já foi
exaustivamente feito, e por escritores bem mais qualificados. A genialidade do biografado é um fato a ser
considerado, e tomado como característico de seu perfil público e maçônico. Sobre tal sugerimos as leituras de
DORIA (1951), LACOMBE (1975) e LUSTOSA (2000), dentre muitas outras biografias produzidas.
79
É de Saldanha Marinho a primeira epígrafe que abre esta tese. Extraída da obra “O Rei e o Partido Liberal”,
petardo escrito por Marinho contra o sistema político vigente à época, demonstra a combatividade e o dinamismo
que caracterizavam a maçonaria por ele e seu grupo representada. Na apresentação do opúsculo, registra-se:
“Escrita no calor dos acontecimentos que levaram ao “racha” do partido liberal, com o surgimento dos clubes
radicais, que posteriormente se transformariam em republicanos, “O Rei e o Partido Liberal” revela as posições
que a parcela mais avançada do partido liberal tinha em relação ao rei e ao sistema político imperial. Mais ainda,
90
Ruy Barbosa foi iniciado maçom na Loja América, a 1º. de julho de 1869. A Loja era
ainda incipiente, pois fora fundada a 9/11/1868 e seria regularizada apenas a
7/7/1869. Mesmo assim, possuía em seu quadro, homens que já eram, ou seriam,
notáveis na História do Brasil imperial e republicano, como: Joaquim Nabuco, que
fora iniciado a 1º. de dezembro de 1868, Américo de Campos, Américo Brasiliense,
Antônio Carlos Ribeiro de Andrada (o 2°), Ubaldino do Amaral, Luís Gama e outros.
A América era, ao lado das Lojas Piratininga (fundada a 28/8/1850) e Amizade
(fundada a 13/5/1832), o grande celeiro de homens ilustres, geralmente captados na
Academia de Direito. Rui, no quadro da Loja, referente a 1870, tinha o nº 101 e
constava como tendo 22 anos, sendo solteiro e estudante. Na realidade, como esse
quadro era feito no início do ano, Rui, nascido a 5 de novembro de 1849, tinha
apenas 20 anos, o que leva a crer que tenha sido alterada a sua idade, para mais,
para permitir a sua iniciação com idade menor do que a regulamentar. Isso era muito
comum, na época, e também ocorreu, por exemplo, com Nabuco e com Quintino
Bocayúva, iniciado na Loja Piratininga. (CASTELLANI, 1989).
é a documentação de toda uma visão que já então existia em relação à nossa história. Fato mais importante
ainda é que o seu autor foi grão-mestre da maçonaria, signatário do manifesto republicano de 1870, primeiro
líder do partido republicano, candidato contra Prudente de Morais à presidência da Constituinte Republicana
e...desiludido republicano, autor da célebre frase: “Não era essa a República dos meus sonhos!” (...) Publicado
em 1869 pela Typographia e Lithographia Franco-americana, sob a forma de dois panfletos, datados
respectivamente de 30 de junho de 1869 e 15 de agosto de 1869”.( MARINHO, Joaquim Saldanha. O Rei e o
Partido Liberal. RJ, Typographia Franco-americana, 1869).
91
Deixando São Paulo, deixei até hoje a maçonaria, de que fiquei membro avulso e
simples aprendiz. Faltavam-me algumas das qualidades essenciais ao maçom: o
culto das solenidades, a confiança no prestígio do sigilo, o respeito das hierarquias
suntuosas. A minha índole me atraía para a grande publicidade: o foro, o jornalismo,
o parlamento. Patrono da lei e não da parte, é por isso que me não tendes o direito
de perguntar pela outorga dos interessados; é por isso que não me importa saber se
são amigos, ou desafetos; é por isso que, se o meu esforço aproveitar os inimigos,
então maior será o contentamento da minha consciência. (...) Da pragmática
tradicional éramos tão pouco escrupulosos que, contra as regras constitucionais da
ordem, se não lembraram de me conferir o grau de mestre, para me elevarem a
orador da Loja. (...) Àquele grupo de estudantes e liberais, acidentalmente
congregados sob o rito maçônico, toca a honra da precedência na idéia, que, dois
anos depois, o ato de 28 de setembro (lei do ventre livre), veio a converter em lei do
país. Desta primazia devem de se achar ainda vestígios nos cartórios de São Paulo,
onde se firmavam pelos aspirantes a iniciação naquele clube de ardentes
reformadores as escrituras gerais de liberdade, ingênita para os nascituros do ventre
escravo. (...) Essa Loja maçônica (Loja América) tem uma história brilhante: é a
iniciadora das escolas noturnas neste país; pobre, uma das mais pobres, fundou,
contudo, uma biblioteca popular, escolas para a mocidade de ambos os sexos e
para adultos; pode ensoberbecer-se de ser uma laboriosa precursora da
emancipação do elemento servil; das que conheço, enfim, é a que mais úteis
cometimentos tem empreendido. Tive a honra de servir entre esses bons amigos da
humanidade. Deles me despedi com melancolia, neles ainda cismo com doçura. Não
consinta Deus que eu perpetre a cobardia ingrata de os renegar. (BARBOSA, Ruy.
Trechos dos Disc. 26.03.1898. Vol. 7 - 1880 - t. 1, p. 124 e discurso de 17 de
dezembro de 1909 apud MAGALHÃES, 1999, p.5).
80
MAGALHÃES, Rejane M. Moreira de A. Trajetória política e jurídica de Rui Barbosa. RJ, Fundação Casa de
Ruy Barbosa, 1999. Este artigo foi apresentado na forma de palestra proferida na sede do Grande Oriente do
Brasil do Estado do Rio de Janeiro, Palácio do Lavradio à convite da Loja Maçônica Cayru, nas comemorações
do sesquicentenário de Rui Barbosa em 29.10.1999.
94
A nosso ver, a chave misteriosa das desgraças, que nos afligem, é esta, e só esta: a
ignorância popular, mãe da servilidade e da miséria. Eis a grande ameaça contra a
existência constitucional e livre da nação; eis o formidável inimigo, o inimigo
intestino, que se asila nas entranhas do país. Para o vencer, releva instaurar o
grande serviço da “defesa nacional contra a ignorância”, serviço a cuja frente
incumbe ao parlamento a missão de colocar-se, impondo intransigentemente à
tibieza dos nossos o cumprimento do seu supremo dever para com à pátria
81
MAGALHÃES, 1999. Op.cit., p.9.
82
Pareceres de Ruy Barbosa sobre educação: "Reforma do Ensino Secundário e Superior" – 1882 (BARBOSA,
1942) e a "Reforma do Ensino Primário e várias Instituições Complementares da Instrução Pública" – 1883
(idem, 1947).
83
BARBOSA, op.cit., 1942.
96
O Estado não deve ensinar a religião, pelo mesmo motivo pelo qual não pode
ensinar a irreligião. São razões de moralidade, razões de governo, razões de direito,
razões de competência natural as que se opõem a que ele abra a escola profissional
de incredulidade, ou assuma a cadeira de propaganda religiosa. O princípio das
igrejas livres no Estado livre tem duas hermenêuticas distintas e opostas: a francesa
e a americana. (...) Foi esta a liberdade religiosa que nós escrevemos na
constituição brasileira. Esta exclui do programa escolar o ensino da religião. (...) É
assim que se pratica nos Estados Unidos essa neutralidade entre as religiões, que
nunca se encarou ali como profissão nacional do agnosticismo ou do materialismo
do Estado, senão somente como a expressão da sua incompetência e do seu
respeito entre as várias denominações religiosas. (LOURENÇO FILHO, 2001, p.129)
removedor dos obstáculos sociais. Pregou que a missão do trabalho seria a reação
sobre as desigualdades nativas pela educação, atividade e perseverança. Tais
ideais se desenvolvem através do sacrifício pelos interesses superiores da
humanidade; tudo o que afasta o homem da sua individualidade, e o eleva, o
multiplica, o agiganta, por uma contemplação pura, uma resolução heróica, ou uma
aspiração sublime. O ideal de Ruy pautava-se no predomínio da lei e na fortificação
das instituições livres.
Em sua longa vida dedicada à construção da nacionalidade republicana, Ruy
Barbosa, se foi em sua juventude um maçom ativo, mesmo após o seu afastamento
da ordem, jamais se desprendeu de seu ideário, nem da companhia dos maçons
mais ilustres de seu tempo, que lhe dedicavam, em correspondência, ao longo de
toda a sua vida, o apreço e o constante auxílio de um “irmão”.
Tal alinhamento de pensamento e fidelidade maçônica, também pode ser
vislumbrado pela leitura do resumo de sua jornada de vida que nos apresenta um de
seus inúmeros biógrafos, Batista Pereira (1928). Ao prefaciar a obra de Ruy,
Coletânea literária, rememora:
Que a vida de Ruy é um combate, basta uma síntese breve para prová-lo. Em 1869,
é um combate contra a propriedade servil na Loja América. Em 1874 é um combate
contra a legislação eleitoral vigente. Em 1875 é um combate contra a conscrição.
Em 1876 é um combate contra o regalismo, que o perseguia os bispos. Em 1882 é
um combate contra o anacronismo do ensino. Em 1890 é a redação da Constituição,
a Lei Torrens, a separação da Igreja e do Estado, a criação do Tribunal de Contas, o
imposto em ouro. Em 1891 é o combate a Floriano. Em 1892 são as campanhas no
Supremo Tribunal. Em 1894 são as “Cartas de Inglaterra”, uma das quais é um
combate contra os algozes de Dreyfus. Em 1895 é o combate contra os excessos do
poder, na anistia inversa e na aposentadoria forçada dos magistrados. Em 1910 é o
civilismo. De 1910 a 1914 é o combate ao militarismo. Em 1917 é o combate ao
estado de sítio, generalizado sem motivo a todos os Estados do Brasil. É ainda em
1917 o grande brado de Buenos Aires a favor dos aliados. (PEREIRA. Batista.
Prefácio. In: BARBOSA, Rui. Coletânea literária. 1868-1922. SP, Companhia Editora
Nacional, 1928. p. 12).
O ideal ao qual Ruy Barbosa dedica toda a sua vida adulta é o da implantação da
justiça, da verdade e do trabalho no seio do povo brasileiro. A educação, a seu ver,
seria o meio pelo qual, tanto os escravos libertos, quanto a população
marginalizada, na passagem do século XIX para o XX seriam inseridas nas
mudanças sociais que se anunciavam. Tais princípios antevistos por Rui Barbosa
coincidiam plenamente com as bases e a ação da maçonaria brasileira, instituição
da qual jamais se afastaria, pelo menos de coração e mente. Dos seus discursos
mais famosos, vários são dedicados aos “irmãos”, como por exemplo, a elegia
98
O maior legado de sua existência, sem dúvida foi a instituição escolar que
leva o seu nome. O Colégio Souza Marques, nascido, como seu criador, modesto e
localizado em uma área pobre e periférica dos subúrbios84 da cidade do Rio de
Janeiro, no bairro de Cascadura. O educandário cresceu e atualmente se chama
Fundação Técnico-Educacional Souza Marques, instituição de ensino superior que,
na atualidade, contempla um conjunto de faculdades de ensino superior.
Apesar do extenso e multifacetado percurso nos campos da educação,
cultura, política e religião, Souza Marques é personagem relativamente pouco
84
Interessante discussão antropológica e sociológica sobre a carga pejorativa do termo “subúrbio” é levantada
por FERNANDES, Nélson da Nóbrega. O rapto ideológico da categoria subúrbio. Rio de Janeiro 1858-1945. RJ,
FAPERJ/Apicuri, 2012. O pesquisador da Universidade Federal Fluminense, a partir do campo da Geografia,
elabora seu estudo na linha da geopolítica dos espaços urbanos e trabalha com o conceito de “cidade
capitalista”, apontando as distorções geradas pelos investimentos na cidade do Rio de Janeiro desde a Reforma
Pereira Passos. A discussão é pertinente a este estudo por quebrar um paradigma recorrente a respeito da
maçonaria como um grupo elitizado, visto que a penetração da ordem se dá em amplas fatias do espectro social,
atuando tanto nas áreas mais privilegiadas da sociedade quanto nos chamados “subúrbios” estendendo sua
atuação a locais onde a pesquisa acadêmica pouca atenção dá em seus estudos.
101
retratado em verbetes bibliográficos. Talvez por ter realizado seu trabalho nos
subúrbios cariocas e caracterizar-se como um perfil dissonante na sociedade da
primeira metade do século XX: ser evangélico, negro e maçom.
Em sua trajetória, formou-se em Ciências e Letras e em Teologia
pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, na turma de 1922, aos 28 anos de
idade. Foi pastor no Paraná, e, voltando ao Rio de Janeiro no ano seguinte, também
se gradua em Direito.
Sagrado como ministro evangélico, torna-se pastor, vinculado à Convenção
Batista Brasileira. Foi pastor da Igreja Batista do Engenho Novo, no Rio de Janeiro,
e da Primeira Igreja Batista de Campo Grande, no período de 1923 a 1925. Neste
período, erigiu vários templos batistas, nos bairros cariocas de Realengo, Osvaldo
Cruz e Engenho Novo. Ao mesmo tempo, foi eleito sucessivas vezes Presidente da
Convenção dos Batistas Cariocas, foi Presidente da Convenção Batista Brasileira,
em 1935, com 41 anos de idade, na Primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro.
Posteriormente, foi Presidente da Ordem dos Ministros Batistas do Brasil, em 1958,
aos 64 anos de idade, quando se deu o Primeiro Congresso de Pastores Batistas do
Brasil.
No campo da Educação foi Secretário e Vice-diretor do Colégio Batista do Rio
de Janeiro. Por concurso público de provas e títulos, lecionou como professor do
antigo Distrito Federal. Em 1929 fundou uma Escola Primária que se transformou
no Colégio Souza Marques. Posteriormente ampliado, tornou-se em 1966, Fundação
Técnico-Educacional Souza Marques, situada ainda hoje no bairro de Cascadura, no
Rio de Janeiro, que também mantém uma Faculdade de Medicina e presta serviços
sociais à comunidade local.
Como um empreendimento de cunho familiar, a instituição é hoje
administrada pelas filhas de Souza Marques, que conduzem seu legado educacional
de acordo com os preceitos que ele adotava, buscando a integração e a qualificação
dos espaços sociais das comunidades adjacentes. Em 28 de março de 2012 foi
inaugurada a Clínica da Família Souza Marques, localizada nas imediações da
Fundação, na Praça do Patriarca, situada no bairro de Madureira. Com oito equipes
de Saúde da Família e três equipes de Saúde Bucal, a Clínica garante acesso a um
serviço de saúde com qualidade. Na Clínica funcionam um Centro de Referência de
Obesidade, para acompanhamento de pacientes com sobrepeso e obesos mórbidos,
102
Fonte: Facebook
85
MARTINS, Mário Ribeiro. Dicionário Biobibliográfico Regional do Brasil. Brasília/DF, 2003.
104
86
COUTINHO, Afrânio; SOUSA, J. Galante de. Enciclopédia de literatura brasileira. Rio de Janeiro, Fundação
Biblioteca Nacional, Academia Brasileira de Letras, 2001. 2v.
87
PEREIRA, José dos Reis et alii. História dos Batistas no Brasil. 1882-2001. Rio de Janeiro, JUERP, 2001.
88
Para o autor, a Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana sinaliza um passo decisivo na reflexão para
construção de uma auto-estima positiva na emocionalidade do leitor afro-brasileiro. “São referências onde o leitor
negro se localiza e se estrutura para construir a tão buscada e quase nunca atingida auto-estima”, diz. Nei Lopes
lembra que nas publicações disponíveis, o negro parece só ter interesse etnográfico. “Nessas obras, raramente
figuram heróis, sábios, grandes homens. Para essas publicações, em geral, o vocábulo ‘negro’ define, no Brasil,
mais uma categoria social, já que os ‘grandes homens’, quando afro-descendentes, são apenas ‘nascidos em lar
humilde’ e quase nunca efetivamente ‘negros’”. Na maçonaria brasileira, destacam-se efetivamente, uma série
de maçons negros, verdadeiras lideranças que, assim como Souza Marques, encontraram no centro de união
maçônico, espaços de sociabilidade onde puderam demonstrar e exercer suas capacidades intelectuais e
morais.
105
Desta fonte, nada se cita sobre os aspectos maçônico ou político de sua vida.
As biografias optam pelas facetas que mais lhe interessam, e tornam, muitas das
vezes, o biografado um pouco menos do que realmente é.
Sobre tal, a citação que abre esta análise biográfica (GOETHE, 1971, p.93) é
bem esclarecedora dos mecanismos que a obra biográfica estabelece na
apresentação do personagem biografado. O autor que rememora a vida do
personagem, não é o homem em si, ele acaricia o tecido de sua rememoração.
Como um comprador que vai adquirir uma peça, ele escolhe e analisa a qualidade
da obra na forma que mais lhe interessa. Nesse sentido, está a elaborar trabalho
semelhante ao do mito grego da rainha Penélope, esposa do ausente Ulisses, rei de
Ítaca. No seu labor, além de ludibriar seus pretendentes, ela elabora seu próprio
trabalho de reminiscência, amalgamando-se às lembranças das quais não quer se
separar relativas ao esposo desaparecido. Ou seria preferível falar do trabalho de
Penélope do esquecimento ou apagamento da desagradável realidade do seu
presente?
Não seria portanto, esse trabalho de rememoração espontânea por parte do
biógrafo, ação consciente de escolha das qualidades preferidas do biografado, onde
a recordação é a trama e o esquecimento a urdidura? Quem escreve sobre a vida de
outrem, segura em suas mãos as franjas da tapeçaria da existência vivida daquele,
e não a da sua própria, moldando-a ao próprio corpo da maneira que lhe seja mais
conveniente e proveitosa. Cada linha escrita pelo biógrafo, intencionalmente ou não,
de certa forma através de suas próprias experiências e reminiscências pessoais,
desfaz os fios dos ornamentos do personagem perdido no passado.
Desta forma, aquele que busca entender a vida pregressa do outro, deve
beber de múltiplas fontes, a fim de melhor compor esta tapeçaria de memórias.
Buscamos assim, para ilustrar o segundo momento do percurso de vida de Souza
Marques, a referência de seus irmãos maçons. A mais difícil e oculta, pelas
características que conformam esta ordem. Apesar de Souza Marques nunca ter
ocultado sua condição de maçom, também não a apregoou, mantendo postura de
naturalidade em relação à sua profícua existência entre os pedreiros-livres.
106
seus primeiros anos de vida por templos cedidos por lojas co-irmãs, saindo da Rua
Valentim Dunham para a Rua Ana Barbosa (Loja Cayru do Méier), daí para o
condomínio maçônico da Rua Maricá, no Campinho e, finalmente, para o atual
endereço, sob o beneplácito da Fundação Souza Marques. Enfrentou e venceu
grandes dificuldades, jamais desistindo da luta por dias melhores. Seus
idealizadores, bem como aqueles que posteriormente se comprometeram em mantê-
la viva, deixaram – cada um a seu modo – suas marcas na História, mas deixaram
também uma mensagem de fé e de esperança. E é apoiada nessa mensagem que
ela chega aos 30 anos de trabalhos ininterruptos, desbastando a pedra bruta e
festejando com garbo juvenil a meritória condição de Benemérita da Ordem, sempre
89
em obstinado e vigoroso processo de crescimento . (ALVES JR, 2011)
89
ALVES JR, Ezequias Raimundo. Augusta e Respeitável Loja Simbólica José de Souza Marques. Trinta anos
desbastando a pedra bruta com disciplina, moral e trabalho. Artigo apresentado em forma de discurso na ocasião
do 30° aniversário de fundação da loja. RJ, abril, 2011.
108
A meus primos, primas e sobrinhos, de forma especial à Sérgio Baía, Fábio Bahia e
Mariza Bahia, enfatizando que Mariza foi nossa primeira doutora de nossa família,
suburbana e afro-descendente e, se tudo correr bem, eu serei o segundo. Essa
observação pode parecer pueril e sem sentido para muitos, mas não para mim, pois
aprendi com meu pai, Luciano Baía, e com o professor negro José de Souza
Marques que nunca devemos esquecer de nossa origem e das marcas da trajetória
de nossas famílias. Assim, ao agradecer de forma especial a Mariza, estou
agradecendo a todas as gerações de vizinhos e moradores dos subúrbios de
Marechal Hermes, Guadalupe, Jardim Sulacap e Vila Valqueire, que apoiaram meus
pais e tios a chegarem a uma escolarização de nível técnico e nível superior,
propiciando a mim, a meus irmãos e a meus primos as oportunidades necessárias
para sermos uma segunda geração de universitários afro-brasileiros e suburbanos.
O professor José de Souza Marques, pastor da Igreja Batista de Jacarepaguá e
diretor do Colégio Souza Marques, nos incentivava a estudar e, por meio da luta
política, dos conhecimentos técnicos profissionais e de uma sólida formação
intelectual, ascendermos socialmente pela via do trabalho árduo e honesto, porém
sem esquecer jamais que éramos negros, suburbanos e discriminados, e que nosso
papel era muito importante para alavancar a auto-estima das populações negras e
afro-brasileiras dos subúrbios da cidade do Rio de Janeiro. (BAÍA, 2006, p.7).
90
Anais da Assembléia Legislativa e Constituinte do Estado da Guanabara. Rio de Janeiro, março/1961, Vol. IV,
sessões de 01-27 de março de 1961.
109
A instituição fundada por Souza Marques em 1929 contou, desde seu início,
com o apoio de seus pares maçons. No anuário de 1937, consta a presença do
maçom Álvaro Palmeira.91 Este, atuou no final da década de 1930 no conselho
administrativo do Colégio Souza Marques na função de “Diretor-Técnico e Médico do
Colégio”, ocupando funções ainda no Conselho Consultivo e como professor,
constando em seu currículo, a citação: “Médico do departamento de Educação do
Distrito Federal – Ex-Diretor da Escola Secundária Técnica Visconde de Mauá –
Professor de História Natural e Ciências” (Anuário de 1937, p.11), aparentemente,
um verdadeiro “braço-direito” de Souza Marques na fase de implantação da
instituição de ensino.
91
Álvaro Palmeira (1889-1992) foi médico, professor e diretor de instituições escolares. Iniciado maçom na Loja
"Fraternidade Espanhola", do Rio de Janeiro a 09/12/1920, exerceu 72 anos de atividade maçônica, durante os
quais teve importante influência sobre a Maçonaria brasileira. Ocupou praticamente todos os altos cargos do
Grande Oriente do Brasil: conselheiro, deputado à Soberana Assembléia Federal Legislativa, Grão-Mestre
Adjunto do Grande Oriente do Brasil em 1942 e Grão-Mestre entre 1963 e 1967. Promoveu o reerguimento do
Rito Brasileiro. Sendo seu principal mentor. Participou ativamente de duas dissidências do GOB: a da Grande
Loja do Brasil e a do Grande Oriente Unido. Durante seu mandato ocorreu o golpe militar de 1964. Entre suas
realizações, estão o início da construção do atual Palácio Maçônico, sede do GOB em Brasília, a criação da
Editora Maçônica do GOB, em 1965, a associação ao movimento dos escoteiros e dos radioamadores, em 1966
e 1967 e a criação do Supremo Tribunal Eleitoral do GOB, em 10 de outubro de 1967. (BARBOSA, 2003, p.114-
117).
110
No dia 13/09/2012, foi lançado o livro “Anália Franco. Quem é ela?”, no Centro
Cultural Justiça Federal (CCJF), no Rio de Janeiro. O livro, de autoria do jornalista
Bernardo Carneiro Horta, é uma biografia romanceada sobre uma das
personalidades mais significativas da história do Brasil. “Anália Franco é destas
brasileiras de quem muita gente já ouviu falar, mas não sabe quem é. O que faz com
que uma mulher nascida há 160 anos prossiga presente na vida de um país?
Noventa anos após sua morte, esta biografia apresenta a trajetória fascinante e
vitoriosa da professora que desafiou preconceitos no século 19”, afirma o autor.
Para se tornar a personalidade que marcou uma época, Anália correu risco de
morte. Aos 20 anos de idade, foi apelidada de “perigosa” por ajudar crianças negras
e órfãs nos anos 1870, por ocasião da Lei do Ventre Livre. Há quem pense que ela é
paulista, mas a professora nasceu em Resende, Rio de Janeiro. Aluna brilhante, aos
15 anos já era professora. Militante abolicionista e republicana, também atuou como
escritora e musicista. Anália foi uma das mulheres que estruturou o feminismo no
Brasil, atuando com Josephina Álvares de Azevedo e Presciliana Duarte de Almeida.
Ela teve os maçons como aliados, quando não havia espaço para o sexo feminino
na maçonaria. Foi católica e, com cerca de 45 anos, se tornou a primeira brasileira
de destaque a assumir-se publicamente espírita. Quando o médico Bezerra de
92
HORTA, Bernardo Carneiro. Anália Franco. Quem é ela? Rio de Janeiro, Editora E+A, 2012.
112
93
GRANDE ORIENTE DO BRASIL. Regimento de Títulos e Condecorações. Brasília-DF, GOB, Aprovado e
adotado pela Lei n° 0088 de 21 de setembro de 2006 da E.’.Vulgar.’.. Este regimento é a versão atual da
legislação maçônica concernente à concessão de diplomas, comendas, títulos e homenagens a maçons, e
mesmo a profanos, que se destaquem pela regularidade nos trabalhos da ordem maçônica (tempo de
permanência), ou pela qualidade excepcional de suas ações. Contempla com especial reconhecimento àqueles
que se dedicam ao campo da Educação.
115
“A maçonaria deve fazer a larga política dos princípios, contribuindo para que
representantes de suas doutrinas, tenham palavra e voto nas Assembléias
Legislativas e nos Conselhos Municipais da República.’” (CASTELLANI,
CARVALHO, 2009, p.168-169).
95
Castellani, op.cit., p.169
96
Ibid., p.169.
117
97
O Emblema é uma figura simbólica que representa uma coletividade ou uma corporação normalmente
representada por símbolos que têm por objetivo expressar uma idéia ou emoção, bem como uma filosofia ou
ainda induzir a uma meditação e concentração. Os emblemas de uma loja maçônica são compostos pelo timbre,
o brasão e o estandarte. Todos devem manter um mesmo padrão, objetivando a coerência com a ideia que a loja
deseja expressar. Nesta tese, sob este tema, fazemos uso das considerações de CHEVALIER & GHEERBRANT
121
(1988): “O valor simbólico atualiza-se diferentemente para cada um, sempre que uma relação de tipo tensional e
intencional une o signo que estimula e o sujeito que percebe. Uma via de comunicação abre-se, nesse momento,
entre o sentido oculto de uma expressão e a realidade secreta de uma expectativa. Simbolizar é, de certo modo,
e num certo nível, viver junto”. (CHEVALIER, GHEERBRANT, 1988, p.8).
122
99
Hipótese central desta tese; vimos identificando ao longo destes estudos que a maçonaria tratava no período
compreendido a Educação como área estratégica de desenvolvimento e propagação dos ideais iluministas e
liberais que lhe eram caros. Neste sentido, a fundação e mesmo o apoio financeiro a escolas fazia parte deste
projeto de ação. Percebemos na leitura destas atas que era re]ativamente comum a doação de recursos
destinados à criação e manutenção de instituições de ensino patrocinadas por lojas maçônicas. No Capítulo 3
evidenciamos tais estratégias de atuação através de dois estudos de casos: o logo abaixo citado Lyceo
Maçônico e o Instituto Conselheiro Macedo Soares, ambos no Rio de Janeiro.
125
100
Sobre o conceito de sociabilidade maçônica, reiteramos a sugestão de leitura de Maçonaria, sociabilidade
ilustrada e independência do Brasil (1790-1822), de Alexandre Mansur Barata, onde o autor explicita o conceito
de sociabilidade como o maior contributo da Ordem à sociedade, residindo nesta característica maçônica, o foco
principal de interesse dos historiadores acadêmicos contemporâneos que pesquisam a Maçonaria.
126
em nome da Oficina, ofereceu a quantia de 50$000 réis, cujo ato esperava que fosse
por todos aprovado”.
Na ata n.º 2.155, de 02 de maio de 1.889, assinalamos um Tronco de
Beneficência101 corrido em nome das “vítimas de Campinas102. Depois de ter sido
discutido e aprovado, produzindo a quantia de 15$000, que foram entregues ao
Respeitável Irmão Hospitaleiro com ordens para serem entregues ao respeitável
irmão Secretário Geral, em nome de nossa Augusta Loja em favor das vítimas”.
Na ata n.º 2.168, de 16 de maio de 1.889, destina a loja a quantia de 42$000,
“para a aquisição de 14 cadeiras de benefício ao Lyceu Maçônico”103.
Também destacamos uma interessante deliberação, relativa à questão de
gênero, no tocante à sociedade do século XIX, e, mais especificamente à postura
exercida pela maçonaria neste tema, que se dá na ata n.º 2.171, de 13 de junho de
1.889, na qual se aprecia e se atende ao pedido de beneficência de D. Maria
Carolina da Costa Braga, esposa do Irmão Antonio da Costa Braga:
para senador pela Província do Rio de Janeiro”. Neste sentido, podemos observar a
atuação da sociabilidade maçônica em seu aspecto mais claramente político, onde
cidadãos faziam uso das redes de relacionamento, bem como dos juramentos de
fidelidade e fraternidade maçônica no sentido de ampliar suas possibilidades de
eleição nos pleitos públicos.
A autonomia de decisão da Loja também pode ser identificada na ata n.º
2.183, de 21 de novembro de 1.889, quando do falecimento do Grão-Mestre Geral
da Ordem naquele período, Senador Vieira da Silva. Na ocasião, o Poder Central e
uma comissão de veneráveis organizam uma cotização para uma sessão de pompa
fúnebre104. Assim, a loja, em deliberação conjunta, resolve destinar a quantia
apurada de 50$000, não ao fim proposto, mas diretamente às mãos da filha do
finado, por considerar de maior utilidade auxiliar os vivos do que homenagear os
mortos, deliberando ainda, a concessão de uma pensão de 10$000 mensais à viúva,
enquanto lhe fosse necessário. Pode-se depreender do gesto, o uso pragmático do
princípio do racionalismo, tão caro à filosofia iluminista.
Além destes, outros atos de filantropia e benemerência eram constantemente
aprovados. Em praticamente todas as sessões, eram formadas comissões de
beneficência para visitar irmãos acamados, onde eram, muitas vezes, destinados
recursos ao pagamento de despesas médicas. Também, comissões eram
regularmente formadas quando do falecimento de algum irmão do quadro, onde, em
muitos casos, quando a família do falecido encontrava-se em situação de penúria,
eram pagas as custas do féretro e concedidas quantias para o auxílio da viúva e
familiares. Até mesmo o zelador do Palácio Maçônico do Lavradio, pessoa de
poucos recursos, tinha suas missivas atendidas em diversas ocasiões, quando
sempre lhe era destinada a mesma quantia de 5$000, invariavelmente para “auxiliar
sua mãe enferma, em Portugal”.
Como estudiosos do real “évenement”105 histórico, compreender as matrizes
de pensamentos e atitudes, a fim de analisarmos como os acontecimentos do
passado desenharam o mundo futuro, no qual coexistimos hoje.
104
“Pompa Fúnebre” é uma sessão maçônica onde um irmão maçom, reconhecido por seus méritos e boa
conduta ao longo da vida, é homenageado por seus pares em loja.
105
Événement, traduzido para o português, pode ser entendido como “acontecimento”. Para o historiador Pierre
Nora, “quem detém o poder é tido como quem sabe. Daí uma dialética nova, própria a fazer surgir nas nossas
sociedades um tipo de acontecimento ligado ao segredo, à polícia, à conspiração, ao rumor e aos ruídos. Pois é,
ao mesmo tempo, verdadeiro e falso que não se fala tanto para esconder o essencial, que o sistema que
128
favorece o nascimento do acontecimento é também, mas não apenas, fabricante de ilusões, que tantas
confissões dissimulam uma falsidade. Quer se trate por exemplo da franco-maçonaria associada aos Sábios de
Sion na época da revolução industrial, quer se trate da internacional judia sob Hitler, ou do antiimperialismo nos
países descolonizados, é certo que todos esses bodes expiatórios utilizados por tantos senhores-feiticeiros do
poder carismático acompanharam a experiência histórica da participação nova das massas na vida pública, ou
seja, no crescimento da democracia. Acontecimentos que traduzem desastradamente, selvagemente, tanto a
irrupção das massas na cena quanto a profunda frustração das multidões que se lançam sobre um falso saber
para compensar sua falta de poder. Multiplicar o novo, fabricar o acontecimento, degradar a informação, são
seguramente os meios de se defender. Mas a ambigüidade que se encontra no coração da informação acaba no
paradoxo das metamorfoses do acontecimento”. (NORA, Pierre. O retorno do fato. In: LE GOFF, J. e NORA, P.
História: Novos Problemas. RJ, Francisco Alves, 1979, p. 188).
106
O Rito Moderno ou “Francês” é um dos seis ritos praticados dentro do Grande Oriente do Brasil. Os demais
são os ritos: “Escocês Antigo e Aceito”, “Adonhiramita”, “York”, “Schroeder” e “Brasileiro”. Assinalam a
característica multicultural e transnacional da maçonaria, bem como as diversas influências que recebeu ao
longo de sua história e percurso pelas culturas do planeta.
107
Na simbologia maçônica, o próprio ser, na busca pela “lapidação” e aperfeiçoamento de si.
108
O termo, oriundo do campo da Biologia, sinônimo de simbiose, define a relação onde se estabelece a
interdependência entre dois ou mais organismos vivos. No campo da história e da sociologia define as relações
sociais onde pessoas e instituições se associam buscando benefícios mútuos. O mutualismo compreende uma
doutrina humanista, econômica e social que defende que as necessidades individuais de saúde e proteção social
encontram resposta na ação integrada, solidária e cooperativa no conjunto de indivíduos. O conceito nos mostra
a abrangência das redes de sociabilidade maçônica, que se ampliam para além da mera freqüência aos templos
e lojas maçônicas, estabelecendo relações, por exemplo, na participação em montepios, caso de Benjamin
Constant Botelho de Magalhães, personagem citado anteriormente, que participava como associado de grupos
mutualistas criados pela maçonaria.
129
109
MORAES, Carmen Sylvia Vidigal. A socialização da força de trabalho: instrução popular e qualificação
profissional no Estado de São Paulo – 1873 a 1934. Tese de Doutoramento. São Paulo: USP/FFLCH/Dep. de
Sociologia, 1990.
130
110
Estatutos de 10/08/1825, APESP, Registro de Documentos de Ouro enviados ao Ministério Público, 1830-
1847, Livro 216, lata 78, nº de ordem 436, cap. 36, pg. 36. Citado por BORGES, Wanda Rosa. A
profissionalização feminina: uma experiência no ensino público. São Paulo: Loyola, 1980. IN: MORAES, Carmen
Sylvia Vidigal. A socialização da força de trabalho: instrução popular e qualificação profissional no Estado de São
Paulo – 1873 a 1934. Tese de Doutoramento. São Paulo: USP/FFLCH/Dep. de Sociologia, 1990.
111
Regulamento do Instituto dos Educandos Artífices, aprovado pela Lei nº 52, de 24/04/1874. MORAES,
Carmen Sylvia V., op. cit., p. 19.
131
112
OLIVEIRA, Antonio Almeida de. O Ensino Público. Brasília, Edições do Senado Federal, 2003.
113
COSTA, Ana Luíza Jesus. À luz das lamparinas. As escolas noturnas para trabalhadores no município da
Corte (1860-1889). PROPEd-UERJ, Dissertação de mestrado, 2007.
132
114
Anuário do Ensino de 1917, p. 286-7, citado por MORAES,1990, p.144.
133
Nota: Baseada no ensino intuitivo, era obra direcionada para a “Instrucção primária scientífica”, e
traduzida pelo Prof. B. Alves Carneiro, “antigo alunno da Escola Polytechinica”.
115
SAFFRAY. Lições de cousas. Rio de Janeiro, H. Garnier, Livreiro-Editor, 1902.
134
A luta antirracista dos maçons negros de meados do século XIX até as franjas
do século XX procurava impedir a reafirmação de uma hierarquia racial pública,
herdada dos portugueses. Eles se posicionavam contra a classificação das cores
dos cidadãos justamente por temerem que esses fossem impedidos de ocupar
cargos, de fazer carreiras administrativas e profissionais. No período da dominação
lusitana, além dos regimentos militares segregados, divididos em pretos, pardos e
brancos, era preciso pedir dispensa de 'defeito de cor' para ocupar determinadas
posições públicas e isto, é claro, ainda estava bem fresco na memória daqueles que
atuaram nessas primeiras décadas do Brasil independente118.
Exemplo de ação não só desta como de outras oficinas maçônicas, conforme
nos informa Silva (2007) em seu estudo, é a atuação marcante nessa esfera, da Loja
maçônica Perseverança III, na cidade de Sorocaba, no interior paulista.
Fonte: ALEIXO IRMÃO, 1995, p.327, citado por SILVA, 2009, Anexos.
118
Folha Maçônica Nº 284, 19 de fevereiro de 2011.
138
119
SILVA, Ivanilson Bezerra. Apontamentos sobre maçonaria, abolição e a educação dos filhos de escravos na
cidade de Sorocaba no final do século XIX. Revista HISTEDBR On-line, Campinas, n.27, p.95 –111, set. 2007.
139
Nota: No atual edifício seus 2 últimos andares são ocupados por seu templo maçônico, identificável na fachada
sem janelas ou qualquer comunicação com o exterior.
deu a Sorocaba uma escola de ensino médio técnico, com certificação profissional
progressiva: o Colégio Politécnico de Sorocaba, fundado em fevereiro de 1999120.
Nas alegorias simbólicas de seu estandarte, a comissão de membros da loja
encarregada de projetá-lo dedicou-se ao trabalho de incluir os principais emblemas
adotados pela filosofia Maçônica. A composição pode nos ser esclarecedora de
como funciona tal simbologia aplicada ao campo educacional, tanto no aspecto
característico da transmissão das ideias através de imagens, quanto na percepção
da importância dada à área do ensino por seus membros.
120
SILVA, Vanderlei da. A participação da loja maçônica Perseverança III na educação escolar em Sorocaba: do
final do segundo reinado ao final da primeira república. Sorocaba-SP, Dissertação de mestrado, Universidade de
Sorocaba, 2009.
141
121
Arquivos da secretaria da loja maçônica União e Tranquilidade. Palácio Maçônico do Lavradio, RJ.
143
1889, para assumir no dia seguinte a honrosa posição de Primeiro Grande Vigilante
do Grande Oriente do Brasil, secundando o Grão-Mestre, também na mesma data
empossado, Deodoro da Fonseca.
Juntos, estes e outros maçons dos mais distantes rincões da nação darão
prosseguimento ao projeto maçônico republicano. Paralelamente, no campo
educacional, nunca descurado, a experiência pedagógica do Lyceu do Grande
Oriente prosseguirá; como se percebe nesta nova comunicação, referente à eleição
e posse de Deodoro da Fonseca e Honório Magalhães, onde, cerca de seis meses
após a publicação de seu Regimento, a preocupação manifesta relativa ao
desenvolvimento da referida escola se inscreverá entre as quatro principais
proposituras do mandato do novo Grão-Mestre e de seu Primeiro Grande Vigilante.
Quando da posse dos dois, assim descreveu o Boletim Oficial do Grande
Oriente do Brasil o evento:
A Maconaria revive!
Duas eleições importantes realizaram-se no dia 19, para preenchimento de vagas,
abertas pela morte.
Parecia não ser fácil dar successores aos illustres, Luiz Antonio Vieira da Silva, Gr.’.
Mest.’., e Francisco José de Lima Barros 1º Gr.’. Vig..’.; entretanto, inspirado o Gr.’.
Or.’. pelo Supr.’. Arch.’. do Un.’., fez a mais acertada das escolhas. Os eleitos, e por
unanimidade, foram: Gr.’. Mest.’. e Gr.’.. Comen.’., o Marechal Manoel Deodoro da
Fonseca; e o 1º Gr.’. Vig.’., Honório Pinto Pereira de Magalhães.
Simbolisa o primeiro a Atualidade, o Palinuro da Nau do Estado; o segundo, as
tradições maçônicas, a chefia dos soldados da velha guarda. Escolhendo homens
deste quilate, com poderes e aptidões para todos os cometimentos, mostrou o Gr.’.
Or.’. perfeita orientação dos interesses maçônicos, quiçá, por longos anos, tão
descurados. Com administração como a atual, a Potência Maçônica, é chamada a
reorganizar-se imediata e completamente, de modo a produzir todos os beneficios
prometidos àqueles, que neIa se filiam (...). Levado ao Grão Mestrado por
prestigiosa eleição, qual a unanimidade de votos, pesadas obrigações contraiu o
Marechal Deodoro.
A primeira, comparecer a todos os actos, a que por lei é chamado, e tantas vezes
mais, quantas a necessidade do serviço o exigir.
A segunda, tornar efetivas as reformas e criações pendentes, entre as quais
destacam-se o Monte Pio e o Lycêo.
A terceira, corrigir muitos abusos, introduzidos na Maçonaria, pela tolerância de uns
e indiferença de outros.
A quarta, restabelecer a disciplina maçônica, fazendo observar a lei em toda a sua
pureza e de modo, que o maçom seja apreciado pela qualidade e não pela
quantidade.
Astro do dia, o Marechal Deodoro, há de attrair à Maçonaria muitos satélites.
Escolhê-los e aproveita-los, em beneficio da Ordem, será, sem dúvida, um dos seus
principais cuidados. Impor-lhes o ato de presença, o mais importante dos seus
serviços. Levar a animação, onde existia a indiferença, o serviço, por excelência.
Realizadas as aspirações, que vimos de apontar como urgentes, grande serviço
deverá a Maçonaria ao seu Gr.’.Mest.’.
Então, continuaremos a afirmar que: A Maçonaria revive!
NEMO. - Dezembro. 30 de 1889. (GRANDE ORIENTE DO BRASIL. “A Maçonaria
Revive”. In: Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira.
Número 10, 14º ano de publicação, Dez., 1889. pp. 247-249).
146
DECRETO N. 74
Nós, Generalissimo Manuel Deodoro da Fonseca, Chefe do Governo Provisorio dos
Estados Unidos do Brasil, Soberano Grão-Mestre e Grande Comendador da Ordem
Maçônica no Brasil:
FAZEMOS SABER a todas as Augustas Lojas e Sublimes Capítulos e Maçons da
nossa jurisdição, para a devida inteligência que o Sapientíssimo Grande Oriente do
Brasil, considerando os relevantes serviços que Ilustres Maçons têm prestado na
Aug.. e Resp.. Loj.. Cap. . Independência e Luz, ao Or.. da Barra Mansa, Estado do
Rio de Janeiro, no exercicio e prática de atos humanitários; Considerando o desvelo
e solicitude que distinguem os Operários da mesma Loja no cumprimento dos seus
deveres e na propaganda das doutrinas maçônicas; Considerando, especialmente, a
grandiosa tarefa empreendida pela mesma Loja na criacão de escolas, o que
constitui um relevantissimo servico prestado à Ordem Maçônica, ao Brasil e à
humanidade; querendo dar uma prova de alto apreço e profunda consideração que a
sobredita Loja Independência e Luz lhe merece, adotou na sessão ordinária de 20
de Março de 1890, E.. V., a seguinte
RESOLUÇÃO:
Artigo Único: A Aug.. e Resp.. Loj.. Cap.. Independência e Luz, ao Or. da Barra
Mansa, Estado do Rio de Janeiro, é distinguida com o Título de Benemérita, titulo
este que usará gravando-o em seu timbre e selo, e antepondo-o aos outros titulos à
que tem direito por lei, e, como tal, será tratada em todos os atos oficiais pelo
Grande Oriente, Corpos Superiores da Ordem e Oficinas da jurisdição.
O nosso Poderoso Ir. 33°, Rodrigo Antonio Machado Reis, Gr. Secr. Ger. da Ord., é
encarregado da promulgação e publicação do presente Decreto. Dado e traçado na
Gr. Secret. Ger. da Ord. Maçon. ao Vale do Lavradio, aos 25 dias do primeiro mês
do ano da V.. L., 5890. 25 de Março de 1890 E. V.
Manoel Deodoro da Fonseca, 33°.
Sob. Gr. Mestr. Gr. Com. da Ordem.
(“Decreto N° 74”. In: Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’.
Brasileira. Número 1, 15º ano de publicação, Mar., 1890. pp. 14-15).
RIO GRANDE. A Ben.. Of.’. Luz e Ordem, ao Or.. de Porto Alegre, inaugurou o seu
novo e suntuoso Templo em 25 do mês passado, e em um pavimento especial a
escola noturna gratuita, que funciona a expensas suas, destinando outro pavimento
para a fundação de um lyceu de artes e oficios.
O Gr.. Or.. tributa louvores merecidos a esta Ben. Of. pela sua constante dedicação
e amor à Ordem. (“Noticiário”. In: Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial
da Maç.’. Brasileira. Número 2, 15º ano de publicação, Abr., 1890. p. 51).
Festa Maçônica
Esteve esplêndida a festa anual da benemérita loja Harmonia. No sábado, 21 deste
mês, às 9 horas da noite teve lugar a sessão magna de posse dos novos
funcionários e comemorativa do 34° aniversário de sua Fundação, com a assistência
de 160 senhoras e avultado número de macons e deputações das demais lojas
desta cidade. Duas vezes, durante a sessão, foi cantado o hino maçônico por jovens
alunnas do Colégio Antunes, e a jovem normalista D. Minervina Baena,
acompanhadas a orgão pela distinta professora normalista D. Julia Grana, sendo
entusiasticamente aplaudidas (...) No domingo, ás 8 horas da noite, teve lugar, no
Templo da loja, a sessão magna popular de distribuição de prêmios aos alunos da
escola de ensino primário, mantida pela benemérita loja, há 26 anos, e de
inauguração da biblioteca da mesma loja. Concorreram a esse ato solene muitas
senhoras, cavalheiros e avultado número de pessoas de todas as classes sociais.
Depois de reunidos no Templo todos os assistentes e assumido a presidência o Sr.
major Baena (...) tiveram entrada no Templo os alunos da escola, em número de 60.
com suas bandeiras na frente e acompanhados de seu professor, Sr. Salgado
Guimarães, sendo saudados com salvas de palmas e executando a banda de
música do arsenal de guerra o hino nacional. Em seguida o Sr. presidente abriu a
sessão, pronunciando um importante discurso sobre a escola e a bibçioteca. A
matricula na escola, durante o ano passado, ascendeu a 75 alunos, sendo a
frequência de 60. Confrontando esse resultado com os dos estabelecimentos
congêneres mantidos pelo Estado, torna-se patente os relevantes serviços que a
benemérita Loja Harmonia está prestando á instrução popular, unicamente com os
recursos próprios. Pretende-se brevemente anexar à escola uma aula de música,
corno um dos melhores elementos de educação popular.
A biblioteca é tambem destinada a elevar o espirito do povo, proporcionando-lhe a
leitura de bons livros e facilitando os meios de instruir-se. Para o conseguimento
desse desiderato, a Loja Harmonia encontrou a melhor coadjuvacão de muitos e
distintos cidadãos e espera continuar a merecê-la de todos os bons patriotas. Depois
de cantado o hino maçônico pelas jovens alunas do Colégio Antunes, procedeu-se
distribuicão dos prêmios aos alunos que mais se distinguiram por sua inteligência,
aplicação e boa conduta, O Sr. Dr. Guimarães, inspetor da escola, proferiu um
brilhante discurso, tomando por assurnto a influência benéfica da Maçonaria em tudo
que lhos concorrer para o melhorarnento material e moral da humanidade. Ao
encerrar a sessão, o Sr. presidente declarou instalada a biblioteca da Loja Harmonia
e levantou vivas a Maçonaria paraense, ao povo paraense e ao Grão-Mestre
Deodoro da Fonseca. (“Noticiário”. In: Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal
Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 4, 15º ano de publicação, Jun., 1890. p. 110-
112).
Paralelamente a este conflito que se estende por todo o século XIX e entra
pelo século XX, a maçonaria naquele período continua sofrendo uma série de
contratempos provocados por óbitos. Deodoro da Fonseca pouco tempo fica no
exercício, tanto da presidência da república quanto do grão-mestrado da ordem. Em
1892, debilitado pela doença que já o acometia quando da proclamação, falece,
passando ao cargo de grão-mestre, Antônio Joaquim de Macedo Soares122.
122
Antonio Joaquim de Macedo Soares (1838-1905). Iniciado pela Loja Amizade, de S. Paulo em 1860 (ou
1861), foi, posteriormente, Filiando livre da Loja Dous de Dezembro (1881) e Ganganelli do Rio (1891), no Rio de
Janeiro. Iniciou sua carreira como Juiz de Órfãos das comarcas de Saquarema e Araruama. Ferrenho defensor
da liberdade religiosa e abolicionista convicto, pôs sua toga a serviço da emancipação dos escravos, fazendo-
lhes justiça em todos os pleitos. Recebeu de D. Pedro II o grau de cavaleiro da Ordem da Rosa em 1866, e
conselheiro do Império por mercê da Princesa Isabel. Como Deputado Provincial eleito por quatro legislaturas
consecutivas, de 1870 a 1878, quando redigiu e aprovou diversas leis sobre o ensino primário. Na República, foi
Ministro do Supremo Tribunal Federal (1892-1904) e Primeiro Grão Mestre do GOB (1891 a 1900) a ser eleito (e
reeleito) pelo voto direto do conjunto de lojas maçônicas, conforme as modificações da nova constituição
maçônica, federativa e republicana. Defensor da liberdade religiosa no Brasil; foi importante combatente a favor
da secularização e municipalização dos cemitérios, em uma época em que não ser católico significava não ter
direito a uma sepultura em campo santo. Da teoria à ação; foi idealizador e construtor do primeiro cemitério
municipal (1875) do Brasil, em Campo Largo, Paraná. Pela autoria da obra de direito constitucional “Da liberdade
religiosa no Brasil”, uma das causas deflagradoras da Questão religiosa de 1873, e por pregar uma “Igreja livre
em um Estado livre” foi excomungado diretamente pelo papa Leão XIII, até a sua terceira geração.
150
Eles, os operários, os proletários, não são maçons de ofício são-no, porém, por
destino, como instrumentos de que nos devemos servir, preparando homens dignos
e aptos para a consecução dos nossos fins humanitários, simbolisados nos três
ápices do triângulo maçônico: Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
Já tive ocasião de dizer-vos e apraz-me repetir: Despido o problema dos
preconceitos da doutrina e reduzido a urna fórmula prática, a questão social reduz-
se a um preceito jurídico; dar a cada um o que é seu, .sunm cuique tribuere. Nem
outra é, nem pode ser a solucão da contenda entre o capital e o trabalho, senão a
equivalência dos dois termos, do modo mais equitativo; pois, nos fatos sociais, não
pode a contingência humana ajustar igualdades matemáticas. É para essa questão
que me animo a chamar a vossa solicitude, propondo-a como campo da nossa
atividade. É a chamada questão social, que ocupa a atenção de todos os bons
espiritos, por toda a superficie da terra onde se desenvolve eficazmente o trabalho
maçônico (“Discurso do Poderoso Grão Mestre no ato da sua posse”. In: Boletim do
Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. op.cit. p.260).
“Belo exemplo”. No Boletim Oficial da Grande Loja Regional de Andaluzia sob n° 100
de 30 de Setembro saiu publicado o seguinte Decreto: (Tradução) “Juan Guerra y
Sosa, M.’.M.’. Galileu, Gran Presidente da Gr. Loj Regional de Andaluzia, a todas as
Oficinas que a compõem envia: S.’.A.’.P.’. Sabei: que na Assembléia de 25 do
corrente foi presente a seguinte proposta: As lojas da Obediência discutirão e
resolverão o seguinte tema: Questão social. Meios que deve empregar a Maçonaria
e em particular a da região Andaluza, para resolver o conflito entre o capital e o
trabalho. As lojas enviarão suas memórias antes do fim do ano para serem
apresentadas na próxima assembléia, de janeiro. (“Belo exemplo”. In: Boletim do
152
Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 8, 17º ano de
publicação, Out., 1892. p. 287).
instalações veio da doação dos direitos da obra literária “História do General Osório.
Vol.1. 1808-1864”, escrita pelo filho deste conhecido personagem da História do
Brasil, Fernando Luiz Osório; à época, membro da referida oficina, também Ministro
do Supremo Tribunal Federal, como Macedo Soares, e futuro grão-mestre adjunto
deste, no mandato que se avizinhava (1896-1900). Demonstrativo da pujança da
maçonaria e de suas lojas naquele momento, a Loja “Ganganelli” possuía um quadro
de obreiros efetivamente participantes de cerca de 500 membros.130
Quando da referida posse para o segundo mandato de Macedo Soares como
grão-mestre, e o primeiro de Fernando Luiz Osório como grão-mestre adjunto, em 26
de maio de 1896, realizada no Templo Nobre do Palácio Maçônico do Lavradio,
entre os diversos discursos proferidos na cerimônia, que se estendeu até ao
amanhecer do dia seguinte, um deles merece destaque pelo teor desta pesquisa. O
Grande Secretário Geral da Ordem, também reeleito para este novo período,
Henrique Valadares131, solicitou aos empossados que envidassem todos os esforços
para que se inaugurasse na capital da república um Orfanato Maçônico. Que este
educandário atendesse as filhas de maçons falecidos às expensas do Grande
Oriente, e que os dois chefes maçons, na condição de Ministros da República, não
poupassem esforços para que “se decretasse em breve espaço de tempo a
obrigatoriedade do ensino primário a todas as crianças brasileiras”. 132
O discurso de Henrique Valladares, proferido em 1896 dará início a uma
longa caminhada da ordem no poder central em busca da concretização deste
projeto. Depois de muitos conflitos, avanços e retrocessos, este orfanato será,
130
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Números 9 e 10, 20º ano de
publicação, Nov.Dez., 1895. pp.388-389.
131
Henrique Valadares (1852-1903) nasceu no Piauí. Aluno da escola Militar da Praia Vermelha; foi discípulo de
Benjamin Constant. Republicano fervoroso fez longa carreira nas fileiras do Exército, tornando-se oficial e
engenheiro militar. Iniciado maçom na Loja “Cruzeiro do Sul II”, em Uruguaiana RS, em 24 de junho de 1874,
tendo como nome simbólico “Cayrú”. Ocupou os cargos de Grande Secretário Geral do GOB (1891-1895), sendo
responsável pela edição do Boletim do Grande Oriente do Brasil, e de Grão-Mestre Adjunto na primeira gestão
de Macedo Soares (1892-1895). Foi nomeado prefeito do Distrito Federal em junho de 1893, e depois Deputado
Federal, pelo presidente Floriano Peixoto (1891-1894), o que não lhe impediu de continuar com seus afazeres na
Ordem, mantendo-se no cargo. No mesmo período, inclusive, foi Venerável-Mestre da Loja “Ganganelli do Rio”.
Em sua gestão à frente da prefeitura do Distrito Federal, procurou reorganizar as repartições municipais e sanear
as finanças da prefeitura. Deixou o cargo em dezembro de 1894. Como oficial do Exército Brasileiro, foi
designado Delegado na Questão do Acre (1903). Na região, adoeceu gravemente, voltando ao Rio, onde falece,
em 9 de novembro de 1903, sendo sepultado com honras de General-do-exército e promovido post-mortem a
Marechal.. Grande incentivador da criação de escolas maçônicas fundou quando de sua gestão como venerável-
mestre da Loja Ganganelli do Rio, o “Lyceu Ganganelli”; externato para meninos, que oferecia ensino primário,
secundário, artes e ofícios (CASTELLANI, José. História do Grande Oriente do Brasil. São Paulo, Madras, 2009,
p.164).
132
“Posse da grandes dignidades da Ordem”. Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’.
Brasileira. Números 2e3, 21º ano de publicação, Abr.Mai., 1896. pp.167-171.
156
O mandato de Fernando Osório foi muito curto. Seis meses após sua posse,
em 26 de novembro de 1896, veio a falecer, assumindo o seu posto o, à época
Senador Quintino Bocayuva, membro da Loja “Comércio”, através de eleições
realizadas em 12 de fevereiro de 1897.
Pouco antes da morte de Osório, a Loja “Perseverança III”, anteriormente
analisada neste estudo, inaugura a sua Escola Noturna, na representativa data de
15 de novembro.
157
133
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 9, 21º ano de publicação,
Nov., 1896. p.555-558.
158
A Educação Jesuítica
Temos verberado com todas as nossas forças a péssima e deletéria educação, que
os jesuítas e as intituladas irmãs de caridade ministram nos seus pérfidos cóios, às
pobres e infelizes crianças (...). Os jesuítas não edificam, destroem; não moralizam,
corrompem; não educam, atrofiam as inteligências, fanatizando os espíritos,
bestializando as pobres crianças, fazendo delas uns autômatos, para mais tarde
servirem, não a Deus ou às suas familias, mas tão somente à companhia de jesus e
aos interesses dessa seita maldita e mil vezes condenada.
Querem saber como os jesuítas estão procedendo nos seus cóios? Distribuíram às
infelizes crianças um impresso intitulado Caminhos de ferro d’Além-Campa. Linhas
do Paraíso e do Inferno, em combinação com as da Morte e do Juizo!
Recomendam com atenção a leitura do vergonhoso impresso, no qual se lê entre
outros, os seguintes disparates:
Saída dos comboios: A todas as horas.
Chegada: Quando Deus quizer.
Preço do bilhete:
1ª classe: Inocência e sacrifício voluntário. 2ª classe: Penitência e confiança em
Deus. 3ª classe: Arrependimento e resignação.
LINHA DO INFERNO: 1ª c1asse: Impiedade. - 2ª classe: Sensualismo. - 3ª classe:
Indiferentismo.
Que dizem a isto? E são os jesuítas, e são as irmãs de caridade que falam em
sensualismo a meninas de oito a dez anos! Não se ensina nos côios jesuíticos o
amor á família, o respeito aos pais, a fidelidade aos maridos, a caridade para os
pobres, a proteção para os infelizes, mas fala-se em sacrifício voluntário, em
penitência, em arrependimento e em sensualismo! Aqui está o que é a educação
jesuitica! Eis, repetimos, a razão, plenamente justificada, da forma como
procedemos contra a maldita seita jesuitica. S. B. (D’A Luz). (Boletim do Grande
Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Números 7 e 8, 22º ano de
publicação, Set.Out., 1897. p.333-334).
134
AZEVEDO, op.cit., p.42.
159
O ensino do Atheneo Rio Pretense (que tal é o nome dado à nova escola) será feito
gratuitamente por IIr.. da Loja Avanhandava e comprehenderá as seguintes
matérias: Língua e literatura portuguêsa, Aritmética, Geografia, História,
Matemáticas elementares, desenho linear e arquitetônico, elementos de geologia,
física, zoologia e botânica, françês, italiano, e como exercício recreativo ginástica e
esgrima. (Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira.
Números 7 e 8, 22º ano de publicação, Set.Out., 1897. p.362-364).
Discurso proferido pelo aluno da Escola Municipal de S. José do Rio Preto, Paulino
Rocha Filho, na Regularização do Sublime Capítulo “Firmeza a Vautier”.
Minhas Senhoras e meus Senhores.
Desejando congratular-me convosco pelo dia de hoje, também quero que a minha
fraca voz da infância, possa ecoar dentro deste salão, onde só se vê o belo e o
maravilhoso. Todos estão alegres e eu apesar de pequeno, já me sinto forte para
135
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 10, 24º ano de publicação,
Dez., 1899. p.610-611.
160
“Um perigo”. Não há muitos dias, o Diário Oficial publicou o regulamento da nova
escola correcional, fundada pelo Dr..Brasil Silvado. E’ uma peça interessante. Figura
na seção: Sociedades Anônimas. Como? Por quê? Não sei. Ha artigos curiosos: um
diz que o diretor será o cônego Amador Bueno; outro dá ao prefeito uma função; o
primeiro anuncia logo que a instrução terá caráter essencialmente religioso. Contra
isto, já protestos foram levantados. A Constituição é clara quando proíbe subvenção
de qualquer espécie a qualquer culto. A concessão de um prédio, que é próprio
nacional, importa numa subvenção eficacíssima. Por outro lado, não há maneira de
auxiliar melhor uma religião do que dando-lhe prosélitos e, no caso, é um verdadeiro
recrutamento forçado o que se vai fazer para a tal escola. ((Boletim do Grande
Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 12, 24º ano de
publicação, Fev., 1900. pp.755-758).
136
Quintino Antônio Ferreira de Sousa Bocayuva ( 4/12/1836-11/06/1912) foi jornalista e político, conhecido por
sua atuação na Proclamação da República. Foi ministro das relações exteriores de 1889 a 1891 e presidente do
Estado do RJ de 1900 a 1903. Colaborador no jornal “Acaiaba”, em 1851, adotou o nome “Bocayúva”, relativo a
duas espécies nativas de palmeiras, para afirmar seu nativismo. Defensor ardoroso das ideias republicanas, no
Rio de Janeiro trabalhou no jornal Diário do Rio de Janeiro (1854) e Correio Mercantil (1860-1864), vindo a ser o
redator do Manifesto Republicano de 1870. Em 1874 fundou o jornal “O Globo”, dirigindo-o até 1883.
Em 1884 fundou “O Paíz”, que exerceu grande influência na campanha republicana. Iniciado maçom na Loja
“Amizade”, de São Paulo, em 1861, era contrário às ideias positivistas, notabilizando-se pela verve polemista de
discurso agressivo e lógico. Foi o único civil a cavalgar, ao lado de Benjamin Constant e do Marechal Deodoro da
Fonseca, com as tropas que se dirigiram ao quartel-general do Exército na manhã de 15 de Novembro, quando
da proclamação da República. Na pasta das Relações Exteriores negociou e assinou o Tratado de
161
Montevidéu (1890), solucionando a Questão de Palmas, entre Brasil e Argentina. Por sua atuação na imprensa
foi cognominado como o "príncipe dos jornalistas brasileiros". Em 1899 foi reeleito Senador, e escolhido para o
governo do Estado do Rio de Janeiro (1900-1903). Na Maçonaria, ocupou o Grão-Mestrado do Grande Oriente
do Brasil de 1901 a 1904. Em 1909 retornou ao Senado, tendo exercido o cargo de vice-presidente de 1909 a
1912. Nessa função, apoiou a candidatura do Marechal Hermes da Fonseca à presidência da República (1910)
e, nesse mesmo ano, ocupou a presidência do Partido Republicano Conservador do caudilho gaúcho José
Gomes Pinheiro Machado. Faleceu no bairro do Rio de Janeiro onde morava, e que hoje, em sua homenagem,
recebeu o seu nome (CASTELLANI, José e CARVALHO, William Almeida de. História do Grande Oriente do
Brasil: a Maçonaria na História do Brasil. SP, Madras, 2009, pp.162-163).
137
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 02, 28º ano de publicação,
Abr., 1903. p.83
138
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 02, 28º ano de publicação,
Abr., 1903. pp.120-122.
162
curso, sendo que “os alunos aprovados no 2° e no 4° anos serão levados à São
Paulo para fazerem exame de instrução pública”. 139.
Citação especial, por antecipar o estudo de caso que selecionamos para
analisar mais a frente neste mesmo capítulo, é a referência à criação de outra
escola; esta para crianças exclusivamente do sexo feminino, e, por uma Loja de
Adoção. As Lojas de Adoção eram interessante recurso utilizado pela maçonaria
brasileira daquela época, ainda fortemente influenciada pela maçonaria francesa, a
fim de proporcionar o envolvimento das mulheres na ritualística e trabalhos
maçônicos. Uma Loja de Adoção reunia esposas de maçons, organizadas sob a
supervisão de uma loja masculina regular. Com a presença constante de pelo
menos um maçom do sexo masculino em seus trabalhos, as reuniões das
“maçonas” obedeciam toda a ritualística e forma de trabalho pertinente à ordem
maçônica, sendo suas obreiras atuantes na “lapidação de suas pedras” tanto quanto
os maçons do sexo masculino.
Desta forma, especial menção merece a criação desta escola, na cidade de
Campos (RJ):
139
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 03, 28º ano de publicação,
Mai., 1903. pp.201-206.
163
A iniciativa da Loja “21 de março” expõe mais uma vez o conflito latente entre
a maçonaria e a igreja católica no campo da Educação. Apenas um mês após sua
inauguração, o Boletim do GOB do mês de abril de 1904 publica nota de duas
laudas, assinada por Eutychio Galvão e datada de 26 de fevereiro de 1904, intitulada
“Ou na casa de Deus ou do Diabo”, onde explicita a reação contrária da igreja
católica local. Segundo a nota:
Em certo conceituado colégio católico desta capital se impõe aos alunos que, para
frequentá-lo, não deverão freqüentar as aulas da “21 de Março”. “Ou na casa de
Deus ou do Diabo”, se lhes diz conforme declaram alguns que, por este motivo, já se
fizeram eliminar da matrícula das aulas daquela benemérita associação (Boletim do
Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 02, 29º ano de
publicação, Abr., 1904. p.85-86).
142
Art. 2°, Capítulo I dos Estatutos da Associação Promotora e Mantenedora do Asylo Henrique Valladares. Rio
de Janeiro, Typographia Bernard Frères, 1904.
165
145
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 11, 29º ano de publicação,
Jan., 1904. pp.943-946
167
146
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 10, 33º ano de publicação,
Dez., 1908. p.405.
147
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 01, 33º ano de publicação,
Jan., 1909. p.443.
168
capital, por “manter à sua custa há cerca de cinco anos uma escola gratuita para
meninos pobres e uma biblioteca para membros de seu e de outros quadros148”.
Em relatório da delegacia do Estado de Pernambuco, datado de 20 de maio
de 1910, apresentado no Boletim de outubro do mesmo ano, são citadas como
oficinas maçônicas mantenedoras de escolas naquele Estado, as Lojas
“Fraternidade e Progresso”, da cidade de Goyanna, a loja “Obreiros do Norte”, que
ainda mantém uma biblioteca pública, e a loja “Instrução e Beneficência”, na
localidade de Pau d’Alho, que administra uma escola pública e uma “vasta biblioteca
pública digna da sublime instituição”149.
Outro relatório, da Delegacia no Estado de Alagoas informa que a loja “Deus
e Verdade”, na cidade de Pilar, “fundou em sua sede, aos 22 de agosto de 1905
uma aula noturna para a infância desvalida sob a denominação de “Escola Lauro
Sodré”, com regular frequência de alunos desde então”.150.
O Boletim do GOB de n° 12, de dezembro de 1910 apresenta em quatro
laudas, extrato de reportagem publicada no periódico “São Paulo”, datado de 19 de
dezembro do mesmo ano. O relato, de certa forma, fecha um ciclo das pesquisas
desta tese ao relatar a “Ação da maçonaria na instrução infantil – Grandiosa festa
pública – Encerramento das aulas mantidas pela Benemérita Loja “Sete de
Setembro”’. O documento que deu início a estas pesquisas tratava exatamente de
uma prancha encaminhada por esta loja ao Poder Central em 1911 dando informes
de que era a oficina maçônica, e não a Srª Anália Franco, quem efetivamente
mantinha um grupo de escolas na capital paulista.
Os trechos da referida reportagem, que se apresentam abaixo, corroboram
estas informações iniciais e desvelam a relação bastante próxima entre Anália
Franco e a maçonaria:
148
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 09, 34º ano de publicação,
Nov., 1909. pp.387-388.
149
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 10, 35º ano de publicação,
Out., 1910. pp.759-766.
150
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 11, 35º ano de publicação,
Nov., 1910. p.900.
169
151
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 12, 35º ano de publicação,
Dez., 1910. pp.1056.
170
como meta a propagação desta “língua universal” entre todos os seus adeptos e,
quiçá, por toda a humanidade.
Outro trecho de reportagem transcrita de periódico, no caso, o jornal “A Folha
do Norte”, da cidade de Belém, capital do Pará, intitulado “Movimento maçônico” dá
conta de uma série de atividades desenvolvidas pelas lojas daquele Estado, dentre
elas, a loja “Cosmopolita”, que, “desassombradamente termina a construção de sua
loja, criando o “Colégio Maçônico”, para a instrução dos filhos de seus pares, uma
Agremiação Dramática de Propaganda Maçônica, para a representação de peças de
combate, com um teatrinho em projeto, onde também se realizarão conferências
públicas, concertos e saraus artísticos em benefício dos órfãos e desvalidos”153.
Posteriormente, no Boletim de n° 1 de janeiro de 1911, é apresentado
relatório que enuncia os primeiros frutos do trabalho desenvolvido por aquele colégio
maçônico. O número de alunos monta a cem, distribuídos em vários níveis de
instrução, desde as primeiras letras até graus mais avançados, como se pode ver
pelo relato abaixo:
O que mais nos comoveu foi o fato de ter sido chamado a exame o aluno José Praia,
um homem de cerca de 30 anos e interrogado pela professora Bittencourt sobre o
tempo que tinha de estudos, respondeu ter-se matriculado ha 4 meses sem
conhecer ao menos o alfabeto, mas, agora, acrescenta ufano: “sei ler por cima”.
Quase choramos de contentamento e assistimos com toda a atenção o exame de
José Praia, sentindo um desejo ardente de abraçá-lo e ao seu lente, Sr. Vicente
Abranhes, ao ser proclamado o resultado do exame aprovando com distinção o
aplicado aluno (Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’.
Brasileira. Número 01, 36º ano de publicação, Jan., 1911. p.62).
Essa escola, onde se ministra o ensino rigorosamente gratuito e leigo, tem na sua
enorme frequência, de cerca de 100 discípulos o mais eloquente atestado dos
benefícios reais que distribui principalmente entre os filhos da pobreza. Os exames
anuais, verificados sob a inspeção das autoridades profanas do ensino, revelam em
toda a sua plenitude o progresso intelectual dos alunos. E, no entanto, para a
manutenção de tão útil medida, aquela Oficina não recebe o mínimo favor estranho,
servindo-se exclusivamente dos exíguos resultados de seus troncos e cotizações
(Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 09,
35º ano de publicação, Set., 1910. p.670).
A escola é, sem duvida, o melhor e o mais importante veiculo das ideias. Nessa
convicção é que o clero romano tem sido e será sempre adverso á escola leiga,
onde ele vê o caminho para o golpe decisivo contra os erros teológicos. Vimos como
alguns meses atrás um congresso de bispos católico-romanos, reunido em Minas, a
propósito da ação profundamente emancipadora da escola leiga, ousou
impensadamente e sob o influxo de paixões que não se amoldam bem a tão
respeitáveis eclesiásticos, lançar o seu terrível anátema contra a Maçonaria, em
cujos antros profundos os seus inimigos imaginam perpetuarem-se os mais
assombrosos atentados sociais e morais, como aquele, por exemplo, que se traduz
na instituição da escola leiga!
Na culta França a campanha dos bispos não tem sido pequena contra a influencia
da escola do diabo! Ferrer foi fulminado, no dizer de Anatole France, pelo grave
crime de dísseminar escolas neutras no berço de Loyola. Na Itália a reação contra a
laicificação do ensino é formidável por parte dos advogados dos interesses da Igreja
romana. Por toda parte, rio ocidente, o mesmo espetáculo se observa e isso porque
está perfeitamente no domínio de qualquer espírito o alto valor da escola como
instrumento doutrinário. (Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da
Maç.’. Brasileira. op.cit. p.673).
173
155
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 05, 35º ano de publicação,
Jun., 1911. p.412.
156
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 07, 36º ano de publicação,
Jul., 1911. p.534.
157
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 11, 36º ano de publicação,
Nov., 1911. p.870-871.
175
É decerto o melhor meio de chegar aos fins, que são visados pela nossa Ordem, é a
lição que à infância deve ser dada nas escolas mantidas por varias associações
maçônicas, onde deve ser ensinada a ciência positiva, cujas verdades assim
infiltradas no seio do povo hão de preparar uma geração sadia e valida, guiada para
o bem, enérgica e forte, tendo aprendido que o homem é obra de si próprio, e que a
verdadeira e sã moral é a que dimana da razão, emancipado o espírito dos liames
de falsas teorias obsoletas, de lendas fantásticas, que tiram aos seres humanos a
consciência do seu valor real, deixando-os como passivos instrumentos nas mãos
de guias espirituais nem sempre orientados para o bem.
Tenho o máximo empenho em ver organizado na sede do Poder Central um
estabelecimento modelo de ensino literário e cientifico; primário, secundário e
superior, para usar as cômodas e comuns denominações consagradas dos
diferentes graus de cultura mental. Nesse instituto dar-se-á ensino gratuito e
essencialmente leigo. O verdadeiro ensino neutro, a ciência desprendida de
176
religião do DEVER um mito, um ideal que, por pouco que seja atingido, diminuirá o
domínio do crime e a vexatória prevenção das sociedades (Boletim do Grande
Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 03, 37º ano de
publicação, Mar. 1912. p.167).
158
AMARAL, Giana Lange do. O Gymnasio pelotense e a maçonaria. Uma face da Educação em Pelotas.
Pelotas, Seiva publicações/Ed. Universitária – UFPel, 1999.
179
Escolas Maçônicas. Por telegrama, expedido pelo poderoso irmão José Barata, o
Grande Oriente foi informado de que a benemérita loja capitular “Cosmopolita”, ao
Oriente de Belém, Estado do Pará, fundou as Escolas: “Lauro Sodré”, “Frederico de
Almeida”, “Saldanha Marinho” e “Macedo Soares”, corno filiais do “Colégio
Maçônico”, sendo a instrução dada gratuitamente. É mais um grande serviço que a
maçonaria paraense presta à humanidade (Boletim do Grande Oriente do Brasil.
Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 08, 37º ano de publicação, Ago. 1912.
p.640).
Desde janeiro do corrente ano, chamou a si a direção das suas escolas, até então
confiadas à Exma. Sra. D. Anália Franco. A nova orientação que se imprimiu a essas
escolas, que passaram por completa reforma, trouxe em consequência uma
afluência de alunos tal que fomos forçados a novos sacrificios, instalando maior
número de aulas e reabrindo escolas que haviam sido fechadas por falta de
frequência regular. Assim é que tivemos de abrir mais duas escolas, além do
número determinado. Para avaliar a proporção e o incremento das mesmas é
bastante dizer que, no mês de janeiro a matricula nas escolas registrava apenas a
existência de 140 alunos, no entanto hoje de acordo com os mapas do mês de julho,
existem SETECENTAS CRIANÇAS, assim distribuídas pelas aulas diurnas e
noturnas das seguintes escolas: 1ª Escola: Rua do Gasômetro, 130. Braz. 95 alunos;
2ª Escola: Rua da Moóca, 476. Mooca. 105 alunos; 3ª Escola: Rua Conselheiro
Ramalho, 2. Bexiga. 130 alunos; 4ª Escola: Rua da Graça, 89, Bom Retiro, 78
alunos; 5ª Escola: Rua da Consolação, 600. Consolação. 101 alunos; 6ª Escola: Rua
José Monteiro, 41. Belemzinho, 80 alunos; 7ª Escola: Rua Mamoré, 53. Bom Retiro,
45 alunos; 8ª Escola: Rua do Gazômetro, 187. Braz, 85 alunos. Total: 719 alunos
161
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Números 01 a 12, 38º ano de
publicação, Jan.-Dez. 1913. pp.56-57.
162
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 05, 38º ano de publicação,
Mai. 1913. p.301.
163
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 06, 38º ano de publicação,
Jun. 1913. p.423.
181
(Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 09,
38º ano de publicação, Set. 1913. pp.671-672).
165
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 02, 39º ano de publicação,
Fev. 1914. p.86.
166
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. op.cit. p.87.
183
princípios em salas de aula por todo o Brasil, pautada no positivismo propagado por
Benjamin Constant, do qual Lauro Sodré fora discípulo destacado:
169
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 08, 39º ano de publicação,
Ago. 1914. pp.630-639.
170
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 09, 39º ano de publicação,
Set. 1914. pp.657-669.
171
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 10, 39º ano de publicação,
Out. 1914. p.797.
172
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 11, 39º ano de publicação,
Nov. 1914. pp.889-890.
185
177
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 11, 41º ano de publicação,
Nov. 1916. pp.1065.
178
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 01, 41º ano de publicação,
Jan.-Dez. 1916. p.82
179
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 04, 41º ano de publicação,
Abr. 1916. p.263.
188
180
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. op.cit. pp.283-285.
181
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. op.cit. pp.307-308.
182
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 07, 41º ano de publicação,
Jul. 1916. p.594.
183
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 08, 41º ano de publicação,
Ago. 1916. p.632.
190
1º. Ficam criados dois prêmios de incitamento constituídos por duas medalhas de
ouro de iguais dimensões, as quais serão destinadas aos alunos mais distintos da
Escola Barão do Rio Branco, no final do ano de 1917.
2°. As medalhas de que trata o art.1° serão: uma para o. aluno ou aluna que
melhores notas tiver no final do ano, nas diferentes matérias do curso primário, e
terá gravado, de um lado, um livro aberto encimado pelos dizeres: “Valor ao .Mérito”;
e do outro: “Oferecida pela Loj.Maçônica Henrique Valladares, 1917”; e a outra para
o aluno ou aluna que reunir aos requisitos da primeira as melhores notas de
comportamento, e terá gravado de um lado um livro aberto encimado pelos dizeres:
“Instrução e Ordem”, e do outro: “Oferecida pela Loja Macônica Henrique Valladares.
1917”
3°. Para a execução dos art. 1° e 2° será nomeada uma comissão especial, a qual
dará desde já inicio á sua missâo, de modo que as medalhas fiquem prontas dentro
de sessenta dias a contar da presente data.
4°. As medalhas de que trata a presente resolução, uma vez prontas, serão
expostas na Grande Secretaria até ao mês de agosto do corrente ano, data em que
serão expostas ao mundo profano em vitrine de uma conhecida casa comercial, de
modo a tornar conhecida para o público a obra maçônica que elas constituem.
Templo das sessões, em 9 de janeiro de 1917. José Ferreira 30° (Boletim do Grande
Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 01, 42º ano de
publicação, Jan. 1917. pp.70-71).
184
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 01, 42º ano de publicação,
Jan. 1917. pp.51-52.
185
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 02, 42º ano de publicação,
Fev. 1917. pp.140-141.
191
Apesar da nova moda e a rápida adesão à premiação dos alunos das escolas
públicas, algumas lojas maçônicas continuam no afã de fundar escolas. É o caso da
loja “Força e União 2ª”, que inaugura no edifício do grêmio literário em Salvador,
Estado da Bahia uma escola com o seu nome186.
A loja “Independência e Luz”, de Barra Mansa, Rio de Janeiro, no boletim de
junho de 1917 é agraciada com as isenções decorrentes do fato de manter uma
escola noturna e uma biblioteca naquela cidade por mais de vinte anos
ininterruptos187.
As escolas da loja “Sete de Setembro”, na capital paulista continuaram em
expansão, informando o boletim de junho de 1917 que, no mês de março daquele
ano, através de mapa de matrículas, o número de alunos já alcançava a quantia de
186
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 04, 42º ano de publicação,
Abr. 1917. p.362.
187
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 06, 42º ano de publicação,
Jun. 1917. p.491.
192
Recebemos mapa referente ao mês de março findo, das escolas rnantidas pela loja
capitular “Sete de Setembro”, acusando a matrícula de 1693 alunos, contra 1654 em
fevereiro. As escolas da Grande Benemérita e Benfeitora oficina são 13, das quais
11 também funcionam à noite. O mapa traz diversas informações que se prendem
ao assumto. Extraímos dele as seguintes, sobre os 1693 alunos matriculados:
Curso: Diurno: 1432, Noturno: 261. Sexo: Masculino: 925, Feminino: 768. idade:
Maiores de 12 anos: 205, Menores de 12 anos: 1488. Naturalidade: Brasileiros:
1620, Portugueses: 27, Italianos: 21, Espanhóis: 15, Argentinos: 6, Franceses: 2,
Americano: 1, Alemão 1 (Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da
Maç.’. Brasileira. Número 06, 42º ano de publicação, Jun. 1917. pp.625-626).
188
NILO PROCÓPIO PEÇANHA, 2/10/1867 – 31/03/1924. Político, ministro de Estado e vice-presidente da
República, tendo exercido a presidência. Bacharelou-se pela Faculdade de Direito do Recife, em 1887.
Estabelecido em Campos, montou banca de advocacia e fundou o Clube Republicano da cidade. Com o advento
da república, elegeu-se deputado à Constituinte. Foi senador, em 1903, elegendo-se, a seguir, presidente do
Estado do Rio. Na época, já era maçom, pois fora iniciado na Loja "GANGANELLI DO RIO", a 11/10/1901. Em
1906, era eleito vice-presidente da República e, a 14/06/1909, com a morte do presidente Afonso Pena, assumia
a chefia do governo, para completar o mandato, até 15/11/1910. Apesar de seu curto período na presidência,
193
conseguiu executar uma boa gestão, inaugurando o ensino técnico-profissional no país, organizando o Ministério
da Agricultura e tentando a implantação da grande siderurgia, ao proceder aos primeiros estudos neste sentido.
Em 1914, voltaria à presidência do Estado do Rio, não completando o mandato, pois assumiu o Ministério das
Relações Exteriores, em maio de 1917, desfazendo, então, o clima de "neutralidade suspeita", ao determinar o
reconhecimento do estado de guerra entre o Brasil e a Alemanha. Em 1918, foi novamente eleito para o Senado
e, em 1921, liderou o movimento da Reação Republicana, candidatando-se à presidência da República contra
Arthur Bernardes, que era o candidato das forças majoritárias. Sofreu prisão domiciliar, apesar de ser senador e
de gozar de imunidades. Nass eleições de 10/03/1922, era inevitável a sua vitória, a não ser que houvesse
fraude, pois ele tinha o apoio dos principais Estados. Mas houve fraude, como era costume na República Velha,
e o Congresso proclamou a vitória de Bernardes. Às vésperas da posse de Bernardes, Nilo Peçanha escrevia,
em manifesto à nação: "Eu, pelo menos, não me renderei; e hei de manter essa atitude, isolado que fique,
destinando os poucos anos que me restam de vida à obra de regeneração da República". Altivo, como sempre,
ele serviu de exemplo para que, anos depois, se tentasse salvar o regime, que se deteriorava na mão de
oligarquias (Fonte: CASTELLANI, José e CARVALHO, William Almeida de. História do Grande Oriente do Brasil:
a Maçonaria na História do Brasil. SP, Madras, 2009, pp.180-191).
189
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 10, 42º ano de publicação,
Out. 1917. p.1060.
190
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 12, 42º ano de publicação,
Dez. 1917. p.1266.
191
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. op.cit. pp.1270-1271.
194
CIRCULAR dirigida pelo Gr.. Secr:. Ger:. da Ord:., em 17 de Janeiro de 1918, E:. V..
às Resp. Aug. e BBen. LLoj. do Or. do Poder Central. PPod.. lir.:
Já é do vosso conhecimento e tem merecido o vosso aplauso, com o precioso
concurso de muitos de vós, a campanha libertadora das consciências que nossa
Sub.. Ord.. empreendeu intensificar; a propagação da instrução e principalmente do
ensino profissional. De há muito vinha nossa Ben.. Inst., sem coordenação de
esforços, criando escolas públicas, pregando a necessidade de quebrar as algemas
da ignorância popular, distribuindo prêmios incitadores do amor ao convívio dos
livros. Com o advento ao poder supremo da nossa Subl. Ord.. do nosso atual Sob..
Gr. Mestr., Pod.. Ir. Dr. Nilo Peçanha, adotamos todos nós, bons, sinceros e
devotados OObr.. dos grandes monumentos da civilização, o programa magnífico do
seu manifesto inaugural, tomando por escopo principal de nossos esforços no
momento presente a difusão da instrução entre o povo. Em reuniões especiais de
VVen.., de RRepr.. de OOf.. e de vários outros OObr.., ficou assentada, como
primeiro passo para a realização desse programa, a utilização dos elementos já
acumulados na Associação Asylo Valladares, no Tesouro da Ordem e nos Pecúlios
Maçônicos, passando aquela Associação pela reforma necessária a poder ter a
amplitude capaz de corresponder ás generosas aspirações do povo maçônico do
Gr.. Or.. do Brasil. Está feito esse primeiro passo. Em breve tempo poderemos ter a
venturosa alegria de ver instalado o Instituto Profissional Maçônico, que será o
primeiro estabelecimento de ensino maçônico no Pod.. Central.
Virão depois outras escolas, o Asilo de Órfãos, o Hospital e tudo quanto a nossa
dedicação à Ordem e o nosso devotamento ao princípio da solidariedade humana
inspirarem à nossa atividade maçônica. Para concorrer desde já do modo mais
eficiente para essa obra, é indispensável que todos nos inscrevamos sócios da
Associação referida, formando, assim, na Iegião que há de ganhar no Poder Central
as batalhas mais belas e gloriosas dessa campanha de paz, de fraternidade, de
progresso.
195
(...) Reitero, portanto, este apelo, pondo nele todo o meu ardor maçônico e toda a fé
com que creio firmemente que dentro de nossa Sublime Ordem todos têm uma só
aspiração: a de engrandecê-la, servindo-a com ardor e desprendimento.
Concorramos para que se faça a luz em todos os cérebros, para maior gloria da
Humanidade.
Saude, Paz e Prosperidade! Vosso Ir.. e Am.’.; L. S. Horta Barbosa, 33. Gr.’.. Secr.
Ger. da Ord. e Secretário GeraI da Associação (Boletim do Grande Oriente do Brasil.
Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 01, 43º ano de publicação, Jan. 1918.
pp.77-79).
192
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. op.cit. pp.87-88.
193
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 02, 43º ano de publicação,
Fev. 1918.p p.160-161.
196
194
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 04, 43º ano de publicação,
Abr. 1918.p p.329-330.
195
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 05, 43º ano de publicação,
Mai. 1918.p p.439-441.
197
admirável, traçado por Condorcet, o mais ilustre dos membros da Assembléia que
tomaram parte nos debates memoráveis sobre tão relevante matéria: “Oferecer a
todos os indivíduos da espécie humana os meios de prover as suas necessidades,
de garantir seu bem-estar, de conhecer e de exercer seus direitos, de compreender
e de cumprir seus deveres. Assegurar, a cada um deles, a facilidade de aperfeiçoar
sua indústria, de se tornar capaz das funções sociais a que tem direito de ser
chamado, de desenvolver todos os talentos recebidos da natureza; por esse meio,
estabelecer entre os cidadãos uma igualdade de facto e tornar real a igualdade
política, reconhecida pela lei. Tal deve ser o primeiro fim de urna instrução nacional;
sob este ponto de vista, ela é para o poder publico um dever de justiça. Dirigir o
ensino de modo que a perfeição das artes aumente os gozos da generalidade dos
cidadãos e o bem-estar dos que as cultivarn; que um maior número de homens se
torne capaz de bem exercer as funções necessárias à sociedade; e que o progresso
sempre crescente das luzes abra uma fonte inesgotável de soccorros ás nossas
necessidades, de remédios aos nossos males, de meios de felicidade individual e
progresso comum. Cultivar, enfim, em cada geração, as faculdades físicas,
intelectuais e morais, e, por esse meio, contribuir para o aperfeiçoamento geral e
gradual da espécie humana, último fim para o qual toda a instituição social deve ser
dirigida. Tal deve ser o objecto da instrução, que é um dever imposto pelo interesse
comurn da sociedade e de toda a Humanidade” (Boletim do Grande Oriente do
Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 06, 43º ano de publicação, Jun.
1918. pp.495-496).
Trinta e seis escolas foram criadas por várias Lojas, em diversos pontos do País, no
curto espaço dos últimos dez meses. Neste momento, em mais de 60 escolas
mantidas pelas Lojas Maçônicas, cerca de 4.000 crianças e adultos recebem
instrução gratuita no Brasil. Outras escolas estão em via de formação, inclusive um
instituto profissional neste Oriente. Além disso, várias Lojas distribuíram a alunos de
escolas municipais e particulares, prêmios diversos em medalhas de ouro e
cadernetas de depósito nas Caixas Econômicas, algumas continuam mantendo
bibliotecas, outras realizaram interessantes conferências públicas, ou prestaram
auxílios em dinheiro, trabalho e cessão de local a escolas de iniciativas profanas, e,
se não nos esquecermos, dos asilos, hospitais, dispensários e socorros mantidos
pelas Lojas, havemos de reconhecer que, fez, enfim cada uma aquilio que suas
forças permitiram (Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’.
Brasileira. op.cit. p.497).
longo tempo absteve-se de enviar seus relatórios. Neste estado, lembramos ainda,
desenvolveu-se pelo menos uma experiência de relevo da maçonaria no campo
educacional: o anteriormente citado “Gymnasio Pelotense”, na cidade de Pelotas.
No combate ao analfabetismo nacional, atrelado à já implementada
campanha de criação de escolas pela maçonaria, Nilo Peçanha propõe a estratégia
de aplicação pedagógica do sistema de ensino mútuo, em voga naquele período.
Neste sentido, propõe “professores ambulantes”, para as regiões mais distantes da
civilização. Também destaca a importância da figura feminina para as classes
iniciais e a necessidade de se fundar escolas profissionais, onde o adolescente será
preparado “como artífice da grandeza moral e material de nossa Pátria”.
Por fim, acrescenta ainda a necessidade do “adestramento” do jovem para a
defesa da pátria, completando assim “o aprendizado cívico que começa nas escolas
maternais”. Trata-se de preparar o jovem, além da instrução militar, para a “cultura
da terra”, lembrando “quão precária é a liberdade de uma nação que depende de
outra para viver, por que não produz o alimento todo de que carece”196.
Em outra parte do mesmo Boletim, assim resume a administração central o
trabalho desenvolvido pela maçonaria brasileira, e, mais especificamente, a gestão
de Nilo Peçanha à frente do grão mestrado da ordem:
ANEXO 1. A primeiro de Julho do ano findo havia para mais de trinta escolas
fundadas e mantidas pelo esforço de diversas Oficinas, não possuindo a Grande
Secretaria Geral da Ordem uma relação completa, mas tendo a certeza da
existência de 29. Daquela data em diante fundaram-se mais 36, de que foi dado
conhecimento ao Poder Central, elevando-se, portanto, o número das escolas
registradas na Gr. Secret. a 64, todas de ensino gratuito funcionando em vários
pontos da Federação, desde o Acre ao Rio Grande do Sul (Boletim do Grande
Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. op.cit. p.521).
196
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. op.cit. p p.498-501.
197
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 07, 43º ano de publicação,
Jul. 1918.p p.666-667.
199
No dia 20 de Setembro findo foi instalada à Rua Trindade, n°. 62, bairro da Lapa, S.
Paulo, a 30ª escola mista “Sete de Setembro”, em homenagem ao Pod. Ir. Dr. Nilo
Peçanha, Sob. Gr. Mestr. da Ordem. O Benemérito Ir. Nelson Teixeira,
dedicadíssimo diretor das Escolas Sete de Setembro, na prancha ao Pod. Ir. Gr.
Secr. Ger. da Ord. Int., comunicando o fato, declara: “Essa escola, pela sua
localização, será o caminho de outras tantas que levarão o veículo da difusão do
ensino àquele bairro operário. É uma porta ali aberta para o combate franco e
decisivo ao analfabetismo e uma demonstração de nossa vida aos intolerantes, hoje
já não podendo mais ocultar sua fraqueza diante de nosso avanço. É mais uma
escola a funcionar sob o influxo do venerando nome do Sob. Gr. Mestre e que virá
afirmar a grandeza de um programa por ele tão defendido e amparado” (Boletim do
Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 10, 43º ano de
publicação, Out. 1918. pp.1117-1118).
Visitei hoje a escola “Triângulo Mineiro”, que funciona nesta cidade, regida pela
digna professora D. Deolinda da Costa Beilas. A escola é subvencionada pela Loja
Maçônica que lhe dá o nome, tendo a escrituração em ordem. Acham-se
matriculados 21 alunos de ambos os sexos, a saber: 17 alunos do sexo masculino e
4 do feminino. O ensino se baseia pelo programa oficial das escolas do Estado,
estando a funcionar os três primeiros anos do curso, isto é: 1° ano com 11 alunos; 2°
com 5 e 3° com 5. São adotados os seguintes livros de leitura: “Cartilha”, de Thomaz
Galhardo, 2° Livro da série Puiggari Barreto, “Contos Pátrios” e “Leitura Manuscrita”
B. P. R. Estão em vigor os hinos escolares e exercícios de ginástica. As alunas
fazem variados trabalhos de agulha e bordados. Há adiantamento e boa disciplina
em todas as classes. A média da frequência diaria é de 20 alunos; hoje
compareceram 21. De conformidade com o Regulamento, remeta-se, ao Exmo. Sr.
Dr. Secretário do Interior, cópia do presente termo com o meu visto. Araguary, 29 de
Julho de 1918. O Inspetor Regional. Alberto da Costa Mattos (Boletim do Grande
Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. op.cit. pp.1119-1120).
202
A Gripe de 1918 (frequentemente citada como Gripe Espanhola) foi uma pandemia do vírus influenza que se
espalhou por quase toda parte do mundo. Foi causada por uma virulência incomum e frequentemente mortal de
uma estirpe do vírus Influenza A do subtipo H1N1. A designação "gripe espanhola" deu origem a algum debate
na literatura médica da época. Talvez se deva ao fato de a imprensa na Espanha, não participando na guerra, ter
noticiado livremente que civis em muitos lugares estavam adoecendo e morrendo em números alarmantes. A
201
aos atingidos pela epidemia. A loja “Cayrú”, no bairro do Méier cedeu as amplas
instalações de sua escola para a montagem de um hospital emergencial à equipe do
médico Carlos Chagas, designado para fazer o primeiro enfrentamento à doença. Na
ante-sala do templo, a loja montou dormitórios para os infeccionados. Maçons que
tinham como profissão a medicina ou a farmacologia foram arregimentados para
clinicar, aviar e doar remédios graciosamente a população, com os medicamentos
financados pelo Grande Oriente do Brasil203.
Ainda assim, nos estados onde a epidemia não se deu de forma tão severa, a
expansão de rede de escolas maçônicas prosseguiu. No Acre, as escolas fundadas
e mantidas pela loja “Fraternidade Acreana”, de 5 em 1917 passaram ao número de
13 em 1918204.
No Amazonas, a loja “Luz e União” funda na localidade de São Felipe, região
do Juruá, em 01 de junho de 1918 uma escola primária para 50 crianças,
denominada “Henrique Taborda”, nome do grão mestre em exercício daquele oriente
estadual205.
Neste atípico ano de 1918, paralelamente à grande tristeza provocada pela
gripe espanhola, teria a sociedade como um todo e a maçonaria em particular a
oportunidade de comemorar dois alvissareiros acontecimentos: o armistício que pôs
doença foi observada pela primeira vez em Fort Riley, Kansas, Estados Unidos, em 4 de Março de 1918. Os
primeiros casos na Europa ocorreram em Abril de 1918 com tropas francesas, britânicas e americanas,
estacionadas nos portos de embarque na França. Em Maio, a doença atingiu a Grécia, Portugal e Espanha. Em
Junho, a Dinamarca e a Noruega. Em Agosto, os Países Baixos e a Suécia. Todos os exércitos estacionados
na Europa foram severamente afetados pela doença, calculando-se que cerca de 80% das mortes da armada
dos EUA se deveram à gripe. A pandemia desenvolveu-se em três ondas epidêmicas: A primeira, mais benigna,
termina em Agosto de 1918. A segunda inicia-se no outono e termina entre os meses de Dezembro e Janeiro,
tendo sido de extraordinária gravidade, afetando uma grande parte da população e com uma taxa de
letalidade de 6 a 8%. A terceira e derradeira, começa em Fevereiro de 1919 e termina em Maio do mesmo ano. A
pandemia caracterizou-se mundialmente pela elevada mortalidade, especialmente nos setores jovens da
população e pela freqüência das complicações associadas. Calcula-se que afetou 50% da população mundial,
tendo matado 20 a 40 milhões de pessoas, pelo que foi qualificada como o mais grave conflito epidêmico de
todos os tempos. A falta de estatísticas confiáveis, principalmente no Oriente (como China e Índia) pode ocultar
um número ainda maior de vítimas.
No Brasil a doença chegou em setembro de 1918. No dia 24 daquele mês a Missão Médica enviada pelo país
para ajudar no esforço de guerra francês foi atingida pela gripe no porto de Dacar, Senegal, que à época era
colônia francesa. No mesmo mês chegou ao país o paquete “Demerara”, vindo da Europa, e que é apontado por
alguns autores como o primeiro navio portador do vírus para dentro do Brasil. Em poucos dias a epidemia
irrompeu em diversas cidades: Recife, Salvador e Rio de Janeiro, chegando em novembro de 1918 à Amazônia.
Foram registradas em torno de 300 mil mortes relacionadas à epidemia. A doença foi tão severa que vitimou até
o Presidente da República, Rodrigues Alves, em 1919.
203
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 11, 43º ano de publicação,
Nov. 1918.p p.1220-1227.
204
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. op.cit. p p. 1227-1228.
205
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. op.cit. p p. 1228-1229.
202
206
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. op.cit. p p. 1238-1241.
207
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 02, 44º ano de publicação,
Fev. 1919. p.198.
208
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. op.cit. p p. 286-287.
209
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. op.cit. p. 355
210
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 05, 44º ano de publicação,
Mai. 1919. p.445.
203
211
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 06, 44º ano de publicação,
Jun. 1919. p.567.
212
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. op.cit. p.568.
204
213
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 08, 44º ano de publicação,
Ago. 1919. p.831-834.
214
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. op.cit. p.811.
205
coloca a ordem maçônica em uma posição até então inaudita para seus obreiros. Ao
quase ser “empastelada” a sede do Grande Oriente, a maçonaria brasileira vê-se,
pela primeira vez surpeendida e distanciada da vanguarda dos acontecimentos.
Apesar deste contratempo, o trabalho de criação de escolas continua. A loja
“Sete de Setembro” comunica ao poder central que vem tentando obter da Câmara
dos Deputados auxílio do orçamento da república para o ano de 1921. Justifica a
intenção pelo fato de querer elevar, em 1922 a cem o número de suas escolas, com
a matrícula aproximada de dez mil alunos. A pretensão se deve ao planejamento
das comemorações do centenário da independência do Brasil, a serem realizadas
no ano de 1922. No mês de setembro de 1919, informa a loja que mantém 39
escolas de bastante procura pela população, visto que a matrícula das mesmas
sempre se encerra antes da instalação dos novos educandários215.
Outra boa notícia que atesta o progresso da campanha da maçonaria no
terreno educacional, publicada no jornal “A Ordem” e transcrita em oito laudas para
o Boletim de setembro é que, finalmente, no Rio de Janeiro se inaugura a “Escola
Profissional José Bonifácio”, instituição projetada desde o início do século na forma
inicial do extinto “Liceu do Grande Oriente”, e, posteriormente no “Asilo Henrique
Valadares”, antecessores que não alcançaram o objetivo de tornarem-se escolas
profissionalizantes216.
Deste modo, informa o boletim que foi inaugurada no dia 14 de setembro a
almejada instituição, na Rua Ana Barbosa, 16, no bairro do Méier. A Escola
Profissional José Bonifácio possui uma tipografia; outro projeto há muito almejado
pela ordem. Estas oficinas gráficas são mantidas pela Sociedade de Filantropia
Maçônica, amálgama do antigo Asilo Henrique Valadares e do Hospital Maçônico,
cujas empreitadas são concentradas na nova iniciativa.
A fita inaugural foi descerrada pelo grão mestre interino da ordem, general
Thomaz Cavalcanti de Albuquerque, visto que o grão mestre Nilo Peçanha, reeleito
em junho para novo mandato não assumiu o posto por, paralelamente, ter sido eleito
senador da república e encabeçar a campanha da “reação republicana”, que mais à
frente o levaria a candidatar-se à presidência do país. Dez dias depois, em 24 de
215
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 09, 44º ano de publicação,
Set. 1919. p.946.
216
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. op.cit. pp.958-966.
206
setembro, Nilo Peçanha encaminhará à assembléia geral da ordem sua carta oficial
de renúncia ao grão mestrado.
Do discurso proferido pelo orador oficial do evento, Dr. Mário Gitahy de
Alencastro, destaca-se uma útil síntese das escolas mantidas pela ordem em todo o
Brasil naquele momento:
217
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. op.cit. p.966.
218
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 10, 44º ano de publicação,
Out. 1919. pp.1160-1161.
208
219
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 11, 44º ano de publicação,
Nov. 1919. pp.1300-1302.
209
220
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 12, 44º ano de publicação,
Dez. 1919. pp.1380-1382.
210
A nossa Constituição deve ser reformada. de maneira que seja estabelecida maior
unidade na. Federação. As dissenções, que tem havido, são em grande parte
devidas à falta de providências prontas e acertadas. Torna-se, por isso,
imprescindível que o Grão-Mestrado seja armado de poderes que lhe dêm a
competência de resolver por si, ou por seus delegados, todas as questões urgentes,
sem a delonga de demorados pareceres, desde que estejam previstas pela
Constituição e. pelas leis maçônicas. É preciso também dar à Maçonaria uma ação
de maior eficácia em favor dos atuais problemas sociais, empregando-se nosso
valor para beneficiar a coletividade, donde resulte o bem para nós todos (Boletim do
Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 06, 45º ano de
publicação, Jun. 1920. p.590).
221
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 03, 45º ano de publicação,
Mar. 1920. pp.283-288.
222
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 05, 45º ano de publicação,
Mai. 1920. p.519.
211
A Gr.. Ben. e Benf. Loj. Cap. Sete de Setembro, de S. Paulo, afim de completar seu
programa de instrução, vem de instalar, em Mogi das Cruzes, salubérrirno subúrbio
da capital do Estado, seu primeiro Instituto de ensino, seção masculina,
pretendendo, muito brevemente, fundar, nessa localidade, o segundo, para a seção
feminina. O Instituto receberá meninos da idade de 8 anos em diante, internos, semi-
internos e externos. Dispondo de elementos de indiscutível competência, seu corpo
docente assegura um ensino fácil, proveitoso e econômico, observadas todas as
regras da pedagogia moderna.
O edificio do Instituto é um dos melhores de Mogy das Cruzes, pois possui todos os
requisitos exigidos pela higiene, com acomodações amplas e grande área de terreno
para recreio, esportes, atletismo, etc., sendo o clima daquele Or. muito
recomendável, o que torna o Instituto um verdadeiro sanatório.
A creação do Instituto satisfaz a aspiração da Maçonaria paulista de ter um colégio
interno, onde os filhos dos Maçons possam ser acolhidos de preferência e educados
convenientemente. A Diretoria do Instituto reservou alguns lugares gratuitos para
órfãos, que foram colocados à disposição das autoridades locais e serão
aumentados de acordo com o progresso do estabelecimento.
Extratamos estas informações da circular na qual o Ben. Ir. Major Nelson Teixeira,
Diretor Geral das Escolas Sete de Setembro, participou às altas autoridades da Ord.
a instalação do Instituto, o que fez o Pod. Ir. 33. General Thomaz Cavalcanti, Sob.
Gr. Mestr., expedir-lhe um telegr., louvando-o por mais esse relevante serviço que
ele assim presta à nossa Subl. Inst. (Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal
Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 07, 45º ano de publicação, Jul. 1920. pp.730-
731).
223
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 06, 45º ano de publicação,
Jun. 1920. p.624.
224
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 07, 45º ano de publicação,
Jul. 1920. p.723.
212
225
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 10, 45º ano de publicação,
Out. 1920. pp.1111-1112.
226
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. op.cit. pp.1069-1070
213
DispensárIo Yolanda
Extrações de dentes inaproveitáveis, 132.
Exames de boca, 4.
Obturações diversas, 37.
Tratamento de abcessos, 3.
Extração de tártaro e limpeza geral da boca, 20.
Restauração, 1.
Curativos diversos, 236.
(Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 10,
45º ano de publicação, Out. 1920. pp.1118).
227
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 11, 45º ano de publicação,
Nov. 1920. pp.1215-1217.
214
A Gr.’. Secretaria Ger.. da Ord.. acaba de receber da Ben.. Loj., Cap.. Estrela
d’Oeste, ao Or.’. de Ribeirão Preto, Estado de S. Paulo, os mapas das duas escolas
mantidas pela Oficina e que funcionam com a máxima regularidade. Vê-se, pelo do
mês de Agosto último, que a escola noturna, para o sexo masculino, foi fundada em
15 de Novembro de 1908, tendo 45 alunos rnatriculados. A outra, mista, diurna, se
instalou a 4 de Agosto de 1915 e conta inscritos na respectiva matrícula 36 alunos. É
professora desses estabelecimentos de ensino, D. Filomena Corrêa de Mattos.
A Resp. .Loj. .Cap..Regeneração Barbacenense ao Or.. de Barbacena, Estado de
Minas, também se associou à benemérita ação da Maçonaria brasileira contra o
analfabetismo. Assim, em 3 de Novembro findo, a Of. vem de fundar, sob seus
auspícios, uma escola primária, matriculando nela 20 alunos, que ali receberão
instrução cívico-literária.
Em 30 de Setembro do corrente ano o número de alunos matriculados nas escolas
da Gr. Benem. e Benfeitora Loj. Cap. Sete de Setembro, de S. Paulo, attingiu a
4.018. Depois da estatística que publicamos há 3 meses, foram instaladas as 41ª e
42ª escolas e ultimamente as 43ª e 44ª, em bairros da capital de S. Paulo, isto é,
aquela em Sant’Anna e esta em Barra Funda. Escusado é dizer que tão assombrosa
atividade é obra do Ben. Ir.’. Major Nelson Teixeira, Diretor das escolas.
Das 9 escolas da Benfeitora Loj.. Cap.’. Fraternidade Acreana, ao Or.. de Cruzeiro
do Sul, Departamento do Alto Juruá, Território Federal do Acre, uma apenas, a
“Rego Barros”, é diurna para menores. As demais, noturnas e frequentadas por
adultos: seringueiros e lavradores, têm prestado grandes serviços civicos, pois já
fizeram eleitores mais de quinze indivíduos que, quando pediram matrícula nas
mesmas, eram completamente analfabetos (Boletim do Grande Oriente do Brasil.
Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 12, 45º ano de publicação, Dez. 1920.
pp.1327-1328).
229
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 02, 46º ano de publicação,
Fev. 1921. pp.166-171.
230
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 03, 46º ano de publicação,
Mar. 1921. p.245.
216
O Asilo de Orfãos “Analia Franco” que funciona em Juiz de Fora, Estado de Minas,
foi instalado, em 12 de Julho de 1919, pelo Ir.. Francisco Antonio Bastos, viúvo da
educadora Anália Franco, a qual em sua existência teve a oportunidade de prestar
grandes serviços à causa da instrução, fundando quase um cento de
estabelecimentos de ensino. Ultimamente esse asilo tinha uma matricula de 100
crianças, sendo 75 externos e 25 internos (Boletim do Grande Oriente do Brasil.
Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 03, 46º ano de publicação, Mar. 1921.
p.254).
231
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 03, 46º ano de publicação,
Mai. 1921. p.405-406.
217
rebeldes e todos os maçons destes quadros, restando fiéis ao poder central apenas
nove outras lojas naquele Estado. Na leva da expulsão, se incluem diversas oficinas
fundadoras de escolas maçônicas; inclusive a “Sete de Setembro” e o major Nelson
Teixeira, obreiro daquele quadro e diretor das 43 escolas “Sete de Setembro”232.
A par do breve retorno, já no mês seguinte, de cerca de trinta oficinas de São
Paulo ao Grande Oriente do Brasil, talvez para “mostar serviço”, pela primeira vez
um boletim do GOB apresenta em seu corpo a fotografia de uma escola maçônica.
Fonte: Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 09, 46º ano
de publicação, Set. 1921. p.836.
232
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 08, 46º ano de publicação,
Ago. 1921. p.666-669.
233
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 09, 46º ano de publicação,
Set. 1921. p.836.
218
234
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. op.cit p.837.
235
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 10, 46º ano de publicação,
Out. 1921. pp.946-947.
219
238
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 01, 47º ano de publicação,
Jan. 1922. p.4.
239
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 02, 47º ano de publicação,
Fev. 1922. p.127.
221
240
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 03, 47º ano de publicação,
Mar. 1922. pp.201-211.
241
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 04, 47º ano de publicação,
Abr. 1922. pp.264-265.
222
242
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 06, 47º ano de publicação,
Jun. 1922. pp.402-403.
243
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. op.cit. pp.405.
223
244
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 09, 47º ano de publicação,
Set. 1922. pp.737-739.
245
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. op.cit. pp.891-902.
224
Campinas, São Paulo, cria uma escola feminina, dedicada às artes do desenho e da
pintura246.
Os boletins dos meses finais de 1922 nada acrescentam à esta pesquisa.
Lamentavelmente, não conseguimos acesso aos boletins de todo o ano de 1923.
Mas o boletim de janeiro de 1924 apresenta mais uma tabela informativa do
quantitativo de escolas e matrículas dos grupos escolares maçônicos, o que nos
permite avaliar o trabalho realizado no campo da criação de edificações escolares
durante este hiato.
Até 31 de dezembro de 1923, segundo as informações recebidas pela grande
secretaria geral da ordem, existiam 136 escolas maçônicas em atividade, atendendo
7.030 alunos247. Em comparação com a última tabela a qual tivemos acesso, de
junho de 1922, que informava 125 escolas e 6.471 alunos matriculados; em dezoito
meses, a ordem criou onze educandários, com um acréscimo de 559 alunos
matriculados na rede.
Os dados atestam que a gestão do grão mestre Mário Behring deixou de lado
o incentivo às escolas maçônicas, que eram intensos nas sucessivas gestões de
Deodoro da Fonseca, Antônio Joaquim de Macedo Soares, Quintino Bocayuva,
Lauro Sodré e Nilo Peçanha. Manteve-se estável na gestão de Thomaz Cavalcanti
de Albuquerque, que a passou mais em viagens do que no posto, cedendo-o a seu
adjunto, o próprio Behring; para este último, em seu mandato passar a apenas
administrar o trabalho anteriormente implantado.
246
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 10, 47º ano de publicação,
Out. 1922. pp.1025-1026.
247
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 01, 49º ano de publicação,
Jan. 1924. p.68.
225
questão. Deixa de ser o objetivo principal a fundação de mais uma escola. O que se
destaca é a aquisição de mais um imóvel.
O conteúdo dos boletins, antes rico em informações de atividades de
benemerência, e em filosofia e simbologia maçônica, inclusive no campo da
educação e da instrução, torna-se cada vez mais burocrático e visivelmente pré-
concebido, predominando em suas páginas, os anúncios das nomeações para
cargos, os óbitos e os pedidos de demissão de antigos maçons no poder central.
A única notícia concernente ao teor desta tese, se dá no boletim de março-
abril, onde, em 16 de março de 1924, é assentada no Rio de Janeiro a pedra
fundamental do “Orfanato Maçônico”, em terreno situado à Rua Paraguai, esquina
da Travessa Hermengarda, Méier. Obra a muito almejada pelos maçons, e que na
gestão de Behring parecia que se concretizaria.
A expectativa era que o prédio, no projeto arquitetônico que é apresentado no
boletim, bastante imponente, seria construído em breve período a partir de parte da
gigantesca dotação de 500:000$000 (quinhentos contos de réis) que Behring
conseguira aprovar especificamente para este fim quando ainda adjunto de Thomaz
Cavalcanti. Entretanto, a construção jamais veio a ser inaugurada. Pelo menos não
ali, e não nesta gestão.
Fonte: Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Números 02-03, 49º ano de
publicação, Fev-Mar., 1924. p.160.
227
Em meio a seu discurso neste dia, o grão mestre proferiu, talvez sem o saber,
uma profecia enviezada, que marcaria um divisor na história da maçonaria brasileira:
248
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 06, 49º ano de publicação,
Jun. 1924. p.345.
249
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 07, 49º ano de publicação,
Jul. 1924. p.450.
250
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 08, 49º ano de publicação,
Ago. 1924. p.536.
251
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 09, 49º ano de publicação,
Set. 1924. pp.631-635.
228
Fonte: Boletim do Grande Oriente do Brasil, Número 09, Set. 1924, p.628.
252
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. op.cit. p.628.
253
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. op.cit. p.634.
229
Fonte: Boletim do Grande Oriente do Brasil, Número 09, Set. 1924, p.634.
254
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Números 10-12, 49º ano de
publicação, Out-Dez. 1924. p.694.
255
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. op.cit. pp.698-703.
256
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. op.cit. p.706.
231
Pede a palavra o Pod.. Ir.’. Dr. Mário Bulhão, para, repetindo quanto já declarou no
Congresso Maçônico, afirmar que esse movimento contra a reeleição do Grão
Mestre não visa a pessoa do Dr Mário Behring, cidadão inatacável e cuja moral e
serviços à Ordem sempre reconheceu. Em seguida se refere à proclamação da
independência do Brasil dentro da Maçonaria, coisa que, em sua opinião, ocorreu no
dia 20 de Agosto de 1822 e não a 9 de Setembro, embora saiba que nesta data, da
época, não se poderia ter ciência, no Rio, do grito do Ypiranga. Entretanto, se
reserva o direito de retratar do assumto, pois conseguiu, da Diretoria tie Instrução
Pública Municipal, que os compêndios escolares sobre História do Brasil
consignassem aquele acontecimento tão glorioso para nossa Ordem (Boletim do
Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Números 03-04, 50º ano
de publicação, Mar-Abr. 1925. p.121).
257
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Números 01-02, 50º ano de
publicação, Jan-Fev. 1925. p.07.
258
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. op.cit. p.67.
232
O Poderoso Ir.’. Dr. Castro Pacheco pergunta ao Dr. BuIhão quem pretende extinguir
o Gr. Or. do Brasil, segundo alega o documento lido por ele. Em resposta, o Pod. Ir.’.
Dr. Mário Bulhão lê o § único do Art,. 20 das bases para a reforma Constitucional,
assim como outras disposições de tal trabalho, por onde se vê a pretendida extinção
do Gr.’. Or. do Brasil (Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’.
Brasileira. op.cit. p.122).
259
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Números 03-04, 50º ano de
publicação, Mar-Abr. 1925. p.146.
233
No dia imediato visitou o templo do Gr. Or. de São Paulo, sendo ali acatado como
Gr. Mestr. da Maçonaria Brasileira. Viajou até Santos, para visitar uma Loja, que lhe
fez percorrer suas obras maçônicas. Foi ver o que é e vale o Asylo Anália Franco.
Deu recepção a todos os Irmãos, indo, depois, às escolas rnaçôricas, que lhe
causaram magnífica impressão, porquanto viu crianças de 4 anos cantarem o hino
nacional. Enfim, saiu de S. Paulo convencido de que a união era um fato. Antes de
regressar, o Ir. Vicente Fulfaro o procurou, afim de lhe participar a doação que fizera
260
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Números 09-10, 50º ano de
publicação, Set-Out. 1925. p.473.
235
263
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 02, 52º ano de publicação,
Fev. 1927. pp.126-127
264
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 05, 52º ano de publicação,
Mai. 1927. pp.324-325
238
265
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Números 05-06, 53º ano de
publicação, Mai-Jun. 1928. pp.307-308
239
266
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 08, 54º ano de publicação,
Ago. 1929. pp.389-390
267
Boletim do Grande Oriente do Brasil. Jornal Oficial da Maç.’. Brasileira. Número 04, 55º ano de publicação,
Abr. 1930. p.131.
240
Nota: O texto informa que, na véspera da sua inauguração, o Instituto já possuía 20 órfãs ali internadas.
Fig. 34. Jornal Diário Carioca. 17/12/1961. O artigo informa que parte do trabalho artesanal
das crianças é revertido para as mesmas na forma de receita pecuniária para a sua vida
adulta futura
248
Certas noções e práticas que eram aceitas como evidentes são objeto de um novo
exame que se interroga tanto sobre suas condições de possibilidade como sobre os
sentidos com que estão investidos: é o caso da história global e da história nacional
(...) reflexionadas sobre a construção e a natureza das identidades sociais, tanto de
grupos quanto de indivíduos, sobre a interpretação de suas trajetórias e estratégias
(REVEL, 2002, p. 147).
Para a Revolução, educação pública significava acima de tudo isto: formar as almas.
Em 1792, a seção de propaganda do Ministério do Interior (da França) tinha
exatamente este nome: Bureau de l’Esprit (CARVALHO, 2012, p.11).
povo. É nele que as sociedades definem suas identidades e objetivos, definem seus
inimigos, organizam seu passado, presente e futuro (CARVALHO, 2012, p.10).
construção de escolas e bibliotecas, que hoje fazem parte da atual rede de ensino
nacional.
Por fim, urge que deixemos de lado ideias arcaicas, tratando de evitar os
equívocos do “Simplício” oculto no âmago de cada um de nós. Tornemo-nos um
pouco mais livres-pensadores, livrando-nos de preconceitos e visões preconcebidas
sobre a Educação Brasileira.
Já é tempo. Façamos uso da luneta do bom senso.
260
REFERÊNCIAS
1 FONTES PRIMÁRIAS
2 FONTES SECUNDÁRIAS
COSTA, Ana Luíza Jesus. À luz das lamparinas. As escolas noturnas para
trabalhadores no município da Corte (1860-1889). 2007. Dissertação
(Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade do Estado
do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007.
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ano 8, n.20, p.26-8, 1998.
MANN, Horace. A educação dos homens livres. São Paulo: Ibrasa, 1963.
PROST, Antoine. Doze lições sobre a História. São Paulo: Autêntica, 2009.
SANTIAGO, Silviano. Nas malhas da Letra. São Paulo: Cia. Das Letras,
1989.
275
2.2 Maçonaria
AMIABLE, Louis. Une Loge maçonnique d’avant 1789: la loge des neuf
souers. Monografia, Arquivos do Grande Oriente de França, 1897.
HALÉVI, Ran. Les Loges maçonniques dans la France d'Ancien Régine: aux
origines de la sociabilité démocratique. Paris: Librairie Armand Colin, 1984.
HALL, Manly Parker. Las enseñanzas secretas de todos los tiempos: una
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Rosacruz. Madrid: Martínez Roca, 2011.
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Boletim
Loja Cidade/Estado Escola/Data Pág.
GOB
N° 12,
Independência Barra Mansa – Esc. Conselheiro
001 Dez. 1305
e Luz RJ Vieira da Silva
1922
N° 2,
Porto Alegre – Esc. Noturna e
002 Luz e Ordem Abr. 51
RS Liceu
1890
N° 4,
003 Harmonia Belém – PA Colégio Antunes Jun. 110
1890
N° 4-5,
Amor e
004 Macau – RN Esc. Primária Jun-Jul., 201
Sinceridade
1893
N° 1-4,
Benemérita em Mar-
005 Independência 16
22/06/1894 Jun.,
1894
N° 8-9,
Independência Esc. Noturna – Out-
006 Resende – RJ 200
e Luz 21/10/1894 Nov.,
1894
N° 1,
Asylo de Esc. Noturna –
007 Petrópolis – RJ Mar.189 7
Caridade 24/11/1894
5
N° 1,
Cruzeiro do Sul Uruguaiana – Esc. Noturna –
008 Mar. 8
II RS 20/03/1895
1895
N° 9-10,
Ganganelli do Nov-
009 Guanabara – RJ Lyceu Ganganelli 388
Rio Dez.
1895
N° 7-8,
Esc. Noturna –
010 Piracicaba Piracicaba – SP Set-Out. 480
10/07/1896
1896
N° 9,
Perseverança Esc. Noturna –
011 Sorocaba – SP Nov. 555
III 15/11/1896
1896
Atheneo N° 7-8,
São José do Rio
012 Avanhandrava Riopretense – Set-Out. 362
Preto – SP
25/09/1897 1897
N° 10,
Conciliação 2 Escolas –
013 Manaus – AM Dez. 610
Amazonense 22/12/1899
1899
284
N° 2,
Esc. Mista Guia do
015 Guia do Futuro Botucatu – SP Abr. 120
Futuro – 02/04/1903
1903
Honra a
Saldanha
N° 5,
Marinho (Loja Esc. Feminina
016 Campos – RJ Jul. 360
de Adoção Annyta Bocayuva
1903
Annyta
Bocayuva)
N° 10,
Perseverança
017 Sorocaba – SP Lyceu – 22/12/1903 Dez.
III
1903
N° 10,
018 Rio Branco III Piratiny – RS Esc. Noturna Dez.
1903
N° 10,
Sta. Mª Esc. Noturna –
019 Magdalena Dez.
Madalena – RJ 22/12/1903
1903
Asylo Henrique N° 10,
GOB – Poder
020 Guanabara – RJ Valladares – Dez.
Central
21/12/1903 1903
N° 1,
Curso Comercial –
021 21 de Março Natal – RN Mar. 48
15/01/1904
1904
N° 8,
União e Ouro Preto –
022 Esc. Monte Líbano Out. 620
Fraternidade III MG
1904
N° 11,
Fraternidade Esc. José Carvalho
023 Curitiba – PR Jan. 943
Paranaense – 07/09/1899
1904
N° 10,
Asylo Henrique Curso Noturno –
024 Guanabara – RJ Dez. 405
Valladares 09/01/1909
1908
N° 1,
Accacia Esc. Primária –
025 Vitória – ES Jan. 443
Victoriense 25/12/1908
1909
N° 9,
Esc. Noturna +
026 Cayrú Guanabara – RJ Nov. 387
Biblioteca
1909
N° 10,
Fraternidade e
027 Goyanna – PE Esc. Primária Out. 759
Progresso
1910
285
N° 10,
Obreiros do
028 ? – PE Esc. Primária Out. 759
Norte
1910
N° 10,
Instrucção e Pau D’Alho – Esc. Primária +
029 Out. 759
Beneficência PE Biblioteca
1910
N° 11,
Deus e Esc. Lauro Sodré –
030 Pilar – AL Nov. 900
Verdade 22/08/1905
1910
Primeiras 8 escolas
do “Grupo Escolar
N° 12,
Sete de Sete de Setembro”,
031 São Paulo – SP Dez. 1054
Setembro que chegou a fundar
1910
43 escolas –
19/12/1910
Curso de
N° 2,
Escrituração e
032 Acre Xapurí – AC Fev. 27
Esperanto –
1910
02/1910
N° 8,
033 Cosmopolita Belém – PA Colégio Maçônico Ago. 598
1910
N° 3,
034 ? Pelotas – RS Gymnasio Pelotense Mar.191 167
2
N° 8,
034 Cosmopolita Belém – PA Esc. Lauro Sodré Ago. 640
1912
N° 8,
Esc. Frederico de
035 Cosmopolita Belém – PA Ago. 640
Almeida
1912
N° 8,
Esc. Saldanha
036 Cosmopolita Belém – PA Ago. 640
Marinho
1912
N° 8,
037 Cosmopolita Belém – PA Esc. Macedo Soares Ago. 640
1912
N°12,
Esc. Aurora –
038 Aurora Belém – PA Dez. 926
13/05/1912
1912
N° 1-12,
Fraternidade e Jan-
039 ? – ES Esc. Noturna 56
Luz Dez.
1913
N° 5,
Esc. Noturna –
040 Frei Caneca Limoeiro – PE Mai. 301
05/02/1913
1913
286
N° 6,
Philantropia Guarapuava – Esc. Not. Albino
041 Jun. 423
Guarapuavana PR Silva
1913
N° 6,
Clemência e
042 Ypiranga – PR Esc. José Bonifácio Jun. 423
Perseverança
1913
N° 2,
043 ? Rio Negro – PR Esc. Brasil Cívico Fev. 85
1914
N° 6,
Paranaguá – Esc. Not. Lauro
044 Perseverança Jun. 357
PR Sodré
1914
Assoc. de Moços N° 6,
045 Luz Invisível Curitiba – PR Acadêmicos “Corda Jun. 389
Fratris” 1914
N° 10,
046 Padre Eutychio Mosqueiro – PA Esc. Noturna Out. 848
1915
N° 11,
047 Lealdade e Brio Resende – RJ Esc. Noturna Nov. 1065
1916
N° 1,
Estrela Caldas Novas – Esc. São João de Jan-
048 82
Caldense MG Escossia Dez.
1916
N° 4,
União
049 Guanabara – RJ Escola Hiram Abr. 263
Escosseza
1916
N° 7,
050 GOB-CE Fortaleza – CE Esc. Sete de Janeiro Jul. 594
1916
N° 8,
Esc. Couto
051 GOB-CE Fortaleza – CE Ago. 632
Fernandes
1916
N° 2,
Confraternidade Conceição de
052 Extren. Macabu Fev. 140
Macabuense Macabu – RJ
1917
N° 4,
Força e União Esc. Força e União
053 Salvador – BA Abr. 362
II – 21/04/1917
1917
N° 6,
Independência Barra Mansa – 2ª Escola +
054 Jun. 491
e Luz RJ Biblioteca
1917
N° 10,
055 Cosmopolita Belém – PA Esc. Primária Out. 1060
1917
Cruzeiro do Sul N° 12,
Fraternidade
056 – Alto Juruá – 5 Esc. Primárias Dez. 1270
Acreana
AC 1917
287
N° 12,
Fraternidade Esc. Primária –
057 Santos – SP Dez. 1266
de Santos 15/11/1917
1917
N° 4,
Dispensário Esc. Not. Rio Negro
058 Manaus – AM Abr. 307
Maçônico – 26/03/1916
1916
N° 2,
Fraternidade 2ª Esc. Primária –
059 Santos – SP Fev. 160
de Santos 14/01/1918
1918
N° 2,
Perseverança
060 Sorocaba – SP + 2 Esc. Noturnas Fev. 161
III
1918
N° 5,
Firmeza e Colégio Firmeza e
061 Belém – PA Mai. 439
Humanidade Humanidade
1918
N° 7,
Estrela Caldas Novas –
062 Esc. Cayrú Jul. 729
Caldense MG
1918
N° 7,
Estrela Caldas Novas –
063 Instituto Olavo Bilac Jul. 729
Caldense MG
1918
N° 7,
São João Del Esc. João Gonzaga
064 Cháritas Jul. 732
Rey – MG – 30/05/1918
1918
N° 7,
Cataguazes –
065 Cataguazes Esc. Noturna Jul. 734
MG
1918
N° 8,
Barra do Rio Colégio Pharol do
066 Pharol do Sul Ago. 859
Grande – RS Sul – 14/07/1918
1918
N° 8,
Fraternidade Santo Antonio Esc. Primária –
067 Ago. 859
Paduense de Pádua – RJ 01/07/1918
1918
N° 8,
Fraternidade e Senna Esc. Noturna Nilo
068 Ago. 859
Trabalho Madureira – AC Peçanha
1918
N° 8,
São Gabriel –
069 Rocha Negra Esc. Noturna Ago. 859
RS
1918
N° 10,
Triângulo Esc. Triângulo
070 Araguari – MG Out. 1119
Mineiro Mineiro
1918
Cruzeiro do Sul N° 11,
Fraternidade
071 – Alto Juruá – +8 Esc. Noturnas Nov. 1227
Acreana
AC 1918
N° 11,
São Felipe – Esc. Prim. Henrique
072 Luz e União Nov. 1228
Juruá – AM Taborda
1918
288
N° 12,
Firmeza e Benjamin Esc. Lauro Sodré –
073 Dez. 1416
Amor Constant – AM 06/12/1918
1918
N° 2,
Ordem e Esc. Padre Mossoró
074 Quixadá – CE Fev. 198
Justiça – 04/02/1919
1919
Esc. Saldanha N° 3,
Restauração
075 Recife – PE Marinho – Mar. 286
Pernambucana
27/01/1919 1919
N° 11,
Faria Lemos – Esc. Feminina –
088 Novo Século Nov. 1300
MG 08/1918
1919
Sociedade de N° 11,
Rio de Janeiro – Esc. Primária –
089 Filantropia Nov. 1300
RJ 15/09/1919
Maçônica 1919
Esc. Saldanha N° 3,
Fraternidade Humaitá – Alto
090 Marinho – Mar. 283
Acreana Juruá – AC
14/07/1919 1920
N° 3,
Fraternidade Humaitá – Alto Esc. Rego Barros –
091 Mar. 283
Acreana Juruá – AC 23/08/1919
1920
Esc. Mista Not. N° 5,
Regeneração
092 ? – PB Carneiro da Cunha Mai. 519
do Norte
– 01/02/1919 1920
N° 5,
Regeneração Esc. Mista Aragão
093 ? – PB Mai. 519
do Norte Sobrinho
1920
Cruzeiro do Sul N° 5,
Fraternidade Esc. Primária –
094 – Alto Juruá – Mai. 519
Acreana 01/10/1919
AC 1920
N° 6,
Perseverança + 2 Esc. Noturnas –
095 Sorocaba – SP Jun. 624
III 04/1920
1920
N° 7,
Xapurí – Alto Esc. Primária –
096 União Acreana Jul. 723
Acre – AC 13/05/1920
1920
N° 7,
Sete de Mogi das
097 Colégio Interno Jul. 730
Setembro Cruzes – SP
1920
Esc. Senador N° 10,
Amor e
098 Petrópolis – RJ Porciúncula – Out. 1111
Caridade V
14/07/1920 1920
N° 10,
Trabalho,
099 Guarará – CE +1 Esc. Primária Out. 1111
Caridade e Luz
1920
Cruzeiro do Sul Esc. Noturna N° 10,
Fraternidade
100 – Alto Juruá – Thomas Cavalcanti Out. 1112
Acreana
AC – 07/06/1920 1920
N° 10,
Regeneração Florianópolis – Esc. Noturna –
101 Out. 1112
Catarinense SC 02/08/1920
1920
N° 11,
Independência Esc. Francisco
102 Campinas – SP Nov. 1216
e Ordem II Glycério
1920
290
N° 11,
Independência
103 Campinas – SP Esc. Bento Quirino Nov. 1216
e Ordem II
1920
Esc. Noturna N° 12,
Ribeirão Preto -
104 Estrela D’Oeste Masculina – Dez. 1327
SP
15/11/1908 1920
N° 12,
Ribeirão Preto – Esc. Diurna Mista –
105 Estrela D’Oeste Dez. 1327
SP 04/08/1915
1920
Esc. Primária N° 12,
Regeneração Barbacena –
106 Hermillo Penna – Dez. 1327
Barbacenense MG
03/11/1920 1920
N° 1,
Rio de Janeiro –
107 Cayrú +1 Esc. Primária Jan. 98
RJ
1921
N° 1,
Esc. Prim. Antonio
108 Antonio Baena Belém – PA Jan. 98
Baena – 07/09/1920
1921
Cruzeiro do Sul Esc. Primária N° 1,
Fraternidade
109 – Alto Juruá – Macedo Soares – Jan. 98
Acreana
AC 01/11/1920 1921
N° 1,
União e Canavieiras – Esc. Frei Caneca –
110 Jan. 98
Caridade BA 1921
1921
N° 3,
Cavaleiros da Esc. Bento Quirino –
111 Recife – PE Mar. 245
Cruz 1921
1921
N° 3,
Cavaleiros da Esc. Francisco
112 Recife – PE Mar. 245
Cruz Glycério – 1921
1921
Esc. Verdadeira N° 5,
Verdadeira
113 Carangola – MG Caridade – Mai. 405
Caridade
28/03/1921 1921
N° 9,
União e Canavieiras – Esc. Frei Caneca –
114 Set. 836
Caridade BA 07/09/1921
1921
N° 9,
Esc. Primária Luso
115 Rio Branco IV São Luiz – MA Set. 837
Torres – 07/09/1921
1921
Esc. Primária N° 10,
116 Evolução II Natal – RN Feminina – Out. 946
07/09/1921 1921
Esc. Not. Mista N° 12,
Fraternidade
117 Castro – SP Treze de Maio – Dez. 1189
Castrense
13/05/1921 1921
291
Esc. Primária
N° 1,
Edmundo
118 Rio Branco IV São Luiz – MA Jan. 59
Fernandes –
1922
15/01/1922
Esc. Feminina
N° 10,
Independência Desembargador
124 Campinas – SP Set. 1026
e Ordem II Pinto da Rocha –
1922
07/09/1922
Esc. Secundária N° 6,
Vinte e Um de
125 Natal – RN Feminina Vigário Jun. 345
Março
Bartholomeu – 1923 1924
N° 1-2,
Esc. Sete de
Mensageiros Garanhuns – Jan-
130 Setembro – 67
do Bem PE Fev.
07/09/1924
1925
N° 3-4,
Libertadora Esc. Noturna Cel. Mar-
131 Tarauacá – AC 146
Acreana Pinheiro Cavalcanti Abr.
1925
Esc. Primária
N° 9-10,
Fraternidade Quinze de
132 Parnaíba – PI Set-Out. 473
Parnaibana Novembro –
1925
15/11/1924
N° 2,
Confraternidad Esc. Primária –
134 Cantagalo – RJ Fev. 126
e Beneficente 01/04/1925
1927
N° 8,
Fraternidade
137 Campos – RJ 3 Esc. Primárias Ago. 389
Campista
1929
N° 4,
Esc. Primária –
138 Lealdade e Brio Resende – RJ Abr. 131
01/03/1930
1930
293
INTRODUÇÃO
O presente estudo foi realizado com base nos dados informados pelas
obediências e publicados no “List of Lodges 2012”, publicação anual de âmbito
internacional que divulga dados das obediências que são reconhecidas por Grandes
Lojas estadunidenses. A intenção é compreender quantitativamente a maçonaria no
mundo, tratando os dados fornecidos pela publicação.
O Brasil vem em 2º lugar no ranking continental, com 26% das Lojas e 11%
dos maçons. Essa diferença deve-se a uma maior média de membros por loja nos
Estados Unidos: 116 membros por loja; enquanto que a média no Brasil é de 36.
Essa também é a razão de Cuba, apesar de ter menos lojas do que o México,
possuir mais membros: sua concentração média é de 92 membros por loja, ficando
atrás apenas dos EUA.
Outros países não foram considerados por apresentarem índices inferiores a
1%.
VISÃO MUNDIAL
Estados Unidos, Inglaterra e Brasil são os três grandes nomes da maçonaria
mundial, ocupando o pódio em número de lojas e de membros. Se o estudo levasse
em consideração os números dos Grandes Orientes Independentes filiados à
COMAB (dissidência do Grande Oriente do Brasil ocorrida em 1973), provavelmente
o Brasil ultrapassaria a Inglaterra, postando-se como a segunda maior nação
maçônica do mundo.
295
A Noruega ocupa o primeiro lugar, com extraordinários 300 membros por loja,
seguido do Japão, com 130, e Haiti, com 125. É interessante observar que um grupo
dos dez melhores está concentrado próximo dos Estados Unidos da América (Cuba,
República Dominicana, Canadá), enquanto que outro grupo é do norte da Europa
(Noruega, Islândia e Dinamarca).
Algumas Grandes Lojas estadunidenses apresentam médias superiores às do
Japão; mas nada próximo à média apresentada pela Noruega: Pensilvânia, com 263
membros por Loja; Ohio, com 201; New Jersey, com 200. Um total de 17 Grandes
Lojas nos Estados Unidos apresentam médias de membros por loja superiores ao
Japão, mas muitas Grandes Lojas da região Meio-Oeste e Oeste dos EUA puxam
sua média geral para baixo.
BLOCOS MAÇÔNICOS
É comum a união de Grandes Lojas de uma mesma nação em blocos com
fins de fortalecimento institucional, padronização de procedimentos, união fraternal e
organização de relações exteriores. Isso ocorre em países cujas Grandes Lojas
adotaram formato similar ao modelo estadunidense, com uma Grande Loja por
Estado, Distrito ou Província (Estados Unidos, Canadá, México, Austrália), ou
297
Nessa visão por quantidade de membros por bloco, o Brasil ocupa dois
lugares entre os cinco maiores blocos nacionais, com a CMSB, a Confederação das
Grandes Lojas Estaduais, em terceiro lugar, e o GOB, uma Federação, em quinto
lugar. Importante observar que, se os Grandes Orientes Independentes fossem
considerados no List of Lodges, provavelmente a COMAB estaria em sétimo lugar,
acima de Cuba, dando três posições ao Brasil entre os dez maiores blocos
maçônicos nacionais do mundo.
Apesar da Confederação das Grandes Lojas Prince Hall constar em 11º lugar,
esse número não corresponde com a verdade, visto que apenas quatro Grandes
Lojas Prince Hall (Califórnia, Connecticut, New York e Carolina do Norte) constam
298
LIMITAÇÕES DO ESTUDO
O List of Lodges apenas publica dados das obediências regulares que
possuem reconhecimento de Grandes Lojas estadunidenses, não abrangendo
muitas obediências regulares e expressivas, como a maioria das Grandes Lojas
Prince Hall, várias Grandes Lojas Mexicanas e os Grandes Orientes Independentes
filiados à COMAB, por exemplo.
A soma de membros dessas Grandes Lojas Prince Hall ainda não presentes
no List of Lodges é superior ao total de membros da Grande Loja Unida da
Inglaterra, que ocupa o segundo lugar no ranking de países com maior número de
maçons. Isso é um exemplo do quanto o List of Lodges, apesar de útil nas questões
de relações internacionais, não reflete a realidade da maçonaria regular no mundo.
Além disso, muitas Grandes Lojas não informam ou atualizam seus dados,
algumas delas históricas e expressivas, como é o caso da Grande Loja da Irlanda.
As Grandes Lojas da Irlanda, da Grécia, da Suécia e do Equador não informaram
número de Lojas e número de membros. Outras tantas como a Grande Loja da
Escócia informam o número de Lojas, mas não o de obreiros. Essas omissões
prejudicam a avaliação.
Há ainda os dados que precisam ser revistos. Exemplos claros podem ser
vistos no Brasil, mais precisamente nas Grandes Lojas do Amazonas e do Ceará
que, pelos números publicados, apresentam uma média superior a 100 membros por
Loja, números esses que não seguem o padrão brasileiro, mas que podem
corresponder a uma realidade local.
299
CONCLUSÕES
Apesar das limitações verificadas, o presente estudo colabora para o
entendimento da ordem maçônica em âmbito mundial. Os números levam à
compreensão de que a maçonaria regular possui atualmente menos de três milhões
de membros, apesar de algumas fontes ainda divulgarem números de quatro a seis
milhões; reais nas décadas de 60 e 70, mas distantes da realidade atual.
Outra percepção interessante evidenciada pelos dados é a de diferentes
realidades de tamanho de lojas nos diversos países, variando de uma média de
incríveis trezentos membros por loja na Noruega, a poucos quinze membros por loja
na Espanha. Tais disparidades indicam diferentes conceitos da filiação maçônica,
pois se sabe que em alguns países não há a exigência e cobrança de presença
como ocorre na tradição maçônica inglesa, alemã e latina de uma forma geral.
Este estudo também serviu para mostrar o destaque que a maçonaria
brasileira tem no cenário maçônico mundial, apresentando-se como uma das
grandes nações maçônicas do mundo. Espera-se que essa evidência sirva para
conscientizar os maçons brasileiros da relevância do Brasil no meio maçônico, em
especial aqueles que, talvez pelo famoso “complexo de vira-lata”, costumam
enxergar alguma supremacia ou autoridade moral em obediências estrangeiras.
BIBLIOGRAFIA
List of Lodges. Illinois, EUA, Ed. Pantagraph, 2012.
300
Figura 43 - Alunos da Escola mista da Loja Progresso, Campos, RJ. Livro Maçônico
do Centenário. Acervo do Museu Maçônico Paranaense.
302
Figura 44 - Edifício da Escola Frei Sampaio, mantida pela Loja “União e Caridade”,
Canavieiras, Bahia. Livro Maçônico do Centenário. Acervo do Museu Maçônico
Paranaense.
303