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Florianópolis - SC
2015/2
2
Sumário
1
Por que estudar cálculo?
No que segue apresentamos alguns exemplos que pretendem demonstrar que a matemá-
tica desenvolvida até o final do ensino médio é insuficiente para atacar alguns problemas
importantes com os quais nos deparamos.
Problema: Imagine que em uma batalha saibamos que os projéteis lançados pelos nossos
canhões tenham velocidade V0 ao sair do canhão e que o inimigo situa-se a uma distância
d de nossos canhões. Você, como general do exército, precisa saber responder algumas
perguntas, tais como:
Para resolver este problema, é preciso encontrar um modelo matemático para o lan-
çamento oblíquo de um projétil. A física envolvida em tal problema é bem complicada
de se trabalhar, mas para encontrar um primeiro modelo, faremos algumas suposições.
Suponhamos que
∗ a resistência do ar é desprezível,
yθ0
Vx
Vv0 V0
3
θ
Vh0
V
6
-t
t V0
∆ti
g
sen θ = tM
ti−1
) ?
ti
Se t > 0 e t0 < t1 < · · · < tn = t é uma subdivisão do intervalo [0, t] e ∆ti = ti − ti−1 .
Como em cada intervalo [ti−1 , ti ] a velocidade é aproximadamente igual a Vv (ti−1 ) temos
que neste intervalo o deslocamento vertical é aproximadamente igual a
onde por ∼ queremos espressar o fato que a medida que o comprimento dos intervalos
[ti , ti−1 ] se aproxima de zero y se aproxima mais e mais da área A sob o gráfico da
velocidade no intervalo [0, t]. Como
1
A = V0 senθt − gt2 ,
2
segue que
1
y(t) = V0 senθt − gt2 (1.1.2)
2
é o deslocamento vertical do projétil (altura do projétil depois de decorridos t unidades
de tempo).
O deslocamento horizontal ocorre com velocidade constante Vh = V0 cos θ. Logo
V0
∗ o projétil alcançará altura máxima em t = tM = g
senθ. Logo
e
1 V02
yM = sen2 θ. (1.1.4)
2 g
∗ o projétil atinge o seu alvo quando y(ta ) = 0. Logo ta = 2 Vg0 senθ o que implica
V02
xa = x(ta ) = 2 senθ cos θ
g
e
V02
xa = sen2θ. (1.1.5)
g
2. Se a velocidade depende do tempo de uma forma mais complicada podemos não ser
capazes de encontrar a área sob o gráfico A de forma tão simples. Por exemplo, o
projétil pode ser impulsionado durante o precurso (como ocorre no lançamento de
foguetes). Deparamos então com o problema de calcular a área sob o gráfico de uma
função
V 6
V (s) r
A = deslocamento
-
s t
deslocamento
6
x(t + h) − x(t)
x(t + h) r VMédia =
r [t , t+h] h
x(t)
= inclinação do segmento
[(t, x(t)), (t + h , x(t + h))]
- tempo
t t+h
x(t+h)−x(t)
A velocidade média Vm no intervalo [t, t+h] é dada por Vm = h
e é a inclinação
do segmento [(t, x(t)), (t + h, x(t + h))]
deslocamento
6
- tempo
s
x(t+h)−x(t)
A velocidade instantânea Vi no instante t é dada por Vi = limh→0 h
e é a
inclinação da reta tangente ao gráfico de x no instante t.
8 Por que estudar cálculo?
∗ Movimento Uniforme
Se um corpo se move ao longo de uma reta deslocando-se segundo a equação
x(t) = x0 + v0 t
x(t + h) − x(t)
= v0 , h > 0 pequeno
h
e desta forma a velocidade em cada instante é v0 .
1
x(t) = x0 + v0 t + at2
2
então, a velocidade em cada instante t é obtida fazendo
x(t + h) − x(t) a
= v0 + at + h, h > 0 pequeno
h 2
logo, no instante t a velocidade v(t) é
v(t) = v0 + at.
6
x(t + h) r
-
t t+h
1.3 Comprimento de curvas 9
v(t + h) − v(t)
= a, h > 0 pequeno
h
então a aceleração em cada instante t é a.
Observação: Quando o movimento tem expressões mais complicadas, como determinar
a velocidade e a aceleração? Novamente vamos precisar das noções de limite e derivada.
Problema: Calcular o comprimento de uma curva dada como gráfico de uma função.
Considere a curva abaixo
x
6
r r
x = f (t)
-
t
r
6
L
{ (t, f (t)) : t1 ≤ t ≤ t2 }
r p
ar b L= (t2 − t1 )2 + b2 (t2 − t1 )2
√ √
= 1 + b2 (t2 − t1 ) = 1 + b2 ∆t
-
t1 t2
∆t
6
f (ti ) − f (ti−1 )
a2 +b2 t a4 +b4 t bi =
ti − ti−1
q
q q
a1 +b1 t a3 +b3 t
-
t0 t1 t2 t3 t4 p p p t
n q
X
L= 1 + b2i (ti − ti−1 ).
i=1
No caso geral
s
n 2
6 X (f (ti ) − f (ti−1 )
f (t2 ) r L= 1+ (ti − ti−1 )
r i=1
ti − ti−1
Para obter o valor exato vamos precisar introduzir as noções de limite, derivada e
integral, Z bp
L= 1 + f 0 (t)2 dt
a
L = π d = 2π r
r
d r
1.4 Área de uma circunferência 11
∗ 8 Setores
@
@
@
@
@
@
@
∗ 16 Setores
@
@
@
@
@ r
@
@
πr
quanto maior o número de setores, na divisão acima, mais a área se aproxima de πr.r =
πr2 .
A demonstração deste resultado envolve o conceito de limite. Se dividimos a circun-
ferência em n setores iguais temos
@
@ r p
@ π/n
@
@
@
@
π π 1 senπ/n
A ∼ 2n.rsen .r cos . ∼ πr2 . . cos π/n.
n n 2 π/n
A = πr2 .
12 Por que estudar cálculo?
1 − rn+1
1 + r + r2 + · · · + rn = , |r| < 1.
1−r
Quanto maior o valor de n menor é o valor de rn+1 e mostraremos que rn+1 tende a zero
quando n tende a infinito. Desta forma a soma
1
1 + r + r2 + · · · + rn + · · · = , |r| < 1. (1.4.1)
1−r
Sn = 1 + r + r2 + · · · + rn
1
para n grande nos aproximamos do valor S = 1−r
. Uma tentativa de estender a igualdade
(1.4.1) para r = −1 parece conduzir a
1
1 − 1 + 1 − 1 + ··· =
2
S = 1 − 1 + 1 − 1 + 1 − 1 + ··· ⇒
S − 1 = −1 + 1 − 1 + 1 − 1 + · · · = −S ⇒
2S = 1 e S = 12 .
Problema: Considere os distintos sólidos abaixo. É possível dizer que se todas as seções
cilíndricas têm o mesmo volume, os volumes dos sólidos devem coincidir?
P
V = (volumes das seções cilíndricas)
= ∆h = ∆h
Teorema 1.5.1 (Princípio de Cavalieri). São dados dois sólidos e um plano. Se todo
plano paralelo ao plano dado secciona os dois sólidos segundo figuras de mesma área,
então estes sólidos tem o mesmo volume.
Aplicações:
Volume de um prisma triangular
V =A·h
h
A A
A A
14 Por que estudar cálculo?
h S1 = S2
S1 S2
A1 A2
H
1 1
VPirâmide = VPrisma = A · h
3 3
1 1 1 1
V = A1 h + A2 h + A3 h = A h
3 3 3 3
A3
@ A2
@ A1
1.5 O volume da esfera e o Princípio de Cavalieri 15
h A A
V =A·h
A A
1
Vc = A·h
3
1
= π r2 · h
3
A
A q r
Volume da esfera
Para calcular o volume da esfera de raio R construimos um cilindro reto de raio da
base R e altura 2R e retiramos dos mesmo os dois cones centrais formados pela união do
centro do cilindro à borda da base e do topo do cilindro (veja figura abaixo). Se apiamos a
esfera no plano da base do cilindro e seccionamos ambos os sólidos por um plano paralelo
ao plano da base do cilindro (conforme figura) obtemos um anel (ao sectionar o cilindro
sem o cone central) de área A0h e uma circunferência de área Ah .
R A0h q h Ah q r
h h
H=2R q q
R R
q
R
16 Por que estudar cálculo?
1 H 2 4
VE = πR2 .H − 2. πR2 = 2πR3 − πR3 = πR3
3 2 3 3
e portanto
4
VE = πR3 .
3
Problema: Quanta borracha é necessária para fazer uma câmara de ar com raio menor
10cm, raio maior 50cm e espessura 0, 1cm?
Para resolver este problema introduzimos a noção de centro de massa de uma poligonal
plana (c denota a densidade linear). Inicialmente definimos o ponto médio de um segmento
como o seu centro de massa. Assim o centro de massa de uma poligonal é dado por:
c · `1 · x1 + · · · + c · `n · xn
y6 `1 xc =
q c · `1 + · · · + c · `n
q
q (x1 ,y1 )
q `1 · x1 + · · · + `n · xn
q =
(x0 ,y0 ) `1 + · · · + `n
q
q (xn ,yn )
q
`n c · `1 · y1 + · · · + c · `n · yn
yc =
- c · `1 + · · · + c · `n
x
`1 · y1 + · · · + `n · yn
=
`1 + · · · + `n
AT =?
m
R r R−r
r = =
m+g m g
R+r
x g
x= 2
2π(m +
g) — π(m + g)2
m g
q 2πR
— AE
2πR
2πr
AE = πR(m + g)
AI = πrm
R+r
AT = πR(m + g) − πrm = πRg + π(R − r)m = π(R + r)m = 2π g
2
e desta forma
AT = 2πxg,
r r
x1 r `1 A = 2π x1 · `1 + · · · + 2π xn · `n
r r
x2 r `
r r
2
(x1 `1 + x2 `2 + · · · + xn `n )
= 2π · (`1 + · · · + `n )
`1 + · · · + `n
r r
xn r `n = 2π xc · L , L = `1 + · · · + `n
r r r
Um processo de passagem (tomando mais e mais pontos sobre a curva) ao limite resulta
no seguinte resultado
Teorema 1.6.1 (Teorema de Pappus). Se uma linha plana gira em torno de um eixo
de seu plano a área da superfície gerada é igual ao comprimento dessa linha multiplicado
pelo comprimento da circunferência descrita por seu centro de massa.
R
Ac = 2πr · 2πR
1r
- = 4π 2 Rr
V = 4π 2 .50cm3 .