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3.

PEDAGOGIA E SOCIOLOGIA

3.1 Sistema educacional na sociedade

Em vista de sua investigação pedagógica, Durkheim teoriza que a educação é algo eminentemente
social no meio que se origina e como ela funciona, fazendo assim a dependência da Pedagogia cair sobre a
Sociologia, que necessita de um panorama que indique as principais razões do porquê esse estudo deve ser
aceito, desde seus princípios, verificações necessárias e todas as suas extensões e limites.

Inicialmente, o autor defende que o Estado tem obrigação de manter o sistema educacional, o qual
perde toda a sua utilidade para a Pedagogia, pois o homem é responsável por carregar dentro de si “todos
os germes de seu desenvolvimento”, sendo unicamente este capaz de observar a orientação desse
progresso em termos de sentido e de maneira, sendo de suma importância saber quais são as suas
faculdades naturais e de onde estas se originam. Para explicar melhor a individualidade do homem, a
Psicologia exerce um papel fundamental para abastecer as necessidades do pedagogo.

Entretanto, esse ponto de vista da educação contradiz o percurso histórico do que nos foi
ensinado, pois existem diversos sistemas pedagógicos que ocorrem simultaneamente e que funcionam em
relação a uma sociedade que não universaliza a educação para o gênero humano inteiro, criando variações
de como ela é transmitida entre as classes sociais ou mesmo em seus habitats.

Assim, Durkheim propõe a tese de que, entre esses entremeios divergentes na educação, a criança
não deveria depender unicamente do aprendizado que lhe é proposto em um determinado local em que
esta cria suas raízes de formação para que, assim, quando inserido no mercado de trabalho, ela entendesse
as diferenças de outras profissões, pois cada uma delas exigirá aptidões e conhecimentos específicos e a
criança deve estar preparada com visões às futuras funções que desempenhará.

3.2 Aplicação e Formação da educação

Formula-se o quesito de que a educação deve ser diferentemente aplicada para cada faixa etária,
tendendo cada vez mais a se diversificar antes do tempo diante quem está aprendendo, buscando uma
educação absolutamente única e igual para todos. Todavia, essas educações específicas não se organizam
para com fins individuais, onde provocam um desenvolvimento de aptidões singulares que auxiliam na
realização de suas próprias naturezas, ou seja, o homem se especializa em uma determinada função para
auxiliar os outros membros, garantindo assim a sobrevivência do trabalho desse coletivo por meio da
divisão de tarefas.
Por isso que, por meio da educação, uma sociedade consegue, com as próprias mãos preparar
trabalhadores devidamente especializados para determinadas funções que as tornam diversificadas. Porém,
independentemente dessa preparação que a educação exerce para com o mercado de trabalho, é impossível
desenvolvermos com a intensidade necessária as faculdades “privilegiadas” da função que exercemos sem
deixar que outras a retardem sem renunciar toda parte da nossa natureza.

A educação deve ser proposta à todas as crianças sem distinção, independente da categoria social
à qual elas pertencem, a qual se categoriza como uma educação comum que é considerada, em geral,
como a verdadeira educação que tem predominância em relação às outras.

Durkheim também cita a modificação da educação como um verdadeiro serviço público, onde a
tendência e objetivos que ela busca em toda a Europa é de ficar mais diretamente sob o controle e a
direção do Estado; embora que estes objetivos não deixem de ser coletivos, exercendo pressões morais
através de opiniões para entendermos os deveres dos educadores e a valorização da educação, visando as
vantagens que a mesma pode lhe oferecer.

“O homem que a educação deve realizar em nós não é o homem tal como a natureza
criou, mas sim tal como a sociedade quer que ele seja: e ela quer que ele seja da forma
exigida pela sua economia interior.” (Durkheim, 1973, p. 107)

3.3 Hierarquização e o Ser social

Também existe uma “hierarquia” entre as nossas faculdades, pois concedemos uma espécie de
superioridade à algumas delas, as quais devemos desenvolver mais do que as outras, mas não significa que
a própria natureza lhes tenha designado esta posição acima das outras, mas sim que elas têm mais valor
para a sociedade.

Assim, o único ou principal objetivo da educação não se limita ao indivíduo e aos seus interesses,
mas que antes de tudo é o meio pelo qual a sociedade sempre renova as condições da sua própria
existência da qual só vive e existe em uma igualdade que seja suficiente entre os seus membros. A
educação reforça essa igualdade fixando na alma da criança as semelhanças que a vida coletiva considera
como essenciais.

Sua consistência é baseada em uma sociedade metódica (sempre em ordem) das novas gerações.
“Em cada um de nós, pode-se dizer, existem dois seres que, embora se mostrem
inseparáveis – a não ser por concentrar nos aspectos essenciais ignorando características
menos importantes -, não deixam de ser distintos. Um é composto de todos os estados
mentais que dizem respeito apenas a nós mesmos e aos acontecimentos da nossa vida
pessoal: é o que se poderia chamar de ser individual. O outro é um sistema de ideias,
sentimentos e hábitos que exprimem em nós não a nossa personalidade, mas sim o grupo
ou os grupos diferentes dos quais fazemos parte, tais como as crenças religiosas, as
crenças e práticas morais, as tradições nacionais ou profissionais e as opiniões coletivas
de todo tipo. Este conjunto forma o ser social. Constituir este ser social em cada um de
nós é o objetivo da educação.” (Durkheim, 1973, p. 109)

Como obra da educação, a criança traz apenas a sua natureza como indivíduo e, para que ela seja
capaz de levar uma vida moral e social, é necessário que esta substitua o ser egoísta e associal que acaba
de nascer por outro capaz de se relacionar nesse meio, desenvolvendo potencialidades ocultas que só estão
esperando para serem reveladas.

“Ela cria um novo ser no homem, e este homem é feito de tudo o que há de melhor em
nós e de tudo o que dá valor e dignidade à vida.” (Durkheim, 1973, p. 110)

Segundo o autor, esse caráter social da educação pois, para ele, além da escola ser uma das fontes
primárias de socialização do indivíduo, ela serve como forma de treinamento desse o transformando em
um ser social. Por isso o educador deve exercer sua autoridade sobre o educando, moldando seu caráter, o
transformando em tipo ideal de homem social e que colabore para funcionamento da sociedade orgânica.
Esse treinamento não é igual ao treinamento dos animais, pois o homem como único ser vivo capaz de
aprender, é um ato de desenvolvimento de habilidades além de seus instintos. Assim, além desenvolver os
valores morais da sociedade, o homem irá adquirir novos conhecimentos que irão fortalecer a estrutura
social orgânica e seu desenvolvimento científico da humanidade.

“Portanto, a educação não pode acrescentar nada de essencial à natureza, visto que está
última é inteiramente suficiente, tanto para a vida do grupo quanto para a do indivíduo.”
(Durkheim, 1973, p. 110)

3.4 Psicologia x Sociologia

“A Psicologia pura e simples é insuficiente para o pedagogo.” (Durkheim, 1973, p. 113)

A psicologia determina somente os meios educacionais, como o professor tecnicamente


influenciar o aluno, com métodos eficientes de acordo com as particularidades do indivíduo.
“Se o homem pode aprender a se sacrificar, é porque ele é capaz de sacrifício; se ele
pôde se submeter à disciplina da ciência, é porque ele sabe se adaptar à mesma. Só pelo
fato de sermos parte integrante do universo, somos capazes de preocuparmos-nos com
outras coisas além de nós mesmos; assim existe em nós uma primeira impessoalidade
que prepara ao desprendimento.” (Durkheim, 1973, p. 113-114)

Ela não conseguiria dizer ao professor o objetivo que ele deve buscar, por isso convém utilizar
com prudência e moderação os dados da Psicologia.

Somente a sociologia determina os fins da educação, pois essa como ciência que procura a
solução das doenças sociais deve estudar e buscar meios na educação com finalidade de evitar os fatos
anômalos na sociedade no qual provoca perturbação em sua estrutura, ela só se realiza nos e pelos
indivíduos.

O autor coloca como Psicologia Infantil aquela que busca orientar a sensibilidade moral dos
alunos com conjuntos de fenômenos como tendências, hábitos, desejos, emoções, etc sobre as diversas
condições que os controlam e sobre a forma sob a qual eles se manifestam nas crianças. Embora ela seja
incompetente para estabelecer os objetivos da educação, ela possui um papel útil a desempenhar na
constituição dos métodos, pois, como nenhum método pode ser aplicado da mesma maneira nas diferentes
crianças, é a Psicologia que nos situa em meio à diversidade das inteligências e caracteres.

“Não se deve ignorar as vantagens que a ciência do indivíduo pode oferecer à Pedagogia
(...) no entanto, mesmo nos âmbitos em que ela é útil para o pedagogo esclarecer certos
problemas, ela está longe de poder dispensar a Sociologia.” (Durkheim, 1973, p. 115-
116)

3.5 Educação e seu estudo dentro da sociedade

Os fins da educação são sociais, assim os meios pelos quais estes fins podem ser alcançados
devem ter o mesmo caráter, já que talvez não haja nenhuma instituição pedagógica semelhante a uma
instituição social, nos ajudando a compreender o que são essas instituições pedagógicas.

“Tanto na escola quanto na cidade, impõe-se uma disciplina. As regras que fixam os
deveres dos alunos são comparáveis às que prescrevem a conduta dos homens feitos. As
punições e recompensas associadas às primeiras se parecem com as que as segundas
sancionam. Ensinamos às crianças a ciência já feita, mas a ciência que está sendo feita
também ensina. Ela não fica fechada no cérebro daqueles que a concebem, só "se
tornando realmente ativa se for compartilhada com os outros homens.” (Durkheim,
1973, p. 116)

A natureza desta comunicação coloca em prática toda uma rede de mecanismos sociais,
constituindo um ensino que, mesmo se dirigindo aos adultos, não se diferencia daquele que o aluno recebe
de seu mestre.

“Quanto melhor conhecermos a sociedade, melhor percebemos tudo o que se passa no


microcosmo social que a escola é.” (Durkheim, 1973, p. 117)

Seja qual for o aspecto que se aborde a educação, ela sempre vai se apresentar com o mesmo
caráter, independente dos fins que ela busca ou os meios que ela emprega, sempre estará satisfazendo
necessidades sociais, ideias e sentimentos coletivos. É preciso sempre se concentrar no estudo da
sociedade pois é, apenas nele, que o pedagogo consegue encontrar os princípios da sua investigação.

Por mais que, a Psicologia aponte a melhor maneira de agir para aplicar na criança esses
princípios, uma vez que esses estejam firmes, ela não consegue ajudar a descobri-los. Nesse âmbito, a
Psicologia consegue resolver à melhor maneira questões relacionadas a um sistema de educação o qual, a
muito tempo não é contestado por ninguém, as únicas questões urgentes que se colocam são quesitos de
aplicação prática.

“As profundas transformações que as sociedades contemporâneas sofreram ou estão


sofrendo demandam transformações correspondentes na Educação Nacional. Porém,
embora realmente sintamos que mudanças são necessárias, não sabemos muito bem
como elas devem ser. Sejam quais forem as convicções pessoais dos indivíduos ou
partidos, a opinião pública permanece indecisa e apreensiva.” (Durkheim, 1973, p. 119)

Assim, é preciso estudar a sociedade e suas necessidades da qual precisamos conhecer e satisfazer.

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