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O Direito nasce da necessidade do indivíduo em viver em sociedade.

Esse ser social, no período pré-


histórico, busca se agrupar inicialmente em uma unidade familiar para garantir a sobrevivência num
ambiente extremamente hostil e desfavorável às suas habilidades. Pressupõe-se, pois não há registros
escritos, o estabelecimento de regras (normas) baseadas nos costumes (tradição) e principalmente na crença
no sobrenatural onde a religiosidade seria a mentora dos atos de convívio na família (clã) e entre diferentes
grupos familiares com o objetivo de manutenção da vida. Esses grupos, convivendo, se reagruparam
formando as tribos que, em busca de alimento e abrigo, empreenderam, no período da história antiga, as
migrações que originariam as primeiras cidades. Nesse período da história antiga, o surgimento de cidades
como a Mesopotâmia, Nipuur e Ur, produziu uma nova estruturação social necessitando de um maior
controle dos atos com o nascimento dos primeiros códigos de conduta como o de Hamurabi dos povos da
Mesopotâmia e o Pentateuco dos povos Hebreus. Essa sociedade, outrora nômade e familiar, passa a se
organizar em castas de dominantes e dominados e com o nascimento do comércio e da escrita vê-se obrigada
a transferir a tradição oral dos costumes para um sistema mais complexo de “leis” que atendessem às suas
relações de convívio que deixavam de ser meramente de parentesco. O que hoje conhecemos como
jurisprudência estava no cerne desses códigos que procuravam dar coerência aos atos aplicando-lhes uma
mesma ordenação. Por vezes muito rigorosos, tiveram que ser aperfeiçoados como pode ser visto na Lei do
Talião que surgiu para impedir o excesso de correção dando reciprocidade ao fenômeno causa-efeito. O
“olho por olho, dente por dente” tornou-se um legado doutrinário presente no princípio da proporcionalidade
na prática do Direito Penal. Porém, em que pese a Idade Antiga ser considerada o berço da civilização
moderna, foi no período medieval que se lançaram as bases do ordenamento jurídico europeu que daria
origem ao Direito como conhecemos hoje. Quando os povos germânicos, chamados erroneamente de
bárbaros, empreenderam conquistas sobre o território de domínio romano, não o fizeram impondo sua
organização jurídica e sim permitindo aos povos subjugados manterem seus estatutos garantindo a
sobrevivência do direito romano que já gozava de um ordenamento jurídico aprimorado comparado ao
germânico calcado na oralidade e nos costumes. Assim as sociedades romano-germânicas formaram-se a
partir da mescla de valores morais e religiosos tradicionais de muitos povos principalmente os gregos que,
através da cultura helênica, trouxeram a experiência humanista e o racionalismo para o centro da solução de
conflitos que deixaram de ser meramente pessoais e passaram a ser vistos como assuntos de ordem social
assumindo, o Estado, o papel de mediador. Porém, esse Estado não oferecia tratamento jurídico igualitário a
todas as camadas da sociedade romana, pois os plebeus e os povos dominados sofriam com a interpretação
casuística das leis feitas em favor dos patrícios. Foi somente após a insistência dos plebeus que os
magistrados patrícios se reuniram para compilar os costumes na Lei das XII Tábuas que é o embrião da
codificação que culminou no Corpus Juris Civilis. Muito embora o Estado tenha assumido seu papel, na
idade média, coube a Igreja muitas das tarefas públicas, sociais e morais que desempenhadas sob a doutrina
cristã influenciou o pensamento jurídico e o direito positivo. O direito canônico baseado na escrita, nos
estudos e na escola contribuiu para a reorganização da vida jurídica europeia com o desenvolvimento das
cortes, dos tribunais, das jurisdições estabelecendo a ordenação do ato jurídico e a formalização dos
processos. Porém, durante o feudalismo, os direitos romano e canônico perderam força ficando a
organização jurídica restrita às relações feudo-vassálicas onde os costumes eram a única fonte do direito
laico. Somente com o surgimento das universidades, como a de Bolonha, pode ocorrer o renascimento do
direito romano cujos textos passaram a ser estudados e interpretados em conjunto em busca de um sentido
mais racional, resolvendo-se possíveis contradições a fim de atingir a razão objetiva, comum a todos com
papel importante desempenhado pelos glosadores, conciliadores e humanistas que viriam a formar uma
cultura legalista. Nessa fase da história, o direito mantinha-se ligado aos valores religiosos, sendo necessária
a influência dos pensadores iluministas para que se distanciasse da religião tornando-se ciência jurídica.
Assim, o processo de evolução das nossas habilidades humanas de pensar, refletir, criar e transformar foi
também instrumento da evolução do Direito. E, mesmo hoje, esse processo é de constante transformação que
nos leva a crer que o Direito atual também venha a ser considerado Direito arcaico pelas futuras gerações.

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