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Quando a Habitação Colectiva era Moderna

Desde Portugal a outros territórios de expressão portuguesa. 1940-1974.

inês lima rodrigues

Trabalho desenvolvido no âmbito da Tese de Doctorado, Departamento de Projectos Arquitectónicos. ESTAB. UPC. janeiro2009.
0.0. resumo

A análise confronta Portugal, o Brasil e outros territórios de expressão


portuguesa, perante a herança cultural arquitectónica portuguesa
em torno dos princípios modernos da habitação colectiva.

O fio condutor é justamente a cultura arquitectónica.


A partir do levantamento do estado da questão da arquitectura
em Portugal, entre a simbiose da aplicação dos valores modernos
aliados a forte componente tradicional, a investigação segue
com as extrapolações arquitectónicos nos territórios de expressão
portuguesa.

O Brasil, vários anos após a sua independência, influenciou por


primeira vez, e de forma determinante, a cultura arquitectónica
portuguesa, através da força da sua arquitectura moderna. Procura-
se definir a reciprocidade e movimento de influências arquitectónicas
na definição do habitar moderno.

Realiza-se uma aproximação ao entendimento, como a colonização


portuguesa se transforma num argumento em condições de apoiar
2 a especificidade do moderno nos vários territórios em questão. 3
Retoma-se a colonização portuguesa como um imaginário de
capacidade regenerativa, permitindo uma visão de independência
e simultaneamente de valorização do património da arquitectura
moderna.

A presença cultural portuguesa em países de história comum é


marcada através de edifícios de qualidade ímpar, como a caso de
exemplo, Delfim Amorim no Recife, Manuel Vicente em Macau,
Pancho Guedes ou José Tinoco em Maputo, ou Vasco Vieira da
Costa em Luanda, como modo de sedimentação da memória
arquitectónica e registo de uma cultura.

Pretende-se desenhar alguns dos guiões da habitação colectiva com


o objectivo de contribuir ao registo e à divulgação da arquitectura
moderna de expressão portuguesa e à valorização do desenho
como processo arquitectural.

1_ARQUITECTURA MODERNA 2_HABITAÇÃO COLECTIVA


3_PORTUGAL 4_TERRITÓRIOS DE EXPRESSÃO PORTUGUESA
5_ SÉC. XX (1940-1974)
0.1. introdução

1. 2.
O TEMA da investigação centra-se na Arquitectura Moderna Portuguesa, incidindo no âmbito da Não existe qualquer tipo de pretensão de reunir a história da arquitectura global de mais de
Habitação Colectiva. A análise parte da escala da cidade até ao objecto em si, dando relevância três décadas, mas simplesmente realizar um contributo para a representação e reconhecimento
ao bairro e à unidade de vizinhança, ao edifício e à tipologia, valorizando a originalidade e a do património da arquitectura moderna portuguesa. Destacam-se as propostas arquitectónicas
especificidade de cada projecto. Destacam-se por um lado, as propostas paradigmáticas a nível que, pelo seu contexto cultural, pelo grupo de arquitectos ou pelas particularidades da tipologia,
da habitação colectiva em Portugal e por outro, as repercussões que existiram nos territórios definiram novas ideias da arquitectura portuguesa sobre o habitar, não apenas as contribuições
de expressão portuguesa. O âmbito do estudo está compreendido entre 1940 e termina com o nacionais, como também as extrapolações do habitar português a outros territórios. À parte
particular ano de 1974 1, com a Revolução dos Cravos. da identificação, pretende-se o aprofundamento do conceito de espaço da habitação como
estrutura sensível capaz de comunicar valores não só de economia e conforto, mas também
Inicia-se o percurso em Portugal Continental, pondo de manifesto as duas escolas de arquitectura sócio-culturais e poéticos. Fraseando Nuno Portas, uma arquitectura para habitar, em vez de
existentes: Lisboa e Porto. Confrontam-se as duas linhas universitárias, o grupo de arquitectos e caixas para contemplar. 5
os seus movimentos com os projectos de habitação mais reveladores.
Partindo do conhecimento da história local, realiza-se uma primeira aproximação ao caso A casa, ou habitat, é um organismo vivo das cidades que tem a capacidade de relacionar vários
particular do Brasil, que apesar de ser um país independente à data da investigação, influenciou elementos: quer externos: com outras habitações, com as áreas de produção, com os espaços
sem dúvida alguma, na definição da arquitectura portuguesa. Foi um modelo moderno na públicos, quer internos: lojas – espaço residencial, sala – cozinha, cozinha – quartos. É, sem
presença da condição plástica que a arquitectura do século XX desejou num determinado dúvida algo, um sistema complexo, mutável e múltiplo dentro da cidade. Justifica-se assim,
momento da sua história e que provou que o Brasil pôde construir a sua própria história. 1_ Com a “Revolução dos
a análise morfológica das distintas tipologias (estrutura, cobertura, fachadas) e espaciais (em
Da longa área existente dos territórios ex-ultramarinos, o estudo até à data, incide sobre o Cravos” em 25 de Abril de 1974, função da compartimentação e funcionalidade internas). Complementar da visão arquitectónica,
caso fulcral de Angola e de Moçambique e uma pequena alusão ao caso de Macau 2. Uma proclamou-se a Democracia em implica-se o estudo das cidades onde se inserem os projectos de análise, o tecido urbano, o
4 investigação aberta, mutável e transformável, consoante novas informações e conclusões, o Portugal, que derrubou o regime crescimento, de modo a ajudar a enquadrar os projectos e a dar-lhes um sentido de conjunto – 5
ditatorial de Oliveira Salazar
que justifica a incompleta “narrativa” num campo aberto à reflexão sobre a intensidade destes e originou simultaneamente o
em termos de espaço – e de continuidade – em termos de tempo 6.
percursos. processo de independência das
colónias portuguesas em África. Procura-se na cidade de origem portuguesa, dar um sentido interpretativo ao sistema urbano
Pretende-se abrir uma hipótese de reflexão sobre os sentidos da colonização, numa perspectiva Apesar do período de maior “inventado” por cada cidade: aperfeiçoamentos locais, as influencias continuadas, ou não, pela
intensidade arquitectónica se
de entender também como um território novo exprime a sua vontade de devolver ou assimilar produzir entre as décadas dos 50
Expansão nos diferentes continentes, tão díspares e peculiares. Pretende-se entender, se Portugal
aquilo que recebeu. A conotação entre Portugal e edifícios históricos de valor patrimonial, e 60, é inevitável ampliá-lo às conseguiu, de alguma forma, impor mecanismos de exportação cultural e arquitectónica em
construídos nesses países durante a presença colonial, daria consciência a uma politica cultural décadas que o precedem e que cidades que eventualmente, só por si, não tinham força para dinamizar-se. Pretende-se analisar
série e eficaz 3. Identificar os mecanismos impulsionadores dos fluxos culturais e arquitectónicos, o continuam, de modo a levar a a temática urbano-arquitectónica de raiz, influência e contexto cultural português, aspecto que
cabo uma melhor compreessão
de modo a valorizar, em justa medida, as consequências positivas ou negativas da sua da evolução da habitação muda totalmente e radicalmente depois da Revolução de 1974.
expansão. colectiva moderna.
Será fundamental, numa fase posterior, contemplar as políticas do Estado, particularmente no
Pode afirmar-se que Portugal, apesar de geograficamente encontrar-se no extremo ocidental 2_ Portugal e os quatro países aqui que se refere à Habitação Colectiva: legislação, programas governamentais, etc. As técnicas de
citados reapresentam o início de
da Europa, sempre foi um ponto de encontro de origens muito diferentes, e com um grande uma investigação aberta sobre o construção locais, os materiais existentes, a localização geográfica e o clima, serão analisados
grau de fusão entre elas. O mar, que em tempos foi um obstáculo quase intransponível tornou- percurso da Habitação Moderna de modo a entender as especificidades de cada lugar. A relação do sentimento social e das
se, mais tarde, a porta de abertura e a via de ligação ao um Novo Mundo e a uma enorme Portuguesa. Foram seleccionados políticas sobre o Património, neste caso a Arquitectura Moderna, seguramente tão diferentes
movimentação de culturas. Portugal leva consigo, por um lado, os costumes e as tradições de pela sua selectividade devido entre os vários países, são também alvo de interesse a contemplar no presente estudo.
documentação encontrada ao
um país, e por outro, acolhe desde muito cedo, uma grande sucessão de culturas distintas, que momento deste estudo, não
desde logo sabe acolhe-las de uma maneira natural e híbrida. excluindo a hipótese de outros. 3.
5_ Nuno Portas, in Prefácio da O afastamento geográfico e histórico de Portugal (limite ocidental da península ibérica e isolado
É portanto fundamental ter em consideração os factores de unificação inerentes a cada de 3_ Ana Vaz Milheiro, in o jornal O História da Arquitectura Moderna politicamente por uma ditadura que durou 45 anos) e o forte atraso tecnológico, foram factores
Público, 28 de Julho 2008. de Bruno Zevi, p. 12
cultura de modo a ajudar a entender o território e a história como um conjunto indissociável, determinantes na definição da arquitectura portuguesa. Afastado dos principais centros culturais
que incide nos valores culturais, económicos e nas estruturas sociais, localizados em regiões 4_ Alexandre Alves Costa, in 6_ rA, Revista da FAUP, Ano I Europeus, Portugal sempre foi, e é ainda hoje, muito receptivo e permeável aos debates
geográficas tão diferentes 4. Architectures à Porto, pp. Número 0 Outubro 1987 arquitectónicos internacionais e às influências externas.
Assim, a originalidade da produção portuguesa, deve-se em grande parte, à simbiose que 4.
desde sempre existiu na cultura portuguesa, entre o desejo de conservar e inovar, entre a Pensar a arquitectura como um ensaio, como o projectar, é um caminho para identificar e
vanguarda e a nostalgia, entre a modernidade e a tradição. Este processo nunca foi uma tarefa compreender o problema, neste caso sobre as formas de residência urbana. Formulam-se
fácil de ultrapassar e talvez por isso impediu o conhecimento de algumas obras pioneiras, que hipóteses para identificar as dificuldades, as características, as especificidades, o contexto de
seguramente, teriam merecido citação nos manuais do Movimento Moderno. Esta produção cada projecto ou cidade para depois através da análise de projecto, compará-las, de modo
à margem internacional, sem que por isso seja menos qualificada, afirma-se através de um a entender e constituir uma visão de conjunto sobre a habitação colectiva de expressão
percurso sólido e contínuo, muito permeável a influências externas, que eventualmente Portugal portuguesa. O estudo da arquitectura prova-se no projecto e pelo projecto. Na distância ao
também influencia. projecto, ao construído, o conhecimento da arquitectura provoca-se pela investigação, para
recolher a matéria teórica e critica que argumenta e alia o desenho como um modo de pensar
“Moderno” e “Regional” são portanto dois parâmetros que andam lado a lado ao longo do que permite a interpretação 7.
percurso arquitectónico português e estão simultaneamente aliados a uma forte relação com o
lugar. É fundamental ir sedimentando as memórias e registar a história que se vai construindo. Para tal,
“Portugal, por exemplo, não tem o sentido de unidade em matéria da arquitectura. “Arquitectura realiza-se uma investigação evolutiva que pretende realizar alguns dos guiões de referência sobre
portuguesa” ou a “Casa Portuguesa” não existe na realidade. Entre uma casa do Minho e a habitação colectiva Moderna Portuguesa, através do (re)conhecimento de arquitecturas quase
uma quinta no Alentejo existem mais diferenças que entre determinados edifícios portugueses desconhecidas a nível internacional, por vezes inclusivamente pouco comentadas em Portugal em
e gregos. Por isso, devemos e podemos reter da arquitectura vernacular portuguesa uma lição manifesto com algumas arquitecturas facilmente reconhecidas a nível mundial (particularmente
de coerência, seriedade, economia, talento e fundamentalmente de beleza… no seu conjunto, o caso brasileiro). Tem-se por objectivo, conseguir através da análise, aportar outro ponto
podem contribuir de uma forma única à formação dos arquitectos modernos.” (Report, 1961). de vista para compreender até que ponto o desenho, enquanto instrumento de trabalho da
Tradicional, vernacular e “moderno” tornam-se noções abstractas dentro de um património arquitectura, influi no entendimento dos fenómenos inerentes ao sistema da “casa moderna”
6 anónimo, de valores revitalizantes do novo lugar. no contexto urbano das cidades de expressão portuguesa. Tenta-se identificar a estrutura este 7
fenómeno de forma moderna pela coerência dos seus acontecimentos, identificando as suas
Implica-se exactamente na investigação a procura da unidade dentro da diversidade da inflexões e sobretudo os critérios de construção que fundamentam a sua forma.
habitação colectiva moderna portuguesa, tentando ao máximo aclarar as suas especificidades.
Por outras palavras, procura-se definir a identidade da habitação colectiva moderna de influência Implica-se a procura e a aquisição dos desenhos originais dos projectos eleitos e o seu
portuguesa. posterior redesenho informático. Realizar-se-á sempre desde uma visão intencionada que dará
origem à realização da análise urbana e arquitectónica dos casos mais paradigmáticos de
Partindo do conhecimento local, investiga-se a curiosa aproximação portuguesa ao universo habitação colectiva no contexto específico de cada cidade, seguindo as Pautas de investigação
moderno brasileiro. O Brasil, devido enorme projecção mundial da sua arquitectura moderna, estabelecidas no Departamento de Projectos (ESTAB-UPC) 8. Identificar-se-ão os elementos
implica-se neste caso particular, o estudo de projectos realizados pelos seus próprios de referência dos princípios da modernidade em cada projecto seleccionado, analisando em
arquitectos. Analisar-se-ão os objectos de estudo brasileiros que se destacam dentro do seguida as implicações relevantes que permitam dar a conhecer a evolução urbana do bairro
âmbito da investigação, a influência que tiveram em Portugal e simultaneamente investiga-se no qual está inserido o referido projecto e a sua influencia nos conjuntos de habitação colectiva
a reciprocidade do processo, onde à partida se destaca a reconhecida e inegável absorção e realizados posteriormente. Pretende-se conseguir a máxima igualdade e equilíbrio entre os
aplicação em Portugal das especificidades da arquitectura moderna brasileira. 7_MENDES, Manuel, RAMALHO, diferentes casos seleccionados para a realização do estudo das arquitecturas comparadas de
Simultaneamente, procuram-se os trajectos e obras de arquitectos portugueses no Brasil. Neste Pedro, Uma Homenagem a cada bairro ou cidade.
campo específico, encontrou-se até à data, o valioso trabalho do arquitecto portuense Delfim Arménio Losa, Porto, Câmara
Amorim no Recife. Influenciou no crescimento da cidade, foi professor na Universidade de Municipal de Matosinhos/ Edições 5.
Afrontamento, 1995, p.9
Arquitectura e realizou várias obras a nível da habitação colectiva nesta cidade. À parte dos projectos mais significativos do ponto de vista representativo da perspectiva
8_GASTÓN, Cristina y Rovira, portuguesa, pretende-se incluir neste estudo, obras pouco, ou nada, documentadas nas
Nos outros territórios de expressão portuguesa, devido em parte ao forte vínculo entre Portugal Teresa, “El Proyecto Moderno. publicações existentes sobre o tema, projectos não realizados, ilustrando os conceitos e as
e as suas ex-colónias ultramarinas, propõe-se aqui um novo campo de estudo, neste caso Pautas de investigación.”Ediciones concepções dos arquitectos e, também, de edifícios que hoje já foram demolidos, para que não
UPC.
ao estudo de projectos de arquitectos portugueses deslocados aos distintos países. São os caiam de todo no esquecimento. “Quantos passos, quantos gestos, quantas palavras e acções,
responsáveis directos da chegada da modernidade e em particular da habitação colectiva a 9_ rA, Revista da FAUP, Ano I quanto desenho ficou no segredo dos meus muros, quanta potencialidade transformadora
lugares e contextos tão diversos. Número 0 Outubro 1987 estiolou sem debate ou abertura ao exterior” 9?
É exactamente esta visão que se tenta não só evitar, como também colmatar. É facilmente reconhecida uma identidade forte, impulsionada pelo projecto das “Estacas” entre
1949-55 na evolução da habitação colectiva no bairro de Alvalade. Será que Távora conseguiu
Neste ponto, é fundamental considerar a concretização de Exposições temáticas na área em 1952 alcançar esta mesma identidade com projecto de Ramalde na evolução do bairro?
da arquitectura, em Portugal e nos outros territórios, pois ajudam e contribuem de forma Será possível comparar a unidade do bairro das “Estacas” levada a cabo por uma equipa de
significativa à caracterização do contexto vivido na época. As exposições nesta época, tinham arquitectos com a diversidade que se verificou no bairro do Ramalde?
uma importância muito grande, pois resumiam, juntamente com os Congressos, as poucas
possibilidades de encontro e debate entre os vários arquitectos. Foram particularmente A influência da arquitectura moderna brasileira é inquestionável na evolução da arquitectura
relevantes, no caso brasileiro. portuguesa. Mas qual o quem foram realmente os médios de influencia e transmissão? Talvez
se tenha produzido através dos numerosos artigos que dedicou a revista “Arquitectura”, o
Na última fase desenhar-se-ão as relações encontradas nas diferentes cidades para culminar possivelmente através dos contactos de arquitectos portugueses, como Maurício Vasconcelos
com a realização do projecto de Arquitecturas Comparadas, seguindo a metodologia da ou Delfim Amorim, que trabalham então no Brasil?
investigação. Tem-se por objectivo a identificação dos elementos de referência da Habitação Será que existiu também influência inversa? Em quê se reflectiu? Um facto que aproxima a
Moderna, de modo a contribuir à concepção arquitectónica através do projecto, superando o realidade de esta possível relação foi a atribuição do prémio ao bairro das “Estacas” na II
seu carácter estritamente teórico e, ao mesmo tempo centrar a atenção nos aspectos básicos Bienal de Arquitectura de São Paulo em 1954. Dois anos antes, na I Bienal de São Paulo, Lúcio
da sua concepção assim como, nos critérios essenciais da habitação moderna de expressão Costa ganhou o I prémio de Habitação com o conjunto residencial do “Parque Guinle” no Rio
portuguesa. de Janeiro.

Quem foram os responsáveis, e de que escolas de arquitectura portuguesas precediam, de levar


6. os princípios da arquitectura moderna portuguesas aos territórios então colonizados, desde
8 O trabalho realizado até aqui parte de uma série de hipóteses que a partir do seu desenvolvimento África ao Oriente? Como se adaptaram às e com as particularidades arquitectónicas de cada 9
se procura dar resposta aos parâmetros estabelecidos. país? Logicamente se tem de ter em conta as politicas de Estado, as normativas y a legislação
sobre Habitação Colectiva, as técnicas de construção locais, os materiais existentes, assim como
Tal como Nuno Portas se perguntava numa conferência dada no FAD em Barcelona 10, Será factores como o clima, para poder avaliar e catalogar as referidas especificidades.
que Le Corbusier tinha tido a importância tão relevante na Historia da Arquitectura se não
fosse através do protagonismo dado através da revista “L’Architecture d’Aujourd’hui”? ou a Quais serão os sistemas de composição que ordenaram arquitectos tão diferentes em localizações
arquitectura inglesa e o TEAM 10 sem o apoio da revista “Architectural Design”? tão dispares? Existirão sistemas de proporções iguais entre os diferentes casos de estudo? De
De uma forma análoga e com base no caminho realizado até então, surge o momento de que forma influenciaram os diferentes sistemas estruturais na originalidade dos objectos de
perguntar se a arquitectura brasileira tinha tido o impacto que teve em Portugal se não tivesse estudo?
existido a revista “Arquitectura”? E será que a equipa de d’Athouguia e Sanches tinha realizado
o projecto das “Estacas” em 1949 sem a contribuição dos numerosos artigos dedicados à
arquitectura brasileira?

O distanciamento, inclusivé a confrontação que existia entre as únicas duas escolas de arquitectura
portuguesas, a de Lisboa e do Porto, era um facto totalmente assumido. Os primeiros encontros
dos arquitectos nacionais foram escassos e tardios. De facto, interessa salientar os aspectos em
que realmente as duas escolas se aproximaram e distanciaram. Será que tinham em comum
e seguiam os mesmos grandes maestros de referência da arquitectura mundial? Como foram
interpretados por cada Escola? Como se manifestaram as linhas academistas das duas escolas
e como influenciaram na projecção da habitação moderna.
Como conseguiu a modernidade do bairro de Alvalade em Lisboa, ou do bairro do Ramalde no 10_Conferência de Nuno Portas,
entre outros, realizada no II
Porto, contornar os princípios da arquitectura oficial do Estado Novo? Seminário Portugal Convida,
Como e por quem se estabeleceu o vínculo entre os valores modernos apresentados nos realizada en el FAD, Barcelona a
Congressos dos CIAM e a arquitectura portuguesa? 12 de Junho de 2008.
o panorama português

1. Ruptura e charneira Desenvolvem-se especificidades únicas no campo arquitectónico que com naturalidade,
A década de quarenta inicia-se com a Exposição do Mundo Português (1940), onde se equaciona os valores modernos, valorizando as questões do contexto, do significado do lugar,
verificaram interpretações viciadas no passado aliadas a ambiguidades ideológicas, o que não a importância dos materiais e técnicas tradicionais 5.
passavam de entraves à entrada dos valores modernos, subordinados a um espírito nacionalista.
Com a vitória de Franco em 1939 e com a consolidação da ditadura salazarista em Portugal, É no contexto do pós-guerra, marcado pela forte escassez e censura de informação, que a
estes dois países irão adoptar técnicas e mecanismos de exaltação aos “valores nacionais” influência da Arquitectura Moderna brasileira adquire um valor assinalável “era sobretudo
ao contrário da Itália que apesar da era de Mussolini, coexistiram com a arquitectura fascista do Brasil que se manifestavam as influências mais fortes estabelecidas ainda antes do fim da
espíritos modernistas como Terragni ou Pagano. Em Portugal, o regime de Salazar reprimia, todo guerra”6. Para isto contribuiu decisivamente o livro de Brazil Builds, editado em 1943 pelo Museu
e qualquer espírito moderno, como aliás se verificou em quase todos os regimes totalitarismo de Arte Moderna de Nova Iorque, da autoria de Philip Goodwin e com admiráveis fotografias
políticos, o que resumia o debate arquitectónico medíocre ao estilo português e nacional. de Kidder Smith, com o subtítulo “Architectural New and Old 1652-1942”, revela ao mundo
qualquer coisa de verdadeiramente inédito: a riqueza da arquitectura colonial e neoclássica do
O fim da primeira guerra mundial muda substancialmente as socioeconómicas da Europa, acelera Brasil e enorme força das obras de inspiração moderna, construídas exactamente durante os
o desenvolvimento industrial e faz aparecer novas tecnologias. O aumento demográfico das anos da guerra 7.
cidades e a mecanização dos transportes provocam a ruptura das estruturas urbanas existentes.
Portugal recebe tardiamente e lentamente as novas tecnologias mas absorve rapidamente o 5_TOSTÕES, Ana, “Modernização 2. O Congresso de 1948
grande problema urbanístico nos seus vários aspectos: social, funcional, higiénico e politico. É e regionalismo, 1948-1961” in Vive-se um tempo de contestação ao regime de Oliveira Salazar e reivindicam-se os princípios
portanto, a nível da habitação colectiva que urge solucionar a grave falta de oferta ao grande Catálogo Arquitectua século XX, do movimento moderno.
volume das massas migratórias para as principais cidades. Por primeira vez, a planificação Portugal, 1997. Neste contexto, surgem duas organizações de arquitectos particularmente importantes: ICAT
urbanística antecede o projecto arquitectónico, a racionalidade das formas será consequência 6_idem (Iniciativas Culturais Arte Técnica) em Lisboa (1946) e o ODAM (Organização dos Arquitectos
10 lógica das necessidades objectivas e a arquitectura condicionante do bem-estar das populações.1 Modernos) no Porto (1948), com o objectivo de “divulgar os princípios em que deve assentar 11
Já não é só um problema urbanístico mas também social, uma visão ideológica que através da 7_PEREIRA, Teotónio, Escritos a arquitectura moderna” 8. O ICAT, muito ligado à Escola de Lisboa e a Keil do Amaral, grupo
arquitectura se podia construir um mundo melhor. (1947-1999, selecção), FAUP
publicações, Porto, 1996, p.303
de oposição ao regime ditatorial e muito influenciado pelas doutrinas racionalistas europeias e
A conclusão da guerra e o despontar das democracias na Europa proporcionam um clima brasileiras, utilizando como veículo as EGAP (Exposições Gerais de Artes Plásticas 1946-1956
de maior agitação cultural, que torna a década de quarenta particularmente importante na 1_ BOTELHO, Manuel, “Os Anos 8_CASSIANO, Barbosa, (comp), e a revista Arquitectura. O ODAM era constituído apenas por arquitectos do Porto, e apesar
reflexão da arquitectura moderna em Portugal. 40: A ética da estética e a estética ODAM, Organização dos de compartirem muitas das oposições teóricas do ICAT, tiveram um papel mais influente e
da ética” in rA, Revista da FAUP, Arquitectos modernos, Porto
Ano I Número 0 Outubro 1987. 1947-195I, Porto, Ed. Asa, 1947, concretizador, revelando um espírito forte e de consciência crescente sobre a modernidade.
Num período de inquietudes e instabilidades, a arquitectura portuguesa luta pela conjugação dos p.145 Estes dois grupos, assumindo as novas ideologias, tiveram um papel fundamental no grande
primeiros sinais da modernidade num contexto cultural fortemente marcado pela tradição, onde 2_ALMEIDA, Pedro Viera, Viana acontecimento da década: Primeiro Congresso Nacional de Arquitectura em 1948. Com a
paradoxalmente se integra a influência da moderna arquitectura brasileira.2 Keil Amaral publica de Lima, Porto, Árvore, Lisboa, 9_ PEREIRA, Teotónio, Escritos derrota do fascismo na segunda guerra mundial, o regime de Salazar tentou dar uma imagem
Fundação Calouste Gulbenkian, (1947-1999, selecção), FAUP
A Arquitectura e Vida (1942) e Távora Problema da Casa Portuguesa (1947), onde declara 1996. publicações, Porto, 1996, p.302 mais democrática, o que não passou de um ensaio de cosmética, mantendo no essencial o seu
“tudo há que refazer, começando pelo princípio (…) impõe-se um trabalho sério, conciso, carácter ditatorial 9.
bem orientado e realista, cujos estudos poderiam talvez agrupar-se em três ordens: a) do meio 3_ TÁVORA, Fernando, O 10_ Actas do I Congresso
português; b) da arquitectura portuguesa existente; c) da arquitectura e das possibilidades da Problema da Casa Portuguesa, Nacional de Arquitectura, Maio/ O Congresso promovido pelo Sindicato Nacional de Arquitectos, que conferiu “garantias de
……….. Junho de 1948
construção moderna no mundo” 3 e Lúcio Costa publica “Razões para uma nova arquitectura”4, As premissas lançadas por Távora liberdade de expressão aos arquitectos” 10, situação inédita até então, foi considerado como
um texto de enormes repercussões a nível mundial. serão importantes no entendimento 11_ PEREIRA, Nuno Teotónio, “A “um momento de viragem na reconquista da liberdade de expressão dos arquitectos” 11. Foi um
Em Portugal cada vez se tornava mais claro que a única via e possibilidade de ser moderno, do percurso da sua produção arquitectura do Estado Novo”, in dos pontos mais altos da cultura portuguesa dos anos 40 e teve consequências determinantes
arquitectónica durante a década “Arquitectura”, 4ª série, n.142,
contemplava a capacidade de integração da tradição e simultaneamente os modernos de 50, teórica ou construída, no
para o entendimento da arquitectura dos anos seguintes.
Lisboa, Julho 1981.
progressos científicos e tecnológicos. seu protagonismo na escola do
Porto e determinantes na viragem 12_LIMA, Viana, “O problema Para cerca de uma centena e meia de arquitectos reunidos no Congresso, uma das tarefas era
A censura e o afastamento que caracteriza o regime salazarista provocaram fortes atrasos da arquitectura moderna em Português da Habitação”, in clara: o arquitecto tinha a responsabilidade e a função social de manter o equilíbrio da sociedade12.
Portugal. 1º Congresso Nacional de
industriais e tecnológicos em Portugal, que aliados à falta de tradição de um pensamento Assumiam uma postura moderna, defendendo a industrialização, particularmente para o
Arquitectura, Relatório da
moderno num país predominantemente rural, obrigam os arquitectos portugueses a uma 4_COSTA, Lúcio, razões para uma Comissão Executiva, Teses, problema urgente da habitação, pela primeira vez sem constrangimentos nem obrigatoriedades
efectiva adaptação e mesmo invenção do domínio das tecnologias. nova Arquitectura,……. Conclusões e Votos, p.216 de estilos. Os arquitectos dos “tempos modernos”, como se auto denominavam, propunham
novos desafios e defendiam modelos modernos para a prática da profissão: “quanto maior Existe efectivamente um caminho de procura em aliar as especificidades da arquitectura
for a técnica e a indústria mais prazer sentirão em ser artistas e mostrar em prática útil a sua nacional aos princípios modernos que se preconizavam na Europa, referenciadas claramente a
sensibilidade” 13. Tinham bem definido que a missão do arquitecto envolvia “a solução dos Le Corbusier e ainda que, por essa via, à arquitectura brasileira18.
problemas humanos, planeando cidades, arrumando tudo num conjunto harmónico e racional;
ele é o organizador das actividades humanas, o pedagogo, o filantropo, o civilizador!” 14. Na produção arquitectónica portuguesa dos anos 50, é no domínio da habitação colectiva que se
O Congresso marca o início de um novo período da arquitectura moderna em Portugal 15, revelam as maiores inovações, quer na amplitude dos programas quer na sua conceptualização
onde se conclui unanimemente que a arquitectura deve exprimir uma linguagem internacional espacial. Ensaiam-se, para além de inovadores jogos plásticos, novas formas de agrupamento,
que aliada ao urbanismo moderno, são a solução para o “gravíssimo” problema da habitação. de organização interna de fogos, de distribuição dos acessos, revelando uma assinalável
Assim, definia-se pouco a pouco, uma geração de arquitectos marcados pela dimensão pesquisa e destreza, acreditando, ingenuamente, no poder da arquitectura, transformadora
humana da profissão com a coragem de demarcar-se frontalmente das orientações do regime. do quadro de vida do quotidiano contemporâneo, respondendo, com objectivos de eficácia,
A renovação de um novo código icónico, a exigência da organização funcional da cidade, a às solicitações de uma vida moderna 19. Alertados para a problemática do habitat, realiza-se
renovação tecnológica, a utopia da arquitectura portadora de uma reforma de vida e condutora em 1957 a Exposição “O Cooperativismo Habitacional no Mundo” na SNBA e um Colóquio
da convivência civil, como um momento unificador e total não ultrapassam ambiguidades que no Sindicato Nacional dos Arquitectos sobre os aspectos sociais na concepção do habitat em
constituirão pano de fundo no debate da reflexão arquitectónica das décadas seguintes 16. 1960.

Um panorama de vazio deixado pela guerra praticamente em toda a Europa, apenas a A geração da pós-guerra, apesar de se enfrentar a muitas e diversas dificuldades, estava cada
Escandinávia e a Suíça, os únicos países que se mantiveram neutros no conflito, seguiram vez mais atenta à questão da habitação condensada na necessidade da habitação massiva,
o processo normal de crescimento das cidades e assumiram com pujança os valores do formulada como “o problema da habitação” 20. O moderno bloco de habitação colectiva em
Movimento Moderno. Os arquitectos portugueses, seduzidos pelo racionalismo europeu, pouco altura passou, primeiro, a ser entendido como uma unidade autónoma da cidade, e depois,
12 se interessavam sobre a arquitectura americana. através da sua repetição como parte integrante e constituinte do seu tecido. As contribuições da 13
ideologia radical e socialista dos arquitectos alemães expressas nos três primeiros congressos
dos CIAM 21, e sem dúvida, o ícone máximo da habitação colectiva, a Unidade de Habitação
3. O eterno debate: entre o moderno e o regional 13_SEGURADO, Jorge, “A solução 18_GOODWIN, Philip, Brasil de Marselha (1945-52) de Le Corbusier são fortes e decisivos influentes para os arquitectos
vertical na Habitação Colectiva”, Buildings, New York, MOMA,
Em tempos de pós-guerra da segunda guerra mundial, com o regime de Salazar cada vez mais 1943
portugueses.
in Idem, op.cit., p.231
enfraquecido, surge uma época de acesso ao debate internacional e de revisa disciplinar: os
arquitectos portugueses consolidavam definitivamente o seu direito a cidadania, de liberdade 14_VELOSO, Matos, “Os 19_TOSTÕES, Ana, Os Verdes Divididos, entre tradição ou compromisso oficial e a procura dos valores modernos e racionalistas,
criativa, num voto de louvor às formas novas; nesse voto associava-se a arquitectura do novo à regulamentos da construção Anos na Arquitectura Portuguesa destacam-se algumas equipas de pequena dimensão, quer em Lisboa como no Porto, lideradas
expressão do desejo de conquistas das liberdades democráticas. 17. urbana”, in Idem, op.cit., p.231 dos anos 50, FAUP publicações, por arquitectos formados na década de quarenta. No Porto, destacam-se José Carlos Loureiro,
1997, p.51
15_PORTAS, Nuno, “Evolução
Fernando Távora, Vasco Vieira da Costa que se fixa mais tarde em Luanda e em Lisboa, Nuno
No verão 1955, ocorre o célebre Inquérito à Arquitectura Regional Portuguesa, onde da Arquitectura Moderna em 20_AMARAL, Keil, O problema da Teotónio Pereira, Raul Chorão Ramalho, Manuel Taínha.
assumidamente se procurava a integração da modernidade e da tradição. Desencadeado por Portugal”, in Bruno Zevi, História Habitação, Porto, Livraria latina,
Keil do Amaral e realizado com o apoio oficial no sentido de “contribuir para o aportuguesamento da Arquitectura moderna, Lisboa, 1945
da arquitectura”, propõe-se uma aproximação ao lugar, às formas de povoamento e ás formas ed. Arcádia, 1977, p.733 4.Contestação e transição.
de vida traduzidas pela apropriação do espaço-território, aglomerado e edifício. Sobre o 16_BOTELHO, Manuel, “Os Anos 21_Congrès Internationaux Após a fase do “internacionalismo” e da vulgarização da Carta de Atenas, ao triângulo Gropius,
Inquérito, aperfeiçoa-se o conhecimento sobre as sub-regiões de Portugal, que até então se 40: A ética da estética e a estética d’Archi tecture Moderne, CIAM. Mies van der Rohe, Le Corbusier, sucede-se um período de transição, de contestação ao estilo
tinham confinado a uma visão romântica, desde o fim do século apegada à ideia da existência da ética” rA, Revista da FAUP, Ano 1928, CIAM I (La Sarraz, Suíça). internacional, caracterizado pela ruptura e contestação.
de “uma casa portuguesa”, definição de Raul Lino. I Número 0 Outubro 1987 Fundação dos CIAM: Fernando Távora, Nuno Teotónio Pereira, Manuel Tainha são alguns dos arquitectos portugueses
1929, CIAM II (Frankfurt,
17_MENDES, Manuel, “Entre a Alemanha). Unidade mínima de que se destacam pela sua crítica positiva aos valores reducionistas dos CIAM e a esperança
Neste ambiente de mudança, a arquitectura portuguesa vai-se libertando, pouco a pouco, dos autonomia criativa do “novo” e habitação (Existenzminimum) na defesa dos valores locais e regionais, como matriz cultural poderosa para superar a crise
regionalismos e da arquitectura do Estado Novo e reduz progressivamente o seu isolamento em a critica ao espaço diferenciado, 1930, CIAM III (Bruxelas, Bélgica); semântica do funcionalismo 22.
relação aos principais circuitos da produção arquitectónica internacional. Curiosamente, não tem ao modelo transferível – os Desenvolvimento racional do lote
compromissos realistas do “estilo (Rational Lot Development)
qualquer tipo de pretensão de abandono ou repulsão das suas raízes culturais. Intensificam-se os Os arquitectos portugueses foram fazendo uma leitura crítica ao Movimento Moderno, e
internacional””, rA, Revista da
contactos com a vizinha Espanha principalmente com o “circuito catalão”, debate-se nos pequenos FAUP, Ano I Número 0 Outubro 22_TAINHA, Manuel, em procuram, sem o renegar, encontrar-se com as raízes da arquitectura vernácula, o que em
Congressos organizados pela revista “Arquitectura” e aproxima-se dos Congressos dos CIAM. 1987 Arquitectura, n.153/1984 realidade só se tornou possível quando se libertaram dos clichés oficiais.
Ao longo deste percurso a transposição literal dos modelos brasileiros foi-se naturalmente aquisição de terrenos: grandes, isolados, mal equipados, em definição: dormitórios” 27.
atenuando, mas os princípios basilares da sua arquitectura enquanto prática inovadora Surgem equipas de arquitectos relevantes na aplicação dos princípios da modernidade, quer no
expressando aspirações de modernidade e fruto de condições sociais e culturais próprias Sul, Victor Figueiredo, Bartolomeu Costa Cabral, Maurício de Vasconcelos, Manuel Vicente, Ruy
mantiveram a sua actualidade 23. d’Athouguia, Justino Morais e Croft de Moura quer no Norte, Álvaro Siza, Alcino Soutinho,
A construção de Brasília torna-se um “cânone” brasileiro, junto a uma sociedade portuguesa A. Matos Ferreira, Pedro Ramalho, Sérgio Fernandez, João José Tinoco.
interessada já nos caminhos do revisionismo que os anos 60 internacionalmente exigem.
Portanto, há que clarificar, o impulso produzido pela cultura arquitectónica brasileira no arranque Na década que precede a mudança de 1974, alguns sinais de mudança convergiam,
definitivo da modernidade em Portugal, e depois o modo como este se rarefaz 24. acompanhados pela primeira vez pela divulgação da arquitectura portuguesa no estrangeiro: a
exposição na Fundação Smithsionan, outra itinerante em Inglaterra e pela publicação de vários
É fundamental referir que tudo passará por situar a Le Corbusier e localizá-lo não só quadro da tipos de artigos. Pela primeira vez, pela mão de Nuno Portas e Pedro Vieira de Almeida, Portugal
estrutura cultural do Brasil, como de referência dos fundamentos do Movimento Moderno. é citado em revistas internacionais como Hogar e Arquitectura 28 ou Controspazio 29e bastante
mais tarde, em 1976, sai o número histórico da revista Architecture d’Aujourd’hui 30 com uma
Ao longo da década de sessenta a luta pela integração do “estilo internacional” versus estilo retrospectiva dedicada á arquitectura portuguesa.
nacional, tradicional e rural, estava praticamente acabada. Entalado entre o desafio europeu e
a guerra colonial, este estava mais preocupado com a repressão politica do que com a censura Paralelamente, a obra do mercado da Vila da Feira de Fernando Távora é uma das obras
estilística. As acções de luta pela libertação pelos povos das colónias africanas, a par dos seleccionadas por Van Eyck no CIAM de Otterlo, ode Viana ed Lima também participa. Távora
territórios indianos, crescem e agitam o poder local. As contradições do poder são crescentes e partilha o sentimento de Coderch, de que “não são génios que necessitamos agora” 31, mas de
certos espaços de liberalização tornaram-se inevitáveis, perante: a emergência da nova classe uma atitude de diálogo e interpretação.
media urbana, das movimentações democráticas e estudantis, da afirmação prestigiada de Távora pratica o velho lema das vanguardas históricas: a relação do espaço existencial e a
25 27_ MENDES, Manuel, PORTAS,
14 expressões culturais não verbais . Nuno, Arquitectura Portuguesa plenitude da experiência vivida (seguido fielmente e de uma maneira sublime por Siza Vieira). 15
Contemporânea, Aos sessenta / Às especificidades da arquitectura portuguesa, antes citadas, soma-se uma peculiar relação de
O crescimento urbano das cidades segue aumentando sem estruturas habitacionais capazes de oitenta, p.11 esta arquitectura com os lugares, abrindo o caminho a opções mais humanizadas.
absorver os fluxos migratórios rurais. Alguns arquitectos, destacando uma vez mais, Teotónio
Pereira e Nuno Portas debruçam-se sobre este problema e apresentam novas propostas que 28_Hogar e Arquitectura, n.68/
1967.
se afastam definitivamente com os modelos anteriores de bairro. Os modelos de habitação 23_PEREIRA, Teotónio, Escritos 5. As Escolas e o ensino da Arquitectura
colectiva, denunciando um aumento de imagem e de escala significativos são genericamente (1947-1999, selecção), FAUP 29_Controspazio, n.9/1972. É unânime a voz da necessidade de renovar o ensino da arquitectura…32
aceites, principalmente depois do desaparecimento de Salazar (1968), com a integração de publicações, Porto, 1996, p.305 30_Architectura d’Aujourd’hui,
Marcelo Caetano no governo, desenhava-se uma maior abertura política. Os arquitectos n.185/1976. A Universidade será o centro das lutas contra o regime e, como consequência, vítima importante
24_MILHEIRO, Ana Vaz, A
encontram algumas possibilidades de concretização, particularmente no campo da habitação Construção do Brasil, Relações 31_CODERCH, José, “No son da sua repressão. Duas Escolas de Arquitectura existiam na época. A Escola do Porto, sob
social, mas é através dos escassos programas governamentais (Municípios de Lisboa e Porto, com a Cultura Arquitectónica genios que necesitamos ahora”, a direcção de Carlos Ramos era assumidamente mais liberal e dinâmica, afastando-se das
Previdência e, mais tarde, Fundo de Fomento de Habitação) que ianda conseguem algum tipo Portuguesa, FAUP publicações, in Arquitectura, 3ª série, n.73, doutrinas mais académicas e opressivas de Lisboa.
de encomendas. Em 1969, promovido pelo Ministério das Obras Públicas, o “Colóquio sobre 2005, p.17 Lisboa, Dezembro 1971 De facto a Escola do Porto, “marcando a direcção de uma docência e de uma convivência que,
a Politica de Habitação” reconhece, no seu relatório final, a necessidade de reestruturação em Lisboa, o talento de Cristino da Silva não solidificara (…) pelas suas opções classicizantes”33.
25_ MENDES, Manuel, PORTAS, 32_BOTELHO, Manuel, “Os Anos
do aparelho do estado e de reformas jurídico-institucionais, no sentido de aquele assumir “o Nuno, Arquitectura Portuguesa 40: A ética da estética e a estética Os primeiros encontros dos arquitectos nacionais foram escassos e tardios. De facto, interessa
papel que lhe cabe de coordenador e orientador geral de todas as actividades no sector da Contemporânea, Aos sessenta / da ética” in rA, Revista da FAUP, salientar neste estudo, os aspectos em que realmente as duas escolas se aproximaram e se
habitação” 26. oitenta, p.11 Ano I Número 0 Outubro 1987. distanciaram e como influenciaram na projecção da habitação moderna.
26_A propósito deste tema, ver A. 33_ACCIAIUOLLI, Margarida, os
Surgem os Planos de ordenamento e os Planos Reguladores na tentativa de dotar cidades de Fonseca FERREIRA, “Por uma nova anos 40 em Portugal, o País, o Enquanto a direcção se organizava, os estudantes por sua iniciativa, encontravam interesses,
planeamento urbanístico, no entanto o poder político bloqueia a possibilidade operativa e a Politica de Habitação”, Porto, Regime e as Artes – ” Restauração” e particularmente nas revistas de arquitectura. “L’Architecture d’Aujourd’hui” era a mais conhecida,
predisposição qualificadora destes planos, tornando-os em meros instrumentos burocráticos 1987; Sociedade e Território, “Celebração”, Lisboa, dissertação mas também na “Domus” ou “Casabella”.
e autocráticos. “A planificação é letra morta: os planos não chegam a ter força jurídica n.1, Porto, 1984; Augusto de Doutoramento em História de “O Brasil Moderno” foi muitas vezes usado como em exemplo de coerência, de correcção e
nem garantem as áreas necessárias para o alojamento social ou equipamentos públicos: os PITA “Uma perspectiva da sua Arte, FCSH-UNL, 1991, p.637
gestão”, Arquitectura, n.177, Jul/
dignidade 34.
Municípios – não eleitos – não têm responsabilidade no processo (à excepção do caso de Ago, 1989, Teotónio PEREIRA, 34_ Architectures à Porto, Pierre Sobre os mestres, Le Corbusier era o mais estudado e citado, tal como Gropius, Neutra, Wright
Lisboa) e a política dos novos bairros sociais é comandada centralmente pela facilidade de Arquitectura, n.108, 1969. Mardaga éditeur e ocasionalmente Perret.
Ainda na segunda metade da década de sessenta, ambas as escolas de Belas Artes, propõem _AMORIM, Delfim, CODA
tentativas de reestruturação e renovação do ensino (em paralelo com as que tiveram lugar “A MINHA CASA”,
leitura relacionada:
em Itália e na Grã-Bretanha) e a partir delas, surgiram mudanças de atitude e linguagem Póvoa, 1917 (1937-1943),
que manifestar-se-ão sobretudo na década seguinte. Uma coisa é clara, o tema do lugar de AMARAL, Keil “As Maleitas da 18 valores, 1947
edificação e os métodos de ensino sempre estiveram directamente ligados, através da presença Arquitectura”, Arquitectura,
de arquitectos inovadores e de grande valor arquitectónico, eventualmente por serem alunos e Lisboa, 2ª série n.17,18, Agosto
1974; n.19, Janeiro 1948; nª20,
professores da mesma escola. Enquanto os ateliers se dedicavam à prática da profissão, estes Fevereiro 1949; n.21, Março
arquitectos, professores da escola sempre impuseram um aproximação critica à realidade das 1948; n.23/24, Maio/Junho
experiências práticas 35. 1948.

Viviam-se tempos de mudança e a curiosidade pelos acontecimentos do “mundo exterior”, o PEREIRA, Nuno Teotónio,
“Habitações para maior
desejo de acompanhar criativamente os movimentos europeus de prática critica emergiam, número”, Arquitectura, Lisboa,
ainda que bastante tímidos. No entanto, existiram alguns arquitectos mais jovens que 3ªserie, n.110, Ago1969,
realizaram investigação metodológica: viagens de estudo, estágios, participação em encontros pp.181 a 188
internacionais ou na reciprocidade de plataformas de avaliação e na permuta de experiências
PEREIRA, Nuno Teotónio “As
profissionais. Apesar dos escassos meios, cada vez mais se associa uma maior circulação de casas Económicas” in JA, Mar-
informação. Destaque-se a pesquisa historiográfica, a investigação urbana e a racionalização Abr-mai 1983, p.11
do desenho, por exemplo, o estudo de standards e adequação das soluções de habitação aos
modos de vida, propondo-se estratégias para a politica de habitação, a politica dos solos e PORTAS, Nuno, “A
36 responsabilidade de uma
16 tipologias construtivas (que o regime não estava em condições de adoptar) . Novíssima Geração no
Movimento Moderno em
Portugal”, Arquitectura, Lisboa,
6. Os CODA (trabalhos finais de Curso para obtenção do título de Arquitecto na ESBAP) 3ªserie, n.66, Nov/dez 1969
Vários arquitectos da Escola de Lisboa vão para o Porto para terminar o curso, como d’Athouguia
Ensino de Arquitectura, Uma
que procura “tirar partido das possibilidades dos actuais conhecimentos da técnica sem a Experiencia de Cooperação entre
preocupação de adaptar ou repudiar elementos tradicionais” as Duas Escolas, catálogo de
exposição, Porto, 1984
O problema da cidade é quase ignorado nestes trabalhos, com excepção para Vasco Vieira 35_MENDES, Manuel, ”Porto:
Escola e Projectos 1940- “1º Congresso Nacional
da Costa que apresenta o projecto de uma cidade satélite de Luanda, no espírito do CIAM, 1986”Architectures à Porto, Pierre de Arquitectura, Relatório
merecendo especial atenção as tipologias e morfologias dos bairros indígenas. Mardaga éditeur, p.42 da comissão Executiva,
Amândio Marcelino, projecto de um Prédio de Rendimento, assumido como unificador da rua, Teses, conclusões e Votos do
uma maior sensibilidade ao problema da cidade. 36_MENDES, Manuel, PORTAS, Congresso”, Lisboa, Maio/Junho
Nuno, Arquitectura Portuguesa 1948
Contemporânea, Aos sessenta /
Relacionados com habitação colectiva oitenta, p.23 MENDES, Manuel; PORTAS,
Nuno Portas – habitat urbano A propósito, ver “Boletim do GTH”, Nuno, Arquitectura Portuguesa
Pedro Viera de Almeida, Ensaio sobre o Espaço em Arquitectura C.M. Lisboa. Nuno PORTAS, A Contemporânea - Anos sessenta/
Alternados com temas muito ligados ao rural, como de o Sérgio Fernandez ou …… Cidade como Arquitectura, Lisboa anos oitenta
1969. F Gonçalves, Urbanizar pag. 11/40, Edit. Fundação de
ou expressa em vários trabalhos do CODA dos inícios de 50m que apresentam conjuntos de e Construir Para Quem? Porto, Serralves - 1991
habitação: de João Tinoco, Miranda Guedes, João Archer de Carvalho. 1972. Actas do Colóquio sobre
Andresen sublinha o carácter de elemento integrativo que a arquitectura pode assumir, também Urbanismo, Lisboa, 1961. L. TOSTÕES, Ana, Arquitectura
como principio compositivo. Daí o: “… acredito profundamente que um simples elementos Vassalo ROSA, O Urbanismo a Portuguesa do séc. XX, em
arquitectónico pode valorizar a paisagem. Pode mesmo dar-lhe sentido, um sentido imprevisto Caminho duma Arquitectura total História da Arte Portuguesa, _ANDRESEN, João, CODA
e Considerado à Luz da Evolução direcção de Paulo Pereira - “UMA CASA”,
e novo”. do Habitat Urbano, em “O Tempo Volume III, pp. 537/544, Edição Porto, 1920 (1940-1945),
e o Modo”, n.34-35/1966. Circulo de Leitores, 1995 20 valores, 1949
1.0. LISBOA. o bairro de Alvalade.
1945 a. 1948 b. 1949 c.

O bairro de Alvalade, em Lisboa, é um caso paradigmático no contexto português. Iniciativa a_JACOBETTY Miguel, Viviendas
municipal com um plano de Faria da Costa 1, surge como uma tentativa de combater o problema Célula 1, Lisboa, 1945
então eminente da carência de oferta de habitação (principalmente casas de renda económica)
e marcará definitivamente a transformação da cidade de Lisboa. Inicialmente idealizado como b_FERREIRA, Joaquim, Av. D.
Rodrigo da Cunha, Lisboa, 1948,
um bairro ideal, denunciando as aspirações do Estado Novo e as intenções do modelo da Foto actual, IL
cidade-jardim, denuncia à partida a falta de associação a uma ideia de progresso em relação
à modernidade, que foi no entanto, pontualmente alterada com traçados racionalistas e c_D’ATHOUGUIA, Rui; SANCHEZ
denunciadores dos princípios da Carta de Atenas. Formozinho Bairro das Estacas,”,
Lisboa, 1949-55, foto actual IL

Ainda em 1948, Joaquim Ferreira propõem 20 blocos perpendiculares à Av. D. Rodrigo PLANO 1945
da Cunha com um extremo sentido moderno, mas é sem dúvida em 1949, com o “Bairro
das Estacas” de Ruy d’Athouguia e Formosinho Sanches que se atinge um sublime valor da
modernidade. Seguem-se outras importantes realizações a nível da habitação colectiva no
bairro, nomeadamente num dos eixos viários principais – a Avenida dos Estados Unidos da
América.

18
IMPLANTAÇÃO

FOTOS

_STEIN, Clarence, Implantação de


Radburg

_GROPIUS, Walter, Blocos de


Habitação, Wannsee, perspectiva,
1931

_GROPIUS, Walter, Blocos de


Habitação, Wannsee, perspectiva,
1931
REFERÊNCIAS
1.1. o bairro das “Estacas”. D’ATHOUGUIA, Ruy; SANCHES, Formosinho
1.1. Bairro das “Estacas”, 1949-55

Biarro São João de Deus, Alvalade, Lisboa


Projectado pelos jovens arquitectos Ruy d’Athouguia e Formosinho Sanches, o bairro das “Estacas” 1_Plano de Urbanização………..
é a imagem paradigmática deste sentimento de mudança. Transformam os dois quarteirões alferes melheiro
fechados inicialmente propostos no Plano de 1945, em um só, aberto nos topos, com uma serie
quatro blocos dispostos perpendicularmente à rua principal. Propõem uma maior densidade 2_ in Memória descritiva do
Lote nº24, Célula o do Sítio de
habitacional, alternada com uma extensa plataforma livre de jardins e pátios colectivos. Os Alvalade, Ruy d’Athouguia e
edifícios de apenas quatro pisos devido a uma imposição municipal, de planta livre e elevados Formosinho Sanches, CML, 21
sobre pilotis, estabelecem a continuidade do tecido urbano, ligando o bairro às principais vias Julho de 1952.
da cidade, sem com isso perder o carácter privado inerente ao sistema da habitação. Entre eles,
3_ idem
importantes zonas de encontro de carácter colectivo e de escala doméstica, projectados pelo
pelo Eng.º Ribeiro Teles. 4_O material “Lusolite” consiste
em placas de fibro-cimento e foi
A continuidade visual e física entre os blocos amplia os limites do lugar. À parte da escala muito utilizado na arquitectura
portuguesa. O seu êxito deve
quase doméstica, criam-se ambientes únicos inerentes ao sistema da habitação urbana: em grande parte, ao sucesso do
definem-se zonas de circulação cobertas, sistemas de acesso bem referenciados e entre eles, concurso lançado pela revista
amplos espaços de grande cuidado paisagístico. Cada árvore, colocada estrategicamente em Arquitectura n.35, com grande
relação aos pilares, dota o conjunto de um enorme equilíbrio e valor plástico. Existe uma divulgação e protagonismo.
cota quase contínua entre os vários espaços, apenas um subtil desfasamento de cotas, dado
substancialmente pela variedade e pelas características dos diferentes materiais: a relva (jardim),
a calçada portuguesa (zonas de circulação) e a pedra bordeando a projecção do edifício,
20 limitando a zona coberta. Sublime!
Inserido no contexto politico de censura a tudo o que “era moderno”, é importante salientar a
Em entrevista na revista Arq.a,
concretização de outros tipo de factores, como a diferenciação do acesso entre o automóvel e ano1, n.2 jul/ago 2000,
os cidadãos ou a inserção da tipologias duplex, valores claramente modernos, o que revela uma formosinho Sanches afirma que
enorme uma enorme mestria por parte dos autores para contornar os entraves municipais. o arq. Maurício Vasconcelos,
que fazia parte das suas relações
esteve no Brasil e quando voltou
As linhas horizontais das varandas dominam o desenho da fachada nascente. A verticalidade terá influenciado decisivamente o
dada pelas grelhas de protecção, tipo brise solei, cria um contraste necessário, equilibrando projecto. Ruy d’Athouguia nunca
delicadamente o conjunto e “escondendo” as zonas de serviço. Com o máximo rigor e precisão, viajou ao Brasil.
os arquitectos retiram o plano de fachada, criando a varanda como um elemento sombreador
de transição e prevêem a colocação superior de palas pivotantes com a possibilidade de
diferentes orientações segundo o movimento do sol. Citando a memória descritiva do projecto
“como sendo móveis e verticais como convém a uma fachada orientada a oeste” 2, de modo a
permitirem um controle eficaz sobre a luz natural e a incidência solar.
O plano posterior das varandas é constituído por grandes aberturas, janelas de parede a parede,
que acusam e evidenciam claramente a estrutura. A diversidade de planos conseguida cede
lugar aos efeitos claro-escuro de inegável interesse arquitectónico. “Não há nenhum tipo de
artificio, tudo é claro e directo” 3. A cobertura plana sempre foi de difícil aplicação em Portugal,
pois implica uma construção realmente mais dispendiosa e até então, pouco ou nada havia sido
realizada neste sentido. No entanto, o conceito foi entendido sobretudo na sua formalização
plástica, onde os arquitectos recorreram ao uso de da cobertura “lusalite”, um material que
_D’ATHOUGUIA, Ruy;
ganhava protagonismo crescente em Portugal, principalmente devido á publicidade da revista SANCHEZ, Formozinho
Arquitectura 4. Neste caso, as placas assumem uma ligeira inclinação e estão rematadas por Bairro das “Estacas”, 1949-55,
muros de altura justa, de modo a permitir uma leitura pura e clara dos volumes. Lisboa, foto actual IL
_D’ATHOUGUIA, Ruy; Estudo de Implantação, s/esc;
SANCHEZ, Formozinho tinta negra china e cor sobre papel
Bairro das “Estacas”, 1949-55, vegetal, n/fir, s/data, Arquivo Ruy
Lisboa, foto actual IL Jervis d’Athouguia

_Perspectiva em desenho livre de


Ruy d’Athouguia, Arquivo Graça
Correia

22

_D’ATHOUGUIA, Ruy;
_PLANTA DE LOCALIZAÇÃO SANCHEZ, Formozinho
Bairro das “Estacas”, 1949-55,
_PLANTAS BLOCO-TIPO Lisboa, foto in JA, n. 217
_FACHADA ESTE,
_FACHADA OESTE
_SECÇÃO LONGITUDINAL
Re-desenho, ESTAB, 2007, IL

_D’ATHOUGUIA, Ruy;
SANCHEZ, Formozinho
Bairro das “Estacas”, LIisboa
1949-55, foto in JA, n.217

25

_Relação Jardim-Edificío,
Esquiços, 2007, IL
_FACHADA ESTE,
_FACHADA OESTE
_SECÇÃO LONGITUDINAL
Re-desenho, ESTAB, 2007, IL

_D’ATHOUGUIA, Ruy;
SANCHEZ, Formozinho
Bairro das “Estacas”, 1949-55,
Lisboa,
foto in JA, n.217
Tipo A Tipo B

Todos os edifícios são de quatro andares: o primeiro e o segundo correspondem a habitações 5_MOURA, Eduardo Souto, em
de um só piso, enquanto que nos últimos andares foram desenvolvidas habitações em duplex. Jornal dos Arquitectos, n.217.
Os autores demonstraram uma grande mestria, uma vez que contornaram sabiamente a
legislação em vigor de modo a conseguirem mais um andar de habitações e, ao mesmo tempo,
engrandecer o projecto pela sua modernidade e originalidade. Identificam-se no conjunto
analisado, habitações tipo A (em ambos os extremos) com três quartos e do tipo B, com
dimensões mais reduzidas e apenas com dois quartos.
No entanto, a equipa de arquitectos desenvolveu oito projectos tipo (de A a H), sendo o tipo
A com o piso térrea destinado ao uso comercial e o tipo B, tem a planta térrea elevada sobre
pilotis.

Assim, jogando unicamente com os elementos construtivos, com o contraste de cheios e vazios,
com planos ou em luz ou em sombra, o contraste suave dos diferentes materiais, os arquitectos
conseguiram desenvolver um conjunto de grande valor arquitectónico e urbano aplicando
claramente os princípios da arquitectura moderna.

Resumindo, d’Athouguia e Sanches conseguiram pôr em prática quase tudo que há muito
tempo se ambicionava e ninguém o conseguia. De uma maneira sábia e consciente, o projecto
revelou a importância dos valores da topografia, da orientação solar, das zonas verdes úteis, a
28 racionalidade e funcionalismo. Faz referência aos princípios anunciados pelos arquitectos mais 29
jovens, nomeadamente os que foram expressos no Congresso de 48. Conseguiram realizar uma
crítica “politicamente correcta”, muito difícil de concretizar devidos aos sucessivos entraves do
Município.

Em 1954, o bairro das Estacas torna-se um paradigma da evolução da arquitectura portuguesa, leitura referente:
que se afasta da arquitectura do regime e entra definitivamente no modernismo. CORREIA, Graça, Ruy
d’Athouguia a modernidade em
aberto, edições caleidoscópio,
2008
Foi alvo de diversos prémios, II bienal de Arquitectura de São Paulo em 1954 e prémio municipal
do mesmo ano. É curioso realçar a forte ligação à arquitectura moderna brasileira ao ano Arquitectura n.53, Nov-Dez 1954
1949. Foi ainda publicado em 1954 na revista “Arquitectura Portuguesa” e mais recentemente (publicação do projecto das
no “Jornal dos Arquitectos”, n.217, com um artigo de Eduardo Souto Moura. Tem sido alvo das Estacas)
mais diversas referências, com a mais recente representação na última trienal de Arquitectura Arquitectura n.130, 1974
de Lisboa, 2007. (Entrevista a Formosinho Sanches
– diz que não participou no
“O que me interessa no Bairro das Estacas é a sua referência de hoje. Congresso por estar a preparar o
trabalho de defesa do Diploma)
É o método, 50 anos depois: 1 módulo / 1 quarto; 2 módulos / 2 quartos; 2 módulos (sala/
cozinha) / 1 casa; várias casas / 1 bloco; vários blocos paralelos (e nos vazios, praças e jardins) Arq.a, ano1, n.2 jul/ago
/ cidade. 2000. FS afirma que o arq.
Maurício Vasconcelos, que fazia
parte das suas relações esteve
Um bloco dispõe-se perpendicularmente aos outros, com comércio no r/c; faz uma rua que se no Brasil e quando voltou terá
_PLANTA TIPO DUPLEX A e B
liga a outras, ao bairro, à cidade. Tudo isto entre 1949 e 1955; passados 50 anos, por muito _PLANTA TIPO A e B
influenciado decisivamente o
que nos custe, a Carta de Atenas ainda não tem uma alternativa viável” 5. projecto. Re-desenho, ESTAB, 2007, IL
1.2. A MUDANÇA DE ESCALA E DE IMAGEM: _LISBOA_PORTO_RIO DE JANEIRO_S.PAULO_RECIFE_BRASÍLIA_LUANDA_MAPUTO_MACAU
a Avenida Estados Unidos da América, Alvalade, Lisboa

O traçado da Avenida Estados Unidos da América é anterior ao Plano de Urbanização do 6_”A Urbanização do Sítio de
Sitio de Alvalade 6 e foi desde o início concebida pelo Município, ainda em 1941 como a Alvalade”, Câmara Municipal de
“grande avenida de circulação”. Citando a memória do plano de urbanização “ao descrever Lisboa, CML, Lisboa, Setembro,
a zona englobada pelo plano no que se refere a circunstância de ser atravessada no sentido 1948.
Este-Oeste por uma das grandes artérias circulares do Plano de urbanização da Cidade – A 7_ Arquitectura, 2ªsérie, n.17-18,
Avenida Estados Unidos da América. A divisão da área a urbanizar resulta da experiencia desta Lisboa, Ago. de 1947.
artéria 7. O plano de Urbanização de 1945 já previa a implantação de blocos perpendiculares
à Avenida ao longo do lado Norte, no entanto em 1951, a Câmara Municipal de Lisboa, 8_Arquitectura, 2ªsérie, n.50-51,
Lisboa, Nov.de 1953.
elabora um novo plano que já contempla a divisão em parcelas das áreas a construir. Mantêm
a implantação do lado Norte e prevêem a alteração para o lado Sul: os blocos contínuos e
paralelos à Avenida, com uma volumetria de quatro pisos e comércio na planta térrea dão lugar
a edifícios perpendiculares à rua principal, o que anunciava já uma evolução em relação ao
plano original.

É exactamente para o lado Sul, que a equipa de Celestino Castro, Hernâni Gandra, João Simões,
Francisco Castro Rodrigues e José Lobo, apresentam uma proposta algo radical e propõem _Plano de Urbanização para o
definitivamente a primeira solução funcional e verdadeiramente racionalista de habitação Sitio de Alvalade - Parcial, 1945.
colectiva em altura. Denunciava claramente os princípios corbusianos da Unité, com tipologias
_Planta de Divisão de Lotes na Av.
de áreas mínimas organizadas em duplex, um inédito pé direito mínimo de 2,4m e duplo EUA, CML, 1951
30 em mezzanine sobre a sala. Foi considerada uma proposta demasiado inovadora, e por isso, 31
não aceite pelo município, foi publicado pela revista Arquitectura em 1953, estrategicamente _Planta de Divisão de Lotes na Av.
colocado ao lado da primeira apresentação de língua portuguesa da unidade de habitação de EUA, CML, 1956
Marselha e da Carta de Carlos Lazlo sobre “A posição social do Arquitecto” 8.
_Plano de Localização da Av.
EUA, Re-desenhado, IL, 2007
O plano concluído em 1952, já previa a implantação inovadora do projecto de Felipe Figueiredo
e Jorge Segurado (caso 1.2.1.) para o cruzamento da Av. EUA e a Av. de Roma, orientando os
blocos de habitação no sentido este-oeste em detrimento do conjunto urbano que acompanhava
a forma da praça.

Em 1956, foi realizado um novo estudo pelos serviços municipais para a Avenida EUA,
incorporando já os seguintes projectos:
• Cruzamento da Av. EUA e a AV. Roma, projecto de Filipe Figueiredo e Jorge Segurado
(caso 1.2.1.);
• O troço da Av. EUA, compreendido entre a Av. Roma e Entrecampos, do lado Sul, projecto
de Croft de Moura, Henrique Albino e Craveiro Lopes (caso 1.6.);
• O troço Av. EUA , compreendido entre a Av. Rio de Janeiro e a Av. do Aeroporto, lado
Norte, projecto de Manuel Laginha, Vasconcelos Esteves e Pedro Cid (caso 1.2.2.);
• O troço Av. EUA , compreendido entre a Av. Rio de Janeiro e a Av. Roma, lado Norte,
_Proposta Concurso para o
projecto de Joaquim Areal e Silva (caso 1.2.3.)
conjunto residencial para Av.
EUA, Celestino Castro, Hernâni
O plano da Avenida EUA foi finalmente completado entre 1963 e 1967, com a apresentação Gandra, João Simões, Francisco
dos diferentes lotes (caso 1.2.4.), concluindo assim as últimas intervenções da referida avenida Castro Rodrigues e José Lobo, Os quatros casos de estudo da
ao longo do seu lado sul, quer este quer oeste. fonteArquitectura, n.50-51, Av. EUA, Lisboa, anos 50 e 60.
1.2.1 _ FIGUEIREDO, Filipe; SEGURADO, Conjunto Urbano, Cruce Av. EUA. Lisboa, 1951 BLOCO 9_ TOSTÕES, Ana, “Arquitectura O conjunto vibrante de Filipe Figueiredo e Jorge Segurado (1.2.1) articula o cruzamento das
Casos 1.2.1, 1.2.2, 1.2.3, 1.2.4, Portuguesa dos anos 50: Os duas avenidas mais importantes no bairro, com quatro grandes blocos de treze pisos. Aproxima-
1.2.2 _CID, Pedro; LAGINHA, Mario, Conjunto urbano en la Av. EUA, Lisboa, 1954-55 fotos actuais, IL Verdes Anos ou o Movimento se claramente aos princípios expressos da Unidade de Marselha de Le Corbusier, com um piso
Moderno em Portugal”, dissertação recuado (sétimo andar) inicialmente previsto para uma galeria comercial, mas que por falta
de Mestrado em História de Arte,
1.2.3 _AREAL, Joaquim, Conjunto Urbano en la Av. EUA Lisboa, 1955 Lisboa, FCSH, Universidade Nova de verbas acabou por ser destinado, também à Habitação. No entanto, seguiu bem assumido
de Lisboa, FAUP, 1994 na fachada, com as janelas recuadas do plano de fachada, evidenciando as linhas horizontais
1.2.4 _FREIRE, Castro, Conjunto Urbano en la Av. EUA, Lisboa, 1967 ao longo do edifício. As habitações apresentam tipologias mínimas e duplex e a cobertura
10_ idem é praticável. A presença de estes blocos na cidade de Lisboa foi um dos primeiros casos de
construção decididamente em altura 9. Este projecto, devido ao tráfego intenso de ambas as
avenidas, associado às peculiares características topográficas do solar, sem a possibilidade
de criar espaços colectivos afastados das vias de transito, os autores procuraram estabelecer
uma relação entre a força dos volumes e a sua ligação com a envolvente de uma forma pouco
comum até então. Dois dos quatro blocos, implantam-se perpendicularmente ao cruzamento,
1.2.1. 1.2.2. giram e avançam sobre os seus extremos laterais, enquanto que os restantes oferecem à rua
o seu lado mais comprido e retiram-se subtilmente em relação ao cruzamento. O resultado é
totalmente controlado e assume um notável efeito de contracção e dilatação do espaço 10.

Ambos os casos seguintes (1.2.2, 1.2.3, 1.2.4) cumprem os princípios expressos no Plano
do Município, e expressam claramente os princípios do movimento moderno: o conjunto
tende a ser tomado como uma Unidade Residencial, com os blocos de Habitação mais altos
perpendiculares à Avenida e outros mais baixos (4 andares) a encerram o quarteirão, paralelos
e recuados à avenida principal. Ambos os conjuntos têm a piso térreo elevado sobre pilotis,
alguns com comércio. Todos eles denunciam uma grande atenção aos espaços colectivos, com
zonas ajardinadas entre os blocos com cerca de 60m. As fachadas buscam a orientação este-
oeste, de maneira que as habitações recebem a melhor exposição solar. 33
Curiosamente, Castro Rodrigues em 1967, concretiza o projecto no lugar onde, anos antes,
não tinham aceite a proposta da equipa de Gandra.

1.2.1 1.2.3 1.2.2 1.2.4

1.2.3. 1.2.4.
1.2.1 _ FIGUEIREDO, Filipe; SEGURADO, Conjunto Urbano, Cruce Av. EUA. Lisboa, 1951 PLANTA TÉRREA, A ESQUINA,
Casos 1.2.1, 1.2.2, 1.2.3 , 1.2.4 Casos 1.2.1, 1.2.2, 1.2.3 , 1.2.4
1.2.2 _CID, Pedro; LAGINHA, Mario, Conjunto urbano en la Av. EUA, Lisboa, 1954-55 Fotos actuais, IL Fotos actuais, IL

1.2.3 _AREAL, Joaquim, Conjunto Urbano en la Av. EUA Lisboa, 1955

1.2.4 _FREIRE, Castro, Conjunto Urbano en la Av. EUA, Lisboa, 1967

1.2.1 1.2.2.

1.2.3 1.2.4.
O conjunto de Castro Freire (1.2.4), de implantação mais tardia, segue os princípios dos
conjuntos urbanos envolventes e apresenta uma forte relação, apesar de separados por uma
avenida de intenso tráfego, com os outros casos apresentados. O extremo oeste, compreendido
entre a Av. Roma e a Av. Rio de Janeiro, segue a implantação ao eixo dos edifícios do conjunto
de Joaquim Areal (1.2.3). De uma forma análoga, os edifícios no troço mais a Este, estão
implantados ao eixo dos pátios ajardinados do conjunto da equipa de Pedro Cid (1.2.2).

1.2.1
CONJUNTO URBANO,
Casos 1.2.1, 1.2.2, 1.2.3 , 1.2.4
fotos actuais, IL
50.30
77.30

1.2.3

1.2.4

60.00

67.65

1.2.2
44.20
55.65

60.00

65.80

62.90
Relação entre PLANTAS TIPO,
ESCALA GRAFICA
Casos 1.2.1, 1.2.2, 1.2.3 , 1.2.4
0 10 20 50
Re-desenho, ESTAB, 2007, IL
DETALHE DA FACHADA _LISBOA_PORTO_RIO DE JANEIRO_S.PAULO_RECIFE_BRASÍLIA_LUANDA_MAPUTO_MACAU
Casos 1.2.2, 1.2.3 , 1.2.4
Fotos actuais, IL

Assiste-se à aplicação dos mesmos princípios


arquitectónicos expressos nas “Estacas”: a libertação da
planta térrea, com pátios ajardinados de consideradas
dimensões para uso colectivo entre os blocos.
O tratamento plástico das fachadas reflecte um grande
rigor no desenho particularmente no uso dos brise
solei, a preocupação das tipologias a duas frentes e a
38 aplicação dos duplex nos últimos pisos. 39

De facto, o modo com são encarados os tipos de


aberturas é revelador de uma rica exploração formal
e de adaptação às realidades do mundo português,
através da aplicação da diversidades de soluções,
certamente definidas como funcionalistas, que vão
desde os balcões recuados, aos brise solei, às palas e às
grelhas cerâmicas, determinantes na leitura plástica dos
volumes apresentados.

A da análise comparativa dos casos no bairro de


Alvalade, particularmente ao longo da evolução da
Avenida Estados Unidos da América, permite constatar
a forte relação visual entre os vários conjuntos, no seu
sentido transversal e longitudinal.

Apresentam-se linguagens próprios de cada equipa


de arquitectos, que apesar de distintas, souberam e
aplicaram os mesmos princípios formais e plásticos
de modo a estabelecerem uma forte unidade entre
os diversos conjuntos urbanos e na cidade, dotando
simultaneamente originalidade e singularidade a cada
conjunto.
Outros casos na cidade de Lisboa _LISBOA_PORTO_RIO DE JANEIRO_S.PAULO_RECIFE_BRASÍLIA_LUANDA_MAPUTO_MACAU

No entanto, o entendimento sobre este tipo de infra-estrutura atinge um enorme esplendor com 6_”A Urbanização do Sítio de
o conjunto da Avenida Infante Santo, projectado pela mestria da equipa de Gandra, Pessoa Alvalade”, Câmara Municipal de
e Manta (1955). Unem de uma maneira sublime a cidade tradicional a uma imagem urbana Lisboa, CML, Lisboa, Setembro,
1948.
moderna, com o rigor da modelação de uma plataforma que separa os blocos residenciais da
grande avenida de circulação. 7_ Arquitectura, 2ªsérie, n.17-18,
Lisboa, Ago. de 1947.
Ainda no bairro de Alvalade, os princípios da Carta de Atenas e as influências modernas
8_Arquitectura, 2ªsérie, n.50-51,
brasileiras, são retomados com grande profissionalismo por Jorge Segurado, através do Lisboa, Nov.de 1953.
conjunto residencial de blocos perpendiculares à Avenida do Brasil (1958). Revelam uma atitude
verdadeiramente moderna com a reutilização do azulejo, material de revestimento tradicional,
ao cobrir por completo os edifícios de um amarelo vibrante.

Mais tarde, o bairro dos Olivais, também de iniciativa municipal, vai reflectir a situação de
charneira que se vivia. O plano para a zona Norte (1955) assume a expressão urbana moderna
e internacional e os Olivais Sul, por seu lado, tornar-se-ão num cenário vivo de experimentação
tipológica e urbanística inspiradas na cultura das new town da pós-guerra inglês.

De modo a fazer face ao crescimento da cidade e respeitando a lógica do PDM de De Gröer, a


CML realiza planos parciais de urbanização em grandes áreas de terreno que era proprietária.
40 Com um plano inicial de 1955, de José Rafael Botelho, a “célula” dos Olivais Norte será 41
revista nos anos seguintes (1957,1958), com o apoio do GEU (Gabinete de Estudos de
Urbanização). Numa área de 40 há, o plano previa 1.889 habitações para 8.500 habitantes e
foram construídos durante os anos 60 com critérios modernos de desenho urbano: segregação
funcional entre circulações, habitações e equipamentos, centro cívico, espaço verde. A estrutura
viária abandona a rua corredor em favor do espaço verde (62%da área), assenta num desenho
hierarquizado em três níveis: vias principais que ligam a cidade ao bairro; vias secundárias de
acesso às habitações, sem articulação entre si; vias pedonais.

Olivais Norte, planos de 1955 (mas com projectos de edifícios de 1959) e Olivais Sul
(1960), conhecerão iniciativas modernas significativas, quer no domínio urbanístico, com um
parcelamento rigoroso e novos conceitos do espaço público, quer no desenho de edifícios cm
projectos tipo e construção sistematizada. Os Olivais Sul, já mais influenciados pelas “New
Towns” inglesas, reinterpretando o conceito de “unidades mínimas de vida”, organizadas leitura relacionada:
em volta do equipamento para as necessidades quotidianas. Com vista à integração social, PORTAS, Catarina; TORRES,
estabelecem-se vários estratos sócias, 4 categorias de habitação, reunidas em volta dos Helena; FREIRE, Adriana, Olivais,
equipamentos colectivos. Retrato de um Bairro, pag. 71,
96/101, Edição Liscenter, 1995

(seria interessante comparar este


bairro com os FuenCarral, Cano
Roto e Monbau (próximos de
ON) in Arquitectura n.82, 1964
– art. Planeamento habitacional
em Espanha do arq. Luís Vassalo
Rosa)
_LISBOA_PORTO_RIO DE JANEIRO_S.PAULO_RECIFE_BRASÍLIA_LUANDA_MAPUTO_MACAU

1953 1955 1956 1959 1960

1.3. 1.7.
_PEREIRA, Teotónio, CABRAL _PEREIRA, Teotónio
Barlolomeu Torre de Habitação Colectiva
Edifício Águas Livres, lisboa Olivais-Norte, Lisboa_1959
1953-55

Praça das Águas Livres Olivais-Norte

1.4. 1.8.
PESSOA, Alberto, GANDRA, MANTA_Abel_
Hernani, Conj. de Habitação Olivais-Norte_1960-64
Colectiva, Lisboa_1953-62

Av. Infante Santo Olivais-Norte

1.5. 1.9.
SEGURADO, José D’ATHOUGUIA, Ruy_
Edifício Montepio Geral Cascais, Lisboa_1960-65
Lisboa_1956

Av. Brasil Av.do Infante, Cascais

1.6. 1.10.
_MOURA, Albino ??
Edifícios na Av. EUA Conjunto de Habitação
Lisboa_1956 Colectiva, na Av. EUA

Avenida dos EUA Avenida dos E.U.A.


2.0. a cidade do PORTO

Um dos aspectos particulares da história da arquitectura portuguesa é o caminho que o Norte 10_MENDES, Manuel, “Porto: Em 1952 realiza-se o primeiro “Plano regulador” para a cidade do Porto pelo Eng. Antão
e o Sul seguiram e o modo como se influenciaram entre eles. Frente a uma enorme variedade Ecole et projects 1940-1986”, Almeida Garret, e dez anos mais tarde, concretiza-se o “Plano regulador urbano da cidade
de situações, os dois caminhos foram mutuamente complementares e simultaneamente Architectures à Porto, Pierre do Porto”, da autoria de Robert Duzelle com os seus colaboradores do Porto: ”produto de
contraditórios, que tem que ser visto como uma especificidade nacional 1. A Escola de Belas Artes Mardaga éditeur, p.54. um racionalismo duro e perverso, burocrático e de estereótipos académicos das grandes
do Porto, desde sempre praticou doutrinas de vanguarda, particularmente em relação ao ensino 11_ BARBOSA, Cassiano, ODAM, metrópoles” 10. No entanto, e apresar de serem uma importante contribuição ao planeamento
academista de Lisboa. No entanto, ainda havia muito trabalho a fazer e existiam críticas duras, 1_MENDES, Manuel, “Porto: Organização dos Arquitectos urbanístico da cidade, este tipo de Planos eram fortemente subordinados e manipulados pelo
no campo da arquitectura “já não se poderá considerar natural que, na cadeira de História Escolas e Projectos 1940-1986”, Modernos, Porto, 1947-1952, organismo do Estado, e com isso, extremamente conservadores.
da arquitectura, ministrada na ESBAP, não se fizesse referência à Arquitectura Moderna”2, mas Architectures à Porto, Pierre Porto, 1972.
principalmente no campo do urbanismo, onde se verificava que “eram escassos ou inexistentes Mandaga editéur Em 1957, Carlos Ramos chega à direcção da Escola Superior de Belas Artes do Porto – ESBAP
12_PIDE, Polícia Intervenção e
os técnicos especializados” 3. 2_ BARBOSA, Cassiano, ODAM, Defesa do Estado – censurou – assim como as críticas e as reformas do ensino, segundo uma nova visão e ética. Reestrutura
Organização dos Arquitectos inúmeros projectos, boicotou a via académica e a actividade pedagógica, de modo a alcançar uma nova perspectiva para
Entre o início da Guerra Civil de Espanha e fim da 2ª Guerra Mundial, integrados nas doutrinas Modernos, Porto, 1947-1952, várias profissões, efectuou a Escola. Entre os compromissos com o “estilo internacional”, a saturação do moderno e a
Porto, 1972. perseguições e prisões sem
dos CIAM, surge o grupo ODAM 4, “com a fé, o entusiasmo da juventude e o desejo de fundamento, vezes sem conta. investigação sobre a arquitectura tradicional portuguesa, desenvolve as principais matérias de
concorrerem, com o seu esforço para a resolução dos problemas técnicos e sociais que se 3_idem ensino. A partir deste ponto de vista, o método de ensino eleito pela Escola do Porto, tentava
patenteavam” 5, tendo como objectivo divulgar os princípios em que deve assentar uma 13_ MENDES, Manuel, “Porto: aproximar-se o mais possível à realidade arquitectónica, e do País, conjugando simplesmente
Arquitectura Moderna. 4_ODAM – Geralmente Ecole et projects 1940-1986”, a originalidade do método em si e a herança da arquitectura contemporânea portuguesa.
denominada pela Organização Architectures à Porto, Pierre
Grupo dinâmico e dinamizador que permitia antever a esperança nos destinos da arquitectura Mardaga éditeur, p.54. Preconizava-se o objectivo de “descrever na plenitude do tempo as qualidades e a estabilidade
dos Arquitectos Modernos,
portuguesa. também houve referencia do material arquitectónico e a variedade da sua estrutura formal. (…) Por convicção e com
como sendo a Organização 14_ idem algum sentido de risco, as suas características específicas baseavam-se na memória colectiva,
44 A cidade portuense assumiu, de uma maneira inequívoca, uma forte proximidade às teorias de Le em Defesa de uma Arquitectura formação e expressão da sua compreensão cobre a prática arquitectural” 11. 45
Moderna. O Grupo iniciou a sua
Corbusier e à Carta de Atenas, através das teses que eram sistematicamente citadas na tentativa actividade em 1947 e dissolveu-
Vivem-se momentos complicados: de censura e de contestação. Sucedem-se as perseguições e
de solucionar os problemas urgentes: não só urbanísticos, como também arquitectónicos. Era se em 1952. Durante os 5 anos as prisões. Arménio Losa, apesar de ter sido convidado para professor pelo Carlos Ramos, nunca
fundamental “reintroduzir as qualidades naturais na vida quotidiana dos portugueses…sol, da sua existência, destacam- foi admitido devido às imposições do Estado, possivelmente da própria PIDE 12. No entanto,
espaço, árvores” 6, um sentimento expresso em todas as teses defendidas pelos arquitectos se as referencias expressas na o que se tenta a todo o custo levar adiante e praticar são “processos de investigação onde
Compilação de Cassiano Barbosa leitura relacionada:
portuenses no 1º Congresso de Arquitectura (1948), que reflectiam o sentimento generalizado sobre o grupo, a intervenção
a actividade profissional existe associada a memórias do presente e do passado, fragmentos
para a acção. e iniciativa no 1º Congresso BARBOSA, Cassiano, ODAM, de conhecimento que elaboram um modelo teórico de intervenção. Ideia de continuidade e
No entanto, a intervenção dos arquitectos no Porto fica, porém, concentrada na pequena acção Nacional, 1ª Exposição ODAM, Organização dos Arquitectos consciência da ruptura, transformação e adaptação de novos valores às mudanças sócias e
urbana limitada pelo edifício isolado e a sua envolvente. Contrariando esta tendência assiste-se Porto, 1951 e, também, a 2ª Modernos, Porto, 1947-1952, culturais” 13.
Exposição ODAM, Aveiro, 1952. Porto, 1972.
à intervenção do bairro do Ramalde de Fernando Távora ou anos mais tarde no conjunto do
Luso de José Carlos Loureiro e Luís Pádua Ramos. 5_idem FIGUEIREDO, Edite, ODAM: Uma coisa é certa, estes arquitectos desde sempre mantiveram uma relação muito forte, com a
Valores Modernos y la arquitectura do lugar.
“Conscientes da herança da arquitectura contemporânea portuguesa, os arquitectos do Porto 6_VITAL, António Lobão, “A casa, confrontación con la realidad As equipas do Norte que participam no Inquérito à Arquitectura Popular em 1955 (e que
o homem, e a arquitectura”, in productiva, tese de doctorado
construíram o seu próprio caminho. Movem-se entre permanência e passagem, novidade e ODAM:…p.33-37. ESTAB
expressará no X CIAM com a apresentação de um trabalho sobre o habitat rural) valorizam o
inovação, tradição e tradicionalismo, nacionalismo e regionalismo, colectivo e individual” 7. “sítio”, a forma do local e “as formas de vida traduzidas nos modos de apropriação do espaço
Em Junho de 1951, fomentada pela ODAM, realiza-se Exposição dos Arquitectos do Porto, no 7_ BARBOSA, Cassiano, ODAM, Exposição ODAM, Arquitectura, – o território, aglomerado, o edifício 14. O enquadramento com a paisagem, a envolvente do
salão nobre do Ateneu Comercial do Porto, na qual participam cerca de cinquenta arquitectos. Organização dos Arquitectos 2ªsérie, n.32 / 1949 edifício e a qualidade do espaço interior (organização, uso, equipamento, mobiliário), processos
Modernos, Porto, 1947-1952,
Um dos painéis publicitava em letras grandes: “Os nossos edifícios são diferentes dos do Porto, 1972. O Primeiro de Janeiro, 13 de
associativos, factores psicológicos sobre a utilização e tratamento dos materiais, texturas, cores
passado porque vivemos num mundo diferente” 8. Junho de 1951. definirão os principais sistemas de expressão do que se viria a denominar-se a “Escola do
Consistia na mostra de quase vinte projectos “interessantes, agradáveis, honestos, todas as 8_dum texto editado por Meseum Jornal de Noticias, de 28 de Porto”. Mais activos e participativos nos congressos CIAM, os arquitectos modernos do Porto vão
possibilidades da Arquitectura Moderna, da autêntica Arquitectura Moderna. Há de tudo: of Modern ArtI, New York. Junho de 1951. mesmo criar o grupo CIAM Porto, fundado por Viana de Lima que se juntaram Andresen, Távora
pousadas, habitações, fábricas, hotéis, piscinas, casas de cidade, de campo, de praia…. 9_ALMEIDA, Ramos, Arquitectura Participação X CIAM,
e António Veloso. Aproveitaram a oportunidade para expressar a dualidade da mentalidade
Com aquela pequena amostra pode-se ver o que seria o Mundo do nosso tempo, todo assim Moderna, in Jornal de Noticias, Arquitectura, 2ªsérie, n.64, arquitectónica portuguesa urbano-rural e apresentam no X CIAM, em Dubrovink, um projecto
construído com cor, com luz, com beleza, com comodidade, com utilidade…” 9. 28 de Junho de 1951. Lisboa intitulado “Plano para uma comunidade rural” .
2.1. BARBOSA, Cassiano, LOSA, Arménio _LISBOA_PORTO_RIO DE JANEIRO_S.PAULO_RECIFE_BRASÍLIA_LUANDA_MAPUTO_MACAU

1945 1946 1950 1961

2.1.1. _BARBOSA, Cassiano, 16_LOSA, Arménio, Depoimento, Pode justamente, destacar-se o papel de Arménio Losa e Cassiano Branco, como pionei-
LOSA, Arménio in O Comércio do Porto, ros da modernidade portuense e reveladores de uma invulgar capacidade de entendimento
Bloco da Carvalhosa, Porto, Novembro de 1967. do desenho da cidade. A utilização exemplar de modelos importados, permite-lhes ensaiar
1945-50 propostas de renovação ao nível da imagem, da espacialidade e da organização funcio-
17_MENDES, Manuel, RAMALHO,
Pedro, Uma Homenagem a nal, acompanhadas de um rigoroso domínio das tecnologias da construção pouco usual na
Arménio Losa, Porto, Câmara época. Ainda em 1945, o bloco da Carvalhosa anuncia esta estratégia que se reflectirá no
Municipal de Matosinhos/ Edições rigor construtivo e invenção formal do bloco da Constituição (1949). Realizam vários projec-
Afrontamento, 1995, p.17. tos de habitação colectiva, onde revelam o saber fazer da arquitectura, equacionando novos
18_MENDES, Manuel, em dispositivos na organização do fogo, do edifício ao urbanismo. Reivindicam valores modernos
Rua da Boavista, 571-573 Catálogo da Exposição “O numa ordem imprimida aos materiais que materializam a sua forma, e através de uma me-
NOSSO ESCRITÓRIO” 1945- dida critica, demonstram a sua capacidade de distanciar-se e negar o que, à partida, estava
2.1.2._BARBOSA, Cassiano, 1957”, FAUP, CD_Edifício da instituído. O edifício de uso misto da Rua Sá da Bandeira reflecte claramente os princípios da
LOSA, Arménio Alfandega, Porto, 22 de Outubro.
2008. arquitectura moderna aplicados de uma maneira sublime ao lugar.
Edifício DWK, Serviços e Acreditava-se que através da arquitectura entendida e praticada como um sistema, se podia
Habitação Colectiva, Porto, 19_MESA REDONDA “ARMÉNIO construir um mundo melhor: “que não importa o balanço de uma obra, ou de um ano de
1946-51 LOSA NO SEU TEMPO” com Nuno
Teotónio Pereira, Francisco P. Keil
exercício; Não importa apenas a obra dispersa e fraccionária, ainda que bela e graciosa mas
do Amaral, Raul Hestnes Ferreira, um pouco mais do que isso: há que conceber e realizar não só edifícios mas o quadro urbano
Sergio Fernandez e Alexandre capaz de dar um pouco mais de alegria à vida dos homens” 16.
Alves Costa, Moderador: Pedro “A ideia, a construção duma ideia de arquitectura, ardente, corajosa, fortemente precursora
Ramalho, Maus Hábitos, Porto, 5 47
de Dezembro 2005
destinada a satisfazer uma época mais feliz que deve vir” 17.
Rua Sá da Bandeira, 633
20_MENDES, Manuel, em Arménio Losa, à margem do trabalho do escritório, elabora com o engenheiro António Bonfim
2.1.3. _BARBOSA, Cassiano, Catálogo da Exposição “O Barreiros, os Anteplanos de Urbanização para Vila Nova de Gaia (1945-49) e Macedo de
LOSA, Arménio NOSSO ESCRITÓRIO” 1945-
1957”, FAUP, CD. Edifício da
Cavaleiros (1945-51). A reforçar a acção de Losa como arquitecto urbanista trabalha no
Serviços e Habitação Alfandega, Porto, 22 de Outubro. Gabinete de Estudo do Plano Geral de Urbanização da CMP – que integrou entre 1939 e
Colectiva, Porto, 1950-53 2008. 1945 – onde elabora o Plano de Pormenor para a Zona do Hospital Escolar (1951-56) na
tentativa de solucionar o problema das “ilhas do Porto”. A maior parte dos trabalhos realizados
21_RAMALHO, Pedro, Comissário
Geral das Comerações do
situa-se em cidades do norte do País, particularmente na cidade do Porto. Realiza, no entanto,
centenário Arménio Losa, 1908- e de carácter excepcional, trabalhos em Angola, Lobito – Casas geminadas (1950 e 1954), e
1988, Porto, Outubro 2008. em Moçambique, Quelimane – um grande complexo comercial, turístico e habitacional com
projecto iniciado em 1954, e um complexo industrial e habitacional iniciado em 1958, mas
Rua de Ceuta, 141
ambos concluídos já na década de 60 18. É curioso, realçar, que Arménio apesar da elaboração
leitura relacionada: de vários projectos em territórios ex-ultramarinos nunca viajou até lá 19.
2.1.4. _BARBOSA, Cassiano,
LOSA, Arménio Bloco da Carvalhosa_ “Prédio O conjunto de projectos apresentados têm como denominador comum o sentido de originalidade
Comércio e Habitação de habitação na Rua da e autonomia na interpretação (in)formação da modernidade, ensaiando a identificação da
Colectiva, Porto, 1961-65 Boavista, Porto”, Arquitectura,
2ªsérie, n.54, Lisboa, Maio de natureza e qualidade especifica do processo criativo e projectual em cada um dos arquitectos.
1955. Na procura desta arquitectura nova, deve ser destacado o papel de Adalberto Dias, então
colaborador, em muitos trabalhos do nosso escritório realizados na transição das décadas 40-
MENDES, Manuel, RAMALHO, 50 20.“Arménio Losa foi um arquitecto moderno. Entendeu a modernidade no conceito do seu
Pedro, Uma Homenagem a
Arménio Losa, Porto, Câmara tempo integrando uma nova ordem social, politica e estética. Para ele modernidade significava
Municipal de Matosinhos/ precisamente «oposição e consciência da ruptura. Lutador empenhado pela causa do Movimento
Rua Faria Guimarães, 109/115 Edições Afrontamento, 1995 Moderno dele nos ficou a obra e a imagem exemplar do arquitecto e do cidadão” 21.
_TÁVORA, Fernando 2.2. O BAIRRO DO RAMALDE
2.2. Bairro do Ramalde, 1952-60
Rua Vasco Valente

TÁVORA, Fernando _Conjunto Os bairros de habitação social apoiados e lançados pelo “Estado novo” tinham o propósito
Residencial do “Ramalde”_Porto_ claro de solucionar o problema emergente da falta de oferta de habitação e simultaneamente
foto actual_IL a rentabilidade económica da operação. O grupo ODAM pronuncia-se, aclarando e alertando
para a necessidade de não confundir “casas baratas” com “casas económicas”. Desde a sua
formação que defende: a solução do bloco em altura, à semelhança das unidades de habitação,
para solucionar o problema do alojamento económico, sem reduções significativas da área
habitável e uma maior qualidade habitacional; a liberalização do solo recorrendo ao uso de
pilotis, ganhando espaços verdes, com vista a melhorar as condições de vida dos homens e com
isso incentivar a alegria, o respeito e a solidariedade 22.

O bairro do Ramalde (1952-56) projectado para a federação de Caixas de Previdência 23, é o


primeiro exemplo de renovação urbanística no Porto, testemunho do abandono da estrutura do
século XIX e a afirmação do funcionalismo, tornando-se num caso paradigmático no contexto
portuense.
Fernando Távora, arquitecto que sublinhava que “o caminho a seguir é bastante claro: conhecer
a realidade de hoje e interpretá-la em construção” 24, foi o responsável pelo seu planeamento
urbanístico, reflectindo claramente os princípios da Carta de Atenas, com um forte sentido de
humanismo, sem perder a autenticidade da tradição e relevando o forte compromisso da história
22_Ana Tostões in Catálogo da com a vanguarda 25. Introduziu várias necessidades na qualidade de vida dos portuenses: “sol,
Exposição Arquitectura Século XX, espaço e árvores”, em vez de preocupar-se demasiado com a questão do estilo. Aplicou um 49
Portugal, p.42 conhecimento particular sobre os pressupostos da Carta de Atenas e dos ensinamentos de Le
23_ Quer o bairro de Alvalade Corbusier e um respeito público a nível da criatividade e da autonomia.
como o Ramalde, surgiram Tal como o bairro de Alvalade, partiu de conceitos idênticos como o “zonamento funcional”
no âmbito de processos ou a “unidade de vizinhança”, prevendo a relação entre habitação e equipamentos, projectos
governamentais do regime tipo com normalização e pré-fabricação de elementos construtivos e inovações na organização
de Salazar. Casas de Renda
Económica foram programs interna da habitação. No entanto, Távora “vejo-lhe grandes vantagens em relação ao Plano de
governamentais para tentar Alvalade, mas ele apresenta-me ainda mais dúvidas que ninguém me resolve e que preocupam
solucionar rapidamente o grave bastante 26”.
problema da habitação nos
centros urbanos.
“…. Diferentemente do que aconteceu no Campo Alegre, a ideia do Ramalde era a de instalar
24_TÀVORA, Fernando, Para um comodamente – em todos os sentidos – outros tantos 6000 habitantes. O plano foi executado
urbanismo e uma Arquitectura tomando em conta dois projectos existentes (baseados no bairro de Alvalade, o supra-sumo
Portuguesas, em Comércio do
Porto, 25 de Agosto de 1953.
para a altura) e que se não integravam num esquema geral. Procurou-se então dimensioná-
lo para permitir um mínimo de vida própria; o tráfego mecânico ia perdendo importância
25_Fernano Távora, O Problema à medida que se aproximava de um eixo central de peões, ligando as casas, o parque, o
da Habitação Portuguesa centro comercial. O equipamento era bastante desenvolvido e a orientação das fachadas a
26_WRANG, Wilfred, “Arquitectos
melhor possível. – o que agravou um condenável geometrismo já condicionado pelo volume
de Oporto, Távora, Siza, Souto dos edifícios previamente projectados e dos quais se introduziram apenas algumas alterações.
Moura: Una identidad no linear” Passei ali alguns dos grandes momentos da minha vida profissional… Depois, a Câmara não
fez as plantações previstas; os edifícios públicos e o parque não se realizaram; ; a estrutura
27_TÁVORA, Fernando; Percurso
viária preconizada está comprometida como esta 2ª fase ocupa o local da Escola pré-primária.
– Roteiro, Centro Cultural de O desleixo nos espaços livres continua e a Federação das Caixas de Previdência parece não
Belém, Lisboa, 1993, p.72 constituir novos programas porque o custo dos terrenos teria ultrapassado as possibilidades 27”
TÁVORA, Fernando Conjunto TÁVORA, Fernando Conjunto
Residencial Ramalde”, Porto, , Residencial Ramalde”, Porto,
data? Arquivo Casa do Infante
Arquivo Casa do Infante
_PERSPECTIVA DO CONJUNTO
_PLANTA DE URBANIZAÇÃO

TÁVORA, Fernando Conjunto 28_“Edificação baixa, média ou Foram adjudicadas várias fases de loteamento, das quais Távora apenas realizou uma parte, o
Residencial Ramalde”, Porto, GROPIUS, Walter alta”, conferência apresentada extremo este no bairro.
Arquivo Casa do Infante _PLANTA DE URBANIZAÇÃO, por Gropius, apresentados no III
_fonte Edite Figueiredo CIAM em Bruxelas (1930). A nível da escala do plano são facilmente identificados os princípios urbanos divulgados pelos
_PLANTA DE URBANIZAÇÃO
50 29_FIGUEIREDO, Edite, ODAM: primeiros CIAM. A eleição da melhor orientação solar para os edifícios, paralelos entre si 51
_PLANTA DE ANÁLISE DOS Valores Modernos y la criando zonas verdes de lazer; a diferenciação de ruas de passeio, de acesso ou rodoviárias.
GRUPOS DE CASAS DE RENDA confrontación con la realidad É notória também pela vontade e crença em novos ensaios tipológicos – morfológicos da
ECONÓMICA productiva, tese de doctorado arquitectura habitacional colectiva como forma de construção de cidade.
ESTAB, p.417.
Távora desenvolveu um plano de implantação “rígida”, de blocos iguais e paralelos entre si,
orientados a nascente – poente e separados por faixas verdes que funcionavam como elemento
unificador, criando uma malha totalmente independente da rede existente.

Um plano, de forma linear, assente na ideia não de um grupo de habitação com o seu jardim,
mas um jardim com habitações. As alturas e dimensões dos edifícios, de quatro pisos, são
OUD-JJP_Vista Aérea,Habitações
-Blijdorp_fonte Edite Figueiredo rigorosamente estudadas, assemelhando-se muito aos esquemas desenvolvidos por Gropius,
apresentados no III CIAM em Bruxelas (1930) 28. “Na parcela residencial do plano do Ramalde,
donde previa-se a inserção de 6000 habitantes, a forma linear dominante nos blocos de
apartamentos vê-se alterada pela variação em altura e o comprimento dos blocos, o que
introduz na parcela uma ordem formal e abstracta” 29.

Definitivamente, o projecto do Ramalde aproxima-se mais aos modelos dos “Siedlungen”


alemães, nomeadamente o Dammerstock (1927-29), no uso do conceito “Zeilenbau” (blocos
longitudinais implantados a distâncias iguais numa só direcção e separação directa com a via),
do que das suas referências anteriores a Le Corbusier.
A implantação, tanto no que se refere à orientação solar como à possibilidade de vivência
_Siemenstadt, foto
Maquete_1930, fonte dos espaços verdes expostos por Herbert Boehm e Eugen Kauman no seu método de fileiras
“Siedlungen Alemanas de los transversais à via (1930) ou concretizado na Siedlung Friedrich-Ebert-Ring em Rathenow (1928)
años20” ou projecto de Hoesler da Fiedlugen Georsgarten en Cele (1924).
“La postura del salazarismo contra el moderno era muy fuerte. Si me permites una pequeña 30_ARQUITECTURA, Revista del
anécdota para explicar el clima que se vivía, te diré que el plano de Ramalde fue dibujado Colegio de Arquitectos de Madrid,
aquí- éste era el despacho de los delineantes – con sombras arrojadas. Un día vino el Director n.261, julio-agosto 1986,
General de Urbanización y ordenó quitarlas “porque el Ministro con sombras no lo va a
aprobar”. Las sombras tenían para él un significado terriblemente corbusiano, moderno 30”.

52 53

TÁVORA, Fernando Conjunto


Residencial Ramalde”, Porto, TÁVORA, Fernando Conjunto
Arquivo Casa do Infante Residencial Ramalde”, Porto,
Arquivo Casa do Infante
_DESENHO DA FACHADA DAS
CASAS UNIFAMILIARES, 1952 _FOTOS DE ÉPOCA, 1954

_DESENHO DA FACHADA DAS _ESTUDOS DE COR SOBRE


CASAS MULTIFAMILIARES, 1952 FOTOS, 1954
54
A concentração dos acessos e das zonas de serviços no eixo central e a simetria esquerdo
– direito, são dos factores comuns entra a tipologia das “Estacas” e do “Ramalde”. Um dos
elementos de oposição entre os dois projectos é, sem dúvida, o desenho das varandas:
no caso portuense apresentam-se como elementos salientes que marcam de uma maneira
definitiva o ritmo das fachadas, e no caso lisboeta, são recuados do plano de fachada e
No bloco linear de habitação colectiva, que se constitui como o elemento base de composição leitura referente acentuam ainda mais a linha de sombra horizontal, continua ao longo do edifício.
do plano, a tipologia convencional de caixa de entrada central e distribuição de apartamento
TÁVORA, F. “ O
esquerdo/direito, contrastam com as sucessões de planos de superfícies verticais como os vãos, Porto e a Arquitectura
varandas, escadas, etc. Moderna”“Panorama”, 2ª série,
Lisboa, n.4, Outubro 1952;
Numa primeira fase os edifícios foram pintados nas cores primárias. TÁVORA, F., “O porto caminha
A entrada é destacada por uma grande pala em betão, bem como os balcões salientes, conferem para uma Arquitectura”, em
ao conjunto um grande grau de plasticidade, aliadas à composição rigorosa dos elementos de Comércio do Porto, 1952
sombra, verticais ou horizontais.
“Arquitectura” n.71, Junho 1961,
apresentação de F. Távora,
O rodapé em granito desliga o plano da fachada do solo, como uma forte linha de sombra,
como uma sugestão subversiva de suspensão. “Arquitectura” n.79, Junho 1963
TÁVORA, F. “ O Encontro de
TÁVORA, Fernando Conjunto
Royaumont”,
Residencial Ramalde”, Porto,
1952-60
Nuno Portas, Prefácio a, “Da
Organização do Espaço”, 2ª
edição, 1982. _PLANTA TIPO 3

nota curricular elaborada por A.


Siza em Catálogo da Exposição
56 “Arquitectura, Pintura, Escultura e 57
Desenho”, Porto 1987.

KLEIN, Alexander,
Barrio Durrenberg-Leipzig, 1931

TÁVORA, Fernando Conjunto


Residencial Ramalde”, Porto, _D’ATHOUGUIA, Ruy;
Arquivo Casa do Infante SANCHEZ, Formozinho, “Estacas”,
1949-55, Lisboa,
_CORTE TRANSVERSAL,
CASAS DE RENDA ECONÓMICA, _PLANTA TIPO B
1952-60 Re-desenho, ESTAB, 2007, IL
_LIMA, Viana
2.3. Edifício Costa Cabral, Porto, 1953
Rua Costa Cabral, n.750 1943 1955 1956 1970

Viana de Lima, também sobressai no contexto da demanda da habitação, interpretando e 31_ “1º Congresso Nacional
2.3.1.
aplicando fielmente as teorias corbusianas e assume simultaneamente a influência da arquitectura de Arquitectura, Relatório da _LIMA, Viana
brasileira, claramente expressa no bloco da habitação colectiva da Costa Cabral (1953). comissão Executiva, Teses, Bloco Sá da Bandeira, Porto,
Viana de Lima, teve uma participaçoão activa no mítico Congresso Nacional de 1948, conclusões e Votos do Congresso”,
Lisboa, Maio/Junho 1948
1943
apresentando “O Problema da Habitação”, onde reflecte claramente a pretensão da aplicação
princípios anunciados na Carta de Atenas e por Le Corbusier, e com um carácter humanista,
a responsabilidade do arquitecto de construir um mundo melhor. “É nosso dever, como
construtores, mas também como humanistas, dedicarmo-nos á nobre tarefa de construir Casas
sem exageradas pretensões folclóricas e sem espírito de imitação dos séculos XVII ou XVIIII (…)
Rua Sá da Bandeira
mas sim, a Habitação, em virtude das novas técnicas, presta-se a ser integrada nos elementos
de paisagem, ar e luz”. “Quem habita vive: logo a habitação tem que ser reorganizada, de
forma a adaptar-se aos meios modernos da época” 31. 2.3.1.
_LIMA, Viana
Bloco do Gaveto, Porto, 1955

Rua Rodrigues Sampaio

2.3.2.
_LIMA, Viana
Edifício de Habitação
Colectiva, Porto, 1956-57

Rua Gonçalo Cristovão

leitura referente 2.3.3.


MENDES, Manuel, Monografia _LIMA, Viana
“Viana de Lima 1913-1991” Torrres de Habitação
Colectiva, Porto, 1970
Participação X CIAM,
Arquitectura, 2ªsérie, n.64,
Lisboa, Jan./ Fev. 1959

TOUSSAINT, Michel, “Viana de


Lima”, Arquitectos, n.166-167,
Ano XIV/XV Dez./ Jan. 1996-97 Campo Alegre
_LOUREIRO José Carlos; RAMOS, Luis Pádua
2.4. Conjunto Residencial do Luso, Luso, 1959-63
1954 Rua da Alegria, n.1880

2.4.1. O conjunto residencial do Luso, foi promovido pela Casa da Misericórdia do Porto,
_LOUREIRO José Carlos; e consta com três tipos de diferentes de edifícios: torre, bloco e edifício em banda,
RAMOS, Luis Pádua organizados, de uma forma algo sinuosa no plano urbano da cidade.
Edifício Parnaso, Porto, Marcação bem patente das lajes na fachada, intercalada com a utilização azulejo,
1954-56 como revestimento de intenso valor plástico. Grande qualificação dos espaços
colectivos enquanto articulação do conjunto com percursos intermédios abrigados em
pórticos. Experiência da pura articulação da Carta de Atenas.

Rua Nossa Sª de Fátima, n.231

2.4.
_BONITO, Mario; PIMENTEL,
Rui, Edifício Ouro, Porto,
1950

Rua Fernandes Tomás

NOTA:
este projecto não foi encontrado em nenhuma bibliografia, no entanto a similitude dos projectos, o
desenho dos detlhes, particularmente das varandas e a utilização dos materiais, onde sobressai o
uso do azulejo, permitem deduzir, segundo a autora, que o edificio da Rua Fernandes Tomás será
da responsabilidade da dupla de arquitectos Carlos Loureiro e Luis Pádua.

leitura referente

AA.VV. em “Sociedade e
território” n.1, Porto, 1984

“Arquitectura” n.94/1966 e
“Arquitectura Portuguesa” n5,
Jan-fev 1986.
_LISBOA_PORTO_RIO DE JANEIRO_S.PAULO_RECIFE_BRASÍLIA_LUANDA_MAPUTO_MACAU

1950 1953 1961 1962 1965 1969

2.5. Mário Bonito, um dos representantes da linha mais internacionalista dentro do moderno
_BONITO, Mario; PIMENTEL, português, dirá em “Regionalismo e Tradição” que tradição nunca poderá ser sinónimo de
Rui, Edifício Ouro, Porto, “imitação do passado” 32, inviabilizando qualquer possibilidade de analogia: “A sobrevivência
1950 das técnicas e das formas do passado são empecilhos do Progresso e da Harmonia” 33.

O edifício de Pereira da Costa consolida a fachada da Praça Afonso V. A concepção, assume


uma clara rferencia ao movimento moderno, com a consolidação de um amplo pórtico na
planta térrea destinada ao comércio. O edifico, ritmado pelo sistema estrutural, estabelece
Rua Fernandes Tomás uma relação de continuidade entre o espaço público da praça e o espaço coberto do edifício.
A fachada principal denuncia o sistema estrutural principal de grande rigor modelar e através
2.6. do vazio dado pelas varandas, consegue-se adivinhar o desempenho da estrutura secundária
_COSTA, Francisco Pereira (caixilharia e grades) e a diversidade tipológica dos apartamentos.
Edifício Habitação Colectiva
e Comércio, Porto , 1953 À época de Arménio Losa, ARS, Januário Godinho, Viana de Lima, Agostinho Ricca, alguns
fragmentos de arquitectura, de cidade, são sinais de uma arquitectura dura, manifestos para
uma nova atitude arquitectónica, suporte de referências para outro desenho e outra paisagem
de cidade; propósitos para um outro viver, e que não apenas de alguns. Entre fidelidades e
rompimentos, “digressões” na forma e “incursões” no método, a reprodução do modelo, o
recurso á convenção e à criatividade local, o “projecto” – que não miragem, mas vontade 63
Praça D.Afonso V
prepositiva – foi progredindo pela experiencia individual como método de decomposição da
realidade, como técnica adjacente da estética pessoal.
2.7.
_RICCA, Agostinho
Edifício Montepio, Porto,1961
Parque residencial da Boavista, 1963
Torre residencial da Boavista, 1965

Rua Júlio Dinis


Avenida da Boavista

2.8.
_SILVA, Moreira, SILVA, José
Edifício Miradoiro, Porto,
1953

32_BONITO, Mário, “Regionalis-


mo e Tradição”. Sindicato
Nacional dos Arquitectos, 1948,
p.50

Rua da Alegria 33_ BONITO, Mário Idem, p.51.


3.0. O caso brasileiro

1. da falta de oferta de habitação nas principais cidades, baseados nos fenómenos como a
No Brasil, devido à grande projecção mundial da sua arquitectura moderna, implica-se simplificação ou da massificação. No final dos anos trinta e início dos quarenta, a relação com
neste caso particular, o estudo de projectos realizados por arquitectos brasileiros. Analisar- os Estados Unidos foi fundamental para a consolidação do estilo moderno, bem como para a
se-ão os objectos de estudo brasileiros que se destacam dentro do âmbito da investigação, a afirmação da sua independência e autonomia em relação aos modelos europeus iniciais.
influência que tiveram em Portugal e simultaneamente investiga-se a reciprocidade do processo. (em 1943, Orson Welles, It’s all true, um documentário sobre o Brasil, RKO Pictures e o
Destaca-se a reconhecida e inegável absorção e aplicação em Portugal das especificidades Museu de Arte Moderna inaugural a mostra itinerante “Brasil builds” aceleraram o processo
da modernidade brasileira. No entanto, e eventualmente, não se excluem as contribuições de modernização da arquitectura brasileira, no país, e fora dele). A Architecture d’Aujourd’hui
portuguesas em território brasileiro, se os factos assim o justificarem. publica dois números históricos “Brésil” em 1947 e de novo em 1952 3, tal como a Architecrual
Tenta-se reunir informações do passado arquitectónico no âmbito da habitação colectiva que Review 4, as duas mais importantes revistas de arquitectura da época (e quiçá ainda hoje)
aproximaram e afastaram, que de certo modo movimentaram a arquitectura portuguesa e 3_ Architecture d’Aujourd’Hui, publicam extensos artigos sobre a arquitectura moderna brasileira.
brasileira do século XX. n.12-13, Set.1949 e n.42-43,
Ago. 1952. 3.
São identificados de antemão alguns critério de interpretação da arquitectura moderna brasileira. Portugal é atravessado por uma forte corrente da arquitectura moderna brasileira, na
4_Architecrual Review, n.644,
Por um lado, o carácter mestiço que reflecte a diferença da arquitectura europeia originária, Ago. 1950. ambiguidade entre a procura dos valores modernos internacionais e os tradicionais nacionais.
onde, em certa medida assentam algumas das raízes brasileiras. As especificidades únicas da São realmente anos de assimilação e integração da cultura brasileira que se concretizam
Natureza e a escala, são seguramente outros dois aspectos a ter em conta. 5_SOUSA, Wladimir Alves, principalmente através da circulação de revistas, primeiro estrangeiras, depois portuguesas e
“Exposição de Arquitectura com as exposições realizadas em Portugal. Em 1953, realiza-se a “Exposição de Arquitectura
Contemporânea” Brasileira”,
Arquitectura, Lisboa, 2ª série, Contemporânea Brasileira”, homenageando o mestre Lúcio Costa, sobre a propósito Wladimir
2. n.53, Nov/Dez, 1954. Sousa realiza uma conferência em Lisboa, em 1953, onde afirma que “não envergonhamos
64 O movimento Moderno chegou ao Brasil, muito em parte, devido à emigração, visita de a vossa tradição” 5. Publicam-se vários artigos, particularmente na revista Arquitectura, de 65
europeus, retorno de brasileiros que estudaram na Europa e, principalmente, pelo o entusiasmo 6_ SANCHES, Formosinho, autores portugueses como Ruy d’Athouguia (arquitecto que nunca visitou o Brasil) em 1949
“Arquitectura Moderna
e pela a criatividade das gerações mais jovens de arquitectos 1. Tal como no caso português, Brasileira, Arquitectura Moderna publica, “Arquitectura Moderna Brasileira, Arquitectura Moderna Portuguesa” 6, onde refere
para entender a história da sua arquitectura moderna, é fundamental relacioná-la ao campo Portuguesa”, Arquitectura, Lisboa, que “A Arquitectura Moderna Brasileira é já uma franca realidade “ ou a entrevista realizada a
arquitectónico internacional. A crise económica que se vivia na Europa relacionada com a 2ª série, n.29, Fev/Mar,1949 Maurício Vasconcelos 7, arquitecto português residente no Brasil que trabalhou vários anos com
(opinião de Formosinho Sanches
II Guerra Mundial, fez com que arquitectos como Donat Agache, Le Corbusier e o italiano sobre a exposição do IST).
o arquitecto Vilanova Artigas. Publicam-se também artigos de autores brasileiros como Rino
Piacentini procurassem no Brasil um refúgio criativo, estabelecendo novos contactos e alianças. Levi, Noronha da Costa, à parte dos numerosos artigos dedicados à nova arquitectura moderna
Além disso, a boa condição económica do Brasil, o desejo de o governo procurar uma nova 7_Entrevista a Maurício de brasileira.
imagem para a capital federal e uma brilhante geração de intelectuais e arquitectos brasileiros, Vasconcelos, Arquitectura
Portuguesa e Cerâmica e
foram factores decisivos na singularidade da sua arquitectura moderna. Edificação, Lisboa, 4ª série, n.3-4,
Mas é sem dúvida, com a chegada a Portugal do catálogo da exposição no MOMA, Brazil
Em 1922, decorre a Semana de Arte Moderna. “São os que gritam, quando tudo cala”, diz Abr1954. Builds: Architecture New and Old 1652-1952, muito provavelmente via Nuno Teotónio Pereira
Jorge de Lima. em 1945 8, que os arquitectos portugueses na ansiedade de ser modernos, estabeleceram de
8_PEREIRA, Nuno Teotónio, novo o vínculo, mas desta vez em sentido contrário, ao Brasil colonial e imperial e por primeira
“Escritos (1947-1996, selacção),
O Brasil atravessa na década de 30, um momento de pujança económica impulsionado pelo FAUP publicações, Porto, 1996.
vez ao surto extraordinário que conhecera o Movimento Moderno neste país.
governo Getúlio Vargas, o qual os arquitectos modernos aproveitaram com grande mestria,
derrotando por completo o neocolonial e académico. O edifício do Ministério da Educação e 9_ ALMEIDA, Pedro Vieira; Hoje já existem alguns registos e várias investigações portuguesas sobre o tema, por isso a
Saúde, é o exemplo máximo desta condição, sendo ao mesmo tempo o mais importante dos FERNANDES, José Manuel, “A exemplo, José Manuel Fernandes e Pedro Viera de Almeida, historiadores autores do volume
Arquitectura Moderna” in História
prédios estatais que alterariam a face do Rio de Janeiro. O controle do património histórico e da Arte em Portugal, Volume 14,
dedicado à Arquitectura Moderna da “História de Arte em Portugal”, classificam o Bairro das
as teorias para a produção de habitações populares nos centros urbanos, são também duas p.148/157, Publicações Alfa, Estacas, no Bairro de Alvalade em Lisboa, como “revelador dos caminhos brasileiros do nosso
importantes vitórias 2. A implantação no país de uma política de habitação popular foi eleita 1986. racionalismo” 9. Ana Cristina Tostões, numa pesquisa exaustiva sobre a arquitectura portuguesa
como ponto central do discurso modernista. na década de 50, assinala uma moradia na Av. do Aeroporto, também em Lisboa, do arquitecto
10_ TOSTÕES, Ana, Os Verdes
Tal como em Portugal, não se pode falar de arquitectura moderna sem referir e falar de política. Anos na Arquitectura Portuguesa
Maurício de Vasconcelos, como uma “obra polémica, violenta, brasileira… assumindo-se como
À semelhança do que passava na Europa, o estilo moderno brasileiro, além de superior nas dos Anos 50, FAUP publicações, um grito da modernidade” 10. Ana Vaz Milheiro, na vasta investigação sobre a Construção do
formas, era vivido pelos arquitectos como a solução (ideológica) ao problema generalizado , Agosto 2006. Brasil e as relações com a Cultura Arquitectónica Portuguesa, defende que o desejo português
é o de um definitivo acerto com a condição moderna internacional e não, exactamente, com _LE CORBUSIER, Croquis para a
a situação brasileira 11, em parte justificado pela nota introdutória de um artigo de Rino Levi urbanização da cidade do Rio de
que declara em 1950, que os portugueses “solidarizam-se com todos os que lutam por uma leitura referente: Janeiro, 1929.
arquitectura progressiva e racional” 12.
BONDUKI, Nabil, Origens da _LE CORBUSIER, Planta geral
Habitação Social no Brasil. de ordenação do Rio de Janeiro
4. Arquitectura Moderna, lei do desde o Corcovado, 1936.
A figura de Le Corbusier é, sem dúvida, uma peça chave de ligação em todo este processo. Inquilato e Difusão da casa
Em 1929, Le Corbusier viaja pela a América do Sul, em concreto a São Paulo, Rio de Janeiro, Própria”, 4ª edição, São Paulo, _LE CORBUSIER, Vista geral do Rio
Estação Liberdade, 2004. de Janeiro desde o Corcovado,
Montevideu e Buenos Aires. 1936.
Arquitectura moderna brasileira tem desde o seu início um sotaque francês, mas é sobretudo BRAUND, Yves, Arquitectura
em 1936, com a consultoria de Le Corbusier para o edifício mítico do Ministério de Educação Contemporânea no Brasil, 1981
e Saúde, no Rio de Janeiro, uqe atinge um dos sues pontos áureos.
Realiza vários esquiços, entre eles a planificação urbana da cidade do Rio de Janeiro. Os primeiros CAVALCANTI, Lauro, Guia de
Arquitectura Quando O Brasil era
croquis, em 1929, denunciam claramente alguns dos princípios já expressos anteriormente para Moderno 1928-1960, aeroplano
a Ville Radieuse, adaptados às condições territoriais, únicas a nível mundial. As versões de editora
1936, mais elaboradas, anunciam o desaparecimento dos arranha-céus ortogonais que são COSTA, Lúcio. Registo de uma
substituídos por blocos lineares curvos e arranha-céus cartesianos. Entre o mar e o horizonte Vivência, Fundação Banco do
Brasil.
da edificação delimita-se o âmbito da actuação do planeamento urbanístico, onde o perfil das
montanhas serve de fundo e cria um perfeito equilibro entre a natureza e a cidade 13. GOODWIN, Philip, Photography
66 by G.E. KIDDER SMITH, BRAZIL 67
5. BUILDS, Architecture New and
Old 1652-1942, Catálogo do
O Inquérito da Arquitectura Portuguesa constitui um ponto de inflexão na história da MOMA, Nova York, 1943
arquitectura luso-brasileira. Como foi referido, este inquérito foi de grande importância no SEGAWA, Arquitecturas no Brasil
panorama português, mas o facto realmente surpreendente foi a repercussão sentida no Brasil. 1900-1990, edusp
Segundo afirma Benedito Lima 14, o trabalho alcançou grande reprecussão entre professores do
XAVIER, Alberto, Depoimento
departamento de História da Arquitectura e Estética do Projecto da Faculdade de Arquitectura de uma Geração, arquitectura
e urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP). Foi motivo de seminários e viagens a moderna brasileira, Cosac & 11_MILHEIRO, Ana Vaz, A
Portugal. Num artigo publicado em 1937, com o título “Documentação Necessária”, Lúcio Naify Construção do Brasil, relações
(compilação excelentes de com a Cultura Arquitectónica
Costa escrevia: Portuguesa, FAUP, publicações
textos originais da época de
“A Arquitectura popular apresenta em Portugal, a nosso ver, interesse maior que a “erudita” autores brasileiros e outros que 2005, p.19
servindo-nos da expressão usada, na falta de outra, por Mário de Andrade, para distinguir da influenciaram o Brasil)
arte do povo a “sabida”. É nas suas aldeias, no aspecto viril das suas construções rurais a um 12_LEVI, Rino, “A Arquitectura
MILHEIRO, Ana Vaz. “A Construção é uma Arte e uma Ciência”,
tempo rudes e acolhedoras, que as qualidades da raça se mostram melhor. Sem o ar afectado do Brasil, relações com a cultura Arquitectura, Lisboa, 2ª série,
e por vezes pedante de quanto se apura, aí, à vontade, ela se desenvolve naturalmente, arquitectónica portuguesa, 1ª n.36, L Novembro 1950.
adivinhando-se na justeza das proporções e na ausência de “make-up”, uma saúde plástica edição 2005, FAUP.
perfeita se é que podemos dizer assim” 15. 13_CALDUCH, Juan, “brasil, un
“A Arquitectura Brasileira” (Ecos e viaje de estúdios”, inverno 2003.
Neste contexto, é curioso realçar, antes de mais, o interesse e o conhecimento do maestro Comentários), Arquitectura, n.19,
brasileiro sobre a arquitectura portuguesa, nomeadamente com a assimilação do Inquérito na Janeiro de 1943. 14_TOLEDO, Benedito Lima,
cultura brasileira. Professor Titular de História da
SOUSA, Wladimir Alves, Arquitectura da FAU-USP, S. Paulo,
“Exposição de Arquitectura “O Inquérito, Portugal e o Brasil”,
O interesse por Portugal reflectia-se em vários campos, e o antropólogo Gilberto Freyre, viaja Contemporânea” Brasileira”, Agosto 2006.
por uma larga jornada a Portugal (1951-52), “em investigação das constantes de carácter y Arquitectura, Lisboa, 2ª série,
acção portuguesas”. n.53, Nov/Dez, 1954 14_Idem
_LISBOA_PORTO_RIO DE JANEIRO_S.PAULO_RECIFE_BRASÍLIA_LUANDA_MAPUTO_MACAU 3.0. o caso do RIO DE JANEIRO.
1940 1942 1947 1954

_FERREIRA, Carlos Frederico,


3.0.0. Conjunto Residencial
Vila Guiomar, Santo André,
década de 40

Próximo ao centro de São Paulo, o Conjunto Residencial da Várzea do Carmo, de Attílio Corrêa
Lima, sobressai pela composição racionalista e a disposição dos blocos paralelos (médios
Santo André e altos), assumindo uma posição rigorosamente racionalista procura a articulação entre a
arquitectura e o urbanismo.
O paralelismo e a regularidade aproximam o conjunto brasileiro aos esquemas inicialmente
_FERREIRA, Carlos Frederico, apresentados por Gropius no III CIAM, e alguns dos conceitos mais importantes do movimento
3.0.1. Conjunto residencial moderno que reflectir-se-ão anos mais tarde, também e a título de exemplo, no bairro do
do Realengo, Rio de Janeiro, Ramalde, de Fernando Távora na cidade do Porto.
1942
A nível arquitectónico, do edifício à tipologia, se pode por de manifesto o conjunto residencial
do Realengo de Carlos Ferreira ou o Conjunto residencial da Móoca de Paulo Antunes Ribeiro,
não esquecendo que existe um desfasamento de dez anos entre os casos brasileiros e o conjunto
de Fernando Távora de 1952.
69
Rio de Janeiro

_MM Roberto O conjunto residencial Júlio Barros Barreto, dos irmãos Roberto, representado por dois blocos
TÁVORA, Fernando Conjunto
Residencial Ramalde”, Porto,
de apartamentos duplex, articulados por uma torre de circulação vertical. Três preocupações
3.0.2. Edifício residencial
Arquivo Casa do Infante básicas: o máximo aproveitamento da vista sobre a baía de Guanabara, autonomia das
Júlio Barros Barreto, Rio de
circulações sociais e de serviço e bom arejamento dos apartamentos, através da ventilação
Janeiro, 1947 _FOTO ACTUAL, IL cruzada.

A disposição dos apartamentos em duplex, segue o esquema de Le Corbusier para as


unidades de habitação. A planta, permite que dois quartos, a sala e a varanda tenham vista
sobre o mar e um quarto e o sector de serviço se abram para a montanha. A varanda tem pé-
Rua Fernando Ferrari, 61 / Botafogo, Rj direito duplo. O encontro de ângulos distintos dos três blocos, permite perspectivas diversas
ao conjunto, que apesar da sua grande escala, está perfeitamente enquadrado na paisagem.
_? leitura referente:
Bloco de Habitaçãoo, Rio de Janeiro, 1946, representado no VI CIAM
3.0.3. Conjunto residencial Architecture d’Aujourd’Hui,
do Deadoro, Rio de Janeiro, n.42-43, ago.1952, p.62 Edifícios residenciais, 1950-1962
1954 Rua Paulo César de Andrade 200, 222, 232, 240, 274, 296, Parque Guinle, Laranjeiras / Rio
Mindlin:1999, pp.110-111
de Janeiro
Acrópole, 288, nov.1962,
pp.194-195 O escritório dos Roberto foi dos mais criativos ao longo dos anos 40, 50. Marcelo e Maurício
Roberto projectam dois edifícios no parque, donde se localizam, um pouco mais abaixo, os
Bruand:1981, pp.179-180
prédios de Lúcio Costa. Edificados em dez pavimentos sobre pilotis, com estrutura de betão
Deadoro, Rj armando independente. Os apartamentos têm áreas invulgarmente grandes.
Mindlin:1999, pp.274
_COSTA, Lucio “Aconselhei então uma arquitectura O projecto do conjunto residencial do “Parque Guinle” foi concebido num período de
3.1. Edifícios Nova Cintra, Bristol e Caledônia, Rio de Janeiro, 1948-52-54 contemporânea que se adaptasse grande renovação cultural, que Lúcio Costa soube sabiamente aproveitar, apesar das
mais ao parque do que à mansão,
fortes limitações impostas pelos promotores.

Rua Gago Coutinho, 66-68 e rua Paulo César de Andrade, 70 e 106 / Parque Guinle, Laranjeiras Rio de Janeiro, Rj e que os prédios alongados, de seis
andares, fossem soltos do chão e Os três edifícios projectados por Lúcio (dos seis inicialmente previstos): o “Nova Cintra”
dispusessem de “loggias” em toda a voltado para rua Gago Coutinho, realiza uma transição em relação à cidade: limita o
extensão das fachadas, com vários parque com galerias comerciais no térreo. O “Bristol” e o “Caledónia”, acompanham o
declive natural do terreno, onde Lúcio venceu a diferença das linhas de nível com uma
tipos de quebra sol, já que davam solução simples e brilhante: utilizou diferentes a cada linha de colunas, acomodando,
para poente, Foi o primeiro conjunto assim, o pilotis no terreno, sem grande necessidade de movimentação de terras 16”.
de prédios construídos sobre pilotis
e o prenúncio das super quadras de Todos os edifícios assentam sobre pilotis, com a estrutura independente em betão armado,
planta livre, fachadas livres e brise-soleils de protecção contra o sol. Aplicando os
Brasília.
princípios anunciados desde o pavilhão suíço de Le Corbusier, Lúcio projecta os edifícios
Lamentavelmente os corretores da de dupla cara, uma solução também utilizada em muitos casos em Portugal. A massa
época não souberam “vender” as rígida e compacta dos três grandes blocos, é diluída pela delicada composição dos
inovações e assim os proprietários, planos de fachada, onde recorre-se ao uso dos brise-soleils de uma maneira sublime.
Alternando os mesmos elementos, Lúcio consegue uma superfície vibrante que retira o
a meio caminho, foram levados a
peso à estrutura e alcança simultaneamente um grande valor plástico.
fazer outra coisa na parte restante do
terreno. 16”

71

COSTA, Lucio_Conjunto do
Parque Guinle, Rio de Janeiro,
1948-52-54
Esquiços do autor
in Architectural Review, ago.
1950

SEWAGA, Hugo, Entrevista a Lúcio


Costa, Revista Projecto, n.104.

16_CAVALCANTI, Lauro, Guia de


Arquitectura Quando o Brasil era
Moderno, 1928-1960, aeroplano
editora
A essência da concepção urbana e a procura da plasticidade dos materiais nas fachadas desta intervenção observa- COSTA, Lucio_Conjunto do Na planta térrea, o pavimento da calçada portuguesa e o rigoroso desenho das jardineiras
se fielmente interpretada nos conjuntos da Avenida Estados Unidos da América, em Lisboa nos anos 50, quer no Parque Guinle, Rio de Janeiro, constituem uma forte aproximação ao discurso do bairro das Estacas em Lisboa, em 1949.
conjunto da equipa de Cid quer de Areal. 1948-52-54 Além disso, as preocupações formais e as decisões a nível do tratamento plástico dos volumes
FOTOS in Architectural Review, unem, sem dúvida alguma, a equipa de Sanches e d’Athouguia ao maestro Lúcio Costa.
ago. 1950
No conjunto do “Parque Guinle”, o elemento de grande destaque na composição, são as escadas, dois volumes
independentes para cada prédio. Cilindros de vidro pontuados por finos pilaretes verticais que dotam o conjunto de
uma plasticidade única acentuada em contraste com os edifícios, recuados alguns metros.
Carlos Loureiro, no projecto do Luso, na cidade do Porto em 1959 sugere usar a mesma estratégia, mas por
oposição: projecta um volume cilíndrico compacto e fechado apenas com um rasgo vertical na zona dos patamares,
que equilibra todo o conjunto. O vazio que solta o volume alguns metros do edifício e a sua neutralidade, realça a
plasticidade dos materiais, particularmente o jogo vibrante de azulejos ao longo das fachadas dos blocos.

72 73

AREAL, Joaquim, _LOUREIRO José Carlos; RAMOS, Luis Pádua D’ATHOUGUIA, Ruy, , SANCHES, Formosinho, D’ATHOUGUIA, Ruy, , SANCHES, Formosinho,
1.2.3. Conjunto residencial da Av. EUA, Lisboa,1955 2.4. Conjunto Residencial do Luso, Luso, 1959-63 Conjunto as” Estacas”, Lisboa, 1948-55 Conjunto as” Estacas”, Lisboa, 1948-55
As plantas dos três edifícios são
similares e reflectem o carácter
residencial de luxo com áreas
privilegiadas entre 225 a 515
m2, variando com quatro tipos
de apartamentos, sendo alguns
tipo duplex. Lúcio, procurou a
essência dos esquemas tipológicos
tradicionais, desde a cultura
aborígene às especificidades da
casa típica brasileira do século
XVIII e XIX, e conjugou-a com
o seu pensamento moderno,
propôs uma tipologia inovadora
e simultaneamente testemunho da
cultura brasileira: uma “espécie
de jardim de inverno, contíguo à
sala de estar e um cómodo sem
destino especifico, ligado aos
quartos e aos serviços; um mais
formal e outro mais à vontade,
correspondendo assim à varanda
caseira. 17”.

COSTA, Lucio_Conjunto do
Parque Guinle, Rio de Janeiro,
1948-52-54
Esquiços do autor
in Architectural Review, ago.
1950

17_COSTA, Lúcio, Registo de


uma vivência,

leitura referente:

COSTA, Lucio, Razões para uma


nova arquitectura

L’Architecture d’Aujourd’hui,
13/14 set. 1947,p.90

Architectural Review, ago. 1950


_REIDY, Affonso _REIDY, Affonso
3.2. Conjunto Marques de São Vicente, Gávea, Rio de Janeiro, 1952 3.2.1. Conjunto Residencial O Pedragulho Gávea, Rio de Janeiro, 1952

18_CAVALCANTI, Lauro, Guia de Outra influência marcante no período foram as unités d’habitation de Le Corbusier, que tiveram
Arquitectura Quando o Brasil era no Brasil uma grande repercussão e força para despontar um grupo expressivo de projectos
Moderno, 1928-1960, aeroplano habitacionais. No entanto, assistiu-se nos anos 50, à predominância de obras promovidas pela
editora iniciativa privada, visando sobretudo a classe média, como edifícios projectados por Niemeyer
(Copan, São Paulo), Abelardo de Souza (Nações Unidas), Zarzur Et Kogan (São Vito, SP),
etc.18.

Se as ideias têm a essência de Le Corbusier, vão ser, no entanto, os arquitectos brasileiros a


desenvolver-las com especificidades e particularidade únicas coerentes com a sua formação e
história.

O conjunto do “Pedregulho” deu á obra de Affonso Reidy uma grande visibilidade nacional e
internacional.
Max Bill, em visita ao Brasil em 1951, para a Bienal de Arquitectura, considerou-o a obra
brasileira de maior interesse, uma vez que conjugava um plasticicismo brilhante, cumprindo
objectivos sociais.Projectaram três blocos de residência, uma escola, lavandaria e mercado,
centro de saúde, ginásio e piscina.Como explica Bruand (1981) Reidy escolheu utilizar prismas
rectangulares para os prédios residenciais, trapezoidais para os de serviços e abóbadas para
o ginásio e piscinas. O edifício que visualmente sobressai no conjunto, desenvolve 260 m de
76 comprimento, sinuosamente ao longo da montanha, de uma forma perfeitamente integrada. 77
O terceiro andar é aberto, permite a continuidade visual com a montanha, dividindo o bloco
em dois: no de baixo situam-se as unidades de apenas um quarto e no de cima apartamentos
duplex com quatro quartos.
D’ATHOUGUIA, Ruy, , SANCHES,
Formosinho, 1.1. Conjunto as No entanto, pela proximidade à escala do contexto português, tornam-se mais relevantes o
”Estacas”, Lisboa, 1949-55 conjunto blocos, paralelos entre si e igualmente sobre pilotis. Possuem quatro andares com
apartamentos duplex, permitindo no entanto, a possibilidade de obter unidades com dois, três
ou quatro quartos. O corredor de acesso aos apartamentos protege a área da insolação mais
desfavorável.
leitura referente:

Architectural Fórum, Nov.1947


Architectural Record, 124,
Jul.1958
Architectural Record, jul.1952
Architectural Record, out.1950
Architectural Review, 112,
jul.1952, pp.16-19
Arquitectura Contemporânea no
Brasil, vol.I, 1947, pp.10-13
L’Architecture d’Aujourd’hui,
n.33, dez.1950, pp.56-66
D’ATHOUGUIA, Ruy, , SANCHES, L’Architecture d’Aujourd’hui,
Formosinho, 1.1. Conjunto as n.42-43, ago.1952, pp.124-128
”Estacas”, Lisboa, 1949-55, foto Mindlin:1999, pp.142-151
actual IL Braund, p.224
_MOREIRA, Jorge Machado
3.3. Edifício Residencial António Ceppas, 1952

Rua Benjamim Batista, 180/ Jardim Botânico, Rio de Janeiro, RJ

Jorge Moreira foi um arquitecto que mais que procurar


novas linguagens sempre trabalhou baseado na
tropicalização dos princípios fundamentais de Le
Corbusier: estrutura independente, pilotis e prisma
rectangular.

O edifício Ceppas, foi premiado, com menção


honrosa, em 1953, na II Bienal de São Paulo, pelo
júri composto por Walter Gropius, Alvar Aalto e Ernest
Rogers (exactamente na mesma edição em que foi
premiado o conjunto das Estacas em Lisboa, da equipa
de D’Athouguia e Sanches).

O edifício assenta sobre pilotis e tem seis andares, com


_LIMA, Viana
quatro apartamentos cada. Todos os azulejos, pastilhas,
2.3. Edifício Costa Cabral, Porto, 1953, foto actual IL
cerâmicas, treliças e venezianas de madeira foram
desenhados por Moreira, especialmente para a obra.
Assume uma postura mais vibrante e colorida que a
maioria das construções modernas brasileiras: pastilhas
de revestimento cinza pérola e azul, e as madeiras são
pintadas em branco e amarelo ocre. O paisagismo foi
projectado por Roberto Burle Marx.

leitura referente:

Brasil Arquitectura
Contemporânea, 4.1954, pp.10-
13

L’Architecture d’Aujourd’hui, _AREAL, Joaquim,


n.45, Nov. 1952, pp.36-37 1.2.3. Conjunto residencial da Av. EUA, Lisboa,1955, foto IL

Mindlin: 1999, pp.122-123

Braund, p.247
_LISBOA_PORTO_RIO DE JANEIRO_S.PAULO_RECIFE_BRASÍLIA_LUANDA_MAPUTO_MACAU 4.0. a cidade de SÃO PAULO.
1940 1942 1954

_RIBEIRO, Paulo Antunes .RIBEIRO, Paulo Antunes


4.0. Conjunto residencial da Conjunto residencial da Móoca, São Paulo, 1940
Móoca , São Paulo, 1942
MM Roberto
Edifício Anchieta, São Paulo 1941

Próximo ao centro de São Paulo, o Conjunto Residencial da Várzea do Carmo, de Attílio Corrêa
Sao Paulo, Brasil Lima, sobressai pela composição racionalista e a disposição dos blocos paralelos (médios
e altos), assumindo uma posição rigorosamente racionalista procura a articulação entre a
_MMM ROBERTO, arquitectura e o urbanismo.
4.1. Edifício Achieta, São TÁVORA, Fernando O paralelismo e a regularidade aproximam o conjunto brasileiro aos esquemas inicialmente
2.1. Conjunto Ramalde”, Porto,
Paulo, 1940 Arquivo Casa do Infante
apresentados por Gropius no III CIAM, e alguns dos conceitos mais importantes do movimento
moderno que reflectir-se-ão anos mais tarde, também e a título de exemplo, no bairro do
_PLANTA Ramalde, de Fernando Távora na cidade do Porto.

A nível arquitectónico, do edifício à tipologia, se pode por de manifesto o conjunto residencial


do Realengo de Carlos Ferreira ou o Conjunto residencial da Móoca de Paulo Antunes Ribeiro,
não esquecendo que existe um desfasamento de dez anos entre os casos brasileiros e o conjunto 81
São Paulo, Brasil de Fernando Távora de 1952.

_LIMA, Attílio Corrêa,


4.2. Conjunto Residencial da
Várzea do Carmo, São Paulo,
1942

São Paulo, Brasil

_MINDLIN, Henrique
4.3. Edifício Residencial os
Três Leões, São Paulo, 1954

São Paulo, Brasil


_ARTIGAS, Vila Nova _ARTIGAS, Vila Nova; PENTEADO, Fábio, ROCHA, João Paulo Mendes,
4.1. Edifício Louveira, São Paulo, 1956-50 4.2. Conjunto habitacional Zezinho Magalhaes Prado, Guarulhos, São Paulo, 1957

19_ARTIGAS, Júlio, Vilanova “Ele tem uma implantação que todos os meus colegas arquitectos nunca deixaram de elogiar
Artigas, Instituto Lina Bo Bardi porque assimila a praça, que está em frente, ao interior do edifico” 19.

Os dois blocos, um com sete e outro com oito andares, foram implantados paralelos, criando
um pátio colectivo, local de encontro afastado da rua e da trama urbana da cidade, como um
leitura relacionada: refúgio frente ao caos urbano.
Estão ligados entre eles através de uma rampa sinuosa que contrasta com a regularidade dos
ARTIGAS, Vilanova, Caminhos de
Arquitectura, Cosacnaify, inclui a
dois blocos. Andares - tipo sobre pilotis, estrutura independente em betão armada, cortina de
Função Social do Arquitecto, Sp, vidro e venezianas de madeira que correm verticalmente na sua estrutura.
Junho de 1984

ARTIGAS, Vilanova, Arquitecto,


11 textos e uma entrevista,” A
cidade é uma casa. A casa é
uma cidade”, Casa da Cerca,
Almada, Março 2001

Arquitectura e Engenharia, 17,


pp.49-50

Mindlin:1999, pp.116-117
82 83

_D’ATHOUGUIA, Ruy;
SANCHEZ, Formozinho
1.1.Bairro das “Estacas”, LIisboa
1949-55, foto actual IL

_LOUREIRO José Carlos;


RAMOS, Luis Pádua
Edifício Parnaso, Porto, 1954-56
_AMORIM, Delfim _LISBOA_PORTO_RIO DE JANEIRO_S.PAULO_RECIFE_BRASÍLIA_LUANDA_MAPUTO_MACAU
5.0. um arquitecto português no Recife

Um caso significativo é a renovação da arquitectura no Recife, ocorre apenas depois de 1950, 20_ SILVA, Geraldo Gomes da _AMORIM, Fernandes,
principalmente através de dois jovens arquitectos: um vindo do Rio outro de Portugal, Acácio et al. Delfim Amorim arquiteto. 5.1. Edifício Pirapama, Recife, 1958
Gil Borsoi e Delfim Amorim. Recife: Instituto de Arquitetos do
Brasil/Departamento Pernambuco Avenida Conde da Boa Vista, Bairro da Boa Viagem, Recife
(IAB-PE), 1981, p.
Delfim Amorim, arquitecto portuense e activo membro do grupo O.D.A.M. fixa-se na cidade
do Recife, tendo um papel importante a nível de construção, evolução urbana da cidade e no 21_ idem, p.80
ensino. Assume um papel relevante neste processo, uma vez que indicia a RECIPROCIDADE
do processo arquitectónico entre Portugal e o Brasil. Leva toda a cultura da Escola do Porto e O Edifício Pirapama, situa-se no bairro da Boa Vista, no Recife, e trata-se de um exemplo
adapta e evolui as especificidades locais. “É através da “Composição” que o artista, com efeito, magnífico de um edifício misto: garagens no subsolo, planta térrea com fins comerciais, a
consciente ou inconscientemente, reúne numa síntese os elementos em choque da sua obra. sobreloja a escritórios e os demais pisos a apartamentos residenciais.
E é também através de uma luta impressionante que consegue humanizar o objecto – obra de
arte (…) 20” A composição do edifício, Particularmente o volume externo das escadas, constitui um forte
elemento de aproximação entre outros conjuntos residenciais já apresentados, quer no Brasil
Desenvolve vários projectos a nível da habitação colectiva, onde sobressai um enorme espírito (Parque Guinle) quer em Portugal (no Porto o caso do Conjunto do Luso e em Lisboa nos
moderno conjugado com a tradição arquitectónica portuguesa. É prova de isso a vasta Olivais)
exploração plástica do azulejo, o material de eleição de Amorim. Marcado por um grande
lado humanista, sempre acreditou na arquitectura, não apenas como uma interpretação da
realidade, mas como uma consciente posição perante essa mesma realidade, no seu sentido
social, político, económico e humano.
84 85
Fixa-se no Brasil de 1951 e desde logo as suas primeiras obras revelaram fortes influências
corbusianas, conservando um certo ar europeu e uma certa frieza em um País tão cálido, como
é o Brasil. No entanto, o ambiente brasileiro modificou o estilo de Amorim, como se reflecte por
desde as primeiras obras, como por exemplo no Edifício Pirapama (1956), no Prédio Acaiaca
(1957).

_AMORIM, Fernandes,
Alguns dos Azulejos elaborados
por Amorim
_MANTA_Abel_Conjunto
Habitação Colectiva
OlivaisNorte Lisboa 1960-64
_AMORIM, Fernandes, _AMORIM, Fernandes,
5.2. Edifício Acaiaca, Recife, 1958 5.3. Edifício Araguaia, Recife, 1961
Rua da Boa Viagem, Bairro da Boa Viagem, Recife Bairro Derby, Recife

No Edifício Acaiaca, a planta térrea está praticamente toda vazada, criando espaços colectivos O Edifício Araguaia, destinado exclusivamente ao uso residencial, apresenta-se como um volume
ajardinados de grande cuidado, permintindo ao cidadão total liberdade de circulação. As salas formal e plástico de grande valor com escala moderada. O edifício assenta sobre pilotis, dando
e os quartos dos apartamentos estão virado a nascente e a modelação bem marcada e definida lugar a estacionamento na planta térrea e é composto por três pisos mais, cada um deles com
compõe o ritmo vertical da fachada. dois tipos de apartamentos.
As fachadas laterais, são ligeiramente chanfradas, um tipo de detalhe bastante utilizado em Por-
tugal (caso significativo nas Estacas e também no projecto de Segurado na Avenido do Brasil, As duas fachadas mais expostas à insolação são quase integralmente revestidas de azulejo.
em Lisboa). São totalmente revestidas a azulejos, que continuam na fachada nascente, ceando Mesmo baseando numa observação rápida e superficial, identificam-se claramente os princípios
molduras. moderno preconizados pela Escola de Arquitectura do Porto. Por exemplo o desenho, a moldura
e a dimensão das janelas, assemelha em muito este projecto ao Edifício Miradoiro no Porto.
O desenho dos azulejos foi criado pelo arquitecto especialmente para este projecto. Este edifí-
cio é um caso sublime de conjugação entre os princípios do movimento moderno e a aplicação
de materiais culturalmente tradicionais portugueses, particularmente o azulejo 21.
(a importância da Construtora A.C.CRUZ)
SEGURADO, José
1.5. Edifício Montepio Geral SILVA, Moreira, SILVA, José
Lisboa_1956 2.8. Edifício Miradoiro,
Porto_1953

86
_LISBOA_PORTO_RIO DE JANEIRO_S.PAULO_RECIFE_BRASÍLIA_LUANDA_MAPUTO_MACAU

1968 1969 1970 1972

_AMORIM, Fernandes,
5.4. Edifício Francisco Vita,
Recife, 1968

fonte_O.D.A.M. leitura relacionada:

SILVA, Geraldo Gomes da et al.


Delfim Amorim arquiteto. Recife:
Instituto de Arquitetos do
Recife, Brasil Brasil/Departamento Pernambuco
(IAB-PE), 1981.

_AMORIM, Fernandes, Amorim, Delfim. (1991). Delfim


Amorim Arquiteto.[equipe:
5.6. Edifício Barão Rio Branco, Djanira Oiticica.et alli.]IAB. PE
Recife, 1969
_? Amorim, L. Delfim Amorim
8.6.Torres Vermelhas, Maputo, Construtor de uma linguagem
fonte_O.D.A.M._Delfim Amorim_IAP Moçambique, anos 60 síntese.
AU, São Paulo, Pini. Ano 5, n.
24, jun/jul, 1989, p. 94-97

Amorim, Luiz. (2001). Recife: 89


Recife, Brasil uma escola regional? Revista
Arquitetura e Urbanismo.94:71-
79
_AMORIM, Fernandes,
5.6. Edifício Duque Bragança, Amorim, Luiz. (2004)..A Escola
do Recife. in Pernambuco 5
Recife, 1970 décadas de arte.Ed.Construtora
Queirós
Galvão . p.75.
fonte_Delfim Amorim_IAP
Amorim, Luiz. Modernismo
Recifense: uma escola de
arquitetura, três paradigmas e
alguns paradoxos.[en
Recife, Brasil línea] .Pagina Web, URL. http://
www.vitruvius.com.br/arquitextos/
arq012/bases/03text.asp
_AMORIM, Fernandes, [consulta
5.7. Edifício Kanimbambo _DIAS, Adalberto el 18 de febrero de 2004]
Recife, 1972 7.3.2. Edifício Sede Cofre
da Previdência, Luanda, Bruand, Yves.(1981). Arquitetura
Angola_1963 Contemporânea no Brasil.São
fonte_Delfim Amorim_IAP Paulo: Ed. Perspectiva.p.147-148

Gomes, Geraldo. (1995). Um


Modernista Português no Recife.
Revista Arquitetura e Urbanismo.
57:
Recife, Brasil
71-79.
_LISBOA_PORTO_RIO DE JANEIRO_S.PAULO_RECIFE_BRASÍLIA_LUANDA_MAPUTO_MACAU _COSTA, Lúcio e Outros
6.0. Superquadras, Brasilia, 1956-50

Brasília, que nascerá dos contactos brasileiros com os CIAM 20, será inserido na investigação 20_ MILHEIRO, Ana Vaz, A
_Superquadras, Brasilia, 1956-
uma vez que se justifiquem influências e similitudes nos outros casos seleccionados no estudo. Construção do Brasil, relações
50, foto actual IL
com a Cultura Arquitectónica
Portuguesa, FAUP, publicações
Lúcio Costa, uma das figuras centrais da arquitectura moderna mundial, é sem dúvida a figura 2005, p.19
de confronto e de junção de peças nesta matéria. Iniciou o seu percurso entre a tradição
barroca luso-brasileira 21 e a arquitectura moderna justificando as singularidades na produção 21_ Lúcio Costa trabalhou durante
muitos anos sobre o Património
brasileira e a aproximação à cultura portuguesa, considerado por Ana Vaz Milheiro como o de Ouro Preto em Minas Gerais,
responsável pelas hereditariedades observadas e consideradas válidas ao longo do século XX, cidade de fortíssima influencia
entre os dois países. Razões de uma Nova Arquitectura, de 1934, “Muita construção, alguma arquitectónica portuguesa.
arquitectura e um milagre – depoimento de um arquitecto carioca”, de 1951, e “Presença de Le
22_ COSTA, Lúcio, “Razões de
Corbusier” 22 entrevista dada em 1987, textos inseridos e, Registo de uma Vivência, de 1955, uma nova Arquitectura! “Muita
são alguns dos momentos em que estas se tornam visíveis 23. construção, alguma arquitectura,
Figura de grande destaque em Portugal, foi merecedor dos mais diversos elogios, entre os quais um milagre – Depoimento de
de Formosinho Sanches em 1949 “a título de curiosidade e perdoem-me os que já sabem” – um arquitecto carioca”, (Correio
da Manhã, 1951), 1995,
que o “arquitecto Lúcio Costa foi o maior Arquitecto da Arquitectura Clássica e Colonial no p.157-171. Este artigo surge
Brasil. Hoje é o melhor Arquitecto Moderno Brasileiro” 24. sintetizado na revista L’Architecture
d’Aujourd’huiI, n.42-43, 1952,
sob o título “Architecture, Art
“De achar que lúcio costa fez um grande trabalho urbanístico na cidade e de constatar que foi plastique”; “Presença de Le
conduzido pela ideologia “corbusiana”, curiosamente aquela do período revolucionário, a Ville Corbusier”, (Entrevista a Jorge
90 radieuse. O que Le Corbusier viu em BRASÍLIA foram as suas hipóteses de 1922-25” Czajkowski, Maria Cristina 91
Artigas_ entrevista por ocasião da Exposição tradição e Ruptura in Vilanova Artigas, caminhos Burlamarqui, Ronaldo Brito,
1987), 1995, p.144-154.
da Arquitectura
23_ MILHEIRO, Ana Vaz, A
(Niemeyer, Superquadra 108, 1958-1960_ Braund p.210) Construção do Brasil, relações
com a Cultura Arquitectónica
Portuguesa, FAUP, publicações
2005, p.19

24_ SANCHES, Formosinho,


“Arquitectura Moderna
Brasileira, Arquitectura Moderna
Portuguesa”, Arquitectura, Lisboa,
2ª série, n.29, Fev/Mar,1949

leitura relacionada:

RICHARDS, J.M. “Brasília”,


Architectural Review, vol.125,
nº745, Feb 1945, pp.95

SEGAWA, Hugo. “La


Invención del Brasil, Lucio
Costa, 1902-1998”,

Arquitectura Viva, n.61, jul-


ago 1998, pp.74
_BRASIL_Rio de Janeiro_ vista METODOLOGIA E OS CASOS DE ESTUD0
googleEarth _escala1/2000

_ANGOLA_Luanda_ vista
googleEarth _escala1/2000

_MOÇAMBIQUE_Maputo_ vista Tem-se por objectivo encontrar a identidade dentro da diversidade da arquitectura moderna
googleEarth _escala1/2000 portuguesa através da criação de um mapa de terminologias que expliquem o interesse sobre o
tema clarificando ao máximo, por um lado o significado real dos términos e por outro a relação
_MACAU_Macau_ vista
googleEarth _escala1/2000 entre eles, criando novas pautas de investigação na área de projecto em arquitectura.

A experiência de “fazer zoom” em pontos específicos dos bairros de habitação colectiva mais
paradigmáticos de cada cidade envolvida, e encontrar as similitudes entre os vários conjuntos
urbanos: desde os seus princípios de implantação urbana, programa e estrutura, do tratamento
plástico dos volumes e características das fachadas ou através do estudo das tipologias. É
essencial re-colocar os elementos significativos encontrados, para poder construir o processo
evolutivo da habitação moderna não só em Portugal, como a sua difusão pelos territórios de
LISBOA PORTO RIO DE JANEIRO expressão portuguesa.
Área: 83,84 km2 Área: 41,86 km2 Área: 43.696,05 km2
N. Habitantes (2001): 509.751 N. Habitantes (2001): 227.790 N. Habitantes (2007):15.406.478
Densidade pop.: 9.518 hab/m2 Densidade pop.: 5.736 hab/m2 Densidade pop.: 352,58 hab/m2

92 93

LUANDA

ANGOLA_Luanda_
vista googleEarth _escala1/2000

_MOÇAMBIQUE_Maputo_
ALVALADE RAMALDE GUINLE vista googleEarth _escala1/2000
Conjunto “Estacas”: Conjunto “Ramalde”: Conjunto “Parque Guinle” _MACAU_Macau_
4 blocos 9 blocos 3 blocos vista googleEarth _escala1/2000 MAPUTO MACAU
7.0. a cidade de LUANDA em ANGOLA. VIEIRA, Vasco.
7.1. Edifício Cirilio_Luanda, Angola_ anos 60

Nos outros territórios de expressão portuguesa, devido em parte ao forte vínculo entre Portugal
e as suas ex-colónias ultramarinas, propõe-se aqui um novo campo de estudo, neste caso
ao estudo de projectos de arquitectos portugueses deslocados aos distintos países. São os
responsáveis directos da chegada da modernidade e em particular da habitação colectiva a
lugares e contextos tão diversos. Hoje em dia, são países independentes ou estão integrados
em outras nações, no entanto o património de origem portuguesa é amplio e de importante
valor, devido exactamente à actividade de arquitectos portugueses residentes ou aí enviados por
o Estado português. Provêem das duas escolas de arquitectura portuguesas, Lisboa e Porto e
logicamente reflectem os seus métodos academistas.

Vasco Vieira da Costa, arquitecto formado pela ESBAP, desde a sua apresentação do C.O.D.A.,
sobre a cidade satélite de Luanda que indicia o trabalho brilhante que realizará na cidade
angolana.

94 95

leitura referente:

TELES GRILO, Maria João,


“Bloco Habitacional. Unidade
de Habitação colectiva”, in
Arquitectura del Moviment
Modern Registre DOCODOMO
ibèric, Bracelona, Fundació Mies
van der Rohe, 1996

Tese FAUP

“SOTGIA, Antonello,
“L’architecttura didattica di Vasco
Vieira da Costa” in Luanda
Progettare perl a ricostruzione
La cooperazione universitária in
Angola, Roma, Gangemi, Editore,
1991

COSTA, Vasco Vieira, Cidade


Satélite nº3 Luanda, edições
FAUP e DAFEUA, Porto, Janeiro _BONITO, Mario; PIMENTEL, Rui
1984 Edificio Ouro, Porto, 1950
VIEIRA, Vasco _LISBOA_PORTO_RIO DE JANEIRO_S.PAULO_RECIFE_BRASÍLIA_LUANDA_MAPUTO_MACAU
7.2. Edifício Servidores do Estado_Luanda,Angola_1965
Avenida Amílcar Cabral

O edifício Servidores do Estado é um bloco de habitação colectiva representativo, não só da


obra-mestra de Vieira da Costa, mas também um exemplo sublime da aplicação dos princípios
do movimento moderno, em Luanda. Implantado paralelamente à avenida Amílcar Cabral, um
dos eixos viários principais da cidade e sendo um bloco de habitação de baixo custo, soube
adaptar-se ao sítio e as suas especificidades.

96 97
VIEIRA, Vasco. Edificio Servidores
do Esatdo secção tranversal,
Luanda, Angola, 1965

D’ATHOUGUIA,Rui; SANCHEZ,
Formozinho. O Barrio das
“Estacas”, secção transversal
Lisboa, 1949-55

VIEIRA, Vasco. Edificio Servidores


do Esatdo, Planta do bloco,
Luanda, Angola, 1965
_LISBOA_PORTO_RIO DE JANEIRO_S.PAULO_RECIFE_BRASÍLIA_LUANDA_MAPUTO_MACAU

DIAS, Adalberto DIAS, Adalberto


7.3.1. Edifício Sede Cofre 7.3.3. Conjunto resi-
da Previdência, Luanda, dencial do Cofre da
Angola_1954 Previdência, Luanda,
Angola_1965

98 99

DIAS, Adalberto
7.3.2. Edifício Sede Cofre
da Previdência, Luanda,
Angola_1963
8.0. a cidade de MAPUTO em MOÇAMBIQUE. _GUEDES, Amâncio
8.2. Edificio“Tonelli” Maputo, Moçambique, anos 60

Amâncio Guedes, mais conhecido por Pancho Guedes, arquitecto português com relativa leitura referente:
Direcção Geral de Habitação (???), Maputo
Leitura referente:
“Eram colocados arquitectos nas províncias para apoiar as Direcções Regionais. Faziam- AMARAL, Keil, “Trabalhar fora:
se estudos teóricos com alto nível de qualidade, abrangendo o ordenamento territorial, o Moçambique”, Jornal dos
planeamento físico, a urbanização, a criação de novas aldeias e a sua repercussão social e Arquitectos, n.198, Nov/Dez de
económica.” 2000, p.38

AMARAL, Keil, “Saudades de


Amâncio Guedes, mais conhecido por Pancho Guedes, arquitecto português com relativa Moçambique”, Jornal dos
projecção internacional, 6 encontrou em Moçambique o ambiente ideal para uma Arquitectos, n.198, Nov/Dez de
experimentação plástica total, que de certo modo a Europa já não comportava. Criticou o 2000, p.39
moderno quando ainda não era suposto. Usou-o, colou-o: levou o betão, a planta livre, os
pilares, as varandas contínuas e introduziu-os com uma plasticidade mestra na arquitectura
local moçambicana. Uma obra singular e peculiar que teve o poder de carcterizar a cidade,
particularmente Maputo.

100 101
_GUEDES, Amâncio.
8.1. “Prometheus”, Maputo, Moçambique, anos 60

in Arquitectural Review, n770,1967

_MOURA_Albino Lopes. Conjunto


Habitação Colectiva na Av. EUA
Lisboa 1956-59

_ M A N TA _ A b e l _ C o n j u n t o
Habitação Colectiva OlivaisNorte
Lisboa 1960-64
_LISBOA_PORTO_RIO DE JANEIRO_S.PAULO_RECIFE_BRASÍLIA_LUANDA_MAPUTO_MACAU _TINOCO, João José
8.4. Av. Lenine_Maputo, Moçambique,anos 60

_GUEDES, Amâncio. leitura referente: No entanto, João José Tinoco é outro nome que se destaca pelo seu brilhantismo arquitectónico
8.3. “Casa do Dragão”, Maputo, Moçambique, anos 60 principalmente também em Maputo, antigo cidade de Lourenço Marques, capital de
COSTA, Lucio, Razões para uma
nova arquitectura Moçambique. Praticou uma arquitectura criativa e fiel no quadro da linguagem do Movimento
in Arquitectural Review, n770,1967
moderno, desenvolveu inúmeras obras de equipamento, comercio e habitação de grande
L’Architecture d’Aujourd’hui, simplicidade e eficácia, que ainda hoje desempenham as suas funções, resistindo ao tempo e
13/14 set. 1947,p.90 ao uso, particularmente no caso concreto e especifico da antiga “África Portuguesa”.
Architectural Review, ago. 1950
Estuda em Lisboa, mas conclui o curso na Escola do Porto (tal como Ruy d’Athouguia) e termina
1952 com a apresentação do CODA “Casa tipo em ala continua” (18 valores): projecto de
habitação modulada, estudada para ser aplicada num conjunto residencial colectivo, de 4
habitações por bloco. Agrupadas em série sequencias, perfazendo um total de 50 fogos.
Ao contrário de Amâncio Miranda Guedes, Tinoco trabalhou significativamente para o Estado e
para os serviços públicos, apesar de ter também vários casos de habitação colectiva e familiar
no âmbito do sector privado.

102 103

_REIDY, Affonso
Marques de Sao Vicente Gávea,
Rio de Janeiro, 1952

_COSTA, Francisco Pereira


Praça D.Afonso V , Porto
Portugal_1953
_LISBOA_PORTO_RIO DE JANEIRO_S.PAULO_RECIFE_BRASÍLIA_LUANDA_MAPUTO_MACAU _?
8.6.Torres Vermelhas, Maputo,
Moçambique, anos 60

_? Outros Trabalhos de João


TINOCO:
8.5.Bairr,o residencial COOP, Maputo, Moçambique, anos 60
Participação no concurso Lusolite,
Arq.38-39, Maio de 1951

Bloco de habitações Fevereiro &


RochaI, LM. Edifício de mais de
10 pisos, procura do desenho
da fachada de elementos
diferenciadores, que diminuam
a monotonia decorrente da
repetição dos inúmeros pisos piso
recuado que se assume como
um “vazio” de uma visão exterior.
Nas traseiras, existe uma grelha
central, de expressão vertical,
para dinamização de topo o
corpo construído.
Trabalhou também em projectos
urbanos de conjunto, sobretudo
nas áreas mais centrais de L.M,
mas nenhum deles chegou a
consubstanciar-se em obra
104 edificada. 15

Centro Dicca (centro comercial, 2


cinemas, três torres de habitação,
LM, 1967

Edifício Castilho/Lenine,
interessante jogo brise-soleils em
betão e persianas metálicas nas
traseiras

Conjunto residencial (2 blocos),


para a SIAL, LM com A.M.Veloso
Anteprojecto de centro comercial,
blocos habitacionais (c.160 mil
m2), para uma imobiliária, centro
de LM
9.0. o caso particular de MACAU. _LISBOA_PORTO_RIO DE JANEIRO_S.PAULO_RECIFE_BRASÍLIA_LUANDA_MAPUTO_MACAU

Macau, o último pedaço do Império Português 1, pelas circunstâncias particulares da região, 1_ Macau é uma Região _Edifico de Bruno Soares, inês Ó,
pela história específica da presença portuguesa e da relação Europa – China, torna-se um Administrativa Especial da Macau.
interessante campo de estudo. República Popular da China
desde os primeiros momentos _Imóvel no sarredores do “Fat Chi
O pequeno território no Estuário do Rio das Pérolas, é uma experiência única quer para o Ke”, Macau.
da madrugada do dia 20 de
colectivo luso, quer para os muitos cidadãos portugueses que por lá passaram e se fixaram. Dezembro de 1999. Antes desta
Macau foi, durante quatro séculos de presença portuguesa, o ponto único e privilegiado de data, Macau foi colonizada e _Imagens em “Macau Glória,
contacto entre a China e o Ocidente, entre as culturas chinesas e europeias 2. administrada por Portugal durante A glória do vulgar”, Manuel
mais de 400 anos e é considerada Vicente, Manuel Graça Dias,
o primeiro entreposto bem como Helena Resende.
A vaga de planos directores elaborados pelo Ministério do Ultramar para as cidades coloniais a última colónia europeia na
durante os anos cinquenta chegou a Macau, na sequencia da necessidade então sentida de China.
se definirem medidas reguladoras do uso dos solos, devido ao impacto que o jogo passou a
desempenhar na economia local 3. Elaborado por Garizo do Carmo nos anos sessenta 4, o 2_CHAN, J.P. Pereira, em leitura referente:
Arquitectos, Publicação Mensal
plano define a actual estrutura espacial e funcional. O plano do Ministério do ultramar define dos Arquitectos Portugueses, Ano Simpósio Internacional MACAU
ainda regras de ordenamento para os bairros populares de Sá-Kong, Samkiu e Tap Seac e XIV, Ago.1996 METROPOLE, Culture os
estabeleceu como zona industrial a Areia Preta. Metropolis in Macau, Instituo
3_ MENDES, M. Clara, em Cultural do Governo da R.A.E.
Arquitectura Portuguesa, Ano III, de Macau
“No fundo da China existe um mandarim mais rico 5ª série, n.12, Dez./Jan. 1987-
Que todos os reis de que a fábula ou a história contam. 1988, p.38 BRUNT, Michael, The Portuguese
Dele nada conheces, Settement at Macau, PLAN,
106 Nem o nome, nem o semblante, nem a seda de que se veste. 4_Plano Director de Macau, 1969 CANADA, vol.III, pp.119-140 107
(?)
Para que tu herdes os seus cabedais infindáveis,
CALADO, Maria; MENDES,
Basta que toques essa campainha, posta a teu lado, sobre um livro. 5_ Arquitectura Portuguesa, Ano M. Clara, TOUSSAINT, Michel,
Ele soltará apenas um suspiro, nesses confins da Mongólia. III, 5ª série, n.12, Dez./Jan. 1987- Memorial City on the Estuary of
1988, p.55
Será então um cadáver: the River of Pearls, Goverment of
E tu verás a teus pés mais ouro Macau. P.175
Do que se pode sonhar a ambição de um avaro. CALADO, Maria; MENDES, M.
Tu, que me lês e és um homem mortal, tocarás tu a campainha? Clara, Historic Centre of Macau,
Proposal for the World Heritage
“O MANDARIM” Eça de Queirós List. UNESCO, p.159

SILVEIRA, Luis, Ensaio de


A actividade organizada de arquitectos em Macau data do início dos anos sessenta. Canavarro Iconografia das Cidades
Nolasco, engenheiro civil de profissão, revela-se nessa época um “arquitecto sensível” e capaz Portuguesas do ultramar, III
de assimilar e compreender os estilos modernistas. vol. Junta de Investigações do
Ultramar s.d.

Em Macau, Chorão Ramalho e Manuel Vicente desenvolvem uma intensa actividade, Arquitectura Portuguesa, Ano III,
principalmente a partir dos anos 60, projectando alguns edifícios notáveis a nível da sua 5ª série, n.12, Dez./Jan. 1987-
linguagem pessoal e de grande qualidade construtiva. Alguns das obras de Chorão Ramalho 1988
incluem-se ainda hoje nas melhores peças de arquitectura de Macau, como por exemplo para Arquitectos, Publicação Mensal
o caso, alguns dos edifícios de habitação para os funcionários nas avenidas Coronel Mesquita dos Arquitectos Portugueses, Ano
e Sidónio Pais. XIV, Ago.1996
Outras obras dessa época serão projectadas por José Maneiras, Henrique Medina, Jorge Silva,
Arquitectos, Publicação Mensal
Natália Gomes e ainda João Ramires Fernandes – este último com o bairro social junto ao trote dos Arquitectos Portugueses, Ano
na taipa actualmente restaurado 5. XIV, Set.1996
_LISBOA_PORTO_RIO DE JANEIRO_S.PAULO_RECIFE_BRASÍLIA_LUANDA_MAPUTO_MACAU VICENTE, Manuel.
9.1. Torre de los Correios, Telefones e Telégrafos, Macau, 1962-65

Considerada como uma das grandes obras no DOCODOMO, o programa incluía 44 6_ “Set Obres modernes de
apartamentos para os funcionários dos Correios. O desenho revela influências do arquitecto l’Últramar português. Apèndix”,
Chorão Ramalho, com quem Manuel Vicente trabalhava então. Assume uma volumetria simples, em Arquitectura del Movimiento
prismática, recortada por ventilações verticais, acentuadas pelas persianas metálicas. Este tipo Moderno, rfegistro DOCODOMO
Ibéric, 1925-1965, Fundación
de aberturas são essenciais á boa ventilação das habitações, inseridas no clima tropical de Mies van der Rohe, Barcelona,
Macau. 1996
Uma sanca superior de betão aparente remata o topo do edifício, com grandes aproximações
formais às torres projectadas por Teotónio Pereira no bairro dos Olivais em Lisboa. Os pilares,
vigas e varandas também sobressaem em betão aparente no uniforme branco do conjunto. Nas
quatro esquinas, uma varanda articula os planos de cada duas fachadas em ângulo recto.
Dez anos depois, o mesmo autor, ao regressar a Macau, projecta e constrói mais três torres para
funcionários, na área da Barra, as quais considera como uma “releitura” da original torre dos
anos 60, redesenhando o projecto inicial com algumas variações 6.

108
P E R E I R A , Te o t ó n i o , F R E I TA S ,
Antonio, Bairro dos Olivais,
Lisboa, 1956

VICENTE, Manuel.
9.1. Torre de los Correios,
Telefones e Telégrafos, Macau, SILVA, Moreira; SILVA José, Edifício
1962-65 Miradoiro, Porto, 1969
_METODOLOGIA A revista
“ARQUITECTURA”,
_PUBLICAÇÕES PERIÓDICAS_PORTUGUESAS_INTERNACIONAIS_VIAGENS,CONGRESSOS,CONTACTOS
2ª série: 1957-1974
1953 1954 1957 1959 1961 1971

•Estudo das publicações especializadas da época, periódicas e não periódicas, Exposições de _Revista “Arquitectura”, 2ª série,
arquitectura e as Actas dos Congressos de Arquitectura; n.50-51, Lisboa, Nov-Dez 1953

_idem, n.53, Lisboa, Nov-Dec


•O desenho interpretativo baseado na observação in situ; 1954, “O bairro das Estacas”

•Procura dos documentos originais dos projectos seleccionados, para posteriormente proceder _idem, n.61, Lisboa, Dez 1957,
“A av. EUA e o projecto de Pedro
ao re-desenho informático, como instrumento de pesquisa arquitectónica; Cid”.

•Concretização do estudo de Arquitecturas Comparadas (apoio em suportes arquitectónicos de


análise reconhecidos a nível internacional). PORTUGAL

•Entrevistas a autores relacionados; _Revista “Arquitectura”, 2ª série,


n.36, Lisboa, Nov1950, RINO
LEVI. “A Arquitectura é ma arte e
uma Ciência”
_idem, n.52, Lisboa, Fev-Mar
1.Portugal 1954, “O pintor Burle Max e os
seus jardins”
_idem, n.53, Lisboa, Fev-Mar
A revista “Arquitectura” tinha, nesta época, uma forte consciência critica em relação aos 1954, “Exposição de Arquitectura
dogmas do Movimento Moderno e teve, sem dúvida alguma, um papel indiscutível na definição Contemporanea Brasileira”
110 da modernidade portuguesa. Fundamental na divulgação crítica e criteriosa do panorama
português, reunindo estudos originais sobre tipologias residenciais, a construção da cidade, BRASIL
habitat rural, politica de habitação, construção clandestina e simultaneamente exponha os _Revista “Arquitectura”, 2ª série,
novos princípios modernos que emergiam pela Europa 1. n.84, Lisboa, Jan-Fev 1961
Pretende-se reunir e compilar a informação publicada como fio condutor da evolução da “Notas de uma viagem a Macau”
habitação colectiva nos diferentes países envolvidos de modo a conseguir uma visão o mais _arq. Leopoldo de Almeida
abrangente possível. _Revista “Arquitectura”, 3ª série,
n.115, Lisboa, Abril 1971
Mais tarde, também a revista “Binário” teve relevância na divulgação da Arquitectura Moderna, “Moçambique, Nota sobre as
particularmente a brasileira. Se pode ainda estender-se a outros periódicos da crítica e do cidades e Arquitectura” _arq.
pensamento: Colóquio-Artes, Jornal de Artes e Letras, Vértice, o Tempo e o Modo, Análise
Social, informação Social, Diário de Lisboa.
OUTROS TERRITÓRIOS
2.Internacional
_Revista “Arquitectura”, 2ª série,
n.50-51, Lisboa, Nov-Dez 1953,
LE CORBUSIER, “Habitação em
Marselha”

_idem, n.49, Lisboa, Jan 1959,


LE CORBUSIER, “Chandigarh”
1_ O texto, “O Ovo e o Salmão” de Alvar Aalto, os diferentes artigos
sobre Le Corbusier, a publicação na íntegra da Carta de Atenas (pela _idem, n.64, Lisboa, Jan 1959,
primeira vez traduzida em português), assim como as propostas de CIAM X, Grupo CIAM Porto
Gropius ou Marcel Breuer provam a actualidade da modernidade da
revista. CIAM
A revista “L’ARCHITECTURE D’AUJOURD’HUI” e “ARCHITECTURAL REVIEW” _PUBLICAÇÕES PERIÓDICAS_PORTUGUESAS_INTERNACIONAIS_VIAGENS,CONGRESSOS,CONTACTOS

1929 1949 1950 1953 1954 1962 1976

_Revista “Arquitectura”, 2ª série,


n.50-51, Lisboa, Nov-Dez 1953

_idem, n.64, Lisboa, Jan 1959

PORTUGAL

_Revista Architecture d’Ajourd’hui,


13-14 “Brésil” Set.1947

_Revista Architectural Review,


n.644 Agosto 1950

_Revista Architecture d’Ajourd’hui,


42-43 “Brésil” Agosto 1952

111
BRASIL

_Revista Architectural Review,


n.770 Abril 1961

_Revista Architecture d’Ajourd’hui,


102 “Architecrtures fantastiques”
Jun/ Jul1962

OUTROS TERRITÓRIOS
_Poster Publicitário do VII CIAM 1
Bergamo, 2-13 de Julio 1949

_Le Corbusier

_Architecture d’Ajourd’hui, 45
“Habitations Colective” Se.1952

_Actas do CIAM 9

CIAM
_PUBLICAÇÕES PERIÓDICAS_PORTUGUESAS_INTERNACIONAIS_VIAGENS,CONGRESSOS,CONTACTOS

CONGRESSOS BRASIL PORTUGAL OUTROS TERRITÓRIOS CONGRESSOS BRASIL PORTUGAL OUTROS TERRITÓRIOS

1928 I CIAM_ Suiça_ Propõe-se 1953 GILBERTO FREIRE Viaja e fixa-se por algum
uma “Política Colectiva do tempo em PORTUGAL
Solo”
Participam no IX CIAM, VIANA DE LIMA, FERNANDO
1929 II CIAM_ Frankfurt_Debate- Aix-en-Provence, França, TÁVORA, ARMÉNIO LOSA
se o “Estudo da Habitação dedicada ao “Estudo
Mínima” do Habitat Humano”.
Congressistas realizam
uma visita guiada por LE
1930 III CIAM_ Bruxelas_Discute- CORBUSIER à Unidade de
se o “A Divisão racional do Habitação de Marselha. Entre
Solo” I Bienal de Arquitectura de
outros Formosinho Sanches,
LE CORBUSIER São Paulo_ O bairro do
Ruy d’Athouguia, Keil do
Viaja para o Brasil “PARQUE GUINLE” de LÚCIO
Amaral, Chorão Ramalho COSTA ganha o prémio de
habitação.
1949 1º Congresso Nacional de
Arquitectura_ Lisboa 1954 II Bienal de Arquitectura RUY D’ATHOUGUIA e
de São Paulo_ O bairro FORMOSINHO SANCHES
KEIL DO AMARAL, viaja a do “ESTACAS” de
itália e ao Sul de França D’ATHOUGUIA e SANCHES
ganha uma menção honrosa,
VASCO VIERA DA COSTA, sendo o juri GROPIUS, SERT,
apresenta para obtenção AALTO, ROGERS, BRATHKE,
do título na FAUP “Cidade REIDY. 115
Satélite para Luanda”
Establecem contactos com FREDERICO GEORGE e
1950 Trabalha durante um ano e MAURÍCIO VASCONCELOS ARTIGAS, BERNADES, DACIANA COSTA viajam
meio com ARTIGAS BRATHKE, MM ROBERTO, para o Brasil
COSTA, NIEMEYER, REIDY
VASCO VIERA DA COSTA Viaja e fixa-se em LUANDA

CASTRO RODRIGUES Constrói o 1º Edifício de 1955 Coloca a possibilidade de VIANA DE LIMA


Habitação Colectiva com realizar o X CIAM em Braga,
duplex em LUANDA Portugal

Participam no X CIAM e VIANA DE LIMA,


apresentam o projecto “Plano FERNANDO TÁVORA
1951 Estuda em Paris e trabalha VIANA DE LIMA para uma Comunidade Rural”
bastante tempo no atelier de
LE CORBUSIER;
Participa no VIII CIAM,
Hoddesdon, Holanda,
1956 Participa no V UIA em Paris, CARLOS RAMOS
na Comissão Executiva,
juntamente com TÁVORA e BErlim, passa por Londres
JOÃO TINOCO_Debateu-
se o “Problema do centro
das cidades (cidade, bairro, 1958 Pavilhão de Portugal na PEDRO CID
tipologia, “Lar”) Exposição Mundial, Bruxelas
Exposição “Exibition of
1952 Participam no II Congresso VIANA DE LIMA, TÁVORA Portuguese Architecture”,
do UIA Londres

Participam no II Congresso LISBOA 1961 LÚCIO COSTA Viaja a Portugal


do UIA Encontra-se com TÁVORA e RAMOS
_ARQUITECTURAS COMPARADAS

1931 1942 1947 1949 1952 1960 1965

Apoio em diversos ensaios arquitectónicos sobre habitação para a realização do projecto de _D’ATHOUGUIA, Rui; SANCHES,
arquitecturas comparadas. São ensaios desenvolvidos sobre o estudo da habitação colectiva, Formosinho, Bairro das “Estacas”
Lisboa, 1949-55
facilmente reconhecidos mundialmente, que aqui são usados como sistemas de análise de
comparação a fim de identificar os sistemas de composição, módulos ou ritmos, de uma maneira _TÁVORA, Fernando, Unidade
precisa e coerente entre os diferentes objectos de estudo. Abre-se assim, um novo campo de “Ramalde”, Porto 1952-60
análise sobre o projecto arquitectónico da habitação colectiva. _MOURA, ALbino, Conjunto
Baseiam-se: residencial Av. EUA, Lisboa,
1956-59
• Os vários diagramas resultantes dos famosos Congressos dos CIAM, principalmente os três
primeiros, uma vez que foram relacionados directamente com a habitação urbana e mínima: PORTUGAL
a Habitação Moderna, ainda hoje um tema tão actual. Entre eles os diagramas de Ernest May,
Alexander Klein, Walter Gropius e Le Corbusier, que permitem o estudo desde a análise urbana _LIMA, Correa,
até à tipologia 2. ConjuntoResidencial Varsea do
Carmo, SP, 1942

• O ensaio “Habitação Evolutiva” de Nuno Portas dos anos sessenta, que ampliou o âmbito _COSTA, Lucio, Conjunto do
do estudo sobre a sociologia e critica espacial da habitação, é também de referida importância Parque Guinle, RJ, 1949-54
na realização de este trabalho 3.
_REIDY, Affonso Conjunto
Residencial Marques de Sao
• Os “Cinco pontos para uma nova arquitectura” e a Unité d’Habitación de Marsella de Vicente, Gávea, RJ, 1952
116 Le Corbusier como sistema de medida e comparação, através do seu reconhecimento e
identificação mundial 4. BRASIL
_GUEDES, Amancio, Edifico de
Partindo dos pressupostos da Forma Moderna do departamento de Projectos Arquitectónicos Habitação “Tonelli”, Maputo,
ESTAB-UPC, a análise centra-se na “interpretação da Forma como um sistema de relações Moçambique, anos 60
visuais e de sentido no qual se valoriza o sujeito da experiencia, através do seu sentido estético _VIEIRA, Vasco, Edifício de
e crítico” 5. Realiza-se o projectos das Arquitecturas Comparadas de modo a contribuir à Habitação para os trabalhadores
concepção arquitectónica através do projecto, superando o seu carácter estritamente teórico e, dos CTT, Luanda, Angola, 1965
ao mesmo tempo, centrar a atenção nos aspectos básicos da sua concepção, assim como, nos
critérios essenciais do acto de projectar. Fraseando, Álvaro Siza, a capacidade de relacionar
coisas e ideias distintas, é a capacidade de ver realmente.

OUTROS TERRITÓRIOS
2_ O I Congresso dos CIAM realiza-se em 1928 (Suíça) e debateu-se
principalmente os temas do urbanismo do ponto de vista da zonificação _GROPIUS, Walter, Blocos
e da produção industrial, propondo uma política do solo colectiva. O II de Habitação, Wannsee,
CIAM, realizado no ano seguinte em Frankfurt, sob o tema “Estudo da perspectiva, 1931
Habitação Mínima” porposto por Ernest May (publica em 1930 com o
titulo “Die Wohnung fur Existenzminimum”. O III CIAM realiza-se em _LE CORBUSIER Unité de
Bruxelas com o tema “Divisão racional do solo.” Habitation Marselha, 1947-53

3_Publicações de Nuno Portas

4_Le Corbusier, Por uma nova Arquitectura, Estudos, 2002.

5_GASTÓN, Cristina; ROVIRA, Teresa em Pautas de Investigación.


Ediciones UPC, Universitat Politécnica de Catalunya. CIAM
_ARQUITECTURAS COMPARADAS_escala urbana _ARQUITECTURAS COMPARADAS_escala arquitectónica
1930 1942 1952 1962 1929 1931 1949 1952 1960

_TÁVORA, Fernando, Unidade _PORTAS, Nuno, “Habitação


Residencial do “Ramalde”, Porto Evolutiva.
1952-60
_D’ATHOUGUIA, Rui; SANCHES,
_CASTRO Freire, Ante-projecto Formosinho, Bairro das “Estacas”
da Av. EUA Plano de 1962 Lisboa, 1949-55
Arquivo CML
_TÁVORA, Fernando, Unidade
Residencial do “Ramalde”, Porto
1952-60

PORTUGAL PORTUGAL
_LIMA, Correa, _REIDY, Affonso Conjunto
ConjuntoResidencial Varsea do Residencial Marques de São
Carmo, SP, 1942 Vicente, Gávea,
Rio de Janeiro, 1952
_REIDY, Affonso Conjunto
Residencial Marques de Sao
Vicente, Gávea, RJ, 1952

117
BRASIL BRASIL

_VIEIRA, Vasco, “Cidade-Satélite _GUEDES, Amancio Edificio


nª3, Luanda”, C.O.D.A., ESBAP, de Habitação “Prometheus””
Porto, 1949 Maputo,Moçambique años 60

OUTROS TERRITÓRIOS OUTROS TERRITÓRIOS


GROPIUS, Walter, Comparación _MAY, Ernest, Exposição
de la rentabilidad en la emFrankfurt _Edificios
construcción de bloques en hilera Plurifamiliares _caso de
con diferentes número de pisos, Hamburgo, actas do II congreso
actas del III congreso del CIAM, del CIAM, Frankfurt, 1929
Bruselas, 1930
_KLEIN, Alexander Planta tipo
Barrio Durrenberg- Leipzig 1931

_LE CORBUSIER Unité de


Habitation Marselha, 1947-53
CIAM CIAM
O objectivo é a identificação dos elementos de referência dos princípios da modernidade em
cada projecto seleccionado analisando em seguida as eventuais implicações na evolução do
bairro ou cidade. Pretende-se conseguir a máxima igualdade e equilíbrio entre os diferentes
casos eleitos para a realização do estudo das arquitecturas comparadas de modo a ampliar
as especificidades da Habitação Moderna Portuguesa. Inicia-se o processo de análise desde
a escala urbana, interpretando a malha urbana específica de cada cidade e a integração dos
projectos de habitação e procede-se com a análise arquitectónica, onde se contemplam os
aspectos essenciais de estrutura, concepção, funcionalidade e desenho, comparando também
as várias tipologias-tipo existentes: um juízo desde a cidade ao espaço interno dos edifícios.
As características espaciais e formais, a relação entre lógica estrutural e composição, as questões
funcionais, os itinerários e as percepções, o uso da luz natural e artificial, as linguagens e
significados referidos, as técnicas e os materiais utilizados devem ser padrões essenciais do
juízo. A análise, de um modo específico de conceptualizar a realidade, transformando-a em
objectos teóricos, com base nos quais, é possível formular hipóteses e proceder à sua validação.
Teoria é não só o conhecimento que se produz (teoria substantiva) como o modo como se
produz (teoria processual, método) 6.

Assim, paralelamente à exigência da leitura sintética dos elementos, o entendimento do


conceito espaço, implica a inserção de um campo de experiências que resulta da conformação
120 das superfícies, volumetria, massa, continuidade ou descontinuidade, aberturas, fugas ou 121
encerramento do contorno; “campo de experiencia” que propõe um espaço real as acção e
movimentos de cada um 7.Implica uma interpretação cultural e atenção detalhada à obra, ou
seja, a teoria e a prática devem estar conciliadas 8.

Os ensaios sobre a arquitectura moderna são hoje um importante tema de debate arquitectónico.
Assim como, o eminente problema em torno da habitação urbana. A oportunidade de unir estes
dois parâmetros, à divulgação de casos da arquitectura portuguesa quase desconhecidos a nível
mundial, constituirão um importante documento, não só, para o entendimento da Arquitectura
6_SANTOS, Boaventura Sousa, Moderna Portuguesa, como também, para o aumento do espólio da Arquitectura Moderna
Introdução a uma Ciência Pós
Moderna. Porto; Afrontamento, Mundial.
1989. É precisamente, a partir do estudo do conjunto e o (re)conhecimento global de estas arquitecturas
e dos seus autores, que se começam a criar e a entender as relações arquitectónicas que
7_Argan, Zevi, Schulz p.17 extrapolaram os territórios nacionais e ampliaram o espólio da arquitectura moderna
Portas Prefacio
portuguesa. Uma Viagem dos significados, sobre a capacidade do vocabulário da arquitectura
8_A propósito ver: STEINER, G. moderna portuguesa, neste caso através da habitação colectiva, ter atravessado o mundo e ter
Réelles Présences, L’art du sens. deixado marcas registadas em tantos sítios diferentes (da África a Ásia, da Europa à América).
Paris: Gallimard, 1991 (edição As memórias e as representações de um discurso, uma utilização livre do moderno, às vezes
original, Real Presences, Faber
and Faber, Londres, 1989). imprevisível e espontânea, outras vezes mais conforme segundo os pressupostos; em ambas as
situações: sempre surpreendentes.
9_ Jorge Henriques Pais da A experimentação, a observação, a necessidade de repetir o fenómeno observado. A vontade da
Silva, “Arquitectura e Urbanística
em Portugal Continental”, in
arquitectura moderna sobrevive e passa por essa experiencia. O equilíbrio atingido no quadro
Arquitectura, 4ªserie, n.134, da modernidade revelam um processo empírico na evolução da arquitectura portuguesa, cujas
Lisboa, Julho, 1979. marcam provêem de um desejo simultâneo de conservar e de inovar 9.
_Textos Fundamentais sobre o Tema

1_ Portugal 3_ Territórios de expressão portuguesa


No quadro do estudo da arquitectura moderna portuguesa podem-se destacar a publicação
“Os verdes anos, a Arquitectura Portuguesa dos anos 50” elaborada através da dissertação “Set Obres modernes de L’Ultramar portugès. Apèndix”. In Arquitectura del Movimiento Moderno.
de Mestrado de Ana Tostões _FAUP 1994, onde de um modo histórico, sistemático e critico Registro DOCODOMO Ibèric, 1925-1965, Fundación Mies Van der Rohe, Barcelona, 1996.
apresenta o percurso da arquitectura portuguesa no período 1948-1961. Ainda sobre esta Este livro mostra o valor de um inventário do património moderno ibérico y faz também
temática se deve fazer referência a “Percursos” de Sergio Fernandez _FAUP 1988 que faz um referencia à arquitectura de origem portuguesas nos territórios então denominados territórios do
caminho através da produção de autor em Portugal desde os anos 30 até aos anos 70, fazendo “Ultramar”. O resumo de José Manuel Fernandes, prova o valor de estes factos e a importância
referência a muitos dos objectos de estudo a referir. Deve-se ainda ter em consideração o texto da realização de investigações sobre o tema. Das sete obras publicadas, destacam-se as três
de Nuno Portas, no prefácio da Historia da Arquitectura Moderna de Bruno Zevi, onde Portas referidas ao contexto da habitação colectiva.
interpreta a “Evolução da Arquitectura Moderna em Portugal, uma interpretação” _Arcadia
1979. A escassa bibliografia sobre o tema valoriza os livros de José Manuel Fernandes, “Arquitectura
e Urbanismo na África Portuguesa” e “Geração Africana, Arquitecturas e cidades em Angola e
O artigo de Manuel Vicente, “1948/1961 Espoirs déçus et remous culturales” no histórico Moçambique, 1925-1975”, que apesar de não incidirem exclusivamente sobre a arquitectura
número sobre Portugal da revista L’Architecture d’Aujourd’hui, n.185 Mai/Jun 1976. Tem uma moderna, nem ao contexto especifico da habitação colectiva, apresentam referencias de grande
enorme importância pelo seu conteúdo e por o protagonismo mundial de esta revista que pela valor sobre o património de origem portuguesa, realizando de uma forma crítica a introdução
primeira vez dedica um número inteiro à evolução da arquitectura portuguesa. à obra de autores pouco ou nada reconhecidos que desenvolveram importantes projectos n o
âmbito da habitação colectiva moderna.
As teses doutorais “Ruy d’Athouguia, a modernidade em aberto” de Graça Correia _ESTAB
2006 e “Grupo O.D.A.M.” de Edite Figueiredo, ETSAB, são importantes testemunhos para a “Modern Architecture of Macau” Tese de Mestrado de Diogo Burnay, Universidad Londres_ por
122 contextualização da arquitectura portuguesa. Em relação ao primeiro citado, destacam-se os consultar 123
textos introdutórios e o texto sobre o bairro das “Estacas”. O segundo referido é particularmente
importante para a contextualização da modernidade da cidade do Porto. Assume uma importância vital, o espólio da revista “Arquitectura”, por ser a única fonte de
divulgação arquitectónica que existia em Portugal com regularidade na época. Teve um
“Edifícios modernos de Habitação Colectiva 1948/61, Desenho Standart na Arquitectura papel indiscutível no contexto arquitectónico, não só pela continuidade histórica que permite
Portuguesa” tese de doutoramento de José Fernando Gonçalves, ESTAB_2007, onde se estabelecer da realidade arquitectónica portuguesa mas também pela relação que imputou
apresenta um catálogo muito bem documentado sobre os casos paradigmáticos da habitação com os casos de referência internacionais.
colectiva moderna portuguesa. No entanto, peca por a falta de relação entre os diferentes casos
de estudos e por a inexistência da escala tipológica da habitação.

2_Brasil
O livro “Origens da habitação social no Brasil, Arquitectura moderna, Lei do Inquilinato,
Difusão da Casa Própria” de Nabil Bonduki, realiza um amplio estudo sobre a habitação
moderna brasileira, o que constitui um documento fundamental para encontrar as proximidades
arquitectónicas entre Brasil e Portugal.

L’architecture d’aujourd’hui, n12/13 y n.42/4: números dedicados exclusivamente à arquitectura


brasileira, essenciais para a contextualização da época.

“Os Espaços do Habitar Moderno: Evolução e Significado. O caso português e brasileiro”_


FAUTL_2003 Tese Mestrado de Tânia Ramos, é um importante trabalho a nível da proximidade
entre Portugal e Brasil através dos casos de habitação colectiva. No entanto, incide principalmente
no aspecto sociológico, a nível da satisfação dos habitantes, e afasta-se do facto arquitectónico
propriamente dito.
_Bibliografia fundamental que define o ponto de vista

1_ “HABITAÇÃO SOCIAL -PROPOSTA PARA A METODOLOGIA DA SUA ARQUITECTURA”_ O III CIAM realizou-se em Bruxelas debaixo do lema “División racional del suelo”, onde entre
Nuno Portas, 1ªed., Porto, FAUP Publicações, 2005 outros, Gropius publica “¿Construcción baja, media o alta?” ou também de referência “la
vivienda mínima” de Alexander Klein.
“DESENHO E APROPRIAÇÃO DO ESPAÇO DA HABITAÇÃO”_In Arquitectura, n.103 (Mai/ Um trabalho a realizar posteriormente, será a revelação dos trabalhos realizados pelos
Jun1968), p.124-129 arquitectos portugueses nos famosos congressos CIAM.
De uma forma análoga, estes suportes resultam válidos como mecanismo de analise aplicável
“POLITICA DA HABITAÇÃO – HABITAÇÃO EVOLUTIVA”_In Arquitectura, n.126 (Out/1972), à comparação dos diferentes projectos a estudar, gerando um a questão de ordem um pouco
p.100-122 mais amplia sobre a modernidade da Habitação.

Compilações várias de textos fundamentais do arquitecto NUNO PORTAS sobre a temática da


arquitectura da habitação.
A estrutura do primeiro livro citado baseia-se em trabalhos realizados por o autor na pesquisa e
investigação de metodologias sobre a análise e projecto arquitectónico em torno da habitação 3_ LAS FORMAS DE LA RESIDENCIA EN LA CIUDAD MODERNA, Carlos Martí Aris, Edicions
social. Apresentam um entendimento claro da “cidade como arquitectura” e da importância de UPC, 2000
teorizar e estudar a habitação.
Nos outros dois textos, Nuno Portas juntamente com Francisco Silva Dias, proporcionam uma Carlos Martí Aris, apresenta nesta publicação uma reflexão geral sobre o papel da residência
visão sobre a arquitectura da habitação: a casa. Abrem o campo da sociologia e da crítica na formação da cidade moderna. Define términos e classificações dos grandes modelos
espacial, onde “a metodologia substitui o vocabulário”. Definem estratégias e sistema de residenciais da cultura moderna: a cidade-jardim, cidade concentrada, modelos intermédios.
análise de modo a encontrar soluções a nível da tipologia arquitectónica e do desenho urbano Resulta importante para a pesquisa com vista ao reconhecimento da possibilidade de relação
124 do bairro. A procura do desenho da casa ideal, inserida num bairro urbano de qualidade para dos modelos definidos e os casos de análise, à parte da procura da sua relação com os casos 125
a sociedade. E para a cidade. paradigmáticos da produção não só europeia como também a aproximação aos outros
Alguns de estes sistemas serão utilizados nesta investigação com o intento de realizar uma continentes envolvidos.
comparação coerente e fundamentada entre os vários casos de estudo. Pretende-se portanto através deste escrito, levar a cabo relações mutuas de reconhecimento dos
vínculos do crescimento da cidade moderna e as tradições urbanas, especificas e singulares que
se hão ocorrido em cada cidade.

2_ LA VIVIENDA RACIONAL, PONENCIAS DE LOS CONGRESOS CIAM 1929-1930,


Colección Critica y Arquitectura, Dirigida por Ignacio Solá-Morales y Rubió, GG

O livro, à parte de construir um resumo crítico e consciente ao Movimento Moderno, apresenta 4_TEORÍA Y PRÁCTICA DEL PROYECTO, Helio Piñón, edicions UPC, ETSAB 2006
a tradução castelhana dos textos originais dos documentos das actas II e III dos Congressos
dos CIAM, onde se assistiu ao debate sobre a habitação colectiva, particularmente na procura Helio Piñón esboza uma teoria sobre a modernidade através da teorização bem sustentada
da habitação mínima. Quer o suporte teórico como o suporte gráfico de estes congressos são sobre o projecto arquitectónico, que além disso “no se puede abordar la primera sin entrar
também elementos base da presente investigação, tanto por a sua aproximação aos diferentes necesariamente en la segunda”. Na teoria de projecto está implícita uma relação directa entre
objectos de estudo como por a potencialidade para um outro sistema de comparação para a a concepção e a obra, sendo precisamente este o aspecto a salientar para a comparação de
análise. arquitecturas, que fundamenta o processo da metodologia da investigação.
Pretende-se, com base em considerações suas, “explicar aquellos aspectos de la arquitectura
Nas actas do II CIAM, realizado em 1929 em Frankfurt encontram-se expressos os textos “La que no tienen explicación desde el sentido común”, para tentar dar resposta ao conjunto de
Vivienda para el mínimo nivel de vida”, de Ernest May, ”Los fundamentos sociológicos de la interrogações sobre o projecto, considerando o programa, as especificidades estruturais e
vivienda mínima (para la población obrera de la ciudad)” de Walter Gropius e “Análisis de compositivas dos diversos casos de estudo.
los elementos fundamentales en el problema de la “vivienda mínima” de Le Corbusier y Pierre
Jeanneret. Todos eles são documentos de rederencia mundial para o contexto da habitação
moderna.
_Relação do autor com o tema

O vínculo da autora no campo da habitação colectiva iniciou-se com a realização do Mestrado 4- “Cuando la vivienda colectiva era moderna, a través de la experiencia luso-brasileña”.
da la Fundación UPC “La vivienda del siglo XXI” en el curso 2003-2004 (ESTAB-UPC). Conferência realizada no “Seminario de Expertos en América Latina y Cataluña para debatir
Prosseguiu a investigação em torno da mesma temática com a realização do Mestrado oficial la Conservación y futuro de la Vivienda Social Moderna” em Abril del 2008 na Casa América
“Teoría y Práctica del Proyecto de Arquitectura” en la Línea de investigación “La Forma Moderna” de Cataluña.
do Departamento de Proyectos Arquitectónicos (ESTAB-UPC), no qual desenvolveu o tema da Programa ARCS em colaboração com a Casa América de Cataluña, Grupo “La Forma Moderna
habitação colectiva portuguesa através do estudo de um bairro paradigmático no contexto “ ETSAB-UPC e la Universidad de Arquitectura de La Salle.
português: o bairro de Alvalade em Lisboa.

O projecto de investigação levado a cabo surgiu da oportunidade de realizar uma conferencia 5- Publicação da conferência “Cuando la vivienda colectiva era moderna, a través de la
no Seminário de “Expertos de América Latina y Cataluña para debatir la conservación y el experiencia luso-brasileña”. Junto ao resto de conferências levadas a cabo dentro do Seminário
futuro de la vivienda social moderna”, e assim ampliar o estudo à experiencia luso-brasileira no de “Expertos en América Latina y Cataluña para debatir la Conservación y futuro de la Vivienda
âmbito da habitação urbana moderna. Social Moderna”. (Pendente de realização).
O processo da investigação foi redactado no artículo sobre a mesma temática a pedido da
Revista M da Universidad Santo Tomás, de Colômbia.
6- -Artículo “Cuando la Vivienda Portuguesa era moderna través de la dualidad de las escuelas
de Lisboa y Oporto”. Revista M da Universidad Santo Tomás, Colombia. (breve publicação).

1- “El espacio habitable de la Vivienda: análisis formal entre espacio (colectivo/privado) y


ocupación”.
126 Tese de Mestrado apresentada em Octubro de 2004 no Mestrado da Fundación UPC 127
“Laboratorio de la Vivienda del siglo XXI”, ESTAB-UPC. Directores Master: José María Montaner
y Zaida Muxi.

2- Colaboração durante o curso 2006/2007 no Grupo de Investigação “La Forma Moderna”


da ESTAB-UPC, no Projecto do AECI “Intercampus” entre la UNL de Santa Fe, Argentina y la
ETSAB-UPC de Cataluña, e cujos resultados culminaram com a publicação: “Vivienda Social y
Arquitectura Moderna: Argentina y Cataluña. 1930-1970”. (En edición). Directores do Grupo
de Investigação: Helio Piñón y Teresa Rovira.

3- “Cuando Lisboa era moderna, a través de la vivienda colectiva del barrio de Alvalade entre
1947-1967”
Tese Final de Mestrado apresentada en Octubre de 2007 en el Master Oficial “Teoría y Práctica
del Proyecto de Arquitectura” na linha de investigação “La Forma Moderna” dentro do programa
de pós graduação do Departamento de Proyectos Arquitectónicos de la ESTAB-UPC.
Tutora Tese: Teresa Rovira.

A tese pode-se ser consultada através do Portal de acesso aberto ao conhecimento da UPC,
com a seguinte direcção:
http://upcommons.upc.edu/handle/123456789/120541

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