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1 INTRODUÇÃO
1
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Constituição dirigente e vinculação do legislador: contributo para a compreensão das
normas constitucionais programáticas. Reimpressão, Coimbra: Coimbra Editora, 1994, p. 11.
2
Ibid., p. 14.
3
CANOTILHO. Direito Constitucional. 6. ed. Coimbra: Livraria Almedina, 1993. p. 184.
fundamento é a Constituição que pretende decidir vinculativamente sobre as
4
tarefas de todos os órgãos e titulares dos poderes públicos .
Como diria o poeta, o tempo não pára, e as realidades também não param
de mudar.
Esta transformação das coisas operada na linha do tempo é patente até
mesmo em curiosa passagem de um trabalho escrito pelo então Professor Eros
Grau. O atualmente Ministro do Supremo Tribunal Federal, em 2002 escreveu um
artigo quando foi participante do já citado encontro e que deu origem a um livro
intitulado Canotilho e a Constituição Dirigente, organizada pelo Professor Jacinto
6
Nelson de Miranda Coutinho, e publicada pela Editora Renovar . Segue a passagem
do artigo escrito pelo Professor Grau:
[...] Quem provocou este nosso encontro foi o Advogado Geral da
União, que saiu por aí afirmando que o Canotilho diz que a
Constituição dirigente morreu, a sustentar, nas entrelinhas – ele, o
Advogado Geral- que a Constituição agora carece de força
normativa[...].
4
Idem. Rever ou romper com a constituição dirigente? Defesa de um constitucionalismo moralmente reflexivo. São Paulo, Revista
dos Tribunais, Cadernos de Direito Constitucional e Ciência Política, ano 4, n. 15, abril/junho 1996.
5
Idem. Constituição Dirigente, p. 169-170.
6
COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda (org.). Canotilho e a constituição dirigente. 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2005, p
99-100.
O texto foi escrito em início de 2002, hoje em 2008, Eros Roberto Grau e
Gilmar Ferreira Mendes são Ministros do Supremo Tribunal Federal.
O tempo não pára. O contexto e o Direito também não. Canotilho tem
consciência do tempo, do contexto e do Direito, e parece não querer como o
filósofo Tales de Mileto andar inadvertido a mirar estrelas, e ao descuidar da
realidade que o cerca, ao não olhar para o chão, cair em um buraco. Por este
motivo escreveu o Prefácio ao clássico Constituição Dirigente e Vinculação ao
Legislador.
4 O CONTEXTO
7
HÄBERLE, Peter. Hermenêutica constitucional: a sociedade aberta dos intérpretes da constituição: contribuição para a
interpretação pluralista e “procedimental” da constituição, Tradução Gilmar Ferreira Mendes, Reimpressão, Porto Alegre: Sérgio
Antonio Fabris Editor, 2002.
8
FIORAVANTI, Maurizio. Los derechos fundamentales: apuntes de historia de las consticuciones. 5. ed. Madrid: Editorial
Trotta, 2007. p.21.
Os dirigentes do movimento de 25 de abril (os "Capitães de Abril"),
assumiram como prioridades: o fim da polícia política, o restabelecimento da
liberdade de expressão e pensamento, o reconhecimento dos partidos políticos
existentes ou a criar, e iniciaram a negociação com os movimentos de
independência das colônias.
Passado justamente um ano sobre a revolução, no dia 25 de Abril de 1975
realizaram-se as primeiras eleições democráticas, cujo objetivo era formar uma
Assembléia Constituinte que elaborasse uma constituição para o país. Essa
Constituição seria promulgada no dia 2 de Abril de 1976 e é a Constituição que rege
Portugal até hoje, apesar de ter sido revista em várias ocasiões.9
9
Disponível em: <http://pt.wikipedia.org>. Acesso em: 03 jun. 2008.
10
Disponível em: <http://siteresources.worldbank.org/DATASTATISTICS/Resources/GNI.pdf> Acesso em: 03 jun. 2008.
11
Disponível em: <http:///www.oecd.org>. Acesso em 03 jun. 2008.
12
Disponível em: <http://pt.wikipedia.org>. Acesso em 03 jun. 2008.
13
TENGARRINHA, José. (org.). História de Portugal. 2. ed. São Paulo: Fundação Editora da Unesp, 2001.
suas idéias acerca do prefácio da Constituição Dirigente. Seguem então as
14
considerações do Professor Canotilho nela expostas:
Em síntese, a minha resposta é esta: posso estar aberto a outros
modos de concretização e de legalização do dirigismo constitucional,
mas não estou aberto, de forma alguma, à liquidação destas
dimensões existenciais que estão subjacentes à directividade
constitucional. Concordo que devemos ver o que, histórica e
culturalmente, originou este carácter dirigente. Penso que o desafio
da Constituição dirigente não é o de torná-la rígida, devendo
admitir-se que ela pode ser modulada de outra maneira, de acordo
com as evoluções e as inovações. Mas os princípios básicos que
estou a comentar não se discutem, porque eles são inerentes à
nossa própria mundividência subjectiva ( a idéia de realização
histórica da pessoa humana).
De pronto já é possível notar que aquela idéia que foi espalhada aos quatro
ventos da morte e enterro a sete palmos de terra da Constituição dirigente,
segundo o próprio criador da teoria, de fato não ocorreu. Ao contrário, a teoria
15
continua a existir enquanto for útil, enquanto for historicamente necessária , e ela
ainda deve se fazer presente, com alguns temperamentos evolutivos.
Em decorrência deste racionalismo mutante do Professor Canotilho e ainda
não bem compreendido, chegou-se a cogitar de um “Canotilho II”, segundo a
citação de Salo de Carvalho, do Programa de Pós-Graduação em Direito da
16
Unisinos :
[...] Lenio Streck, com sua irreverência peculiar, forjou o termo
Canotilho II, como forma de contrapor os posicionamentos do
mestre de Coimbra: o original, do Prefácio à edição do Constituição
Dirigente e Vinculação do Legislador, e o presente no nosso objeto
de debate (Prefácio à 2ª edição). [...]
Após a teleconferência com Canotilho ficou bem visível que não há um
“Canotilho II”, não há um alfa ou ômega (existência de um ou o outro), mas um
Canotilho diferente da realidade de vinte anos atrás. Não houve uma ruptura com o
passado, apenas uma necessária atualização aos novos tempos. Não existe, pois,
um “Canotilho II”, existe um Canotilho senhor de seu tempo (dentro de sua própria
“mundividência subjectiva”).
O posicionamento acima é corroborado pelos demais participantes do
17
encontro, como é o caso do Professor da UFPR, Luiz Edson Fachin :
De certa maneira, ao escrever o novo prefácio à obra em discussão,
percebeu-se, com clareza, que o Professor Canotilho não estava
exatamente desdizendo o que disse, mas estava, de algum modo,
colocando em questão as suas próprias idéias para avançar, e não
necessariamente, abandoná-las.
Antonio José Avelãs Nunes, também português, Professor da Universidade de
Coimbra, resume a conclusão dos trabalhos:
Havia aqui alguma preocupação resultante do receio de perder um
aliado tão forte e tão prestigiado como tu nesta luta que os nossos
Colegas vêm travando em terras brasileiras. Fui dizendo que não
me parecia que este aliado estivesse perdido e penso que, como eu,
eles também estão muito satisfeitos por terem concluído que,
naquilo que é essencial, continuas junto deles.
14
CANOTILHO. Canotilho e a Constituição, p. 41.
15
Ibid., p. 39.
16
Ibid., p. 70.
17
Ibid., p. 59.
Outro que segue a linha dos juristas já citados é o Professor Fernando Facury
Scaff, da UFPA, segundo ele:
Na realidade nós estamos vivenciando uma situação de contrafração
de idéias. O que dizem que o Canotilho disse – a história do
Canotilho 1, do Canotilho 2, do 3 -, não existe. Entendo que ele
apenas retirou da sua dimensão de Constituição Dirigente o aspecto
revolucionário. Acho que este é o grande ponto.
18
Vencido pelos esclarecimentos do Professor Canotilho, Lenio Streck conclui:
Tenho que, ao final, confessar – e por isto corro o risco de ser
chamado de jurássico – que continuo acreditando no papel dirigente
da Constituição, naquele sentido como disse o Fachin, o sentido
original.”, e nas palavras do mestre coimbrano19: “Então eu digo
que a constituição dirigente não morreu.
A Constituição dirigente não morreu em Portugal porque mesmo os Tratados
da União Européia têm caráter dirigente, bem como também não morreu no Brasil,
pois aqui como alhures a teoria ainda se faz necessária (ponto que será analisado
logo após o estudo do contexto histórico brasileiro que norteou a Constituição de
1988).
6 O CONTEXTO BRASILEIRO
18
CANOTILHO. Canotilho e a Constituição, p. 85.
19
Ibid., p. 31.
20
Disponível e: <http://pt.wikipedia.org. Acesso em: 03 jun. 2008.
nova Constituição, defensora dos valores democráticos, e em 5 de outubro de 1988
foi promulgada a nova Constituição.21
21
BUENO, Eduardo. Brasil: uma história. 2. ed. Revista, São Paulo: Ática, 2003.
22
FERREIRA, Francisco Marcelo da Rocha; Gisele Costa Norris; Lavinia Barros de Castro. A renda foi um fator de
desenvolvimento em 2006. Rio de Janeiro, Revista Visão do Desenvolvimento BNDES, n. 42 6 dez 2007. Disponível em
<http://www.bndes.gov.br/conhecimento/visao/visao_42.pdf>. Acessi em 05 jun. 2008.
23
Population Division of the Department of Economic and Social Affairs of the United Nations Secretariat, World Population
Prospects: The 2006 Revision and World Urbanization Prospects: The 2005 Revision. Disponível em: <http://esa.un.org/unpp>.
Acesso em: 06 jun. 2008.
24
CANOTILHO. Canotilho e a Constituição p. 14.
25
Ibid., p.23.
acompanhamento de uma política de formação profissional e de
uma política de emprego.
8 CONCLUSÃO
26
CANOTILHO. Canotilho e a Constituição p. 37.
27
Ibid., p. 35.