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Universidade de Brasília – UnB

Faculdade de Tecnologia – FT
Departamento de Engenharia Elétrica – ENE

RELATÓRIO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO II


(PROJETO FINAL DE ENGENHARIA ELÉTRICA)

MINIMIZAÇÃO DE RISCOS DE CHOQUE ELÉTRICO


E DANOS A EQUIPAMENTOS POR MEIO DE
ATERRAMENTO ADEQUADO

Carlos Alberto Freire Maia Júnior - 98/59225


Noemi Souza Alves da Silva – 01/98480

Brasília-DF, julho de 2004.


Universidade de Brasília – UnB
Faculdade de Tecnologia – FT
Departamento de Engenharia Elétrica – ENE

RELATÓRIO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO II


(PROJETO FINAL DE ENGENHARIA ELÉTRICA)

MINIMIZAÇÃO DE RISCOS DE CHOQUE ELÉTRICO


E DANOS A EQUIPAMENTOS POR MEIO DE
ATERRAMENTO ADEQUADO

Por:
Carlos Alberto Freire Maia Júnior
Noemi Souza Alves da Silva

ORIENTADOR
Prof. Alcides Leandro da Silva

Brasília-DF, Julho de 2004.

ii
Universidade de Brasília – UnB
Faculdade de Tecnologia – FT
Departamento de Engenharia Elétrica – ENE

MINIMIZAÇÃO DE RISCOS DE CHOQUE ELÉTRICO E DANOS A


EQUIPAMENTOS POR MEIO DE ATERRAMENTO ADEQUADO

Por:
Carlos Alberto Freire Maia Júnior
Noemi Souza Alves da Silva

Banca Examinadora:

_____________________________________________________
Prof. Alcides Leandro da Silva, Mestre (UnB)
(orientador)

_____________________________________________________
Prof. Francisco Damasceno Freitas, Doutor (Unb)
(examinador interno)

_____________________________________________________
Eng. Antônio André de Albuquerque Oliveira, ETB
(examinador externo)

Brasília-DF, Julho de 2004.

iii
RESUMO

Um mundo moderno tecnologicamente desenvolvido é inconcebível sem a utilização


disseminada da energia elétrica. Equipamentos diversificados fazem parte do cotidiano das
pessoas e das atividades profissionais, diuturnamente. Dentro do contexto do manuseio diário
da instrumentação e aparelho energizados, este trabalho enfoca a questão da segurança com
atividades envolvendo a eletricidade, delimitando sua atenção no parâmetro choque elétrico
em ambiente de laboratórios da Universidade de Brasília – UnB.
Com o intento de propiciar uma compreensão do tema, conceituações fundamentais
do choque elétrico foram apresentadas. Análises e simulações de falhas elétricas, suscetíveis
de ocorrerem e provocarem, em conseqüência, choques elétricos em alunos, foram
realizadas.
A pesquisa mostrou, também, as configurações de sistemas de aterramentos de redes
elétricas, identificando-se, por similaridade, os esquemas utilizados nos alimentadores dos
laboratórios.
Buscou-se, em toda a extensão desta monografia, evidenciar a importância da
segurança em trabalhos que envolvam a energia elétrica, dada às possibilidades de acidentes
graves provocados pelos choques elétricos. A adequação de aterramento dos equipamentos
elétricos e bancadas de trabalho é evidenciada como meio preventivo a danos a pessoas e ao
patrimônio, como bem preconiza a legislação vigente.

iv
DEDICATÓRIAS

À minha digníssima esposa em especial, por sua compreensão nos momentos de


ausência em que me dediquei aos estudos na UnB ;
Aos meus pais, que mesmo com grau de instrução básico, me incentivaram aos
estudos sem medir esforços;
Aos meus irmãos e familiares, pelo apoio inestimável e a todas as pessoas que
contribuíram de forma direta e indireta para minha formação acadêmica.

Carlos Alberto Freire Maia Júnior

Aos meus filhos, Victor e Domenik, por terem me ajudado com seu amor, carinho e
compreensão;
Ao meu marido, Abmael, por sempre ter acreditado em mim, por me ajudar em
assuntos técnicos que nem ele compreendia e, assim como meus filhos, soube entender meus
momentos de alegria e tristeza e ausências motivadas por assuntos em busca de minha
formação, sem, no entanto deixar de tanto me amar.

Noemi Souza Alves Silva

v
AGRADECIMENTOS

A Deus em primeiro lugar, pois sem o dom da vida jamais poderia realizar este
trabalho;
Ao professor Alcides Leandro, que sempre com sua dedicação e amor ao trabalho
nos orientou;
Aos responsáveis técnicos dos laboratórios da Engenharia Mecânica, Engenharia
Elétrica e da Física pela atenção indispensada às nossas visitas;
E a colega de trabalho Noemi pelo seu interesse e disponibilidade para concluir este
trabalho com zelo e afinco.

Carlos Alberto Freire Maia Júnior

A Deus, autor da minha vida, por permitir que se cumprisse mais esta etapa da minha
vida;
Aos meus pais, irmãos, filhos e marido por acreditarem no meu potencial;
Ao meu companheiro de projeto Carlos Freire;
Ao professor Alcides Leandro, que durante este período mostrou-se mais que um
orientador, mostrou-se um grande amigo.

Noemi Souza Alves Silva

vi
SUMÁRIO

1. Introdução ...........................................................................................................................1

2. Fundamentação Teórica ......................................................................................................3

2.1. Origem Histórica ....................................... .................................................................3

2.2. Estudo do Choque Elétrico ..........................................................................................4

2.2.1. Natureza do Choque Elétrico ...........................................................................5

2.2.1.1.Choque Produzido por Contato com um Circuito Energizado................5

2.2.1.2. Choque Produzido pelo Contato com um Corpo Eletrizado...................6

2.2.1.3. Choque Produzido por Descarga Atmosférica .......................................6

2.2.2. Macro choque.....................................................................................................6

2.2.3. Micro choque.....................................................................................................6

2.3. Efeitos da Corrente Elétrica no Corpo Humano...................................................6

2.3.1. Tetanização..............................................................................................10

2.3.2. Parada Respiratória .................................................................................11

2.3.3. Queimadura .............................................................................................12

2.3.4. Fibrilação Ventricular .............................................................................12

2.4. Influência da Freqüência no Choque Elétrico ....................................................16

2.5. Impedância do Corpo Humano ..........................................................................18

2.5.1.Modelos humanos para impedâncias e choque..........................................19

2.5.1.1.Resistência elétrica do corpo humano............................................19

2.5.1.2.Pele humana...................................................................................23

2.5.1.3.Classificação da pele humana........................................................25

vii
2.5.1.4.Resistência do corpo humano de acordo com a classificação da

pele.................................................................................................27

2.5.1.5.Curvas de segurança da tensão do choque com a classificação da

pele.................................................................................................28

2.6. Tensão de toque e tensão de passo.....................................................................30

2.6.1. Tensão de toque......................................................................................31

2.6.2. Tensão de passo......... ............................................................................32

3.0. Proteção para Garantir a Segurança Contra Choque Elétrico...........................................35

3.1. Proteção Contra Contatos Diretos............................................................................35

3.1.1. Proteção Passiva..............................................................................................36

3.1.1.1. Proteção por Isolação das Partes Vivas .............................................36

3.1.1.2. Proteção por meio de Barreiras ou Invólucros ...................................36

3.1.1.3. Proteção Parcial por meio de Obstáculos ...........................................36

3.1.1.4. Proteção Parcial por Colocação fora do Alcance ...............................36

3.1.2. Proteção Ativa.................................................................................................37

3.1.2.1. Proteção Complementar por Dispositivo “DR” dlta Sensibilidade....37

3.2. Proteção Contra Contatos Indiretos.........................................................................37

3.2.1. Proteção Passiva..............................................................................................37

3.2.1.1. Proteção pelo Emprego de Equipamentos delasse II..........................38

3.2.1.2. Proteção em Locais não Condutores ..................................................38

3.2.1.3. Proteção por Ligação Equipotenciais Locais não Aterradas...............39

3.2.1.4.Proteção por Separação Elétrica..........................................................39

3.2.2. Proteção Ativa.................................................................................................39

3.2.2.1. Proteção por seccionamento Automático da Alimentação...............39

3.3. Proteção Contra Contatos diretos e indiretos...........................................................40

viii
3.4. Aterramento.............................................................................................................46

3.4.1. Fundamentos................................................................................................46

3.4.1.1.Tipos de Aterramento ......................................................................47

3.4.1.1.1. Aterramento Funcional ....................................................47

3.4.1.1.2. Aterramento de Proteção...................................................47

3.4.1.1.3.Aterramento de Trabalho...................................................48

3.4.1.2. Eletrodo de Aterramento......................................................48

3.4.1.3.Condutor de Proteção............................................................51

3.4.2. Esquemas de Aterramento do Neutro..........................................................51

3.4.2.1. Esquema TN.....................................................................................52

3.4.2.2. Esquema TT.....................................................................................56

3.4.2.3. Esquema IT......................................................................................58

4.0. Primeiros Socorros............................................................................................................61

4.1. Método de Respiração Artificial para Reanimação de Vitimas de Choque Elétrico.61

4.4.1. Procedimentos Gerais........................................................................................62

4.1.2. Método de Respiração Artificial Boca-a-Boca .................................................64

4.2. Parada Cardíaca .........................................................................................................64

5.0. Levantamentos dos Laboratórios com Grandes Equipamentos e Seus Sistemas de

Aterramento.......................................................................................................................66

5.1. Oficina de Engenharia Mecânica..........................................................................66

5.2. Laboratório de Plasma..........................................................................................74

6.0. Simulação de uma Falha para a Terra e Comportamento do Sistema de Proteção Contra

Choque Elétrico.................................................................................................................76

6.1.Falha para a Terra de uma Fase da Alimentação...................................................76

6.2.Cálculo da Área da Pele em Contato com a Massa...............................................84

ix
6.3.Análise do Comportamento de Proteção dos Equipamentos pela Falha ou

Rompimento dos Condutores Neutro e Terra.......................................................85

7.0. Conclusão..........................................................................................................................87

8.0. Referências Bibliográficas................................................................................................90

x
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 : Zonas de efeito de corrente alternada (de 50 e 60 Hz) sobre adultos......................08


Figura 2 : Zonas de efeito de corrente alternada (de 15 a 100 Hz) entre mão e pé sobre as
pessoas.....................................................................................................................................09
Figura 3 : Eletrocardiograma que mostra a fibrilação ventricular e a pressão arterial...........13
Figura 4 : Ciclo cardíaco com indicação do período vulnerável dos ventrículos...................14
Figura 5: Modelo Equivalente de Impedância do corpo ........................................................20
Figura 6: Resistência interna do corpo humano para diferentes percursos.............................21
Figura7: Pele humana.............................................................................................................24
Figura 8 : Tensão de toque......................................................................................................31
Figura 9 : Tensão de passo......................................................................................................33
Figura 10 : Pessoa tocando o solo...........................................................................................34
Figura11: Variação das tensões geradas no solo pela passagem da corrente em um eletrodo
de aterramento.........................................................................................................................48
Figura12: Eletrodo constituído por apenas uma haste cravada no solo..................................49
Figura13: Eficiência máxima..................................................................................................50
Figura14: Eficiência reduzida.................................................................................................50
Figura15: Modelo elétrico do esquema TN-S.........................................................................53
Figura16: Modelo elétrico do esquema TN-C........................................................................54
Figura17: Modelo elétrico do esquema TN-C-S....................................................................54
Figura18: Caminho da falta no esquema TN-S
.......................................................................55
Figura19: Modelo elétrico do esquema TT.............................................................................57
Figura 20: Caminho da falta no esquema TT..........................................................................58
Figura 21: Modelo elétrico do esquema IT.................. ..........................................................59
Figura 22:Caminho da falta no esquema IT............................................................................60
Figura 23 : Método da respiração artificial boca-a-boca........................................................64
Figura 24 : Massagem cardíaca...............................................................................................65
Figura 25: Tomada Três Pólos................................................................................................66
Figura 26: Foto da alimentação da prensa hidráulica.............................................................67

xi
Figura 27: Plugues (3P + T) e (3P + T + N)...........................................................................68
Figura 28: Foto do quadro geral da oficina da Engenharia Mecânica.....................................70
Figura 29: Percurso da corrente de falta fase-massa num esquema TN..................................71
Figura 30: Foto do aterramento do gerador de plasma...........................................................74
Figura 31: Falta fase-massa....................................................................................................76
Figura 32: Teste de continuidade do condutor de aterramento...............................................78
Figura 33: Medição da resistência entre o terra-fase, terra-neutro e terra-massa...................78
Figura 34: Equipamento sem condutor terra..........................................................................79
Figura 35: Equipamento com condutor terra.........................................................................79
Figura 36: Foto de uma falta fasse-massa na bancada de experimentos.............................80
Figura 37: Foto de um condutor verde em contato com bancada de experimentos............81
Figura 38: Foto da simulação com uma Dispositivo diferencial-Residual (DR)..................83

xii
LISTA DE TABELAS

Tabela 01 : Valores do fator de corrente do coração (F) para diferentes trajetos da


corrente....................................................................................................................................10
Tabela 02 : Efeitos do choque elétrico em pessoas adultas, jovens e sadias...........................15
Tabela 03 : Relação entre freqüência e limiar de sensação.....................................................17
Tabela 4 : Impedância total do corpo humano em função da tensão de contato.....................23
Tabela 5 : Classificação da pele humana.................................................................................26
Tabela 6 : Medidas de resitência do corpo humano sob condições BB´s da pele...................27
Tabela 7 : Classificação dos métodos de proteção contra choques elétricos ..........................41
Tabela 8 : Competência das pessoas........................................................................................42
Tabela 9 : Situações 1,2 e 3.....................................................................................................44
Tabela 10 : Duração máxima da tensão de contato.................................................................44
Tabela 11 : Chances de salvamento em função do tempo.......................................................61
Tabela 12 : Tempo de seccionamento máximo no esquema TN.............................................73

xiii
1.0 – INTRODUÇÃO

A busca de novas tecnologias, na atualidade, tem trazido preocupações quanto ao uso


da energia elétrica. Em troca de conforto e bem estar, a sociedade tem sido exposta a
situações de grande risco, que vão desde a degradação do meio ambiente até aquelas que não
podem ser percebidas diretamente, senão pelos seus efeitos: insere-se aí a corrente elétrica.
A gravidade do choque elétrico envolve o estudo de três grandezas elétricas: tensão,
corrente e impedância. Em baixa tensão predominam os efeitos da corrente já em alta tensão
predominam os efeitos térmicos.
Os riscos de acidentes elétricos são reduzidos quando ações básicas são implementadas,
citando-se: aterramento dos equipamentos elétricos com carcaça metálica. O aterramento tem
a função de assegurar, de maneira eficaz, a fuga de corrente para a terra, propiciando
segurança, proteção e funcionabilidade de uma instalação elétrica.
Diante dessa realidade, esse trabalho objetiva levantar as condições de segurança em
alguns laboratórios, do campus universitário, apresentando soluções práticas para corrigir
algumas falhas. Esse levantamento tem como base normas da ABNT (Associação Brasileira
de Normas Técnicas) que tratam de segurança e prevenção contra choque elétrico, como
NBR 5410 [3], NBR 5419 [26], NBR 6533 [16] e a norma internacional 479 da IEC
(International Electrotechnical Commission) [2].
A pesquisa foi motivada por uma preocupação dos alunos na questão da segurança e
prevenção de acidentes do trabalho em ambientes escolares, notadamente nos laboratórios.
Iniciou-se o trabalho buscando-se conceitos e termos técnicos referentes a choque elétrico na
literatura nacional e internacional e a partir dessa compreensão, verificou-se a aplicação dos
itens buscados nas instalações dos laboratórios.
Hesitou-se, por momento, como pesquisar os laboratórios de todo o campus, tarefa
quase impossível, para o escopo que se delineava traçar.
O trabalho então foi desenvolvido em capítulos assim arquitetados:
1. Conceituação visando facilitar a compreensão do trabalho no todo do seu
desenvolvimento, apresentado no capitulo 2 – de Fundamentação Teórica, onde são

1
explanados a natureza do choque elétrico, suas conseqüências e meios de primeiros
socorros.
2. No capitulo 3, trabalhou-se a questão do aterramento com suas diversas modalidades
de conexão a terra, tanto do neutro quanto das cargas, como forma preconizada para
se prevenir acidentes.
3. O capitulo 4 apresenta dados sobre o corpo humano e suas interações com a corrente
elétrica.
4. Os laboratórios visitados aparecem no capitulo 6. Após visitar a diversos laboratórios
da Faculdade de Tecnologia e do Instituto Central de Ciência –ICC, optou-se por
trabalhar com três grandes deles:
- Laboratório de plasma, pelas características do gerador de plasma;
- Laboratório da Engenharia Mecânica no galpão do SG-9, pela extensão das
diversidades dos equipamentos de porte: soldadores, prensas hidráulicas,
tornos, plainas.
- Laboratório de Instalações Elétricas, pela natureza das montagens nas
bancadas envolvendo experimentos energizados com participação de mais de
cem alunos dos cursos de Engenharia Elétrica, Engenharia Mecânica e
Engenharia Civil.
5. No capitulo 7, simulações serão apresentadas no laboratório de Instalações Elétricas e
medidas preventivas serão apontadas para se evitar ocorrência com envolvimento de
alunos, técnicos e professores.
6. Na conclusão, com base nas analises, são apontadas soluções práticas para serem
implementadas nos laboratórios pesquisados.
Salienta-se, em razão da extensão e seriedade do tema, que as unidades acadêmicas do
campus devem ser comunicadas, sobre as condições dos laboratórios, seguindo-se com
levantamento para adequação e prevenção de acidentes.

2
2.0 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 – Origem Histórica

O aumento substancial das aplicações e da utilização da energia elétrica nas últimas


décadas levou pesquisadores de diversos países a realizarem um minucioso estudo sobre os
perigos que a corrente elétrica pode causar ao passar pelo corpo humano. Reporta-se ao século
XXVIII, na França, as pesquisas iniciais, onde foi montado o primeiro laboratório de ensaios
sobre os choques elétricos e culminaram na Universidade da Califórnia com os ensaios do
Prof. Dalziel. Os resultados obtidos pelo professor Dalziel são basicamente os adotados pelas
normas atuais. Em 1930 iniciaram-se as pesquisas sobre o assunto, com os estudos pioneiros
de H. Freiberger e L.P. Ferris, aos quais se seguiram os de C. E Dalziel, W.B. Kouwenhoven,
W.R. Lee, P. Osypka, H. Antoni entre outros. Com o objetivo de avaliar o grau de
periculosidade da corrente elétrica, esses estudiosos realizaram experiências com animais
(bezerros, porcos, carneiros, cães e gatos), seres humanos e cadáveres.
O documento internacional, considerado orientação básica no que diz respeito à proteção
contra choques elétricos em instalações elétricas, é a publicação n° 479 da IEC (Effects of
current passing through the human body), que consolida os estudos realizados sobre o
assunto. Esse trabalho foi publicado pela primeira vez em 1974, preparado por um grupo
selecionado de estudiosos com base em uma longa pesquisa na literatura e na avaliação das
respostas a um questionário preparado. A norma brasileira NBR 6533, de 1981
(Estabelecimento de segurança aos efeitos da corrente elétrica percorrendo o corpo humano)
se baseou integralmente naquela publicação.
A segunda edição da publicação nº 479 da IEC, na realidade, a primeira parte da segunda
edição, designada como 479-1, foi editada em 1984 e apresentou os resultados de novas
pesquisas que permitiram formar uma idéia melhor da ação da corrente elétrica sobre os
organismos vivos, principalmente sobre o homem.
A segunda parte do documento, a publicação n° 479-2, de 1987, analisa alguns aspectos
não abordados na primeira edição de 1974 e na 479-1 de 1984.
A publicação nº 479-1 (1984) é dividida em três capítulos assim discriminados:

3
1. Impedância elétrica do corpo humano.
2. Efeitos da corrente alternada de freqüências compreendidas entre 15 Hz e 100 Hz.
3. Efeitos da corrente continua.

A publicação nº 479-2 (1987) também é dividida em três capítulos, numerados na seqüência


da 479-1. São eles:

4. Efeitos da corrente alternada com freqüências acima de 100 Hz.


5. Efeitos de correntes com formas de onda especiais.
6. Efeitos de correntes de impulsão única de curta duração.

2.2 – Estudo do Choque Elétrico

O choque elétrico é um estímulo rápido e acidental do sistema nervoso do corpo


humano causado pela passagem de uma corrente elétrica. A passagem da corrente elétrica
ocorre quando o corpo é submetido a uma tensão elétrica suficiente para vencer a sua
impedância. Como resultado da passagem da corrente elétrica pelo corpo humano podemos
ter desde uma sensação de formigamento até sensações dolorosas com contração muscular.
Toda a atividade biológica seja ela glandular, nervosa ou muscular, é originada de
impulsos de corrente elétrica. Se a essa corrente fisiológica for acrescentada uma outra
corrente externa, devido a um contato elétrico, ocorrerão no organismo humano alterações
das funções vitais normais. No caso de intensidade de correntes maiores, além da sensação
de dor pode ocorrer lesão muscular ou até mesmo a paralisação do coração e do sistema
respiratório.
A gravidade do choque elétrico é determinada pela intensidade de corrente que o
provocou e que depende basicamente dos seguintes fatores:

- Diferença de potencial a que foi submetido o corpo;


- Área de contato do corpo;

4
- Pressão de contato;
- Umidade da superfície de contato;
- Duração do contato;
- Tensão de contato;
- Fatores psicológicos.

Esses fatores basicamente definem a intensidade de corrente que irá circular pelo corpo,
corrente essa geralmente expressa em miliamperes.
O percurso e o tempo de duração da passagem da corrente são também muito
importantes nos efeitos que serão produzidos no corpo. As correntes mais perigosas são as
que atravessam o corpo de mão a mão, da mão esquerda para os pés ou da cabeça para os
pés, pois afetam diretamente o coração. Se a superfície de contato do corpo estiver úmida ou
suada e os pés molhados, a intensidade de corrente pode assumir valores muito elevados,
produzindo efeitos gravíssimos.

2.2.1 – Natureza do Choque

Quanto à natureza do choque, pode advir por contato com um circuito energizado, por
meio de um corpo carregado eletricamente ou por uma descarga atmosférica [26].

2.2.1.1- Choque produzido por contato com um circuito energizado

Um circuito é denominado energizado quando existe uma fonte de energia


alimentando-o, como por exemplo, o circuito de uma residência alimentada por geradores
através da rede de distribuição das concessionárias. Neste caso, a duração do choque depende
unicamente do tempo de contato com o circuito energizado. As conseqüências podem ser
pequenas contrações ou até lesões irreparáveis.

5
2.2.1.2 - Choque produzido pelo contato com um corpo carregado eletricamente

Aqui, o choque elétrico poderá ser produzido por eletricidade estática, originada, por
exemplo, por um capacitor carregado. Na maioria das vezes o choque não provoca efeitos
danosos ao corpo, porque a duração depende da descarga do capacitor que normalmente
ocorre em pequenos espaços de tempo.

2.2.1.3 - Choque produzido por descarga atmosférica

O choque também pode ser produzido por ação direta ou indireta de descargas
atmosféricas. Os choques dessa natureza geralmente são instantâneos e fatais por causa das
altas voltagens e corrente (de 60kA a 100kA).

2.2.2 – Macro Choque

Macro choque é definido quando a corrente do choque entra no corpo humano pelo
lado externo. A corrente entra pela pele, invade o corpo e sai novamente pela pele. Ou seja,
ocorpo humano está com toda a sua resistência no trajeto da corrente. Macro choque é o
choque a que está sujeito um indivíduo comum.

2.2.3 – Micro Choque

É o típico choque que ocorre por defeito em equipamento médico-hospitalar. Qualquer


equipamento invasivo, usado para analisar, diagnosticar ou monitorar qualquer órgão humano,
poderá produzir micro choque.

2.3 – Efeitos da Corrente no Corpo Humano

Ao passar pelo corpo humano a corrente elétrica danifica os tecidos e lesa os tecidos
nervosos e cerebrais, provoca coágulos nos vasos sanguíneos e pode paralisar a respiração e
os músculos cardíacos. A corrente elétrica pode matar imediatamente ou pode colocar a
pessoa inconsciente, a corrente faz os músculos se contraírem a 60 ciclos por segundo, que é

6
a freqüência da corrente alternada. A sensibilidade do organismo à passagem de corrente
elétrica inicia em um ponto conhecido como Limiar de Sensação e que ocorre com uma
intensidade de corrente de 1mA para corrente alternada e 5mA para corrente contínua.

Os efeitos da corrente elétrica dependem:

I – Intensidade;
II – Tempo de contato;
III – Percurso;
IV – Impedância do corpo humano

É importante salientar que desde 1974, através da publicação no 479 da IEC, eram
definidas cinco zonas de efeitos para correntes alternadas de 50 ou 60 Hz e leva em
consideração pessoas que pesam 50 kg e um trajeto de corrente entre as extremidades do
corpo (mão/mão ou mão/pé), mostradas na Figura 1[2].
A Zona 1 é aquela em que a corrente elétrica não produz reação alguma no corpo
humano. Situa-se abaixo do chamado limiar de percepção (0,5 mA) e é representada pela reta
a da Figura 1. É importante salientar que esse valor varia de acordo com a pessoa, sendo
menor para mulheres e crianças.
A Zona 2 é aquela em que a corrente não produz nenhum efeito patofisiológico
perigoso. Está entre o limiar de percepção e a curva limite de corrente patofisiologicamente
perigoso (curva b) e é dada pela expressão 2.1 a seguir.

10
I = IL + (2.1)
t

Onde I é o valor eficaz da corrente (mA), IL é o limite de largar (valor eficaz) igual a 10 mA
(em mulheres) e t é o tempo de duração do choque.
Na Zona 3, compreendida entre a curva b e a curva c, não há risco de fibrilação
ventricular, mas a corrente pode provocar outros inconvenientes, tais como: parada cardíaca,
parada respiratória e contrações musculares, geralmente reversíveis.

7
Na Zona 4, a corrente do choque elétrico pode provocar fibrilação ventricular, com
uma probabilidade que vai de 0,5% (curva c) a 50% (curva d).
Na Zona 5, situada após a curva d, há o perigo efetivo da ocorrência de fibrilação
ventricular.

Fonte: IEC479/1974
Figura 1 – Zonas de efeito de corrente alternada (de 50 e 60 Hz) sobre adultos.

No caso de corrente alternada, com freqüência de 15 a 100 Hz, são caracterizadas


quatro zonas, como mostra a Figura 2, para correntes de choque entre mão e pé.
Na Zona 1 não ocorre nenhuma reação. Na Zona 2, não ocorre nenhum efeito
fisiológico perigoso. Na Zona 3, não acontece, em geral, nenhum dano orgânico. Para tempos
longos ocorrem contrações musculares, dificuldade de respiração e perturbações reversíveis
no coração. A Zona 3 é limitada pelas curvas b e c1. Na Zona 4, além dos efeitos da Zona 3, a
probabilidade de fibrilação ventricular aumenta cerca de 5% (curva C2) a 50% (curva C3) e
acima de 50% além da curva C3.

8
Fonte: IEC-479/1974
Figura 2 – Zonas de efeito de corrente alternada (de 15 a 100 Hz) entre mão e pé sobre as pessoas.

A publicação no 479-1 da IEC define o fator de corrente do coração (F) como o fator
que relaciona a equivalência da corrente elétrica no coração para um dado percurso com uma
corrente que passa entre a mão esquerda e o pé. O fator de corrente do coração permite
calcular as correntes IH para percursos diferentes desse, que representam o mesmo perigo de
fibrilação ventricular que o correspondente à corrente de referência IREF, entre a mão esquerda
e o pé. Ou seja,

I REF
IH = (2.2)
F

Uma vez que os valores de F estão na Tabela 1, para trajetos diferentes da corrente elétrica
que passa pelo corpo humano.

9
TABELA 1 - Valores do fator de corrente do coração (F) para diferentes trajetos da corrente

Trajeto da corrente que passa pelo corpo humano F

Da mão esquerda ao pé esquerdo, ao pé direito ou aos dois pés. 1,0

Das duas mãos aos dois pés. 1,0

Da mão esquerda à direita. 0,4

Da direita ao pé esquerdo, ao pé direito ou aos dois pés. 0,8

Das costas à mão direita. 0,3

Das costas à mão esquerda. 0,7

Do peito à mão direita. 1,3

Do peito à mão esquerda. 1,5

Mão esquerda, mão direita ou mãos e nádegas. 0,7


Fonte: IEC 479-1

Os principais efeitos que uma corrente (externa) pode produzir no corpo humano são
fundamentalmente quatro:

- Tetanização;
- Parada respiratória;
- Queimadura;
- Fibrilação ventricular.

2.3.1- Tetanização

É um fenômeno decorrente da contração muscular produzida por impulso elétrico.


Verifica-se que, sob ação de um estímulo devido à aplicação de uma diferença de potencial
elétrico a uma fibra nervosa, o músculo se contrai voltando ao estado de repouso logo em
seguida. Se antes de ele retornar ao estado de repouso um segundo estímulo ocorrer, estes se

10
somam. Seguidamente pode ocorrer um terceiro estímulo antes do músculo voltar ao repouso
e assim sucessivamente, a este fenômeno dá-se o nome de contração tetânica. Quando a
freqüência dos estímulos ultrapassar um certo limite o músculo é levado à contração
completa, permanecendo nessa condição até que cessem os estímulos, após o que lentamente
retorna ao estado de repouso.
O mesmo fenômeno descrito para uma fibra nervosa elementar ocorre, de forma muito
mais complexa, no corpo humano atravessado por uma corrente elétrica. As freqüências
usuais de 50 e 60 Hz são mais que suficientes para produzir uma tetanização completa.
Para valores mais elevados de corrente elétrica não ocorre a tetanização. A excitação
muscular pode ser suficientemente violenta de modo a provocar uma repulsão, podendo até o
indivíduo ser atirado a uma certa distância. A corrente contínua, desde que de intensidade e
duração suficientes, pode também produzir a tetanização; lembrando também que mesmo
para pequenos valores de corrente há um grande risco, isto porque a impedância do corpo
diminui com a duração do contato.

2.3.2 - Parada Respiratória

Correntes superiores ao limite de largar podem provocar parada respiratória, devido a


tetanização do diafragma (músculo que divide o tórax do abdômen e é responsável pelos
movimentos de contração e relaxamento, que promovem o enchimento de ar nos pulmões).
Estas correntes produzem sinais de asfixia no indivíduo, causados pela contração dos
músculos ligados à respiração. Se o indivíduo permanecer exposto a esta corrente perderá a
consciência e poderá morrer sufocado. Neste caso podemos verificar a grande importância da
respiração artificial, da rapidez de sua aplicação e do tempo pelo qual ela é realizada.
Define-se o limite de largar como sendo a máxima corrente que uma pessoa pode
tolerar ao segurar um eletrodo, podendo ainda largá-lo usando os músculos completamente
estimulados pela corrente. Para corrente alternada de 50/60 Hz há uma diferença entre
homens e mulheres; em média são 10 mA para as mulheres e 16 mA para os homens. Em
corrente contínua os valores médios são 51 mA para as mulheres e 76 mA para os homens.

11
2.3.3 - Queimadura

A corrente elétrica ao atravessar o corpo elétrico pode produzir queimadura por efeito
Joule. A situação torna-se mais crítica nos pontos de entrada e saída da corrente, isto porque
a pele tem uma alta resistência elétrica enquanto os tecidos internos são bons
condutores.Também a resistência de contato entre a pele e a superfície sob tensão soma-se à
resistência da pele; e a densidade de corrente é maior nos pontos de entrada e de saída da
corrente, tanto quanto for pequena a área de contato. As queimaduras agravam-se numa
relação direta com a densidade de corrente. Em alta tensão predominam-se os efeitos
térmicos da corrente, isto é, o calor produz a destruição dos tecidos superficiais e profundos
bem como o rompimento de artérias que desencadeiam hemorragia. As queimaduras
provenientes de choques elétricos são mais profundas e de mais difícil cura, podendo levar a
morte por insuficiência renal.
O indivíduo pode também entrar em contato com superfícies aquecidas por corrente
elétrica, cuja temperatura indica um defeito de sobrecarga na instalação. Caso haja formação
de arco elétrico a temperatura pode atingir valores bastante elevados que certamente destruirá
qualquer tecido humano atingido. Em alguns casos pode haver desprendimentos de partículas
incandescentes que irão produzir o mesmo efeito.

2.3.4 - Fibrilação Ventricular

O músculo cardíaco contrai-se ritmicamente de 60 a 90 vezes por minuto, e sustenta,


como se fosse uma bomba, a circulação sanguínea nos vasos. A contração muscular é
produzida por impulsos elétricos. Se a esta atividade elétrica normal sobrepuser uma corrente
elétrica de ordem externa bem maior do que a corrente biológica as fibras do coração
passarão a receber sinais elétricos excessivos e irregulares, as fibras ventriculares ficarão
superestimuladas de maneira caótica e passarão a contrair-se de maneira desordenada, uma
independente da outra, de modo que o coração não pode mais exercer sua função. Todo este
processo é denominado fibrilação ventricular. A figura 3 mostra que no momento em que se

12
inicia a fibrilação a pressão arterial cai a zero, nestas condições não haverá irrigação
sanguínea pelo corpo, a pessoa desmaiará ficando assim em estado de morte aparente.

Fonte:KINDERMANN,2000.P.49;COTRIN,2003.P.98
Figura 3 – Eletrocardiograma que mostra a fibrilação ventricular e a pressão arterial

A fibrilação do coração pode ocorrer se houver passagem de corrente com intensidade


da ordem de 30 a 500 mA, por período superior a um quarto de segundo. Durante a fibrilação
ventricular a circulação do sangue fica comprometida, resultando na falta de oxigenação dos
tecidos do corpo e do cérebro. O coração raramente se recupera por si só da fibrilação
ventricular. No entanto, se aplicarmos uma corrente de curta duração e de intensidade
elevada, a fibrilação pode ser interrompida e o ritmo normal do coração pode ser
restabelecido. O aparelho empregado para esta finalidade é o desfibrilador elétrico. Não
havendo disponibilidade imediata do desfibrilador a massagem cardíaca permitirá que o
sangue circule pelo corpo, dando tempo para que se providencie o aparelho, pois só a
massagem não permitirá que o coração se recupere da fibrilação ventricular.

13
Fonte:KINDERMANN,2000.P.42
Figura 4 –Ciclo cardíaco com indicação do período vulnerável dos ventrículos

A onda T, representada na figura 4, representa o período de repolarização das fibras


musculares do ventrículo do coração.
O período vulnerável corresponde a uma parte relativamente pequena do ciclo cardíaco,
durante a qual as fibras do coração estão em um estado inicial de repolarização. A fibrilaçao
ventricular ocorrerá se elas forem excitadas por uma corrente externa de intensidade
suficiente.O período vulnerável corresponde à primeira parte da onda T e representa cerca de
10 a 20% do ciclo cardíaco.
Muitos pesquisadores têm procurado o valor mínimo de corrente capaz de dar inicio a
fibrilação, em relação ao tempo pelo qual circula pelo corpo humano, porém as experiências
não têm fornecido resultados concordantes, isto devido a alguns fatores tais como:
- Impossibilidade de realizar experiências diretamente em seres humanos e dificuldades de
extrapolar ao corpo humano os resultados obtidos com animais;
- A corrente I0, que realmente é a causadora da fibrilação ventricular, é apenas uma fração
da corrente I que circula pelo corpo humano; como apenas I é mensurável ocorre que a
relação I0/I não é constante, podendo variar de pessoa para pessoa e, numa mesma
pessoa, dependerá do trajeto da corrente;
- Há um curto espaço de tempo no ciclo cardíaco, período vulnerável, no qual o coração é
eletricamente instável; é o instante em que, decrescendo o potencial de ação, a fibra tende

14
a retornar ao estado de repouso; se a corrente atinge o coração nesse intervalo, a
probabilidade de iniciar a fibrilação aumenta consideravelmente;
- Correntes elevadas nem sempre provocam fibrilação, elas podem determinar uma parada
cardíaca, ou produzir alterações orgânicas permanentes no sistema cardíaco.

Tabela 2 – Efeitos do choque elétrico em pessoas adultas, jovens e sadias.


Intensidade Estado após
Perturbações prováveis Salvamento Resultado Final
( mA ) o choque
1 Nenhuma Normal ----- Normal
Sensação cada vez mais
desagradável à medida
1–9 que a intensidade Normal Desnecessário Normal
aumenta. Contrações
musculares.
Sensação dolorosa,
Morte Respiração
9 – 20 contrações violentas, Restabelecimento
aparente artificial
perturbações circulatórias,
Sensação insuportável,
contrações violentas,
asfixia, perturbações Morte Respiração Restabelecimento
20 – 100
circulatórias graves aparente artificial ou morte
inclusive fibrilação
ventricular,
Asfixia imediata, Morte
>100 Muito difícil Morte
fibrilação ventricular. aparente
Morte
Vários Asfixia imediata, Praticamente
aparente ou Morte
Ampéres queimaduras graves, impossível
imediata
Fonte: NISKIER,2000.P.142

Para as freqüências industriais (50 - 60 Hz), desde que a intensidade não exceda o
valor de 9 mA, o choque não produz conseqüências graves, quando a corrente ultrapassa 9
mA, as contrações musculares tornam-se mais violentas e podem chegar a ponto de impedir
que a vítima se liberte do contato com o circuito, se a região torácica for atingida poderão
ocorrer asfixia e morte aparente, caso em que a vítima morre se não for socorrida a tempo.
Correntes maiores que 20 mA são muito perigosas, mesmo quando atuam durante curto

15
espaço de tempo, as correntes da ordem de 100 mA, quando atingem a zona do coração,
produzem fibrilação ventricular em apenas 2 ou 3 segundos, e a morte é praticamente certa.
Correntes de alguns ampéres, além de asfixia pela paralisação do sistema respiratório,
produzem queimaduras extremamente graves, com necrose dos tecidos, nesta faixa de
corrente não é possível o salvamento, a morte é instantânea. A tabela 2 acima resume estas
informações [5].
De um modo geral, pode-se citar outros efeitos, tais como: eletrólise no sangue,
problemas renais, prolapso em órgãos ou músculos, perda da coordenação motora, perda da
sensibilidade, danos à visão e ao cérebro e perturbação no sistema nervoso.

2.4 - Influência da Freqüência no Choque Elétrico

Os danos que uma corrente podem fazer ao atravessar o corpo humano diminuem com
o aumento da freqüência, isto porque as correntes de altas freqüências tendem a passar pela
parte externa do corpo humano, não afetando órgãos vitais e interessando apenas a pele.
Porém há um outro problema que é o efeito térmico relacionado à distribuição não uniforme
de corrente no eletrodo de contato e no próprio corpo.

O gráfico 1 indica o limiar de tetanização e de percepção em função da freqüência,


segundo probabilidade de produção do fenômeno variando de 0,5 a 99,5% (IEC-479/1974).

- Curva 1: mostra o limite convencional das intensidades de corrente elétrica do choque


que não resulta em nenhuma percepção;
- Curva 2: é o inicio da percepção para 50% das pessoas;
- Curva 3: é o inicio da percepção para 99,5% das pessoas;
- Curva 4: é a corrente de largar para 99,5% das pessoas;
- Curva 5: é a corrente de largar para 50% das pessoas;
- Curva 6: é a corrente de não largar para 99,5% das pessoas.

16
Fonte: IEC 479/1974
Gráfico 1 –Corrente elétrica versus freqüência

As curvas mostram que na freqüência de 10 a 100 Hz temos os menores valores de


corrente. Nessas condições, as freqüências de 50 e 60 Hz, de uso comum estão entre as mais
perigosas. A vantagem das altas freqüências em relação à segurança só ocorre em freqüência
da ordem dos MHz.
O Limiar de Sensação da corrente cresce com o aumento da freqüência, ou seja,
correntes com freqüências maiores são menos sentidas pelo organismo, estas correntes de
altas freqüências acima de 100 kHz, cujos efeitos se limitam ao aquecimento são amplamente
utilizadas na medicina como fonte de febre artificial. Nessas condições pode se fazer circular
até 1A sobre o corpo humano sem causar perigo. A tabela 3 lista diversos valores de Limiar
de Sensação em função do aumento da freqüência da corrente elétrica [8].

Tabela 3- Relação entre freqüência e limiar de sensação

Freqüência (Hz) 50-60 500 1.000 5.000 10.000 100.000

Limiar de Sensação (mA) 1 1,5 2 7 14 150

Fonte: www.corpodebombeiro/primeirossocorros

17
2.5 - Impedância do Corpo Humano

Do ponto de vista elétrico, podemos representar o corpo humano por um conjunto de


resistores e capacitores. A impedância do corpo não é constante, varia de pessoa para pessoa,
e em uma mesma pessoa esta variação depende das condições psicofisiológicas e ambientais.
Os principais fatores que contribuem para variação da impedância do corpo humano são:
- Estado da pele. A maior parte da resistência do corpo está localizada na pele, nos pontos
de entrada e saída da corrente. A umidade diminui a resistência da pele; logo o suor piora
mais ainda a situação. Se o contato com a parte sob tensão ocorrer num ponto onde a pele
estiver cortada ou machucada, a resistência cai a valores muito baixos; já se o contato for
num local em que a pele estiver calejada haverá um aumento da resistência, favorecendo
assim a segurança.
- Tipo de contato. A resistência do corpo humano depende do trajeto da corrente, ela é
determinada pelas partes do corpo entre as quais é aplicada a tensão, mão-mão, mão
direita-pé esquerdo etc.
- Superfície de contato. Quanto maior a área de contato com a parte sob tensão, menor será
a resistência do corpo.
- Pressão de contato. Quanto maior a pressão de contato, menor a resistência.
- Duração de contato. Quanto mais prolongado for o tempo de contato, menor se tornará
resistência do corpo. Porém se a quantidade de calor chegar a carbonizar a pele, a
resistência poderá atingir valores elevados.
- Natureza da corrente. Para corrente contínua e corrente alternada nas freqüências de
50/60 Hz, os valores da resistência do corpo humano são praticamente os mesmos. Porém
para freqüências da ordem de MHz, como mencionado anteriormente, a resistência
diminui sensivelmente.
- Taxa de álcool no sangue. Quanto maior a taxa de álcool no sangue, menor é a resistência
elétrica do corpo humano.
- Tensão de contato. Quanto menor a tensão aplicada, menor a resistência elétrica do corpo
humano, ocorrendo maiores variações nos níveis mais baixos de tensão.

18
Considerando todas estas variáveis, é de fundamental importância perceber que a
impedância do corpo humano está intimamente ligada com todo o complexo da atividade
biológica, variando com a excitação, com a concentração mental, com o cansaço físico etc.

2.5.1- Modelos Humanos para Impedâncias e Choque[9]

2.5.1.1- Resistência elétrica do corpo humano

O corpo humano é uma massa eletrolítica, constituída de órgãos presos por músculos
fixados na estrutura óssea, tudo envolto pela pele.
Sendo o corpo humano um condutor, o mesmo estará sujeito à corrente elétrica, desde
que acidentalmente participe do circuito energizado.
A resistência do corpo humano diminui com o aumento da tensão do choque elétrico,
advindo daí, um perigo maior porque a corrente aumenta. Ou seja, a resposta do
comportamento da resistência do corpo humano em relação ao nível da tensão elétrica do
choque é contrária à segurança humana.

No macro-choque, a corrente elétrica passa por três barreiras que se opõem ao choque.
As barreiras são constituídas por impedâncias formadas por:

• Pele humana na entrada e saída da corrente;


• Parte interna do corpo humano.

Atualmente, todos os pesquisadores adotam o modelo de impedância, figura 5,


proposto por Freiberger [22] para choques em AC de 50Hz.

19
Fonte: FREIBERG,1934
Figura 5 - Modelo Equivalente de Impedância do corpo humano

Onde;
Zpele => impedância equivalente da pele humana.
Ztotal => impedância total do corpo humano.
Zinterna => impedância interna do corpo humano.

A impedância da pele do corpo humano será melhor analisada nos itens 2.5.1.2, 2.5.1.3
e 2.5.1.4.
A impedância interna do corpo humano, de acordo com o modelo da figura 5, é
levemente capacitiva. Geralmente o efeito capacitivo do corpo é desprezado e a impedância
interna passa a ser resistiva.
C. F. Dalziel atribui 500 Ω como sendo o máximo valor de resistência do corpo humano
entre as extremidades, isto é, o maior percurso da corrente elétrica do choque.
Após pesquisa, U. Sam [23], determinou a resistência interna do corpo humano para
várias possibilidades de percurso da corrente do choque. Todos os valores da resistência
interna mostrada na figura 6 são valores percentuais da resistência interna entre as duas mãos,
relativos ao percurso (trecho) considerado.
O número entre parênteses representa o valor percentual da resistência interna do corpo
humano, relativo ao percurso da corrente elétrica entre as duas mãos segurando um eletrodo
energizado e o ponto considerado, em relação à resistência entre as duas mãos.
Para um choque entre a cabeça e a mão esquerda, por exemplo, a resistência interna
deste trecho é de 50% da resistência interna entre as entre as duas mãos.
Isto é, para a mesma tensão de contato, a corrente de choque entre cabeça e a mão é o
dobro do choque entre mãos.

20
Fonte: KINDERMANN,2000.P.96
Figura 6 – Resistência interna do corpo humano para diferentes percursos

Já o choque entre as duas mãos e cabeça, a resistência interna é 30% da resistência


interna entre mãos. Neste caso, para a mesma tensão de contato, o choque é 3,33. Vezes
maiores.
A pesquisa mostrou que a resistência interna do corpo humano entre a mão e ambos os
pés são de 75% do valor entre mãos, e ambas as mãos para os dois pés de 50%.
Os valores da figura 6 são relativos à resistência do corpo sem a pele humana, mas
verificou-se que a mesma proporção é, também, válida para a impedância total do corpo.
Já Biegelmeier [24], efetuou medições em seres vivos e em cadáveres. Nos seres
vivos as medições foram feitas com tensão de contato de até 150V e extrapolados até 700V.
Os resultados das medidas estão condensados no gráfico 2.

21
A tensão de contato é definida como a tensão que possa aparecer acidentalmente,
quando de uma falha de isolamento, entre duas partes simultaneamente acessíveis. A tensão
de contato presumida é considerada como sendo o mais alto valor de tensão de contato que
possa manifestar-se no caso de ocorrer uma falha.

Fonte:KINDERMANN,2000.P.98
Gráfico 2 - Impedância total do corpo humano x tensão de contato

A proteção contra choque elétrico tem como critério o limite admissível da tensão de
contato, ou seja, o produto da corrente que passa pelo corpo humano por sua impedância
total, em função do tempo. A tabela 4 apresenta valores da impedância total do corpo
humano em função da tensão de contato[2]. Os valores de impedância nela indicados são
validos para seres vivos, considerando um trajeto mão a mão ou mão a pé, com superfícies de
contato variando de 50 a 100 cm2, condições secas e correntes alternadas. Seus valores
mostram também que para uma tensão de contato de 50V aplicada à impedância total do
corpo humano em 95% dos casos pode atingir até 4.375 Ω, enquanto em 5% dos casos pode
baixar até cerca de 1.450 Ω. Com 220 V a situação é bem mais delicada, uma vez que 95%
dos casos a impedância pode atingir 2.125 Ω, enquanto em 5% dos casos pode reduzir-se a
1.000 Ω.

22
Atualmente, estes valores são aceitos para até 250V. Isto porque a partir desta tensão a
pele é danificada, mudando acentuadamente o perfil da impedância total do corpo humano. A
partir de 700V, o dano destrói completamente a pele.

Tabela 4 – Impedância total do corpo humano em função da tensão de contato

5% 50% 95% Tensão de contato


população população população (V)

1.750 3.250 6.100 25

1.450 2.625 4.375 50

1.250 2.200 3.500 75

1.200 1.875 3.200 100

1.125 1.625 2.875 125

1.000 1.350 2.125 220

750 1.100 1.550 700

700 1.050 1.500 1.000

Fonte: IEC 479-1

A resistência do corpo humano varia acentuadamente com nível de umidade da pele,


assunto este analisado com mais profundidade no item seguinte.

2.5.1.2- Pele humana

A pele humana equivale a 14% do peso do corpo humano e, é composta basicamente


de duas partes designadas de epiderme e derme. Ver figura 7.
A epiderme é a parte externa da pele composta por glândulas e pêlos, com constituição
seca e escamosa. Deste modo, é mal condutora, sendo que sua resistência elétrica varia
principalmente com o estado de umidade no local do contato com o circuito energizado.

23
Figura 7 – Pele Humana

A derme é constituída de vasos e nervos, por isso é úmida e boa condutora. É pela
derme que as correntes de choque de altas freqüências percorrem. Se o choque em alta
freqüência for elevado, toda a derme é queimada e dissolvida, tornando-se um pasta
gelatinosa. A epiderme perde a aderência com o corpo, ficando flácida e caída.
De acordo com o modelo da figura 5, o circuito equivalente da pele é representado por
uma impedância capacitiva. Em termos de equivalente elétrico, a pele tem uma estrutura
composta de camada semicondutora e pequenos elementos condutores (poros).

A impedância da pele depende de:

• Tensão de contato;
• Freqüência elétrica;
• Tempo de choque;
• Área de contato;
• Pressão de contato;
• Temperatura da pele;
• Tipo da pele.

A impedância da pele acompanha o mesmo comportamento indicado no gráfico 2, isto


é, decai com o aumento da tensão de contato, isto é, o perigo aumenta.
Sabe-se que a corrente de choque aumenta com a tensão de contato, aumentando-se em
conseqüência a densidade de corrente na região do toque. Quanto maior a densidade de
corrente maior são os danos na pele. Wagner [25], fez análise do dano na pele devido à
densidade de corrente, cujo resultado está apresentado no gráfico 3.

24
Fonte: KINDERMANN,2000.p.100
Gráfico 3 - Dano na pele humana

Onde:
Zona 1 => nenhum dano na pele;
Zonas 2 => pequenas mudanças na pele, vermelhidão em torno do eletrodo;
Zona 3 => dano acentuado na pele na região do eletrodo com (até)
Formação de bolhas;
Zona 4 =>queimaduras profundas, chegando até a carbonizar a pele.

O gráfico 3 apresenta os danos na pele em função da densidade de corrente no ponto


de contato do choque elétrico.

2.5.1.3- Classificação da pele humana

O macro choque é o choque elétrico de origem externa, a corrente penetra e atravessa a


pele, invade o corpo humano, e sai pela pele em outro local.
A pele humana praticamente limita a corrente e o choque. Portanto, faz-se mister
analisar o choque elétrico sob determinadas condições do estado da pele humana. Em relação

25
ao choque elétrico, a pele humana é classificada [3] pelo seu estado, respectivamente, quanto
ao seu grau de umidade, sendo enquadrada em 4 categorias de acordo com a Tabela 5.

Tabela 5 – Classificação da pele humana

Código Características
Classificação Aplicações e Exemplos
da Pele da Pele

Circunstâncias nas quais a pele


BB1 Elevada condições secas está seca (nenhuma umidade,
inclusive suor).

Passagem da corrente elétrica de


uma mão à outra ou de uma mão a
um pé, com a pele úmida (suor) e
condições
BB2 Normal a superfície de contato sendo
úmidas
significativa (por exemplo, um
condutor está seguro dentro da
mão).

Passagem da corrente elétrica


entre duas mãos e os dois pés,
condições estando as pessoas com os pés
BB3 fraca
molhadas molhados a ponto de se poder
desprezar a resistência da pele dos
pés.

condições Pessoas imersas na água, por


BB4 muito fraca
imersas exemplo, em banheiras ou piscinas.

Fonte: NBR 5410:1997

A condição BB1 é a situação pele humana da pessoa seca.


A condição BB2 é a situação da pele humana da pessoa normal no seu trabalho do dia a
dia. É sob esta condição que ocorrem os choques elétricos cotidianos.
A condição BB3 caracteriza o estado da pele humana, quando se está tornando banho

26
com chuveiro ou ducha.
Já no código BB4 a pele está extremamente macia, úmida e frágil, a resistência elétrica
é baixa. O choque, em conseqüência, é violento.
Para efetuar um projeto seguro da instalação elétrica, consorciada com o seu
aterramento elétrico, deve-se considerar o tipo de atividade sob as 4 classificações da pele, em
termos do risco de fibrilação ventricular.

2.5.1.4- Resistência do Corpo Humano de Acordo com a Classificação da Pele

Sob as condições da pele humana do item anterior, medidas da resistência do corpo


humano foram efetuadas [2], aplicando tensão elétrica alternada senoidal entre as duas mãos
ou entre mão e pés. Os valores medidos estão apresentados na Tabela 6.

Fonte: IEC 479


Tabela 6 – Medidas de resistência do corpo humano sob condições BB´s da pele

Analisando a Tabela 6, observam-se várias características do comportamento do corpo


humano.
Para a mesma tensão elétrica, a resistência diminui com o grau de umidade da pele,
aumentando o risco do choque elétrico.
Para a mesma condição da pele humana, o aumento da tensão elétrica diminui a
resistência elétrica do corpo humano, aumentando, também, o choque elétrico.
Esta tendência do corpo humano contraria a filosofia da segurança. Aqui, no caso,
quanto maior o risco, maior é o perigo, porque a resistência do corpo humano diminui com a
tensão.

27
Para os trabalhadores do setor elétrico em geral, considera-se a situação BB2 da pele
humana. Neste caso, a resistência do corpo tende a saturar no valor de 10000 quando a tensão
do choque chega até o valor de 250 Volts, sob o ponto de vista do risco da fibrilação
ventricular do coração. Por este motivo, a resistência do corpo humano recomendada pela
IEEE-80, referência [17], é de 10000. Valor este usado nos projetos de dimensionamento dos
sistemas de aterramento [12], relativos à segurança humana, porque o choque nestas
condições não danifica a pele.
Não tem sentido estimar a resistência do corpo humano para choque elétrico em alta
tensão. Isto porque a corrente do choque em alta tensão é grande, queima, danifica e derrete a
pele, a morte é causada antes por queimaduras e não por fibrilação ventricular.

2.5.1.5-Curvas de Segurança da Tensão do Choque de Acordo com a Classificação da


Pele

Muitas pesquisas foram feitas no sentido de se obter um equacionamento que


espelhasse a realidade do efeito da corrente com o choque no corpo humano. No entanto,
ainda não se obteve sucesso.
O valor da corrente de choque no tempo produz efeitos no corpo humano que estão
evidenciados no gráfico 4.

Onde:

Zona 2: geralmente nenhum efeito patofisiológico perigoso.


Zona 3: zona que produz algum defeito perigoso (parada respiratória, risco de
fibrilação).
Zona 4: zona perigosa com probabilidade de fibrilação acima de 50%
Curva S: curva de segurança com probabilidade de 0,5% de ocorrência de fibrilação
ventricular
Conjugando a curva de segurança S do gráfico 4 com a tabela 6 pode-se construir
curvas de segurança S de tensão para cada condição da pele humana.
Deste modo, obtém-se o gráfico 5.

28
Fonte: NF C 15-100,1982
Gráfico 4 - Corrente x tempo de choque

Com a utilização da curva de segurança caracterizada pela classificação da pele humana


os sistemas de aterramentos são projetados de acordo com o tipo de utilização do local.
Para a situação do tipo de atividade que deixa a pele na condição BB4, a tensão
máxima de alimentação das instalações ou equipamentos elétricos é de 12V, que é a assíntota
da curva de segurança BB4 no gráfico 5.
As luminárias imersas na água da piscina, por exemplo, devem ter as lâmpadas
alimentadas por um circuito de 12V. Nesta condição, em caso de um choque acidental, não
haverá risco de fibrilação ventricular do coração.
Já no caso da pessoa com a pele na condição BB3, os equipamentos ao seu alcance
devem ter tensão no máximo de 25V para não haver risco de fibrilação ventricular do coração.
A tensão máxima em AC para não haver risco de fibrilação ventricular é de 50V, para
a condição BB2.
Os choques analisados neste item são para contatos acidentais diretos na parte

29
energizada da rede, equipamentos ou circuitos da instalação elétrica.

Fonte: KINDERMANN,2000.P.106
Gráfico 5 - Curva de segurança S de tensão para cada condição da pele humana

2.6 -Tensão de toque e Tensão de passo

A corrente que entra no sistema de aterramento se dispersa no solo, gerando tensões


elétricas. Essas tensões se aplicadas ao ser humano provocam choques elétricos podendo
causar fibrilação ventricular. Neste contexto é fundamental o conceito de tensão de toque e
tensão de passo.

30
2.6.1- Tensão de toque

A tensão de toque é a tensão elétrica existente entre os membros superiores e inferiores


de um indivíduo, devido a uma falha no equipamento, como por exemplo:

- Uma falha na ruptura da cadeia de isoladores de uma torre de transmissão; o cabo


condutor ao tocar na parte metálica da torre produz um curto-circuito do tipo
monofásico a terra. A corrente de curto-circuito passará pela torre, entrará na terra e
percorrerá o solo até atingir a malha da subestação, retornando pelo cabo da Linha de
Transmissão até o local do curto.

Fonte: KINDERMANN,2000.P.16
Figura 8- Tensão de toque

No solo, a corrente de curto-circuito gerará potenciais distintos desde o "pé" da torre até
uma distância remota. Este potencial é representado pela curva da figura 8.
No momento do curto-circuito se uma pessoa tocar a torre, ficará submetida a um
choque proveniente da tensão de toque. Entre a palma da mão e o pé haverá uma diferença de
potencial chamada de tensão de toque. Por Norma, e nos projetos de Sistema de Aterramento,
considera-se que a pessoa está afastada de 1m do equipamento em que está tocando com a
mão. Neste caso, a resistência RI representa a resistência da terra do "pé" da torre até a
distância de 1m. O restante do trecho da terra é representado pela resistência R2.

31
Cada pé em contato com o solo terá uma resistência de contato representado por
Rcontato.
Assim, defini-se tensão de toque conforme expressão 2.3,

RCONTATO
VTOQUE = ( RCORPOHUMANO + ).I TOQUE (2.3)
2

Segundo recomendação da IEEE-80, pode-se considerar que:

RCONTATO = 3ρ S (2.4)

Onde:

ρs => resistividade superficial do solo, isto é, a resistividade da primeira camada da


estratificação do solo.

Substituindo a expressão 2.4 na 2.3 obtêm-se a expressão 2.5

3.ρ S
VTOQUE = (1000 + ).I TOQUE
2

VTOQUE = (1000 + 1,5ρ S ).I TOQUE (2.5)

O aterramento no "pé" da torre só estará adequado se, no instante do curto-circuito


monofásico a terra, a tensão de toque ficar abaixo do limite de tensão para não causar
fibrilação ventricular. A tensão de toque é perigosa porque o coração está no trajeto da
corrente de choque, aumentando o risco da fibrilação ventricular.

2.6.2 Tensão de passo

A tensão de passo é definida como parte da tensão de um sistema de aterramento à qual


pode ser submetida uma pessoa, cujos pés estão separados pela distância equivalente a um
passo.

32
Observe que a tensão de passo diminui à medida que a pessoa se afasta do aterramento.
A tensão de passo será máxima quando um pé estiver junto à haste de terra e o outro, afastado
um metro.

Fonte: KINDERMANN,2000.P.18
Figura 9- Tensão de passo

Observando a figura 9, deduz-se a expressão 2.6,

V PASSO = ( RCORPOHUMANO + 2 RCONTATO ).I TOQUE (2.6)

Substituindo a expressão 2.4 na 2.6 chega-se a expressão 2.7.

V PASSO = (1000 + 2.3ρ S ).I TOQUE

V PASSO = (1000 + 6 ρ S ).I TOQUE (2.7)

O aterramento só estará bom se a pior tensão de passo for menor do que o limite de
tensão de passo para não causar fibrilação ventricular no ser humano.
A tensão de passo é menos perigosa do que a tensão de toque. Isto se deve ao fato do
coração não estar no percurso da corrente, no caso da tensão de passo. Esta corrente vai de pé

33
a pé, mas mesmo assim ela também é perigosa. As veias e artérias vão da planta do pé até o
coração. Sendo o sangue condutor a corrente de choque devido à tensão de passo vai do pé até
o coração e deste ao outro pé. Por este motivo, a tensão de passo é também perigosa e pode
provocar a fibrilação ventricular.
Observe-se que as tensões geradas no solo pelo curto-circuito criam superfícies
equipotenciais. Se a pessoa estiver com os dois pés na mesma superfície de potencial, a tensão
de passo será nula, não havendo choque elétrico.
Um agravante é que a corrente de choque devido à tensão de passo contrai os músculos
da perna e coxa, fazendo a pessoa cair, e, ao tocar no solo com as mãos, a tensão se transforma
em tensão de toque no solo, conforme mostra figura 10. Neste caso, o perigo é maior, porque
o coração está contido no percurso da corrente de choque.

Fonte: KINDERMANN, 2000.P.19


Figura 10 - Pessoa tocando o solo

Geralmente em projetos de instalações elétricas as prescrições práticas de segurança


são especificadas em termos de tensão. Daí a importância de se definir a tensão de contato.

34
3.0 - PROTEÇÃO PARA GARANTIR A SEGURANÇA CONTRA
CHOQUE ELETRICO

Se nas instalações elétricas de qualquer lugar não se adotar medidas de segurança e


proteção adequada serão grandes os riscos de eletropleção. O perigo pode existir tanto para o
eletricista que, acidentalmente, tocar numa barra energizada de uma subestação ou de um
quadro de distribuição, como o operário pode apoiar-se, também acidentalmente, na carcaça
energizada de um motor elétrico, posto sob tensão por uma falta elétrica.
A periculosidade não está em se tocar num elemento energizado, e sim, em se tocar
simultaneamente dois elementos que estejam em potenciais diferentes. A diferença de
potencial é que representa perigo.
A proteção contra choques elétricos depende de uma série de variáveis, entre as quais
destacam-se os tipos de contatos. Os contatos diretos (quando se toca diretamente num
condutor ativo de uma instalação), geralmente, são devidos a desconhecimento, negligência
ou imprudência das pessoas, estes são mais raros. Os contatos indiretos (quando se toca
numa parte da instalação que é condutora temporariamente, normalmente por uma falta
elétrica, mas que está isolada das partes condutoras da instalação) são mais freqüentes e
representam um perigo maior.

Para a proteção contra choques elétricos há três grupos de medidas [1], descritas a
seguir:
- Medidas de proteção contra contatos diretos e indiretos;
- Medidas de proteção contra contatos diretos;
- Medidas de proteção contra contatos indiretos.

35
3.1. - Proteção contra contatos diretos

Os métodos para proteção contra choques elétricos podem ser divididos em dois
grupos[3]. São eles: proteção passiva e proteção ativa.

3.1.1 – Proteção Passiva

A proteção passiva (sem o condutor PE) tem o objetivo de limitar a corrente elétrica
que por uma falta atravessaria o corpo humano ou impedir o acesso de pessoa a partes vivas.
Estas medidas não prevêem a interrupção de circuitos com falta. A proteção passiva pode
ser:

3.1.1.1- Proteção por isolação das partes vivas

A isolação é destinada a impedir todo contato com as partes vivas da instalação e-


létrica. As partes vivas devem ser completamente recobertas por uma isolação que só possa
ser removida através de sua destruição

3.1.1.2 – Proteção por meio de barreiras ou invólucros

As barreiras ou invólucros são destinados a impedir todo contato com as partes vivas
da instalação elétrica.

3.1.1.3 – Proteção parcial por meio de obstáculos

Os obstáculos são destinados a impedir os contatos fortuitos com partes vivas, mas
não os contatos voluntários por uma tentativa deliberada de contorno de obstáculo.

36
3.1.1.4 - Proteção parcial por colocação fora de alcance

A colocação fora de alcance é somente destinada a impedir os contatos fortuitos com


as partes vivas.

3.1.2–Proteção Ativa

A proteção passiva (sem o condutor PE) tem o objetivo de limitar a corrente elétrica
que por uma falta atravessaria o corpo humano ou impedir o acesso de pessoa a partes vivas.
Estas medidas não prevêem a interrupção de circuitos com falta. A proteção passiva pode
ser:

3.1.2.1 – Proteção complementar por dispositivo “DR” de alta sensibilidade

Qualquer que seja o esquema de aterramento devem ser objeto de proteção


complementar contra contato diretos por dispositivos a corrente diferencial-residual
(dispositivo DR) de alta sensibilidade, isto é, com corrente diferencial-residual nominal igual
ou menor a 30 mA.

3.2 – Proteção contra contatos indiretos

A proteção contra contatos indiretos deve assegurar que em qualquer massa ou


elemento condutor que não faça parte da instalação não exista sobretensão. Também se
subdividem em passiva e ativa [3]:

3.2.1 – Proteção Passiva

A proteção passiva (sem o condutor PE) tem o objetivo de limitar a corrente elétrica
que por uma falta atravessaria o corpo humano ou impedir o acesso de pessoa a partes vivas.

37
Estas medidas não prevêem a interrupção de circuitos com falta. A proteção passiva
pode ser:

3.2.1.1 - Proteção pelo emprego de equipamentos da classe II ou por isolação


equivalente

A proteção deve ser garantida pela utilização de qualquer uma das soluções a), b) e c)
expostas a seguir:
a) equipamentos que tenham sido submetidos aos ensaios de tipo e marcados
conforme as normas aplicáveis, a saber:
- equipamentos com isolação dupla ou reforçada (classe II);
- conjuntos pré-fabricados de equipamentos com isolação total;
b) uma isolação suplementar, aplicada (aos equipamentos elétricos que possuem
apenas uma isolação básica) durante a execução da instalação elétrica;
Uma isolação reforçada, aplicada às partes vivas não isoladas e montada durante a
execução da instalação.

3.2.1.2 – Proteção em locais não condutores

São considerados locais não condutores aqueles cujas paredes e pisos apresentam
resistência mínima, em qualquer ponto, de 50kΩ, se a tensão nominal da instalação não for
superior a 500V, ou de 100kΩ, se a tensão nominal da instalação for superior a 500V. É o
caso de locais de com piso de madeira ou com revestimento não removível de material
isolante e paredes de alvenaria.
Nos locais não condutores, a proteção passiva contra contatos indiretos é garantida se
as pessoas não puderem entrar em contato simultaneamente com duas massas ou com uma
massa e um elemento condutor que não faça parte da instalação, caso tais elementos sejam
suscetíveis de encontrarem-se em potenciais diferentes no caso de falta elétrica das partes
vivas.

38
3.2.1.3 – Proteção por ligações equipotenciais locais não aterradas

Todas as massas e elementos condutores simultaneamente acessíveis devem ser


interligados por condutores de equipotencialidade. A ligação equipotencial local não deve ter
qualquer ligação com a terra, seja diretamente, seja por intermédio de massa ou de elementos
condutores. Se o conjunto equipotencial estiver totalmente isolado da terra, não haverá
perigo, pois uma pessoa não poderá tocar simultaneamente em um componente do conjunto e
em outro elemento externo. Se essa condição não puder ser cumprida, deve ser aplicada a
medida de proteção por seccionamento automático da alimentação.

3.2.1.4– Proteção por separação elétrica

A proteção por separação elétrica, prevista na NBR 5410, consiste na alimentação de


um circuito através de uma fonte de separação, que pode ser um transformador de separação
ou uma fonte de corrente que assegure um grau de segurança equivalente ao do
transformador de separação, por exemplo, um grupo motor-gerador com enrolamentos que
forneçam uma separação equivalente.
Esse sistema baseia-se na impossibilidade de fechamento da corrente pela terra no
caso de contato de uma pessoa com uma parte energizada. Tal impossibilidade perdura
enquanto estiver garantido o isolamento para a terra e cessa após a primeira falta para a terra,
o que torna evidente a necessidade de controlar permanentemente o isolamento.

3.2.2- Proteção Ativa

A proteção passiva (sem o condutor PE) tem o objetivo de limitar a corrente elétrica
que por uma falta atravessaria o corpo humano ou impedir o acesso de pessoa a partes vivas.
Estas medidas não prevêem a interrupção de circuitos com falta. A proteção passiva pode
ser:

39
3.2.2.1 – Proteção por seccionamento automático da alimentação

O seccionamento automático da alimentação destina-se a evitar que uma tensão de


contato mantenha-se por um tempo que possa resultar em risco de efeito fisiológico perigoso
para as pessoas. Esta medida de proteção requer a coordenação entre o esquema de
aterramento adotado e as características dos condutores de proteção e dos dispositivos de
proteção.

3.3 – Proteção contra contatos diretos e indiretos

A extrabaixa tensão de segurança, denominada pela NBR 5410 de SELV (do inglês,
Safety Extra-Low Voltage) é considerada pela norma como medida de proteção contra
contatos diretos e contra contatos indiretos, envolvendo prescrições relativas à alimentação e
a instalação dos circuitos.
A sigla PELV (do inglês, Protective Extra-Low Voltage), é adotada para variante
aterrada do SELV.
A característica principal do PELV é limitar a tensão dos circuitos alimentados a
valores que não possam, mesmo em caso de falha, ser superiores à tensão de contato limite,
UL, evitando assim riscos para a vida humana no caso de contatos diretos ou indiretos.
Os circuitos SELV e PELV devem ser alimentados por fontes que proporcionem uma
completa separação galvânica entre eles e os circuitos a tensão mais elevada ou por fontes
autônomas.
Quando, por razoes funcionais, for usada extrabaixa tensão, mas não for possível ou
necessário respeitar quaisquer das condições impostas a SELV e a PELV, a extrabaixa tensão
não pode ser considerada “de segurança”. A NBR 5410 utiliza o termo extrabaixa tensão
funcional denominada de FELV (do inglês, Functional Extra-Low Voltage).
A FELV não se constitui por si só em uma medida de proteção, devendo ser
complementada por outras medidas.
As medidas de proteção por seccionamento automático da alimentação independem da
qualidade da instalação. De acordo com elas, um dispositivo de proteção deve promover o
seccionamento de um circuito quando da ocorrência de uma falta para terra, impedindo a

40
permanência da situação que possa resultar em perigo para as pessoas. Para aplicação destas
medidas de proteção é necessária a coordenação entre o esquema de aterramento e as
características dos dispositivos de proteção, sendo considerado os seguintes esquemas:
- Esquema TN
- Esquema TT;
- Esquema IT.

Tabela 7 – Classificação dos métodos de proteção contra choques elétricos


Proteção Tipo Passiva Ativa
contra
Completa Isolação das partes vivas -
Barreiras ou invólucros
Parcial Obstáculos Colocação fora -
Contatos do alcance
diretos Complementar Uso de dispositivos DR de
- alta sensibilidade
Equipamentos classe II ou -
isolamento equivalente
Sem condutor Local não condutor
de proteção Ligações equipotenciais
locais não aterradas
Contatos
Separação elétrica.
indiretos Seccionamento automático
em:
Com condutor Esquema TT
de proteção Esquema TN
Esquema IT
Contatos - Extrabaixa tensão de -
diretos e segurança
indiretos Extrabaixa tensão funcional
Fonte: NBR 5410:1997

A tabela 7 [2] apresenta uma classificação dos métodos de proteção contra choques
elétricos prescritos pela NBR 5410.
Para a seleção das medidas de proteção contra choques elétricos (por contato direto ou
indireto), a NBR 5410 recomenda que sejam especialmente observadas as seguintes condições
de influências externas:

41
1) BA - competência das pessoas

A tabela 8 [3] resume a competência das pessoas, que leva em conta a capacidade física,
conhecimento técnico e experiência com serviços elétricos.

Tabela 8 – Competência das pessoas


Código Classificação Características Aplicação e exemplos
BA1 Comuns Pessoas inadvertidas -
BA2 Crianças que se encontram nos locais que Crianças de pouca idade
Crianças lhe são destinados em coletividade, por
exemplo, em creche.
BA3 Pessoas que não dispõem de completa Asilos, hospícios,
Incapacitados capacidade física ou intelectual (velhos e hospitais.
doentes)
BA4 Pessoas suficientemente informadas ou Locais de serviço elétrico
Advertidas supervisionadas por pessoas qualificadas de
modo a lhes permitir evitar os perigos que a
eletricidade pode apresentar
BA5 Pessoas que têm conhecimento técnico ou Locais de serviço elétrico
Qualificadas experiência suficiente para lhes permitir fechados
evitar os perigos que a eletricidade pode
apresentar (engenheiros e técnicos)
Fonte: NBR 5410:1997

2) BB - resistência elétrica do corpo humano

O gráfico 6 [4] indica os valores de impedância do corpo humano, em função da tensão


de contato, para correntes alternadas de até 100 Hz, considerando pele seca (condição BB1) e
pele úmida (condição BB2), respectivamente zonas (1) e (2).

Nas condições BBI e BB2, considera-se o contato entre as duas mãos ou entre uma mão
e os pés. É o caso, por exemplo, de uma pessoa com os pés no chão que toca com a mão um
objeto sob tensão.Nas condições BB3 (pele molhada), e BB4 (pele imersa em água) admite-se
o contato duplo entre as duas mãos e os dois pés; por exemplo, uma pessoa com os pés
molhados que toca com as mãos, também molhadas, um objeto energizado (BB3) ou que toma

42
um banho de imersão (BB4).
Nas condições de contato nulo com o potencial da terra (BCI), não existe qualquer
elemento condutor no local considerado; em particular, o piso e as paredes são isolantes.
Nessa situação podem, eventualmente, ser admitidos contatos diretos com um único condutor
(parte viva). Na condição de contatos fracos (BC2), o piso e as paredes são isolantes, mas
podem existir elementos condutores em pequena quantidade ou de pequenas dimensões, que
geralmente não são tocados por pessoas ou, então, as pessoas que os tocam não estão em
contato simultâneo com massas de equipamentos elétricos. Os locais BCI e BC2 são
chamados de locais não condutores; é o caso de salas, quartos e escritórios, como por
exemplo, pisos de madeira e paredes de alvenaria.

Fonte: IEC 479/1974


Gráfico 6 – Impedância do corpo humano em função da tensão de contato

3) BC - contato das pessoas com o potencial da terra

A condição de contatos freqüentes (BC3) corresponde ao caso em que o piso e as


paredes são condutores e/ou onde o local possui elementos condutores que podem ser tocados
simultaneamente com massas de equipamentos elétricos (cozinhas, banheiros, locais externos
e industrias em geral).
A condição de contatos contínuos (BC4) corresponde a locais estreitos e condutores
em que a falta de liberdade de movimento impede que as pessoas escapem facilmente do
perigo.

43
A NBR 5410 define três situações, descritas a seguir:

- Situação 1 (locais secos / úmidos): corresponde às condições (BB2 + BC1), (BB2 + BC2) e
(BB2 + BC3); mais encontrada nos locais residenciais, comerciais e industrias;
- Situação 2 (locais molhados, pele molhada, solo/piso com baixa resistência): corresponde às
condições (BB2 + BC4) e BB3 com qualquer condição BC; é encontrado em áreas externas,
canteiro de obra, campings;
- Situação 3 (banheiros e piscinas): corresponde à condição BB4 com qualquer condição BC.

A tabela 9 [3] indica as situações 1,2 e 3 descritas.

Tabela 9 – Situações 1,2 e 3.


Condição de BB2 BB3 BB4
influência externa
BC1 Situação 1
BC2 Situação 1
BC3 Situação 1 Situação 2 Situação 3
BC4 Situação 2 Situação 2 Situação 3
Fonte: NBR 5410:1997

A NBR 5410 considera a proteção contra contatos indiretos a partir da relação entre
tensão de contato e tempo máximo de duração respectivo. Assim, se houver uma falha na
isolação de um equipamento, a alimentação do circuito envolvido deve ser interrompida em
um dado tempo máximo pelo seccionamento automático da alimentação. Esta relação é
apresentada para as situações 1 e 2 na tabela 10 [4] e no gráfico 7 [4].
A tensão de contato limite pode ser definida como sendo o maior valor de tensão que se
pode manifestar, no caso de ocorrer falta de impedância desprezível. Para as situações 1 e 2
será o valor assintótico da tensão, ou seja, 50 V na situação 1 e 25 V na situação 2,
considerando tensões alternadas de 15 a 100 Hz e, respectivamente 120 e 60 V, para as
tensões contínuas sem ondulação. Uma tensão contínua sem ondulação é convencionalmente definida
como apresentando uma faixa de ondulação não superior a 10% em valor eficaz. Para freqüência de
100 a 1.000 Hz e para tensões contínuas retificadas, ainda não foram definidos os valores da tensão de
contato limite.

44
Tabela 10 – Duração máxima da tensão de contato presumida
(tensões alternadas de 15 a 100 Hz).
Tensão de contato Duração máxima (s)
(V) Situação 1 Situação 2
25 infinita 5,0
50 5 0,47
75 0,60 0,30
90 0,45 0,25
110 0,36 0,18
150 0,27 0,10
220 0,17 0,035
280 0,12 0,020
350 0,08 -
500 0,04 -
Fonte: COTRIN, 2003.P.110

Para a Situação 3, devem ser fixados valores ainda menores para a tensão de contato limite.
Nesse caso, porém, a proteção por seccionamento automático da alimentação não é considerada
adequada, sendo necessárias medidas adicionais.

45
Gráfico 7 – Duração máxima da tensão de contato

3.4 – Aterramento

3.4.1 – Fundamentos

A palavra aterramento refere-se a terra propriamente dita. O solo é um condutor através


do qual a corrente elétrica pode fluir, difundindo-se. Quando se diz que algum aparelho está
aterrado (ou eletricamente aterrado) significa que um dos fios de seu cabo de ligação está
propositalmente ligado a terra. Ao fio que faz essa ligação denominamos "fio terra".
É muito comum a pergunta do por quê de aterrar os sistemas elétricos. A resposta é
bem simples; aterra-se os sistemas elétricos basicamente por três motivos. São eles:
- Controle de sobretensões;
- Segurança pessoal;

46
- Proteção contra descargas atmosféricas.
Essencialmente o objetivo do aterramento é interligar eletricamente objetos condutores
ou carregados, de maneira a ter as menores diferenças de potencial possíveis.
Funcionalmente, o aterramento proporciona:
- Ligação de baixa resistência com a terra, oferecendo um percurso de retorno entre o
ponto de defeito e a fonte, reduzindo os potenciais até a atuação de dispositivos de
proteção.
- Percurso de baixa resistência entre equipamento elétrico ou eletrônico e objetos metálicos
próximos, para minimizar os riscos pessoais no caso de defeito interno no equipamento.
- Percurso preferencial entre o ponto de ocorrência de uma descarga atmosférica em objeto
exposto e o solo.
- Percurso para sangria de descargas eletrostáticas, prevenindo a ocorrência de potenciais
perigosos, que possam causar um arco ou centelha.
- Criação de um plano comum de baixa impedância relativa entre dispositivos eletrônicos,
circuitos e sistemas.

3.4.1.1 – Tipos de aterramento

Nas instalações elétricas considera-se três tipos de aterramento:

3.4.1.1.1 – Aterramento funcional

O aterramento funcional é basicamente a ligação de um dos condutores do sistema, em


geral o neutro, a terra. Este aterramento está relacionado ao bom desempenho do sistema.

3.4.1.1.2 – Aterramento de proteção

O aterramento de proteção nada mais é do que a ligação à terra das massas dos
elementos condutores estranhos à instalação, visando à proteção contra choque elétrico por
contato indireto.

47
3.4.1.1.3 – Aterramento de trabalho

Tem por objetivo permitir ações seguras de manutenção em partes da instalação


normalmente sob tensão, posta fora de serviços para este fim. Trata-se de aterramento
provisório [4].
Pode-se falar também do aterramento combinado (funcional e de proteção).

3.4.1.2 – Eletrodo de aterramento

O eletrodo de aterramento é o condutor ou o conjunto de condutores enterrados no solo


e eletricamente ligados(s) a terra para fazer o aterramento.O tipo e a profundidade de
instalação dos eletrodos de aterramento devem ser de acordo com as condições do solo.
Analisando o eletrodo composto por apenas uma haste verifica-se por ele uma corrente,
I, e um potencial, UT, em relação a um ponto distante de potencial zero, ilustrado na figura
11. Desta forma define-se resistência de aterramento, RT, do eletrodo como sendo a relação:

Figura 11 – Variação das tensões geradas no solo pela passagem da corrente em um eletrodo de aterramento.

48
A figura 11 mostra que o potencial próximo à haste varia de zero até UT, ou seja, o
potencial do solo diminui ao aumentar a distancia à haste, quase se anula num ponto
“suficientemente distante”.
Teoricamente a resistência de um condutor elétrico é dada por R= ρ.L/A, onde ρ é
resistividade, L, o comprimento percorrido pela corrente e A, a seção que a corrente
atravessa. Aqui a resistência é definida admitindo algumas hipóteses, tal como que a corrente
saia da haste perpendicularmente à sua superfície e que se difunda horizontalmente no
terreno, assim a corrente atravessa superfícies equipotenciais cilíndricas cada vez maiores à
medida que aumentar a distancia à haste.
Admitindo ρ constante, ou seja, terreno homogêneo, obtém-se a resistência de
aterramento dada a seguir:

Figura12- Eletrodo constituído por apenas uma haste cravada no solo.

A expressão mostra que quanto maior o comprimento da haste menor a resistência de


aterramento, isto porque quanto maior a haste maior a superfície de passagem da corrente,
diminuindo assim a resistência. Porém na prática não é comum utilizar hastes muito longas,
que não são simples de enterrar no solo. As mais usadas são de 2 e 3 m.
O diâmetro tem importância praticamente irrelevante, uma vez que a resistência
depende do seu logaritmo, seus valores em media não ultrapassam 25mm.

49
A ligação de hastes em paralelo reduz a resistência de aterramento. Neste caso, para
que seja utilizada plenamente a possibilidade de dispersão da haste é necessário crava-la fora
da zona de dispersão da outra, ou seja, na região de potencial nulo. È comum utilizar o
afastamento entre hastes igual ou superior ao comprimento da haste. Para distância menor, a
eficiência das hastes é bastante reduzida. Desta forma, duas hastes que isoladamente dariam
resistências de aterramento de 10 ohms, quando colocadas em paralelo a uma distancia de 15
m darão uma resistência total de mais ou menos 5ohms; se a distância for de 10 m a
resistência total será mais ou menos 7 ohms.
A figura 13 mostra que a eficácia cresce na proporção direta ao número de hastes:
assim, com duas hastes a resistência cai pela metade, com quatro reduz-se a um quarto.
Já na figura 14 verifica-se uma eficiência reduzida, uma vez que uma haste está na zona
de dispersão da outra. Para mais de duas hastes a analise é análoga.

Figura 13 - Eficiência máxima

Figura 14 – Eficiência reduzida

50
3.4.1.3 – Condutor de proteção

Condutor que liga as massas e os elementos estranhos à instalação entre si e/ou a um


terminal de aterramento principal. Este condutor é designado PE (do inglês Protection Earth),
e o neutro, pela letra N. Quando o condutor tem funções combinadas de condutor de proteção
e de neutro, é designado por PEN [5]. Os sistemas elétricos de baixa tensão, tendo em vista a
alimentação e as massas dos equipamentos em relação a terra, são classificadas pela NBR
5410, de acordo com a seguinte simbologia literal:
- A primeira letra indica a situação da alimentação em relação à terra.
T – para um ponto diretamente aterrado;
I – isolação de todas as partes vivas em relação à terra ou emprego de uma impedância de
aterramento, a fim de limitar a corrente de curto-circuito para a terra.
- A segunda letra indica a situação das massas em relação à terra.
T – para massas diretamente aterradas, independentemente de aterramento eventual de um
ponto de alimentação;
N – massas ligadas diretamente ao ponto de alimentação aterrado (normalmente é o neutro).
- Outras letras, para indicar a disposição do condutor neutro e do condutor de proteção.
S – quando as funções de neutro e de condutor de proteção são realizadas por condutores
distintos;
C – quando as funções de neutro e de condutor de proteção são combinadas num único
condutor.
Quando a alimentação se realizar em baixa tensão, o condutor neutro deve sempre ser
aterrado na origem da instalação do consumidor.

3.4.2 – Esquemas de aterramento do neutro

Inicialmente é importante diferenciar a tensão de passo da tensão de contato, já


definido, a tensão de passo, UP, é definida como parte da tensão de um eletrodo de
aterramento à qual pode ser submetida uma pessoa nas proximidades do eletrodo, cujos pés

51
estejam separados pela distância equivalente a um passo (aproximadamente 1m). A tensão de
passo indicada na figura 14 depende da posição do passo no terreno em relação ao eletrodo
de aterramento. Considerando por exemplo, um eletrodo constituído por uma haste vertical
enterrada num terreno homogêneo, a tensão de passo máxima durante a dispersão será entre a
haste e qualquer ponto de uma circunferência equipotencial de raio igual a 1 m.
Tensão de falta, UF, é a tensão que aparece, quando de uma falha de isolamento, entre
uma massa e um eletrodo de aterramento de referência, ou seja, um ponto cujo potencial não
seja modificado pela energização da massa. Como visto anteriormente a tensão de contato,
UB, é a tensão que pode aparecer acidentalmente, quando de uma falha de isolamento, entre
duas partes simultaneamente acessíveis. Diante destes conceitos pode-se escrever UF = UB +
UR, onde UR é a tensão sobre a resistência entre o elemento condutor e a terra. Esta equação
mostra que a tensão de contato é, em geral, inferior a tensão de falta. Se o elemento condutor
estiver no potencial da terra, R = 0 e UR = 0, resultará, portanto em UF = UB.
Conseqüentemente em questões de segurança o que importa é a tensão de falta e não de
contato.
Os sistemas de distribuição de energia elétrica estão divididos em esquema de
condutores vivos e esquema de aterramento. No esquema de aterramento são levados em
consideração, principalmente, o modo de conexão do neutro da fonte de alimentação e as
massas das cargas em relação à referência de terra. Dependendo da maneira que é executada
essa conexão, podem ser obtidos os esquemas de aterramento convencionais, designados por
TN, TT e IT.[3]
Estatisticamente, a falta que mais acomete os sistemas elétricos, independentemente do
esquema de aterramento adotado é a monofásica para a terra, desde a fonte de alimentação
até os circuitos terminais[6].

3.4.2.1 – Esquema TN

O esquema TN possui um ponto da sua fonte de alimentação diretamente aterrado,


geralmente o ponto de neutro de um transformador trifásico, sendo as massas das cargas
conectadas a esse mesmo ponto por meio de condutores de proteção.

52
O esquema TN será classificado como sendo do tipo TN-C quando as funções de
neutro e de proteção forem asseguradas pelo mesmo condutor (PEN) e será do tipo TN-S
quando as funções de neutro e proteção forem asseguradas por condutores distintos,
nomeados por condutor N (neutro) e PE (proteção). A figura 15 apresenta o modelo elétrico
do esquema de aterramento TN-S.

Fonte: COTRIN, 2003.P.339


Figura 15 - Modelo elétrico do esquema TN-S.

A nomenclatura contida nas figuras 15, 16 e 17 é a seguinte:

- Fonte, transformador trifásico;


- Rf, resistência de aterramento do eletrodo da fonte;
- Carga, elemento consumidor de energia elétrica;
- F1, F 2 e F3, fases do circuito de alimentação;
- PE, condutor de proteção;
- N, condutor neutro.

53
Fonte: COTRIN, 2003.P.339
Figura 16 – Modelo elétrico do esquema TN-C

Fonte: COTRIN, 2003.P.339


Figura 17– Modelo elétrico do esquema TN-C-S

54
A eliminação das faltas monofásicas para a terra no esquema de aterramento TN é
obtida por meio da atuação por sobrecorrente da proteção do circuito submetido a essa
situação. A vantagem dessa atuação é a rápida identificação do circuito em falta que pode ser
observada pela paralisação da carga sob sua alimentação, por corte no fornecimento de
energia elétrica. A maior desvantagem está no desligamento de um circuito que pode
comprometer a operação de equipamentos fundamentais ao andamento de um processo.
A impedância do caminho que a corrente de falta percorre no esquema TN-S é baixa,
pois esse caminho é formado principalmente por condutores. A figura 17 mostra um exemplo
do caminho percorrido pela corrente de falta que foi originada na carga suprida por esse
esquema de aterramento.

Figura 18 – Caminho da falta no esquema TN-S.

A nomenclatura contida na figura 18 é a seguinte:


- Fonte, transformador trifásico;
- Rf, resistência de aterramento do eletrodo da fonte;
- Carga, elemento consumidor de energia elétrica;
- L1, L 2 e L3, fases do circuito de alimentação;
- PE, condutor de proteção;
- N, condutor neutro;

55
- ZF1, impedância de uma fase do circuito de alimentação principal;
- Zc, impedância de uma fase do circuito terminal;
- ZPE, impedância do condutor de proteção;
- If, corrente de falta;
- Dj, dispositivo de proteção contra as sobrecorrente.
No Brasil, o esquema TN é o mais comum, quando se tratam de instalações
alimentadas diretamente pela rede pública de baixa tensão da concessionária de energia
elétrica.
Nesse caso, quase sempre a instalação é do tipo TN-C até a entrada, onde o neutro e
aterrado por razões funcionais e segue instalação adentro separado do condutor de proteção
(TN-S). È fácil verificar que, se houver a perda do neutro antes da entrada consumidora o
sistema irá se transformar em TT.
Diante disto é razoável utilizar interruptores diferenciais residuais (DRs), mesmo em
sistema TN-S, para garantir a proteção das pessoas contra choques elétricos.
No esquema TN-C o rompimento de um condutor PEN numa instalação traz problemas
sérios para segurança, isto porque um equipamento alimentado com fase e neutro ficará
devido ao rompimento do PEN, com a massa num potencial igual ao da fase em relação ao
terra; a corrente de falta da isolação é bem elevada, é da ordem de quiloamperes (kA), por
isto este esquema é proibido em instalações móveis cujos condutores tenham seção inferior a
10mm2, em cobre, ou 16mm2, em alumínio, e condutores flexíveis. Este esquema é proibido
também em instalações onde há alto risco de incêndio ou explosão, neste caso é porque a
conexão da carga ao condutor PEN cria um fluxo de corrente na carga resultando em um alto
risco de incêndio e perturbações eletromagnéticas. Durante faltas de isolação estas correntes
de circulação são consideravelmente aumentadas, justificando assim sua proibição em locais
de alto risco de incêndio.

3.4.2.2 – Esquema TT

No esquema de aterramento TT, existe um ponto da fonte de alimentação diretamente


conectado a um eletrodo de aterramento dedicado à mesma, geralmente o ponto de neutro de
um transformador trifásico. As massas das cargas são conectadas a um outro eletrodo de

56
aterramento, independente do eletrodo da fonte. A figura 19 apresenta o modelo elétrico
desse esquema de aterramento.

Figura 19 – Modelo elétrico do esquema TT.

O esquema TT opera de maneira semelhante ao TN quando é submetido à falta


monofásica para a terra, porém no TT o percurso da corrente de falta inclui a terra, o que
limita em muito o valor da corrente devido ao elevado valor da resistência de terra. Essa
corrente é insuficiente para acionar disjuntores ou fusíveis, mas suficientes para colocar em
perigo uma pessoa. Portanto, ela deve ser detectada e eliminada por dispositivos mais
sensíveis, geralmente chamados de interruptores diferenciais residuais (DRs).
A impedância do caminho de falta monofásica para a terra no esquema TT envolve as
impedâncias dos condutores de alimentação e proteção (ZF1+ ZC + ZPE), a resistência de
aterramento da carga (Rc) e da fonte de alimentação (Rf). A figura 20 mostra um exemplo do
caminho percorrido pela corrente de falta que foi originada na carga suprida por esse
esquema de aterramento.

57
Figura 20 – Caminho da falta no esquema TT.

A nomenclatura contida na figura 20é a mesma da figura 18 acrescentado os seguintes


itens:
- Rc, resistência de aterramento do eletrodo das cargas;
- DR, dispositivo Diferencial Residual.

3.4.2.3 – Esquema IT

No esquema de aterramento IT, a fonte de alimentação não possui nenhum ponto


diretamente aterrado, porém entre a fonte e o seu eletrodo de aterramento pode existir uma
impedância ou simplesmente não estarem interconectados. As massas das cargas são ligadas
para a terra por meio de um eletrodo dedicado a esse fim. A figura 21 apresenta o modelo
elétrico desse esquema de aterramento.
Dos esquemas de aterramento convencionais, o IT é o único que não necessita
interromper o fornecimento de energia elétrica para a carga, quando o seu circuito é
submetido à primeira falta monofásica para a terra. Essa característica de imunidade à
primeira falta para a terra é uma grande vantagem do esquema IT em relação aos esquemas
TN e TT. A desvantagem do IT está na forma de identificar o ponto de origem da falta, que é
realizada tipicamente por indicação do Controlador Permanente de Isolação (CPI) associado

58
às pesquisas sucessivas do operador, utilizando o alicate de corrente diferencial, nos diversos
ramos que compõem o sistema elétrico, até identificar o ponto de origem da falta.

Figura 21 – Modelo elétrico do esquema IT.

O valor da impedância do caminho de falta para a terra no esquema IT é alto, pois este
envolve as impedâncias dos condutores de alimentação e proteção (ZF1+ ZC + ZPE), a
resistência de aterramento da carga (Rc), da fonte alimentação (Rt) e, principalmente, a
impedância limitadora da fonte de alimentação (ZL), quando essa for instalada. Dependendo
do valor atribuído para a impedância limitadora a corrente de falta para a terra será de baixa
intensidade. Desta forma, se uma falta monofásica para a terra se estabelecer, no sistema,
essa não causará a atuação do dispositivo de proteção contra as sobrecorrente. A figura 22
mostra um exemplo do caminho percorrido pela corrente de falta que foi originada na carga
suprida por esse esquema de aterramento.
A nomenclatura contida na figura 22 é igual a das figuras 20 e 18 acrescentado apenas
o CPI que representa o dispositivo de controle permanente da isolação.
Alguns processos do setor industrial, aeroespacial e militar exigem, em um único
sistema de distribuição de energia elétrica, as características individuais de operação de cada
esquema de aterramento convencional, ou seja, há necessidade de preservar a alimentação de
determinadas cargas de maior prioridade, cargas prioritárias, no processo, quando essas são
submetidas às faltas monofásicas para a terra. Nessa mesma situação, outras cargas de menor
prioridade, não prioritárias, podem ser retiradas de operação sem causar prejuízo para a
continuidade do processo.

59
Figura 22 – Caminho da falta no esquema IT.

A interrupção da alimentação por falta monofásica para a terra de uma carga que atende
o processo contínuo de uma indústria é um exemplo que pode causar prejuízos materiais
significativos. Circuitos de navegação e comunicação de aeronaves, radares de aeroportos e
sistemas de teledestruição de campos de lançamento de foguetes são exemplos de cargas do
setor aeroespacial que ao serem interrompidas, pelas faltas para a terra, podem colocar em
risco vidas humanas e bens materiais. Circuitos de navegação de aviões, de submarinos e de
barcos são exemplos de cargas prioritárias do setor militar.
Com o objetivo de atender as cargas prioritárias e as não prioritárias em um único
sistema de distribuição de energia elétrica, foi desenvolvido o Esquema de Aterramento
Híbrido (EAH). Esse esquema de aterramento combina as características de imunidade do
esquema IT com a rápida abertura por sobrecorrente do circuito submetido à falta
monofásica para a terra do TN [7].

60
4.0 – PRIMEIROS SOCORROS

As chances de salvamento da vítima de choque elétrico diminuem com o passar de


alguns minutos, pesquisas realizadas apresentam as chances de salvamento em função do
número de minutos decorridos do choque aparentemente mortal, pela análise da tabela 11 [8]
esperar a chegada da assistência médica para socorrer a vítima é o mesmo que assumir a sua
morte, então não se deve esperar, o caminho é a aplicação de técnicas de primeiros socorros
por pessoa que esteja nas proximidades.
O ser humano que esteja com parada respiratória e cardíaca passa a ter morte cerebral
dentro de 4 minutos, por isso é necessário que o profissional que trabalha com eletricidade
deve estar apto a prestar os primeiros socorros a acidentados, especialmente através de
técnicas de reanimação cádio-respiratória.

Tabela 11 – Chances de salvamento em função do tempo

Tempo após o choque p/ iniciar respiração artificial Chances de reanimação da vítima

1 minuto 95 %

2 minutos 90 %

3 minutos 75 %

4 minutos 50 %

5 minutos 25 %

6 minutos 1%

8 minutos 0,5 %

Fonte: www.Corpodebombeiro/primeirossocorros

4.1 – Métodos de respiração artificial para reanimação de vítimas de choque elétrico

A respiração artificial é empregada em todos os casos em que a respiração natural é


interrompida. Aqui trataremos de dois métodos de respiração artificial. O método de
"Holger-Nielsen" e a boca-a-boca.

61
4.1.1 – Procedimentos Gerais

Antes de tocar o corpo da vítima, procure livra-la da corrente elétrica, com a


máxima segurança possível e a máxima rapidez, nunca use as mãos ou qualquer objeto
metálico ou molhado para interromper um circuito ou afastar um fio.
Não mova a vítima mais do que o necessário à sua segurança.
Antes de aplicar o método, examine a vítima para verificar se respira, em caso
negativo, inicie a respiração artificial.
Quanto mais rapidamente for socorrida a vítima, maior será a probabilidade de êxito
no salvamento.
Chame imediatamente um médico e os paramédicos do Corpo de Bombeiros que
possa auxiliá-lo nas demais tarefas, sem prejuízo da respiração artificial, bem como, para
possibilitar o revezamento de operadores.
Procure abrir e examinar a boca da vítima ao ser iniciada a respiração artificial, a fim
de retirar possíveis objetos estranhos (dentadura, palito, alimentos, etc.), examina também
narinas e garganta. Desenrole a língua caso esteja enrolada, em caso de haver dificuldade em
abrir a boca da vítima, não perca tempo, inicie o método imediatamente e deixe essa tarefa a
cargo de outra pessoa.
Desaperte punhos, cinta, colarinho, ou quaisquer peças de roupas que por acaso
apertem o pescoço, peito e abdome da vítima.
Agasalhe a vítima, a fim de aquece-la, outra pessoa deve cuidar dessa tarefa de modo
a não prejudicar a aplicação da respiração artificial.
Não faça qualquer interrupção por menor que seja, na aplicação da respiração
artificial.
Não faça qualquer interrupção por menor que seja, na aplicação do método, mesmo
no caso de se tornar necessário o transporte da vítima à aplicação deve continuar.
Não distraia sua atenção com outros auxílios suplementares que a vitima necessita,
enquanto estiver aplicando o método, outras pessoas devem ocupar-se deles.

62
O tempo de aplicação é indeterminado, podendo atingir 5 horas ou mais, enquanto
houver calor no corpo da vítima e esta não apresentar rigidez cadavérica há possibilidade de
salvamento.
O revezamento de pessoas, durante a aplicação deve ser feito de modo a não alterar o
ritmo da respiração artificial.
Ao ter reinício a respiração natural, sintonize o ritmo da respiração artificial com a
natural.
Depois de recuperada a vítima, mantenha-a em repouso e agasalhada, não permitindo
que se levante ou se sente, mesmo que para isso precise usar força, não lhe de beber, a fim de
evitar que se engasgue, após a recuperação total da vítima, pode dar lhe então café ou chá
quente.
Não aplique injeção alguma, até que a vítima respire normalmente.
Este caso aplica-se em qualquer caso de colapso respiratório, como no caso de
pessoas intoxicadas por gases venenosos ou que sofram afogamentos.
Na maioria dos casos de acidente por choque elétrico, a morte é apenas aparente, por
isso socorra a vítima rapidamente sem perda de tempo.
O método de respiração artificial consiste em um conjunto de manobras mecânicas
por meio dos quais o ar, em certo e determinado ritmo, é forçado a entrar e sair
alternadamente dos pulmões.Os passos para aplicação deste método são descritos a seguir:

1- Deite a vítima de bruços com a cabeça voltada para um dos lados e a face apoiada
sobre uma das mãos tendo o cuidado de manter a boca da vítima sempre livre.
2- Ajoelhe-se junto à cabeça da vítima e coloque as palmas das mãos exatamente nas
costas abaixo dos ombros com os polegares se tocando ligeiramente.
3- Em seguida lentamente transfira o peso do seu corpo para os braços esticados, até
que estes fiquem em posição vertical, exercendo pressão firme sobre o tórax.
4- Deite o corpo para trás, deixando as mãos escorregarem pelos braços da vítima até
um pouco acima dos seus cotovelos; segure-os com firmeza e continue jogando o corpo para
trás, levante os braços da vítima até que sinta resistência: abaixe-os então até a posição
inicial, completando o ciclo, repita a operação no ritmo de 10 a 12 vezes por minuto.

63
4.1.2- Método da respiração artificial Boca-a-Boca

Para aplicação do método da respiração artificial boca-a-boca deite a vítima de costas


com os braços estendidos e efetue os seguintes procedimentos:
1- Restabeleça a respiração: coloque a mão na nuca do acidentado e a outra na testa,
incline a cabeça da vítima para trás.
2- Com o polegar e o indicador aperte o nariz, para evitar a saída do ar, como na
figura 23.
3- Encha os pulmões de ar.
4- Cubra a boca da vítima com a sua boca, não deixando o ar sair.
5- Sopre até ver o peito erguer se.
6- Solte as narinas e afaste os seus lábios da boca da vítima para sair o ar.
7- Repita esta operação, a razão de 13 a 16 vezes por minuto.
8- Continue aplicando este método até que a vítima respire por si mesma.

Fonte: corpodebombeiros/primeirossocorros
Figura 23 – Método da respiração artificial boca-a-boca

4.2- Parada cardíaca

Aplicada à respiração artificial pelo espaço aproximado de 1 minuto, sem que a


vítima dê sinais de vida, poderá tratar-se de um caso de parada cardíaca.
Para verificar se houve uma parada cardíaca, existem 2 processos:

64
1- Pressione levemente com as pontas dos dedos indicador e médio a carótida, quase
localizada no pescoço, junto ao pomo de Adão (Gogó).
2- Levante a pálpebra de um dos olhos da vítima, se a pupila (menina dos olhos) se
contrair, é sinal que o coração está funcionando, caso contrario, se a pupila permanecer
dilatada, isto é, sem reação, é sinal de que houve uma parada cardíaca.

Ocorrendo a parada cardíaca deve-se aplicar sem perda de tempo, a respiração


artificial e a massagem cardíaca, conjugadas, da seguinte maneira:

1- Massagear a região na altura do coração, que está localizado no centro do Tórax


entre o externo e a coluna vertical;
2- Colocar as duas mãos sobrepostas na metade inferior do externo, como indica a
figura 24.
3- Pressionar, com suficiente vigor, para fazer abaixar o centro do Tórax, de 3 a 4 cm,
somente uma parte da mão deve fazer pressão, os dedos devem ficar levantados do Tórax.
4- Repetir a operação: 15 massagens cardíacas e 2 respirações artificiais, até a
chegada do socorro mais especializado.

Fonte:www.corpodebombeiros/primeirossocorros

Figura 24 – Massagem cardíaca

65
5.0 – LEVANTAMENTO DOS LABORATÓRIOS COM GRANDES
EQUIPAMENTOS E SEUS SISTEMAS DE ATERRAMENTO

Visando a segurança do campus universitário, em relação à instalação elétrica, foi feito


o levantamento de alguns laboratórios, com o objetivo de verificar o nível de tensão de
contato e a corrente de falta, no caso de sobretensão, por falta em equipamentos ou por
descarga atmosférica.

5.1 – Oficina da Engenharia Mecânica

No prédio do SG-9, no térreo, há um galpão onde funcionam vários laboratórios da


Engenharia Mecânica. Entre outras máquinas há uma prensa hidráulica EVA, 100 Ton.;
motor trifásico: Tensão 220/380, corrente 17A/10A; 5 CV; 1.140 rpm; isolamento categoria
B.
O Brasil adotou a IEC 479-1:1994 (Effects of current on human beings and livestock),
a qual prevê o uso de plugues e tomadas de três pinos para circuitos monofásicos ou bifásicos
(2P + T). Já faz vinte anos e é comum se encontrar na maioria dos equipamentos os plugues
de dois pinos. Porém está no prelo uma atualização da NBR 5410 (Instalações Elétricas de
Baixa Tensão) da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) obrigando o uso de
plugues e tomadas de três pinos.

Figura 25 – Tomada Três Pinos

66
As tomadas devem ter três pinos de acordo com a figura 25, com fios condutores
contínuos, bem dimensionados e com emendas bem feitas. Observando a tomada de frente,
as ligações devem ser feitas conforme indicado pelas letras N = Neutro, F = Fase e T = Terra.
A malha de aterramento deverá ser equalizada em todos os pontos de conexão de terra, ou
seja, deverá partir de um único ponto de conexão, a terra, e distribuída aos diversos locais.
Deverá ser verificada sua resistência em toda a extensão. Todas as tomadas deverão estar
corretamente fixadas. O neutro e o terra não podem estar interligados nas tomadas. O ponto
de aterramento deve ter no máximo 10 ohms de resistência, de acordo com o item 5.1.3.1.2
da ABNT 5419 (Para assegurar a dispersão da corrente de descarga atmosférica na terra sem
causar sobretensões perigosas, o arranjo e as dimensões do subsistema de aterramento são
mais importantes que o próprio valor da resistência de aterramento. Entretanto, recomenda-
se, para o caso de eletrodos não naturais, uma resistência de aproximadamente 10Ω, como
forma de reduzir os gradientes de potencial no solo e a probabilidade de centelhamento
perigoso).

Figura 26 - Foto da alimentação da prensa hidráulica

67
Após uma inspeção visual verificou-se que a prensa hidráulica é alimentada através de
um plugue de três pinos, conforme mostra a figura 26 a seguir, para uma alimentação
trifásica de 380 V, 60Hz.
Para uma alimentação trifásica o plugue da alimentação deve ser de quatro ou cinco
pinos. O quarto ou quinto pino tem a função primordial de oferecer segurança ao operador do
equipamento. Ao se ligar um destes plugues a tomada, com o 4o ou 5o realmente aterrado,
todas as partes metálicas externas do equipamento também ficarão aterradas. Se ocorrer
algum defeito interno, principalmente provocado por choques externos, tal que alguma parte
"viva"entre em contato com a carcaça metálica, o fio terra escoará a corrente elétrica para a
terra sem limitação de corrente, queimando assim o fusível de proteção e desergenizando o
equipamento, protegendo assim seu operador.
Diante do exposto, está evidente a irregularidade na alimentação da prensa hidráulica.
Os modelos de plugues para esta prensa estão ilustrados na figura 27.

Figura 33 – Plugues (3P + T) e (3P + T + N)

Prosseguindo com a inspeção visual verificou-se também que não havia nenhuma
conexão da carcaça com a terra.
O passo seguinte foi verificar o esquema de aterramento das instalações do prédio, e o
que foi constatado é que existe uma malha de aterramento com resistência de terra de 2Ω

68
(medido). Uma solução para a prensa hidráulica seria aterrar sua carcaça a malha de
aterramento da edificação, num esquema TN-S.
O transformador que alimenta os laboratórios desta oficina não se encontra aterrado na
origem da instalação, dele parte quatro condutores (3F + N) que chegam no quadro de
distribuição da oficina, onde o neutro é então aterrado. A NBR 5410/97 no item 4.2.2.2.4 diz
que quando uma instalação for alimentada em baixa tensão, o condutor neutro deve ser
aterrado na origem da instalação, logo a alimentação desta oficina não está de acordo com as
normas técnicas de segurança em instalações de baixa tensão.
O quadro de distribuição geral foi recentemente trocado, porém a instalação elétrica
não foi refeita. Na instalação elétrica antiga há uma barra PE, onde o neutro do
transformador é aterrado, nesta barra existe uma conexão para a malha de aterramento, feita
através de um fio de 10mm2. Se ocorresse uma descarga atmosférica na rede de alimentação
o neutro do transformador seria o caminho da corrente de escoamento que chegaria na barra
PE do quadro geral dentro da oficina. Da barra PE para a malha de aterramento o fio de
10mm2 certamente não suportaria esta corrente, haveria um centelhamento, pondo em risco a
segurança dos equipamentos e pessoas da que trabalham na oficina.
A figura 28 mostra a foto do quadro geral novo, onde a barra PE está com somente uma
conexão, que vem da barra PE da instalação antiga, todos os equipamentos aterrados na
oficina estão ligados a antiga barra PE. A figura 34 mostra também uma barra de neutro no
quadro sem nenhuma conexão. Troca-se o quadro por um que está dentro das condições de
segurança, exigido pelas normas técnicas, porém não se faz as devidas mudanças na
instalação elétrica para usufruto desta segurança.
Como o neutro do transformador chega a barra PE e dela não segue para barra de
neutro, do quadro de distribuição, tem-se uma barra PEN de onde partirão os condutores
PEN para diversas máquinas. Esta situação mostra que o esquema de aterramento nesta
oficina é o TN-C, ou seja, o condutor PEN juntamente com as massas da instalação é
aterrado em uma mesma malha de aterramento existentes na edificação. Neste esquema de
aterramento a tensão das massas em condições normais é igual à tensão no ponto de ligação
entre o neutro e as massas. Se por algum motivo houver o rompimento do condutor PEN o
problema é sério, as massas alimentadas com fase e neutro ficarão, devido ao rompimento do
PEN, com a massa num potencial igual ao da fase em relação ao terra. A corrente de falta da

69
isolação é bem elevada, é da ordem de quiloamperes (kA). Por isto, este esquema é proibido
em instalações onde haja risco de incêndio ou explosão. Nesta oficina há uma área com
vários botijões de gás que alimentam maçaricos, que não deixa de representar risco de
incêndio.

Figura 28 - Foto do quadro geral da oficina da Engenharia Mecânica

A figura 29 indica uma situação de falta fase-massa num esquema TN. São
consideradas a resistência de aterramento do secundário do transformador, RB, a resistência e
resistência de aterramento do secundário do transformador, RE e XE, a resistência e a
reatância dos condutores fases, desde o transformador até a massa sob falta, RL e XL, a
resistência e a reatância dos condutores de proteção, desde a massa sob falta até o terminal de
aterramento principal, RPE e XPE, a impedância de falta, ZF, a impedância do corpo humano,
ZH, e a resistência entre a pessoa a terra (resistência do piso, se for o caso, do sapato, R).

70
Figura 29 – Percurso da corrente de falta fase-massa num esquema TN

Será considerada apenas a malha superior como caminho da corrente de falta, visto que
os valores de ZH, R e RB, normalmente são muito superiores a impedância total dos circuitos
de proteção. Para uma falta fase-massa, ZF = o, logo a impedância, ZS, deste percurso é dada
pela expressão 5.1.

(5.1)

Considerando Uo a tensão fase-neutro, obtém-se a expressão 5.2.

(5.2)

A tensão de contato UB que é igual a tensão de falta UF (malha inferior desconsiderada),


será a queda de tensão dos condutores de proteção (queda entre os pontos M e O). É dada
pela expressão 5.3.

(5.3)

71
Dividindo-se Uo/UB, chega-se na expressão 5.4.

(5.4)

Considerando a seção dos condutores inferior a 35 mm2, e admitindo que os condutores


de proteção estejam na proximidade dos condutores vivos; pode-se desprezar as reatâncias do
percurso de IF. Assim ZS e Uo serão dadas pelas expressões 5.5 e 5.6 respectivamente.

(5.5)

(5.6)

Logo se obtêm a expressão 5.7.

(5.7)

Nestas condições o novo valor de Uo/UB será dado pela expressão 5.8.

(5.8)

As duas relações aqui demonstradas de Uo/UB mostram que à medida que esta relação
cresce, e, o perigo diminui (Uo é constante), ao diminuir a impedância dos condutores de
proteção, ou seja, ao aumentar sua seção.
Ao contrario do que muito supõe, o simples aterramento das massas (sua ligação aos
condutores de proteção) não é suficiente para garantir uma situação segura. Nesta ultima
relação de Uo/UB, considerando RPE = RL (condutores de proteção de mesmo tipo) e
desprezando RE, obtém-se:

72
- Uo = 220 V UB = 110 V

Este valor para tensão de contato é considerado perigoso se não houver um


seccionamento do circuito correspondente num tempo adequado. A NBR 5410/97 prevê o
seccionamento automático da alimentação conforme a tabela 12 a seguir, aonde Ia é a
corrente que garante a atuação do dispositivo de proteção do circuito num tempo igual ou
inferior ao tabelado, ou, no máximo, 5s na situação 1, para circuitos terminais que só
alimentem equipamentos fixos e para circuitos de distribuição.

Tabela 12 -Tempo de seccionamento máximo no esquema TN


Uo Tempo de seccionamento (s)
(V) Situação 1 Situação 2
115,120, 127 0,8 0,35
220 0,4 0,20
277 0,40 0,20
400 0,20 0,05

>600 0,1 0,02

Uo : Tensão nominal entre fase e terra, valor eficaz em corrente alternada


Fonte: NBR 5410:1997

ZS.Ia ≤ Uo

SITUAÇÃO 1: Condição de pele normal (úmida), em local com piso e paredes


isolantes ou não.
SITUAÇÃO 2:Condição de pele molhada, em local com piso e paredes não Isolantes.
Esta analise não pode ser mais especifica uma vez que não foi possível obter os
dados reais do transformador.

73
5.2 – Laboratório de Plasma

No laboratório de plasma, localizado no ICC-Sul, foi feita uma inspeção visual das
condições de segurança contra contatos indiretos. Neste laboratório havia um gerador de
plasma, que chamou bastante atenção, devido à maneira como ele estava “aterrado”.

Figura 30 – Foto do aterramento do gerador de plasma

A figura 30 mostra a foto do suposto aterramento; nela se verifica a ligação de um


ponto do gerador, supostamente a carcaça, através de um fio de antena de som que é
conectado ao condutor de proteção. A inspeção seguiu-se, por trás do ICC-Sul, até o ponto
onde este condutor de proteção seria enterrado; neste ponto verificou-se que existia apenas
uma barra de aterramento. O que surpreendeu foi que de todas as salas saiam condutores de
proteção que seguiam para uma barra de aterramento, ou seja, cada sala tem seu aterramento

74
individual, logo o aterramento pode ser TT ou IT, dependendo da maneira como o neutro da
alimentação estiver aterrado.
Em edificações com a dimensão do ICC-Sul jamais se poderia pensar em um
esquema de aterramento onde as massas ficassem isoladamente aterradas. Se houver uma
sobrecarga em qualquer ponto desta edificação a corrente conduzida à terra trará efeitos
danosos a outros pontos causados pela indução eletromagnética gerada. No caso do gerador
de plasma o aterramento existente para escoamento de corrente poderá servir como uma
“fonte de corrente”, colocando assim em risco o seu funcionamento e a segurança das
pessoas que o manuseiam.
Assim a solução para este problema é fazer uma malha de aterramento em volta de
toda a edificação, assegurando que, no caso de sobretensão, não haja diferença de potencial
entre nenhum ponto; desta maneira toda a corrente será drenada para terra sem causar
indução eletromagnética e tampouco colocar em risco as pessoas que trabalham em contato
com quaisquer máquinas.

75
6.0 – SIMULAÇÃO DE UMA FALHA PARA A TERRA E
COMPORTAMENTO DO SISTEMA DE PROTEÇÃO CONTRA
CHOQUE ELÉTRICO

6.1 - Falha para a Terra de uma Fase da Alimentação

O laboratório de instalações elétricas, situado no prédio do SG-11 é utilizado para


experimentos contemplando ligações de lâmpadas, interruptores, tomadas, campainha, relés,
contatores e motores elétricos com tensões de 220V e 380V. Serve às disciplinas de
eletricidade da Engenharia Mecânica e Engenharia Civil e de instalações elétricas da
Engenharia Elétrica. O número de usuários do laboratório é de cerca de 90 alunos por
semestre além dos técnicos , monitores e professores, todos expostos às ligações dos
experimentos com manipulações dos instrumentos de medidas. Neste panorama, evidencia-se
a importância de uma análise relativa às questões de segurança contra choque elétrico e a
eficiência do sistema de proteção já instalado . Para isso procedeu-se a uma simulação de falta
fase-terra na bancada de realização dos experimentos com o intuito de verifica-se a atuação
dos dispositivos de proteção e o conseqüente nível de segurança proporcionado aos usuários
quanto à corrente de fuga normal , uma deficiência ou falta de isolamento em um condutor
energizado com a bancada, ou ainda um contato acidental do aluno com partes energizadas
dos experimentos nas bancadas (ver fig.31) .

Figura 31 – Falta Fase-massa

76
Através de uma análise visual procurou-se identificar o tipo de esquema de
aterramento de um ponto da fonte de alimentação da instalação e as massas dos equipamentos
entre o neutro e o terra existente no laboratório e constatamos o esquema TN-S onde o
condutor neutro e terra são distintos. Neste tipo de configuração o percurso da corrente fase-
massa é de impedância baixa , o que proporciona corrente de valores elevados , suficiente para
ser detectado e interrompido por disjuntores ou fusível .
A análise visual objetivava confirmar se os componentes elétricos ligados
permanentemente à instalação estavam em conformidade com as normas NBR 5410/97 de
instalações elétricas de baixa tensão quanto às medidas contra choques elétricos e de proteção
por seccionamento automático da alimentação contra contatos indiretos e diretos, conforme
itens 5.1, 5.1.3.1, 5.1.2.5, 5.7.2 , 5.8.1.2 e 5.8.1.3 da NBR 5410/97 e itens 10.1.2, 10.2.1.1,
10.2.1.4, 10.2.1.5 e 10.2.1.6 da NR-10 instalações e serviços em eletricidade e sem danos
visíveis , capazes de comprometer seu funcionamento de segurança.
Para constatar a proteção ativa complementar contra contatos diretos e indiretos para
seccionamento automático na alimentação da instalação do esquema de aterramento TN-S
(esquema de aterramento onde o neutro e o terra são separados em condutores distintos em
toda a instalação) do laboratório de instalações elétricas onde o condutor de proteção
desempenha um papel de grande importância foi medida a resistência do condutor de proteção
e verificou-se a sua continuidade . Na verificação da continuidade pode-se ver que entre o
terminal de aterramento principal e o terminal de aterramento da tomada de corrente da
bancada de experimentos do laboratório de instalações elétricas que , de fato o condutor terra
apresentava continuidade ao longo de toda a instalação como ilustrado na figura 32.
Com o intuíto de investigar a qualidade do aterramento medimos com um
multímetro, na escala de tensão, a tensão fase-terra, fase-neutro, terra-neutro e a bancada de
trabalho (massa) do laboratório de instalações elétricas ao terminal de aterramento como
ilustrado na figura 33.
Verificou-se que a tensão entre terra-neutro e o terra com a bancada de trabalho do
laboratório foi muito baixa, o que significa dizer que não há quase diferença de potencial entre

77
eles e o aterramento da instalação está satisfatório . As tensões entre fase-terra e fase-neutro
também foram medidas e foi observado que a tensão fase-terra ficou em torno de 3V, maior
que a tensão fase-neutro, ou seja, há uma pequena tensão no condutor neutro e o terra se
encontra com uma impedância muito baixa comprovando a qualidade do aterramento.

Figura 32 – Teste de continuidade do condutor de aterramento .

O bom aterramento do laboratório de instalações elétricas deve-se ao fato de que o


mesmo está ligado a uma malha de terra com baixa impedância. Esta impedância foi medida
pelos alunos do curso de instalações elétricas do curso Engenharia Elétrica neste semestre e
ficou em torno de 2 ohms.

Figura 33 – Medição da resistência entre o terra-fase, terra-neutro e terra-massa

78
Depois de constatado que o laboratório de instalações elétricas está em um nível bom
de segurança quanto ao risco de choque elétrico realizou-se uma simulação de uma falha fase-
massa da bancada de experimentos para a terra sem o condutor de aterramento conforme
mostrado na figura 34 .

Figura 34 - Equipamento sem condutor terra

Figura 35 – Equipamento com condutor terra.

79
E em seguida com o condutor de aterramento ligado à bancada de experimentos do
laboratório de instalações elétricas simulou-se novamente um falha fase-massa para a terra
conforme figura 35 acima.
Para observar o comportamento dos dispositivos de proteção foi utilizado um kit
previamente montado pelo professor de instalações elétricas constituído por uma lâmpada para
representar a massa energizada e um potenciômetro para simular a impedância do corpo
humano . Feita as devidas ligações do kit e do dispositivo de proteção contra sobrecorrente
(fusível) o condutor energizado foi colocado em contato com a carcaça e verificou-se que a
lâmpada acendeu indicando que a fase estava na massa conforme foto da fig.36.

Figura 36 – Foto de uma falta fasse-massa na bancada de experimentos

Após certificação de que a bancada estava com tensão de 220V, fez-se o contato de um
condutor com a bancada, representando um contato acidental de um aluno com a massa
energizada (ver foto da figura 37). Quase que instantaneamente o dispositivo de proteção

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(fusível) atuou. Demonstra este experimento, que a corrente que circularia por uma pessoa sob
choque elétrico seria muito menor que a que atravessou o dispositivo de proteção. Se não
existisse o condutor de proteção (PE) a corrente do circuito não aumentaria e a proteção
(fusível) não iria desligar o circuito, ou seja, a corrente que circularia pelo corpo seria elevada.

Figura 37 – Foto de um condutor verde em contato com bancada de experimentos

Em seguida, repetiu-se todo o procedimento anterior, porém agora, com auxílio do


dispositivo diferencial-residual (conhecido como DR). O objetivo era verificar a alta
sensibilidade e eficácia, do dispositivo, no seccionamento automático da alimentação dos
circuitos contra contatos indiretos e como medida complementar contra contatos diretos.
Com o condutor fase energizado, foi simulada novamente uma falha para a bancada
de experimentos do laboratório de instalações elétricas sem o condutor terra e sobre calços de
madeira. Nesta situação, a massa ficou flutuando, ou seja, com tensão de 220V em cima dela ,
o que é extremamente perigoso para a segurança dos alunos no laboratório. Depois de

81
constatado que a massa estava sob potencial da fase da alimentação verificou-se que o
dispositivo diferencial-residual (DR) com sensibilidade de 30 miliampéres (mA) instalado na
bancada não disparou , pois não encontrou corrente diferencial-residual, ou seja, não
encontrou corrente de “fuga” nas isolações da bancada e nem para a terra . Se uma pessoa
tocasse a bancada, naquele momento, o DR iria disparar e seccionar o circuito em fração de
segundos.
Posteriormente, fez-se contato com a bancada ao lado através de um condutor ligado
ao DR conforme foto da figura 38, o DR atuou porque detectou uma corrente diferencial-
residual através da alimentação. Foi desconectado o plugue de alimentação, tornando assim,
impossível a circulação de qualquer corrente diferencial-residual, o dispositivo DR não atuou ,
pois a bancada ao lado estava isolada por pés de borracha e no mesmo potencial da bancada
onde estava instalado o DR.
Após realização destas simulações ficou bastante evidente que no laboratório de
instalações elétricas os alunos, técnicos e professores estão sujeitos a sofrerem um choque
elétrico por contato acidental em um condutor energizado ou por contato indireto com a
bancada de experimentos. Apesar do laboratório apresentar um sistema de proteção contra
sobrecorrente e botões de segurança para seccionar a alimentação das bancadas, o nível de
segurança do laboratório deve ser melhorado com a instalação de dispositivos diferenciais-
residuais (DR´s) conforme prevê a norma NBR-5410/97 nos seus itens 5.1.2.5.1 (Qualquer
que seja o esquema de aterramento, devem ser objeto de proteção complementar contra
contatos diretos por dispositivos a corrente diferencial-residual-DR de alta sensibilidade, isto
é, com corrente diferencial-residual igual ou inferior a 30mA) e 5.1.3.1.(O seccionamento
automático da alimentação destina-se a evitar que uma tensão de contato se mantenha por um
tempo que possa resultar em risco de efeito fisiológico perigoso para as pessoas).
Tendo em vista o uso do DR nestas simulações deve-se distinguir o conceito do uso de
DR`s na proteção contra contatos indiretos e na proteção complementar contra contatos
diretos. É importante observar dois aspectos essenciais da proteção contra contatos indiretos
por seccionamento da alimentação.

82
Figura 38 – Foto da simulação com um Dispositivo diferencial-Residual (DR)

Em primeiro lugar a ação protetora se dá automaticamente , no instante da ocorrência


da falha de isolamento, independentemente de haver ou não alguém em contato com a massa
do equipamento cuja isolação veio a falhar; e em segundo lugar se houver uma pessoa em
contato com a massa do equipamento , no momento da falha , a pessoa não será o único
caminho para a corrente de falta, já que a massa do equipamento está presumivelmente
aterrada (ligada ao sistema de condutores de proteção da instalação). Já na proteção
complementar contra contatos diretos, o DR deve ser capaz de oferecer segurança contra
corrente diferencial-residual, que não é detectada pelos dispositivos de sobretensão. Para isto
tem que haver um caminho para a terra desta corrente diferencial-residual, pois o DR para
atuar faz a diferença entre a corrente que o atravessa e a que retorna. Deste modo, se a
diferença for nula ele não atua, caso contrário ele atua. Para que exista um caminho para terra
da corrente diferencial-residual é necessário adoção de medida contra contatos indiretos
relacionada pela norma NBR 5410/97 em seu item 5.1.3.1.1a) (ATERRAMENTO- as massas

83
devem ser ligadas a condutores de proteção nas condições de 5.1.3.1.4 a 5.1.3.1.6 para cada
esquema de aterramento. Massas simultaneamente acessíveis devem ser ligadas à mesma rede
de aterramento-individualmente, por grupos ou coletivamente). Assim, por exemplo, se uma
pessoa que se encontra isolada do potencial da terra tocar simultaneamente duas fases de um
sistema de alimentação, não haverá corrente de fuga para a terra, e, portanto o dispositivo DR
enxergará a pessoa como uma carga qualquer, deixando, portanto, de atuar [21].

6.2- Cálculo da Área da Pele em Contato com a Massa

Sabe-se que os efeitos do choque elétrico serão tanto maiores quanto maiores forem às
superfícies de contato do corpo humano em contato com o condutor e com a terra, a
intensidade da corrente, o percurso da corrente no corpo humano e o tempo de duração do
choque. O organismo humano é mais sensível a corrente alternada de 60 Hz que à corrente
contínua . O corpo humano comporta-se como um condutor complexo, mas numa
simplificação , pode-se modelá-lo como um condutor simples e homogêneo. Suponha,
portanto, que interposto a um circuito energizado sob tensão U, o corpo seja percorrido por
um corrente elétrica i, determinada pela equação 6.1 abaixo;

U
i= (6.1)
R contato1 + R contato2 + R corpo

Onde Rcont.1 e Rcont.2 são resistências de contato do corpo com os condutores ou entre
condutor e terra. Rcorpo é a resistência do corpo à passagem de corrente elétrica. Dependendo
do percurso, isto é , dos pontos de ligação do corpo com as partes energizadas do circuito, a
resistência do corpo humano é da ordem de 15.000 ohms por cm2 de pele e 500 ohms entre as
extremidades (desde a palma da mão à planta do pé) atribuídas por C.F. Dalziel .
Em virtude dos riscos de choque elétrico em um contato acidental de um aluno no
laboratório de instalações elétricas, fez-se um cálculo da corrente a que o mesmo ficará
submetido e uma previsão dos efeitos patofisiológicos, resultantes da intensidade da corrente
pelo tempo de choque segundo a figura 1. Deve-se para isso considerar a área de contato da

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pele das pontas dos dedos ou da palma da mão do aluno, supor que haja uma corrente de fuga
da bancada, que a bancada esteja com os pés isolados e que o aluno que tocou a bancada esteja
calçado com sapatos de borracha . O efeito da corrente elétrica sobre este aluno sob tensão de
220V é medido levando em consideração que a área da palma da mão mede aproximadamente
60 a 80 cm2 e que ele tocou a bancada com uma área de contato da mão de 6 cm2 e as
resistências a considerar são:

• Rmão : 15.000 / 6 cm2 = 2500 ohms/ cm2


• Rcorpo : 500 ohms

Ficando com resistência total de 3000 ohms , ou seja, a corrente é de 73,3 mA,
podendo provocar segundo tabela 34 da IEC-479, sensação insuportável no indivíduo.
Contrações violentas, anoxia, anoxemia, asfixia , perturbações circulatórias graves inclusive
às vezes , fibrilação ventricular. Levando em consideração o valor da corrente com duração de
1 segundo, no gráfico da figura 2, obtém-se um ponto na curva C2 onde há probabilidade de
5% de ocorrer a fibrilação ventricular.
Recomenda-se, assim, que a bancada fique sobre pés metálicos e que sua carcaça seja
aterrada. Se a corrente de fuga se tornar excessiva, o disjuntor termomagnético de proteção
desarmará, o mesmo acontecendo se houver apenas dispositivo diferencial-residual. Se ocorrer
um curto-circuito, o fusível queimará , caso a proteção seja realizada com o auxílio do mesmo.

6.3 - Análise do Comportamento de Proteção dos Equipamentos pela Falha


ou Rompimento dos Condutores Neutro e Terra.

Após ter sido adotado o sistema de aterramento da instalação é importante avaliar a


perda de segurança do equipamento diante do rompimento dos condutores neutro e terra. Dos
esquemas de aterramento TN estudados o esquema de aterramento TN-C é o mais perigoso,
pois ele usa o condutor neutro e terra num mesmo condutor para aterrar as massas dos
equipamentos, ou seja, caso haja a ruptura do neutro instantaneamente o potencial do condutor
fase passa para a massa do equipamento, colocando em risco a segurança humana.

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Já no esquema aterramento IT geralmente a intensidade de corrente não é suficiente
para fazer o dispositivo de proteção contra sobrecorrente atuar, mas representa um perigo para
as pessoas que tocarem na massa energizada, devido as capacitâncias da linha em relação à
terra e à eventual impedância existente entre a alimentação e a terra.
No esquema TT se houver falha no aterramento do neutro ou da massa a proteção não
irá atuar ou demorar muito para atuar colocando em risco qualquer indivíduo que venha toca a
carcaça do equipamento.

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7.0 – CONCLUSÃO

A contribuição, freqüentemente não voluntária, do choque elétrico na fisiologia do


corpo humano apresenta-se como uma das inúmeras interferências do desenvolvimento
tecnológico moderno e desenfreado na qualidade de vida das pessoas, haja vista a
popularização dos equipamentos e quase sempre de facilidade de acesso. O choque, com suas
diversificadas variáveis, torna-se, ainda, de compreensão não-fácil no contexto da vida
cotidiana, para a população em geral.
A procura do porquê o ser humano toma choque elétrico foi saciada ao longo da
pesquisa, eliminando uma curiosidade premente. As atividades biológicas -glandular,
nervosa ou muscular- são originadas de impulsos de corrente elétrica, rigorosamente
controlada quanto aos parâmetros tempo, nível, freqüência e intensidade. Se, eventualmente,
a essa corrente fisiológica for acrescentada uma outra corrente externa, devido a um contato
elétrico, por exemplo, ocorrerão no organismo humano alterações das funções vitais normais,
configurando o choque elétrico, com as conseqüências diversas, conforme explanadas na
fundamentação teórica.
Procurou-se, na parte biológica da pesquisa, aventar-se por compreender o
funcionamento do coração e seu ciclo vulnerável aos danos do choque, que varia para cada
ser, com respeito às chances de fibrilação.
Curioso, ainda nessa pesquisa, como fonte de inquirição, a tentativa de
compreender-se a determinação da corrente que, efetivamente, contribui para o choque. O
valor mínimo de corrente capaz de dar início a fibrilação é de difícil mensuração, uma vez
que a corrente que realmente causa a fibrilação (Io) é apenas uma fração da corrente que
circula pelo corpo humano (I). Como apenas I é mensurável, a relação Io / I não é constante,
variando de pessoa para pessoa e numa mesma pessoa dependente do trajeto no corpo, no
momento do choque.
A importância da proteção contra choques elétricos sobressaiu-se como um dos meios
de prevenção contra choque elétrico e sua relação com as formas de contato, dando origem a
diferenças de potenciais.

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Lembrou, a pesquisa, a relevância das medidas de proteção por seccionamento
automático da alimentação complementar com o uso de dispositivos DR, em cumprimento a
normas de segurança.
Pelas simulações efetuadas no laboratório, observou-se como a corrente de fuga de
um circuito pode não ser suficiente para atuar um dispositivo, sendo, porém, suficiente o
bastante para provocar fibrilação, confrontando-se os resultados com a literatura consultada.
Na maioria dos projetos de instalação elétrica não mostra ter relevância no quesito
segurança, a competência das pessoas, conforme detalhada na tabela 8, página 42, que leva
em conta a capacidade física, conhecimento técnico e experiência com serviços elétricos.
Conclui-se por todo o estudo que não ser simples avaliar as condições de uma
instalação no tocante à segurança contra choques elétricos. Dos ambientes avaliados,
percebe-se claramente situação de risco ao choque nas atividades acadêmicas corriqueiras,
entre as quais citam-se, com maior intensidade:

• Ausência de manutenção, reforma e ampliação nas instalações e serviços de


eletricidade, situação não condizente com a Norma Regulamentadora que trata de
Instalações e Serviços em Eletricidade (NR-10), relembrando, no item 10.1.2: Nas
instalações e serviços em eletricidade, devem ser observadas no projeto, execução,
operação, manutenção, reforma e ampliação, as normas técnicas oficiais estabelecidas
pelos órgãos competentes e, na falta destas, as normas internacionais vigentes.
• Os pára-raios de linha, proteção do transformador, que alimenta o galpão do SG-09
não se encontra devidamente aterrados na malha externa e sim via neutro interligado
no quadro geral de baixa tensão do galpão.
• Os esquemas de aterramento encontrados não são indicados para devidas instalações,
tais como, esquema TN-C em locais com riscos de incêndio, aterramentos
independentes, através de uma única haste em grandes edificações e aterramento
“virtual”, através de condutores inapropriados para circuitos de potência.
• Falta de aterramento dos equipamentos com carcaça metálica, não correspondendo ao
que prescreve a NR-10, no seu item 10.2.1.4: Toda instalação ou peça condutora que
não faça parte dos circuitos elétricos, mas que, eventualmente, possa ficar sob tensão,
deve ser aterrada, desde que seja em local acessível a contatos.

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Pontos de riscos conjugados com inúmeros desvios de procedimentos aceitos,
equivocadamente, como seguros, foram observados, concluindo-se pela necessidade de
providências a serem implementadas a curto e a médio prazo, citando-se:

• Reforma e manutenção de antigas instalações, com visíveis necessidades de


substituição de componentes;
• Aterramento do neutro do transformador na origem da instalação, em malhas de terra
existente;
• Transformação de esquema de aterramento TN-C em TN-S, separando o neutro do
terra, no quadro geral, possuidor que é de barramento de neutro e terra independentes,
no Galpão SG-09;
• Reestudo do sistema de aterramento por hastes individuais existentes no prédio o ICC,
criando-se, através de projetos adequados, malhas de terra para toda a edificação, com
barramentos de equipotencialização.

Ressalta-se, pelo exposto, a grande oportunidade de enriquecimento de cunho prático


e teórico obtido durante as pesquisas e ensaios para execução desse trabalho. Deseja-se
ainda, que esse se torne um ponto para decolagem de novas pesquisas, implementação e
aprofundamento do aqui já levantado preliminarmente.
Deseja-se, portanto, que essa monografia sirva como referência para o meio técnico-
profissional e acadêmico, em futuras e complementares pesquisas nas áreas de segurança
em atividades com a energia elétrica, ampliando-se, dentro dos enfoques traçados, para as
pequenas e médias indústrias e as residências, carentes que são dessas informações
técnicas.

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8.0 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Fundacentro , 1980.
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Aspects , Publication 479-1.International Electrotechnical Comission, 1994.
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de normas Técnicas ,1997.
[4] COTRIM, Ademaro A.M.B. Instalações Elétricas, São Paulo: Editora Prentice Hall, 4ª
edição, 2003.
[5] NISKIER, Julio A.J.M. Instalações Elétricas, Rio de Janeiro: Editora LTC, 4’ ediç
[6] KINDERMANN, Geraldo. Curto-Circuito. Porto Alegre: Editora Sagra DC Luzzato, 2ª
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[7] BIZARRIA, F.C.P. Esquema de Aterramento Híbrido.Universidade de São Paulo, 1999
[8] Corpo de Bombeiros de São Paulo.
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edição, 2000.
[10] MAMEDE, João F. Instalações Elétricas Industriais. Rio de Janeiro : Editora LTC –
Livros Técnicos e Científicos S.A, 6ª edição, 2002.
[11] KINDERMANN, Geraldo. Descargas Atmósféricas . Porto Alegre: Editora Sagra DC
Luzzato, 2ª edição, 1997.
[12] KINDERMANN, Geraldo. Aterramento Elétrico. Porto Alegre: Editora Sagra DC
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[13] KINDERMANN, Geraldo. Proteção de Sistema Elétricos de Potência. Porto Alegre:
Editora Sagra DC Luzzato, 1ª edição, 1999.
[14] Bticino/Pirelli . “Proteção das pessoas contra choques elétricos” , São Paulo , 1989.
[15] IEC 479-2 , Effects of current passing through the human body – Part 2 : Special
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[16] NBR 6533 – Estabelecimento de Segurança aos efeitos da corrente Elétrica
percorrendo o Corpo Humano. ABNT, mar./1981.

90
[17] ANSI/IEEE Std 80-1986, “Guide for safety in Alternating Current Substation
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[18] NR-10 - Instalações e Serviços em Eletricidade. Manual de Segurança e Medicina
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[19] C.F. DALZIEL . Effects of Eletric Shock on Man. Eletrical Engineering, vol. 60 ,pp
63-66, feb. 1971.
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[24] G. Biegelmeier , The Eletric impedance of the Human Body, RGE vol.11,pp.817-
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91

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