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Questão que faz o Irmão Perílio Barbosa Leite da Silva, Aprendiz Maçom, Obreiro da Loja Arte
e Virtude, 4.376, REAA.´., GOB-MG, Oriente de Lajinha, Estado de Minas Gerais.
perilio.adv@gmail.com
Praticamos o R.´.E.´.A.´.A.´., e no ritual datado de 2009 diz que o Irmão Segundo Vigilante é o
responsável pela orientação dos Aprendizes, entretanto, em uma breve pesquisa, pude
verificar que antes o Irmão Segundo Vigilante era responsável pela orientação dos
Companheiros. Poderia me dizer se realmente ocorreu essa mudança. Se sim, poderia me
explicar à razão de tal mudança?
CONSIDERAÇÕES.
Na verdade não houve mudanças, todavia uma volta à tradição que envolve muitos anos da
história. Nesse sentido, segue o texto abaixo que dei como resposta em outra ocasião, pelo
que espero lhe seja útil e possa auxiliá-lo no entendimento do fato, inclusive o escrito aborda
práticas
da Iniciação onde pode parecer que aparentemente haja existência de contradição.
A pergunta na ocasião:
Em nosso ritual (REAA), na página 18 informa que o Primeiro Vigilante é responsável pela
instrução e orientação dos Companheiros, e o Segundo Vigilante a dos Aprendizes.
Primeira pergunta: por que então que na iniciação o Venerável manda o Aprendiz ir até o
Primeiro Vigilante e pede que ele o ensine a trabalhar na Pedra Bruta?
Tenho o Instrucional Maçônico do GOB edição 1996 (Tito Alves), e na pág. 22 (2.8
aprendizagem), ele fala que o responsável pela instrução dos Aprendizes é o Primeiro
Vigilante.
Em síntese, pelo aspecto tradicional, no passado operativo, quando não existiam ritos, era o 2°
Vigilante que recebia o candidato, instruía-o nos procedimentos e o encaminhava para o 1°
Vigilante para que esse procedesse a uma oração em favor do iniciando.
Posteriormente o Mestre da Loja trazia o Livro da Lei e, auxiliado pelo 2° Vigilante, fazia com
que o candidato se ajoelhasse para prestar a obrigação, receber a Luz, assim como as
vestimentas de ofício que consistiam em um avental de pele e um par de luvas para trabalhar
no desbaste da pedra.
Guardando essa tradição, o Rito Escocês Antigo e Aceito revive essas reminiscências
conservando o 2° Vigilante na instrução dos Aprendizes e do 1° na dos Companheiros,
mantendo tradicionalmente o 2° Vigilante na Coluna do Sul e o 1° na Coluna do Norte, fato que
não implica em qualquer desordem já que quem dirige à Loja, portanto todos os Obreiros
presentes é o Venerável Mestre, auxiliado pelos Vigilantes.
Com o surgimento dos Ritos a partir do século XVIII, não raras vezes estes acabariam por
assumir feitios próprios urdidos de costumes e conceitos regionais e que daria origem a dois
formatos distintos de práticas litúrgicas e ritualísticas.
Uma de vertente inglesa e outra de ilharga francesa. Além desses propósitos apareceriam as
“revelações”, ou “obras espúrias” que delatavam os trabalhos maçônicos daquela época.
No intuito de enfrentar esses acontecimentos, houve por parte do grupo intitulado como
“modernos” a tentativa de se inverter palavras de passe, sinais, colunas, etc., para confundir os
delatores.
Isso até prevaleceu na Inglaterra o que geraria as escaramuças entre os “modernos” (da
Primeira Grande Loja – 1.717) e os rotulados como “antigos” (Segunda Grande Loja – 1.751).
Da união dessas duas Grandes Lojas em 1.813 resultaria a Grande Loja Unida da Inglaterra
acomodando a maioria das antigas tradições e costumes.
No Rito Escocês Antigo e Aceito que embora de origem francesa não aderisse esse costume,
conservou-se no formato antigo (daí o nome “antigo” incluso no seu título), prevalecendo assim
as Colunas dispostas na forma inglesa antiga, palavras sagradas conforme a tradição, 1°
Vigilante no Norte e o 2° no Sul, etc. (na Europa o Rito Escocês é mais conhecido como Rito
Antigo e Aceito).
Para reforçar a tese, há que se notar quem ensina ao Aprendiz a Marcha do Grau é também o
Mestre de Cerimônias.
A rigor, assim também deveria exarar o ritual do Grau de Companheiro quando da cerimônia
de Elevação, pois também tradicionalmente é o Mestre de Cerimônias que ensina a Marcha do
Grau ao Companheiro e não o 2° Vigilante.
Um fato importante também a ser considerado e que corrobora com esse arrazoado é que o
Venerável durante a Iniciação e Elevação tem como seu auxiliar imediato para ensinar os
segredos do Grau o Mestre de Cerimônias e, em raras vezes, o Experto.
Já os Vigilantes normalmente conferem o que fora ensinado para dar o devido reconhecimento.
É bem verdade que os rituais não esclarecem esses fatos e se enforquilham em instruções e
procedimentos que resultam às vezes mais em dúvida do que esclarecimento.
Antes de finalizar esse tópico, seguem outros aspectos importantes que, antes de se emitir
uma opinião laudatória, deve ser levada em consideração:
a) Na antiga tradição e nos arremedos dos primeiros catecismos que dariam origem aos rituais,
a Pedra Bruta era colocada da Coluna do Sul junto ao 2° Vigilante;
f) Ao longo dos tempos as instruções inseridas nos rituais têm sido acompanhadas de enxertos
oriundos dos dois principais sistemas doutrinários (inglês e francês). No caso do Rito Escocês
que é de origem francesa, não raras vezes encontramos doutrinas hauridas das Lições
Prestonianas da Tábua de Delinear Inglesa (Tracing Board). Exemplo: a alegoria das Colunas
Jônica, Dórica e Coríntia; visualização do Volume da Lei Sagrada, do Esquadro e do
Compasso no instante do “Fiat Lux”; a alegoria da Escada de Jacó; virtudes teologais, etc.
Embora essas situações possam até parecer sem importância elas são inquestionavelmente
conflitantes no tocante às suas explicações, como é o caso de quem ministra instrução para os
Aprendizes e Companheiros.
Finalizando esse tópico, a referência feita ao Livro da Lei no primeiro parágrafo dessas
considerações na época da Maçonaria Operativa, a Bíblia sob a influência da Igreja aparecia
nas Guildas dos Construtores Medievais.
Nesse sentido antes da reforma protestante os exemplares dos Livros Sagrados ficavam sob a
tutela da Igreja. Também é motivo de consideração o fato de que não existia imprensa e os
textos eram escritos à mão sobre um papel de gramatura grosseira, o que impunha à Bíblia um
volume bastante avantajado e incômodo, inclusive para o seu manuseio e transporte.
É por esse feitio que o uso do Livro Santo era partilhado (bíblia é um conjunto de livros) e, no
caso das confrarias de construtores que usualmente se reuniam nos períodos solsticiais,
destacava-se apenas o Evangelho de São João, relativo ao solstício de verão no hemisfério
Norte, o que seria um dos motivos de se rotular mais tarde as Oficinas como as Lojas de São
João.