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Processamento e formação microestrutural do aço TRIP


Pedro Henrique Teixeira da Silva
(phtsilva@hotmail.com)

Prof. Me. Paulo Sérgio Martins


Prof. Dr. Alysson Martins
Centro Universitário UNA
Coordenação de curso de Engenharia Mecânica

Resumo – Neste trabalho realizou-se o estudo apresentam propriedades que podem atender a demanda do
bibliográfico do processamento e formação do aço TRIP, setor. Por esse motivo, foram usados na construção de
classificado também como aço AHSS. O objetivo do carrocerias durante a década de 90. Hoje, com o avanço da
seguinte trabalho foi demostrar o processo de fabricação tecnologia, os aços HSS se tornaram obsoletos abrindo espaço
utilizado por indústrias metalúrgicas na obtenção do aço para novos materiais capazes de apresentar uma admirável
TRIP, além de realizar um estudo sobre a formação das combinação entre conformabilidade, resistência, ductilidade e
fases presentes na sua microestrutura. O aço TRIP encruamento. Esses materiais são classificados como aços
apresenta características que podem ser aplicadas no setor avançados de alta resistência (Advanced High Strength Steels
automotivo, dito isso foi realizado um comparativo deste – AHSS).
aço com os demais materiais aplicados no setor, No convívio dos aços AHSS apresenta-se os aços com efeito
apresentando as suas vantagens assim como as de transformação induzida por deformação conhecidos como
desvantagens do seu uso. TRIP (Transformation Induced Plasticity – TRIP). Este aço
apresenta uma microestrutura multifásica contendo ferrita,
Palavras-chaves  aço TRIP, automobilístico, fabricação bainita, martensita e austenita retida. Quando esse material
microestrutura, materiais. sofre deformação a austenita retida, metaestável em
1. INTRODUÇÃO temperatura ambiente, transforma-se em martensita,
Nas últimas décadas a indústria automobilística vem aumentando consideravelmente a sua resistência mecânica. [2]
investindo na produção de novos aços, visando à redução da O uso do aço TRIP na construção de carrocerias veiculares
emissão de gases poluentes, além da redução do consumo de atende os requisitos necessários para o uso do material no setor
combustível, sem afetar a segurança e o conforto dos usuários. automobilístico, porém este apresenta algumas desvantagens
O material proposto deve apresentar maior leveza, e alta como alto custo de produção e a dificuldade de se estabelecer
resistência ao impacto. uma boa similitude entre propriedades mecânicas e a
O programa ULSAB (Ultra Light Steel Auto Body – microestrutura final no aço.
Carroceria Automotiva Ultra Leve em Aço) tem focado, ao Recentemente, vários processos têm sido utilizados na
longo dos anos, no desenvolvimento de novos aços para o setor obtenção do aço TRIP onde se destacam os processos de
automobilísticos. O programa foi desenvolvido por 38 laminação, a quente e /ou a frio, seguido de um tratamento
siderúrgicas em 18 países, incluindo o Brasil com a Usiminas. térmico de recozimento.
[1] Este trabalho tem como objetivo descrever o processo de
Entre esses materiais estão presentes os aços de alta fabricação do aço TRIP, apresentando suas vantagens assim
resistência HSS (High Strength Steels - HSS) que por sua vez
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como as desvantagens do uso desse material no setor realizar testes de aceitação (como, por exemplo, ensaios de
automobilístico. tração) cujo objetivo é controlar certas propriedades além de
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA adequar o material para a aplicação desejada. No entanto,
2.1. CLASSIFICAÇÕES E SELEÇÃO DOS AÇOS selecionar e preparar o material para uma dada aplicação não
O aço é uma liga metálica constituída de ferro e uma é apenas uma tarefa complexa como também com alto valor
porcentagem de carbono, variando de 0,008% a 2,11% em agregado. É recomendável ter contato com o fornecedor, antes
peso. A porcentagem de carbono deve ser controlada, pois o de estabelecer o tipo de aço para a aplicação, com o intuito de
seu excesso pode afetar consideravelmente as propriedades do definir o que se espera do material a ser produzido, fornecendo
material. [3] uma opinião sobre o uso do material selecionado pelo
As ligas de aço apresentam uma ampla variedade de projetista, além de prover garantias sobre propriedades ou
propriedades, desde ligas de alta plasticidade usadas para características. [4]
estampagem, até ligas com extrema dureza usadas para
ferramentas de corte. Um fator que auxilia nas mudanças de 2.2. AÇOS AUTOMOBILÍSTICOS
propriedades dos aços é a alotropia do ferro, onde a estrutura Quando se fala de aços destinados ao setor automobilístico
cristalina é função da temperatura. Na figura 1 pode-se os mesmo devem apresentar uma boa combinação entre
observar que ao ser aquecido o ferro sólido muda a sua resistência mecânica e capacidade de conformação. Para a
estrutura de Cúbica de Corpo Centrado (CCC), para Cúbica de construção de carrocerias, o material selecionado deve
Face Centrada (CFC) a 912°C, em seguida a 1392 oC sua apresentar leveza para reduzir o consumo de combustíveis e
estrutura retorna para Cúbica de Corpo Centrado (CCC). [3] consequente redução na emissão de gases poluentes, mas sem
comprometer a segurança e o conforto dos usuários. Em vista
disso utiliza-se de aços especiais de alta resistência. [5]
Materiais alternativos como: alumínio, magnésio e
polímeros podem ser mais leves, entretanto a energia
necessária para produzi-los libera 20 vezes mais gases
poluentes que contribuem para o efeito estufa. Aços
convencionais como IF (interstitial-free) e isotrópicos IS
(isotropic) foram usados para a construção de carrocerias,
devido a sua alta resistência, porém não foram tão efetivos a
ponto de reduzir o peso do veículo. A solução se deu através
Figura 1 – mudança microestrutural do aço conforme aumento de
do programa ULSAB, onde foram apresentados os primeiros
temperatura. Fonte [2]
aços de alta resistência HSS, a introdução desses aços no setor
automobilístico se deu com os aços: BH (Bake-Hardenable),
A alotropia do ferro apenas auxilia nas mudanças de
alta resistência baixa liga HSLA (High Strength Low Alloy) e
propriedades dos aços. As possíveis combinações
carbono–manganês CMn (Carbon-Manganese). No entanto
microestruturais e a adição de elementos de liga são fatores
sua alta resistência comprometia a capacidade de conformação
essenciais que iram atribuir ou melhorar as características dos
do aço. Anos depois surgiram os aços avançados de alta
aços. [4]
resistência conhecidos como AHSS. Estes aços são capazes de
O processo de seleção de material é uma tarefa complicada,
apresentar uma alta resistência e uma boa conformação, além
onde inicialmente o projetista deve pré-selecionar o material,
de reduzirem significativamente o peso do veículo. Em virtude
optando por aquele que apresenta melhor combinação de
da sua boa combinação de propriedades os aços AHSS ainda
propriedades e processo de fabricação. Em seguida deve-se
são usados para a construção de carrocerias. [6]
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A figura 2 apresenta um comparativo do alongamento total (Martensite steel), aços com maclação induzida por
entre os aços utilizados no setor automotivo. Os aços plasticidade TWIP (Twinning Induced Plasticity) e os mais
convencionais estão representados de cinza escuros, os aços comuns usados na indústria automobilística para fabricação de
HSS de cinza claro e os aços AHSS de em cores. [7] carrocerias: aços bifásicos DP (Dual Phase) e aços TRIP. [8]
Quando comparados com os primeiros aços de alta
resistência HSS a principal diferença está na microestrutura,
enquanto os aços AHSS apresentam uma microestrutura
multifásica os aços HSS estão limitados a uma microestrutura
de fase única contendo ferrita. Essa diferença microestrutural
afeta significativamente as suas propriedades mecânicas, o
limite de escoamento dos aços HSS atinge valores de 210 e
550 MPa e limite de resistência entre 270 e 700 Mpa. Os aços
AHSS podem facilmente ultrapassar esses valores. [9]

Figura 2 – Comparativo do alongamento total dos aços de


baixa resistência, HSS, e AHSS. Fonte [4]. 2.3. AÇO TRIP
Em 1967 o pesquisador Zackay desenvolveu o chamado aço

2.2.2. AÇOS AVANÇADOS DE ALTA RESISTÊNCIA (AHSS) com transformação induzida por plasticidade, ou efeito TRIP.

Em 1973 o mundo passou pela primeira crise do petróleo, o O desenvolvimento desse aço se deu através de ensaio de

que durou até 1985, tempo suficiente para o mundo perceber a tração, onde durante o processo de alongamento a austenita,

limitação deste recurso. A escassez do petróleo gerou um cuja estrutura cristalina é CFC, se transforma continuamente,

aumento absurdo do combustível na época, o que resultou na na temperatura ambiente, em martensita TCC (Tetragonal de

restrição de seu consumo. Visto como isso afetou a indústria Corpo Centrado). Anos depois, na década de 1980, outro

automobilística obrigou-se a remodelar o design do automóvel pesquisador chamado Matsumura mostrou que era possível

da época, reduzindo o seu tamanho e utilizando materiais mais empregar o conceito TRIP para aumentar a ductilidade de

leves o que resultaria na redução do peso do veículo, o maior chapas de baixo C, aplicando recozimento contínuo para

causador do consumo de combustível, e na emissão de gases apresentar uma quantidade de até 20% de austenita retida em

poluentes. A resposta das siderúrgicas, para a utilização de um sua composição. O desafio de Matsumura foi conseguir

material mais leve, foi a criação dos aços avançados de alta estabilizar, em temperatura ambiente, uma quantidade

resistência AHSS. [8] considerável de austenita que conceda elevar

Os aços AHSS constituem de uma microestrutura significativamente o alongamento do material. Isso foi

multifásica contendo ferrita, martensita, bainita e austenita possível através de um ciclo de resfriamento, o que permitiu a

retida. A adição de elementos de liga e o processo de sua permanência dentro da fase bainítica, proporcionando

fabricação utilizado permitem combinar essas microestruturas, maior enriquecimento de carbono a austenita residual e

assim também alterar a fração volumétrica das mesmas estabilizando-a em temperatura ambiente. [10]

resultando na transformação da austenita retida em martensita. Na atualidade o termo “aços TRIP” é usado para nomear

Essa mudança da microestrutura aprimora a resistência do aços que apresentam uma microestrutura multifásica

material reduzindo então a quantidade de material usado, contendo: uma matriz ferrita, uma fase bainita e uma

resultando em estruturas mais leves e mais tenaz. [8] martensita e certa quantidade de austenita retida. A

Os principais membros do grupo dos AHSS são: aços de microestrutura de um aço TRIP pode ser observada na figura

fase complexa CP (Complex Phase), aços martensíticos MS 3. A quantidade, a organização e as propriedades de cada fase
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são controladas pela composição química e pelo tratamento O principal elemento de liga deste material é o carbono (C),
térmico aplicado sobre a liga. [11] ele a afeta todas as transformações de fase do aço tendo
influência direta na formação microestrutura final e controle
das propriedades mecânicas, além de ser o principal elemento
estabilizador da austenita. O teor de carbono limita-se a 0,25%,
pois o seu excesso pode afetar na estabilidade da austenita
transformando a mesma em martensita, afetando assim, suas
propriedades mecânicas. [13]
O manganês (Mn) é responsável por aumentar a
solubilidade do carbono na austenita, acarretando em um
adicional acréscimo na resistência do material. Este também
desacelera a formação de perlita resultando no aumento da
temperabilidade do aço. O manganês também atua como
Figura 3 – Microestrutura típica de um aço TRIP. Fonte
estabilizante da austenita. Por se tratar de um elemento de alto
[11]
valor a porcentagem de manganês na composição do aço TRIP
deve variar de 1,5% a 2,5%. O seu uso excessivo eleva a
Em comparação com os aços convencionais e os aços HSS
cotação do material tornando inutilizável na indústria
o aço TRIP apresenta melhor relação entre resistência e
automobilística. [13]
ductilidade, isso é resultante de sua microestrutura multifásica.
O silício (Si) auxilia na estabilidade da austenita retida
Quando o material sofre deformação, a austenita se transforma
evitando a atuação do carbono na formação de carbonetos na
em martensita proporcionando um aumento da ductilidade na
fase bainita. O silício também é pouco solúvel na cementita,
direção da tensão, causando o chamado efeito TRIP. [11]
contendo a sua precipitação durante a formação da bainita. A
O aço TRIP apresenta grande potencial para ser aplicado na
porcentagem de silício no aço TRIP deve ser controlada,
indústria automobilística, pois ele apresenta uma boa
adicionando 1,5% no material, entretanto o uso deste elemento
combinação de alta resistência e conformabilidade. Sua alta
pode comprometer no acabamento superficial do material. [14]
resistência é aplicada para a construção de carrocerias, onde o
O alumínio (Al) está presente para substituir o silício,
material para a sua confecção deve apresentar uma boa
motivo pelo qual não irá deteriorar o acabamento superficial.
tenacidade, além de ser capaz de reduzir o peso do veículo.
O alumínio apresenta as mesmas habilidades que o silício,
Outra característica é a sua boa conformabilidade que favorece
porém, age de forma mais fraca reprimindo a formação de
o seu uso para conformação de peças para estampagem
carbonetos na fase bainita. [14]
profunda. [12]
O fósforo (P) é usado para aumentar os efeitos do silício e
do alumínio, uma vez que as quantidades destes precisam ser
2.3.1. INFLUÊNCIA DE ELEMENTOS DE LIGA
limitadas. Uma porcentagem menor que 0,1% é suficiente para
Os elementos de liga têm importantes influencia na
aumentar a resistência mecânica do aço TRIP, e retardar a
formação do material. Através deles podemos compreender o
formação de carbonetos. No entanto se este elemento for
desenvolvimento microestrutural e ter controle sobre as
adicionado em excesso à ductilidade do material estará
transformações de fase. Na composição do aço TRIP estão
comprometida, pois resultara no afastamento dos contornos de
presentes elementos de liga como o carbono (C), silício (Si),
grãos prejudicando as propriedades mecânicas do material.
manganês (Mn), alumínio (Al) e o fósforo (P), outros
[14]
elementos como o nióbio (Nb) e o titânio (Ti) são adicionados
a sua composição. [13]
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O nióbio (Nb) ou titânio (Ti) são adicionados apenas para


aprimorar as propriedades do material, visto que são elementos
químicos de alto valor. Outros elementos químicos como o
cromo (Cr) e o níquel (Ni) também podem ser usados para
estabilizar a austenita, porém são de alto custo e a sua adição
pode comprometer o valor final do material. [3]

2.3.2. CLASSIFICAÇÃO
Referente a composição, os aços TRIP são classificados
como: TRIP-H ou aços TRIP de alta liga e TRIP-L ou aços
TRIP de baixa liga. Os aços TRIP-H contem numerosas
Figura 4 – Comparação dos valores de encruamento “n” para
adições de cobre (Cr), níquel (Ni), e manganês (Mn) elementos
os aços Bifásicos, TRIP e ARBL. Fonte [1]
que por sua vez estabilizam a austenita, porém de alto valor.
Logo, o uso da liga não seria viável no setor automobilístico.
Observando a figura 4 pode-se observar tambem que além
Os aços TRIP-L são empregados no setor automobilístico, em
do aço TRIP o aço bifásico apresentou uma taxa de
razão que estes apresentam uma menor porcentagem de
encruamento bastante considerável. Esse fato é comprovado
elementos estabilizadores de austenita.[11] [15]
devido a adição de uma segunda ou terceira faze na
microestrutura, seja ela bainita ou martensita, que
2.3.3. CARACTERÍSTICAS MECÂNICAS
proporcionara melhores propriedades mecânicas.
A formação microestrutural está diretamente relacionada
Em comparação com outros aços multifasicos AHSS usados
com as propriedades mecânicas dos materiais. Para o aço TRIP
no setor automobilístico, como por exemplo, o Dual Phase, o
suas características mecânicas são determinadas pela formação
aço TRIP apresenta a melhor combinação de resistência e
da austenita retida, esta que por sua vez em temperatura
deformação, motivo pelo qual segundo Ferrer se dá pelo
ambiente irá se transformar em martensita quando o material
volume da austenita retida transformada em martensita durante
sofrer deformação. Além da transformação da austenita outros
a deformação. Na figura 5 é possível observar esses valores
fatores como a quantidade, a estabilidade e o tamanho de cada
graficamente para o aço TRIP, ARBL e bifásico (Dual Phase).
grão afetam diretamente nas propriedades mecânicas do aço
[3]
TRIP. Esses fatores, ao serem manuseados cuidadosamente,
podem proporcionar ao material uma resistência de 600 a 800
MPa, como também pode atribuir outras propriedades
requisitadas para o seu uso no setor automobilístico. [1]
Relacionando os valores de encruamento do aço TRIP com
o aço de alta resistência e baixa liga ARBL, este que por sua
vez é um aço HSS, o aço TRIP apresenta uma taxa de
encruamento maior o que resulta em uma maior absorção de
energia através do impacto. Isso é resultante devido à
formação das discordâncias originadas pela formação da
martensita na ferrita. Esses valores podem ser observados na
Figura 5 – Curva tensão deformação para os aços TRIP,
figura 4 onde se tem o comparativo entre o aço TRIP, os aços
Bifásico e ARBL. Fonte [1]
bifásicos (Dual Phase), e ARBL. [12]
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O aumento da fração volumétrica de uma segunda ou determinado tempo (tICA). Novamente o aço passa por outra
terceira fase na microestrutura, podem proporcionar maiores taxa de resfriamento até atingir a temperatura entre 300° e
valores de resistência mecânica para o material. Isso é também 500°C (TIBT), nessa faixa de temperatura irá acontecer a
é observado na figura 5, onde para o aço TRIP a austenita formação isotérmica da bainita. O material permanecera nessa
retida se transforma em martensita, após sofres deformação temperatura durante o tempo tIBT, para a formação da
plástica em temperatura ambiente, resultando em maiores austenita retida com alto teor de carbono. Nesse espaço de
valores de deformação e resistência. tempo é esperado que uma parte da austenita se transforme em
Conforme esclarecido no começo deste tópico, o correto ferrita.
manuseio da austenita retida proporcionara ao aço TRIP A figura 7 mostra o esquema de resfriamento proposto para
notáveis características mecânicas, no entanto no setor o aço TRIP e Dual Phase.
automotivo a porcentagem de austenita retida desejável em um
aço TRIP está na faixa de 5% a 20%. A quantidade excessiva
dessa fase afeta a conformabilidade a frio do material. [1]

3. MÉTODO EXPERIMENTAL
Atualmente existem dois processos diferentes para a
obtenção do aço: laminação a quente, ou laminação a frio
seguido de um recozimento intercritico.

3.1. LAMINAÇÃO A QUENTE


Figura 7 – esquema de resfriamento após a laminação a
A figura 6 apresenta o diagrama tempo x temperatura do aço
quente para aços TRIP e Dual Phase (DP). Fonte [8]
TRIP laminado a quente.

Pela análise da figura 7 observa-se que o processo de


laminação é idêntico para ambos os aços a diferença está na
taxa de resfriamento. Para o aço Dual Phase o resfriamento
deve ser controlado, para obter-se a transformação de 85% da
austenita em ferrita e ao mesmo tempo possibilitar a formação
da martensita, além de evitar a formação da bainita e perlita.
No aço TRIP a taxa de resfriamento e mais baixa ainda, pois a
adição de elementos de liga possibilita o atraso da formação da
Figura 6 – diagrama tempo x temperatura para laminação a ferrita. Entretanto para o aço TRIP é necessário realizar um
quente do aço TRIP. Fonte [9] bobinamento na faixa de formação da bainita, para atingir uma
porcentagem de 25 a 40% de bainita e 5 a 15% de austenita
O processo se inicia com o aquecimento das placas de aço retida. A austenita retida torna-se metaestável devido ao
até a temperatura de austenitização (T), onde são mantidas enriquecimento de carbono restante da transformação ferritica.
nessa temperatura por tempo suficiente para que ocorra a sua [14]
homogenização. Prontamente o material passa por laminação
grosseira, seguido de resfriamento controlado até a 3.2. LAMINAÇÃO A FRIO
temperatura intercrítica (TICA), onde A1 < TICA < A3, o Antes de iniciar o processo de laminação a frio o aço TRIP
material é preservado nessa temperatura durante um deve apresentar alta resistência mecânica e uma microestrutura
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constituída de ferrita e perlita. Segundo Kantoviscki, essa


microestrutura origina-se da aplicação de bobinamento em
uma temperatura muito alta na faixa de 700°C. [15]
Após a laminação a frio o material passa por um tratamento
térmico, para homogeneização da microestrutura.

3.2.1. TRATAMENTOS TÉRMICOS


O recozimento intercrítico consiste de um tratamento
térmico com a finalidade de refinar a microestrutura presente
em aços. Figura 9 – esquema de formação de fases do aço TRIP,
Para o aço TRIP, o tratamento se inicia após laminação a aplicado para o recozimento intercritico. [5]
frio, onde sua microestrutura é constituída apenas de ferrita e
perlita. Continuando a análise da figura 9, observa-se que a
A figura 8 ilustra o diagrama aplicado de tratamento térmico formação da bainita é incompleta, devido a presença de silicio
do aço TRIP após laminação a frio. Pode-se observa que o como elemento de liga, fazendo com que a austenita presente
tratamento tem início com o recozimento intercrítico do na fase torne-se retida e enriquecida de carbono.
material em temperaturas entre 780 e 880°C (Ac1 < T1< Ac3). A parte final do tratamento é seguida de um resfriamento ao
No decorrer do recozimento tem-se a formação da austenita. ar ate o início da formação da martensita. Se a taxa de
resfriamento for muito baixa, a fração de austenita retida
diminuira acarretando no aumento da formação da perlita e
ferrita. Do contrário se o resfriamento for muito alto não
ocorrerará formação da austenita.

3.2.1.2. INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DURANTE TRATAMENTO


TÉRMICO

Na figura 10, é observado a formação microestrutural de


cada fase durante o tratamento térmico do aço TRIP.
Figura 8 – diagrama de recozimento intercritico para o aço
TRIP. Fonte [5]

Ao final do recozimento tem-se uma microestrutura


constituída de 50 a 70% de ferrita, 30 a 50% de austenita e um
pequeno aumento de carbono na austenita na fração de 0,3 a
0,4%.
Na figura 9, observa-se que após o recozimento intecritico
aplica-se um resfriamento rápido até o começo da formação da
fase bainitica o que acontece em torno de 400°C. Esse
Figura 10 – formação microestrutural do aço TRIP durante o
resfriamento é vital para evitar o avanço das fases ferrita e a
tratamento térmico, onde: A= austenita; B=bainita; F=ferrita;
formação da perlita, além de diminuir em tamanho as
M=martensita. Fonte [14]
partículas de austenita e enriquece-las de carbono.
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O tempo de permanência para a formação de uma


determinada fase em certa temperatura é crucial, do contrário
a microestrutura final resultara em fases diferentes. [16]
Para resfriamentos muito rápidos, a partir do fim do
recozimento intercritico até a temperatura ambiente, obtém-se
uma microestrutura contendo uma matriz ferritica e uma fase
martensita (ver figura 10). Do contrário se o tempo de
resfriamento for prolongado, proporcionará o avanço da fase
ferrita e a formação da perlita. [16]

3.3. ATAQUE QUÍMICO


Figura 11 – Microestrutura pós-ataque químico Heat-
Após o término do processamento aplica-se um ataque
Tinting para o aço TRIP. Fonte [11]
químico sobre a superfície do material. O objetivo é verificar
as características microestruturais, tais como contorno de
Observa-se a presença de três cores diferentes nesta figura,
grãos e as diferentes fases na microestrutura. [17]
laranja, amarelo e azul. Analisando a figura resultou na
Para o aço TRIP os seus microconstituintes são: ferrita,
seguinte dedução: a cor amarela, dispersa em maior
bainita, martensita e austenita retida, o que resulta em uma
quantidade, representa a matriz, o laranja a fase bainita e o azul
microestrutura muito fina e de difícil visualização. Utiliza-se
a fase martenita coexistindo com a austenita retida.
então o ataque químico do Heat-Tinting que consiste de uma
técnica metalógrafa onde complementa o ataque químico do
4. ANALISE DOS RESULTADOS
Nital 2%, reagente composto de 2% de ácido nítrico e 98% de
Independentemente do método utilizado na fabricação, seja
álcool etílico. O Heat-Tinting tem sido utilizado não apenas no
laminação a quente ou a frio, o resultado final será uma
aço TRIP, mas em outros aços multifásicos usados no setor
microestrutura multifásica constituída de: 50 a 60% de ferrita,
automobilístico como o DP. Este tipo de ataque tem se
25 a 40% de bainita e 5 a 15% de austenita retida. É
mostrado mais eficaz devido a maior visualização das fazes
interessante tomar nota de como essas fases interagem entre si
presentes. [18]
e como pode afetar a microestrutura final.
O procedimento se inicia pré-atacando o material com Nital
A ferrita ou ferro alfa possui uma estrutura cristalina CCC
2% durante 2 segundos, após esse tempo a amostra é limpa e
(Cubica de Corpo Centrado), quando comparada com a
levada ao forno a uma temperatura de 260°C durante 3 horas.
austenita a ferrita é menos compacta, devido a sua estrutura
O ataque químico com Nital, em um aço multifásico,
cristalina, apresentando espaços intersticiais menores. Esse
proporciona a visualização de apenas duas fases na
fato promove uma solubilidade menor do carbono na ferrita.
microestrutura, com o Heat-Tinting, após o pré-ataque e
A austenita é uma fase solida e estável em temperaturas
depois a submissão ao forno, o ataque com Nital é corroído
acima de 727°C. Seus espaços intersticiais são maiores,
possibilitando a visualização de três das quatro fases presentes
resultantes de sua estrutura cristalina CFC (Cúbica de Face
na microestrutura do aço TRIP. A microestrutura do aço TRIP
Centrada), favorecendo maior capacidade de dissolver o
após o ataque químico está representada na figura 11. [15] [18]
carbono remanescente da formação da ferrita.
A bainita consiste de um agregado fino de ripas de ferrita e
partículas de cementita. Sua formação acontece a partir do
resfriamento rápido da austenita, na faixa de temperatura entre
200 e 400°C. A presença de elementos de ligas como o silício
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(Si) retém a formação da fase cementita, possibilitando a material. Também foi estudado que a combinação de fases
formação da bainita e enriquecem a austenita com carbono microestruturais pode resultar no aumento da resistência sem
remanescente da formação da cementita. haver perdas da ductilidade. A presença das fases martensita e
A martensita é uma fase supersaturada de carbono, bainita eleva a resistência do material, enquanto que as fases
apresentando uma estrutura cristalina TCC (Tetragonal de austenita e ferrita contribuem para o aumento da ductilidade.
Corpo Centrada), uma forma destorcida da CCC (Cúbica de
Corpo Centrado). Há dois métodos para se obter a martensita: AGRADECIMENTOS
o primeiro é através de um resfriamento rápido, a partir da Expresso os meus agradecimentos:
formação da fase austenita, até a temperatura ambiente,  A Deus por mais uma conquista;
podendo estar presente na microestrutura fina, dependendo do  Ao apoio dos meus pais;
teor de carbono do aço, a austenita retira. O segundo método é  Aos meus amigos Bruno Guerra, Daniel, Fernand,
através de deformação plástica onde a austenita retida, Almeida e Gulherme Cunha;
metaestável em temperatura ambiente, transforma-se em  Ao meu professor orientador Alysson Martins
martensita  Ao apoio e dedicação do professor Paulo Sergio

5. CONCLUSÃO REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


Conforme estudo realizado através de consulta em artigos, [1] GORNI, A. A.; Xavier, M. D.; Chivites, B. D.; Campos
livros e dissertações referentes ao avanço tecnológico no Jr., M. D. Desenvolvimento de Aços Microligados com Alta
desenvolvimento de ligas ferrosas, foi analisado que o aço Resistência e Boa Ductilidade. In: Congresso Anual da ABM.
TRIP apresenta as características necessárias para atender a Anais. Associação Brasileira de Metalurgia e Materiais.
demanda do setor. Vitória, jul. 2007, p. 3269-3272.
Através deste estudo foi analisado que perante aos dois [2] ANNIBAL JR, E. G.; ROTELLI, R. M.; OLIVEIRA JR,
métodos de obtenção do aço TRIP o processo de laminação a J. E. G.; FERRER, M. H. Desenvolvimentos Recentes em
quente destaca-se, devido ao maior controle das Aços TRIP Aplicáveis na Indústria Automotiva: Uma Revisão.
transformações microestruturais. No entanto o seu uso eleva o In: Congresso Nacional de Estudantes de Engenharia
valor final do material, tornando-o inviável para ser aplicado Mecânica 12, 2005, Ilha Solteira – SP.
no setor automotivo. O processo então limita-se a conformação [3] SANTOS, C. N.; VIEIRA, A. G.; VIANA, C. S. C.
a frio devido a sua praticidade e baixo custo, porém não se tem Análise Microestrutural de um Aço 0,2% C Assistido pelo
total controle das transformações microestruturais, o que torna Efeito TRIP. In: CBECIMat - Congresso Brasileiro de
necessário aplicar o tratamento térmico de recozimento Engenharia e Ciência dos Materiais, 17, 2006, Foz do Iguaçu
intercritico, para refinar a microestrutura final. – PR.
O aço TRIP apresenta uma microestrutura multifásica [4] CALISTER, WILLIAM D. JR; Ciência e Engenharia
constituída de quatro fases divididas em uma matriz ferria, dos Materiais uma introdução – 7º Ed.
uma fase martensita e outra bainita e frações significativas de [5] PEREIRA, M. S. Caracterização Microestrutural e
austenita retida, resultando em uma microestrutura muito fina Mecânica de um Aço Multifásico, em Consonância com o
e de difícil visualização. Entre os ataques químicos aplicados Projeto ULSAB - AVC. 2004. 98f. Tese (Livre Docência em
para aços multifásicos o Heat-Tinting apresenta melhores Engenharia Mecânica – Projetos e Materiais) – Faculdade de
resultados para visualização da microestrutura Engenharia do Campus de Guaratinguetá, Universidade
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