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– Rezar: um modo de silêncio auscultativo.

“[...] Sed auditu solo totu creditur” – mas a palavra da mensagem revela-se a mim”1.

“Senhora do caminho e da união,

Ó espelho de justiça e de justeza d’alma.

Somente Vós conheceis, ó grande Nossa Senhora,

O que seja a parada e o recolhimento”

(Charles Peguy)

– Assistimos variegadas atividades populistas anti-intelectuais, por exemplo – no modelo dos


televangelistas americanos (copiados aqui e alhures). Vemos pessoas manipuladas emocionalmente nos
megashows religiosos, na tv, nos templos, nos estádios. Vem à mente a experiência do profeta Elias no
monte Horeb, em que ele descobre que “Deus não estava no vento” (1Rs 19,11-12).

O Evangelho é “uma Semente” que precisa sedimentar-se profundamente no terreno bom (Mt 13,8; Mc 4,8;
Lc 8,8). Deve morrer para si mesma, crescer em silêncio por longo tempo, para que, no final, realmente dê
muito fruto. É importante não esquecer daquela que foi discípula de Jesus, Maria, que “conservava/
guardava (ῥῆμα; ‫)דבַ ר‬
ָּ 2 cuidadosamente as palavras e as meditava em seu coração” – συνετήρει τὰ ῥήματα
ταῦτα συνβάλλουσα / συμβάλλουσα ἐν τῇ καρδίᾳ αὐτῆς Lc 2,19 – (Tomáš Halík. paciência com Deus:
oportunidade para um encontro. São Paulo: Paulinas, 2015: grifos nossos).

– O coração é o centro existencial da pessoa, a fonte de onde brotam os atos de liberdade e o ato de
liberdade por excelência, que é a entrega incondicional a Deus (cf. Álvaro BARREIRO. Os trinta anos de
Jesus em Nazaré. Escândalo inaceitável ou realismo da encarnação? São Paulo: Loyola, 2006, p. 72-73).

MARTINI, Carlo Maria. A mulher da reconciliação. São Paulo: Ed. Loyola, 1991.

1 TOMÁS DE AQUINO, Adoro te devote – hino de Corpus Christi: “Divindade profundamente oculta, em
oração eu me aproximo de ti. Sob este sinal estás aqui, verdadeiramente [...] olhos, boca e mãos enganam-
se em ti, mas a palavra da mensagem revela-se a mim – Adoro te devote, latens Deitas, quae sub his figuris
vere latitas... Visus, tactus, gustus in tel fallitur, sed auditu solo tuto creditur”. Cf. BUSA, Roberto: Thomae
Aquinatis Opera Omnia cum hypertextibus in CD-ROM. Milano: Editoria Elettronica Editel, 1992.
2 Maria συντηρέω (“guardar com cuidado”, “conservar”) e συμβάλλω (“colocar juntos”, “calcular”,

“interpretar”). Descrevem uma atitude e um comportamento altamente positivos. Mui próximo a τήρεω
(“guardar”) do evangelho segundo João: o primeiro significa registrar e conservar na memória, tanto a ação
vista como as palavras ouvidas. Não se trata, contudo, da recordação melancólica de um passado perdido,
mas a memória do conteúdo vivo da fé. Com efeito, “conservar todos estes fatos no seu coração” – é uma
frase bíblica para indicar que uma palavra ou promessa de Deus é guardada zelosamente à espera de sua
atualização e desenvolvimento futuro. A mãe conserva de maneira reflexiva, confrontando e aprofundando,
o significado de todas as coisas dentro de si. Maria, modelo dos crentes, deve ademais, compreendê-los e
interpretá-los. Συμβάλλουσα designa a interpretação clara e justa da intervenção divina. Maria assim,
compreende o que viu e ouviu. A recordação meditativa-auscultativa de Maria é uma espera e uma
pergunta dirigida ao futuro, acerca do destino e missão de Jesus. São duas atitudes espirituais
complementares que o texto lucano sugere aos leitores diante da revelação salvífica de Deus em Jesus. Cf.
BOVON, François. El evangelio según san Lucas I. Salamanca: Ediciones Sígueme, 1995, p. 190-191;
FABRIS, Rinaldo; MAGGIONI, Bruno. Os Evangelhos II. São Paulo: Loyola, 1998, p. 40.

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