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A DUALIDADE E O PISO MOSAICO NO GRAU DE APRENDIZ MAÇOM

Ir.·. Francisco Feliciano R. Filho M.·. M.·.


A.·.R.·.L.·.S Igualdade nº 82

Dualidade: segundo o dicionário Houaiss é um substantivo feminino, qualidade do que é


dual ou duplo em natureza, substância ou princípio. O Aprendiz Maçom aprende, logo
cedo, que não deve se deter ao estudo do número 2 (dois), pois este é um número terrível,
que pode levar o incauto à desgraça, ao abismo da dúvida, do qual só sairá se o forem
buscar. Para o autor Jorge Adoum, em sua obra “Grau do aprendiz e seus mistérios”,
embora tudo seja UM, em Realidade e Essência, tudo se manifesta e aparece como DOIS.
O fato é que a dualidade está em tudo. É uma das sete leis herméticas ou sete
princípios da verdade, a LEI DA POLARIDADE. Segundo esta lei,
"Tudo é duplo, tudo tem dois polos, tudo tem o seu oposto. O igual e o
desigual são a mesma coisa. Os extremos se tocam. Todas as verdades são
meias-verdades. Todos os paradoxos podem ser reconciliados. A polaridade
revela a dualidade, os opostos representando a chave de poder no sistema
hermético. Mais do que isso, os opostos são apenas extremos da mesma
coisa. Tudo se torna idêntico em natureza. O polo positivo + e o negativo - da
corrente elétrica são uma mera convenção. O claro e o escuro também são
manifestações da luz. A escala musical do som, o duro versus o flexível, o
doce versus o salgado. Amor e o ódio são simplesmente manifestações de
uma mesma coisa, diferentes graus de um sentimento. ”
Os estudos esotéricos nos ensinam que a dualidade não se trata de ruptura entre os
opostos, mas que essas manifestações são, ao mesmo tempo, antagônicas e
complementares. Para os chineses, o mundo é composto por estas forças opostas, não
devemos tentar anular nenhuma delas, mas achar o equilíbrio entre as duas. Na filosofia
chinesa a dualidade é representada pelo símbolo yin yang. Para os romanos, era o deus
Jano, com suas duas faces: uma voltada para o futuro e a outra para o passado. Para os
alquimistas, o Sol e a Lua, Enxofre e Mercúrio ou Rei Vermelho e a Rainha Branca são
pares de opostos que nos remetem à dualidade. A transmutação do Chumbo em Ouro
simboliza a Grande Obra alquímica, a busca pela Pedra Filosofal. No zodíaco, a dualidade
se faz presente através do terceiro signo, o de gêmeos.
Dentro de um templo maçônico (para alguns ritos), a dualidade é simbolizada pelo Piso
Mosaico. Para o ir.·. Xico Trolha (2009), é um dos símbolos de primeira grandeza da
maçonaria. Hernandes (2015) nos conta que este tipo de piso teria existido na Suméria,
região da Mesopotâmia (atual Iraque) e, dali, chegado ao antigo Egito.
Recorrendo-se ao dicionário Houaiss, o termo mosaico possui vários significados, quase
todos ligados ao aspecto estético (ex. g. pavimento composto de ladrilhos ou pequenas
peças coloridas e variadas). Porém, quando se trata da relatividade e origem, nos remete à
figura bíblica Moisés. Diz a lenda que Moisés (Moshé), líder hebreu e autor do pentateuco
(Torá), colocou pequenas pedras coloridas no chão do Tabernáculo. Ao longo da história,
este tipo de piso passou a se chamar piso mosaico.
Já o Dicionário de Maçonaria (4ª edição), do irmão Joaquim Gervásio de Figueiredo, diz
que o Pavimento Mosaico é um dos ornamentos do centro da loja, e é composto de
ladrilhos ou quadrículos alternadamente brancos e pretos. Reflete a polaridade positiva e
negativa da natureza e a dualidade do bem e do mal, por cujo labirinto deve o iniciado
encaminhar-se oscilante ou decidido, mas sempre perigosamente, para a perfeição.
Peñaloza (2003), em seu artigo “Pavimento Mosaico: uma incursão simbólica pela cabala
medieval”, cita o Ritual de Webb datado de 1797, no qual todos os rituais norte americanos
e, por consequência, brasileiros se basearam, no que se refere à ornamentação do Templo,
especificamente o Piso Mosaico, que o mesmo representa o piso térreo do Templo de
Salomão. Ele é um emblema da vida humana, um entrelaçamento de bem e de mal.
Peñaloza diz ainda que, segundo o Ritual de Shaver (1892),
“enquanto o pavimento mosaico está diante de nós, somos instruídos a não
nos vangloriamos de nada, a ter compaixão e a dar assistência àqueles que
estão na adversidade, a sermos corretos e humildes,...à medida em que os
ditames da razão e da consciência o incitem, viva em amor fraternal.”
Conclui-se que o piso mosaico encerra um ensinamento, não de oposição, mas de união,
de aceitação do diferente, de tolerância. Consultemos mais uma vez ao dicionário Houaiss,
que traz como significação da palavra tolerância a tendência a admitir, nos outros,
maneiras de pensar, de agir e de sentir diferentes ou mesmo diametralmente opostas às
adotadas por si mesmo. A contemplação da simbologia do piso mosaico deve nos remeter
à dialética, ou seja, o caminho entre as diferentes ideias.
O maçom aprende, desde cedo, que a pedra bruta na qual ele tem que trabalhar é o seu
eu interior. A analogia da pedra polida só faz sentido quando se tem em mente a
construção do Templo. Ora, as pedras somente se encaixarão se estiverem perfeitamente
polidas. De outra forma, como eu vou me encaixar na construção da Loja? Da Ordem? Se
minha pedra está cheia de asperezas? Quais os instrumentos para empreender tão
importante tarefa?
Logo após a iniciação, é-nos dado um Maço e o ir.·.1º Vig.·. nos ensina a dar, na pedra
bruta, a bateria do grau. Será que o aprendiz, apenas com o Maço, conseguirá dar a forma
cúbica necessária à sua pedra? O Maço é emblema do trabalho e da força material. Mas o
uso da força sem inteligência e sem propósito não atinge a beleza necessária aos nossos
trabalhos. O Cinzel é o símbolo da escultura. O Cinzel é a imagem dos argumentos da
palavra, da sabedoria e discernimento. Cito um trecho do artigo MAÇO E CINZEL – O
DESBASTE PERFEITO, do ir.·. Marcos Alexandre Santos de Almeida na Revista Universo
Maçônico: “Com o Maço e o Cinzel, em mãos, hei de vencer os obstáculos que surjam ao
longo de minha jornada, não mais com a força bruta, mas com inteligência e sabedoria,
esculpindo minha evolução. ”
Os irmãos mais estudiosos tendem a ser naturalmente perfeccionistas. Estes deveriam
entender melhor o propósito aglutinador daquilo que chamamos de cimento místico que
une os “diferentes” ladrilhos (que nada mais é do que o amor fraterno). O suposto
conhecimento da ritualística e dos símbolos nos levam a ter uma noção do que seja a
maçonaria. Será que isto é verdade? Ou será que apenas nos levam a formular a nossa
versão do que seja a Ordem? Somos levados a não aceitar certos comportamentos e
posicionamentos em loja. A apontar supostos defeitos em nossos irmãos. Isso nos leva a
união fraterna ou nos separa da construção social, objetivo da maçonaria?
Precisamos pôr em prática o que estudamos. E, não, estarmos sempre com o dedo em
riste, julgando os irmãos e seus comportamentos. Eu me ponho como uma dessas pedras
cheias dessas arestas terríveis. A nossa irmandade existe já há centenas de anos. Sempre
teve essa heterogeneidade de pensamentos e comportamentos, e sobrevive até hoje.
Mais do que julgamento, precisamos de ordem, para atingirmos o progresso tão almejado.
Mas o progresso da Ordem como ela sempre foi, não uma Ordem que idealizamos em
nossos devaneios individuais. As vezes brigamos por detalhes que não importam de
verdade.
Às vezes só queremos a brutalidade do Maço por acharmos mais fácil seu uso. Mas ao
invés de aparar arestas, causamos apenas danos. É preciso que cada obreiro aprenda a
usar todas as outras ferramentas. Principalmente o Cinzel e a Régua de 24 Polegadas.
Mas não sem seguir um projeto bem pensado e refletido pelos nossos mestres mais
experientes.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E LINKS


A Bíblia Sagrada (versão do Rei James).
Figueiredo. Joaquim Gervásio de. Dicionário de Maçonaria. Editora Pensamento.
Gabriel Gómez. 2015. O Piso Mosaico: como superar a sua dualidade? Editora A Trolha.
Jorge Adoum. 2013. Grau do aprendiz e seus mistérios. Editora pensamento.
Paulo Antonio Outeiro Hernandes. 2015. Curso de formação de aprendizes do REAA.
Editora A Trolha
Pike, Albert. 2011. Moral e dogma do rito escocês antigo e aceito. Tradução Celes Januário
Garcia Junior e Glauco Bonfim Rodrigues. Editora Yod.
Xico Trolha. 2009. Símbolos maçônicos e suas origens. Editora A trolha.

http://www.revistauniversomaconico.com.br/simbologia/maco-e-cinzel-o-desbaste-perfeito
acesso em 23/06/2016.
http://www.cienciaemaconaria.com.br/index.php/cem/article/view/18/16 acesso em
28/06/2016.

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