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Introdução
Os hospitais, apesar de serem representantes da grande luta
pela saúde, marcam, significativamente, um período na vida de
qualquer pessoa que necessita ser hospitalizada. Isto ocorre com
mais intensidade no caso de pacientes crônicos, que tem de dedicar
mais tempo de sua vida aos cuidados médicos-hospitalares. Neste
contexto, a Psicologia contribui tendo como principal objetivo tratar
os males psicológicos das pessoas que ali estão, contribuindo para “a
minimização do sofrimento provocado pela hospitalização”
(ANGERAMI-CAMON, 1994, p.23).
Sendo assim, podemos pensar que as conseqüências de um
acontecimento como a hospitalização tem um alcance muito maior do
que às vezes supomos, e pode alterar a qualidade de vida de uma
pessoa não apenas durante o período em que ela se encontra no
hospital. Diante deste contexto parece ser necessária uma reflexão
sobre o real estado do paciente que freqüenta o ambiente hospitalar,
uma investigação do alcance das conseqüências da hospitalização e
também pensar em possibilidades que possam tornar o trabalho da
psicologia nos hospitais cada dia mais eficaz, com maior alcance,
visando atingir não somente aquele período de vida em que o
paciente se encontra no hospital, mas também o que decorre dele.
Esta pesquisa, que foi realizada em uma clínica de
hemodiálise, pretende analisar o grau de humanização do ambiente
da clínica (um núcleo hospitalar) com base na fala dos pacientes, e
levantar possibilidades de mudanças que possam promover o bem-
estar dos mesmos na clínica e contribuir para a melhora de sua
qualidade de vida.
mais disposição, não enxergo mais, não vejo mais os meus amigos”,
“não tenho mais saúde ou disposição” ou “me sinto deprimida e não
tenho mais vontade de lutar pelas coisas”.
A IRC, a hemodiálise e até mesmo o estado depressivo,
provocam freqüentemente nos pacientes a assunção de uma postura
passiva. Eles parecem assumir a postura literal de pacientes e se
mostram acomodados e desinteressados pela vida, como podemos
atestar nesta frase colhida em uma das entrevistas: “tenho ficado em
casa olhando o mundo pela janela”.
A hemodiálise não é um procedimento simples e já prevê
possíveis complicações para o paciente, como queda de pressão,
cãibras, etc. Durante o tratamento, é comum que os pacientes
passem mal ou testemunhem algum de seus companheiros tendo
complicações, o que os remete a um sentimento de maior fragilidade
de seu corpo, de sua saúde. Além disso, é constante a ocorrência de
óbitos ent re eles o que contribui para aumentar o sentimento de que
se está chegando ao fim da vida. LIMA (1996, p.17) coloca que na
hemodiálise “a morte é quase onipresente, em função dos constantes
riscos e complicações letais, de reduzida esperança de sobrevivência,
dos inúmeros óbitos dos submetidos ao mesmo tratamento”. Desta
forma percebemos que o diagnóstico da doença crônica e o próprio
tratamento hemodialítico, aproximam o paciente do sentimento de
iminência de morte. Os entrevistados demonstram este medo de
passar mal, de morrer e até solidariedade, explicitada na
preocupação de alguns com a evolução da doença e do tratamento
dos outros companheiros nestas frases: “tenho medo de passar mal
ou de que os outros pacientes passem mal” e “eu sinto medo (...)
medo do que possa acontecer”.
Conforme coloca LIMA, MENDONÇA FILHO e DINIZ (1994, p.86)
“a especificidade da IRC é que seu diagnóstico não marca uma
expectativa de cura, a devolução do estado de saúde, mas uma
passagem irreversível para o mundo dos doentes”. Isto traz
Referências Bibliográficas
Contatos:
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Faculdade de Psicologia
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E-mail: icpsico@mackenzie.com.br
Tramitação:
Recebido em: 09/2001
Aceito em: 10/2001