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ADOLESCENTES

O PRIMEIRO AMOR, escolha precoce.

Entrada: A nossa história profunda reside na infância, momento fundamental que irá condicionar o modo
como amamos, e a escolha amorosa. Na adolescência, todo esse potencial emerge em força. No primeiro
amor idealizamos o namorado ou a namorada, em quem projetamos todas as qualidades. Depois, é a ideia
que se faz do amor, que imaginamos total e eterno. Quando se é adolescente, não se sabe que tudo está
ainda a começar, e que a aprendizagem será longa e rica.

Ana Vieira de Castro

«O meu primeiro amor», conta José, «foi a minha professora primária, tinha eu sete anos». Fixou-se na
blusa branca com bordados da Madeira e até hoje nunca mais se esqueceu da mulher bonita que se
debruçava, obsequiosa, sobre a pequena secretária onde o João ensaiava as primeiras letras e aprendia os
números. Esse cuidado atento e caloroso ficou-lhe na memória, e hoje ainda sente a emoção dessa afeição
tão precoce e nunca esquecida.

Especialistas nestas matérias revelam que o primeiro «amor» nos remete para a infância precoce, a um
tempo de que não temos memória, mas que é determinante porque influencia a maneira de amar ao longo
da vida. Tendemos a repetir um modelo específico de amar, dizia Freud. Assim, chamou Complexo de
Édipo ao amor que começa a manifestar-se na criança por volta dos três anos e meio, mais concretamente,
do afeto especial que os meninos sentem pela sua mãe e da hostilidade que dirigem ao pai, embora o
admirem pela sua força, desejando ser como ele. Esta ambivalência de sentimentos é também manifestada
pelas meninas em relação à mãe, que sentem como rival na conquista pelo amor do pai, mas que também
admiram como ideal feminino a seguir. Com o tempo, o «complexo» deverá ser ultrapassado da melhor
forma possível, por força dos interditos incestuosos, e uma coisa é certa: quanto melhor formos bem-
sucedidos nesta renúncia, mais fácil será caminhar para a maturidade e mais saudavelmente serão vividas
as relações amorosas. É esta a versão dinâmica dos primórdios do enamoramento, que volta a ser reativada
quando as crianças crescem, chegam à adolescência e depois à idade adulta. Significa isto que viveremos
tanto melhor o nosso primeiro amor, e todos os que se seguem, quanto maior tiver sido a estabilidade e
segurança afetiva dada pelos nossos pais, condições que nos permitem partir e fundar a nossa própria
família.

Amor idealizado. Os adolescentes de hoje e de sempre, apaixonam-se intensamente. Uma das


componentes do amor adolescente é a forte idealização do namorado ou da namorada, que se imaginam
nada mais do que perfeitos. O adolescente apaixona-se também pela ideia que faz do amor, e que também
traz a marca das suas experiências precoces. «Nós, adolescentes», diz Manuel, estudante de 17 anos,
«muitas vezes perguntamos uns aos outros: com quem te imaginas a casar?». E a verdade é que, diz, «há
raparigas, que são nossas amigas, e que são os nossos grandes amores platónicos». É com elas que, de
facto, «nos imaginamos a casar». São amigas, conhecem-nas bem e gostam muito da personalidade delas.
«Dou-me tão bem com ela! Sei que ela está lá, e é com ela que eu falo de tudo, no fundo». No entanto,
«não é com essas com quem estamos todos os dias, e é isso que as torna especiais, a distância idealiza-
as». Imaginam a mulher ideal, mas, no fundo, acabam sempre por «lhe encontrar defeitos para que ela
possa ser real, para que possamos vir a viver juntos». Os adolescentes estão cientes de que a proximidade
traz problemas, coisa que Manuel «sabe bem».

Apaixonados pelo amor. «O meu primeiro amor platónico foi quando estive apaixonado pela filha da
minha professora. Era mais velha do que eu. Gostávamos muito um do outro, mas ela foi estudar para
outra escola, longe, e deixámos de nos ver», conta Manuel. A este «primeiro amor», outros «amores» se
seguiram, «um segundo» e um «terceiro», mais precisamente. «Aprendi com todos», garante Manuel e
nós acreditamos que assim seja, porque afinal a procura do amor é longa e implica uma adaptação
progressiva à realidade, até à idade adulta. Seja como for, sendo a adolescência uma «espera ativa», a
procura continua. Manuel voltou a apaixonar-se. Tal como ele, Teresa, o «segundo amor da sua vida»,
também nunca tinha tido uma relação muito longa, eram sensivelmente da mesma idade e o namoro foi
«marcante», talvez porque «passaram o Natal e a passagem de ano juntos». Foi uma época boa, lembra o
Manuel: «éramos um grupo coeso, dávamo-nos muito bem, quase todos os fins de tarde encontrávamo-
nos num café, tínhamos um bom grupo, estávamos muito juntos e estava-se muito bem em casa da Teresa.
O final da relação começou a ser inevitável porque «começámos a discutir por tudo e por nada e estávamos
um bocado fartos um do outro». Decidiram acabar tudo mas continuaram amigos. O pior estava para vir,
conta Manuel. «Mesmo depois de acabar, eu continuava a gostar dela, mas passado pouco tempo, ‘enrolei-
me’ com outra rapariga que por sinal era amiga dela». Teresa não perdoou, e apesar da insistência do ex-
namorado que, entretanto, voltou à carga, manteve- se irredutível. Mais tarde, depois de toda essa raiva
ter passado, acabaram por ficar amigos outra vez, mas Teresa ainda hoje não lhe é indiferente. Sabe que
pagou caro e que não voltará a cair no mesmo erro, mas «na adolescência, quando se tem namorada,
parece que se é mais cobiçado e muitas vezes pelas próprias amigas da dita namorada».

As raparigas são difíceis, os rapazes são mais transparentes.

Há dois anos Manuel viveu o seu mais recente amor, Isabel, com quem teve um namoro de sete meses.
«Foi a relação que tive que durou mais tempo». Porquê? Porque havia muita «novidade». «Criámos uma
grande descoberta nesta relação», conta. Ela ia viajar, depois voltava e conversavam, ele tinha saudades
e curiosidade. Ela tinha um grupo diferente de amigos, «o que também é muito importante», era também
mais velha que ele, animada e agitada, enfim, tinha «uma vida diferente, outras ideias e isso estimulou a
relação». Estar muito perto mata o amor, diz, e essa poderá ter sido uma das razões porque a relação com
a Teresa não durou muito. «Ainda era muito novo, não arranjava maneira de quebrar a rotina, fazíamos
sempre a mesma coisa, ficámos demasiado amigos e menos namorados, havia menos atração amorosa».
Com a Isabel, tudo acabou embora «tenhamos trabalhado os problemas que havia». Ficaram muito
amigos: «é daquelas relações em que eu acho não ter havido qualquer erro, qualquer tipo de desgosto,
tudo correu bem, acabou bem, ao contrário da relação anterior». Uma «boa namorada é fundamental»,
acrescenta, mas isso não basta: «temos de ser bons namorados». No entanto, «há raparigas cada vez mais
difíceis», diz Manuel.

Luísa, estudante de 16 anos, concorda com Manuel: «há raparigas más, tortas, manhosas e manipuladoras,
isso acontece imenso». A razão, diz, terá a ver com o facto de «serem imaturas ou então é o medo de não
conseguirem ter alguma coisa séria com um namorado, ou ainda porque podem ter tido uma relação que
as marcou negativamente». De resto, Luísa acredita que, na sua maioria, os rapazes e as raparigas não
confiam uns nos outros: «afinal, tem-se perdido um bocado o sentido do que é uma relação», o que se
deve ao facto de que se «está a cair no mais fácil, no básico». E acrescenta: «as coisas acontecem muito
mais depressa do que deveriam acontecer. Não se espera o tempo suficiente para ter uma relação a sério».
Luísa acha que «a falta de confiança está aí», e também se deve ao facto de que «há menos tempo para
conhecer as pessoas, ninguém se conhece a fundo». Por outro lado, as raparigas são hoje as melhores
alunas, muito competentes e empenhadas, o que «é bom», diz Luísa, mas pode «tornar tudo mais difícil
porque depois há uma tentativa de se sobreporem aos rapazes».

«Cada vez noto mais relações de longo prazo na adolescência», diz Manuel. «Vejo isso em miúdos mais
novos que eu, assim como nos mais velhos. Há uns anos atrás, as relações duravam muito menos tempo
do que hoje em dia. Dantes, muitos dos meus amigos andavam pouco tempo com as namoradas, mas hoje
sei de alguns que namoram com a mesma rapariga há um ano, dois anos. E quando «começam as relações
amorosas, alguns deles já vão com a preocupação de começar a construir algo sólido, que vá durar algum
tempo, hoje valorizam mais o facto de terem uma relação, e não sei se isso é bom ou mau porque, na
verdade, é muito precoce». O problema, diz, «é que pode haver mais desgostos pelo facto de acabarmos
relações de longo prazo», conclui Manuel.

Rapazes e raparigas têm, obviamente, uma forma específica de viver as relações amorosas. E para além
disso, há tantas «adolescências» quanto adolescentes, sendo que nenhuma é igual à outra porque tudo
depende da infância de cada um, da fase de maturação em que o adolescente se encontra, da família a que
pertencem, da época em que vivem, da classe social a que pertencem. Tudo isso cria pessoas únicas, a
viverem realidades condicionadas pelas suas histórias pessoais. E o melhor de tudo, é que um adolescente
tem toda uma vida para viver.

CAIXA

SOBRE AS RAPARIGAS

Diz o Manuel: «As raparigas, quando são mais novas, são mais sérias nas relações do que depois, quando
começam a amadurecer». Por outro lado, diz, «conseguem-nos controlar muito bem, se quiserem
controlam toda a relação». As raparigas, diz, são mais auto-suficientes. Além disso, «têm as suas maiores
amigas, que muitas vezes também se tornam as maiores amigas do namorado. As raparigas sofrem muito
a curto prazo, mas depois passa. E depois têm as amigas que as confortam».

Diz a Luísa: «No geral, as raparigas crescem mais depressa que os rapazes». Da mesma forma, e também
numa perspetiva alargada, «as raparigas são mais sentimentais que os rapazes, sentem mais as emoções,
apegam-se mais». Mas também, «quando são tortas e manipuladoras, são terríveis». A superioridade em
termos de desempenho académicos «dá-lhes poder sobre os rapazes, que elas muitas vezes aproveitam».

SOBRE OS RAPAZES:

Diz o Manuel: «Os rapazes, quando são mais novos, são mais descartáveis, mais fúteis que as raparigas,
andam com esta e com aquela, uma noite, outra noite. Como começam essa vida muito precocemente,
parece que acabam por se fartar dessa vida também. Depois, só querem centrar-se numa relação. Os
rapazes «são muito mais leais e isso nota-se». Para o Manuel, «a namorada de um amigo é um homem
para mim. Além disso, nesta altura das nossas vidas as raparigas vão e vêm e os amigos são para a vida.
Os rapazes são muito mais carentes, precisam de companhia. Quando acabamos uma relação, distraímo-
nos uns aos outros».

Diz a Luísa: «Acho que os rapazes valorizam muito mais a beleza física dos que as raparigas: Também é
verdade que são mais transparentes do que as raparigas, são mais fáceis de perceber porque se revelam
mais».

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