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Colégio Estadual Agostinho Neto

Disciplina: Filosofia
Professora: Ana Carolina
Estudante:
Turma:
Data: 29/05/2015

O mito - 2º bimestre

A primeira forma de apreensão do real é uma espécie de intuição compreensiva. Diante da infinita
grandeza e mistério dos fenômenos naturais (sol, chuva, trovão, raio etc.) e diante das situações limite,
representadas pelos mistérios da doença e da morte, o ser humano encontra-se perplexo, inseguro.
Em nossa existência, encontramo-nos inicialmente, marcados pelo espanto, pela admiração, pela
dúvida, pela incerteza. Em decorrência desses estados, diante do mistério, marcados por profunda
insegurança pessoal, recorremos, primeiramente, à narrativa mítica, que passa a ser uma mensagem.
Dessa forma, na narrativa mítica, encontramos segurança para a nossa perturbação inicial. A
formação dos mitos obedece a uma necessidade inerente do ser humano e da cultura, na medida em que
estabelece ordem e sentido que possibilita o caminhar na paz. Considerando os limites da razão e a
essencial incompletude de nossa condição humana, os mitos preenchem uma dimensão importante de
nossa vida. Os mitos atendem a tudo o que em nós é irracional, crença e entrega afetiva.
A narrativa mítica alimenta e cultiva capacidade imaginativa do ser humano. E será essa imaginação
que possibilitará, progressivamente, a abstração, da qual nascerá a percepção dos elementos
contraditórios, presentes nessas narrativas. Por isso, é correto afirmar que a filosofia nascerá de dentro do
mito.

O que é mito?
Como processo de compreensão da realidade, o mito não é lenda, pura fantasia, mas verdade.
Quando pensamos em verdade, é comum nos referirmos à coerência lógica, garantida pelo rigor da
argumentação e pela apresentação de provas. A verdade do mito, porém, resulta de uma intuição
compreensiva da realidade, cujas raízes se fundam na emoção e na afetividade. Nesse sentido, antes de
interpretar o mundo de maneira argumentativa, o mito expressa o que desejamos ou tememos, como
somos atraídos pelas coisas ou como delas nos afastamos.
Segundo alguns intérpretes, o "falar sobre o mundo" simbolizado pelo mito está impregnado do
desejo humano de afugentar a insegurança, os temores e a angústia diante do desconhecido, do perigo e
da morte. Para tanto, os relatos míticos se sustentam na crença, na fé em forças superiores que protegem
ou ameaçam, recompensam ou castigam.
Entre as comunidades tribais, os mitos constituem um discurso de tal força que se estende por
todas as esferas da realidade vivida. Desse modo, o sagrado (ou seja, a relação entre a pessoa e o divino)
permeia todos os campos da atividade humana. Por isso, os modelos de construção mítica são de natureza
sobrenatural, isto é, recorre-se aos deuses para essa compreensão do real.

As funções do mito
Normalmente, o mito vem definido como advindo da função que exerce. Nesse sentido, o mito é
uma intuição compreensiva da realidade, uma forma espontânea de situarmo-nos no mundo, expressando
a capacidade inicial de compreendê-lo. Por isso, as raízes do mito estão não na razão, mas na realidade
vivida, pré-reflexiva, das emoções e da afetividade. Apoiados em uma lógica intuitiva, imaginativa, que
surge a partir de imagens e é fortalecida pelo afeto, explicamos a realidade concreta, conferindo
significado e ordem a um mundo aparentemente caótico e desorganizado.
Sendo narrativa pronunciada para ouvintes que a recebem como verdadeira, o mito traz a marca da
fé e da confiança. Assim, a verdade do mito está relacionada à confiança na pessoa do narrador, à sua
autoridade. Sob a forma de relatos fáceis de entender, os mitos são transmitidos de geração em geração.
Os mitos cumprem uma importante função social ao reforçarem a coesão social, alimentando a
identidade de grupo, a identidade comunitária. Por isso, o cenário do mito é sempre a vida comunitária
que o alimenta. Enquanto o mito mantiver a força de identificação dos indivíduos e da comunidade, ele
permanecerá muito vivo. E a força do mito consiste precisamente no fato de a narrativa se referir à própria
história da comunidade, às suas origens.
Essas narrativas míticas fazem parte da tradição cultural de um povo. Por isso, não são produto de
um autor específico, de um indivíduo isolado que, em determinado momento, sentou-se e escreveu. Se
considerarmos as principais fontes da mitologia grega, chegaremos a Homero e Hesíodo. A existência
histórica de Homero é muito questionada. Estudos modernos afirmam que Homero é um nome coletivo, e
não um indivíduo histórico, particular.
As duas principais obras associadas a Homero são a Ilíada, poema que narra a história da guerra
dos gregos contra Troia, e a Odisseia, narrativa sobre o retorno de um dos generais gregos, Odisseu (ou
Ulisses), de Troia para a ilha de Ítaca. Hesíodo, um pequeno agricultor, teria vivido por volta de cinquenta
anos depois de Homero e escreveu ao menos dois poemas épicos: a Teogonia, narrativa sobre a origem
dos deuses e do Universo, e Os trabalhos e os dias, poema que relata a criação dos seres humanos, bem
como seus afazeres cotidianos, como a agricultura e o comércio marítimo.
Os mitos antigos exerciam uma função não só de explicar o mundo e as relações humanas, mas de
transmitir um ideal de educação, essencial para a formação dos jovens. Através das narrativas míticas, as
gerações mais velhas ensinavam às gerações mais novas como eles deveriam ser para se tornarem
“excelentes”. Os heróis e deuses transmitiam modelos exemplares de conduta para serem seguidos.

Características do mito e sua atualidade


O mito é uma forma de explicação da realidade que utiliza narrativas imaginárias, em geral
transmitidas oralmente. Recorre a forças sobrenaturais para explicar fenômenos naturais. Um exemplo: na
mitologia grega, Zeus, rei dos deuses que habitam o monte Olimpo, tem o poder de lançar raios. Essa é
uma forma de explicar algo que os seres humanos observam na natureza e que, em princípio, não
compreendem.
Com o mito, as pessoas podem não apenas compreender os fenômenos, mas também intervir
neles, ou mesmo controlá-los. No caso dos raios, os gregos tentavam agradar Zeus com templos, cultos e
oferendas, de modo que seus raios não atingissem os mortais.
Mesmo conhecendo mitos e lendas antigos, seja dos gregos, seja de outros povos, ainda
continuamos a criar nossos mitos, a inventar narrativas mitológicas. É o que fazemos, por exemplo, quando
transformamos um artista ou um jogador de futebol em um ídolo, em uma espécie de herói
contemporâneo. Para nós, esse ídolo já não é visto como uma pessoa comum, mas como alguém que está
além dos demais, que possui uma capacidade especial. Também não é raro que se criem explicações
fantasiosas sobre determinados fatos: elas também são muito parecidas com as narrativas míticas. É
inegável, no entanto, que, embora o mito persista, hoje ele já não possui o apelo que possuía na
Antiguidade e que se mantém em algumas sociedades cuja cultura é oral.

A convivência entre mito e filosofia


O pensamento filosófico desenvolveu-se em uma forma de conhecimento que se diferencia da
mitologia. Se o mito era uma narrativa fictícia, uma história imaginada para explicar o mundo, a filosofia
pretendia ser um pensamento não fantasioso, baseado no raciocínio, no exame consciente das coisas,
buscando uma explicação racional, e não sobrenatural.
A filosofia, contudo, não substituiu a mitologia. Ambas continuaram convivendo. Platão, em alguns
dos diálogos filosóficos que escreveu, fez uso de narrativas míticas para, com base nelas, elaborar suas
explicações racionais. Em outros momentos, a mitologia foi combatida como pura mistificação. Hoje em
dia ocorre algo semelhante. Filosofia e mito convivem, às vezes conflituosamente.

Respondam as questões do livro de Filosofia das páginas 31 e 32.

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