You are on page 1of 30

1

A CIVILIZAÇÃO MESOPOTÂMICA

Conceito de civilização mesopotâmica


 Mesopotâmia (do grego: “meso”, meio, entre e “potamos”, rio)
expressão que tem uma conotação originariamente geográfica,
designando a grande planície (cerca de 140.000 km2) situada entre os
rios Tigre e Eufrates no Oriente Próximo.
 “civilização mesopotâmica” designa o desenvolvimento, ao longo de
quase três milênios, da civilização suméria, sua conversão na
civilização sumero-acadiana e seu desdobramento em duas
civilizações aparentadas: Babilônia e Assíria.
 Foram os sumérios que criaram o núcleo original da civilização
mesopotâmica: sua cultura e religião, sua escrita, sua tecnologia básica.
 Os acadianos, naturais da região, conviveram quase sempre
pacificamente com os sumérios, até que sob Sargão de Agadé ou
Sargon Sênior (2.334-2.279 a.C.) usaram a força das armas para
controlar politicamente a Suméria e, fundindo-se com o povo sumério,
formaram a civilização sumero-acadiana, com a introdução da sua
língua e do seu estilo de vida mais enérgico. Por outro lado, absorveram
os elementos fundamentais da cultura suméria.
 Mediante muitas transformações, a civilização sumério-acadiana se
desdobrou em dois ramos, o assírio e o babilônico. Embora ambos se
baseassem na mesma cultura sumero-acadiana, mostravam diferenças
muito nítidas que nos permitem distinguir a sociedade essencialmente
militar e predatória dos assírios da sociedade babilônica, orientada
para a cultura e o comércio.
2

 Uma história repleta de incidentes fez com que a civilização sumero-


acadiana se caracterizasse por conflitos infindáveis com os
“bárbaros” que a cercavam ou a atacavam, e que mais de uma vez
chegaram a dominar centros civilizados, para terminar sendo
culturalmente absorvidos.
OBS: Em certas ocasiões esses povos também entraram em luta contra
outros centros civilizados - alguns próximos, como Elam, o império dos
hititas e o reino de Mitani, e outros mais remotos, como o Egito ou os
hebreus.

Aspectos físicos
 A antiga Mesopotâmia ocupava um território que corresponde, grosso
modo, ao do Iraque atual, limitada ao norte pelas montanhas do
Cáucaso, ao sul pelo golfo Pérsico, a leste pelas montanhas Zagros e
a oeste pelo deserto sírio.
OBS: No período sumeriano o Golfo Pérsico avançava bem mais para o
norte, porque com o passar dos séculos os dois rios continuaram a
depositar matéria aluvial na sua embocadura, alterando a linha da
costa.
 A região divide-se naturalmente entre a Mesopotâmia Superior, ou
Alta Mesopotâmia (hoje Jezireh), que foi o centro do Império Assírio,
e a Mesopotâmia Inferior, ou Baixa Mesopotâmia, onde emergiu a
civilização suméria, que incluía a Babilônia na sua parte
setentrional.
 Essas duas regiões da Mesopotâmia tinham climas contrastantes. A
Mesopotâmia Inferior era muito quente, úmida, pantanosa, sujeita a
3

inundações, mas com solo extremamente fértil. A Alta Mesopotâmia era


seca, mais fria e mais dependente da chuva para a atividade agrícola. A
área central é subtropical: muito quente no verão, com menos de 25 mm
de chuva por ano no inverno.
 Enquanto as regiões setentrionais dos dois rios continuam a usar quase
o mesmo leito, banhando as mesmas cidades antigas de Karkemish,
Mari, Nínive, Nimrud e Assur, na Baixa Mesopotâmia tanto o Tigre
como o Eufrates mudaram de curso de forma significativa. Outrora as
cidades antigas dessa região eram banhadas por um dos dois braços do
Eufrates, que durante três mil anos passou por Sipar, Babilônia, Nipur,
Shurupak, Uruk, Larsa e Ur, cidades hoje situadas de 25 a 80 km a leste
do rio.
 Na maior parte da Mesopotâmia a agricultura depende de irrigação e
enfrenta dois sérios desafios: a salinização do solo, quando ele não é
adequadamente irrigado, e grandes inundações, que exigem a
construção de represas e canais de drenagem.
 Como a drenagem da terra para dessalinizá-la parece não ter sido
praticada na antigüidade, com o tempo grandes áreas se tornaram
áridas e estéreis. Assim, encontrar novas terras adequadas à agricultura
e irrigá-las passou a ser um problema permanente.

Aspectos humanos
 A Mesopotâmia Inferior foi habitada por dois grupos étnicos bem
conhecidos: os acadianos, que eram semitas (designação comum a
vários povos, que segundo a tradição descendem de Sem – um dos
filhos de Noé, e tiveram seu berço na península arábica) e os sumérios,
4

um povo de provável origem mediterrânea. Havia também povos mais


antigos, com toda probabilidade uma pequena minoria dos habitantes
originais da região. Esses três grupos conviviam em paz desde a época
mais remota.
 Além dos sumérios e dos acadianos, a região foi habitada mais tarde por
uma variedade de “barbaros” não semitas, e por povos de outras
sociedades civilizadas. Os semitas incluíam os amoritas, os arameus e
os caldeus.
 Os amoritas procediam da Síria superior, eram pastores nômades que
se fixaram na Mesopotâmia no fim do terceiro milênio a.C.; derrubaram
a terceira dinastia de Ur, por volta de 2004 a.C., e por volta de 1894
a.C., fundaram a primeira dinastia babilônica.
 Os arameus, procedentes do deserto sírio, chegaram à Mesopotâmia no
fim do século XX a.C., invadindo o Império Assírio, que se encontrava
na sua fase intermediária. Desde a época dos assírios e dos babilônios, a
sua língua era usada em toda a região.
 Os caldeus eram originalmente nômades semitas, procedentes
provavelmente do deserto da Arábia, nas margens do golfo Pérsico.
Sofreram a influência da civilização babilônica e, sob Nabopolassar
(625-605 a.C.), chegaram a controlar a Babilônia durante o sétimo
século a.C., fundando, com apoio local, o Império Neobabilônico.
 Os “bárbaros” não semitas incluíam os gutianos e os cassitas,
provenientes das montanhas Zagros, assim como uma variedade dos
chamados “Povos do Mar” (indo-europeus da região mediterrânea:
tirrenos, lícios, sardos, sicilianos, filistinos e aqueus).
5

 Os povos civilizados que habitaram mais tarde a Mesopotâmia incluíam


os elamitas, os hititas e os hurrianos. Os elamitas vinham do Irã sul-
ocidental, a região que corresponde hoje ao Cusistão, e sua capital era
Susa. Embora tivessem uma cultura própria, adotaram os costumes
sumerianos, e duraram de 2.500 a.C. até 640 a.C., quando foram
exterminados por Assurbanipal.
 Os hititas ocupavam a região entre o mar Negro e o rio Halys ou Kizil
Irmak, na Anatólia. Esse povo indo-europeu (conceito lingüistico que
engloba diferentes populações que ocuparam a Europa, a Ásia
ocidental, o planalto do Irã e a região indo-gangética, partindo,
provavelmente, das estepes setentrionais da atual Rússia) desenvolveu
uma civilização feudal, com dois sistemas de escrita: seus próprios
hieróglifos e caracteres cuneiformes adotados dos babilônios.
 Os hurrianos liderados por uma aristocracia indo-européia,
desenvolveu o Reino de Mitani (1550-1270 a.C.), sofrendo influência
hitita e fixando-se no fim do terceiro milênio a.C. entre o lago Van e as
montanhas Zagros, com sua capital em Washukhani, perto de Harran.

SUMÉRIA

 Existe divergência quanto à data de chegada dos sumérios, povo de


origem caucasiana, à região sul da Mesopotâmia. Sabe-se que por volta
de 4.000 a.C. eles já estavam estabelecidos ali.
 Mas a população da Suméria civilizada resultou da fusão de várias
raças, talvez incluindo os primitivos habitantes da região, e reunido na
sua cultura elementos estrangeiros e locais.
6

 Não muito diferentes dos seus vizinhos, os primeiros sumérios viviam


em aldeias e possuíam alguns importantes centros de culto, de
ocupação prolongada e contínua.
 Na sua origem, estes centros de culto foram lugares de devoção e de
peregrinação, sem numerosas populações residentes. No entanto, mais
tarde as cidades se cristalizaram à sua volta e isto ajuda a explicar a
relação próxima entre religião e governo que sempre existiu na antiga
Mesopotâmia.
OBS: A evolução da Suméria primitiva apresenta a seguinte cronologia de
eventos importantes:
 5.000 a.C. - Entra em uso a língua suméria
 4.000 a.C. - Começa o povoamento do local da futura Babilônia
 3.500 a.C. - A língua suméria aparece na forma escrita
 2.800 a.C. - A mais antiga dinastia suméria
 2.334-2.279 a.C. - Reinado de Sargão I e dinastia acadiana
 2.150 a.C. - Os gútios e os amoritas derrubam a dinastia acadiana
 2.000 a.C. - O poder acadiano é restaurado como Terceira Dinastia
de Ur
 1.800-1.600 a.C. - Ascendência babilônica sobre a Suméria

A escrita
 A civilização suméria durou aproximadamente de 3.500 a 2.000 a.C.
 Em data bem remota produziu pequenas figuras a partir de sinetes
cilíndricos, que eram rolados na argila, e a partir deles os sumérios
desenvolveram figuras simplificadas (pictogramas) feitas sobre
7

tabuletas de argila com uma vareta de junco, um grande passo em


direção à verdadeira escrita.
 Este processo evoluiu para um estilo chamado "cuneiforme", que usava
sinais e grupos de sinais para representar sons e sílabas.
 Desdobramentos do aparecimento da escrita cuneiforme: 1º) melhoria
nas comunicações; 2º) maior eficiência na exploração dos recursos
naturais (ficaram mais fáceis as complexas operações de irrigar as
terras, fazer as colheitas e armazená-las); 3º) fortalecimento imenso do
governo e dos seus vínculos com as castas sacerdotais que a princípio
monopolizavam a instrução; 4º) registro do passado; 5º)
desenvolvimento da literatura.
OBS: A mais antiga história do mundo é o épico Gilgamesh, um conto
escrito pouco depois de 2.000 a.C. Gilgamesh foi uma pessoa real, que
governou a cidade de Uruk, e também se tornou o primeiro herói
individual da literatura mundial. É dele o primeiro nome a figurar no
livro. Para o leitor moderno, a parte mais surpreendente deste épico inclui
o advento de uma grande inundação que destruiu a humanidade, exceto
uma família privilegiada que sobreviveu construindo uma arca, e dela
surgiu uma nova raça que povoaria o mundo depois de passada a
inundação.
As inundações eram o desastre típico da Baixa Mesopotâmia, e através da
construção de canais e diques, os sumérios fizeram “a terra emergir da
água”. Assim, podemos ver no conto de Gilgamesh o relato sumério da
criação do mundo: o Gênesis. Mais tarde, na Bíblia, também a terra
emerge das águas pela vontade de Deus. Deste modo, devemos algo da
nossa herança intelectual a uma reconstituição mítica feita pelos
8

sumérios da sua própria Pré-História, quando as terras férteis foram


criadas a partir dos pântanos do Delta da Mesopotâmia.
 As idéias sumérias foram amplamente difundidas no Oriente Próximo,
muito tempo depois do foco da História ter se deslocado da
Mesopotâmia. A língua suméria sobreviveu durante séculos nos
templos e nas escolas de escribas.

A religião suméria
 As tradições literárias e lingüísticas incorporam idéias e imagens que
impõem, permitem e limitam diferentes maneiras de se ver o mundo, e
é provável que as mais importantes idéias mantidas vivas pela língua
suméria fossem religiosas.
 Por volta de 2.250 a.C. surgiu um panteão de deuses, mais ou menos
personificando os elementos e as forças da natureza. Originalmente as
cidades tinham os seus próprios deuses, que formavam uma vaga
hierarquia, refletindo e moldando visões sobre a sociedade humana.
 A cada deus era atribuída uma atividade ou função específica: havia
um deus do ar, outro das águas, outro do arado e uma deusa do amor e
da procriação, etc.
 No topo da hierarquia divina havia uma trindade de grandes deuses
masculinos: o Pai dos deuses, um "Senhor do Ar" sem o qual nada
podia ser feito; um deus da sabedoria; e também um deus das águas
doces, que literalmente significavam a vida para a Suméria.
 Isto revela uma visão do sobrenatural muito mais complexa e
elaborada do que qualquer outra em data tão remota.
9

 Com o passar do tempo, sugestivamente, os templos se tornaram


maiores e mais luxuosos (em parte por causa da tradição de se construir
novos templos em colinas, englobando os anteriores). Ali eram
oferecidos sacrifícios para garantir boas colheitas.
 Nenhuma outra antiga sociedade daquela época atribuiu à religião um
lugar tão proeminente, nem desviou tantos recursos coletivos para
mante-la.
 A Baixa Mesopotâmia, nos tempos antigos, deve ter sido uma paisagem
monótona e plana de várzeas, pântanos e água. Não havia montanhas
para os deuses habitarem na Terra com os homens. Deste modo, os
deuses deviam “viver” em lugares elevados que dominavam as
planícies.
 Os templos eram construídos com tijolos e em zigurates (antigo templo
babilônio em forma de torre piramidal, com plataformas recuadas e
sucessivas, degraus externos e santuário no topo, que lembram
levemente a posterior Torre de Babel, da Bíblia).
 Não admira que os sumérios se vissem como um povo criado para
servir, para trabalhar para os deuses.
 A adoração dessas divindades representava uma tentativas de controlar
o meio ambiente, resistir aos repentinos desastres das inundação e
tempestades de areia, assegurar a continuidade do ciclo das estações
através da repetição do grande festival da primavera, quando o drama da
Criação era de novo representado. Depois disto, a existência do mundo
estava garantida por mais um ano.
 Mais tarde os homens começaram a querer que a religião os ajudasse a
lidar com o inevitável horror da morte.
10

 Os sumérios e os herdeiros das suas idéias religiosas parecem ter visto o


mundo após a morte como um lugar melancólico e triste; nisto reside
a raiz da noção posterior do Sheol, ou inferno.
OBS: Um rei e uma rainha sumérios da metade do terceiro milênio foram
acompanhados até os seus túmulos por serviçais, que foram então
sepultados com eles (talvez depois de tomarem alguma droga).
Era provável que se pensasse que os mortos iam para algum outro lugar,
onde uma grande comitiva e uma imponente coleção de jóias poderiam
ajudar.
 Quanto aos aspectos políticos da religião suméria, toda a Terra
pertencia basicamente aos deuses; o rei, provavelmente um sacerdote-
rei e ao mesmo tempo que um chefe guerreiro, era o representante
desses deuses.
 Havia uma classe sacerdotal, cultivadora de algumas habilidades e
conhecimentos especiais, responsáveis pelo primeiro sistema
organizado de educação, com base na memorização e na cópia.
 Também neste aspecto os sumérios deram origem a uma tradição: a dos
videntes, adivinhos e sábios do Oriente.

Arte, Estrutura Social e Vida Cotidiana


 A arte suméria representava diferentes aspectos da vida cotidiana,
retratando através da escultura e da pintura os seres humanos, as
batalhas e o mundo animal.
 As pessoas freqüentemente são representadas vestindo uma espécie de
saia de lã ou de pele, da qual as mulheres às vezes jogavam uma dobra
por cima de um dos ombros.
11

 Os homens, em geral, mas nem sempre, aparecem totalmente


barbeados. Os soldados usavam o mesmo traje, mas carregavam
armas e às vezes usavam um chapéu pontiagudo de couro.
 O luxo parece ter consistido no lazer e em bens, especialmente nas
jóias. Sua finalidade muitas vezes parece ser indicação de status, se for
assim, é outro sinal da crescente complexidade social.
 O regime patriarcal dominava, e chefe da família se casava de acordo
com um contrato firmado com a família da noiva e exercia seu poder
sobre os demais membros da família, os agregados e escravos.
 Contudo, as mulheres sumérias eram menos tiranizadas do que em
muitas outras sociedades posteriores do Oriente Próximo. As narrativas
sumérias sobre os deuses sugerem uma sociedade muito consciente do
poder da sexualidade feminina e os sumérios foram o primeiro povo a
escrever a respeito da paixão.
 A lei (cuja influência pode ser registrada bem depois de 2.000 a.C.)
proporcionava importantes direitos às mulheres mesmo de tempos pós-
sumérios.
OBS: A mulher não era um mero bem; até a escrava, mãe de filhos de um
homem livre, tinha direitos. As mulheres, assim como os homens, podiam
requerer a separação e esperar igualdade de tratamento depois do
divórcio. Embora o adultério da esposa fosse punível com a morte,
enquanto que o do marido não, esta diferença pode ser compreendida à luz
da preocupação com a herança e com a propriedade.
 Só muito mais tarde a lei na Mesopotâmia começou a enfatizar a
importância da virgindade e a impor o uso do véu para as mulheres
12

respeitáveis. Eram sinais de um endurecimento para com as mulheres,


atribuindo-lhes um papel mais restrito.
 Ao se aproximar o fim da sua história como civilização independente,
os sumérios haviam aprendido a viver em grandes comunidades. Diz-
se que numa única cidade havia trinta e seis mil habitantes, o que
resultou em grandes demandas quanto à capacidade de construção, em
especial por conta das estruturas dos grandes monumentos.
 Na falta de pedra, os habitantes do sul da Mesopotâmia no início
construíam com uma argamassa de junco e barro, depois com tijolos
de barro secados ao sol. Perto do fim do período sumério, a tecnologia
dos tijolos estava suficientemente avançada para que eles construíssem
grandes prédios com colunas e terraços; o maior de todos, o Zigurate
de Ur, possuía um pavimento superior de pouco mais de trinta metros
de altura e uma base de sessenta por quarenta e cinco metros.
 A mais antiga roda de oleiro que sobreviveu (encontrada em Ur)
demonstra outro passo tecnológico: a primeira utilização conhecida do
movimento de rotação, em que se apoiou a produção de cerâmica em
grande escala e a transformou num ofício masculino, ao contrário da
cerâmica primitiva, que era um ofício feminino.
 Já por volta de 3000 a.C., a roda era aplicada aos transportes.
 Outra invenção dos sumérios foi o vidro, e também, desde o início do
terceiro milênio antes de Cristo, artesãos especializados fundiam
bronze.
 A partir daí levanta-se outra questão: de onde vinha a maréria-prima?
Não há metal algum no Sul da Mesopotâmia. Mesmo no Período
13

Neolítico, a região deve ter importado sílex e obsidiana para


implementos agrícolas.
 Evidentemente existia uma ampla rede de contatos externos, tanto
com os povos do Golfo Pérsico quanto com os do Levante (nome usado
para designar os países do Mediterrâneo oriental) e Síria.
 É certo que, por volta de 2.000 a.C., a Mesopotâmia obtinha
mercadorias, embora possivelmente de forma indireta, do Vale do Indo.
 Junto com alguns fragmentos de documentação, isto sugere um sistema
de comércio inter-regional emergente que acabou criando padrões de
interdependência econômica.
 A base da economia e da sociedade sumérias permanecia na
agricultura para provisão local.
 Cevada, trigo, painço e gergelim eram plantados em quantidade; a
primeira pode ter sido a principal lavoura, e sem dúvida explica a
freqüente evidência da presença de um tipo de cerveja na antiga
Mesopotâmia.
 Resta lembrar que estas habilidades e tecnologias se acumularam
lentamente ao longo dos quinze séculos da história da Suméria.

Evolução política
 Pode-se distinguir três grandes fases na história da Suméria:
1ª) Período Arcaico (3.360 a 2.400 a.C.);
2ª) Período Acadiano (2400 e 2350 a.C.);
3ª) Período “Neo-sumério” (2.350 a 2.000 a.C.).
14

Período Arcaico:
 Foi marcado pelas várias guerras travadas entre Cidades-Estado,
suas ascensões e declínios, cuja comprovação é a existência de cidades
fortificadas e a aplicação da roda à tecnologia militar em toscas
quadrigas.
 Por volta da metade desta fase, as dinastias locais começam a se
estabelecer com algum sucesso.
 Originariamente a sociedade suméria parece ter tido alguma base
representativa e até mesmo democrática, mas o seu crescimento fez
com que os reis se distinguissem dos primitivos governantes-sacerdotes.
 Estes reis provavelmente surgiram como “senhores de guerra”,
apontados pelas cidades para comandar as suas forças e que se
apegavam ao poder quando passava a situação de emergência que os
convocara. Deles se originaram as dinastias que lutavam entre si.

Período Acadiano:
 Teve início quando Sargão I, rei de uma cidade situada no Alto
Eufrates chamada Acádia, conquistou as cidades sumérias entre 2.400 e
2.350 a.C. e inaugurou a supremacia acadiana.
 Ele foi o primeiro de uma longa linhagem de construtores de impérios
e alega-se que mandou tropas a terras tão distantes quanto o Egito e a
Etiópia.
OBS: Existe uma cabeça em bronze que representa Sargão I, sendo uma
das primeiras representações reais.
15

 O reinado de Sargão I não se baseou na relativa superioridade de uma


Cidade-Estado sobre as outras, estabelecendo um império unificado,
integrando tais cidades num todo.
OBS: O Império Acadiano não representou o fim da Suméria, mas um
aperfeiçoamento de suas estruturas internas.
 Com Sargão I surgiu um verdadeiro Estado, com autoridades leigas e
sacerdotais completamente separadas. Nas cidades sumérias
apareceram palácios ao lado dos templos; a autoridade dos deuses
também apoiava os ocupantes dos palácios.
 A especialização e profissionalismo das tropas resultaram
provavelmente da maior complexidade e custo das armas. A
infantaria disciplinada, que se deslocava em formação, com escudos
unidos e lanças niveladas, aparece em monumentos de Ur.
OBS: Constava que Sargão I possuía 5.400 soldados aquartelados no seu
palácio. Sem dúvida, o resultado das conquistas fornecia os recursos
para manter esta tropa.
 O poder estatal se originou dos desafios e das necessidades especiais da
Mesopotâmia, definindo como dever do governante organizar grandes
obras de irrigação, controlar as enchentes, reunir mão-de-obra para
fazer tudo isto e ainda conseguir arregimentar soldados.

Período “Neo-sumério”:
 Por volta de 2.350 a.C. povos da montanha chamados de gútios
puseram fim à hegemonia acadiana, dando início à última fase da
história da Suméria.
16

 Durante mais ou menos duzentos anos, até 2.000 a.C., o controle passou
novamente aos sumérios nativos, cujo centro era Ur. O primeiro rei
da Terceira Dinastia de Ur a exercer esta ascendência intitulou-se Rei da
Suméria e da Acádia.
 A arte suméria desça fase mostrou uma nova tendência de exaltar o
poder do príncipe: os governantes procuravam incorporar a sua própria
magnitude em zigurates maiores e mais luxuosos.
 Os domínios dos últimos reis vitoriosos de Ur se estendiam desde Susa,
nas fronteiras de uma terra chamada Elam, no Baixo Tigre, até Biblos,
na costa do Líbano.
OBS: Ao término dessa fase observa-se o ocaso da civilização suméria,
porém, ela não desapareceu completamente, mas a sua individualidade se
perdeu na História geral da Mesopotâmia e do Oriente Próximo.
 Havia muitos inimigos nas fronteiras da Suméria. Por volta de 2.000
a.C. os elamitas atacaram a Suméria e Ur caiu sob seu domínio. Mas
isso ocorreu após uma hostilidade intermitente de quase mil anos,
resultado da luta para controlar as rotas que dão acesso às terras
altas do Irã e aos minérios de que a Mesopotâmia necessitava.
 Ao longo de aproximadamente 1.500 anos a Suméria construiu o
arcabouço da civilização Mesopotâmica, legando aos seus sucessores
sua escrita, literatura, mitologia, construções monumentais, idéias
de justiça e legalidade, e as raízes de uma grande tradição religiosa,
visto que, tais fundamentos já estavam amplamente enraizados e
difundidos em toda aquela região.
17

BABILÔNIA
 Por volta 2.105 a.C. (data da fundação da primeira dinastia pelos
invasores amoritas) surgiu na Mesopotâmia um novo e importante
império: a Babilônia.
 Com cerca de l.100 quilômetros de extensão e aproximadamente 160
quilômetros de largura, a Babilônia era um grande Estado, na verdade o
maior que surgira na região até a época.
 Possuía uma estrutura administrativa elaborada e um dos seus principais
reis, Hamurabi (1.792 – 1.750), organizou um famoso código de leis,
baseado no princípio do "olho por olho".
 Hamurabi também foi o primeiro governante a unificar toda a
Mesopotâmia; embora o império tivesse vida curta, a cidade da
Babilônia seria, a partir de então, o centro simbólico dos povos semitas
do sul.
 Hamurabi assumiu o governo da Babilônia em 1.792 a.C. e seus
sucessores mantiveram a união do reino até pouco depois de 1.600 a.C.,
quando a Mesopotâmia voltou a ser dividida.
 Hamurabi governou as cidades de Nínive e Ninrud, no Tigre, e Mari, no
Alto Eufrares, e controlava este rio até as proximidades de Alepo.
 Como provavelmente aconteceu com as primeiras coleções de sentenças
e regras que sobreviveram apenas em fragmentos, o Código de
Hamurabi foi gravado em pedra e exposto no pátio dos templos para
que o povo reconhecesse o poder real.
 Com maior extensão, e de forma mais ordenada do que as primitivas
coleções, ele reunia cerca de 282 artigos, tratando de forma abrangente
18

uma ampla variedade de questões: soldos, divórcio, taxas para serviços


médicos e muitos outros assuntos.
OBS: Não se tratava de uma legislação, mas de uma declaração formal das
leis existentes, e talvez seja um equívoco referir-se a ele como um
“código”, a menos que se entenda que Hamurabi reuniu regras já em vigor,
e que não as criou.
OBS: Embora repouse sobre a tradição anterior do direito sumério, o
código é conhecido por ser o primeiro corpo de leis de que se tem notícia,
fundamentado na lei de talião, que estabelece a equivalência da punição
em relação ao crime. O termo talião é originado do latim (lex talionis - lex:
lei e talio, de talis: tal, igual, idêntico), daí a expressão “olho por olho,
dente por dente”.
 Este conjunto de “direitos comuns” representou, durante muito tempo,
uma das maiores referências na História da Mesopotâmia. Infelizmente,
talvez, à medida que o tempo passou, as suas penalidades parecem ter
sido endurecidas em comparação com as da Suméria, mas em outros
aspectos a tradição suméria sobreviveu nas leis da Babilônia.
 Os dispositivos do Código incluíam leis sobre escravos. Como todas as
outras civilizações antigas, e muitas outras em tempos posteriores, a
Babilônia se apoiava na escravatura.
 A escravatura era o destino provável que aguardava o perdedor de
qualquer guerra da História primitiva, inclusive as mulheres e as
crianças.
OBS: No primeiro Império Babilônico já existia um mercado regular de
escravos, e preços estáveis indicavam um comércio bastante regular, no
qual escravos de certas regiões eram especialmente cotados.
19

 Embora o poder do senhor sobre o escravo fosse virtualmente absoluto,


alguns escravos da Babilônia gozavam de notável independência
econômica, participando de negócios e até mesmo possuindo escravos
próprios e direitos legais, embora reduzidos.
 Nos tempos antigos, a civilização se apoiava numa grande exploração
do homem pelo homem; se isto não era considerado uma crueldade,
pois tratava-se de uma maneira “natural” de conduzir as coisas.

O pensamento babilônico
 A civilização babilônica apresenta-se como muito sofisticada e marcada
pela suntuosidade.
 O grande palácio de Mari, no Alto Eufrates, possuía paredes de mais de
doze metros de espessura e cobria uma área de cerca de 140 x 180
metros. Era cercado por belíssimos pátios, e possuía mais ou menos
trezentas divisões, formando um complexo arquitetônico harmonioso e
exuberante.
 Nessas fabulosas edificações foi encontrada grande quantidade de
tabuletas de argila revelando diferentes assuntos do governo da
Babilônia, dando-nos evidências da vida intelectual dominante.
 A astrologia dos babilônios impulsionou a observação da natureza, e ao
procurarem prever o destino sondando as estrelas, os babilônicos
criaram a Astronomia, registrando uma importante série de observações
astronômicas.
 Por volta de 1.000 a.C. era possível prever eclipses lunares. Em dois ou
três séculos, a trajetória do Sol e de alguns planetas havia sido traçada
20

com notável precisão em relação às posições das estrelas aparentemente


fixas.
 A matemática da Babilônia era muito desenvolvida e se aproveitou das
conquistas intelectuais dos sumérios, a quem devemos a técnica de
expressar os números pela posição tanto quanto pelo símbolo (como,
por exemplo, podemos contar o algarismo l como um, um décimo, dez,
ou vários outros valores, conforme a sua relação com o ponto decimal).
 Os babilônios chegaram ao círculo de 360 graus e à hora de sessenta
minutos. Também elaboraram tabelas matemáticas e uma geometria
algébrica de grande utilidade prática.
 A religião babilônica também se manteve próxima da tradição suméria.
Sua cosmogonia (qualquer narrativa, doutrina ou teoria a respeito da
origem do mundo ou do universo) começou como a dos sumérios, com
a criação do mundo a partir dos resíduos das águas (o nome de um dos
seus deuses significava "lodo").
OBS: Numa das versões sobre a criação do mundo, os deuses fabricavam
homens como tijolos, a partir de moldes de argila.
 Como as antigas cidades sumérias, a Babilônia também possuía um
deus dominante, Marduk, que gradualmente tomou a dianteira dos seus
rivais da Mesopotâmia.
 Esse quadro cósmico era adequado ao desenvolvimento de monarquias
de cunho absoluto. Assim, Hamurabi declarou que os deuses lhe haviam
conferido a supremacia, solicitando-lhe que governasse sobre todos os
homens para o bem desses.
 Neste meio tempo, a língua suméria continuava a ser usada nas liturgias
babilônicas, nos nomes dos deuses e nas suas atribuições.
21

 Os feitos de Hamurabi não sobreviveram a ele por muito tempo. Nos


mil anos seguintes, a Assíria chegou a ofuscar a Babilônia e o centro de
gravidade da História mesopotâmica decididamente se mudou para o
norte.
 Os hititas, que haviam se estabelecido na Anatólia no último quartel do
terceiro milênio, avançaram lentamente nos séculos seguintes; também
adotaram a escrita cuneiforme e a adaptaram à sua língua indo-européia.
 Por volta de 1.700 a.C. eles governavam as terras entre a Síria e o Mar
Negro. Depois rumaram para o Sul, contra uma Babilônia enfraquecida
e reduzida.
 Em 1.595 a.C. o rei hitita Mursilis I saqueou a Babilônia, pondo fim à
dinastia de Hamurabi e das suas conquistas.
 Quando os hititas se retiraram, outros povos governaram e disputaram a
Mesopotâmia durante os quatro séculos seguintes, ocorrendo neste
período a separação entre a Assíria e a Babilônia, fato muito importante
no milênio seguinte.
 A Babilônia devastada e abandonada por Mursilis I foi ocupada pelos
cassistas, vindos das montanhas Zagros, que fundaram uma nova
dinastia incorporando os elementos básicos da civilização sumero-
acadiana.
 Seguiu-se um longo período durante o qual a independência do país foi
intermitente, como no reinado de Nabucodonosor I (1.124 - 1.103 a.C.),
mas por fim os assírios voltaram a impor o seu domínio.
 Só muito mais tarde, com o Império Neobabilônico (625 - 539 a.C.),
sob os caldeus, a Babilônia gozou de um curto mas brilhante período de
22

independência e expansão, e o reinado de Nabucodonosor II (604 - 562


a.C.) marcou seu máximo esplendor.

O ocaso da Babilônia
 Diferentemente do que aconteceu com a Assíria, a decadência e queda
da Babilônia não resultou fundamentalmente de uma derrota militar,
mas de pelo menos três fatores principais.
 O primeiro foram certas características negativas da personalidade do
seu último soberano, o usurpador Nabônidus.
 O segundo foi o processo interno que provocou uma profunda divisão
entre o governo e as classes mais influentes — dos sacerdotes e
comerciantes — em um ambiente onde crescia o sentimento
cosmopolita.
 O terceiro foi marcado pela rápida acumulação de poder e prestígio por
parte de Ciro, o Grande, que tinha agora também a coroa dos medas.
 Os problemas políticos da Babilônia começaram com a morte de
Nabucodonosor II, em 562 a.C. Seu filho, Amel-marduk, era um
homem fraco, que não pôde controlar efetivamente o Estado. Dois anos
depois, Nergal-shar-usur (Neriglissar – marido de Kashaya, filha de
Nabucodonosor II) chefiou uma rebelião que provocou o assassinato do
monarca e a usurpação da coroa (em 559 a.C.).
 Neriglissar morreu em 556 a.C., deixando no trono seu filho Labshi-
marduk, cuja incapacidade política estimulou uma nova rebelião,
naquele mesmo ano, tendo os conspiradores escolhido como soberano
um dos seus líderes, Nabu-naid (Nabônidus).
23

 Nabônidus reinou durante 17 anos, período em que se criou na


Babilônia uma situação bastante complicada. De um lado, havia um
completo descompasso entre o comportamento do monarca e as
circunstâncias políticas e sociais, internas e externas. De outro, cresciam
as divisões no país, diminuindo a coesão entre os vários setores e
províncias, enquanto crescia a desavença entre o monarca e os
sacerdotes e mercadores.
 O espírito cosmopolita que se fortalecia e minava a lealdade das classes
média e superior em relação ao Estado, levando-as a considerar o rei da
Pérsia uma alternativa mais atraente do que o seu próprio soberano.
 processo de modernização do Império Neobabilônico foi marcado por
um novo sentido de privacidade nas classes superiores, preocupadas
com os seus negócios, a religião de cada um e em gozar a vida.
 A visão cosmológica da natureza sagrada do rei, que perdera força com
as sucessivas usurpações do trono, foi ainda mais prejudicada por esse
sentimento de privacidade, que exigia uma melhor administração
pública para garantir o atendimento dos interesses particulares dos
cidadãos.
 Os setores mais influentes da sociedade admitiam como necessária a
preservação do seu estilo de vida, objetivo mais importante do que a
preservação do monarca.
 A conduta de Nabônidus parecia estranha e condenável: o rei só se
interessava pela devoção a Sin, o deus lunar de Harran, a quem sua mãe
tinha servido como grande sacerdotisa. Restaurou esplendidamente o
grande templo de E-kulkul, em Harran, o que aos olhos dos sacerdotes
de Marduk, na Babilônia, parecia impróprio.
24

 Além disso, dos 17 anos do seu reinado passou 11 no oásis de Teima, na


Arábia, deixando os assuntos do governo nas mãos do filho, Baltazar,
que não gozava de popularidade.
 Em contraste, Ciro II, o Grande, devotava-se ativamente, e com pleno
sucesso, à expansão do seu poder e do império, reunindo sob seu
domínio todas as regiões em torno da Babilônia, e ganhava apoio
crescente entre muitas personalidades importantes desse país, que o
queriam como soberano, considerando-o invencível e também um
espírito aberto e tolerante.
 Em 547 a.C. Ciro cruzou o Tigre, abaixo de Arbela, passando a
controlar a parte superior do rio. No ano seguinte apoderou-se de Uruk,
no sul da Babilônia, mobilizando os elamitas em seu apoio. Depois
disso a Babilônia se tornou uma pequena área isolada, cercada pelas
forças persas.
 Em 539 a.C. Ciro derrotou um contingente do exército babilônico em
Opis, e nessa batalha Baltazar foi morto, o que precipitou uma revolta
em Acad. Nabônidus refugiou-se na Babilônia, mas a cidade não
pretendia resistir ao invasor.
 Gobrias, o general que o rei tinha posto no comando da defesa da ala
esquerda do exército babilônio, se passou para o lado do adversário, e as
portas da cidade foram abertas para os persas.
 Ciro entrou na Babilônia recebido em triunfo pelo povo; Gobrias foi
nomeado governador da cidade, e Nabônidus foi enviado para governar
a província persa da Carmânia, no leste do atual Irã.
25

 Conforme a expectativa geral, a conquista persa não afetou o estilo de


vida da Babilônia. Ciro reteve e cultivou os deuses locais, e seu domínio
foi mantido até a conquista da Babilônia por Alexandre, no ano 530 a.C.
 Dois outros fatores levaram à extinção definitiva da civilização da
Babilônia.
 O primeiro e mais importante foi o fato de que os babilônios estavam
expostos continuamente à racionalidade superior da cultura grega. Sua
visão mágica e cosmológica do mundo cedeu lugar ao logos helênico,
processo estimulado pela conveniência que a adoção da cultura grega
representava para as classes média e superior, como condição para
alcançar um nível mais elevado de influência e poder.
 O segundo fato foi a fundação de Selêucia, no ano 300 a.C., que fez
com que a vida cultural da Babilônia se transferisse para aquela
metrópole. Mas os selêucidas não destruíram a Babilônia, a cidade
simplesmente se esvaziou.

ASSÍRIA
 O curso histórico da Assíria é paralelo ao da Babilônia, embora com
algumas características distintas.
 A despeito de outros antecedentes, os verdadeiros fundadores do antigo
Império Assírio, durante os primeiros séculos do segundo milênio a.C.,
foram os amoritas. O antigo Império continuou a existir até ser
conquistado por Hamurabi, por volta de 1780 a.C.
 No século XVI a.C., os hurritas, um povo de origem indo-européia,
fundaram o reino Mitani entre as montanhas Zagros e o lago Van.
26

Durante cerca de dois séculos os hititas dominaram a parte setentrional


da Mesopotâmia, tendo a Assíria como um Estado vassalo.
 O ressurgimento da Assíria tornou-se possível com o declínio de Mitani.
Na segunda metade do século XIV a.C. Adad-nirari I (1307-1275 a.C.),
rei da Assíria, conquistou e subjugou Mitani, dando início assim ao
Império Assírio Médio.
 Reis que eram grandes líderes militares, como Assurubalit I (1365-1330
a.C.), Shalmaneser I (1274-1245 a.C.), Tukultí-ninurta I (1244-1208
a.C.) e Tiglath-pileser I (1115-1077 a.C.) fizeram da Assíria uma
importante máquina militar dessa fase da Antigüidade, combinando
poder militar com a prática das atrocidades mais ferozes.
 Esses reis foram primeiros na história a empregar o terror
sistematicamente como uma arma para subjugar e intimidar populações
inteiras.
 No fim do século XI a.C. os arameus invadiram a Assíria, e ao mesmo
tempo os caldeus assumiam o controle da Babilônia.
 Depois de mais de um século sob domínio estrangeiro, a Assíria
retomou seu papel de protagonista histórico durante o reinado de
Assurdan II (934 - 912 a.C.), criador do novo Império Assírio.
 Uma sucessão de grandes reis manteve o vigor da Assíria por mais de
três séculos. Entre eles vale citar Shalmaneser III (858 - 824 a.C.),
Tiglath-pileser III (744 - 727 a.C.), Senaquerib (704 - 681 a.C.), a
famosa regente Samu-Ramat, que conhecemos como Semíramis (683 -
7670 a.C.), Esarhadon (680 - 669 a.C.) e, acima de todos, Assurbanipal
(668-627 a.C.).
27

 Embora as tradicionais belicosidade e ferocidade da Assíria tenham


persistido durante o novo Império, sob Shalmaneser III e Assurbanipal
sua cultura se tornou mais civilizada e sofisticada.
 Os assírios sempre quiseram manter a Babilônia sob seu domínio,
usando-a ao mesmo tempo como modelo para a sua cultura e religião.
Esses conflitos com a Babilônia, ao lado de freqüentes disputas
dinásticas, tiveram o efeito de debilitar a Assíria.
 Em 625 a.C. Nabopolassar apoderou-se do trono da Babilônia, aliando-
se com Ciaxares, da Média (635 – 585 a.C.), para infligir uma série de
derrotas aos assírios, terminando por aniquilar a sua máquina militar.
 Apesar da sua forte tradição militarista, a Assíria foi também um
importante centro cultural, particularmente durante o Novo Império
Assírio (805 - 609 a.C.), alcançando um status extraordinário sob
Assurbanipal (668 - 627 a.C.).
 A ascensão da Assíria se apoiava em uma base essencialmente militar,
mantida por uma continuidade dinástica poucas vezes interrompida por
usurpadores do trono.
 Os assírios utilizavam seu poder militar com dois fins: em primeiro
lugar, estrategicamente, de forma defensiva e ofensiva. A Assíria queria
controlar, diretamente ou por meio de Estados vassalos, o conjunto da
área mesopotâmica, desde o golfo até o Mediterrâneo, e aspirava
também ao domínio político da Babilônia. Em segundo lugar os seus
recursos militares eram usados também para escravizar imensos
contingentes de prisioneiros de guerra, empregados principalmente em
trabalhos pesados tais como a abertura e manutenção de canais e outras
tarefas árduas.
28

 No entanto, nem a Assíria nem a Babilônia puderam superar as


limitações das suas respectivas capitais, nascidas como cidades-Estado.
No caso da Assíria, a hegemonia de Nínive (depois de Ashur e Kalach)
e o etnocentrismo dos assírios sempre os levou a apoiar-se na
superioridade militar e na coerção, incluindo práticas de crueldade
aterrorizadora.
 Por isso fracassaram suas tentativas de construir um império, a despeito
de elas terem durado um tempo relativamente longo, mais de três
séculos no caso do Novo Império Assírio.

Decadência e queda da Assíria


 A despeito da sua modernização, o Império Neo-Assírio (805-609 a.C.)
manteve seu militarismo opressivo e terrorista.
 As cidades assírias, especialmente Nínive, demonstravam os aspectos
sofisticados do Novo Império, mas o mesmo não acontecia com as
regiões e os povos dominados.
 Por outro lado, na própria Assíria a cultura era um privilégio das classes
superiores, não da população. Nada era permitido para aliviar as
dificuldades impostas aos escravos. Durante os longos anos da sua
supremacia incontestada a Assíria viveu cercada pelo medo e o ódio dos
povos sob o seu domínio.
 A queda da Assíria resultou essencialmente da derrota militar,
decorrente da insuficiência dos seus efetivos militares.
 As dificuldades começaram com a morte do grande rei Assurbanipal,
em 627 a.C. Seu filho e sucessor, Assur-etil-ilani, precisou enfrentar
29

uma forte rebelião liderada por um usurpador, e nesse processo perdeu


muitos homens.
 A Babilônia se revoltou, tornando-se independente sob a liderança de
Nabopolassar, e o mesmo aconteceu com os medas, chefiados por
Ciaxares. Em seguida, outras províncias se rebelaram e o reino foi
envolvido por grande desordem.
 Depois do curto reinado de Assur-etil-ilani, subiu ao trono seu irmão
Sin-shar-ishkun, com seu poder militar e o território sob seu controle
efetivo muito reduzidos.
 Para atacar a Assíria, Ciaxares, rei dos medas, que comandava um
exército poderoso, treinado no sistema militar assírio, juntou-se a
Nabopolassar da Babilônia, politicamente astuto e cujo poder estava
ressurgindo.
 Os assírios voltaram-se então para seus dois aliados principais, os
egípcios (que já se tinham libertado do jugo da Assíria) e as hordas
citas. Estas, porém, atraídas pela promessa de poder saquear a Assíria,
feita por Ciaxares, preferiram abandonar a aliança.
 Pela primeira vez no longo curso da sua preponderância militar, os
assírios enfrentavam a superioridade do inimigo.
 Em 612 a.C., cercada pelas forças aliadas, Nínive finalmente caiu. Sin-
shar-ishkun morreu lançando-se nas chamas do seu palácio.
 Em 610 a.C. foi vencida também a derradeira resistência, na fortaleza
de Harran, comandada por Assurubalit II, irmão de Assurbanipal. Com
o apoio dos seus aliados egípcios as restantes forças assírias tentaram
um contra-ataque, mas foram derrotadas definitivamente no ano 609
a.C., e assim o poder assírio foi aniquilado.
30

 Os vitoriosos dividiram entre si o território e a riqueza do Império


assírio, e a Babilônia passou a ser a única representante da civilização
mesopotâmica, entrando na sua fase final, com o breve esplendor do
Império Neobabilônico.
 A herança cultural assíria não foi completamente erradicada da
Mesopotâmia, alguns dos seus elementos significativos foram
transferidos para os medas e para o futuro Império Persa. Essa herança
incluía um grande número de artesãos que trabalhavam a pedra e os
metais, responsáveis por muitas das obras de arte de Persépolis e
Ecbatana. Da mesma forma os métodos militares assírios foram
adotados mais tarde pelos medas e pelos persas.

You might also like