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REPUBLICANO NA VENEZUELA?
RESUMO
Após quarenta anos de bipartidarismo como sistema político, iniciado em 1958, e instituições
liberalmente consolidadas, o Estado da Venezuela não resistiu aos efeitos impostos pelo
Consenso de Washington. Com promessas de transformação radical, chega ao poder o militar
Hugo Chávez Frias, eleito em 1998. Configurou-se, então, o denominado chavismo, promotor
de inúmeras mudanças institucionais, a começar pela Constituição, objetivando promover
uma sólida democracia, participativa e protagônica. Chama atenção o fato de que a adjetivada
Revolução Bolivariana foi considerada por Chávez como "Socialismo do Século XXI”,
adotando o termo criado por Heinz Dieterch. O presente artigo busca realizar a seguinte
análise: - A democracia implantada pelo chavismo na Venezuela pode ser considerada, de fato,
uma democracia socialista, devido suas características?
INTRODUÇÃO
Após quarenta anos de bipartidarismo como sistema político e instituições
liberalmente consolidadas (1958 – 1998), o Estado da Venezuela, a exemplo de praticamente
toda a América Latina, não resistiu aos efeitos globalizantes da economia e às medidas
implantadas pelo Consenso de Washington.
A elevação da pobreza extrema, que chegou a 49,9% em 1998, segundo dados do
CEPAL, e do caos social refletido, inclusive na queda da qualidade de vida da classe média,
além o total abandono da população carente pelo Estado, levou a população a promover
violentas manifestações, o que refletiu institucionalmente em seguidas de tentativas de golpe
de Estado. Desta forma, a incapacidade do Pacto de Punto Fijo – sistema político da época -
em lidar com os problemas e transformações sociais daquele período era evidente. Tal cenário
favoreceu o surgimento de uma nova proposta política que visava alterar radicalmente o
sistema instituído, buscando renovar as instituições e criar um vínculo mais direto entre povo
e governo. Em cena, protagoniza o militar Hugo Rafael Chávez Frías, então ex tenente-
coronel do exército venezuelano, candidato à eleição presidencial de 1998, que apresentou
como projeto de governo uma revolução pacífica, a qual chamaria de Revolução Bolivariana
Democrática, baseada no reverenciamento à conduta, valores e preceitos dos heróis nacionais,
principalmente de Simon Bolívar – o libertador da América Espanhola. Cultuando o
nacionalismo e o anti-imperialismo, tematizava a implantação de uma democracia
materialmente mais efetiva. Quando chegou ao poder executivo, por meio de eleições diretas,
no início de 1999, Chávez imediatamente convocou uma Assembleia Nacional Constituinte
(ANC) para a elaboração de uma nova Constituição que seria o instrumento político,
ideológico e jurídico garantidor de sua intenta Revolução. Seu legado entrou para história
denominado politicamente chavismo, cujo movimento levaria à implantação, via institucional,
do que Chávez denominou de Socialismo do Século XXI.
Pretende-se investigar quais mecanismos proporcionaram a transformação
institucional do Estado Venezuelano, bem como buscar identificar, teoricamente, se a forma
de democracia implantada pelo chavismo possui caracteres de socialismo, liberalismo ou
republicanismo. Para tanto, considerar-se-á superada a polêmica, de que Chávez foi sinônimo
de governo não democrático.
A ASCENÇÃO DE CHÁVEZ
Ao se findar os quarenta anos de bipartidarismo como sistema político e instituições
liberalmente consolidadas (1958 – 1998), o Estado da Venezuela, a exemplo de praticamente
toda a América Latina, não resistiu aos efeitos globalizantes da economia, bem como às
medidas implantadas pelo Consenso de Washington.
A elevação da pobreza e do caos social refletido, inclusive na queda da qualidade de
vida da população de classe média e o total abandono da população carente pelo Estado,
levaram estas a promoverem violentas manifestações, como por exemplo, o caracazo, uma
das mais sangrentas do período, onde foram mortas, formalmente, aproximadamente trezentas
pessoas em ataque efetuado pelo Exército. Existia, até então, um fosso social na Venezuela,
tanto que as populações carentes não constavam nos Mapas físicos e políticos do país. As
legendas indicavam áreas verdes, no espaço físico das favelas. Os grupos de alternância de
poder eram constituídos em sua maioria pelas elites oligárquicas, inexistindo representantes
das camadas populares.
Comprovou-se, com isso, a incapacidade do Pacto de Punto Fijo – sistema político
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Essa crítica situação social não atingiu somente a Venezuela, mas também
praticamente toda a América Latina, fazendo emergir movimentos e governos nacionalistas,
como foi o caso também da Argentina:
população para que recusasse qualquer tipo de corrupção permitida pelo sistema político
vigente e propunha uma mudança político-institucional, a começar por depor a antiga
Constituição.
A alternativa política se confirmou vencedora nas urnas em 1998 e, assim, a Venezuela
se viu diante de uma refundação política e institucional jamais vista, com nova Constituição,
cuja missão principal era a garantia de políticas públicas, financiadas ainda pela valorização
do petróleo, que visavam promover a dignidade ao coletivo populacional. Por consequência, o
que já era de se esperar, iniciou-se no país, nos primeiros efeitos da revolução, uma
polarização social, onde setores da sociedade, antes condutores das políticas públicas
neoliberais, acusavam o governo de Chávez de autoritário e não democrático.
presente, levando sempre em conta os princípios que o fundamenta. A equação que permite
identificá-lo é composta, segundo Guerrero, 2013, por três elementos: O líder, o partido
militar e o movimento social que lhe sustenta. O autor também revela algo curioso em relação
ao segundo elemento quando, duas horas antes do anúncio oficial da morte de Chávez, na
coletiva de imprensa as três da tarde, o seu sucessor, Nicolás Maduro utilizou a expressão:
“Direção política militar do Governo”. Tal pronúncia configura-se em uma novidade absoluta
no discurso chavista e marca, possivelmente, uma mudança nos rumos da transição e
composição da nova governabilidade.
Maduro, diferentemente de Chávez, não adveio das Forças Armadas, mas tornou-se o
depositário de seu poder quando, no fim da tarde do dia 8 de dezembro de 2012, recebeu das
mãos do comandante a espada de Bolívar, simbolizando miticamente a transferência da
investidura governamental. O Comandante investiu então Nicolás Maduro como seu sucessor
e delegou ao “partido militar” a função de suporte institucional do novo governo interino.
É importante salientar que Chávez dava início a um processo de transição não
impulsivo, mas que vinha sendo discutido desde o aparecimento de sua enfermidade. A
maioria dos movimentos sociais da Venezuela compreendeu isso como um processo de
transição. Alguns deles, ousam em chamá-la de “crise do regime”, com grande possibilidade
de ter sido agravada devido às violentas investidas da elite e da mídia demasiadamente
conservadora.
Destaca-se também a preocupação do líder político em manter unificados o partido
(PSUV) e as Forças Armadas. O ativo militante do movimento bolivariano, sociólogo e
professor universitário Javier Bardieu, expôs que no chamado "testamento político de
Chávez" está dado apoio irrestrito à figura Maduro, porém não uma procuração em branco.
Há cláusulas rígidas pactuadas cujo texto compromete o Estado Venezuelano a efetivar
políticas públicas submissas aos interesses do povo.
Em sua última reunião de gabinete no dia 20 de outubro de 2012, juntamente com seus
Ministros e demais componentes do primeiro escalão do Governo, Chávez, em nenhum
momento, utilizou as palavras “crise” ou “transição”, mas sim “a construção do socialismo” e
“o novo ciclo de transição”. Sua maior preocupação naquele momento era de convencer ao
novo Gabinete da responsabilidade que assumiriam a partir de então. Estavam diante de um
momento cruzado entre a troca brusca que deveria acontecer com o sistema político chavista e
a ameaça contínua de seu perigo de morte.
Para o sociólogo e politólogo espanhol Vinceno Navarro (apud Guerrero, p. 23) a
limitadíssima diversidade ideológica nos meios de comunicação dominantes é um dos
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CHAVISMO E DEMOCRACIA
O sistema democrático concorre com outras formas de governo, como é o caso da
monarquia ou da oligarquia. Em todo o mundo, nos distintos Estados-Nação, há diversas
variantes de regimes democráticos. Porém, na história da humanidade, configuraram-se duas
formas básicas: a democracia direta – em que todos os partícipes fazem valer a sua vontade –
e a democracia representativa, efetivada na maioria dos regimes democráticos modernos, onde
todos os cidadãos elegíveis permanecem com o poder soberano, mas transferem o poder
político a representantes eleitos.
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As discussões e teorias socialistas, a partir do século XX, como analisa Chauí (1989),
de igual forma, sustentam a afirmação de que um significa o outro, separando-os apenas no
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plano teórico, já que na prática são a mesma coisa. Assim, a democracia socialista assumiria a
função de eliminar as estratégias que manipulam e transformam a vida do sujeito em produto
mercantil. Para isso, propõe-se uma transformação política e cultural:
A questão humana e teórica de fundo é como dar início à democratização socialista,
vista como um processo de eliminação da manipulação e mercantilização da vida.
Uma revolução essa, não da classe operária tout court identificada e limitada ao
processo de trabalho da fábrica fordista-taylorista (pois isso já é evidente passado),
mas da humanidade que identifica no trabalho a origem do seu ser social (DEL
ROIO, 2005, p. 28).
O Republicanismo, por sua vez, tem origem na Roma Antiga, ligado ao nome de
Cícero (1603- 43 a.C.), autor de Da República. Adormecido na Idade Média, ressurge no
movimento renascentista, na Itália, tendo como expoente o "secretário florentino" Maquiavel
(1469-1527). Pela concepção republicana, ele desmonta a ideia medieval da origem divina do
poder e a substitui por uma acepção de ordem natural e racional, fundando o poder na divisão
originária da sociedade entre os grandes – que desejam oprimir e comandar – e os cidadãos –
que, por sua vez, não desejam a opressão tampouco o comando.
Em "Discorsi sopra la prima deca di Tito Lívio", o secretário florentino, assim
chamado carinhosamente por Gramsci, fundamenta a necessidade da instituição republicana
que tem por objetivo regular as ações humanas em meio aos conflitos:
Os homens nunca fazem nenhum bem a não ser por necessidade. Pois, onde há
muitas escolhas possíveis e onde se pode usar de licença, surgem logo inúmeras
confusões e desordens. Por isso é que se diz que a fome e a pobreza fazem dos
homens industriosos e as leis os tornam bons. A lei não é necessária quando uma
coisa funciona bem por si mesma, mas quando este bom costume está ausente, a lei
é imprescindível (MAQUIAVEL, 1994, P. 29).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pelas características de democracia participativa direta, protagônica e comunitária,
subsidiada pelo Estado ao regime da imprescindibilidade das leis, do bem comum, onde os
sujeitos/cidadãos são livres e iguais, mas subordinados à ordem jurídica determinada pelos
mesmos e, considerando a distinção ora apresentada das diferentes formas de governo e
democracia, é que este trabalho considera relevante a afirmativa de que o Chavismo, durante a
governabilidade do Comandante Chávez, implantou e perseguiu como fim último no Estado
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REFERÊNCIAS
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