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construcao-da-identidade-na-educacao-infantil

Publicado em NOVA ESCOLA 15 de Maio | 2018

Blog de Alfabetização

Histórias de vida: como trabalhar


a construção da identidade na
Educação Infantil
Valorizar a história dos pequenos ajuda no processo de apropriação da
escrita e ainda pode envolver a família
Mara Mansani

Atividades que valorizam a história de vida das crianças são boas oportunidades para
envolver os pais na aprendizagem. Fotos: Ligia Proença Vieira

Conforme já contei para vocês em outro post, este ano sou formadora de professoras da Educação
Infantil na rede municipal de Salto de Pirapora, no interior de São Paulo. Nas formações, estamos
tendo um olhar mais amplo para as crianças e sua relação com a produção e a apropriação da cultura.
Nessa concepção, as crianças são vistas como consumidoras e também como produtoras de cultura.

Elaboramos recentemente duas práticas que têm essa abordagem, que eu gostaria de compartilhar
com vocês:

Baú de memórias

A proposta é que os alunos tragam à escola um objeto que faça parte da sua vida e tenha um
significado importante para compartilhar com os colegas em uma roda de conversa. Os objetivos da
atividade são que a criança desenvolva a construção de sua identidade pessoal de maneira positiva,
que ela conheça e respeite diferentes modos de vida e que possa se expressar e desenvolver sua
oralidade.

Fizemos essa prática na formação, com as professoras, e foi emocionante! Apareceu de tudo: cordão
umbilical do filho, primeira roupinha de criança, primeira boneca e outros objetos carregados de
memórias e histórias incríveis. Confesso que chorei conhecendo a história de vida de minhas colegas.

Minhas alunas/professoras fazem um trabalho maravilhoso em suas escolas, com os alunos. Na


EMEIEF João Fernandes de Andrade, as professoras ampliaram a proposta envolvendo as famílias dos
alunos, que participaram ativamente.

Elas começaram conversando com as crianças sobre as lembranças de suas vidas e os objetos que
fizeram ou fazem parte dessa história. Depois, explicaram a atividade às famílias, sua importância e os
objetivos de aprendizagem, e pediram que as famílias colocassem, na mochila das crianças, os objetos
que fossem significativos aos pequenos.

Além do objeto, os pais também foram convidados a escrever e enviar um pequeno relato sobre sua
história. Dessa forma, as crianças vivenciaram uma situação real de apropriação da cultura escrita, em
que um membro da família é o escriba de parte da sua história.

Famílias na EMEIEF João Fernandes de Andrade conhecendo as histórias de vida de suas


crianças. Foto: acervo pessoal

Na escola, as crianças contavam aos colegas sua história através dos significados dados ao objeto
trazido, e a professora lia o relato enviado pela família. Isso foi desenvolvido por toda uma semana. Ao
final dela, eles organizaram uma exposição na escola com os objetos e relatos de todas as turmas. Foi
a oportunidade de todas as famílias conhecerem e se encantar com as histórias das crianças.
Minha família, meu tesouro

Os objetivos são praticamente os mesmos da atividade anterior: que as crianças conheçam sua história
de vida, a de sua família e a de seus amigos, a fim de desenvolver uma imagem positiva de si, atuando
de forma independente e confiante com relação às suas capacidades; desenvolver um trabalho
coletivo envolvendo a família e estimulando sua participação e desenvolver a linguagem oral e escrita
das crianças.

A prática envolve atividades de expressão oral e escrita, além de leituras, vídeos e rodas de conversa,
tudo explorando o tema da construção da identidade pessoal. Seu ponto alto é a construção de um
livro de histórias de vida dos alunos, com textos sobre a família, com a participação total das crianças e
seus pais e mães como escribas. O livro é maravilhoso, com passagens marcantes e o modo de vida
das crianças e seus familiares. Realmente, um verdadeiro tesouro!

Os alunos organizaram suas histórias em um grande livro da turma, com a ajuda da


professora. Foto: Acervo pessoal

Esse tesouro segue a linha pedagógica de Celestin Freinet, na proposta "O livro da vida". Nele, as
crianças relatam os acontecimentos vivenciados, sendo um importante instrumento de registro de
descobertas, anseios, conteúdos aprendidos. Ou seja, funciona como registro do desenvolvimento da
turma, em que as crianças se apropriam do processo de escrita antes de dominá-la
convencionalmente. Nessa proposta, o professor é o escriba da turma.

As duas propostas envolvem o desenvolvimento da linguagem oral e escrita e exploram a história de


vida das crianças. Ambas estão também alinhadas com a BNCC de Educação Infantil, documento que
deve nortear a criação dos currículos por todo o Brasil. A Base traz cinco campos de experiências e
seus respectivos objetivos de aprendizagem e desenvolvimento, e nessas práticas estão presentes pelo
menos três deles:
"O eu, o outro e o nós", com os seguintes objetivos de aprendizagem e desenvolvimento:

(EI03EO01) Demonstrar empatia pelos outros, percebendo que as pessoas têm diferentes sentimentos,
necessidades e maneiras de pensar e agir.

(EI03EO06) Manifestar interesse e respeito por diferentes culturas e modos de vida.

"Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações":

(EI03ET06) Relatar fatos importantes sobre seu nascimento e desenvolvimento, a história dos seus
familiares e da sua comunidade.

"Escuta, fala, pensamento e imaginação":

(EI02EF01) Dialogar com crianças e adultos, expressando seus desejos, necessidades, sentimentos e
opiniões.

É papel fundamental da Educação Infantil promover experiências em que as crianças possam ampliar
o acesso ao mundo da escrita, da qual ela já participa desde seu nascimento, ainda que com diferentes
frequências.

Vou realizar com minha turma de alfabetização a prática do Baú de Memórias, mas para eles a
proposta é que escrevam seu próprio relato. E vocês, queridos professores, o que acharam dessas
práticas? Fazem algo parecido?

Um abraço a todos, especialmente a minhas alunas do PNAIC Salto de Pirapora! Até a próxima semana!

Mara Mansani

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