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ARTESANATO EM VESTUÁRIO COMO PROPOSTA DE GERAÇÃO

DE RENDA NA PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA

Luanda dos Santos1 ; David Campos Alves2 ; Edilene Lagedo Teixeira 3

RESUMO

Este trabalho é parte integrante de um projeto maior que buscou a promoção de atividades sócio-econômicas que
possibilitassem geração de trabalho e renda de forma interdisciplinar e participativa, articulando escola-família
como resgate cultural, ambiental e dos princípios do viver e conviver para conquista da melhoria da qualidade de
vida e do meio ambiente no Vale do Tinguá, Município de Nova Iguaçu, Rio de Janeiro. Com este propósito, a
Escola Família Agrícola (EFA, EMFRAS), reforçou a parceria com a UFRuralRJ e o curso de Economia
Doméstica, por meio de atividades relacionadas ao vestuário e moda, de modo a criar e confeccionar artigos
têxteis para contribuir com a geração de renda. As atividades buscam atender aos objetivos da Pedagogia de
Alternância proposto pela EFA do Vale do Tinguá que dentre outros, sugere viabilizar o potencial auto-
sustentável do meio rural, ecológico e humano existente na região de Tinguá, segundo a proposta da Pedagogia.
As oficinas destinaram-se aos educandos, às suas famílias e à comunidade local de baixa renda, visando
despertar e estimular os pequenos produtores com mais uma alternativa auto-sustentável quando associou a
produção agrícola com o aproveitamento de materiais descartáveis e reaproveitáveis, de uma maneira geral, para
produção de objetos de utilidade doméstica, comercial e cultural.

PALAVRAS-CHAVE: Economia Doméstica, Moda, Trabalho.

INTRODUÇÃO

O artesanato em vestuário desenvolvido na Escola Família Agrícola Vale do Tinguá


(EFA)/EMFRAS em 2005, é parte de um programa maior de geração de renda através da
busca de resgate cultural. As atividades de extensão possibilitam então a abertura do seu
cenário para a integração de atores comuns e novos, despertando para o exercício da cidadania
e da responsabilidade social. As atividades propostas buscaram propiciar geração de renda
com ações auto-sustentáveis de produção artesanal, estimulando para o aproveitamento de
materiais descartáveis na fabricação de peças utilitárias, decorativas e de moda a partir da
customização de têxteis e outros materiais de moda através da prática ecológica. Esta prática
trata-se de ações sócio-educativas bastante exploradas atualmente, visto que o sujeito Homem
tem-se percebido deteriorando o meio ambiente a tal ponto que está sendo afetado por esta
ação. Desta forma, uma maior conscientização cidadã da prática ecológico-educacional tem-

1
Docente do Curso de Economia Doméstica e Técnica em Laboratório DED, ICHS da UFRuralRJ, E-mail
luasant@ufrrj.br
2
Economista Doméstico, formado pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
3
Docente do Curso de Economia Doméstica DED, ICHS da UFRuralRJ
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se buscado em todas as atividades de extensão desenvolvidas pelo curso de graduação em
Economia Doméstica. As oficinas de artesanato e moda do vestuário atendeu a 17 jovens na
faixa etária de 11 aos 16 anos, de ambos os sexos, que cursam o ensino fundamental na Escola
Família Agrícola Vale do Tinguá (EFA)/EMFRAS e contam com a pedagogia da alternância
para a viabilização de atividades que busquem a melhoria de sua qualidade de vida, assim
como de sua família e da comunidade local.

REVISÃO DE LITERATURA

Atividades não agrícolas são cada vez mais visíveis no meio rural brasileiro. Segundo
Couto (1998), no entanto, essas atividades no meio rural não são recentes, uma vez que já faz
parte da história dos campesinos 4 . Com isso é importante buscar a agricultura a partir de um
enfoque da pluriatividade, já registrado em suas origens culturais, mas com as transformações
atuais, visando não mais a produção para utilização própria, mas como atividade geradora de
renda, diante de um novo contexto do campo, o do turismo rural. As atividades agrícolas
acopladas às artesanais possibilitam maior fonte de renda familiar.
A pluriatividade pode ser definida como "atividades complementares ou
suplementares à produção agrícola, exercidas por um ou mais membros de um grupo
doméstico" (CARNEIRO, 1992 in COUTO, 1998).
Para Couto (1998) a pluriatividade insere-se nos diferentes rumos que meio rural vem
tomando, e é nesse contexto que o artesanato se relaciona a uma face da realidade rural
brasileira, reestruturando-se e solidificando-se estrategicamente como reprodução da
agricultura familiar. Desta forma, a pedagogia da alternância possibilita o desenvolvimento
dessas atividades na esfera familiar com o auxílio dos filhos, alunos de escolas agrícolas, que
recebem monitoramento no âmbito de atividades não agrícolas, visando possibilitar a
permanência destes no campo, com trabalhos mais abrangentes, mas não se distanciando de
suas raízes culturais.
Com o desenvolvimento do artesanato o homem desvenda-se em uma nova profissão,
que requer muita criatividade, bom gosto e visão da demanda da atualidade. Neste sentido

4
Couto (1998), quando posiciona no tempo as atividades não agrícolas afirma que: os camponeses, dada a
precariedade e pobreza que sempre caracterizou sua existência, o distanciamento e mal conservação das
estradas e meios de locomoção insuficientes que os separavam dos núcleos urbanos, eram forçados à produção
de objetos e utensílios domésticos para sua própria utilização”. (COUTO, 1998)
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Ferreira (2006) define como artesão o “artista que exerce uma atividade produtiva de caráter
individual (...) um ofício manual”, onde sejam utilizados materiais retirados diretamente da
natureza e que esteja ligado às raízes familiares.
Entretanto, com a crescente modernização se pode observar produtos ditos artesanais
produzidos a partir de materiais que já sofreram transformações em indústrias (TEIXEIRA,
2004).
Diante desta circunstância Teixeira (2004) discute o conceito de artesanato urbano,
como atividade artesanal que não utiliza apenas matéria-prima extraída diretamente da
natureza. Assim, o artesanato urbano/atual desenvolve-se também a partir de materiais
industrializados, onde são utilizadas técnicas bastante difundidas em diversos meios de
comunicação.
Diante do atual contexto ambiental se faz importante e extremamente necessário o
trabalho a partir desta nova realidade visando a conscientização ambiental no que se refere a
redução do lixo, através de seu reaproveitamento.
Segundo Ferreira(2006) a palavra lixo deriva do termo latim lix que significa “cinza”
e, lixo, é tudo o que não presta e se joga fora, ou ainda, resíduos que resultam de atividades
domésticas, industriais, comerciais, etc., sujeira, imundice, coisa ou coisas inúteis, velhas,
sem valor.
Na linguagem técnica, lixo é sinônimo de resíduos sólidos e é representado por
materiais descartados pelas atividades humanas. Apesar da atual era do consumo, nos últimos
anos, nota-se uma tendência mundial em reaproveitar cada vez mais os produtos jogados no
lixo para fabricação de novos objetos, por meio dos processos de reciclagem ou rearranjo do
produto, o que representa economia de matéria-prima e de energia fornecidas pela natureza.
Segundo Gentil (2005), “lixo tende a ser modificado, podendo ser entendido como
coisas que podem ser úteis e aproveitáveis pelo homem”.
O artesanato valorizando o ambiente rural, mesmo que visando aumento da renda
familiar e no turismo rural, para possível melhoria da qualidade de vida, deve ser
fundamentado na conscientização ambiental, garantindo a sua sustentabilidade.

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METODOLOGIA

As atividades propostas foram de categoria artesanato, onde o indivíduo buscou


resgatar a cultura familiar da arte do fazer criando sob uma releitura de seus avós, bisavós,
visando abordar interpretações atuais, através do olhar da moda. A proposta metodológica da
alternância se utilizou de dois momentos :o primeiro por período com aulas, e o segundo, por
períodos com atividades complementares propostas pela grade curricular em seu meio sócio-
profissional (família). Neste contexto, atividades artesanais em vestuário e moda foram
desenvolvidas no segundo momento, para que fosse propiciada a construção de novos
conceitos de relação e inter-relação com o ambiente em que vive de maneira auto-sustentável.
O processo ocorreu com um planejamento participativo, onde a comunidade escolar, neste
caso, o segmento estudantil a participou manifestando o interesse pelas atividades a serem
desenvolvidas. Após a coleta de dados o primeiro cronograma foi proposto e desenvolvido
mediante inscrições nas oficinas. As oficinas que variaram de quatro a oito horas foram
desenvolvidas em dois segmentos: manhã e tarde.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Pedagogia da Alternância se propõe como uma opção para a Educação no campo.


Caracteriza-se pelas sessões alternadas escola- família-comunidade. A alternância se dá de
forma integrada, em que o trabalho e o estudo são dois momentos interligados, contribuindo
para a promoção e o desenvolvimento das pessoas, num contexto sócio- geográfico e
profissional real, colaborando na preparação para e no trabalho e a profissionalização com
qualificação e profissionalização legal; inserção profissional na agricultura familiar, entre
outras profissões no meio rural (AECOFABA, 2005).
Neste contexto pedagógico se encontra a Escola Família Agrícola do Vale de Tinguá
que procura valorizar o aprender pelo fazer concreto do dia-a-dia, na experiência do trabalho
familiar e em outras situações e, tem como objetivos o desenvo lvimento de atividades
educacionais amplas, promotoras de um meio rural, com seus valores históricos e culturais
que visam: oferecer ao meio rural uma liderança motivada para que possa estimular e orientar
o desenvolvimento técnico em geral e o comunitário, em particular; reduzir o êxodo rural;
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fortalecer a pequena propriedade da região; difundir novas tecnologias; valorizar o homem e a
mulher do campo; incentivar a participação dos pais na vida escolar dos filhos; desenvolver a
solidariedade entre os pequenos agricultores; tornar o jovem sujeito da sua própria história.
Os seus princípios baseiam-se na promoção do desenvo lvimento local sustentável e solidário;
pedagogia da cooperação; valorização da Cultura e dos Calores do Campo e promoção da
Cidadania entre outros (AECOFABA, 2005).
Os resultados nortearam o desenvolvimento de atividades para a categoria Arte e
Educação, planejadas a partir de conceitos ecológicos e educação ambiental com o
desenvolvimento de artesanato urbano, como proposta apresentada por TEIXEIRA (2004),
como o aproveitamento de material de descarte ou lixo doméstico, em práticas artesanais
associadas com técnicas milenares, desenvolvida em 2005.
As oficinas desenvolvidas foram: a) Aproveitando retalhos: com o uso da técnica de
fuxico teve como objetivo estimular a criatividade através da construção de novos hábitos
ecológicos e do resgate cultural. O resultado foi o aproveitamento de retalhos com a
elaboração de peças rápidas, práticas e baratas.
A técnica milenar, chamada de fuxico, que cultiva o registro cultural e a prática
normalmente desenvolvida por mulheres que destina vam parte de seu dia para o
aproveitamento de retalhos unidos de forma criativa e harmoniosa (GONÇALVES &
OLIVEIRA, 2005) se caracterizou, nesse trabalho, com a criação de formas e desenhos de
arte. O nome fuxico tem sua origem no falatório dessas mulheres que no desenvolvimento do
trabalho conversam(GONÇALVES & OLIVEIRA, 2005). Chaveiros decorados e em forma
de bonecos foram e estão sendo vendidos na escola Família Agrícola do Vale do Tinguá,
Nova Iguaçu/RJ. Com a abrangência da criatividade houve montagem de bonequinhos para
festa infantil e peças do vestuário e começaram a serem customizadas com esta técnica,
complementada com outras.
A segunda atividade realizada foi a de Customização de camisetas. Para esta oficina
foi utilizada a técnica do Tye die (por tingimento e por estamparia), uma técnica antiga de
origem do Norte da África e Índia (TEIXEIRA & SANTOS, 2005). Utilizou-se da estamparia
ou tingimento para a obtenção de efeitos sem forma muito definida. Não exigiu habilidades
muito precisas para obter o resultado final. Desta forma, tanto crianças quanto os adultos
representados pó pais e professores com poucas habilidades motoras participaram com
sucesso no resultado.
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A terceira atividade foi a de Confecção de bolsas com retalho. A bolsa tem estado
entre os acessórios femininos, não somente como uma peça básica e de grande necessidade,
mas, como uma peça cada vez mais de moda. Grande, pequena ou minúscula, sacola, baquete,
versátil, duas em uma, não importa. Cada uma tem uma finalidade e o ideal é ter várias e até
mesmo customizar a sua, de maneira que seja exclusiva. A juta foi material principal, retalhos
criaram formas e serviram de apliques. Bolsas de diferentes, cores e formas foi o resultado.
Por último a Produção de chaveiros com retalho, foi bastante criativa e agradável. Os
participantes desenvolveram chaveiros com materiais diversos, tendo em vista a possibilidade
da complementação de renda para alguns, pela facilidade de ser confeccionado e de ser
vendido, devido ao seu baixo custo.
A utilização de elementos naturais encontrados no ambiente em questão se apresentou
de forma inesperada, mas com grande criatividade e agregação de valor nas peça
confeccionadas nas diferentes oficinas.

CONCLUSÃO

Apesar de pouca ou nenhuma prática em costura os participantes desenvolveram as


atividades e demonstraram bastante criatividade, e, observou-se a busca pela qualidade por
parte da maioria, que se mostrou interessada em prosseguir no desenvolvimento das mesmas.
Os trabalhos desenvolvidos na Escola Família Agrícola do Vale de Tinguá foi de suma
importância, pois os atores-participantes possibilitaram a motivação em busca da qualidade de
vida, através de suas reflexões e vivências sob a ótica do resgate cultural numa linha
ecológica, auto-sustentável. Foi demonstrada a possibilidade da complementação da renda
familiar, através das propostas apresentadas. Esta alternativa de geração de renda está sendo
cada vez mais estimulada, visto que entidades governamentais municipal buscam desenvolver
o turismo local, ou seja, o ecoturismo, e com isso, prover a melhoria da qualidade de vida da
comunidade local e do meio ambiente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AECOFABA. Escola família agrícola. Disponível em: http://www.micks. com.br/aecofaba/


caracter.htm. Acesso em: 05 set 2005.

COUTO, A. Artesanato: uma estratégia de sobrevivência da agricultura familiar?


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Instituto de Economia, Projeto Rurabano, 1998. Disponível em
http://www.eco.unicamp.br/nea/ rurbano / textos/congrsem/sober2.html. Acessado em
04/06/2007.

FERREIRA, A. Miniaurélio: o dicionário da língua po rtuguesa. 6ª ed. Ver. Atual,


Curitiba: Positivo, 2006. 895p.

GENTIL, A. (Coord.). Manual de consumo consciente. Unimed do Brasil, 2005, 74p.

GONÇALVES, Anne Caroline Silva & OLIVEIRA, Elisabete Costa de. A arte em fuxico. RJ:
GONÇALVES, folder, 2005.4p.

TEIXEIRA, Edilene Lagedo. Artesanato urbano. RJ: TEIXEIRA, 2004. 124p.

TEIXEIRA, Edilene Lagedo & SANTOS, Luanda. Estamparia por Tye-die. RJ:UFRRJ,
folder. 24p.

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