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Realização: Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento da Política Nacional para

População em Situação de Rua - CIAMPRua

Apoio: Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República


Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

RELATÓRIO PRELIMINAR
(Contribuição dos representantes da sociedade civil no CIAMPRua)

– Julho 2010 –
2

Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento da Política Nacional para População


em Situação de Rua – CIAMPRua:
Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
Ministério da Justiça
Ministério da Saúde
Ministério da Educação
Ministério das Cidades
Ministério do Trabalho e Emprego
Ministério dos Esportes
Ministério da Cultura
Movimento Nacional de População de Rua - MNPR
Fórum Permanente de Acompanhamento de Políticas para a População em Situação de Rua - CE
Fórum Permanente de Acompanhamento de Políticas para a População em Situação de Rua - SP
Pastoral da População em Situação de Rua - BH
Grupo de Estudos e Pesquisa em Seguridade Social e Trabalho - GESST/ UnB/ CNPq

Órgãos de Apoio:
Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República
Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

Equipe Organizadora do Evento:


Ivair Augusto Alves dos Santos - Coordenador do CIAMPRua
Wasmália Bivar - Diretora de Pesquisas/ IBGE
Alicia Bercovich - IBGE
Jacqueline Manhães - IBGE
Renato D'Almeida Cunha Bastos - IBGE
Zélia Bianchini - IBGE
Marcelo Silva e Silva - MNPR/RJ
Maria Cristina Bove Roletti - Pastoral da Rua/CNBB1
Maria Lucia Lopes da Silva - GESST/UnB/CNPq
Samuel Rodrigues - MNPR/BH

Elaboração do Relatório Preliminar:


Cleisa Moreno Maffei Rosa
Lídia Valesca Bomfim Pimentel
Maria Antonieta Vieira
Maria Carolina Tiraboschi Ferro
Maria Lucia Lopes da Silva

Tradução de Apresentações de Inglês para Português:


Maria Carolina Tiraboschi Ferro

Organização:
Maria Lucia Lopes da Silva

Revisão:
Cleisa Moreno Maffei Rosa
Maria Lucia Lopes da Silva

Projeto Gráfico da Capa:


Renato D'Almeida Cunha Bastos2

Foto da Capa:
Alderon Costa/ Rede Rua3

1
Participou apenas das reuniões iniciais, depois foi designada para assumir novas tarefas no CIAMPRua.
2
Foi utilizado o projeto feito, originalmente, para o folder e convite do seminário.
3
Foi utilizada a foto cedida para o projeto gráfico do folder e do convite do seminário.
3

RELATÓRIO PRELIMINAR DO SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE


METODOLOGIAS PARA PESQUISA SOBRE POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE
RUA, realizado pelo CIAMPRua, com apoio da Secretaria de Direitos Humanos da
Presidência da República e da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE,
nos dias 11 e 12 de maio de 2010, no Rio de janeiro - Brasil.

(Contribuição dos representantes da sociedade civil no CIAMPRUA )

Brasília, 20 de julho de 2010.


4

SUMÁRIO

LISTA DE SIGLAS .................................................................................................................... 5


APRESENTAÇÃO...................................................................................................................... 7
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 8
2. Critérios de Participação ........................................................................................................ 13
3. Conteúdos Desenvolvidos ..................................................................................................... 13
4. Programação Cumprida ........................................................................................................ 14
5.1. Conceitos e metodologias de levantamentos da população em situação de rua -
experiências internacionais ................................................................................................... 16
5.2. Conceitos e metodologias de levantamentos da população em Situação de rua -
experiências nacionais (Partes I e II) ..................................................................................... 29
6. Encaminhamentos .............................................................................................................. 40
ANEXO I - Relação dos participantes ....................................................................................... 42
ANEXO II - Questões levantadas nos debates .......................................................................... 47
Referências Bibliográficas ......................................................................................................... 50
5

LISTA DE SIGLAS

ABS - Australian Bureau of Statistics


CD - Collection District
CIT- Comissão Intergestora Tripartite
PBH - Prefeitura de Belo Horizonte
CIAMPRua - Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento da Política Nacional para
População em Situação de Rua
CNPQ - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
FASC - Fundação de Assistência Social e Cidadania

FIPE - Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas


GESST - Grupo de Estudos e Pesquisa em Seguridade Social e Trabalho
IASC - Instituto de Assistência Social e Cidadania
IBGE - Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ICR - Formulário Individual do Censo
MDS - Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
MNPR - Movimento Nacional de População de Rua
PUCMinas - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
SAAP - Programa Assistencial de Apoio de Abrigamento
SBE - Service-Based Enumeration
UFPE - Universidade Federal de Pernambuco
UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul
UnB - Universidade de Brasília
ZEIS - Zonas Especiais de Interesse Social
6

Temos o direito de sermos iguais sempre que as diferenças nos inferiorizem;


Temos o direito de sermos diferentes sempre que a igualdade nos descaracterize.

Boaventura de Sousa Santos


As tensões da modernidade.
7

APRESENTAÇÃO

Este documento constitui um Relatório Preliminar do Seminário Internacional de


Metodologias para pesquisa sobre população em situação de rua, realizado pelo Comitê
Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento da Política Nacional para População em
Situação de Rua - CIAMPRua, com apoio da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência
da República e da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, nos dias 11
e 12 de maio de 2010, no Auditório do IBGE, no Rio de janeiro. Sua elaboração foi uma
iniciativa dos representantes da sociedade civil, que compuseram a comissão organizadora do
evento. A organização e redação do texto foram realizadas sob a coordenação de Maria Lucia
Lopes da Silva, com o apoio de outras especialistas no tema: Cleisa Moreno Maffei Rosa,
Maria Antonieta Vieira, Maria Carolina Tiraboschi Ferro e Lídia Valesca Bomfim Pimentel.
O apoio das especialistas convidadas não as responsabiliza por eventuais erros no documento.
Para a produção do texto, adotou-se como base as apresentações em power point
disponibilizadas pelos palestrantes e as anotações realizadas pelos que participaram de sua
redação. As apresentações em inglês foram traduzidas por Maria Carolina Ferro, que contou
com a colaboração de Cleisa Moreno Maffei Rosa e Maria Antonieta Vieira. Optou-se pela
tradução mais literal possível com vistas a preservar fidelidade ao pensamento dos autores.
A intenção dos representantes da sociedade civil no CIAMPRua com este Relatório
Preliminar é subsidiar a elaboração do Relatório Final a ser realizada com base na degravação
das fitas de gravação do evento e oferecer aos participantes um registro prévio das reflexões
realizadas e dos encaminhamentos ali acordados. Espera-se alcançar este propósito.

Saudações solidárias,

Representantes da Sociedade Civil no CIAMPRua na Comissão de Organização do Evento:


Marcelo Silva e Silva - MNPR/RJ
Maria Lucia Lopes da Silva - GESST/UnB/CNPq
Samuel Rodrigues - MNPR/BH
Brasília, 20 de julho de 2010.
8

INTRODUÇÃO

Falemos abertamente sobre o foi a nossa vida, se era vida aquilo,


durante o tempo em que estivemos cegos,
que os jornais recordem, que os escritores escrevam,
que a televisão mostre as imagens da cidade tomada
4
depois de termos recuperado a visão. José Saramago.

O fenômeno população em situação de rua é antigo e o seu dimensionamento ao longo


da história, em qualquer forma social, sempre foi uma atividade complexa.
Sua origem remonta ao surgimento das sociedades pré-industriais da Europa, no
contexto da chamada acumulação primitiva5, em que os camponeses foram desapropriados e
expulsos de suas terras sem que todos fossem absorvidos pela indústria nascente. Esse
descompasso fez com que parte desses camponeses vivenciasse a experiência de perambular
pelas ruas exposta à violência da sociedade opressora, que acabara de nascer. Assim, a origem
desse fenômeno vincula-se à criação das condições necessárias à produção capitalista, que
forjou o pauperismo que se generalizou na Europa Ocidental, no final do século XVIII.
Com a expansão do capitalismo, sua produção e reprodução ocorrem no contexto de
constituição do exército de reserva que se desenvolve sintonizado com as necessidades de
expansão do capital, o que o torna um fenômeno inerente a esse modo de produção.
Todavia, esse fenômeno pode ser inibido pela ação de políticas sociais, ainda que as
condições para a sua reprodução permanente subsistam à ação das políticas sociais, que são
incapazes de eliminar a estrutura de classes da sociedade capitalista.
De qualquer modo, para que políticas sociais sejam estruturadas para enfrentá-lo é
preciso que esse fenômeno seja dimensionado quantitativa e qualitativamente.
No Brasil, não se tem conhecimento de estudos e pesquisas sobre a origem, história e
tentativas de dimensionar o fenômeno população em situação de rua anterior à década de 1990.
É a partir dessa década que se tem os primeiros estudos sobre o fenômeno e as iniciativas para
o seu enfrentamento em cidades brasileiras6, os quais revelaram sua expansão coincidente às

4
Cf.: SARAMAGO, José. Ensaio sobre a Lucidez. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, contracapa.
5
Cf. MARX, karl. O Capital. Livro 1. Vol. II. Trad: Reginaldo Sant’anna. 12ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil S. A., 1988.
6
O “I Seminário Nacional Sobre População de Rua” no Brasil, ocorrido em São Paulo entre os dias 3 e 5 de junho de 1992,
organizado por organizações não governamentais e pela Prefeitura de São Paulo contou com representantes de 17 municípios
9

mudanças promovidas pelo capitalismo em escala mundial, a partir do decênio de 1970,


manifestas no Brasil, sobretudo, a partir de 1995. Nesse período, percebeu-se o crescimento do
exército de reserva no mundo e no Brasil, em decorrência do aprofundamento do desemprego,
do trabalho precarizado e do pauperismo, o que ajuda a explicar a expansão do fenômeno.
A partir da década de 1990, o avanço do projeto neoliberal no País, imprimiu às políticas
sociais uma conformação seletiva e residual, com profundos limites de cobertura. Nesse
quadro, a relação da população em situação de rua com as políticas sociais é de completa
exclusão. Não existem políticas sociais, no País, capazes de alcançar plenamente esta
população. Seja pelas características restritivas das políticas, pelo preconceito e discriminação
que atingem essa população ou pela insuficiência de dados e informações sobre esse grupo
populacional, o que dificulta instituir políticas sociais mais abrangentes.
Estudos e pesquisas revelam que, no período transcorrido entre 1995 e 2005, o Brasil foi
marcado pelo aprofundamento do desemprego, do trabalho precarizado, pela fragilização das
políticas sociais e pela expansão do fenômeno população em situação de rua. Fortes sinais
indicam que esse fenômeno é multideterminado e, nesse período, sofreu forte determinação
das mudanças no mundo do trabalho associadas à precária proteção social pelas políticas
sociais. Da mesma forma, esses estudos revelam que as décadas de 1990 e a de 2000 foram
fecundas pela realização de pesquisas sobre o fenômeno no País e esparsas iniciativas de
políticas sociais dirigidas a esse grupo populacional. Além disso, sobretudo a partir de 2005,
nasce e se generaliza no País um movimento de pessoas em situação ou com trajetória de rua
que tem o acesso às políticas sociais como principal bandeira de luta.7
O Decreto nº 7053, de 23 de dezembro de 2009, que institui a Política Nacional para a
População em Situação de Rua e o Comitê Intersetorial para o seu Acompanhamento e
Monitoramento, constituiu, em anos recentes, a conquista de maior expressão para os que
militam nessa área, na direção de políticas sociais alcançáveis por esse grupo populacional.
Esse mesmo Decreto, em seu artigo primeiro, diz que “Fica instituída a Política
Nacional para a População em Situação de Rua, a ser implementada de acordo com os
princípios, diretrizes e objetivos previstos neste Decreto” e, em seu artigo 7º, inciso XX,

do País e registrou as primeiras iniciativas de trabalhos e esforços de configuração de perfis da população em situação de
rua no Brasil na década de 1990. Cf.: ROSA, C. Moreno Maffei (org.). População de Rua Brasil e Canadá. São Paulo:
Hucitec, 1995.
7
Cf.: SILVA, Maria Lucia Lopes da. Trabalho e população em situação de rua no Brasil. São Paulo: Cortez, 2009.
10

determina como um dos objetivos da Política Nacional para População em Situação de Rua,
“instituir a contagem oficial da população em situação de rua”. Da mesma forma, o Decreto
nº 7053/2009, em seus artigos 13 e 14 estabelece, respectivamente, que a Fundação Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE prestará “apoio necessário ao Comitê Intersetorial
de Acompanhamento e Monitoramento da Política Nacional para a População em Situação de
Rua, no âmbito de suas respectivas competências” e a Secretaria de Direitos Humanos da
Presidência da República “dará apoio técnico-administrativo e fornecerá os meios necessários
à execução dos trabalhos do Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento da
Política Nacional para a População em Situação de Rua”. Sem dúvida, estas normas
orientadoras para a elaboração e a implementação da Política Nacional para População em
Situação de Rua, associadas às prioridades do CIAMPRua para o ano de 2010, são as
principais justificativas oficiais para a realização do Seminário Internacional de Metodologias
para pesquisa sobre população em situação de rua, pelo CIAMPRua, com apoio da Secretaria
de Direitos Humanos da Presidência da República e do IBGE, nos dias 11 e 12 de maio de
2010, no Auditório do IBGE, no Rio de janeiro. Todavia, essas normas refletem, em especial,
anos de luta de entidades, pessoas em situação de rua, estudiosos, pesquisadores e outros
militantes da área, para que esse grupo populacional seja retirado do “pseudoanomimato”,
mediante contagem oficial, pelo governo federal, por meio do órgão responsável pelo censo
populacional no País e revelação de seu perfil e características, bem como das caracteríticas
dos espaços que ocupam como referências de moradias e meios de sustento.
Essa reivindicação da sociedade civil, que se traduziu em norma referente à contagem
oficial e revelação do perfil e das características dos espaços de “moradia” da população em
situação de rua pauta-se na seguinte visão: os censos populacionais devem ser abrangentes e
universais, portanto, nenhum grupo populacional pode ser excluído do mesmo, como acontece,
atualmente, no Brasil em relação à população em situação de rua; as políticas sociais só podem
ser universais se considerarem as características gerais e, também, as específicas dos grupos
populacionais aos quais se destinam; as pesquisas de natureza censitárias sobre população em
situação de rua, realizadas até o presente momento no Brasil, embora sejam importantes
subsídios para o conhecimento desse grupo populacional e importantes referências do ponto de
vista técnico e metodológico, ainda são insuficientes para subsidiar a elaboração e
implementação de políticas sociais, nacionalmente, articuladas voltadas para esta população.
11

Com base nessa visão, é urgente que sejam produzidos dados e informações sobre a
população em situação de rua no Brasil, com vistas a subsidiar a universalização das políticas
sociais de saúde, educação, trabalho, habitação, cultura, lazer, previdência social, assistência
social, segurança pública, entre outras, de modo a torná-las acessíveis à população em situação
de rua, bem como subsidiar a elaboração de novas políticas sociais ou programas específicos,
no âmbito dessas políticas, voltados para a população em situação de rua.
A realização do seminário internacional “Seminário Internacional de Metodologias para
Pesquisas sobre População em Situação de Rua”, pelo CIAMPRua, com apoio da Secretaria
de Direitos Humanos da Presidência da República e do IBGE, nos dias 11 e 12 de maio de
2010, no Rio de janeiro, constituiu uma etapa de vital relevância na perspectiva de dar
evidência objetiva à norma expressa no artigo 7º, Inciso XX, do Decreto nº 7053/2009,
instituição da contagem oficial da população em situação de rua no Brasil. Seu principal
objetivo foi “possibilitar o intercâmbio de experiências internacionais e nacionais sobre
metodologias utilizadas em pesquisas sobre a população em situação de rua, com vistas a
subsidiar a realização de pesquisa nacional sobre esse grupo populacional no Brasil”, bem
como definir encaminhamentos referentes às etapas subsequentes para a realização da norma.
A prudência e o desejo de conhecer experiências de pesquisas sobre população em
situação de rua já realizadas no âmbito da Federação Brasileira e de outros Países mobilizaram
a equipe organizadora do evento, que optou por uma programação centrada nos conceitos e
metodologias utilizadas nessas experiências, bem como por um grupo seleto de convidados
totalmente capaz de possibilitar o alcance do objetivo do evento.
Assim, o seminário contou com 65 (sessenta e cinco) participantes inscritos, conforme
demonstra o anexo I a este Relatório, embora mais pessoas tenham sido convidadas, entre as
quais, cinco convidadas pelos representantes da sociedade civil que não participaram do
evento porque os seus deslocamentos não foram viabilizados. Todos os convidados tinham
vinculação direta com o tema do evento, seja por atuação na área (pesquisadores, estudiosos,
aplicadores de questionários, entre outros), seja por serem pessoas com trajetória de rua
vinculadas ao Movimento Nacional de População de Rua - MNPR ou por pertencerem a
órgãos governamentais com funções a serem cumpridas, que exigem conhecimento do tema.
Como palestrantes internacionais foram convidados representantes de dois países que
possuem experiência de pesquisas censitárias com esse grupo populacional: Austrália e
12

Estados Unidos. Ambos os países enviaram um representante. Os palestrantes brasileiros


convidados foram pesquisadores ou técnicos envolvidos diretamente na coordenação das
pesquisas sobre população em situação de rua realizadas em Belo Horizonte - MG, Porto
Alegre - RS, Recife - PE, São Paulo - SP e em 71 municípios brasileiros com mais de 300 mil
habitantes. Além desses, foi convidado um representante do IBGE para falar sobre conceitos e
metodologias usados nos censos demográficos no Brasil.
A metodologia do encontro baseou-se em exposição, seguida de debates.
A programação prevista para os dois dias foi rigorosamente cumprida.
Este Relatório Preliminar, além da apresentação e desta introdução está organizado em
seis tópicos autoexplicativos sobre os seus conteúdos: objetivo; critérios de participação;
conteúdos desenvolvidos; programação coumprida; conteúdo das palestras (subdividido em
dois subitem, conceitos e metodologias de levantamentos de população em situação de rua
experiências internacionais e experiências nacionais) e encaminhamentos.
13

1. Objetivo

 Possibilitar o intercâmbio de experiências internacionais e nacionais sobre


metodologias utilizadas em pesquisas sobre a população em situação de rua, com vistas
a subsidiar a realização de pesquisa nacional sobre esse grupo populacional no Brasil.
Essa pesquisa será realizada em parceria entre o IBGE e a Secretaria Especial de
Direitos Humanos da Presidência da República em 2012.

2. Critérios de Participação
 Ser membro do CIAMPRua ou indicado por alguma instituição governamental ou não
governamental, que compõe o referido Comitê, para representá-la, em substituição ao
representante oficial;
 Ter sido coordenador técnico ou participado de pesquisas quantitativas sobre
população em situação de rua realizadas no Brasil em pelo menos uma grande
metrópole do País;
 Ser servidor público federal lotado no IBGE em áreas relacionadas às atividades de
pesquisas realizadas pelo órgão;
 Ter sido convidado pela comissão organizadora do evento em função de
conhecimentos técnicos sobre o tema “metodologias de pesquisas sobre população
em situação de rua” ou vinculação política com áreas ou movimentos relacionados à
população em situação de rua.

3. Conteúdos Desenvolvidos
 Conceitos e metodologias do Censo Demográfico do Brasil.
 Conceitos e metodologias de levantamentos da população em situação de rua –
Experiências internacionais.
 Conceitos e metodologias de levantamentos da população em situação de rua -
Experiências nacionais (parte I).
 Conceitos e metodologias de levantamentos da população em situação de rua -
Experiências nacionais (parte II).
14

4. Programação Cumprida

Dia 11 de maio de 2010

9h30 às 10h30 - Inscrição e recebimento de material

10h30 às 11h - Sessão de abertura


Wasmália Bivar, Diretora de Pesquisas - IBGE.
Ivair Augusto Alves dos Santos, Coordenador do CIAMPRua.
Anderson Lopes Miranda, Coordenação Nacional do MNPR.
Diogo Santana, Assessor do Gabinete Particular do Presidente da República.

11h às 11h30 - Apresentação da programação e dos objetivos do seminário e orientações


Coordenador: Marcelo da Silva, Articulador regional do MNPR (RJ)
Expositores: Wasmália Bivar, Diretora de Pesquisas - IBGE e Ivair Augusto Alves dos Santos,
Coordenador do CIAMPRua

11h30 às 12h30 - Conceitos e metodologias do Censo Demográfico do Brasil


Coordenadora: Letícia Toledo do Amaral, Ministério da Saúde
Expositora: Alicia Bercovich, Coordenadora do Comitê do Censo Demográfico

12h30 às 14h - Intervalo

14h30 às 16h - Conceitos e metodologias de levantamentos da população em situação de


rua - Experiências internacionais (exposição)
Coordenadora: Wasmália Bivar, Diretora de Pesquisas - IBGE
Expositores: Dora B. Durante, Chief, Special Populations Programs Branch, Decennial
Management Division, U.S. Census Bureau e Bob McColl, Assistant Statistician of the Social
Conditions Branch, Australian Bureau of Statistics.

16h às 16h15 - Intervalo


15

16h15 às 18h - Debates

Dia 12 de maio de 2010

9h às 10h30 - Conceitos e metodologias de levantamentos da população em situação de


rua - Experiências nacionais (parte I)
Coordenadora: Maria Lucia Lopes da Silva - GESST/UnB/CNPq e CIAMPRua.
Expositores: Frederico Poley Martins Ferreira - Experiência de Belo Horizonte; Cristiane
Franca Carvalho - Experiência de Recife; Ivaldo Gehlen - experiência de Porto Alegre.

10h30 às 10h45 - Intervalo

10h45 às 11h45 - Conceitos e metodologias de levantamentos da população em situação


de rua - Experiências nacionais (parte II)
Coordenadora: Maria Lucia Lopes da Silva - GESST/UnB/CNPq e CIAMPRua.
Expositores: Maria Antonieta da Costa Vieira - Experiência de São Paulo e Júnia Quiroga -
Pesquisa Nacional em 71 municípios brasileiros.

10h45 às 11h45 - Debates

12h30 às 14h - Intervalo

14h às 16h - Continuidade do tema da manhã com debates

16h às 16h15 - Intervalo

16h15 às 17h - Encaminhamentos

17h - Encerramento
16

5. Conteúdo das Palestras

5.1. Conceitos e metodologias de levantamentos da população em situação de rua -


experiências internacionais
Coordenadora: Wasmália Bivar, Diretora de Pesquisas - IBGE
Expositores: Dora B. Durante, Chief, Special Populations Programs Branch, Decennial
Management Division, U.S. Census Bureau 8 e Bob McColl - Assistant Statistician of the
Social Conditions Branch, Australian Bureau of Statistics9.

DORA B. DURANTE - REPRESENTANTE DOS ESTADOS UNIDOS

A) Antecedentes

O Census Bureau, órgão similar ao IBGE para os americanos, tem como princípios o
respeito à privacidade e à confidencialidade, compartilha o conhecimento de forma ampla e
trabalha com transparência. Seus profissionais são considerados e vistos pela sociedade como
competentes e com compromissos sociais.

O Census Bureau inclui em sua contagem os homeless, entendidos como as pessoas em


situação de rua, os sem-casa e os moradores de habitações precárias. É importante destacar
que não há exigência legal que obrigue o Census Bureau a apresentar os resultados dessa
contagem separada do restante da população. A população em situação de rua é incluída nas
áreas geográficas onde foi encontrada, mas sem especificação de sua condição.

B) Visão Geral da Contagem dos Homeless

O Census Bureau realiza a contagem levando em conta situações habitacionais diversas,


tais como:
 Unidades residenciais que incluem pessoas vivendo com duas ou três outras famílias e
amigos;

 Indivíduos que preenchem o questionário “Be Counted” (seja contado) que indica que
não têm moradia usual;

8
www.census.gov/)
9
www.abs.gov.au)
17

 Unidades residenciais identificadas pelo preenchimento do questionário “Be Counted”


que fornecem o endereço de um amigo ou parente como sua moradia usual;

 Presídios locais e outros equipamentos semelhantes das municipalidades;

 Alojamentos coletivos (group homes) para adultos e crianças;

 Alojamentos de trabalhadores;

 Abrigos para homeless.

Além dessa contagem tradicional, o Census Bureau desenvolve a operação Service-


Based Enumeration (SBE), isto é, contagem com base nos serviços. A SBE foi, especialmente,
desenhada para alcançar pessoas que usam serviços sociais porque elas podem não ter sido
contadas na contagem tradicional. Os serviços são:

 Abrigos para homeless;

 Refeitórios coletivos fixos;

 Vans móveis de distribuição de comida com saídas regulares;

Ademais, realiza uma contagem dos homeless por meio de visitas feitas às ruas e a locais
externos que foram, anteriormente, mapeados.

Para essa contagem é utilizada uma ficha individual (ICR) onde constam o nome, sexo,
idade, data de nascimento, origem hispânica e raça. Cada pessoa que responde, recebe um
formulário de “Ato de Privacidade”, que é o compromisso à privacidade da pessoa.

C) História da Contagem dos Homeless

Foi a partir da década de 1980 que o Census Bureau começou a incluir, gradativamente,
iniciativas de contagem dos homeless no censo decenal.

 1980 Census - Missão Noturna (Mission Night)

 1990 Census - Noite dos abrigos e da rua

 2000 Census - Contagem com base nos serviços (SBE)

 2010 Census - Contagem com base nos serviços (SBE)


18

Em 1980, a Missão Noturna realizou a contagem de pessoas que estavam nos abrigos,
quartos de pensão, salas noturnas de cinemas, ônibus, estações de trem e presídios locais em
apenas uma noite, isto é, do final da tarde até meia-noite.

Em 1990, o Census Bureau trabalhou em conjunto com os governos locais para


desenvolver uma base de dados anterior à realização do Censo. Foi uma contagem dos
homeless em:

 Abrigos emergenciais;

 Abrigos para jovens que fugiram de casa, abandonados e homeless;

 Abrigos para mulheres que sofreram abusos;

 Visitas feitas às ruas e a locais externos que foram, anteriormente, mapeados.

Em 2000, iniciou-se a SBE - Contagem com Base nos Serviços, que pela primeira vez
atingiu as organizações não governamentais e foi realizada com algumas melhorias:

 Inclusão de abrigos emergenciais e transitórios (com pernoite);

 Contagem em refeitórios coletivos fixos e nas paradas das vans móveis de distribuição
de comida que se deslocam regularmente;

 Redefinição do que era o âmbito das ruas e locais externos que seria mapeado.

Em 2010, essas mesmas três categorias conduzidas, em três dias separados, no final de
março de 2000, foram repetidas, expandindo-se o âmbito dos locais externos com a inclusão
de indivíduos vivendo em carros e em acampamentos.

D) Definições Revisadas do Censo 2010

1. Abrigos emergenciais e transitórios (com pernoite) onde os homeless passam a noite. Estes
incluem:

 Abrigos que operam com o critério “os primeiros que chegam são atendidos” onde as
pessoas têm que deixar o local pela manhã e não têm camas garantidas na noite
seguinte;

 Abrigos onde as pessoas sabem que terão uma cama por um período específico de
tempo, mesmo tendo deixado o local durante o dia;
19

 Abrigos que fornecem moradia temporária durante períodos de extremo frio (igrejas,
por exemplo). Nessa categoria não estão incluídos os abrigos que operam nas
catástrofes naturais;

 São exemplos, os abrigos emergenciais e transitórios; os hotéis e motéis usados pelos


homeless e os abrigos para crianças que fugiram de casa, abandonadas ou que estavam
nas ruas.

2. Refeitórios coletivos em instalações permanentes que oferecem refeições ou lanches para


os homeless.

3. Vans móveis de distribuição de comida com saídas regulares. São locais nas ruas onde as
vans param, regularmente, para os homeless.

4. Locais externos identificados (TNSOLs). Locais pré-identificados onde as pessoas não


pagam para ficar; esses locais devem ser mapeados por meio de descrição específica.

5. Os locais externos identificados foram expandidos para incluir indivíduos que vivem em
carros, veículos de recreação (RVs) e tendas em acampamentos. Estes espaços foram pré-
identificados pelos funcionários dos governos locais e/ou parceiros de programas para esta
população. Exemplos de acampamentos:

 Carros e RVs nos estacionamentos de grandes lojas ou estacionamentos municipais,


assim como tendas de acampamentos em terrenos baldios;

 Locais onde ficam pessoas que não têm casa convencional e que não pagam para
permanecer;

 Não são incluídos veículos recreativos em parques onde as pessoas pagam para ficar.
Esses não são considerados homeless e são contados na Operação de Locais
Transitórios.

E) Listagens e Atualizações

 Governos locais, estaduais e tribais, assim como funcionários e organizações foram


contatados para fornecer nomes e endereços dos abrigos, dos refeitórios coletivos, das
vans e dos locais externos para elaboração de listagens. Na primavera de 2009, foi
20

enviada uma segunda listagem para as organizações e governos solicitando a


localização dos pontos externos;

 Foi dada autorização para que se trabalhasse conjuntamente com governos locais e
participantes de organizações para identificar serviços e pontos de permanência
externos durante março de 2010;

 No censo de 2000 acampamentos, barcos e hotéis foram incluídos na contagem do


grupo dos alojamentos embora estes locais tenham sido contados como unidades
residenciais;

 No Censo de 2010 foi implantada uma nova operação chamada contagem dos locais
transitórios. Esta nova operação se referiu unicamente aos locais mencionados acima.

F) Dias de Contagem Flexíveis

 Coordenadores do SBE - Contagem com Base nos Serviços puderam escolher um dos
três dias estabelecidos para a realização da contagem;

 Datas pré-designadas para a contagem:

 Abrigos emergenciais e transitórios - 29 março 2010;

 Refeitórios permanentes (Soup kitchens) - 30 de março 2010;

 Vans móveis de distribuição de comida com saídas regulares - 31 março 2010 (na
noite de 30 ou 31).

G) Aperfeiçoamento dos Instrumentais

 Foi utilizado apenas um instrumental em 2010 para a contagem de pessoas nos três
tipos de locais de serviço e nos locais externos;

 No Censo de 2000. foram utilizados quatro instrumentais

 Questionário individual (ICQs) - forma longa

 Questionário individual (ICQs) - forma curta

 Formulário individual (ICQs) - forma longa

 Formulário individual (ICQs) - forma curta


21

H) Treinamento

Para o treinamento, foi incluído um componente de sensibilização nas instruções para o


trabalho de campo, como:

 Identificar-se dentro dos acampamentos de homeless;

 Respeitar o ambiente das pessoas;

 Não julgar a população;

 Confidencialidade da informação;

 Uso de vestimentas de segurança e lanternas;

 Não acordar pessoas que estão dormindo;

 Contar apenas pela observação, quando necessário.

I) Contagem nos Serviços

 Cada respondente foi comunicado do caráter confidencial das informações fornecidas


que garantem a privacidade dos informantes;

 Os recenseadores utilizaram o Formulário Individual do Censo (ICRs) para conduzir as


entrevistas com todos os usuários dos serviços com as seguintes informações: nome,
sexo, idade/data de nascimento, origem hispânica, raça e residência usual;

 Os instrumentais puderam ser dados aos usuários dos serviços para que eles próprios
completassem. Os recenseadores retornaram depois de acordo com o que foi
combinado para buscar os instrumentais preenchidos em envelope selado.

J) Outros Procedimentos

Quando não era possível ter acesso às instalações, abrigos e serviços a contagem era
feita por observação e criado um ICR para cada pessoa. E nos casos onde não era possível
fazer a contagem por observação, se perguntava sobre o número total de usuários no local.

K) Instrumentais e Materiais

 Ficha de contagem;

 Formulário Individual do Censo (ICR) com formulário individual e envelope;


22

 Carta de apresentação para os serviços;

 Orientações sobre parcerias;

 Mapas;

L) Desafios

 Garantia da cobertura de todos os locais de serviço

 Segurança durante a contagem nas ruas

 Acesso às instalações com ajuda das organizações parceiras

 Barreiras linguísticas

BOB MCCOLL - REPRESENTANTE DA AUSTRÁLIA

A) Antecedentes

O Australian Bureau of Statistics (ABS) não publica a contagem dos homeless, mas
procura incluir no censo todas as pessoas, inclusive os homeless. Em função da crescente
focalização das políticas públicas envolvendo homeless, o ABS está revendo suas
metodologias de contagem deste grupo para aperfeiçoá-las.

B) Definição de Homelessness

Homelessness significa coisas diferentes para diferentes grupos na Austrália, podendo


ser entendida como:

 Homelessness absoluta - aqueles que não possuem nenhum teto sobre sua cabeça.
Uma questão difícil, mas que se constitui em uma pequena parte do problema.

 Homelessness relativa - muito mais significativa em termos numéricos - que inclui os


que estão em alojamentos precários, pensões ou que estão com amigos ou familiares e
declaram não possuir endereço habitual em outro lugar.

Na Austrália, o padrão mínimo de moradia é uma pequena unidade de aluguel com um


quarto, sala, cozinha, banheiro e alguma garantia de posse. Esse mínimo é o que a maioria das
23

pessoas pode alcançar no aluguel privado. As exceções onde não seria adequado aplicar o
padrão mínimo seriam os conventos, prisões, residência de estudantes; pessoas em trânsito e
que se estabeleceram em uma residência de longa duração, como os novos migrantes; os
australianos que retornaram do exterior e os australianos que se movimentavam dentro do país
para trabalhar, estudar ou circular.

C) Categorias de Homelessness

Nenhum alojamento: vivem na rua, em


edifícios abandonados, habitações
homelessness absoluta (primária)
improvisadas, debaixo de pontes, em parques,
etc.

Várias formas de abrigo temporário: amigos,


alojamento de emergência, refúgios, homelessness relativa (secundária)
albergues, pensões.

Quartos individuais em pensões, sem


banheiro privativo, cozinha ou alguma homelessness relativa (terciária)
garantia de posse.

Situações de habitação próximas do padrão


marginalmente abrigado
mínimo.

D) Objetivos Operacionais

Em relação aos homeless, os Censos da ABS buscam:

 Contar todos eles no país durante a noite do Censo;


24

 Fornecer informações suficientes sobre a classificação para que analistas possam


determinar o número e as características dos homeless nas diferentes situações
habitacionais.

Os indígenas homeless e outras pessoas que dormem em condições precárias na rua são
normalmente subcontados.

E) Estratégias Usadas em Censos Anteriores

De 1976 a 1991, os entrevistadores da ABS foram instruídos na noite do Censo, para:

 Visitar todos os lugares em seu Collection District (CD), onde as pessoas pudessem
estar dormindo em locais externos. Por exemplo: áreas de camping, bancos de parques,
edifícios abandonados, etc.;

 Entregar um formulário às pessoas encontradas e, se necessário, ajudá-las a preenchê-


lo imediatamente;

 Escrever “camper out” no formulário preenchido;

 Estes formulários eram assinalados como domicílio não privado, “camper out”.

As estratégias de 1976 a 1991 não funcionaram, totalmente, porque os entrevistadores


pensavam que não havia homeless em seus CDs; pelo receio de se aproximarem das áreas
onde os homeless se reuniam e medo nessa aproximação.

Ao longo dos censos de 1986, 1991 e 2001, algumas melhorias foram implementadas.

Em 1986, as coisas começaram a mudar. Foi utilizado um veículo que oferecia lanches
para os homeless e distribuía formulários do Censo

Em 1991, muitas outras coisas mudam, por exemplo:

 Os administradores do Censo fizeram contato com as organizações de serviço para


homeless e distribuíram formulários do Censo na hora das refeições, ajudando-os no
preenchimento;

 Na Noite do Censo de “Meninos de Rua”, foram para vários locais da cidade


equipados com itens para serem distribuídos aos meninos que preenchessem o
formulário do Censo;
25

 As equipes que realizaram o Censo na rua, também, percorreram a cidade a pé para


localizar crianças de rua, incluindo-as no Censo;

 Foram organizadas veículos com lanches pelos comerciantes locais;

 Crianças de rua foram empregadas como assistentes dos entrevistadores;

 Organizações identificaram concentrações de homeless;

 Foram feitos formulários especiais - uma única folha, grande, impressa em preto e
branco, não parecendo “tão oficial”;

 Foram organizadas bases nos serviços para homeless;

 Trabalhadores voluntários foram empregados como assistentes dos entrevistadores;

 O Centro de informações sobre homeless forneceu dados para subsidiar o Censo.

No Censo de 1996:

 Os respondentes que não tinham endereço habitual foram orientados a colocar


“endereço não habitual” no formulário. Anteriormente, a instrução para os que não
tinham endereço habitual era que colocassem que o endereço usual era o local onde
estavam no momento da contagem;

 Foram aperfeiçoadas as categorias relacionadas à residência de casa improvisada,


“campers out”;

 Foram estabelecidas listas de acomodações e que atendem homeless, especialmente


ONGs apoiadas pelo SAAP – Programa Assistencial de Apoio de Abrigamento. Os
serviços foram contatados também para identificar pontos de permanência de
homeless;

 Foram empregados membros da comunidade de homeless para a contagem nas áreas


“difíceis” na noite do Censo;

 Foram criados escritórios de campo nas áreas onde havia homeless;

 Foi feito contato com a comunidade de homeless para espalhar a notícia sobre a
importância da participação no Censo.
26

No Censo de 2001:

 Para aumentar as listas das habitações do SAAP foi pedido que os residentes
colocassem no formulário completo do Censo uma marca verde e, para garantir a
privacidade, enviassem o formulário por correio diretamente para o Centro de
Processamento do Censo;

 Os recenseadores foram orientados para, nas comunidades distantes, incluir na


contagem todas as habitações com estrutura permanente que tinham o objetivo de ser
uma casa, uma vez que, em censos anteriores só eram incluídas como casa, as
habitações que tinham banheiro funcionando;

 Esta mudança fez com que o número de indígenas em “casas improvisadas” caísse de
9.750 em 1996 para 2.680 em 2001.

No Censo de 2006, podem ser observadas algumas inovações:

 Utilização de formulários especiais curtos;

 Expansão da contagem especial em maior número de áreas geográficas;

 Mais entrevistadores recrutados dentro da própria população em situação de rua;

 Estabelecimento de escritórios de campo com apoio dos serviços existentes, refeitórios


comunitários e vans;

 Período mais longo de coleta dos dados, prolongado para até uma semana;

 Formulários curtos e especiais foram usados em áreas indígenas, quando necessário;

 Papel do Supervisor da Área Especial que tinha como função:

 Planejar e coordenar o trabalho fazendo a ligação dos serviços locais com os


entrevistadores especiais da ABS;

 Mapear rotas para os entrevistadores especiais;

 Identificar onde os escritórios de campo deveriam ser estabelecidos;

 Recrutar, treinar e dar apoio aos entrevistadores especiais.


27

Para a coleta das informações foram adotadas estratégias diferenciadas:

 Onde o número de homeless absoluto era baixo

Utilizou-se as equipes de trabalho da ABS que iam em duplas ou acompanhadas por um


prestador de serviço e seguiam os procedimentos acordados utilizando o formulário-padrão.

 Onde o número de homeless absoluto era moderado

Utilizou-se equipes de entrevistadores especiais e foram estabelecidos escritórios de


campo dentro dos serviços ou em grupos solidários onde os entrevistadores especiais
visitavam lugares com alta concentração de homeless. Esse método foi decidido em consulta
com os prestadores de serviço local.

 Onde o número de homeless absoluto era alto

Havia um supervisor de área especial para coordenar os trabalhos.

F) Como foi a Contagem dos Homeless na Austrália em 2006?

Resumo das características da contagem:


Condição dos homeless Proporção aproximada
Quartos individuais em pensão 26%
Alojamentos precários – Assistência de apoio
26%
(SAAP)
Morando com amigos ou parentes 36%
Sem alojamento (nas ruas, edifícios abandonados,
12%
debaixo de pontes, em parques, etc.)

Em relação aos usuários dos serviços, a contagem do Censo, com todos os detalhes de
classificação, se alinha com a contagem feita pelos serviços realizada na semana Censo, com
apenas uma diferença de 1%.

A contagem de pessoas visitando amigos e parentes e que informam não possuir um


endereço habitual é problemática. As pessoas vítimas de violência doméstica podem
apresentar as suas antigas casas como um endereço habitual. Isto resulta em subcontagem e
28

impossibilidade de identificar esta situação no processamento do Censo. Há necessidade,


também, de separar as pessoas em trânsito.

Os casos contados em pensões e os que declaram não terem endereços habituais,


também, são problemáticos, principalmente, pela dificuldade de separar pensão e casa precária.

Pessoas que não têm nenhum alojamento (dormem nas ruas) e que declaram não terem
endereço habitual são problemáticas na hora da contagem. Os entrevistadores do Censo
algumas vezes têm dificuldade de contar essas pessoas que dormem em áreas externas
(subcontagem) e classificam algumas moradias como “precárias” quando elas são
“temporárias” como, por exemplo, trabalhadores que vivem nos locais de trabalho, o que
aumenta, indevidamente, a contagem.

Com relação aos australianos indígenas:

 A mobilidade da população significa que os indígenas australianos são mais propensos


a não serem contabilizados no Censo, e aqueles que não são contados são,
provavelmente, os homeless (subcontagem).

 Alguns australianos indígenas que são contados e que estão homeless são propensos a
identificar sua terra natal como um "endereço habitual", apesar de não estarem vivendo
lá, por alguns anos, e não terem casa para onde voltar (subcontagem).

G) Diretrizes para 2011

 Estabelecimento de nova política de governo para reduzir a falta de moradia


(homelessness);

 Acordo entre governos federal e estadual para tratar da questão dos homeless;

 Metas para a melhoria do desempenho;

 Substituição para os serviços SAAP - Programa Assistencial de Apoio de Abrigamento,


e um novo sistema baseado no cliente (em vez de um sistema de suporte periódico) a
ser estabelecido até Julho de 2011;

 Aumento de financiamento para melhorar a contagem do Censo Indígena (15% de


subcontagem em 2006) e para expandir o Censo para áreas remotas, o que melhorará a
29

contagem dos homeless indígenas e ajudará a compreender a escala da subcontagem


dos homeless;

 Aumento do número de assistentes indígenas para o Censo ajudará a encontrar os


indígenas homeless e a explicar o conceito de "residência habitual" do Censo.

 Obter listas de registro de quartos de pensão assim como de novos serviços.

Para finalizar, foi ressaltado que contar os homeless não é tarefa fácil. Na Austrália, foi
um processo interativo e colaborativo de melhoramento a cada censo. As ONGs são parceiros
essenciais. A segurança do entrevistado é importante. O próximo Censo tem potencial para
melhorar, significativamente, a contagem de pessoas indígenas homeless.

Em seguida, houve o debate e os principais questionamentos estão no ANEXO II.

5.2. Conceitos e metodologias de levantamentos da população em Situação de rua -


experiências nacionais (Partes I e II)

Coordenadora: Maria Lucia Lopes da Silva - GESST/UnB/CNPq e CIAMPRua.

Expositores: Frederico Poley Martins Ferreira da Fundação João Pinheiro (Belo Horizonte);
Cristiane Franca Carvalho (Recife); Ivaldo Gehlen da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul (Porto Alegre); e Júnia Quiroga do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à
Fome (Pesquisa Nacional sobre a População em Situação de Rua em 71 municípios
brasileiros) e Maria Antonieta da Costa Vieira (São Paulo) da FIPE (Fundação Instituto de
Pesquisas Econômicas).

Frederico Poley Martins Ferreira - Experiência de Belo Horizonte

A) Antecedentes

O censo populacional da população de rua de Belo Horizonte teve início em 1998, com
um formato orientado para subsidiar a elaboração e aplicação de políticas públicas. Contou
com a crítica e com o apoio do Movimento Nacional da População de Rua, do Fórum da
População de Rua e da Secretaria de Assistência Social.
30

B) Conceitos: Geral e Operacional

Conceito Geral

“Grupo populacional heterogêneo constituído por pessoas que possuem em comum a


garantia da sobrevivência por meio de atividades produtivas desenvolvidas nas ruas, os
vínculos familiares interrompidos ou fragilizados e a não referência de moradia regular”
(MDS, 2004).

Conceito Operacional

“Pessoas de baixa renda, em idade adulta que, por contingência temporária ou


permanente, pernoitam em logradouros públicos, tais como praças, calçadas, marquises,
baixios de viaduto, em galpões, lotes vagos, prédios abandonados (ocupações não
consolidadas) ou albergues públicos” (PBH, 1998, 2005).

Para a realização dessa pesquisa, foram seguidas as seguintes questões de ordem


metodológico-conceituais:

 A pesquisa mapeou os pontos de concentração de população de rua em logradouros


públicos e em ocupações com alta rotatividade, como casarões, prédios e terrenos
abandonados (PBH, 2005);

 As “habitações precárias” ou subnormais não foram contadas;

 As crianças e adolescentes só foram contados quando em companhia de um adulto;

 Realizou-se uma observação prévia e chegou-se à conclusão de que os moradores de


rua não se dispersam de forma aleatória no espaço. Dessa forma, houve uma
compreensão da dinâmica territorial prévia à pesquisa.

C) Mapeamento

Fez-se um levantamento prévio de instituições no município: Igrejas, entidades,


movimentos e outras que desenvolvem atividades com a população de rua. Aplicou-se o
questionário nas instituições levantadas.

D) Instrumental
31

A execução da pesquisa fez-se por meio do preenchimento de dois questionários: um


aplicado à população de rua e outro referente às características dos pontos de concentração.
Ademais, foram utilizadas as informações do geoprocessamento já realizado pelo município.

O questionário, com 32 questões, foi amplamente discutido com o Movimento Nacional


da População de Rua, o Fórum da População de Rua e a PUCMinas (Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais). Foram observadas questões de linguagem.

E) A Pesquisa em 2005

Utilizou-se a mesma metodologia da pesquisa de 1998. No entanto, foi realizada além da


contagem, uma pesquisa qualitativa, que contou com apoio da PUCMinas e utilizou-se de um
conceito geral e outro operacional de população de rua.

F) Dinâmica da Pesquisa

Nas ruas:

 Equipe de entrevistadores de vinte pessoas, em sua maioria, universitárias;

 Saíam em equipe no horário de 18 às 24 horas. Cada equipe recebeu um mapa com os


pontos a serem pesquisados;

 Foram utilizados mapas das Regionais com arruamento, onde foram localizados os
pontos de concentração e foram excetuados aqueles que coincidiam com as Zonas
Especiais de Interesse Social - ZEIS

 Havia uma coordenação que recebia e conferia os questionários e os devolvia para


evitar dupla contagem;

 Tentativa de identificar motivos de recusas ou motivos da inviabilidade de se realizar a


entrevista;

 Em lugares considerados de difícil acesso, as equipes contavam com o apoio de


pessoas do Movimento da População de Rua de Belo Horizonte;

 As entrevistas eram em grupo. O motorista auxiliour na segurança da equipe.

Nas instituições:
32

 Contato prévio com os responsáveis;

 Um espaço especifico para realização das entrevistas;

As entrevistas foram realizadas nas instituições e nas ruas nos períodos entre 18 h e 24
horas durante 10 dias. Em 1998, no mês de fevereiro e, em 2005, no mês de outubro.

Cristiane França Carvalho - Experiência de Recife

A) Antecedentes

Realizou-se um levantamento de anterior à pesquisa de campo para mapear os locais


onde se localizava a população de rua. O trabalho foi realizado por uma equipe técnica que
possuía contato mais próximo com a população em situação de rua. A equipe de educadores
possuía proximidade e abertura para fazer abordagens e para realizar as entrevistas. É
importante destacar que a cidade de Recife não possui um movimento de população de rua
organizado, nem um fórum sobre essa problemática. A pesquisa foi realizada como apoio
técnico da Universidade Federal de Pernambuco - UFPE que realizou a parte qualitativa.

B) Conceito

Utilizou-se o seguinte conceito de população em situação de rua: “Grupo populacional


heterogêneo constituído por pessoas que possuem em comum a garantia da sobrevivência por
meio de atividades produtivas desenvolvidas nas ruas, os vínculos familiares interrompidos ou
fragilizados e a não referência de moradia regular”.

C) Mapeamento

Recife se caracteriza por ser uma cidade desigual com visíveis contrastes sociais. Para a
realização da pesquisa a cidade foi dividida em seis RPA e 93 bairros. Ademais, foi realizado
um levantamento prévio dos pontos de aglutinação com apoio do Serviço de Educação Social
de Rua do Instituto de Assistência Social e Cidadania - IASC. Fez-se contato com instituições
de acolhimento nas quais foram agendadas as visitas para entrevistas.

D) Dinâmica da Pesquisa

 Realizou-se treinamento intensivo com a equipe de pesquisa;

 Realizou-se pré-testes com o levantamento de possíveis dificuldades;


33

 O instrumental pedia o nome e dois apelidos para evitar dupla contagem;

 A equipe de supervisão realizou a 1ª e 2ª revisão dos questionários;

 A pesquisa foi realizada observando o calendário cultural da cidade evitando, por


exemplo, os dias de festa da padroeira entre outros eventos;

 A pesquisa foi realizada no mês de novembro contando com cerca de 100


pesquisadores. Em Recife, foi das 9 às 21 horas, mas os pesquisadores estiveram
presentes em alguns locais específicos da cidade em horários diferenciados;

 A participação de pessoas em situação de rua não foi totalmente positiva, pois


ocorreram conflitos;

 Além da contagem realizou-se uma pesquisa qualitativa com enfoque autobiográfico;

Ivaldo Gehlen - Experiência de Porto Alegre

A) Antecedentes

A pesquisa seguiu o objetivo de realizar o cadastro de crianças, adolescentes e adultos


em situação de rua e o estudo do mundo da população adulta em situação de rua em Porto
Alegre. A pesquisa objetivou, ainda, mapear os locais.

B) Conceito

A pesquisa utilizou o seguinte conceito de população de rua: “Conjunto não homogêneo


de indivíduos que utilizam as ruas, praças e outros espaços públicos para sua existência ou
habitação de forma permanente, eventual ou intermitente e/ou fazem uso de abrigos e
albergues destinados ao seu acolhimento, mesmo que eventualmente”.

Definição do universo:

Pessoas que dormem em abrigos, casas de acolhimento e locais públicos.

C) Mapeamento

Realização de mapeamento com a construção de uma planilha com horários, dias e


itinerários. Dividiu-se a cidade por eixos.

D) Instrumental
34

Foi realizado um curso de 40 horas sobre o tema para os vários atores engajados na
pesquisa e uma oficina para construir o instrumental com a participação de segmentos por
interesses (como saúde, habitação, etc.). Houve integração entre UFRGS - Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, FASC - Fundação de Assistência Social e Cidadania e equipe
técnica da pesquisa. Foi utilizado um formulário para o censo e outro para a pesquisa “o
mundo da população de rua” realizado por amostragem e um roteiro de entrevista para a
pesquisa qualitativa.

E) Dinâmica da Pesquisa

 Construção de manual de comportamento em campo;

 Motivação da população de rua para receber os pesquisadores;

 Carta explicativa da UFRGS e FASC e carta dos moradores rua informando sobre a
pesquisa;

 Foi utilizado um crachá para identificar os entrevistados;

 Para evitar duplicidade, o questionário trazia na identificação nome, nome da mãe e a


data de nascimento. Havia uma equipe responsável para fazer checagem, uma triagem
com as informações e correções para serem levadas a campo;

 Definição do cronograma e distribuição das equipes: mapa e turnos;

 Crítica de cada formulário com ajustes para digitação – checagem de coerência;

 Checagem na rua sobre falhas.

F) Relatórios

Primeiro houve a realização de um relatório técnico preliminar. Em seguida, elaborou-se


o relatório final analítico com as interpretações para apresentação para o Prefeito. Depois, foi a
apresentação de relatório para a imprensa e grupo de interesses. E, finalmente, fez-se um
relatório conceitual e dados estatísticos para o grupo de demanda.

G) Fatores de Sucesso

Os principais fatores de sucesso foram: a confiança na equipe que realizou o estudo e


desta com a população estudada; o cuidado para evitar constrangimentos; o respeito à
35

liberdade e o envolvimento de todos os interessados no processo do estudo. Além disso, a


responsabilidade ao executar as tarefas, com os compromissos assumidos e com os resultados
do estudo corroboraram para o sucesso do trabalho, assim como, a idoneidade/honestidade
dos pesquisadores/entrevistadores que procuraram explicar com clareza a pesquisa, utilizando
linguagem e posição respeitosa junto às pessoas estudadas.

Junia Quiroga - Pesquisa sobre a População em Situação de Rua em


71 municípios brasileiros

A) Antecedentes

A pesquisa surgiu de uma demanda do I Encontro de População de Rua, realizado pelo


MDS nos dias 1 e 2 de setembro de 2005. Foram realizados debates com especialistas e
representantes do Movimento Nacional de População de Rua acerca dos instrumentos de
coleta de dados e abordagens metodológicas, em oficinas e reuniões organizadas pelo MDS. O
processo posterior de validação dos instrumentos de coleta de dados esteve aberto a
contribuições externas.

A pesquisa teve como objetivo, conhecer e identificar as necessidades da população em


situação de rua para subsidiar a construção de uma política nacional para essa população.

Realizou-se o encaminhamento dos resultados das discussões à Comissão Intergestores


Tripartite (CIT), para obter o apoio das gestões locais no decorrer da pesquisa.

Para realização da pesquisa foi contratada a Empresa Meta por licitação. A pesquisa foi
realizada em 71 capitais com mais de 300 mil habitantes, menos São Paulo, Belo Horizonte,
Recife e Porto Alegre, que já haviam realizado suas pesquisas.

B) Conceito

A pesquisa partiu do conceito operacional de população de rua: “A população em


situação de rua é um grupo populacional heterogêneo, caracterizado por sua condição de
pobreza extrema, pela interrupção ou fragilidade dos vínculos familiares e pela falta de
moradia convencional regular. São pessoas compelidas a habitar em logradouros públicos
(ruas, praças, cemitérios, etc.), áreas degradadas (galpões e prédios abandonados, ruínas, etc.)
e ocasionalmente, utilizar abrigos e albergues para pernoitar”.
36

C) Instrumental

 O instrumental foi discutido com membros da sociedade civil e do Movimento


Nacional de População de Rua;

 O levantamento de campo foi censitário (questionário com 19 perguntas) e amostral


(questionário com 62 perguntas). A amostra de 10,4% do universo foi selecionada a
partir da técnica de amostragem probabilística sistemática;

 A pesquisa foi realizada em período noturno, quando, em geral, a população já estava


acomodada nos pontos de pernoite;

 No instrumental duas perguntas-filtro: Onde costuma dormir? E se a idade era de 18


anos ou superior;

 A recusa foi identificada.

D) Dinâmica da Pesquisa

 Mapeamento dos lugares de aglomeração;

 O trabalho de campo foi realizado por 55 coordenadores, 269 supervisores e 926


entrevistadores, totalizando 1.250 profissionais;

 Apoiaram o trabalho de campo 147 pessoas em situação de rua com trajetória de rua e
86 educadores ou profissionais, que trabalham com população em situação de rua,
totalizando 233 apoiadores;

 Ao todo, 1.483 pessoas atuaram nas atividades de campo;

 O levantamento de campo foi censitário (questionário com 19 perguntas) e amostral


(questionário com 62 perguntas). A amostra de 10,4% do universo foi selecionada a
partir da técnica de amostragem probabilística sistemática.
37

Maria Antonieta da Costa Vieira - Experiência de São Paulo

A) Antecedentes

Em maio de 1991, foi realizado o primeiro levantamento sistemático de população em


situação de rua na cidade de São Paulo pela Secretaria Municipal de Bem-Estar Social para
conhecer a ordem de grandeza desta população. As estimativas variavam de cinco a 100 mil
pessoas, porém foram encontrados nesse levantamento 3.392 pessoas.

Em 1997, uma lei municipal de atenção à população em situação de rua (Lei nº. 12.316
de 1997 e Decreto nº. 40.232 de 2001) instituiu a obrigatoriedade de pesquisas censitárias
periódicas. Em 2000, a Secretaria de Assistência Social do município encomendou à FIPE –
Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas o primeiro censo na cidade toda. Foi feita uma
pesquisa amostral de caracterização socioeconômica da população em situação de rua.

Durante essa década, a FIPE realizou outros estudos sobre a população em situação de
rua da cidade para a Secretaria de Assistência do Município. Esses estudos foram: censo dos
distritos da área central, 2003; censo da criança e adolescente em situação de rua na cidade de
São Paulo em 2007; segundo censo da população em situação de rua na cidade de São Paulo e
caracterização socioeconômica em 2009/2010.

B) Conceito

A definição de população em situação de rua utilizada nos Censos de 2000, 2003 e


2009/10 foi a mesma: “Segmento de baixíssima renda que, por contingência temporária ou de
forma permanente, pernoita nos logradouros da cidade - praças, calçadas, marquises, jardins,
baixos de viaduto - ou em locais abandonados, terrenos baldios, áreas externas de imóveis.
São considerados ainda os que, sem moradia, pernoitam em albergues ou abrigos”.

C) Etapas da Pesquisa

O Censo de 2009/2010 se desenvolveu em dois momentos que tiveram como objetivos:

 Primeira etapa (Nov/Dez 2009): recensear a população em situação de rua da cidade de


São Paulo descrevendo sua distribuição espacial;
38

 Segunda etapa (mar/abr 2010): traçar o perfil da população adulta em situação de rua
na cidade de São Paulo (estudo amostral).

1ª Etapa: Censo

Planejamento do Trabalho de Campo:

 Construção do Quadro de Referência: levantamento prévio dos pontos de presença de


população de rua na cidade a partir de varias fontes: ONGs, Secretaria, Movimento
Nacional da População de Rua e identificação de pontos de atração como áreas
comerciais, viadutos, instituições de serviços; e georreferenciamento dos “pontos”;

 Definição de nove distritos censitários: divisão da cidade em nove áreas que pudessem
ser visitadas em uma única noite pela totalidade das equipes, estabelecendo como
limite dos distritos aspectos físicos que dificultam a circulação de moradores de rua:
rios, vias expressas, ferrovias, linhas de metrô, etc.;

 Definição dos roteiros/trajetos: 82 roteiros a serem percorridos pelas equipes, cada uma
formada por um supervisor e 10 pesquisadores;

 Levantamento dos Serviços de Acolhida: localização por distritos censitários e contato


prévio com os serviços, comunicando que seriam recenseados no dia do levantamento
da área territorial onde estavam localizados;

 Seleção e treinamento de supervisores e recenseadores;

 Equipe de campo: 60 duplas de recenseadores (em geral, um homem e uma mulher) e


11 supervisores, com treinamento e pré-testes em campo como parte do processo de
seleção, a qual privilegiou experiência de pesquisa com população em situação de rua.

2ª Etapa: Caracterização socioeconômica

Recorte da Pesquisa:

 Pesquisados: população adulta em situação de Rua com 18 anos ou mais;

 Recorte espacial: área central da cidade de São Paulo que concentra mais de 60% da
população em situação de rua;
39

 Plano amostral: amostra estratificada com base nos dados do Censo: 31 roteiros
agrupados em sete estratos, aplicação de 526 questionários.

Seleção dos pesquisadores:

Seleção entre os que participaram do Censo com melhor perfil para abordagem da
população (21 pesquisadores). Critério: experiência em pesquisa com população de rua e
também experiência como educador ou outras atividades com a população de rua.

D) Instrumental

Instrumentos de coleta utilizados na 1ª Etapa:

 Ficha de caracterização do ponto: tipo de ponto e características do entorno;

 Ficha de recenseamento do morador de rua: sexo idade e cor/raça (com perguntas


filtro: “Onde dormiu ontem, onde dormirá hoje, onde costuma dormir”?). Para crianças
e adolescentes, que foram incluídos na contagem, pergunta: “Com quem está morando
na rua” e para mulheres, se tem filhos que moram com ela na rua e quantos.

Instrumentos de coleta utilizados na 2ª Etapa:

 Questionário com 49 questões (na maior parte, fechadas)

 Aspectos abordados:

 Caracterização demográfica;

 Família e vínculos familiares;

 Alternativas de pernoite e última moradia;

 Trabalho e renda;

 Saúde;

 Cidadania;

 Tempo de Rua;

 (Perguntas filtro)

 Duração da entrevista: aproximadamente 20 minutos


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E) Dinâmica da Pesquisa

Trabalho de Campo na 1ª Etapa:

 Período: noturno (a partir da 23 horas), de segunda a quinta, exclusive véspera de


feriados e dias com chuva

 Duração: sete noites (entre 17 de novembro a 14 de dezembro), cada noite percorrendo


um distrito censitário, em média)

 Equipe de campo: 120 recenseadores divididos em 11 equipes e 11 supervisores.


Acompanhantes: técnicos da Secretaria de Assistência, organizações e MNPR em área
de difícil abordagem e Vans de apoio às equipes de campo.

 Supervisão geral: equipe de planejamento no escritório com acompanhamento


permanente das equipes por telefone celular

Trabalho de Campo na 2ª Etapa:

 Período e duração: noturno (das 21 às 24 horas), em sete noites (março 2010);

 Equipe de campo: 20 recenseadores em duplas (em algumas áreas com


acompanhantes);

 Procedimento de campo: duplas de pesquisadores percorrem a área determinada para o


dia, com mapa e roteiro, obedecendo ao critério amostral estabelecido: entrevistar o
primeiro morador de rua encontrado, não entrevistar os quatro seguintes, entrevistar o
quinto e repetir o procedimento até atingir o número esperado de entrevistas
(aproximadamente 10 pessoas por dupla de entrevistadores).

Em seguida, houve o debate e os principais questionamentos estão no ANEXO II.

6. Encaminhamentos
 Realização de reunião com a presença da Comissão Organizadora do evento para
avaliação do mesmo, no dia 22 de junho de 2010, na sede da Diretoria de Pesquisas
do IBGE, no Rio de Janeiro;
41

 Estabalecimento de Convênio ou instrumento similar de natureza financeira entre a


Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e o Instituto
Brasileiro de Geográfia e Estatística para cobrir as despesas relacionadas às
atividades referentes à pesquisa sobre população em situação de rua no Brasil (cuja
pesquisa de campo será realizada em 2012) que serão realizadas, ainda, em 2010;

 A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e o Instituto


Brasileiro de Geografia e Estatística deverão incluir em seus respectivos
orçamentos no Plano Plurianual, a previsão de recursos necessários para a
realização das atividades relativas à Pesquisa supramencionada, que serão
desenvolvidas nos anos de 2011 e 2012;

 Realização de oficina sobre o conceito técnico e operacional de população em


situação de rua, sob organização e responsabilidade da Secretaria de Direitos
Humanos e do IBGE, no segundo semestre de 2010, entre os meses de setembro ou
outubro, com vitas a subsidiar as demais atividades relacionadas à pesquisa sobre
população em situação de rua já mencionada;

 As apresentações disponibilizadas pelos palestrantes serão encaminhadas para cada


participante do evento pelo IBGE.
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ANEXO I - Relação dos participantes


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ANEXO II - Questões levantadas nos debates10

QUESTÕES LEVANTADAS NA MESA: CONCEITOS E METODOLOGIAS DE LEVANTAMENTOS DA

POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA - EXPERIÊNCIAS INTERNACIONAIS

 Qual a dimensão da população e o tamanho das equipes no trabalho de campo. Exite


apenas uma equipe para toda a população ou se há equipe específica para contagem
dos homeless ? (Wasmália).

 Uma vez definida a população, são detalhadas todas as estratégicas para a cobertura.
Gostaria de saber das limitações na cobertura inicial, especialmente, das pessoas que
vivem efetivamente nas ruas, isto é, as pessoas sem acesso a nenhum abrigo e sem
apoio e cobertura institucional para conseguir um abrigo. Então, quais as limitações
existentes na cobertura territorial para quem efetivamente está na rua sem acesso a
essas estruturas? (Wasmália).

 Na definição de população em situação de rua apresentada por vocês (homeless), a não


existência de moradia parece ter sido um elemento que pesou bastante. Diante disso,
pergunto: Foi, de fato, este o principal recorte conceitual para a definição de homeless
utilizada? Os Censos americano e australiano têm por objetivo subsidiar políticas
públicas. Como um questionário com sete questões, no caso do americano, e,
posteriormente, também do australiano, pode atender a esse objetivo? Quais as
variáveis destes questionários? Qual a proporção entre pessoas em situação de rua
(homeless) e a população total nos dois países? Que medidas foram feitas para evitar a
dupla contagem na Austrália? Lucia Lopes (GESST/CiampRua)

 Qual a porcentagem da população em situação de rua nos dois países. E se foi feito
Censo Nacional dentro de hospitais psiquiátricos e nas áreas mais distantes em relação
ao Centro? Lucia (MNPR - Salvador).

 Se os Censos, nesses dois países, não divulgam dados sobre as pessoas em situação de
rua, como enfrentar a invisibilidade dessa população, especialmente, na criação de
políticas públicas. Se as pessoas trabalham durante o dia no mercado informal, porque

10
Foram recuperadas, apenas, algumas questões a partir de anotações feitas pelas pessoas que participaram da redação deste
texto. Todavia, muitas questões só poderão ser recuperadas com a degravação das fitas usadas para gravação do evento.
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o Censo estabelece o dia até à noite para sua realização. Por que não contratar e formar
as pessoas em situação de rua para a realização do Censo, se são os protagonistas?
Anderson Lopes Miranda (MNPR).

 Como o questionário é bem curto, surgiu a dúvida se seriam indagados quais os


motivos pelos quais as pessoas estão em situação de rua. Isso está sendo pensado e
como? O questionário apresenta relação de parentesco de crianças com os adultos e
como crianças e adolescentes são tratados no questionário e quais foram os resultados.
Secretaria de Direitos Humanos

 Embora não tenhamos a pesquisa, percebe-se grande quantidade de pessoas com


deficiência física seja porque estão na rua para resolver a questão financeira ou que
ficaram deficientes após estarem nas ruas. Como o questionário é curto com sete
questões não percebi se há quantificação dessas pessoas e se encaminham a centros de
habilitação se é que existe esta população em ambos os países. José Ferreira -SEDH.

QUESTÕES LEVANTADAS NA MESA: CONCEITOS E METODOLOGIAS DE LEVANTAMENTOS

DA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA - EXPERIÊNCIAS NACIONAIS

 Sobre a pesquisa do MDS: foi censo ou contagem? Qual a diferenciação;

 Esclarecimentos sobre a empresa contratada;

 A pesquisa apontou pessoas com deficiência nas ruas?

 Como levantar questões relacionadas a gênero, raça e pessoas com deficiência;

 Ao ser negociada a pesquisa com o MNPR e entidades que atuam nessa área, em 2005,
havia a perspectiva de serem incluídos 120 municípios com população igual e superior
a 250 mil habitantes, sendo que 60 (com mais de 300 mil habitantes) seriam
pesquisados em uma primeria etapa ( a previsão inicial era o ano de 2006) e os demais,
no ano subsequente. O que ocorreu com em relação à previsão dos sessenta que seriam
pesquisados na sequência? Lucia Lopes - GESST

 Distinção de segmentos populacionais: crianças, adolescentes de 16 a 18 anos:

 Em São Paulo: foram contadas as crianças e adolescentes que dormiam nas ruas, no
Censo de 2009/2010, mas não na caracterização socioeconômica. Em 2007, foi
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realizado em São Paulo um censo específico sobre Crianças e adolescentes em situação


de rua e uma caracterização socioeconômica deste segmento;

 Em Porto Alegre: Fez um recorte metodológico, identificando somente aquelas que


haviam perdido vínculos familiares;

 Em Recife: foram contadas as crianças e adolescentes que utilizavam a rede de


acolhimento;

 A utilização de pessoas vinculadas ao movimento de população de rua como


colaboradora. Como a população de rua participou da pesquisa?

 Em Recife: Não há fórum, teve dificuldade de ter pessoas do movimento de população


de rua na pesquisa;

 Sobre os transtornos mentais;

 Porto Alegre: Não há metodologia para identificar pessoas em situação de rua com
transtornos mentais. Existem também problemas éticos.

 Belo Horizonte: Havia no questionário uma pergunta sobre uso de medicamentos?

 Sobre a definição: População de rua, situação de rua, morador de rua. Que definições
são fundamentais?

 Quais os critérios da empresa contratada para realizar a pesquisa ?


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Referências Bibliográficas

BRASIL. Presidência da República. Decreto nª 7053, de 23 de dezembro de 2009, institui a


Política Nacional para a População em Situação de Rua e seu Comitê Intersetorial de
Acompanhamento e Monitoramento, e dá outras providências. Brasília: DOU n.246. secção
1.p.16, 24 dez.2009.

MARX, Karl. O Capital. Livro 1. Vol. II. Tradução: Reginaldo Sant’anna. 12ª ed. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil S. A., 1988.

ROSA, Cleisa Moreno Maffei (org.). População de Rua Brasil e Canadá. São Paulo: Hucitec,
1995.

SARAMAGO, José. Ensaio sobre a Lucidez. 3ª reimpressão. São Paulo: Companhia das
Letras, 2006 contracapa.

SILVA, Maria Lucia Lopes da. Trabalho e população em situação de rua no Brasil. São
Paulo: Cortez, 2009.

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