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Modulo 7

1 As transformações das primeiras décadas do século XX

1.1 Um novo equilíbrio global


A I Guerra Mundial veio romper com o equilibro existente desde o congresso de
Viena em 1815.

No inicio do séc. XX a Europa encontrava-se dividida em grandes contrastes


políticos e sociais, de um lado a Europa Ocidental onde predominavam as
democracias liberais e no lado oposto a Europa Central e Oriental dominadas
por regimes autoritários. Esta divisão provocava fortes tensões económicas,
originando disputas por posse de melhores mercados e pelo domínio de áreas
ricas em matérias-primas, para alem disso, existiam ainda fortes causas de
antagonismos, com disputas territoriais e reivindicações nacionalistas, a França
continuava a exigir a devolução da Alsácia e da Lorena, ocupadas pela
Alemanha e a Polónia, dividida entre Rússia, Áustria e Alemanha, pretendia
tornar-se de novo um estado autónomo.

Estas realidades distintas entre os estados europeus levaram á formação de


alianças políticas e militares, a Tríplice Aliança constituída pela Alemanha,
Império Austro-húngaro e Itália e a Tríplice Intende, constituída pela França,
Rússia e Inglaterra.

Em Julho de 1914, na Bósnia, ocorre o assassinato do arquiduque Francisco


Fernando, príncipe herdeiro do trono Austro-húngaro por um estudante
nacionalista Sérvio. A Áustria responsabiliza a Sérvia pelo sucedido e com o
apoio da Alemanha declara guerra à Servia, desencadeando assim, todo o
sistema de alianças e provocando a I Guerra Mundial (1914-1918).

A geografia política após a I Guerra Mundial

Após o término do conflito em Novembro de 1918, uma nova geografia política


surge na Europa.

A Rússia com a assinatura em Brest-Litovsk de um tratado com a Alemanha


retira-se da guerra, perdendo a parte Ocidental para a Polónia, a Bassarábia
para a Roménia e as 3 Republicas do Báltico que se tornam independentes, o
Império Austro-húngaro desmembra-se, originando a Áustria, Hungria e
Checoslováquia, perdendo territórios para a Itália, Roménia e Jugoslávia, o
Império Otomano divide-se em Turquia, Iraque, Síria, Líbano; Palestina e
Transjordânia, a Alemanha cede a Alsácia e Lorena à França, a Posnânia e a Alta
Silésia à Polónia.

Os países vencedores viram as suas fronteiras ampliadas ao inverso dos países


derrotados que viram diminuídas as suas fronteiras, com o tratado de Versalhes
(1919) a Alemanha, considerada a grande responsável pela guerra, foi
fortemente punida, pagou pesadas indemnizações aos países vencedores, foi
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desmilitarizada, perdeu todas as colónias, entregou 90% da sua frota mercante
e viu a Renânia ser ocupada militarmente, sentindo-se com isto, alvo de uma
grande humilhação.

A Sociedade das Nações

Nas conferências de Paz (Paris, 1919, foi aprovada a 14ª proposta do Presidente
Wilson (EUA) no sentido de ser criada um nova organização internacional, na
qual se associassem todos os países interessados em preservar a paz e
promover a cooperação económica e cultural entre os estados membros. Esta
organização designada por Sociedade das Nações (SDN) exprimia um desejo
antigo da comunidade internacional no sentido de estabelecer um instituição
supranacional capaz de regular as relações entre estados.

A Sociedade das Nações tinha como principais objectivos manter a paz e


fomentar a entreajuda a nível internacional, através da cooperação económica e
financeira entre os estados membros, promover o desarmamento militar e a
resolução dos conflitos pela via diplomática.

Esta organização estava, no entanto, condenada ao fracasso, pois dela não


faziam parte os países vencidos, a Rússia e os EUA e alguns dos países
vencedores, não estavam satisfeitos com as resoluções dos tratados de paz.

A difícil recuperação da Europa e a dependência em relação aos EUA.

Durante a I Guerra Mundial (1914-1918), os EUA foram o principal fornecedor de


bens e serviços da Europa. Com o final da mesma a Europa deparou-se com o
problema da reconversão da sua economia, na realidade a guerra, além da
hecatombe humana, tinha provocado a devastação dos campos, a destruição
das fábricas e minas e a orientação do aparelho produtivo para uma economia
de guerra. Era necessário reorientar a actividade económica para a produção de
alimentos, para a reinstalação das indústrias e adquirir maquinaria. Estas
necessidades foram preenchidas com recurso a importação maciça dos EUA,
tendo a reconversão económica sido suportada financeiramente com base em
empréstimos americanos.

Apesar de estas soluções suprimirem as necessidades imediatas, contribuíram


para desequilibrar as balanças de pagamento dos países europeus, originando
uma forte dependência de empréstimos e fornecimentos de materiais
americanos. A solução encontrada para combater este desequilíbrio, consistiu
na desvinculação das moedas europeias em relação ao padrão-ouro de modo a
possibilitar a emissão de papel-moeda necessário para o pagamento das
importações, empréstimos e indemnizações de guerra, este facto levou ao
disparar da inflação para valores elevadíssimos agravando ainda mais as
condições de vida das populações.

Por volta de 1925, com base em investimentos americanos, a economia


europeia começou a apresentar sinais de recuperação, auxiliada pela contenção
da emissão de papel-moeda, depois de novamente ter acordado o regresso ao
padrão-ouro, reequilibrando as balanças de pagamento.

As perdas demográficas mínimas, a ausência de destruição, o fornecimento de


bens e serviços durante a guerra e a difícil recuperação da Europa, factores
estes que aliados a forte economia americana, com o crescimento das

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exportações e o forte aumento da procura interna, proporcionada, em
simultâneo, pela elevação dos salários e a descida dos preços resultante da
adopção de um novo sistema de organização do trabalho (Fordismo e
Taylorismo) levaram a ascensão dos EUA.

1.2 A Implantação do marxismo-leninismo na Rússia:


Construção do modelo Soviético
No inicio do século XX, vivia-se na no império Russo uma situação de profundo
mal-estar. As tensões sociais aumentavam de dia para dia, com os camponeses,
que constituíam 85% da população, clamando por terras que estavam
concentradas nas mãos dos grandes senhores e latifundiários, com o
operariado, que embora escasso era extremamente reivindicativo, exigindo
maiores salários, melhores condições de vida e de trabalho e com a nobreza
liberal e burguesia desesperando por uma maior abertura política e
modernização do país.

Sob o regime autocrático e absolutista, chefiado pelo czar Nicolau II a economia


apresentava características feudais, com estruturas agrícolas arcaicas,
reduzidas estruturas industriais e fraco investimento no sistema produtivo, a
nível social existia uma profunda desigualdade, caracterizada pela divisão em
grupos privilegiados (o clero e a nobreza) e em grupos não privilegiados
(camponeses e proletariado).

Estas desigualdades provocam em 1905, uma revolução popular, que apesar de


esmagada pelo exército, origina uma certa abertura do Czar, que levou a
permissão da criação de partidos políticos (PKD – Partido Constitucional
Democrata; Socialistas-Revolucionários e o Partido Operário Social Democrata
Russo divididos em bolcheviques e mencheviques) e a convocação de eleições
para o parlamento (DUMA).

Com a participação da Rússia na I Guerra Mundial a situação económica e social


agrava-se ainda mais, uma vez que o esforço financeiro efectuado provocou o
aumento dos preços, a baixa da produção agrícola e industrial e a descida dos
salários, na frente da batalha, as derrotas sofridas frente a Alemanha
desmoralizam o exército, levando a um sentimento cada vez maior de Anti-
Czarismo.

Em Fevereiro de 1917, durante manifestações promovidas por operários e


camponeses contra a guerra e fome, o exército adere a causa, e toma o Palácio
de Inverno, forçando o Czar a abdicar.

Com a queda do Czar é instaurado na Rússia um regime republicano e é


formado um Governo Provisório, esta fase é caracterizada pela dualidade de
poderes, de um lado um Governo Provisório burguês, apoiado pelos liberais e
socialistas moderados, empenhado na instauração de uma democracia
parlamentar e na continuação de uma guerra, que acredita poder ganhar, no
lado oposto, o Soviete de Operários e Camponeses de Petrógrado, dominado
ideologicamente pelos bolcheviques, enveredava por uma dinâmica
caracterizada pela discussão popular dos problemas, resolvendo-os de acordo
com a vontade da maioria, esta dinâmica espalhou-se rapidamente, tendo sido
criados Sovietes por todo o pais, contestando o Governo Provisório e as sua
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medidas, exigindo a retirada da Rússia da guerra, a distribuição das terra pelos
camponeses, a nacionalização dos meios de produção e o controlo das fabricas
pelos operários.

A contestação dos Sovietes cria uma forte agitação social, com os Governos
Provisórios a sucederem-se, incapazes de controlar a situação política e social.

Esta dualidade de poderes termina em Outubro de 1917, com a ocupação do


Exercito Vermelho dos pontos estratégicos de Petrógrado e o assalto ao Palácio
de Inverno, derrubando o Governos Provisório.

A 25 de Outubro de 1917, o II Congresso dos Sovietes, ratifica a revolução


bolchevique e elege um novo Governo, o Conselho de Comissários do Povo, com
Lenine na Presidência, Trotsky na pasta da Guerra e Estaline na das
Nacionalidades, têm inicio a Democracia dos Sovietes, são publicados vários
decretos revolucionários que procuram responder às aspirações das massas e
às reivindicações dos sovietes, o decreto sobre as nacionalidades, que concede
a igualdade a todos os povos do Império, o decreto sobre a terra, que suprime a
propriedade privada e distribui a terra aos sovietes camponeses, o decreto
sobre o controlo operário, que atribui ao operariado a gestão das empresas e o
decreto sobre a paz onde convida os intervenientes na I Guerra Mundial a
iniciarem conversações de paz.

Com a assinatura do tratado de Brest-Litovsk com a Alemanha, a Rússia perde


¼ da população e das terras cultiváveis, assim como ¾ das minas de ferro e
carvão, os proprietários e empresários criam os maiores obstáculos a aplicação
das expropriações e ao controlo do operariado, a desorganização da economia
provocada pelo estado de guerra vivido, a privação de matérias-primas, pela
persistência da carestia e da inflação, pelo regresso de sete milhões de
soldados sem hipótese imediata de reintegração na vida civil.

Perante esta situação, Lenine dissolve a Assembleia e transfere o poder para o


Congresso dos Sovietes que se torna o órgão máximo de soberania. A Rússia
torna-se assim numa Republica Soviética. A construção da sociedade socialista
inicia-se com a nacionalização progressiva e sem qualquer tipo de
indemnização de todas as propriedades privadas e de todos os sectores básicos
da economia levam a Rússia a guerra civil, que opõem os (brancos)
mencheviques apoiados pela Inglaterra, França, EUA e Japão, não interessados
na expansão do bolchevismo contra os (Vermelhos) bolcheviques e Exercito
Vermelho.

Os bolcheviques, para fazerem face à situação, colocam de parte os decretos


revolucionários e implantam a Ditadura do Proletariado, caracterizado pela
nacionalização de toda a economia, instituição do trabalho obrigatório dos 16
aos 50 anos, proibição de greves, dissolução da Assembleia Constituinte,
proibição de todos os partidos políticos, à excepção do Partido Comunista (ex-
bolcheviques) e uma forte repressão contra os opositores. Foi o comunismo de
guerra que pôs fim à Democracia dos Sovietes.

A guerra civil termina em 1920 com a vitória dos bolcheviques, mas a economia
Russa, encontra-se destruída, Lenine reconhece o carácter excessivo das
medidas adoptadas, e num recuo táctico opta pela introdução de novas
medidas numa tentativa para relançar a economia Russa através da
coexistência de um sector privado e um sector socialista, a Novo Politica
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Económica, o Estado mantém o controlo da banca, do comércio externo e dos
principais sectores da indústria, mas é estabelecida a exploração de pequenas
unidades de produção agrícola e industrial, a liberdade de comercio dos
produtos excedentes e dá-se uma abertura ao investimento estrangeiro, a
aplicação da NEP trava o deteriorar da situação económica e até 1927 consolida
a situação económica da URSS.

1.2 - A Regressão do demoliberalismo


Triunfante no século XIX, o Liberalismo, nos seus pressupostos políticos,
conduziu à afirmação das democracias parlamentares burguesas que, nos
inícios do século XX, atingiam já consideráveis níveis de aperfeiçoamento,
todavia, o quadro económico vivido no Velho Continente não era favorável à
consolidação do triunfo conseguido.

A Europa, em 1918, era um continente assolado por series dificuldades


económico-financeiras. Este quadro negativo, repercutia-se inevitavelmente nas
condições de vida das populações originando complicadas perturbações em
todos os estratos sociais:

• A burguesia industrial e financeira, mesmo com capacidades para resistir


melhor às condições adversas não consegue evitar a falência;

• Centenas de milhar de agricultores foram à ruína,

• As classes médias urbanas, dependentes de salários ou de outros


rendimentos fixos, entraram em grande dificuldade.

• O operariado urbano e rural mergulhou na miséria, em consequência do


desemprego que não parou de crescer

Perante as dificuldades económicas, generalizou-se entre a população, um


sentimento de descontentamento e de agravamento de tensões que conduziu à
revolta e ao afrontamento político. De um lado o conservadorismo burguês, do
outro a agitação revolucionária socialista.

A realização do Komintern teve como propósito a difusão dos ideais comunistas


pelo mundo, coordenando, por conseguinte, o movimento de luta dos partidos
operários mundiais, mostrou através da revolução de Outubro de 1917 que era
possível a destruição do Estado burguês e do capitalismo.

As dificuldades dos regimes demoliberais face as dificuldades económico-


financeiras sentidas e ao descontentamento e agravamento das tensões por
parte das massas, foram a conjuntura ideal para a tentativa de expansão do
socialismo entre todas as populações oprimidas e exploradas, promovendo a
união da classe operária internacional e impondo no mundo operário o
socialismo marxista-leninista.

Simultaneamente este movimento internacionalista, suscitou a oposição dos


Estados e partidos que defendiam a democracia representativa e o sistema
capitalista.

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Com efeito, os sectores conservadores, onde preponderavam as classes médias
e os proprietários burgueses, tremeram perante a intensificação da agitação
social, a fraqueza e incapacidade das Democracias Liberais na resolução da
crise económica e no controle da ordem social, o receio do avanço do
Bolchevismo e da expansão da Revolução Socialista no mundo, estes factores,
levaram as classes descontentes e temerosas a apoiar a emergência de
soluções autoritárias que prometem instaurar a ordem, restaurar a economia,
criar empregos e engrandecer as pátrias e travar o avanço do comunismo.

1.4. Mutações nos comportamentos e na cultura

As transformações da vida urbana

O desenvolvimento urbano é um dos fenómenos mais importantes dos finais do


século XX e inícios do séc. XX, que vai romper o equilíbrio milenar entre a
cidade e o campo (campos esvaziam-se e enchem-se as cidades). Na cidade
surgem novas actividades (indústria, serviços que atraem a população rural). O
êxodo rural faz engrossar as cidades. O número de cidades aumenta e o
número de habitantes das mesma também. As cidades são o centro de
actividades poderosas e fundamentais relacionadas com a política,
administração, indústria, comércio, banca e serviços públicos ligados às novas
necessidades das cidades: redes de transportes, abastecimento (alimentos,
água, energia), escolas, hospitais, saneamento básico e recolha de lixo.
- Surgem as “Metrópoles” (gigantescas áreas urbanizadas) como Nova Iorque,
Chicago, Paris e Londres.
- Surgem as “Megalópoles” (áreas urbanizadas de km, ligando cidades nos
E.U.A., Japão, Alemanha, Holanda).

Nova sociabilidade

Surge uma nova sociabilidade e sente-se a desagregação das tradicionais


solidariedades dos meios rurais. Assiste-se, efectivamente, a uma massificação
da vida urbana, alienação do trabalho e verdadeiras formas de anomia social

Massificação da vida urbana

Surge nas cidades uma sociedade de massas, caracterizada por:

• Elevado número de pessoas

• Sua dispersão espacial

• Anonimato (as populações vivem em bairros estandartizados, trabalham


em grandes empresas e vivem sem estabelecer relações interpessoais
com a vizinhança ou com colegas de trabalho)

• Consumo de massas numa sociedade de consumo

• Uniformização de comportamentos (modo de vestir, falar, atitudes)

• Novo clima de ócio. Ânsia de divertimento.

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Alienação do trabalho

Termo marxista para designar o trabalho automatizado imposto pela máquina


de montagem. O trabalho passou a ser anónimo e abstracto. O produto final
deixou de ser o produto da criatividade do operário, para ser o produto da
máquina. Do trabalho operário, o conceito de alienação do trabalho alargou-se,
também, ao trabalho burocrático

Desagregação das solidariedades e a anomia social

Nas sociedades urbanas quebram-se laços de solidariedade e as relações entre


os homens desumanizam-se. Os homens vivem cada vez mais isolados,
fechados em si próprios.

Nas zonas degradadas dos bairros pobres (urbanos e suburbanos) a pobreza


conduz a situações de marginalização que conduzem à violência a à
criminalidade.

Surgem situações de “Anomia Social” que se evidenciam por comportamentos


urbanos marcados por uma ausência de regras ou de leis, de princípios e de
valores. São comportamentos marginais de indivíduos desenraizados que não
se integrando na sociedade, assumem comportamentos agressivos que
conduzem à criminalidade.

Crise dos valores tradicionais

Os valores tradicionais estão definitivamente em crise. Perdeu-se a confiança na


superioridade da civilização ocidental; na ciência, indústria e no progresso
ocidental, na propriedade privada. A 1.ª Guerra Mundial caracterizou-se por
uma tal brutalidade que pôs em causa a confiança e o optimismo do passado
recente que consequentemente leva a uma decepção generalizada, a
descrença, ao pessimismo. A ciência e a sua capacidade de gerar progresso são
postas em causa, surge a contestação a todos os níveis (comportamentos,
família, sexual, casamento indissolúvel, papel da mulher, arte tradicional) é até
contestada a política das democracias por grupos revolucionários e por grupos
conservadores e autoritários.

Os movimentos feministas e a emancipação da mulher

Se o movimento feminista organizado remonta ao século XIX, o século XX


assiste à emancipação progressiva da mulher, até então totalmente na
dependência do homem.
Vários factores contribuíram para isso:
• Revolução industrial que utiliza a mulher como mão-de-obra
imprescindível para certas indústrias, como o têxtil. Apesar de ser
altamente explorada com salários muito inferiores aos do homem, esse
trabalho permitiu às mulheres uma independência económica que antes
não tinham.

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• A 1.ª Guerra Mundial exigiu um papel activo das mulheres que se viram
obrigadas a substituir os homens nas fábricas, campos e serviços,
enquanto eles partiam para as frentes da batalha.
• Elevação do nível de instrução da mulher que começa a acontecer por
iniciativas dos governos ou para iniciativas particulares de espíritos
filantrópicos.
• Surge o Feminismo, que defende o movimento da luta das mulheres pela
igualdade de direitos em relação ao homem. As mulheres lutam pela,
Igualdade Jurídica (leis), Igualdade Intelectual (instrução), Igualdade
Económica (profissão, trabalho e salários), Igualdade Política (direito de
voto, possibilidade de ser eleita), Igualdade Social (família, sociedade)

Esta luta obtém algumas vitórias, o direito de voto, o acesso a profissões de


nível superior (medicina, advocacia, engenharia e professorado), o acesso ao
mundo dos serviços, uma maior intervenção dentro da família com maior
liberdade de movimentação e maior liberdade sexual, com uso dos métodos
contraceptivos.
Como reflexo da emancipação das mulheres surgem revistas femininas que
exaltam a mulher e que a orientam no sentido de cuidarem da sua imagem,
várias alterações ocorrem, nos costumes, com um novo estilo de vida mais
livre, vida social mais intensa, prática do desporto, procura de divertimentos e
acesso aos vícios masculinos (beber e fumar), na moda que se caracteriza pela
simplicidade e desportiva, com saias curtas, saia-calça, cabelo curto à
“garçonne”, substituição do espartilho pelo soutien, decotes maiores,
maquilhagem.

A descrença no pensamento positivista e as novas concepções


científicas

Na segunda metade do séc. XIX, o positivismo marcava todo o conhecimento


científico. A metodologia das ciências experimentais era aplicada a todas as
áreas, acreditando-se que tudo podia ser explicado em termos científicos e que
a ciência podia atingir a verdade absoluta.

Mas, nos princípios do séc. XX, a ciência evoluía, não no sentido das verdades
absolutas, mas num sentido diferente. O Positivismo dava lugar ao
Relativismo.

Na História, Benetto Croce começou por contestar as teorias positivistas


aplicadas a esta ciência, segundo ele, todo o conhecimento histórico é sempre
um conhecimento relativo e subjectivo, influenciado por inúmeros factores
(perspectiva do historiador, selecção de fontes, interpretação, etc.)
Na Física e outras ciências experimentais também se afastam do Positivismo.
Einstein cria a teoria da relatividade que punha em causa o carácter absoluto do
conhecimento, tornando-o dependente do espaço, do tempo, do movimento e
do observador sendo estes também realidades não absolutas.

Novas concepções científicas surgem, Freud, médico neurologista e professor


da Universidade de Viena, cria a Psicanálise que vem questionar o poder
absoluto da razão sobre o comportamento humano, dando origem a uma
doutrina psicológica sobre os nossos processos mentais e emocionais, a um
método de investigação e uma técnica terapêutica para tratamento de neuroses
e psicoses.
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A Psicanálise vai influenciar as inovações literárias e artísticas da 1ª metade do
séc. XX, na Literatura surgem personagens freudianas com neuroses, na Arte
surgem correntes como o Surrealismo que tentam penetrar para além do nível
consciente da percepção.

As vanguardas: rupturas com os cânones das artes e da literatura

Nas primeiras décadas do século XX, uma autêntica explosão de experiencias


inovadoras convulsiona as artes. Este movimento cultural irradiou de Paris que
era, então, o centro artístico da Europa e representa uma frente comum das
artes contra a tradição e um desafio à sociedade.

É a época do Modernismo e das experiências de vanguarda que se


caracterizaram por:

• Rompimento com a arte tradicional: abandono do figurativismo (a


fotografia passa a ocupar-se da representação do real). A obra de arte
ganha autonomia face à realidade, libertando-se da necessidade de a
copiar; recusa do academismo que seguia os modelos clássicos, numa
representação ideal da Natureza e do Homem (desenho em pormenor,
claro-escuro, perspectiva); abandono dos temas tradicionais (temas
religiosos, clássicos e históricos

• Criação de uma linguagem pictórica própria : carácter bidimensional, sem


preocupações de volume e de desenho, dando mais importância à cor;
novos temas como a luz, o calor e os estados de alma do pintor, temas do
quotidiano; procura da intelectualização da visão.

• Levar a arte a todos os domínios da actividade humana: levar a arte às


habitações, aos espaços urbanos, ao vestuário, mobiliário e até aos
objectos de uso quotidiano, na aplicação de um funcionalismo estético
que liga a arte à tecnologia, à indústria, ao mundo do quotidiano. Às
preocupações funcionais juntam-se agora preocupações estéticas. Como
exemplo, surge o Design que transforma os objectos de uso corrente,
produzidos industrialmente, em verdadeiras obras de arte.

• Concepção da arte como uma investigação permanente (busca de novas


técnicas, novos materiais). Surgem variadas escolas - Milão, Roma,
Berlim, Paris - efémeras, devido ao carácter de pesquisa que leva os
pintores a saltarem de escola em escola.

Surge, então, o Movimento das Vanguardas ou Vanguardismo, movimento


artístico que vai desencadear uma revolução plástica que irá abrir novos
caminhos à arte. Atinge a pintura, a escultura, a arquitectura, o mobiliário, a
decoração, a literatura e a música.

Os artistas vanguardistas assumem-se como os pioneiros, os «avant-garde»,


tendo por missão inventar o futuro e criar um mundo novo.

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Fauvismo

Nasce em Paris em 1905, quando jovens pintores expõem as suas obras,


marcadas pela agressividade das cores e que escandalizam a opinião pública.

Principais características:

• O primado da cor sobre a forma. É na cor que os artistas se exprimem


artisticamente.

• Cores muito intensas, brilhantes e agressivas. Cores primárias, com


pinceladas soltas, violentas e grossos empastes. Realce dos contornos
com traços negros.

• Aplicação das cores de uma forma arbitrária, o que as tornava estranhas,


quase selvagens.

• Tendência para a deformação das figuras.

• Influência da arte infantil e da arte primitiva.

Pintores de destaque: Matisse e Vlaminck.

O Expressionismo

Surge em 1905 na Alemanha, quando 4 estudantes de Arquitectura formam o


grupo, «Die Bruck» (A Ponte). Queriam romper com o conservadorismo da arte
oficial alemã. Defendiam uma arte impulsiva, fortemente individual, que
representasse um grito de revolta individual do seu criador contra uma
sociedade marcada pela injustiça e pelos preconceitos e moralismos, é, por isso,
a pintura das emoções. Reflecte a projecção do artista para o mundo exterior,
imprimindo na arte a sua sensibilidade e as suas emoções face ao mundo que o
rodeia.

Principais características:

• Temática pesada: cenas de rua e retratos onde as figuras humanas eram


intencionalmente deformadas. Ridicularização de grupos como a
burguesia e os militares, considerados os culpados da miséria social.

• Formas: simples, primitivas e distorcidas que deformavam a realidade,


para causar assombro, repulsa e angústia

• Cor: grandes manchas de cor, intensas e contrastantes, aplicadas


livremente e de uma forma arbitrária e pesados contornos das figuras.

• A intenção era exprimir os dramas humanos da sociedade moderna e os


dramas interiores do homem como: o anonimato da cidade, a alienação
do trabalho, a solidão, a angústia, o desespero, a guerra, a morte, a
exploração do sexo, a miséria social.

Pintores de destaque: Ernst Kirchner, Georges Rouault, Frutz Bleyl, Otto Dix e
Grosz.

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O Cubismo

Surge em Paris em 1907 com Pablo Picasso ("Les Demoiselles d'Avignon") e


com Georges Braque (« Casas d’ Estaque»). É a pintura dos cubinhos que
revela uma realidade não como a vemos, mas como a pensamos. Significa a
«intelectualização da visão» em que a arte se liberta da visão e se
intelectualiza, utilizando como linguagem a geometria que decompõe o objecto
nas suas formas mais elementares, para o voltar a reconstruir de uma forma
mais racional que segue o raciocínio e não a visão.

Principais características:

• Destruição completa das leis da perspectiva/tridimensionalidade


(concepção estática da pintura tradicional que transmitia apenas a
realidade da visão que vê o objecto fixo, numa única perspectiva).

• A visão parcelar devia ser substituída por uma visão total dos objectos
representados. Uma visão mais intelectual do objecto, não numa única,
mas em várias perspectivas.

• Cria assim uma quarta dimensão que permite a visão simultânea do


objecto em várias perspectivas (de frente, de perfil, de lado, por cima, por
baixo, no seu interior …), como se o pintor se movesse em torno do
mesmo. Numa única imagem estão reunidas todas essas perspectivas. A
nova dimensão representa o tempo necessário à percepção integral dos
objectos representados no espaço pictórico.

• Na nova representação do objecto, usa uma linguagem geométrica,


procurando encontrar as formas basilares dos objectos, reduzindo-os a
poliedros, cones, esferas, cilindros, etc. Dizia Cézanne: «A Geometria é
para as artes o que a gramática é para a arte do escritor»

• Revela também a influência da arte africana (máscaras rituais), onde está


patente aquela linguagem geométrica.

Pintores de destaque:

O Futurismo

Surge em Milão em 1909 e em oposição ao Cubismo. Surge a partir de um


manifesto literário e artístico de Filippo Marinetti - "O Manifesto Futurista".

Propunha a aniquilação de toda e qualquer forma de tradição, a destruição das


grandes obras artísticas e literárias do passado, anunciando uma pintura e uma
literatura mais adaptadas à era das máquinas, do movimento e do futuro. Um
verdadeiro hino à vida moderna e uma glorificação do futuro. Dizia Marinetti:
«As máquinas e os motores têm alma; pensam, sentem como os humanos; uma
lâmpada eléctrica que pisca ameaçando apagar-se é comparável a um homem
que agoniza!»

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O Futurismo torna-se uma moda. Os seus meios de propaganda são variados:
cartazes, panfletos, revistas, exposições, espectáculos, conferências, etc.

O Futurismo conduziu ainda à exaltação do militarismo e da guerra, como


expressão da força e energia de um povo (acaba por ligar-se às doutrinas
fascistas).

Principais características:

• Temática associada à velocidade, ao dinamismo e à mudança: cidades,


fábricas, máquinas, pontes, locomotivas, aviões, motores, velocidade,
ruído, multidões, etc.

• Movimento criado a partir da repetição de formas e de cores. A forma é


decomposta e fragmentada em segmentos, representando diferentes
momentos de um corpo em movimento. Combina-se com um intenso jogo
de luzes, para sugerir o movimento.

• Linhas circulares, elípticas e espirais e arabescos que visavam a ideia de


ritmo. As pinturas procuravam representar o «tumulto» que transmitia a
ideia da vida moderna.

• Cores agressivas e repetitivas, tal como as formas, para dar a ideia do


movimento;

Pintores de destaque: Giacomo Balla, Boccioni, Carlo Carrá e Severini.

O Abstraccionismo

Surge em 1910 com Kandinsky, pintor russo, radicado na Alemanha. É


considerado o primeiro abstraccionista.

Podemos definir o Abstraccionismo como um movimento artístico que se


propunha não representar a realidade sensível ou objectiva, mas sim abstrair-se
dessa realidade numa nova realidade, oculta e mais profunda, construída pelo
espírito.

Principais características:

• O objecto com as suas formas e cores desaparece, sendo substituído por


linhas e cores conjugadas numa unidade que vale por si própria, numa
linguagem universal e espiritual que fazem despertar em cada pessoa
reacções diferentes numa variedade muito superior à da figuração dos
objectos. As abstracções de forma e de cor actuam directamente na alma.

Pintores de destaque: Vassily Kandinsky, Piet Mondrian, Malevitch e Helena


Vieira da Silva (Paris).

O Dadaísmo

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Este movimento surge na Suíça com Marcel Duchamp que pinta uma versão da
Gioconda com bigodes e uma legenda obscena. Segundo este movimento, «a
autêntica arte seria a antiarte» caracteriza-se pelo uso da troça, do insulto e da
crítica, como modo de destruir a ordem e estabelecer o caos.

Principais características:

• O seu único princípio é a incoerência. Nada significa alguma coisa, nem


mesmo o nome do movimento. É a chamada «ready made» que dá valor
artístico a um objecto que normalmente o não tem (um urinol, uma roda
de bicicleta, etc.).

Surrealismo

Em 1924 surge em Paris uma nova vanguarda plástica e literária com André
Breton que apresenta o "Manifesto do Surrealismo". A ele aderiram pintores
como Picasso, Marc Chagall, Joan Miró, IvesTanguy, Salvador Dali e René
Magritte e homens de letras como Louis Aragon e Paul Eluard.

Inspirava-se nas teorias psicanalíticas de Freud e da Psicanálise, procurando


reflectir na arte o mundo desconhecido do inconsciente. É o recurso à psicologia
das profundezas. Significa não o abandono do racional, mas o do consciente.
Reivindicava a autonomia da imaginação e a capacidade do inconsciente se
exprimir sem limitações.

Aqui residia o carácter revolucionário do surrealismo, fazendo deslocar a arte do


exterior para o mundo da interioridade do artista.

Principais características:

• As pinturas representavam universos absurdos, cenas grotescas e


estranhas, sonhos e alucinações, objectos representados de uma forma
enigmática, misturando objectos reais com objectos fantásticos.

• Cores também usadas arbitrariamente

• Representam, à maneira cubista, a visão total e intelectualizada do


objecto, representando simultaneamente as várias visões possíveis do
mesmo.

• Substituição da tridimensional pela bidimensionalidade das figuras.

Os pintores surrealistas dividiam-se em duas tendências:

Surrealistas figurativos (Dali, Chagall, Magritte) que destruíam os


convencionalismos tradicionais da pintura, mas conservavam algum
figurativismo. Representavam objectos de uma forma enigmática, procurando o
belo em combinações estranhas.

«A beleza é o encontro casual de uma máquina de costura e um chapéu-de-


chuva numa mesa operatória.»

13
Surrealistas abstractos (Miro, Tanguy) que recusavam completamente a pintura
figurativa, enredando pelo abstraccionismo.

A literatura Modernista

A guerra e a crise que se lhe seguiu trouxeram novas preocupações aos


escritores e abriram novos caminhos à literatura. Também os escritores
começaram a pôr em causa os valores da sociedade ocidental. A literatura
torna-se mais humanista, mais angustiada, mais crítica. Por vezes, a angústia é
quase levada ao absurdo. Os escritores manifestam uma inquietude e um
pessimismo, próprios da época de crise de valores em que vivem. Nalguns
casos, a literatura torna-se empenhada politicamente.

Também a Psicanálise deixa a sua marca na literatura de vanguarda. As obras


viram-se para a vida psicológica e interior das personagens. Surgem
personagens com maior densidade psicológica. Têm neuroses e psicoses.

Nasce uma literatura nova onde os escritores reflectem o pessimismo de uma


sociedade decadente. Denunciavam a miséria humana fruto da acção dos
poderosos e manifestavam uma inquietação que se traduzia numa vontade de
viver intensamente o presente.

Marcel Proust - «Em Busca do Tempo Perdido»

James Joyce - «Ulisses»

Ernest Hemingway - «Por Quem os Sinos Dobram», «O Velho e o Mar»

Jonh Steinbeck - «As Vinhas da Ira»

Somerset Maugham - «A Servidão Humana», «O Fio da Navalha»

Surge também o Existencialismo que se caracteriza pelo pessimismo, vazio e


absurdo, pela ruptura com as convenções e usa uma linguagem nua e crua.

Albert Camus - «Calígula»

Jean Paul Sartre - «O Ser e o Nada»

Na Alemanha, a literatura reflecte os problemas sociais, criticando a sociedade


burguesa que sobreviveu à guerra. Caracteriza-se pelo cepticismo, desespero,
crueldade. Revela o absurdo da vida e a luta contra a desumanização.

Kafka - «O Processo» que retrata uma sociedade absurda em que o homem é


esmagado pela burocracia.

Beltrold Brecht - «Mãe, Coragem»; «Ópera dos Três Vinténs»

1.5 – Portugal no primeiro pós-guerra.


As dificuldades económicas, a instabilidade social e política, a falência
da 1ª Republica

14
A 1ª Republica Portuguesa, vigorou entre 1918 e 1926 e caracterizou-se por um
regime marcado por uma grande instabilidade política, económica e social. A
semelhança dos restantes países da Europa, Portugal enfrentava grandes
convulsões sociais (greves, concentrações e manifestações) e políticas (revoltas
armadas, tentativas de golpes de estado), que consequentemente levam ao
enfraquecimento do regime, vista inicialmente pela população como a salvação,
a 1ª Republica, rapidamente deixa de o ser.

Existiram diversos factores que marcaram esta instabilidade, uns inerentes ao


próprio regime, outros, fruto da conjuntura internacional que marcou a época.

A instabilidade do regime parlamentar republicano, era marcado pela


supremacia das câmaras electivas sobre o poder executivo, embora fosse
democrático, era muito moroso, gerando grandes impasses, as divergências
internas do Partido Republicano, fragmentou-o em varias facções e vários
partidos, com profundas rivalidades que geravam não só a instabilidade na sua
acção como na do próprio Governo, como comprovam os 45 governos, 8
eleições presidenciais, 9 eleições legislativas em 16 anos de regime
republicano.

As difíceis condições económico-sociais do país, herdadas da Monarquia,


indústria minoritária e atrasada, predomínio da agricultura artesanal, o défice
da balança de pagamentos e a entrada em 1917 de Portugal na 1ª Guerra
Mundial, levam a um agravamento da situação do país, originando o aumento
do preço dos produtos, racionamento dos alimentos e a fome e pobreza das
camadas urbanas mais pobres, assiste-se também a um recuo das políticas
sociais, que embora aproxime a alta burguesia, afasta as classes populares da
1ª Republica.

A continuação da guerra leva Portugal a uma inflação incontrolável, ao


desequilíbrio das finanças públicas e á desvalorização da moeda, provocando
cada vez mais o descontentamento das diversas classes da população.

A classe operária e camponesa, apesar do apoio inicial a Republica, encontra-se


vivendo em situação de miséria, com baixos salários, exposta aos abusos do
patronato e proprietários agrícolas, consequências do recuo da legislação social,
começa a manifestar-se contra a Republica, retirando o seu apoio e levando a
cabo surtos grevistas, manifestações e atentados bombistas.

A classe média inicialmente apoiante da Republica, retira-lhe o seu apoio, na


sequência do agravamento económico e subida da inflação, vê o seu poder
económico diminuir e como classe respeitadora da ordem e hierarquias, teme a
agitação social e o clima de conflituosidade permanente.

A alta burguesia apesar do recuo da legislação social a seu favor, sente-se


prejudicada pelos surtos grevistas e terroristas, pretendendo um estado forte,
capaz de impor a ordem, retira o seu apoio.

A 1ª Republica sente forte oposição da Igreja, que pretende recuperar o poder


perdido pelas medidas anticlericais dos Governos Republicanos, da Monarquia e
do Integralismo Lusitano que pretendem a restauração da monarquia em
Portugal.

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Todos estes factores levam ao enfraquecimento do regime republicano,
diminuindo a sua base social de apoio e tornando-o mais vulnerável a golpes de
estado, como virá a acontecer em 28 de Maio, num golpe militar, dirigido pelo
general Gomes da Costa, que derruba a 1ª Republica Portuguesa e impõem uma
ditadura militar.

Tendências culturais entre o naturalismo e as vanguardas

Foi um movimento estético que surgiu numa primeira fase em 1911 com a
«Exposição Livre de 1911» e, fundamentalmente, a partir de 1915.

Caracterizou-se pelo culto da modernidade que dominou a mentalidade


contemporânea. Os seus seguidores privilegiavam a novidade relativamente ao
estabelecido, a aventura face à segurança.

No movimento modernista estavam associadas a literatura e as artes plásticas.


Encontrou nas revistas «Orpheu» (1915), «Portugal Futurista» (1917) e
«Presença» (1927-1940) os seus principais expoentes.

Modernismo na Literatura

A I República conheceu duas correntes literárias que foram o «Integralismo


Lusitano» (tradicionalista, dirigido por António Sardinha) e a «Seara Nova»
(democrática, dirigida por António Sérgio).

No entanto, o sentimento de inconformismo vem a revelar-se com o


aparecimento de um grupo modernista, centrado em novas revistas.

Em 1915, surge o 1º Grupo Modernista, iniciado e impulsionado pela revista


«Orpheu» com Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro e Almada Negreiros.

Este grupo pretendia que a literatura trilhasse os caminhos ousados e originais


do resto da Europa, em paralelo com as artes plásticas.

A revista «Orpheu» escandalizou o público que se mostrou chocado com as


inovações que punham em causa o academismo tradicional. Surgiram apenas 2
números da revista, mas a estética modernista publicou outras revistas como
«Portugal Futurista», em 1917 (nº único).

Fernando Pessoa destaca-se com a sua criatividade poética que se transmite


através do seu desdobramento em várias personagens (heterónimos) dos quais
os mais conhecidos são Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro Campos.

O 2º grupo modernista desenvolve-se entre 1927 e 1940 (Ditadura Militar e


Estado Novo), em torno da revista «Presença». Destacam-se Miguel Torga, José
Régio e Aquilino Ribeiro e Ferreira de Castro.

Em alguns escritores, como Ferreira de Castro (prosador), sobressai um estilo


novo que trata a vida social do povo, os momentos dolorosos da emigração, os
desempregados, a dureza do seu dia-a-dia. Será um precursor do neo-realismo.

16
O Modernismo nas Artes Plásticas

1ª Geração de Paris – 1911-1919

No início do séc. XX, dominava em Portugal a pintura figurativa que tinha a sua
expressão no pintor Malhoa.

A situação alterou-se quando, em 1911 e depois em 1914, vários pintores e


escultores portugueses que se encontravam em Paris regressam ao país,
fugindo da guerra, trazendo consigo novos valores estéticos. Foi o início do
modernismo em Portugal.

Entre outros, vieram de Paris, Dórdio Gomes, Diogo de Macedo, Francisco


Franco, Amadeu de Souza-Cardoso, Santa-Rita Pintor, Eduardo Viana. A eles se
juntou Almada Negreiros.

Foi no Porto que se assumiu o termo modernismo ao intitular-se uma exposição,


em 1915, de «Humoristas e Modernistas».

Foi a época mais irreverente, ousada e brilhante do modernismo, onde se


destacaram Amadeu de Souza-Cardoso e Santa- Rita Pintor.

Amadeu de Souza-Cardoso

Nascido nos arredores de Amarante, parte para Lisboa em 1905 e depois para
Paris. Foi influenciado, em Paris, pelos movimentos cubista, abstraccionista e
expressionista. Forçado a regressar a Portugal em 1914, devido à 1ª Guerra,
tomou contacto com a geração da «Orpheu» e do «Portugal Futurista».

Expõe, pela primeira vez, em Portugal em 1916, intitulando-se «impressionista,


cubista, futurista e abstraccionista». As exposições em que participou, com
outros pintores, causaram escândalo na época. No manifesto que as
acompanhava, Almada Negreiros considerava-as «as primeiras descobertas de
Portugal no século XX.»

A sua pintura é uma amálgama de tendências. É uma arte de elite, de


vanguarda, que recusa o figurativo. Usa cores violentas e formas geométricas
(linhas direitas, curvas, rodas, fios, alavancas, mecanismos) e uma mistura de
vários materiais que colados nos seus quadros policromados, exprimem a vida
moderna.

Santa-Rita Pintor
Introduziu as correntes cubista e futurista em Portugal.
«A Cabeça» é uma das poucas obras que lhe sobreviveram já que, a seu pedido,
quase todos os seus quadros foram destruídos após a sua morte. Esta obra
revela uma pintura dinâmica, cheia de força, com linhas curvas que compõem a
estrutura da cabeça, procurando dar uma visão intelectualizada e não
tradicional da figura humana.

2º Geração de Paris - A Década de 20

Na década de 20, destaca-se a «segunda geração de Paris», designação dada


aos artistas que, terminada a guerra, retornam a Paris ou para aí vão pela

17
primeira vez. Partem Dórdio Gomes, Diogo de Macedo, Abel Manta (grande
retratista) e Almada Negreiros.

Surge outra geração de pintores como Mário Eloy (expressionista), Sarah


Afonso, Carlos Botelho e Júlio Pereira. Foi a época da revista «Presença».

As autoridades continuavam a rejeitar os modernistas. Recusada a participação


destes artistas na Sociedade Nacional de Belas Artes, outros locais se abriram
para a exposição das suas obras: as dos cafés e clubes que frequentavam,
transformadas em galerias de arte. Por exemplo, o café de Lisboa, «A
Brasileira», foi decorado com obras de vários artistas modernistas como
Eduardo Viana e Almada Negreiros. Aquele café tornou-se o grande museu de
arte moderna de Lisboa, no fim dos anos 20.

Almada Negreiros

Foi pintor, desenhador, romancista, poeta, bailarino, autor de vitrais e


tapeçarias.

Nos primeiros anos do século XX, colaborou com Fernando Pessoa na «Orpheu»
e no «Portugal Futurista». Essa foi a sua fase mais irreverente. São dessa época
os seus textos de intervenção.

Partiu para Paris em 1920, onde esteve um ano.

De regresso, encontra uma vida intelectual mais débil. Pinta «Auto-Retrato num
Grupo» para a redecoração do café «A Brasileira».

Mais tarde, nas décadas de 30 e 40, durante o Estado Novo, dedica-se à técnica
do mural. Vai tornar-se famoso nos anos 40, quando decora as Gares Marítimas
de Alcântara. É também o período em que cria os vitrais da Igreja de Nª
Senhora de Fátima, em Lisboa.

As suas obras revelam um estilo de vanguarda pós-cubista, marcado por uma


rigorosa construção geométrica, grande alegria cromática e força comunicativa.

Versam temas nacionalistas (ao gosto do Estado Novo), relacionados com a vida
dos portugueses. Aí encontramos a faina marítima tradicional (varinas,
pescadores, barcos), cenas domingueiras de Lisboa, como passeios de barco,
varinas e palhaços de feira. Introduz também temas mais modernos como a
emigração e a mágoa que deixa nos que ficam e nos que partem.

2 - O agudizar das tensões sociais e politicas a partir dos


anos 30

2.1 - A Grande depressão e o seu impacto social


Após um período de prosperidade transitório nos anos 20 que ficou conhecido
com a “era da prosperidade”, caracterizado por um clima de euforia, de
optimismo e de confiança no capitalismo, surge em 1929 uma grande crise
económica, uma vez que esta prosperidade era ilusória, a agricultura esteve
sempre em crise permanente, com produção excedentária e deflação e na
18
indústria, os lucros dos empresários não se deviam tanto ao aumento da
procura e dos preços, mas sim ao fenómeno de redução de custos e à
especulação financeira. Esta crise inicia-se nos EUA e vai afectar terrivelmente
as democracias liberais Europeias, prolongando-se os efeitos da mesma durante
mais de uma década, chegando até às vésperas da 2ª Guerra Mundial.

Esta crise desencadeou-se a partir do Crash Bolsista de Nova Iorque, devido a


forte especulação bolsista ansiosa por lucros rápidos e fabulosos, investe todo o
capital disponível na especulação, enquanto o investimento nas actividades
produtivas era diminuído em virtude dos lucros serem mais lentos, este forte
investimento na especulação leva ao aumento do valor das acções em bolsa de
uma forma mais rápida que o seu valor real, pois as empresas não estavam tão
prósperas como o valor das acções o fazia querer.

Começam a surgir os primeiros sinais de recessão económica, primeiro na


indústria automóvel arrastando-se depois a toda a industria e agricultura, a
produção crescia mais rápido que o consumo (Superprodução), levando a
acumulação de stocks e a descida dos preços dos produtos.

Nesta altura constata-se que o valor das acções das empresas esta inflacionado
em relação aos lucros das mesmas, o que origina as primeiras ordens de venda.

Em Outubro de 1929, as estatísticas apontam para uma forte baixa dos lucros
das empresas, assustados, os accionistas dão ordem de venda das suas acções,
este sinal e seguido por muitos, levando o valor das acções a baixar a um ritmo
muito acelerado, no dia 24 de Outubro, o pânico instala-se, quando 16 milhões
de títulos foram postos no mercado a preços baixíssimos e não encontram
comprador, foi o Crash de Wall Street. Milhões de accionistas ficam arruinados,
como grande parte dos títulos foram adquiridos a crédito, a ruína dos
accionistas significou a ruína dos bancos e inicia-se um movimento em cadeia,
com a ruína dos bancos, as empresas vão a falência, o desemprego generaliza-
se de forma catastrófica, deixando sem poder de compra a população
americana.

A superprodução verificada leva por conseguinte a deflação, caracterizada por


uma baixa importante nos preços dos produtos industriais e agrícolas, no
entanto esta baixa de preços não favorece ninguém, nem os produtores, que
vêem os seus lucros diminuírem e as suas empresas falirem, nem a população
que desempregada, não tem poder de compra.

Com a contracção da economia americana, e a grande dependência da Europa


da mesma, a crise atinge rapidamente os países europeus, a retirada do capital
americano das economias europeias, leva muitos bancos à falência ou
deixando-os em grandes dificuldades, levando-os a retirar as concessões de
credito as empresas, sem acesso ao créditos as empresas vão á falência e
levam ao desemprego milhões de trabalhadores.

Com a crise instalada, todos os países europeus, adoptam medidas


proteccionistas, tentando reduzir as importações e serem auto-suficientes, estas
medidas originam uma diminuição do comércio mundial, os países
desenvolvidos não conseguem exportar os seus produtos industriais, nem os
países subdesenvolvidos, as matérias-primas.

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A crise económica atinge quase todo o mundo, excepção feita pela URSS, que
não segue o modelo económico do capitalismo.

A crise económica torna-se crise social e política, atingindo todas as classes


sociais, os ricos arruínam-se, as classes médias empobrecem e as classes mais
pobres caem na fome e na miséria, estes efeitos sociais vão provocar profundas
consequências a nível político na Europa, a grande depressão evidencia as
fraquezas do Capitalismo e das Democracias Liberais, estes regimes são postos
em causa e surgem na cena política, diferentes projectos, os Partidos
Conservadores e Fascistas, exigindo governos fortes que imponham a ordem, os
Partidos Comunistas, animados pela revolução soviética, apontam a destruição
do capitalismo e intensificam a luta de classes e os Partidos Reformistas que
defendem profundas reformas para vencer a crise.

2.2 As opções totalitárias


Com a profunda crise económica, social e política que afecta a Europa, as
fragilidades das Democracias Liberais em fazer face a situação, os
ressentimentos de humilhação provocados pelas derrotas na 1ª Guerra Mundial
ou por vitórias sem as recompensas idealizadas e pelo receio do avanço do
comunismo soviético, provoca nas populações, com especial incidência na
classe média, a necessidade de um governo forte, que restabeleça a ordem
social, combata o comunismo e conduza o pais a ultrapassar a crise económica.

Este sentimento, leva ao surgimento na Europa, de grupos de extrema-direita,


formados por ex-militares, classe média e desempregados que se destacam
pelo seu nacionalismo, racismo e agressividade, muitos desses grupos, tornam-
se partidos políticos e tomam o poder. É chegado o tempo das ditaduras.

Dos movimentos de extrema-direita Europeus, o primeiro a tomar o poder foi o


Partido Nacional Fascista, em Itália. Sabendo gerir a seu favor a crise italiana do
pós-guerra, Benito Mussolini empreende em 1922, com os seus “Camisas
Negras”, a marcha sobre Roma, obrigando o Rei Vítor Manuel III a nomeá-lo
chefe do executivo. Mussolini instaura um sistema político profundamente
ditatorial e repressivo, suprimindo a liberdade individual e colectiva,
defendendo a supremacia do Estado, o culto do chefe, o nacionalismo, o
corporativismo, o militarismo e o imperialismo.

A expressão o termo Fascismo passou, depois, a designar todos os regimes


totalitários de direita.

Princípios ideológicos do Fascismo

Era antidemocrático, antiliberal e antiparlamentar:

• Opunha-se ao sufrágio universal e ao regime parlamentar, pois não


acreditava nas capacidades dos cidadãos para escolher os seus
governantes.

• O Fascismo dividia a humanidade em dois grupos: as elites que tinham a


capacidade de governar e as massas que se destinavam a ser
governadas. Essas elites (os melhores) surgiriam, por selecção natural, de
entre todos os homens. Naturalmente, consideravam-se a si próprios
20
(fascistas/nazis) como membros dessas elites e, o chefe, como o primeiro
de entre todos.

• Opunham-se também à separação dos poderes, base das democracias,


porque achavam que enfraquecia a Nação e o Estado. Estes, para serem
grandiosos, teriam que ter um Estado centralizado e autoritário.

Era anti-socialista e anticomunista

• Negava a luta de classes e opunha-se aos sindicatos e à luta dos


trabalhadores, na medida em que essa luta quebrava a unidade do
Estado. Defendia, em oposição, a anulação dos interesses de todos os
grupos sociais, a conciliação de todas as classes perante o interesse
supremo da Nação e do Estado.

Defendia a mística do Estado, da Nação e do Chefe

« Ein volk (um só Povo),

Ein Reich (um só Estado),

Ein Fuhrer (um só Chefe).»

O Primado da Nação

• Defendia um nacionalismo exacerbado, exaltando os valores nacionais


que marcavam a diferença entre as nações «superiores» e «civilizadas» e
as nações «inferiores» e «bárbaras». Tal atitude levava o Fascismo a
repudiar todos os elementos estranhos internos (judeus, ciganos) e a
desprezar as outras nações.

O Primado do Estado

• O Estado (e o Partido que governava o Estado) era identificado com a


Nação. Era o «Estado Nacional». Estava acima dos indivíduos e dos
grupos. A ele se deviam submeter todos os interesses individuais e
colectivos. O poder do Estado era indiscutível e inquestionável, exigindo
aos cidadãos total obediência e devoção.

«Tudo no Estado, nada contra o Estado, nada fora do Estado»

O Primado do Chefe

• Este era o símbolo do Estado omnipotente, encarnação da Nação e guia


dos seus destinos. O Chefe era o homem excepcional a quem se devia
prestar uma obediência cega. Era o «Duce», o «Fuhrer». Tinha qualidades
“sobre-humanas” e em torno da sua figura erguia-se um verdadeiro culto.

• Para criar esta mística em torno de si, o Chefe rodeava-se de uma série de
símbolos que exaltavam o seu poder: uniformes militares, braçadeiras,
poses teatrais estudadas, discursos inflamados, bandeiras e exibição de
força militar.

Totalitarismo e negação dos direitos individuais

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A mística do Estado, da Nação e do Chefe levou, sobretudo no caso da
Alemanha Nazi, ao totalitarismo.

Este negava os direitos individuais e a possibilidade da sociedade civil se


organizar em organismos que defendessem interesses profissionais ou de
grupos. Nenhum interesse contava, para além do interesse do Estado.

Nesse sentido, organizava a sociedade civil, enquadrando-a em organizações


estatais de diferentes índoles (política, trabalho e lazer) destinadas aos jovens,
mulheres, trabalhadores e patrões. Essas organizações tinham ainda a função
de doutrinar as massas, vinculando-lhes a ideologia do Partido Fascista/Nazi.

O Estado fascista era, assim, um Estado totalitário, na medida em que


controlava quase em absoluto a vida política, económica, social e cultural dos
seus cidadãos. A ideologia do poder dominava todos os domínios da vida dos
homens, apelando à sua mobilização activa no apoio ao regime. O Estado
totalitário não apostava numa população amorfa, mas sim numa população
politicamente mobilizada no apoio à ideologia do Poder.

Afirmação da superioridade das elites

• O Fascismo dividia a humanidade em dois grupos: as elites que tinham a


missão de governar e as massas que se destinavam a ser governadas.
Essas elites (os melhores) surgiriam, por selecção natural, de entre todos
os homens.

• As elites eram arregimentadas nos quadros do Partido único que se


organizava como uma força paramilitar, com milícias armadas próprias.
Os membros do partido único eram considerados os mais competentes e
os que exerciam os cargos de maior responsabilidade no Estado e na
Administração.

O Mito da Raça Superior e o Racismo

• O racismo nazi baseava-se na teoria de que os homens se dividiam em


raças superiores e raças inferiores. A raça ariana, a que pertencia o povo
alemão, era considerada superior a todas as outras e como tal deveria
manter-se «pura», eliminando todos os elementos estranhos que a
corrompessem.

• Todas as outras raças eram consideradas inferiores. Abaixo de todas


estavam os Judeus, raça incapaz de criar o seu próprio Estado e vivendo
como parasita nos outros Estados.

• Este racismo foi particularmente vincado na Alemanha, conduzindo à


perseguição e ao extermínio dos judeus alemães e dos judeus dos países
ocupados, no período da II Grande Guerra.

Defesa do Imperialismo

• O princípio da desigualdade conduziu também ao expansionismo da


Nação superior que necessitava de um «espaço vital» para crescer e
prosperar, pelo que se legitimava a guerra e conquista de outros povos,
22
considerados inferiores. A 2ª Grande Guerra foi o resultado desta política
imperialista.

Elites e enquadramento das massas

Os chefes foram promovidos à categoria de heróis. Simbolizavam o Estado


totalitário, encarnavam a Nação e guiavam os seus destinos, deviam ser
seguidos sem hesitação, prestando-se-lhes um verdadeiro culto.

Mas as elites não incluíam apenas os chefes, delas faziam parte a raça
dominante, os soldados e as forças militares, os filiados no partido.

Numa sociedade profundamente hierarquizada e rígida, as elites mereciam o


elevado respeito das massas. Em todos os locais, cabia-lhes veicular a ideologia
dominante, assegurar o cumprimento estrito da ordem, manter a Nação
submissa.

A obediência cega das massas obedeceu a pratica fascista, totalmente avessa a


qualquer manifestação de vontade individual e de espírito crítico. Começava
logo nos primeiros anos com a integração das crianças em organizações.

Na Itália, existiam as seguintes organizações, Filhos da Loba (4/8 anos), Balilas


(8/14 anos), Vanguardistas 14/18 anos), Juventude Fascista (a partir dos 18) e
Grupos Universitários Fascistas.

Na Alemanha, os jovens eram enquadrados na Juventude Hitleriana a partir dos


8 anos onde aprendiam a venerar o Chefe, a praticar desporto, a admirar a
guerra como caminho para a glória e a desprezar os valores intelectuais.

Na idade adulta, continuava a “educação” e o controlo da população, esperando


a total adesão e a identificação com o fascismo. Contava-se, para efeito, com
diversas organizações de enquadramento de massas:

A inscrição no Partido Único, era em muitos casos a condição necessária para


conseguir emprego, o que levava a uma inscrição maciça, tornando os cidadãos
mais facilmente controláveis, tornando-os militantes cumpridores e fiéis.

Na Itália todos os professores e restantes funcionários públicos eram recrutados


no Partido Fascista italiano, o cartão do Partido acabava-se por tornar o “cartão
do pão”

Na Alemanha, todos os cargos de maior responsabilidade eram entregues a


membros do Partido Nacional Socialista Alemão

A inscrição obrigatória dos trabalhadores nos sindicatos fascistas, levou a


extinção dos sindicatos livres e, em sua substituição, foram criados os
sindicatos fascistas dirigidos por funcionários nomeados pelo regime que
tinham a missão de harmonizar os interesses dos trabalhadores com os
interesses do patronato.

Acima de todos os interesses deviam estar os interesses superiores do Estado,


em nome dos quais se deveriam esquecer os interesses dos grupos. A luta de
classes era substituída pela colaboração de classes em proveito dos interesses
do Estado/Governo fascista.
23
A Dopolavoro na Itália e a Kraft durch Freud na Alemanha, associações
destinadas a ocupar os tempos livres dos trabalhadores com actividades
recreativas e culturais. Estas organizações organizavam os lazeres, promovendo
festas, espectáculos, desporto e viagens, fazendo ao mesmo tempo a
propaganda do regime.

O Estado totalitário fascista investiu muito no controlo das mentes e das


vontades, através de uma imagem de poder, de força e de ordem. A
propaganda mostrou-se como um forte auxilio. Uma gigantesca máquina de
propaganda, apoiada nas então modernas técnicas audiovisuais, promovia o
culto ao chefe. Nos comícios, nos jornais, na rádio, nos espectáculos, e no
desporto, as massas recebiam os discursos inflamados dos seus chefes, os seus
valores e princípios.

Essa imagem assentava também num vincado cunho militarista, os chefes


apareciam em público de farda militar, transmitindo uma imagem de ordem e
respeito.

Os governos e partidos fascistas impuseram-se à custa de uma grande


encenação, os gestos dramáticos dos chefes erma minuciosamente
programados, os comícios e desfiles eram grandiosos e intimidatórios,
profundamente decorados com uma simbologia de força, as paradas militares
constituíam importantes manifestações de força, com vista a criar um clima de
entusiasmo entre os apoiantes e de medo entre os seus opositores.
A Repressão Policial e a Censura Intelectual
O regime fascista utilizava também a força sobre a população, vigiando-a nos
locais de habitação, trabalho e lazer. Principalmente na Alemanha surgiu um
verdadeiro Estado policial, onde a polícia política e as S.S. se encarregavam
dessa vigilância, criando um clima de suspeita e de delação generalizado sobre
os indivíduos e a opinião pública, eliminando toda e qualquer oposição que era
enviada para campos de concentração.

Nessa acção repressiva, o fascismo utilizou a polícia política: O.V.R.A.


(Organização de Vigilância e Repressão do Antifascismo), na Itália e a Gestapo,
na Alemanha;

Milícias armadas como as S.A. (Secções de Assalto) e as S.S. (Secções de


Segurança do Partido), na Alemanha e as Camisas Negras do Partido Nacional
Fascista, em Itália.

A censura intelectual manifestava-se pela imposição de uma literatura e uma


arte de exaltação do regime, e proibindo toda e qualquer manifestação artística
que saísse das regras impostas pelo Estado.

Suprimiu jornais e mandou queimar obras de autores proibidos (Marx, Freud,


Proust, Einstein, etc.);

Perseguiu intelectuais e obrigou artistas a prestar juramento a Hitler;

Obrigou ao encerramento da Bauhaus (escola modernista de artes);

Utilizou intensamente o cinema e a rádio (em 1938, 10 milhões de aparelhos de


rádio, ligados a altifalantes, estavam espalhados nas ruas, nas escolas, nas
fábricas e noutros locais para que toda a Alemanha pudesse ouvir o Fuhrer).
24
O Corporativismo Italiano

O fascismo italiano concebeu uma forma inovadora de regulamentar a ligação


entre o capital e o trabalho. As profissões foram organizadas em corporações e
para cada profissão foi criado um único sindicato patronal e um único sindicato
operário. Foram ainda criados sindicatos mistos de patrões e trabalhadores,
criando assim as corporações mistas.

A todos (patrões e trabalhadores) foram proibidas quaisquer atitudes de


contestação, em defesa dos seus interesses profissionais. Aos trabalhadores foi
proibida a greve e aos patrões foi proibido o lock-out. À frente destes sindicatos
fascistas estavam funcionários nomeados pelo Partido Fascista, para assegurar
esse objectivo.

O Estado fascista visava, deste modo, substituir o princípio marxista da luta de


classes pela cooperação entre as mesmas. Todos os conflitos laborais eram
submetidos à arbitragem do Estado. Assim se procurava disciplinar os
trabalhadores, fazer crescer a produção, e fortalecer a autoridade do Estado nos
campos económico e social

Formava-se, assim, o Estado Corporativo. O Estado assumia assim o controle de


toda a economia que, segundo Mussolini, devia ser autárcica, ou seja, devia
bastar-se a si própria, sem depender do exterior.

Ao transformar-se num Estado Corporativo, foi criado, na Itália, um quadro legal


para integrar as corporações. Surgiram o Ministério das Corporações e a
Câmara dos Fasci e Corporações que controlavam todas aquelas instituições, de
modo a submeter os interesses dos grupos aos interesses prioritários do Estado.

O culto da força e da violência e a negação dos direitos humanos

A violência esteve na essência do fascismo e do nazismo. Ambas as ideologias


repudiavam o legado racionalista e humanista da cultura ocidental.

A violência acompanhou, desde o inicio, a prática fascista. Na Itália, ainda


Mussolini não conquistara o poder e já os esquadristas semeavam o pânico. Só
mais tarde, os esquadristas foram reconhecidos oficialmente como milícias
armadas do Partido Nacional-Fascista. Cabia-lhes vigiar, denunciar e reprimir
qualquer acto conspiratório. Idênticas funções que competiam à policia politica.

Na Alemanha, o Partido Nacional-Socialista criou as Secções de Assalto (S.A.) e


as Secções de Segurança (S.S.), milícias temidas pela brutalidade das suas
acções.

Com a vitória do nazismo, as milícias e a polícia política (Gestapo) exerceram


um controlo apertado sobre a população e a opinião pública. A criação dos
campos de concentração, completou o dispositivo repressivo do nazismo.
Administrados pela S.S. e pela Gestapo, neles se encerraram os opositores
políticos.

25
O nazismo levou ao extremo o racismo que caracteriza ideologias fascistas. Os
nazis acreditavam descender de uma raça superior, a raça ariana, a quem
incumbia a obrigação de dominar o mundo pela eliminação das raças inferiores.

O primeiro objectivo do nazismo deveria ser a purificação da raça ariana pela


selecção dos seus membros mais genuínos e eliminação dos impuros.

Para isso, desenvolveram profundos estudos para determinar as características


da raça ariana e aplicaram as conclusões da análise dos tipos fisionómicos e
mentais na depuração da raça. Isto é, encontrados os indivíduos perfeitos,
machos e fêmeas eram acasalados e submetidos à aplicação rigorosa das leis
da genética a fim de obter novos cidadãos dotados com as qualidades raciais
superiores.

Ao mesmo tempo, deficientes mentais, doentes, portadores de qualquer


deficiência ou debilidade eram esterilizados ou eliminados.

O passo seguinte da política racista alemã era preservar a pureza da raça pela
eliminação das raças inferiores que a contaminavam. Entre todas, a mais
inferior era constituída pelos judeus que acusavam de serem causadores de
todos os males da sociedade. Por conseguinte, fizeram do seu extermínio, um
dos grandes objectivos políticos.

Numa primeira fase, os judeus foram segregados, boicotados, excluídos. Numa


segunda fase, surgiram as primeiras investidas contra as suas pessoas e bens
com destruições programadas dos seus locais de culto e de actividade
económica, intensificando-se a sua segregação com o seu encerramento em
guetos. Numa terceira fase, com o começo da Segunda Guerra Mundial, os
judeus foram submetidos às mais humilhantes condições de trabalho e,
finalmente, a um extermínio cientificamente preparado que se traduziu no
genocídio de milhões de homens, mulheres e crianças nos campos de
concentração.

A autarcia como modelo económico

Os totalitarismos cresceram à medida que se agravavam as condições


económicas e financeiras de uma Europa destruída pela guerra e cresciam as
promessas de solução de todos os problemas por ideologias fortemente
nacionalistas.

Uma vez no poder, os regimes totalitários fizeram da auto-suficiência


económica e da resolução do problema do desemprego poderosos veículos de
afirmação do nacionalismo político. Era o ideal de autarcia traduzido na adopção
de políticas económicas fortemente intervencionistas através das quais as
actividades produtivas eram colocadas ao serviço do Estado.

26
Na Itália:

Ganhou particular relevância o controlo da economia pelo enquadramento de


todas as actividades laborais nas corporações.

Paralelamente, Mussolini ficou ligado ao lançamento de amplas campanhas de


produção envolvidas por poderosas e, por vezes, espectaculares manifestações
de propaganda em que os trabalhadores eram exortados a trabalhar
intensamente de forma a conseguir altos níveis de produtividade. As mais
famosas foram a “batalha de trigo”, visando o aumento da produção deste
cereal, e as campanhas tendo em vista a recuperação de terras para a
agricultura e a construção de grandes obras públicas.

As actividades industriais e comerciais passaram também por um forte controlo


do Estado, já nos anos 30, com o lançamento de programas de industrialização
e de controlo do volume das exportações e importações.

Os resultados dos programas económicos italianos foram positivos, todavia, o


desenvolvimento do país foram conseguido à custa de grandes sacrifícios da
população, quer em trabalho, quer em impostos, quer em sujeição a rigorosos
racionamentos do consumo.

Na Alemanha:

Hitler não divergiu substancialmente das políticas económicas adoptadas por


Mussolini. Tornar a Alemanha independente dos empréstimos estrangeiros pelo
relançamento da economia e, ao mesmo tempo, resolver o problema de 6
milhões de desempregados foram a bandeira da propaganda que levou os nazis
ao poder. Para o conseguir, Hitler levou a cabo uma politica de grandes obras
públicas, como a construção de auto-estradas e outras vias de comunicação e
desenvolvimento do sector automóvel, aeronáutico, químico, siderúrgico e da
energia eléctrica.

Relevante no combate ao desemprego e na captação da simpatia dos grandes


industriais alemães foi o relançamento da indústria militar e a reconstituição do
exército e da força aérea, contrariando as imposições de Versalhes. Nos finais
da década, a Alemanha estava novamente militarizada e preparada para se
lançar na conquista da Europa.

O estalinismo: Planificação da economia, colectivização dos campos,


burocratização do partido; repressão

Após a morte de Lenine em 1924, Estaline iniciou uma fulgurante marcha pela
conquista do poder na U.R.S.S. Afastou todos os seus adversários e rivais, como
27
Trotsky, através de sucessivas purgas (operações de limpeza ideológica feitas
no interior do Partido Comunista), usando a autoridade dos cargos que exercia
no Estado Soviético e a sua grande influência dentro do Partido.

Tal política conduziu à morte, à prisão ou à expatriação inúmeros inimigos,


nomeadamente todos os dirigentes bolcheviques que tinham feito a revolução
de Outubro de 1917.

A partir de 1927, é o chefe incontestado do Partido Comunista e do Estado


Soviético, desenvolvendo, em torno de si, um forte «culto da personalidade».

Uma vez no poder, toda a sua acção política foi norteada por dois grandes
objectivos:

• A construção da sociedade socialista;

• A transformação da Rússia numa grande potência mundial.

Sob a sua chefia, a URSS tornou-se numa das nações mais industrializadas do
mundo, rivalizando com os EUA na partilha das áreas de influência no mundo,
edificou a máquina burocrática e administrativa do Estado Soviético, dando-lhe
um cariz totalitário.

Estaline interrompeu o processo instituído com a NEP e arrancou


irreversivelmente para a nacionalização de todos os sectores da economia.

Todos os meios de produção foram nacionalizados e o Estado passou a assumir


a função de os gerir, em nome de todos.

A propriedade rural foi organizada em:

• Kokhoses – correspondiam a grandes propriedades agrícolas colectivas


trabalhadas pelos camponeses, geralmente da mesma região, em regime
cooperativo, sob administração de delegados do partido;

• Sovkhoses – grandes propriedades dirigidas directamente pelo estado,


para qual a mão-de-obra trabalhava na qualidade de assalariado,

O comércio foi organizado à semelhança da propriedade rural em cooperativas


de consumo local ou em grandes armazéns estatais onde a população se
abastecia.

A indústria foi a principal prioridade política de Estaline. Para a desenvolver o


Estado planificou a indústria de acordo com as necessidades. Foram concebidos
os Planos Quinquenais, que eram planos que fixavam as prioridades e os níveis
de produção a atingir no prazo de 5 anos.

• No primeiro plano (entre 1928 e 1933), deu prioridade absoluta à indústria


pesada. Pretendia proceder à criação dos sólidos fundamentos de futuros
programas industriais que garantissem a independência económica do
país. Fomentou a construção de grandes complexos siderúrgicos,
hidroeléctricos, fabris, de redes de comunicações, exploração de
matérias-primas e produção de alimentos;

28
• No segundo plano (1933 a 1938), o objectivo foi o desenvolvimento da
indústria ligeira e alimentar, de forma a proporcionar melhor qualidade de
vida às populações;

• O terceiro plano, previsto para os cinco anos seguintes, visava o sector


energético e as indústrias químicas, mas foi interrompido em 1939 com o
começo da Segunda Guerra Mundial.

Depois da guerra, entre 1945 e 1955, os planos quinquenais foram retomados,


com vista à retoma económica da produção agrícola e industrial e à
reconstrução do país, devastado e com 20 milhões de mortos na guerra.

Para que tais planos fossem concretizados, o Estado centralizou e controlou o


desenvolvimento económico, motivando a população através da propaganda ou
tomando medidas fortemente repressivas. Tais como:

• Deslocação maciças da população para locais onde a mão-de-obra era


necessária

• Envolvimento dos trabalhadores na construção da sociedade socialista,

• Através da propaganda, premiavam-se os melhores trabalhadores com


títulos como “heróis do povo”

• Atribuição de prémios de produção.

• Medidas coercivas como a caderneta do operário e o passaporte interno,


para alem do trabalho forçado

O Totalitarismo repressivo do Estado e a Burocratização do Partido

O centralismo económico do Estado correspondeu a um igual centralismo


político que se concretizou num poder crescente do Estado e do Partido
Comunista que estenderam o seu domínio a toda a sociedade russa.

Apesar dos amplos direitos sociais e políticos consagrados na Constituição de


1936, o país era dominado pelo totalitarismo do Estado e do Partido, duas
estruturas paralelas que se confundiam e interpenetravam. Isto acontecia
porque para os comunistas, o Estado não estava acima das classes. Ele devia
representar o Proletariado. Como o Partido Comunista era considerado a sua
vanguarda, então o Estado devia estar sob a direcção do Partido.

O Totalitarismo era também reforçado pelo centralismo democrático, sistema


organizativo em que assentava o Estado soviético (já desde Lenine). Tinha por
base duas linhas de actuação política:
• Uma linha democrática que estabelecia o voto popular por etapas e
degraus de baixo para cima (voto universal aos cidadãos para elegerem
órgãos locais);
• Uma linha autoritária que determinava o cumprimento, sem contestação,
das decisões tomadas pelos órgãos superiores que tinham sido eleitos. As
decisões eram impostas de cima para baixo, colocando todas as
29
organizações políticas e todos os cidadãos sob o poder centralizador dos
dirigentes do Partido e do Estado.
O Totalitarismo era reforçado pelos complexos e hierarquizados aparelhos
burocráticos do Partido e do Estado, constituídos por funcionários
hierarquizados que transmitiam as ordens dos órgãos superiores, controlavam
militantes e cidadãos e bloqueavam quaisquer tentativas de mudança.
Também a U.R.S.S., à semelhança de outros Estados totalitários, conheceu as
formas de organização e manipulação das massas e as duras medidas
repressivas:

Os cidadãos foram enquadrados em organizações afectas ao regime como os


«Pioneiros», a «Juventude Comunista», os «sindicatos comunistas» para que
pudessem crescer e viver de acordo com a ideologia dominante. Assim,
procuravam criar o «homem novo» que deixasse de lado o seu individualismo e
aprendesse a viver em função do colectivo;

A repressão foi exercida violentamente contra os opositores que o regime


considerava como sabotadores da nova ordem socialista. Até ao fim da década
de 30, dois milhões de pessoas foram enviadas para os campos de trabalho
forçado - «Gulags» - e setecentas mil foram executadas. Entre estas vítimas
encontravam-se muitos antigos bolcheviques e membros dos sovietes que
tinham dirigido e participado na revolução de Outubro de 1917

2.3 A resistência das democracias liberais


Os Estados democráticos reagiram de forma diferente à crise económica e à
agitação social dos anos 30. Ao contrário da Itália, da Alemanha, de Portugal e
de Espanha que, nas décadas de 20 e 30, se tornaram regimes conservadores e
autoritários, os E.U.A., a Inglaterra e a França (países de maiores tradições
democráticas) mantiveram os seus regimes democráticos, optando por uma
procura de consensos políticos entre os partidos de esquerda e de direita, e por
uma maior intervenção do Estado no campo económico e social, aplicando os
ideais do Estado Providência “Welfare State”

A grande depressão dos anos 30 revelou as fragilidades do capitalismo liberal,


até então acreditava-se na livre iniciativa, livre produção e não livre
concorrência como capazes de proporcionarem a riqueza social. Interpretavam-
se as crises cíclicas como reajustamentos naturais entre a oferta e a procura,
que por si se resolveriam. Destes princípios decorria a velha máxima liberal de
que a regulação das actividades económicas por parte do Estado era
desnecessária.

A dimensão mundial da crise fez aparecer novas teses economistas, como a do


economista britânico Jonh Keynes, segundo a qual o Estado se devia tornar
patrão, criando empregos através de políticas de obras públicas, ao mesmo
tempo que aplicava reformas sociais de apoio aos desempregados e
trabalhadores pobres. O Estado transformava-se assim no Estado Providência
que promovia a segurança social de modo a garantir a felicidade, o bem-estar e
o aumento do poder de compra dos cidadãos, como forma de garantir uma

30
maior justiça social e de promover o próprio crescimento económico. Era o
intervencionismo do Estado.

O caso dos Estados Unidos da América com o «New Deal»

O presidente dos EUA Franklin Roosevelt, para ultrapassar a crise económica,


opta pelo intervencionismo do Estado na economia (Welfare State), pondo em
prática o New Deal (Nova Distribuição Económica), que consistiu numa série de
medidas económicas e sociais que procuravam relançar a economia e lutar
contra o desemprego e a miséria.

Principais medidas aplicadas:

• Lançamento de grandes obras públicas, combatendo a desemprego


através de construção de estradas, pontes, vias -férreas, barragens,
habitações, escolas, hospitais (novos postos de trabalho e infra-estruturas
económicas);

• Protecção à agricultura com a concessão de empréstimos bonificados aos


agricultores e indemnizações para os compensar pela redução das áreas
cultiváveis;

• Protecção à indústria com fixação de preços mínimos e máximos de


venda;

• Mediadas de carácter sociais, como a redução do horário de trabalho para


44h semanais e a instituição de um salário mínimo nacional, auxílio
financeiro aos pobres e aos desempregados, reforma por velhice e
invalidez, direito à greve e liberdade sindical.

O New Deal ajudou a ultrapassar a situação de crise e permitiu o relançar da


economia americana, consequência da criação de emprego, restituição do
poder de compra e a retoma do consumo, salvando o sistema capitalista
ameaçado e a democracia americana.

O caso da Grã-Bretanha

Verificou-se o convívio democrático entre o Partido Conservador e o Partido


Trabalhista que alternaram no poder e que criaram governos de «união
nacional» (conservadores, liberais e trabalhistas) que intervieram,
moderadamente, na economia visando a recuperação económica e uma maior
justiça social.

O Estado Providência instituiu-se através de uma vasta legislação social de


apoio aos mais desfavorecidos:

• Subsídios de desemprego, de viuvez, de orfandade e de velhice;

• Legislação sobre habitação social (construção de bairros de renda


económica para operários com casas equipados com água, instalações
sanitárias e electricidade).

• Direito a férias pagas.

O caso da França com a «Frente Popular»

31
As forças de direita e de esquerda souberam conviver democraticamente,
alternando entre si o poder político e formando vários governos de unidade
nacional que fizeram frente à extrema-direita que crescia não só internamente,
mas também externamente, na vizinha Alemanha.

Nas eleições de 1936, os socialistas ganharam as eleições e formaram um


governo de coligação de esquerda, a Frente Popular que obteve o apoio dos
comunistas e dos radicais. Este governo de coligação tinha como objectivo
prioritário suster o avanço do fascismo em França e resolver a grande
conflituosidade social que existia em França, com sindicatos muitos activos que
lutavam pelos direitos dos seus associados.

Foram os vários governos da Frente Popular que aplicaram um importante e


avançado programa de reformas sociais, no âmbito do Estado Providência, tais
como:

• Obrigatoriedade de celebração de contratos colectivos de trabalho;

• Liberdade sindical;

• Subida de salários;

• 40h de trabalho semanal;

• Mínimo de 15 dias de férias anuais pagas.

• Criou organismos de cultura popular

• Promoveu o desenvolvimento dos tempos livres e do lazer

O caso da Espanha:

Em 1931 foi implantada a República e em 1936, foi eleita em Espanha a Frente


Popular, resultante da coligação dos partidos de esquerda, formando o Partido
Operário de Unificação Marxista.

Esta coligação iniciou uma política de reformas como:

• Legalização do direito à greve;

• Leis a favor do aumento de salários;

• Leis que permitiam a ocupação de terras não cultivadas e das fábricas


mal geridas;

Para além disso, realizou a separação entre a Igreja e o Estado

Estas medidas desencadearam a oposição das forças mais conservadoras que


se uniram na Frente Nacional (Igreja, monárquicos, conservadores, fascistas)
dirigida pelo General Franco. Estes, partindo de Marrocos, pegaram em armas
contra a República, desencadeando uma sangrenta guerra civil que opôs, entre
si, Republicanos e Franquistas/Nacionalistas.

32
A vitória dos Franquistas levou ao poder o ditador Francisco Franco que
instaurou um governo ditatorial, fascista e corporativo. Acabou assim a
experiência democrática da Frente Popular em Espanha e levou este país a
juntar-se às outras ditaduras que já então dominavam a Europa.

2.4 A dimensão social e politica da cultura


Cultura de Massas e o desejo de evasão

Nos anos 30, a cultura de massas é uma consequência das alterações que se
operaram nos modos de vida nas grandes metrópoles. Fomentada pelos
governos democráticos e amplamente divulgada pelos mass media, surge como
uma cultura de evasão muitas vezes associada ao lazer e ocupação de tempos
livres e que, por isso, tem como grande objectivo proporcionar a fuga à rotina e
aos problemas do quotidiano doméstico e profissional.

Sendo assim, a cultura de massas apresenta-se como uma cultura:

• Estandardizada e produzida em série nas suas múltiplas formas, como


qualquer bem de consumo;

• Democrática, pelos baixos preços a que é lançada no mercado;

• Efémera, uma autêntica cultura descartável, com o objectivo de


proporcionar prazer imediato;

• Superficial abordando os temas, sem grande preocupações literárias ou


estéticas;

• Que visa apaziguar tensões e angustias geradas no quotidiano laboral;

• Que visa homogeneizar um tipo de pessoa média, pelo incutir de valores e


de modelos comportamentais, através da publicidade e do marketing.

Os grandes entretenimentos colectivos;

Cinema:

Uma das principais manifestações de cultura de massas. Verdadeiro mundo de


ilusões, o cinema respondia à crescente necessidade de evasão das populações.
Qualquer que fosse o seu género, o filme conduzia o espectador a uma outra
dimensão. O homem vulgar era transportado a um mundo de sonho em que,
identificado com as personagens, ria, chorava, amava ou vivia as maiores
aventuras. Evadia-se da sua própria vida para viver as vidas que se projectavam
no ecrã.

Foi também através do cinema que se difundiu os modelos socioculturais. Os


cidadãos começaram a imitar formas de vestir, de falar e ate mesmo as atitudes
das estrelas e heróis dos filmes.

Literatura popular:

33
Na primeira metade do século, a literatura policial e sentimental (em texto ou
em banda desenhada) aumentou na sua procura. Destinado ao entretenimento
de consumidores, privilegiou o texto fácil, reduzido ao essencial, e o enredo que
reflecte os problemas do quotidiano para que o leitor se identifique com os
protagonistas da história (tal como no cinema).

Música ligeira:

Nesta altura, a música libertou-se da orquestra e dos convencionalismos


tradicionais para passar a ser ouvida em todos os espaços rodeados de amplas
camadas de população. Assim como, desenvolveram-se novos ritmos de
satisfação do prazer imediato na população. Pop-rock e jazz foram dois novos
gostos musicais que alimentara uma poderosa indústria discográfica em
nascimento e frenéticos espectáculos nocturnos.

Espectáculos nocturnos:

O fim-de-semana começou a ser intensamente vivido pelas massas urbanas nos


clubes, bares e cabarés, onde novas estrelas se afirmam e passam a construir
novos modelos comportamentais. É o tempo dos anos loucos caracterizados por
uma maior liberalização dos costumes, pela aceleração do ritmo da vida e pela
busca de novas formas de prazer e de evasão.

Espectáculos desportivos:

O desporto, antes orientado para o exercício físico, depois para o lazer e


ocupação dos tempos livres, está também na origem do aparecimento de
grandes espectáculos de massas.

Algumas práticas desportivas como o futebol, o ciclismo, o automobilismo e o


boxe transformaram-se em poderosas industrias pelas quantidades
populacionais que atraiam. Atraíam espectadores não só como um tempo de
lazer, mas também para um momento de escape das pressões geradas, na sua
maioria, pela sociedade urbana industrial. Os mass media divulgavam-nos cada
vez mais, fazendo dos temas desportivos um produto jornalístico consumido
pela sociedade urbana.

Os média, veículo de modelos socioculturais;

Por média entende-se o conjunto dos meios de comunicação capazes de


transmitir grande quantidade de informação a grandes quantidades de
população.

Na primeira metade do século, a imprensa, a rádio e o cinema, fizeram chegar


todo o tipo de mensagens a camadas cada vez mais vastas da população,
afirmando-se como os grandes veículos de difusão dos valores e das normas de
comportamento.

Imprensa:

A imprensa atingiu um extraordinário desenvolvimento neste período. Sob a


forma de jornais e de revistas, dirige-se a um público cada vez mais vasto,
preferencialmente urbano, mas não descurando os meios rurais.

34
É graças ao aumento de consumidores que a imprensa ganha “terreno”, isto
proporcionado:

• Pelos progressos verificados na alfabetização das populações;

• Pelo desenvolvimento da qualidade de vida e generalização de novos


hábitos de leitura;

• Pela variedade e qualidade das publicações, bem como diversidade de


informação transmitida graças às modernas técnicas de impressão;

• Pelo carácter sensacionalista das notícias divulgadas por um jornalismo


cada vez mais dinâmico;

• Pelo desenvolvimento dos transportes que levavam a informação aos


locais mais recônditos, mais rapidamente.

Rádio:

A rádio afirmou-se como o mais poderoso veículo de informação. Para isso


contribuiu:

• A criação de laços entre emissores e receptores, reduzindo o isolamento;

• A variedade e qualidade de géneros radiofónicos;

• Os progressos verificados na difusão radiofónica e no fabrico dos


aparelhos de recepção;

• O interesse dos poderes políticos na generalização da expansão da rádio.

Por conseguinte, a rádio foi-se afirmando como uma companhia inseparável em


todos os momentos do público, e sem perder importância mesmo com o
aparecimento da televisão, constituindo um importante veículo de
uniformização e massificação dos comportamentos:

• Os locutores, pela sua simpatia, afirmavam-se como modelos a seguir;

• As notícias generalizavam atitudes sociais e políticas;

• A divulgação publicitária dos bens de consumo chegava uniforme aos


consumidores;

• Tal como chegavam os modelos e padrões comportamentais transmitidos


pelos folhetins radiofónicos de grande audiência.

Cinema:

O cinema constituiu outro importante veículo de modelos socioculturais.


Símbolo do desenvolvimento do capitalismo industrial, cedo o cinema passou a
constituir a maior atracção da época:

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• Os espectadores identificavam-se com os heróis e mitos e imaginavam os
seus mundos de sonho e de ilusão, em resposta às contrariedades da
vida;

• A procura de novas formas de socialização nos meios urbanos. O cinema


servia, muitas vezes, de motivação para encontros sociais e na maioria de
relação amorosa;

• A facilidade de compreensão da mensagem nos filmes, não exigia grande


formação e actividade intelectual;

• O desenvolvimento da indústria cinematográfica permitiu tornar os preços


mais acessíveis;

• Transformou-se numa arte onde se afirmam verdadeiros artistas de


realização e de representação que passaram a constituir novos modelos –
as estrelas de cinema.

As preocupações sociais na literatura e na arte;

Em meados dos anos 20, fazia-se já sentir um certo cansaço relativamente às


audácias da arte e da literatura modernas. Acusavam-nas de uma ânsia de
originalidade a qualquer preço, de se lançarem em pesquisas excessivamente
especializadas, de se tornarem incompreensíveis para o grande público, não
contribuindo, por isso, para a vida da colectividade.

Numa Europa marcada ainda pelas dificuldades do pós-guerra e com os olhos


postos na Revolução Soviética, cresceu o sentimento de que a literatura e a arte
não possuíam um valor puramente estético mas tinham também uma missão
social a cumprir. A profunda crise económica desencadeada em 1929 veio
avolumar este sentimento.

As temáticas psicológicas ligadas à vida interior, que tinham feito escola nos
anos do pós-guerra, deixaram de interessar alguns escritores dos anos 30. A
depressão económica gerada nos excessos do capitalismo liberal proporcionou-
lhes novas motivações e novas temáticas – a realidade material da condição
humana.

São os tempos do Neo-Realismo ou Realismo Social. Os assuntos relacionados


com as condições socioeconómicas dos trabalhadores e a análise da luta de
classes, tratados numa linha ideológica marxista, visando denunciar o
fenómeno da exploração capitalista do trabalho, constituíam temas
privilegiados pelos autores neo-realistas. A literatura passa a associar as
preocupações com os novos problemas sociais e políticos:

• Os protagonistas deixam de ser personagens singulares e tornam-se tipos


sociais.

36
• O tema fundamental era a luta entre exploradores e explorados, uma
criação em que o burguês capitalista representa todo o mal humano e em
que o proletário simboliza a defesa das verdades histórica e da justiça.

Com a ascensão dos regimes totalitários e com os problemas políticos gerados


pela eclosão da Segunda Guerra Mundial, acentua-se o carácter social da nova
produção literária que ganha também uma dimensão política na denúncia
romanceada das agressões à democracia e ao socialismo ou ao apoio aos
respectivos regimes.

O Funcionalismo e o Urbanismo

A consciência colectivista que marcou a cultura entre as duas guerras


manifestou-se também na arquitectura. Numa Europa destruída, os governos
viram-se na necessidade de reerguer numerosos edifícios e de realojar os seus
cidadãos. Impunha-se uma construção simples, barata mas digna.

Existia, nesta época, a convicção de que só um planeamento eficiente,


altamente racionalizado, podia suprir as carências habitacionais e gerar o bem-
estar e a felicidade de todos.

Define-se assim por Funcionalismo, o conjunto de soluções arquitectónicas


inovadoras que marca o início de uma arquitectura verdadeiramente moderna.
O funcionalismo une estreitamente a forma e a função numa economia de
custos e racionalidade de linhas, pondo em evidência a estrutura volumétrica
dos edifícios.

O Primeiro Funcionalismo

A revolução estética do inicio do século tinha preparado as mentalidades e os


arquitectos para a necessária revolução arquitectónica. Walter Gropius
construíra a célebre Fábrica Fagus que suscitou, na altura, dúvidas infundadas
quanto à sua estabilidade. O certo é que a construção saiu muito mais barata
do que a tradicional.

É também pela mão de Walter Gropius que se funda a Bauhaus, uma escola de
artes de concepção inovadora que teve uma influencia marcante no designe e
na arquitectura moderna. Também foi herdeira de várias experiências
pedagógicas e artísticas ocorridas na Europa desde o século XX. O carácter
funcionalista das produções saídas da escola Baugaus está patente não só nas
concepções dos arquitectos a eles ligados, mas sobretudo na criação artística
ao serviço das necessidades elementares do quotidiano. Foi com este
movimento artístico que o designe adquiriu o estatuto de arte, quando aplicado
à criação de novos padrões de mobiliário e de vestuário.

No entanto, a renovação da arquitectura europeia ficou indissoluvelmente


ligada à figura de Charles Edouard Jeanneret, arquitecto francês de origem
suíça, mais conhecido como Le Corbusier. Le Corbusier foi a imagem da
racionalidade na arquitectura modernista europeia.

O carácter racionalista do funcionalismo de Le Corbusier está patente:

37
• Na nova concepção do espaço, o espaço concebido à dimensão do
Homem. A casa deve ser concebida e planeada conforme o tamanho que
a sua função exigisse;

• Na assunção do princípio de que cada elemento arquitectónico de uma


construção deve assumir a sua função, deve ser prático, de tal forma
prático que a casa deve ser concebida como uma “máquina de habitar”;

• Na geometrização cubista da composição do espaço da construção, o que


pressupõe a simplificação dos volumes e a redução das construções a
sólidos geométricos cujo volume, à boa maneira cubista, é perceptível de
um único ponto de vista;

• Na concepção de fachadas, rasgadas por amplas janelas, que, no seu


conjunto, dão a ilusão de uma janela contínua que inunda o interior de ar
e de luz natural;

• Introdução da cobertura plana que coloca a casa directamente em


contacto com o exterior e cuja funcionalidade se traduz no seu
aproveitamento com espaço de lazer;

• Elevação do edifício sobre pilares, o que permite também o


aproveitamento do espaço sobre o qual a casa parece suspensa para
embelezamento da área de construção;

• Na contenção decorativa e na sobriedade das formas. O branco, por


exemplo, é a cor dominante em paredes lisas;

• Na preocupação em construir para resolver problemas da habitação das


cidades europeias que o levou a conceber as “unidades de habitação” –
complexos predominantemente habitacionais urbanos;

• Na integração de outras funções e actividades complementares nos


edifícios predominantemente residenciais

O segundo Funcionalismo

No decurso da década 30, a arquitectura funcionalista sofreu uma crescente


contestação. Acusavam-na de excessiva rigidez e de traçar gélidos planos de
casas despersonalizadas. É desta forma que o novo estilo perde muito do seu
carácter inovador e esgota-se em repetições de fórmulas preestabelecidas.

Através de Frank Wright, arquitecto americano, criador da arquitectura


orgânica, adopta-se a sua ideia de que era possível conceber construções à
medida do Homem, não só à medida física, mas também à medida espiritual.

A sua obra reflecte os princípios fundamentais da arquitectura organicista:

• A concepção do edifício como um ser vivo que vai crescendo segundo as


leis biológicas, isto é, na sua construção o edifício cresce em harmonia
com o ambiente natural que se insere;

38
• A individualidade de cada solução, pois cada caso era singular e único, do
que resultava a rejeição da sobreposição de andares nos edifícios
urbanos;

• A assimetria, a diversidade e a originalidade deveriam ser as


determinadas da composição e da organização do espaço;

• A busca da relação entre o espaço interior e exterior, sendo as formas


exteriores do edifício determinadas em função do livre planeamento do
espaço interior;

• Recurso a materiais inovadores e a novas tecnologias construtivas, com


preferência para os materiais característicos da região onde o edifício se
insere;

• A preferência pela habitação unifamiliar, concebida como refugio e lugar


de recolhimento dos seus residentes.

O Urbanismo

A renovação arquitectónica pretendia pelos funcionalistas, não podia dissociar-


se da cidade no seu todo.

Há muito que o crescimento populacional fraccionara os pólos urbanos. A cidade


do século XX era constituída por vários aglomerados, muitas vezes distribuídos
de uma forma anárquica, que os funcionalistas procuraram reorganizar segundo
critérios de racionalidade.

Os debates sobre arquitectura e urbanismo originaram a primeira Conferencia


Internacional de Arquitectura Moderna (CIAM), que foi seguida de muitas outras.

Depois de uma análise crítica de diversas cidades, as conclusões da conferência


foram publicadas na célebre Carta de Atenas, que se tornou numa espécie de
guia do urbanismo funcionalista. Segundo a Carta, a cidade deve satisfazer
quatro funções principais: habitar, trabalhar, recrear o corpo e o espírito, e
circular. Numa lógica estritamente funcionalista cada uma destas funções
ocuparia uma zona específica da cidade. As três zonas articular-se-iam por uma
eficiente rede de vias de comunicação.

Embora estas propostas tenham sido, posteriormente, consideradas demasiado


racionalistas e redutoras, a Carta teve o mérito de colocar as questões sociais
no centro do planeamento urbano.

A Cultura e o Desporto ao serviço dos Estados

A dimensão social e política que marcou a cultura dos anos 30 fez-se sentir com
particular intensidade nos estados totalitários. As ditaduras compartilharam o
mesmo objectivo de colocar a cultura ao serviço do poder, procurando
assegurar que a criação intelectual contribuísse eficazmente para a construção
da “ordem nova” que defendiam.

Democráticos ou totalitários, nenhum dos regimes dispensam os novos veículos


de informação nos seus programas de intervenção política.

39
Os progressos técnicos verificados na imprensa, na rádio e no cinema foram
aproveitados pelos poderes políticos:

• Se democráticos, para promoverem o desenvolvimento da consciência


cívica dos cidadãos no sentido de os empenharem cada vez mais nas
questões de interesse publico e de os levar a aderir de forma racional às
diversas opções propostas;

• Se totalitários, para institucionalizarem a divulgação propagandística da


sua acção governativa, com o objectivo de impor uma orientação
ideológica nacionalista, tendo em vista a mobilização e a arregimentação
da população, num quadro político-social nacional onde não haja lugar à
diversidade ideológica.

Também a prática desportiva cedo deixou de ser uma actividade de lazer


descomprometida para dar lugar a manifestações de afirmação nacionalista.

A disputa levada a cabo pelos competidores, identificados pelos símbolos


nacionais, passou a representar a disputa nacionalista dos países por que
competiam. Deste modo, a superioridade desportiva verificada nas diversas
modalidades identificava-se com a superioridade das Nações em competição,
tão frenética era a aclamação das vitórias por parte das multidões.

2.5 - Portugal: O Estado Novo


O Triunfo das Forças Conservadoras com o Estado Novo

A 28 de Maio de 1926 dá-se um golpe de Estado dirigido pelo General Gomes da


Costa que põe fim à I República, não encontrou grande oposição. Pelo contrário,
reuniu em torno de si um grande consenso, beneficiando do apoio de grupos
como os grandes proprietários e capitalistas, a classe média, intelectuais de
direita, o Exército, a Igreja Católica, monárquicos, grupos que contestavam cada
vez mais o estado de degradação do regime republicano.

Depois do Golpe de 28 de Maio de 1926, a agitação política continuava. Os


governos sucediam-se. A 9 de Julho, dá-se um novo golpe, dirigido por Óscar
Carmona, que instala a Ditadura Militar.

A Ditadura Militar impõe a censura e suprime as liberdades individuais, não


conseguindo porém resolver a situação financeira, cada vez mais grave.

Em 1928, Carmona é eleito Presidente da República e convida António de


Oliveira Salazar (professor da Universidade de Coimbra) para Ministro das
Finanças. Este aceita o cargo, com a condição de que nenhuma despesa pública
seja aprovada sem o seu consentimento.

Salazar consegue resolver a situação financeira e ascende à Presidência do


Conselho de Ministros em 1932. Assume, então, a chefia do Governo e forma
um novo Ministério constituído por civis.

40
Começa então a delinear-se uma nova ordem, baseada num Estado forte, acima
das lutas partidárias e do Parlamentarismo.

A partir de 1930, uma série de diplomas e organismos vão fazer surgir o


ESTADO NOVO (termo que o regime atribui a si próprio):

• União Nacional (1930) – Foi concebida não como um partido, mas sim como
um movimento que congregava todos os portugueses. Para Salazar era uma
originalidade portuguesa, pois servia como elo de ligação e não de desunião.
Na prática comportou-se como um partido único, tal como nos outros
Estados totalitários, pois toda a oposição foi proibida. Congregava todas as
forças conservadoras.

• Acto Colonial (1930) que estabelecia Portugal como um Estado


pluricontinental, considerando as colónias como parte integrante e
inalienável do território nacional.

• Constituição de 1933: dividindo os poderes em:

a. Poder Legislativo - Assembleia Nacional e Governo através de


decretos-lei (Presidente do Conselho de Ministros e Conselho de
Ministros);
b. Poder Executivo - Presidente da República e Governo (Presidente do
Conselho de Ministros e Conselho de Ministros;

c. Poder Judicial – Tribunais;

d. Poder Consultivo - Câmara Corporativa.

Não era uma constituição totalmente anti-democrática, uma vez que se


baseava na separação dos poderes, mas foi usada anti-democraticamente pois
o poder executivo sobrepunha-se ao legislativo, uma vez que o Governo
acumulava os dois e o Presidente da República era completamente
independente da Assembleia.

A Assembleia Nacional, eleita por sufrágio directo, mas apenas a partir da lista
única da União Nacional, só funcionava durante 3 meses, o que fazia com que o
Presidente do Conselho de Ministros pudesse legislar no restante período,
através de decretos-lei.

A Constituição previa, ainda, os direitos individuais dos cidadãos como, por


exemplo, a liberdade de expressão e de associação, mas depois impedia-os
através de leis especiais (imposição da censura, por exemplo).

A progressiva adopção do modelo fascista italiano nas instituições e no


imaginário político do Estado Novo
O Estado Novo inspirou-se no modelo fascista italiano de Mussolini que Salazar
adaptou àquilo que considerava ser a mentalidade e os valores tradicionais da
Nação portuguesa.

Salazar foi buscar ao fascismo italiano o que lhe parecia mais conveniente para
conseguir a unidade da Nação e do Estado:

41
• Monopolização da vida política em torno do partido único (União
Nacional). Todos os outros partidos foram proibidos. Só a União Nacional
fazia campanha eleitoral e só ela concorria às eleições. Também a
admissão em certos empregos públicos exigia inscrição obrigatória no
partido. Mas, ao contrário do que aconteceu em Itália, em Portugal, não é
o partido que toma o poder, mas sim o Governo que forma o partido.

• Adopção do Corporativismo, o objectivo era integrar os cidadãos em


organizações afectas ao regime, procurando impor a conciliação de
classes a bem dos interesses da Nação (completar com conceito anterior).
Os trabalhadores eram enquadrados em sindicatos nacionais e os patrões
em grémios, de modo a promover a colaboração das classes a bem dos
interesses superiores do Estado. Também nos seus tempos livres os
trabalhadores estavam organizados em organismos afectos ao regime
como a FNAT (Federação Nacional para a Alegria no Trabalho).

• Existência de milícias próprias, a Legião Portuguesa foi criada,


inicialmente, como uma milícia popular paramilitar com o objectivo de
lutar contra o comunismo, mas nunca se transformou numa tropa de
choque ao serviço do regime. Daí não poder ser comparável, no que
respeita à violência, nem às "camisas negras" italianas, nem às S.S.
alemães.

• Culto do chefe, tal como Mussolini e Hitler, Salazar era visto como um
génio, um génio de excepção, o salvador da Pátria.

• Enquadramento da juventude em organizações afectas ao regime, a


Mocidade Portuguesa (1936), enquadrava toda a juventude escolar, desde
a escola primária à universidade. A sua inscrição era obrigatória para os
estudantes do ensino primário e secundário. Destinava-se a ideologizar a
juventude, inculcando-lhe valores nacionalistas e conservadores. Usavam
uniformes e adoptaram a saudação romana, visava estimular nos jovens
valores como a devoção à Pátria, o respeito pela ordem e disciplina e o
culto do dever militar. Às raparigas procurava ensinar práticas que
pudessem fazer delas boas mães, boas esposas e boas donas de casa.

• Controle do ensino e da cultura, o ensino educava as crianças, desde os


bancos da primária, visando transformá-las em futuros cidadãos
cumpridores, tementes a Deus, submissos e respeitadores da autoridade.
Na escola, a inculcação ideológica manifestava-se com nitidez no controle
dos professores, nos manuais escolares, na imposição do «livro único» e
na própria organização física do espaço escolar:

o Nas paredes da sala de aula, o crucifixo estava ladeado pelos


retratos de Salazar e Américo Tomás;

o A autoridade do professor era reforçada pelo estrado que o elevava


acima dos alunos;

o Os alunos de bata branca (pronta a esconder as diferenças e as


individualidades de cada um), assistiam submissos às lições do
mestre, também ele limitado pelas imposições ideológicas do
regime.

42
A imagem, imposição e transmissão da autoridade incontestável impunha-se
assim, naturalmente, na sala de aula:

• Deus (não símbolo religioso, mas símbolo de autoridade)

• Pátria (identificados por Salazar e Américo Tomás)

• Professor (em casa o Pai, símbolo da autoridade na família)

• Alunos (futuros cidadãos)

Dizia Salazar:

«Às almas dilaceradas pela dúvida e o negativismo do século, procurámos


restituir o conforto das grandes certezas. Não discutimos Deus e a virtude; não
discutimos a Pátria e a sua História; não discutimos a autoridade e o seu
prestígio, não discutimos a família e a sua moral, não discutimos a glória do seu
trabalho e o seu dever.»

«Deus», «Pátria», «Autoridade», «Família», «Trabalho», os dogmas do Estado


Novo.

Não só o ensino, mas também a cultura era manipulada e controlada pelo


regime. Tal como na Itália fascista e na Alemanha nazi, havia órgãos oficiais
especializados em propagandear as obras e as ideias do regime. Foi criado o
Secretariado da Propaganda Nacional (S.P.N.) dirigido pelo jornalista António
Ferro que tinha aquela função, orientando e disciplinando a cultura, com o apoio
da censura e de acordo com os interesses do regime.

Carácter repressivo do poder, Imposição de um aparelho repressivo que


procurava evitar e combater toda a contestação:

Imposição da censura prévia (na imprensa, rádio, cinema, televisão, teatro e


literatura);

Extinção dos partidos políticos, dos sindicatos livres e sociedades secretas


(Maçonaria);

Fortalecimento da polícia política (PVDE e mais tarde, PIDE) que, apoiada numa
vasta rede de informadores, levava a cabo a prisão, tortura física e psicológica e
até assassínio dos opositores. As prisões de Peniche, Aljube e Caxias, bem como
o campo de concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, foram as principais
masmorras do regime.

Mas, apesar do seu autoritarismo, o Estado Novo não foi totalitário. Não
procurou a mobilização política constante e permanente dos cidadãos no apoio
ao regime como o haviam feito Mussolini e Hitler.

Apesar da propaganda constante nos órgãos de comunicação, o regime


apostava sobretudo no afastamento das massas da política, deixando aos seus
governantes a tarefa governativa. Deste modo, a população podia viver o seu
dia-a-dia sem intervir na actividade política.

Outro factor que funcionou como um travão ao totalitarismo do Estado foi a


formação católica de Salazar que tornou o regime mais tolerante, sem os
excessos de violência que marcaram a Itália e a Alemanha.
43
Além disso, Salazar rejeitou todos os excessos militaristas dos regimes italiano e
alemão (camisas negras/S.A./S.S.), chegando mesmo a limitar o crescimento de
grupos fascistas mais radicais como o grupo de Rolão Preto, os «camisas azuis»,
adeptos de extremismos militaristas.

A Ideologia e Prática do Estado Novo

A Constituição de 1933 e os discursos de Salazar definiam o novo regime como


autoritário, dirigista, anti-liberal, anti-parlamentar, anti-marxista, nacionalista,
colonial e corporativo.

O Estado Novo definia-se como:

Anti-liberal, anti-democrático e anti-parlamentar, Salazar recusava a soberania


popular, a existência de partidos políticos, defendendo um Estado forte acima
das lutas partidárias e do Parlamento, de modo a garantir a ordem.

Anti-marxista e anti-socialista, rejeitava a luta de classes, substituindo-a pela


unidade de todos os grupos profissionais em nome do interesse nacional.

Estado Forte e Autoritário, apoiado num «partido único», este autoritarismo


verificou-se na instauração de um regime de poder personalizado (centrado
Presidente do Conselho de Ministros), ditatorial e antiparlamentar.

Salazar legislava através de decretos-lei; dirigia a administração pública e


reduziu o poder do Conselho de Ministros (Salazar reunia-se separadamente
com cada um dos ministros);

A Assembleia Nacional tinha um papel muito subalterno. Só funcionava durante


3 meses. Limitava-se a discutir as propostas de lei apresentadas pelo Governo.
Os ministros não podiam apresentar projectos de lei que envolvessem aumento
da despesa ou diminuição da receita do Estado. A eleição dos deputados era
feita por sufrágio directo mas, como só existia um partido, era inevitável votar
nos candidatos afectos ao regime.

Era um regime de partido único, a União Nacional, que era de inscrição


obrigatória para admissão em certos empregos públicos.

O autoritarismo assentava na imposição de um aparelho repressivo baseado na


imposição da censura prévia (na imprensa, rádio, cinema, televisão, teatro e
literatura), na polícia política (PVDE/PIDE) que perseguia, prendia, torturava e
assassinava os opositores.

Nacionalista, o Estado Novo definia-se como nacionalista, exaltando a Nação. A


defesa da Nação passava por:

• Exaltação da História pátria e dos seus heróis;

• Valorização da história colonial de Portugal;

• Exaltação das tradições culturais e artísticas de cada região de Portugal;

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• Valorização do estilo de vida português, identificado com as populações
rurais, modestas, honestas, trabalhadoras, crentes em Deus, submissas e
obedientes.

Era um nacionalismo conservador que visava corrigir a situação de perturbação


modernizante da I República e reintroduzir o país na sua linha histórica
tradicional. Não era um nacionalismo de expansão como na Alemanha mas sim
de conservação;

Era um nacionalismo que visava a desmobilização política dos cidadãos. Neste


aspecto, distinguia-se do fascismo italiano e do nazismo alemão. Ao contrário
destes regimes, o Estado Novo não apelava à participação entusiástica das
massas (excepto num período inicial), mas sim à sua despolitização. Os
cidadãos foram assim afastados da vida política que estava a cargo dos
dirigentes da União Nacional.

Conservador

• Defesa de valores e conceitos morais consagrados na tradição como


Deus, a Pátria, a Família, a Autoridade, a Hierarquia, a Moralidade e a
Austeridade;

• Em oposição ao anti-clericalismo da I República, Salazar protegeu a


religião católica que foi definida na Constituição como a religião da Nação
portuguesa;

• Defesa da ruralidade, ou seja, do modo de vida rural puro, saudável e


pacífico, em oposição à vida urbana, degradada, agitada e contestatária;

• Defesa do papel passivo da mulher a nível social, económico, político e


cultural. O mundo da mulher devia ser o mundo do lar e da Igreja. A
própria Constituição submetia-a à autoridade do marido;

• Louvou o passado glorioso da Pátria e dos heróis;

• Valorização das produções culturais tradicionais portuguesas (fado,


grupos folclóricos, a arte foi orientada no sentido da glorificação da
tradição e do passado histórico).

Colonialista

Ao criar o Acto Colonial, o Estado Novo estabelecia Portugal como um Estado


pluricontinental, considerando as colónias como parte integrante e inalienável
do território nacional.

Era um colonialismo não de expansão, mas de preservação colonial. O regime


reivindicava a posse dos territórios de além-mar que tinham sido descobertos
ou conquistados pelos portugueses no passado. Assim, o colonialismo e o
nacionalismo estavam muito ligados, entre si.

Corporativista

Como no Estado de Mussolini, o Estado Novo assumiu a forma de um


nacionalismo corporativista, como uma forma de criar uma sociedade colectiva,
capaz de agregar vários organismos representativos de toda a Nação: as

45
famílias (células fundamentais da sociedade); as corporações morais (hospitais,
asilos); as corporações culturais (universidades, agremiações literárias); as
corporações económicas (sindicatos nacionais, grémios, Casas do Povo) e a
Câmara Corporativa (câmara consultiva onde estariam representadas todas as
outras).

Foi a Constituição de 1933 que lançou as bases do Estado Corporativo, mais


tarde reforçado com o Estatuto do Trabalho Nacional, onde se estipulava que os
trabalhadores se deveriam organizar em sindicatos nacionais e os patrões em
grémios.

Sindicatos e grémios deveriam negociar, entre si, os contratos colectivos de


trabalhado, cabendo ao Estado o papel de árbitro que impunha, como regra, a
proibição da greve e do lock-out.

Deste modo os diferentes interesses eram conciliados, a bem do interesse


supremo da Nação.

Na prática, tal política conduzia à submissão dos mais fracos aos mais fortes. Os
trabalhadores, não podendo organizar-se em sindicatos livres, ficavam
impedidos de lutar por melhores salários e melhores condições de vida, sendo
alvo das arbitrariedades dos patrões.

Dirigista

Sob o ponto de vista económico, o Estado Novo foi um Estado intervencionista,


submetendo a economia aos imperativos políticos do regime.

Numa primeira fase, até à II Grande Guerra, preocupou-se fundamentalmente


com a tarefa de promover a estabilidade financeira através de uma política de
contenção e austeridade e, com a promoção da agricultura, considerada a mais
saudável para a economia e para os espíritos.

Numa segunda fase, depois da Guerra, o regime investiu numa política de obras
públicas e de condicionalismo industrial, na sequência das necessidades dos
novos tempos.

Uma economia submetida aos imperativos políticos do regime:


prioridade à estabilidade financeira e defesa da ruralidade

Como Estado intervencionista, o Estado Novo interveio na economia, colocando-


a ao serviço da ideologia ruralista, conservadora e nacionalista do regime.

Neste período, os objectivos da política económica do regime eram: assegurar a


estabilidade financeira; promover o desenvolvimento da agricultura; conter o
crescimento urbano e o número de operários fabris urbanos.

O regime, adepto da ruralidade, defendia uma política económica


essencialmente agrícola, considerando que o desenvolvimento da agricultura
era fundamental para o desenvolvimento do país e para resolver os problemas
sociais da população.

O atraso e pobreza dos campos levavam a um aumento da emigração que o


regime tolerava, sob forma de conter as tensões sociais no campo.

Política de obras públicas e de condicionalismo industrial


46
Neste período, o regime avança no sentido de uma maior modernização da vida
económica com a aplicação do I Plano de Fomento (1953-58) cujas prioridades
são o desenvolvimento das indústrias pesadas e das infra-estruturas. Assim,
desenvolvem-se os seguintes sectores: refinarias de petróleo, siderurgia,
electricidade, produção de adubos, celulose, papel, vias de comunicação e
transportes.,

O regime avança com uma política de obras públicas, revestindo o país com
equipamentos necessários aos novos tempos. Dirige esta política de
empreendimentos Duarte Pacheco, então Ministro das Obras Públicas.

As obras realizadas cobriam várias áreas como: a habitação (bairros para a


classe média, bairros sociais para trabalhadores); o ensino (escolas primárias,
liceus, escolas técnicas); a saúde (hospitais); a justiça (tribunais e prisões); o
desporto (estádios); transportes (estradas, auto-estradas, caminho de ferro,
pontes), etc.

Todas estas obras, feitas com a colaboração de arquitectos modernistas tinham


a marca identificadora do regime: grandes blocos sólidos e pesados como o
próprio regime. Uma arquitectura feita para durar, como o próprio Estado Novo.
Uma arquitectura que ligava a modernidade ao tradicionalismo. (Ver o
«Modernismo na Arquitectura» em Portugal)

O regime era também proteccionista, não só para enfrentar a concorrência


estrangeira, mas também para conseguir o equilíbrio entre as várias forças
económicas, pois considerava que a competição excessiva, própria do
capitalismo, era prejudicial aos valores supremos da Nação.

Intervinha, assim, a nível económico, protegendo alguns grupos económicos e


evitando a competição entre os vários agentes económicos (agricultores,
industriais, banqueiros, comerciantes), de modo a que o equilíbrio económico e
social não fosse afectado.

Tal política contribuiu para o crescimento de alguns grupos económicos, limitou


o crescimento de outros, reduziu a competitividade e a livre iniciativa própria do
sistema capitalista e tornou o tecido empresarial pouco ousado e muito
dependente do poder central. A indústria, apesar do Plano de Fomento
Económico, permaneceu atrasada e o país continuou maioritariamente ligado à
agricultura e à pesca tradicionais.

A Politica Cultural do Regime

O Estado Novo, através do S.P.N., procurou criar uma «política de espírito» que
educasse as populações, segundo os princípios ideológicos e os valores morais
do regime. Este tinha como objectivo aliar a «ordem na rua» à «ordem nos
espíritos». Para tal, o regime recorreu à imprensa, à rádio, ao cinema, ao teatro,
à literatura e às artes, domínios a que estendeu a sua acção, controlando-os
através da censura e promulgando o seu desenvolvimento, segundo o modelo
nacionalista e conservador que defendia. Um modelo ao qual estava alheia a
liberdade de criação artística e cultural e qualquer possibilidade de crítica ou
contestação.

Nessa linha de actuação, o Estado Novo tomou as seguintes iniciativas:

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1936-1940 - Entra em acção a Reforma educativa de Carneiro Pacheco:
• Reforma do ensino primário;

• Adopção do regime do livro único no ensino primário cujas imagens e


textos ensinavam os princípios ideológicos do regime (nacionalismo,
conservadorismo, ruralidade, religiosidade);

• Foi exigido aos professores (a todos os funcionários públicos) a


assinatura de uma declaração anti-comunista e de fidelidade ao
regime.

1952 - Definição do Plano de Educação Popular

• Visava combater o analfabetismo. Foram feitos cursos de educação


para adultos que ensinavam as populações a ler, ao mesmo tempo
que as doutrinavam politicamente. Esses cursos transmitiam
informações sobre agricultura e pecuária (populações rurais) e noções
de educação familiar, moral, cívica, histórica e corporativa, de acordo
com os princípios ideológicos do regime;

Criação de bibliotecas em escolas, Casas do Povo, centros de cultura popular,


bem como bibliotecas ambulantes com obras variadas e destinadas à
divulgação da leitura, informação e doutrinação das populações;

Criação do Fundo do Cinema Nacional que apoiava a criação de filmes que


transmitiam a visão nacionalista e conservadora do regime, para além de filmes
de carácter declaradamente propagandístico;

Criação da FNAT (Federação Nacional para a Alegria no Trabalho) cuja função


era organizar os tempos livres dos trabalhadores com a realização de
actividades recreativas variadas e apadrinhadas pelo regime;

Organização de exposições de artes plásticas;

Apelo aos arquitectos modernistas portugueses para a construção de obras


públicas que equipariam o país, ao mesmo tempo que seriam a imagem do
próprio regime;

Restauro de monumentos antigos;

Atribuição de prémios a artistas (escritores, arquitectos, escultores, pintores,


etc.) pelas obras realizadas;

Comemorações. A mais emblemática foi a Exposição do Mundo Português, em


1940 (ver «Modernismo na Arquitectura»).

3. A Degradação do ambiente internacional


A Irradiação do Fascismo e do Nacionalismo no Mundo.

Na década de 20/30, a democracia liberal entrou em crise. Os movimentos


fascistas surgiram por toda a Europa e muitos tomaram o poder, contando com
a adesão das massas. A ditadura impôs-se pela Europa.

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Vários factores contribuíram para esse domínio:

• A crise económica e social;

• Uma tradição política autoritária e nacionalista nalguns países;

• A humilhação provocada pela derrota na 1ª Guerra Mundial ou por


uma vitória sem recompensas;

• O receio do avanço do comunismo;

• A fragilidade das democracias;

• A propaganda e a violência dos partidos fascistas.

Uma das características da irradiação do fascismo foi a exaltação do


nacionalismo que exaltava o uso da força e da guerra como forma de auto-
defesa e como manifestação de prestígio das nações. Foi o nacionalismo que
levou, na época, as nações ao rearmamento e a uma política de alianças
ofensivas e defensivas, a partir de 1936.

O nacionalismo mais agressivo na Europa vinha da Alemanha nazi. Hitler


desejava integrar no III Reich todos os povos de língua alemã com o objectivo
de reconstruir a Grande Alemanha e alargar o «espaço vital» da nação alemã.
Para isso (contra as determinações do Tratado de Versalhes), Hitler
restabeleceu o serviço militar obrigatório e iniciou uma política de
rearmamento, preparando-se para a guerra.

A Guerra Civil de Espanha, antecâmara da Segunda Guerra Mundial

Precisamente no ano de 1936, começou a Guerra Civil de Espanha que


rapidamente se transformou num conflito de dimensão internacional,
prefigurando os blocos que, três anos depois, se iriam defrontar na Segunda
Guerra Mundial.

A Guerra Civil tornou-se um conflito de dimensão mundial que opôs, entre si, as
forças democráticas e os regimes de direita.

Os Franquistas tiveram o apoio de Hitler (testou em Espanha o armamento que


viria a ser utilizado na 2ª Guerra/ enviou a aviação de combate e a Legião
Condor responsável pelo bombardeamento de Guernica), de Mussolini (enviou
exército e armas) e o apoio tácito de Salazar (propaganda ao
regime/repatriação para Espanha de republicanos e de população que fugia de
Espanha, sabendo que os esperava o fuzilamento pelo exército franquista).

Os Republicanos tiveram o apoio da URSS (homens e armas) e das Brigadas


Internacionais (voluntários de todas as nacionalidades que chegavam a Espanha
para lutar contra o fascismo, em defesa da liberdade e da democracia. Mais de
40 mil jovens de mais de 50 países lutaram, em Espanha, contra os Franco).

A França e a Inglaterra, Estados democráticos, não apoiaram qualquer dos lados


por temerem, de igual modo, o avanço do comunismo e do fascismo. Apesar da
simpatia que a opinião pública daqueles países sentia pela causa republicana, a

49
França e a Inglaterra assinaram Acordos de Não Intervenção. Esta sua política
hesitante voltaria a repetir-se relativamente ao expansionismo militar de Hitler,
adiando até mais não poder ser a decisão de fazer frente ao ditador e à sua
política de expansão.

Internacionalmente, a Guerra Civil de Espanha foi uma versão em miniatura de


uma guerra europeia, travada entre fascistas e comunistas/ democratas de
várias nacionalidades, prefigurando os blocos que se iriam defrontar na
Segunda Guerra Mundial. De um lado, estavam os Republicanos que tinham a
simpatia das democracias ocidentais (apesar da política de não-alinhamento) e
da U.R.S.S.. De outro lado, estavam os Nacionalistas apoiados pelas ditaduras
fascistas da Itália e da Alemanha.

Em 1939, ano em que terminava a Guerra Civil de Espanha com a vitória dos
Franquistas, começava a Segunda Guerra Mundial. No dia 1 de Setembro,
quando a Alemanha invadia a Polónia.

A Aliança contra o Imperialismo do Eixo Nazi-Fascista

A política de rearmamento na Europa rapidamente deu lugar e a uma política de


alianças ofensivas e defensivas por parte das países ditatoriais e países
democráticos, a partir do ano de 1936.

Essas alianças fortaleceram a Alemanha e a Itália que iniciaram, a partir do ano


de 1936, as suas políticas expansionistas.

Reacções das democracias e dos EUA ao imperialismo do Eixo:

Numa 1ª fase, a França assume uma política de pacifismo e a Inglaterra uma de


apaziguamento, tentando ambas evitar a todo o custo uma nova guerra.
Esperando que a Alemanha se satisfaça com as várias anexações, aqueles dois
países estabelecem vários contactos com Hitler e os seus ministros, como os
«Acordos de Munique» na Conferência de Munique (Chamberlain e Daladier) em
1938.

Aí cederam à anexação dos Sudetas pela Alemanha, crendo estar então


saciados os seus desejos expansionistas. Mas Hitler não estava satisfeito.
Continuava a pôr à prova a paciência a resistência da França e da Grã-Bretanha,
cada vez com mais exigências.

Numa 2ª fase, vendo o logro em que tinham caído, as democracias avançam


para uma política de alianças contra o Eixo, e por fim, quando a Alemanha
invade a Polónia, declaram guerra a Hitler.

Tem início a 2ª Grande Guerra Mundial.

Os EUA, relativamente a estes acontecimentos, assumiram uma atitude de


indiferença, mantendo a sua atitude isolacionista, no outro lado do Atlântico.

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As Alianças e Ofensivas

1935

• A Itália invade a Etiópia.

1936

• Pacto de Amizade (Itália e Alemanha).

• A Alemanha ocupou a região da Renânia.

1937

• O Japão invade a China.

1938

• Alemanha anexou a Áustria.

1939

• A Alemanha ocupa Checoslováquia.

• A Itália ocupa a Albânia

• Hitler e Mussolini reforçam a sua união com o Pacto do Aço.

• Pacto de não-agressão germano-soviético (Alemanha e U.R.S.S.)

• A Alemanha invade a Polónia;

• A Grã-Bretanha e a França declaram guerra à Alemanha.

• A Itália junta-se à Alemanha no Eixo Roma-Berlim e os dois países


declaram guerra à França e Inglaterra.

1940 – Forma-se o Pacto Tripartido ou Eixo Berlim-Roma-Tóquio

AS OFENSIVAS DO EIXO (1939-41)

Invasão da França:

O exército alemão e italiano avançam sobre a França, ocupam parte do


território e entram em Paris, em Junho de 1940.

A França ficou dividida em duas partes: a França ocupada e a França de Vichy


(França não ocupada). O governo de Vichy, sob a chefia do General Pétain,
colaborou directamente com os nazis, perseguindo os judeus e os opositores.

Concentração das forças aliadas em Dunquerque prontas a embarcar para


Inglaterra. São bombardeadas pela aviação alemã, provocando milhares de
vítimas.

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Bombardeamento da Inglaterra:

A aviação alemã iniciou, em Setembro de 1940, uma série de violentos


bombardeamentos aéreos às cidades inglesas, particularmente à cidade de
Londres.

Winston Churchill, Primeiro Ministro inglês, incitou a população a resistir. O rei


Jorge VI recusou abandonar Londres, partilhando a sorte com os seus
concidadãos.

A RAF, a ainda frágil aviação inglesa, enfrentou a poderosa Luftwaffe na


chamada «Batalha de Inglaterra», salvando o país da invasão. Churchill diria
sobre a acção dos aviadores ingleses: «Nunca tantos deveram tanto a tão
poucos».

Investida de submarinos ingleses contra a Inglaterra. Esta resiste com o apoio


dos EUA, em 1941, que enviam material de guerra para os Estados «cuja defesa
é considerável vital para a segurança dos EUA».

Ofensiva para Leste:

Em 1941, as forças docentes Eixo ocupam a Jugoslávia e a Grécia.

O exército alemão invade a URSS, rompendo com o Pacto de não agressão que
estabelecera com aquele país.

O Japão (que se junta ao Eixo) invade a Malásia, Filipinas e ataca Pearl Harbour.

Entrada dos EUA na guerra e reforço dos Aliados.

Volte Face no Conflito - AVANÇO DAS TROPAS ALIADAS (1942/45)

Derrota dos Japoneses em batalhas aeronavais contra as forças americanas.

Derrota das tropas Alemães e Italianos dirigidas pelo General Rommel («a
raposa do deserto») no Norte de África pelas tropas aliadas dirigidas pelo
general inglês Montegomery (Batalha de El- Alamein).

Derrota dos Alemães na Frente Leste (Batalha de Estalinegrado).

Derrota dos submarinos alemães no Atlântico (Batalha do Atlântico).

Desembarque dos Aliados na Sicília que derrotam as tropas italianas e


perseguem-nas até Itália. Capitulação da Itália. Mussolini é morto pelos
patriotas italianos e o seu corpo é arrastado pelas ruas de Roma.

Desembarque aliada na Normandia (Dia D), no norte de França, no dia 6 de


Junho de 1944. Este desembarque foi dirigido pelos generais Eisenhower e
Montegomery.

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Retirada das tropas alemãs estacionadas em França. Libertação de Paris a 25
de Agosto. As tropas aliadas perseguem o exército alemão, em retirada da
Frente Ocidental, até à Alemanha.

Ofensiva soviética sobre o exército alemão, em retirada da Frente Leste, até à


Alemanha. O exército vermelho entra em Berlim. Hitler suicida-se e a Alemanha
capitula em Maio de 1945.

À medida que vão avançando em direcção à Alemanha, as tropas aliadas e o


exército vermelho soviético vão encontrando os campos de concentração e os
campos de extermínio. São, depois das vítimas sobreviventes, as primeiras
testemunhas do horror. Libertam os prisioneiros e dão os primeiros passos para
a sua difícil integração na sociedade.

Lançamento de duas bombas atómicas americanas contra Hiroxima (6 de


Agosto) e Nagasaqui (9 de Agosto), a mando do Presidente Truman. Duas
bombas matam imediatamente 106 mil pessoas e um número idêntico nos anos
posteriores devido a doenças cancerígenas provocadas pelas radiações. As
populações dessas duas cidades viriam ainda a ser afectadas, no futuro, por
malformações de fetos e deformações em crianças nascidas anos depois.

O Japão capitula em Setembro de 1945.

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