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Competência
Resumo baseado na obra de Alexandre Câmara
INTRODUÇÃO
Todos os órgãos do Poder Judiciário exercem a função jurisdicional, e eles o fazem através de uma
divisão de trabalho, denominada distribuição de competência.
A jurisdição é una e indivisível. Por isso, a competência não pode ser definida como a "medida da
jurisdição", como costuma ocorrer. A competência estabelece os limites em que cada órgão
jurisdicional pode legitimamente exercer a função jurisdicional.
Existe os chamados critérios de fixação de competência, que são parâmetros empregados pelo
ordenamento jurídico para estabelecer os limites dentro dos quais cada órgão do Poder Judiciário
pode exercer a função jurisdicional.
• ART. 95
Segundo este artigo é competente o juízo do foro da situação da coisa para os processos em
que se discutam direitos reais sobre bens imóveis. É o chamado forum rei sitae. Mas o
demandante poderá optar por propor a ação no foro do domicílio do réu ou em foro eleito
pelas partes, salvo nas hipóteses em que a causa envolva posse, propriedade, servidão,
direitos de vizinhança, nunciação de obra nova, divisão e demarcação de terras, casos em
que a competência do foro da situação da coisa é inderrogável.
• ART. 96
Este artigo fixa a competência do foro do último domicílio no Brasil do autor da herança
para o inventário e partilha de seus bens, assim como para todos os processos ligados à sua
sucessão e para todos aqueles em que for demandado o seu espólio.
• ART. 99
Este artigo fixa a competência do juízo do foro da capital do Estado para os processos em
que a União ou um Território for demandante, demandado ou interveniente, com exceção
dos processos de insolvência e outros casos previstos em lei.
• ART. 100
Prevê os foros privilegiados: competência do foro do domicílio ou residência do
alimentando para a ação em que se pedem alimentos (inciso II), competência do foro do
lugar onde a obrigação deve ser satisfeita nos processos em que se exige o seu cumprimento
(inciso IV), competência do foro do lugar do ato ou fato nas ações de reparação de dano
(inciso V), etc.
Com relação ao inciso I deste artigo, existe uma divergência doutrinária e jurisprudencial.
Diz este inciso que é competente o foro da residência da mulher para ação de separação dos
cônjuges, para a conversão desta em divórcio, e para a anulação do casamento.
Ocorre que a CRFB/88 proíbe a criação, por norma infraconstitucional, de privilégios em razão do
sexo.
Alguns defendem a incidência deste inciso com base na idéia de que ele é uma garantia de isonomia
(igualdade entre os sexos). Outros, em sentido contrário, o consideram norma infraconstitucional
criadora de privilégios em razão do sexo e, além disso, defendem que tal inciso perdeu a sua razão
de ser porque a Constituição vigente permite que a mulher casada fixe o seu próprio domicílio, ao
contrário da anterior, que permitia que apenas o marido o fizesse. Com base neste entendimento,
deve-se aplicar a regra geral, através da qual é competente o foro do domicílio do réu.
Ainda com relação a esta divergência, há quem entenda que ele não afronta a CRFB/88.
VERIFICAÇÃO DO JUÍZO COMPETENTE
Fixada a competência interna, é necessário passar à verificação do juízo competente, processo que
se divide em três etapas:
• Fixação da competência de jurisdição – Verificar se a causa deve ser atribuída à Justiça
Estadual ou a alguma das Justiças Especiais.
• Fixação da competência de foro – Verificar a competência territorial, para saber onde será
proposta a ação (dependendo da situação, por exemplo, elege-se o foro do lugar do fato; no
caso do Rio de Janeiro, este local corresponde a uma das suas comarcas).
• Fixação da competência de juízo – Verificar qual o órgão jurisdicional competente para
aquele processo, o que deve ser feito com base das normas locais de organização judiciária
(no caso do Rio de Janeiro, uma das varas da comarca estabelecida na etapa anterior – órgão
integrante do Poder Judiciário estadual).
Sendo o juízo competente, por exemplo, uma vara cível da comarca da capital do Rio de Janeiro
(Justiça Estadual), e havendo nesta comarca mais de uma vara cível, é necessário proceder à
distribuição da causa (art. 251 do CPC). Deste modo, será sorteado o juízo para onde será
remetido o processo.
Deve haver um equilíbrio da distribuição, de modo que o número de processos remetidos a cada
juízo deve ser igual (art. 252 do CPC).
• Competência funcional
Há uma exceção a esta regra, contida no art. 95 do CPC, que determina um critério de fixação de
competência territorial que é absoluto.
A incompetência relativa admite prorrogação da incompetência, e a incompetência absoluta não o
permite.
Prorrogar a incompetência significa tornar competente um juízo originariamente
incompetente. Isto se dá pela incidência de alguma das causas de modificação de competência.
CAUSAS DE MODIFICAÇÃO DE COMPETÊNCIA:
1. CONEXÃO
Encontra-se regulada no art. 103 do CPC. Trata-se de um fenômeno entre demandas, e não
entre ações. São conexas duas ou mais demandas quando lhes for comum o objeto e/ou
a causa de pedir. Estas poderão ser reunidas para julgamento conjunto pelo juízo prevento
(arts. 105 e 106 do CPC).
Se os juízos tiverem a mesma competência territorial, o juízo prevento será aquele onde se
proferiu o primeiro despacho preliminar positivo – data em que foi proferido o
pronunciamento judicial que ordenou fosse o réu citado (art. 106 do CPC).
Se os juízos tiverem diferentes competências territoriais, será prevento aquele que realizou a
primeira citação válida (art. 219 do CPC).
A REUNIÃO DOS PROCESSOS POR FORÇA DE CONEXÃO É OBRIGATÓRIA?
Quanto a esta questão há uma divergência doutrinária. Para uns ela é obrigatória, e para
outras é mera faculdade do juiz.
É coerente o entendimento de que a reunião é obrigatória quando existir o risco real de haver
decisões contraditórias (pois esta é a razão de ser da conexão). Desta forma, fica a cargo do
juiz analisar a conveniência da reunião, podendo inclusive fazê-lo por uma questão de
economia processual.
2. CONTINÊNCIA
Encontra-se regulada no art. 104 do CPC. Trata-se de uma espécie qualificada de conexão,
que se dá quando são comuns o objeto e/ou a causa de pedir, e o pedido formulado em
uma das demandas é mais amplo do que o formulado na outra (esta está contida
naquela).
No mais, a continência funciona da mesma forma que a conexão.
PODEM AS PARTES ELEGER O "FÓRUM CENTRAL", EM DETRIMENTO DOS
"FÓRUNS REGIONAIS"?
Esta questão apresenta divergência doutrinária e jurisprudencial, pois há quem veja nas
regras que fixam a competência dos fóruns regionais um critério absoluto e, outros, mera
competência territorial.
Parece, contudo, que se admite apenas a eleição de foro, e não de fórum, de modo que fica
apenas a cargo da lei determinar o fórum competente.
3. VONTADE DAS PARTES
As partes podem eleger, por via contratual, o foro que será competente para os processos de
que sejam partes (foro de eleição).
4. INÉRCIA
Sendo a ação proposta perante juízo relativamente incompetente, o réu pode oferecer
exceção de incompetência dentro do prazo para contestação previsto em lei. Caso ele não o
faça, será prorrogada a competência do juízo (o juízo originariamente relativamente
incompetente tornar-se-á competente).
DECLARAÇÃO DE INCOMPETÊNCIA
A incompetência do juízo está regulada nos arts. 112 e seguintes do CPC.
DECLARAÇÃO DE INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA
É regulada pelo art. 113 do CPC: o juiz deverá declarar de ofício a sua incompetência. Esta
declaração pode ser provocada pelas partes, quem qualquer tempo e grau de jurisdição, através de
petição.
No entanto, segundo o §1º do art. 113, não sendo deduzida a argüição de incompetência absoluta na
contestação, ou na primeira oportunidade em que couber à parte falar nos autos, esta responderá
integralmente pelas custas do processo (ainda que, afinal, saia vencedora).
Declarada a incompetência absoluta, os autos do processo deverão ser remetidos ao juízo
competente, e serão tidos como nulos os atos decisórios praticados pelo juízo absolutamente
incompetente (art. 113, §2o, do CPC). Os demais atos serão válidos (por exemplo, um despacho de
citação).
DECLARAÇÃO DE INCOMPETÊNCIA RELATIVA
A incompetência relativa não pode ser declarada declarada de ofício. Ela depende de provocação
das partes, o que se faz através de oferecimento de exceção de incompetência, no prazo que o réu
dispõe para responder à demanda do autor. Decorrido este prazo sem que a exceção seja oferecida,
prorroga-se a competência do juízo originariamente incompetente.
Deve-se atentar para o fato de que não é pacífico o entendimento de que a declaração de
incompetência relativa depende de provocação das partes. Contudo, este é o entendimento mais
razoável.
Declarada a incompetência relativa, os autos devem ser remetidos ao juízo competente, e os atos
praticados pelo juízo relativamente incompetente antes da argüição da incompetência relativa serão
válidos (inclusive os decisórios). Reconhecida a incompetência relativa, o juízo relativamente
incompetente somente poderá praticar validamente os atos meramente ordinatórios necessários para
a remessa dos autos ao juízo competente.
DECLARAÇÃO DE COMPETÊNCIA
O conflito de competência decorre da dúvida sobre qual seja o juízo competente para determinado
processo (dois juízos se consideram competentes, ou dois juízos se consideram incompetentes).
O conflito de competência encontra-se regulado nos arts. 118 a 123 do CPC e, nas hipóteses do art.
123, a ele se aplicam as normas dos regimentos internos dos tribunais.
Através do conflito de competência, o tribunal apreciará a questão e apontará o juízo
verdadeiramente competente.
Há conflito de competência quando dois ou mais juízos se declaram competentes para o mesmo
processo (conflito positivo), ou quando dois ou mais juízos se declaram incompetentes para o
mesmo processo (conflito negativo), ou quando dois ou mais juízos discordam acerca da reunião ou
da separação dos processos.
Podem suscitar o conflito de competência:
• As partes
• O Ministério Público
O Ministério Público, ainda que não tenha suscitado o conflito de competência, deverá ser ouvido
pelo Tribunal (art. 115, parágrafo único, do CPC).
O art. 117 do CPC determina que não pode suscitar conflito de interesses a parte que ofereceu
exceção de incompetência. Tal dispositivo não pode ser interpretado literalmente. Tal norma parece
simplesmente proibir o uso simultâneo dos dois meios.
O julgamento do conflito caberá ao Tribunal:
• Juízos estaduais de uma mesma comarca, ou comarcas diversas de um mesmo Estado da
Federação – Tribunal de Justiça do Estado.
• Tribunais diversos (um estadual e um federal, por exemplo) – STF (art. 105, I, d, da
CRFB/88).
• STJ e outro tribunal, ou tribunais superiores, ou tribunal superior e outro tribunal – STF (art.
102, I, o, da CRFB/88).