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Estratégias para o Desenvolvimento Sustentável das Comunidades do

Entorno das Unidades de Conservação Estaduais do Circuito Turístico dos


Diamantes
VILHENA, Cecília Fernandes1
ARAUJO, Hugo 2
FONSECA FILHO, Ricardo Eustáquio3
Resumo

O Circuito Turístico dos Diamantes está localizado na região do Alto Jequitinhonha, Minas Gerais,
conhecida como uma das regiões mais carentes do Estado. Por outro lado, trata-se de uma região com
grande riqueza cultural e ambiental, fato este reconhecido pelo poder público atual, ao instituir uma
grande quantidade de Unidades de Conservação na região. Considerada a importância do desenvolvimento
do ecoturismo na região, o presente trabalho visa incentivar alternativas de renda em 6 (seis) comunidades
localizadas no entorno de três Parques Estaduais, sendo eles os Parques do Biribiri, do Pico do Itambé e
do Rio Preto. Para tanto, foi realizado um estudo sobre a demanda e oportunidades da região e, através do
incentivo financeiro da Secretaria de Estado de Meio Ambiente de Minas Gerais, será desenvolvido um
amplo trabalho de formação de condutores de caminhadas ecológicas com o propósito de
conservacionismo das áreas de estudo, bem como gerar benefícios econômicos para as comunidades,
benefícios para visitantes e gestão das UC’s. Acredita-se que após a conclusão deste trabalho a região
contará com a prestação de serviços que vise a condução de caminhadas ecológicas baseada em mínimos
impactos ambientais, máxima segurança e informações de qualidade, de acordo com as normas técnicas da
ABETA e ABNT.

Palavras-chave: Ecoturismo, Unidades de Conservação, comunidades, condutores de caminhadas


ecológicas

Abstract

The Tourist Circuit of Diamonds is located in the Alto Jequitinhonha, Minas Gerais, known as one of the
poorest regions of the state. Moreover, it is a region with rich cultural and environmental issues, a fact
recognized by the government, by introducing a large amount of protected areas in the region.
Understanding the importance of developing ecotourism in the region, this paper aims to encourage
alternative sources of income in six (06) communities located in the vicinity of three State Parks, they
being the Parks Biribiri, Pico do Itambé and Rio Preto. For this, a study on the demand and opportunities
in the region and through the financial incentive of the State Secretariat of Environment of Minas Gerais,
will develop a comprehensive job training for drivers of ecological walks in order to generate economic

1
Gerente de Proteção da Biodiversidade do Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais – Escritório Regional
Alto Jequitinhonha. Professora substituta na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Bacharel
em Turismo | Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Especialista em Turismo e Desenvolvimento
Sustentável | Universidade Federal de Minas Gerais – Email: cecilia.vilhena@meioambiente.mg.gov.br.
2
Gestor do Circuito Turístico dos Diamantes. Bacharel em Turismo | Universidade Federal de Ouro Preto.
Especialista em Ecoturismo: Interpretação e Planejamento de Atividades em Áreas Naturais | Universidade Federal
de Lavras. Email: hugoaraujo@msn.com.
3
Mestrando em Ciências Naturais | Universidade Federal de Ouro Preto. Especializando em Gestão Ambiental |
Serviço Nacional da Aprendizagem Comercial de Minas Gerais. Bacharel em Turismo | Universidade Federal de
Ouro Preto. Email: ricardo@degeo.ufop.br
benefits for communities as well as benefits to visitors and managers of the protected aereas. It is believed
that upon completion of this work will count in the region with a service aimed at driving based on the
least environmental impact, maximum safety and quality information, according to technical rules of the
ABETA and ABNT.

Key words: Ecotourism, natural protected areas, communities, drivers of ecological hiking

Introdução

A região do Alto Jequitinhonha, Minas Gerais, apresenta uma estrutura agrária atrasada,
com altas taxas de concentração fundiária, poucas alternativas de renda e baixo Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) na maioria dos municípios.
A economia regional de base agrária é caracterizada por um alto “consumo de paisagem”
e marcada pelo extrativismo de coleta (silvicultura de eucalipto, espécies da flora como sempre-
vivas) e de aniquilamento (produção de carvão vegetal e extração de madeira a partir de espécies
nativas), assim como pela pecuária extensiva de leite e a agricultura - esta principalmente de
subsistência.
Por outro lado, esta região abrange a Cadeia do Espinhaço, um conjunto de serras que se
estende por aproximadamente 1.200 Km desde o centro-sul de Minas Gerais até o norte da
Chapada Diamantina, na Bahia. A Serra do Espinhaço representa um grande divisor natural entre
dois importantes domínios da vegetação brasileira - a Mata Atlântica, a leste, e o Cerrado, a oeste
– e por ser considerada uma das regiões mais ricas e ameaçadas do mundo, hotspots mundiais em
biodiversidade, foi reconhecida pela UNESCO como Reserva da Biosfera Serra do Espinhaço
(MYERS et al., 2000).
Em reconhecimento à importância ecológica da região, diversas Unidades de Conservação
(UC’s) da categoria de proteção integral foram criadas pelo poder público na intenção de proteger
a rica biodiversidade existente. Destacam-se o Parque Nacional das Sempre-Vivas e os Parques
Estaduais do Rio Preto (PERP), do Pico do Itambé (PEPI) e do Biribiri (PEB).
Se por um lado a criação das UC`s garante a preservação de grandes remanescentes de
atributos naturais existentes, por outro, gerou um grande conflito social, culminando numa
restrição ainda maior de áreas para que as comunidades localizadas no entorno destas UC`s
pudessem retirar seu sustento, uma vez que possuem a tradição voltada para o extrativismo
vegetal e mineral, e que utilizavam muitas áreas hoje protegidas para a extração de produtos que
garantiam a sua subsistência.
Diante desse cenário há um grande desafio: diminuir a pressão sobre os fragmentos
florestais existentes através da criação de fontes alternativas de renda para a população local com
a diversificação das atividades econômicas na região. Faz-se necessário então o apoio a
iniciativas conjuntas de desenvolvimento local sustentável, com a participação de outros atores
sociais já atuantes na região, que buscam no combate contra a pobreza e a exclusão social
alternativas de emprego e renda com altos níveis de agregação de valor e adaptadas às reais
condições dos principais beneficiários.
Por apresentar um enorme potencial para a atividade ecoturística, ainda pouco explorado
na área do Circuito Turístico dos Diamantes (CTD), mas com grandes perspectivas de
crescimento, o presente trabalho visa incentivar alternativas de renda para comunidades
localizadas no entorno das UC’s através do ecoturismo.

Materiais e Métodos

Foi realizada inicialmente uma análise socioeconômica das comunidades do entorno dos
Parques Estaduais inseridos na área do CTD, seguido de uma pesquisa de demanda. Pesquisa esta
em português, nos principais atrativos turísticos do Centro Histórico de Diamantina, durante dois
fins de semana consecultivos no mês de dezembro de 2009. Após este estudo delimitou-se a área
de atuação do projeto em 6 (seis) comunidades, sendo estas: no município de Diamantina, os
bairros Cidade Nova e Rio Grande e o distrito de Mendanha – localizados no entorno do PEB; o
município de Santo Antonio do Itambé (sede) e a comunidade de Capivari (Serro) – localizados
no entorno do PEPI; e as comunidades de Alecrim e de Santo Antonio, em São Gonçalo do Rio
Preto - localizadas no entorno do PERP.
O estudo socioeconômico das comunidades-alvo desse trabalho foi elaborado por meio de
revisão bibliográfica de dados secundários. As principais fontes de informação para este estudo
foram os Planos Diretores dos municípios de Serro, Santo Antônio do Itambé, Diamantina e São
Gonçalo do Rio Preto; os Planos de Manejo dos Parques Estaduais do Rio Preto, do Biribiri e do
Pico do Itambé; os sítios eletrônicos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE; e
relatórios elaborados pelo Instituto de Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas Gerais –
IDENE.
Desta forma, identificou-se a necessidade de se elaborar um projeto para formação de
condutores de caminhadas ecológicas para atuarem nas UC’s coerente com a realidade dessas
comunidades e de acordo com as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT
e as diretrizes da Associação Brasileira das Empresas de Turismo de Aventura – ABETA,
considerando que o uso público das UC’s deve ser planejado em sua dimensão socioeconômica
no sentido de promover o desenvolvimento local justo e sustentável. Sendo as Normas: ABNT
NBR 15285 (Competências Mínimas de Condutores), NBR 15331 (Sistema de Gestão de
Segurança) e NBR 15398 (Condutores de Caminhadas de Longo Percurso). Bem como Diretrizes
para Visitação em UC’s (Brasil 2008).

Figura 1: Visitantes acompanhados de condutor em trilha natural do Circuito Turístico dos Diamantes.
Fonte: Instituto Estadual de Florestasd de Minas Gerais.
Ecoturismo: tendências e oportunidades
A origem do segmento do Ecoturismo está ligado às mudanças socioeconômicas impostas
à sociedade em decorrência da Revolução Industrial no século XVIII, cujas conseqüências
refletiram-se diretamente no modo de vida das pessoas, pois estas foram estimuladas a abandonar
o meio rural e transferirem-se para o ambiente urbano dando início ao crescimento acelerado das
grandes cidades e aos problemas sociais que surgiram em conseqüência desta urbanização
descontrolada.
O caos dos grandes centros urbanos e a rotina maçante em que os trabalhadores estão
submetidos são fatores que têm contribuído cada vez mais para que as pessoas desejem a fuga
para ambientes naturais ou para pequenas comunidades isoladas, com o intuito de aproveitar o
seu tempo livre para relaxar e vivenciar manifestações culturais genuínas, saborear os pratos
típicos da culinária local, além do contato direto com a natureza. Dessa forma, a implantação das
políticas conservacionistas e, principalmente, a criação das UC’s, têm sido fundamentais para
garantir a existência de locais adequados para a prática de lazer em meio à natureza preservada.
O ecoturismo é o segmento turístico que mais cresce no mundo. Segundo o relatório de
pesquisa do Ministério do Turismo, realizado com 1.200 pessoas durante o Salão Nacional do
Turismo 2009, na próxima viagem a lazer 51,1% dos entrevistados desejam ir para a praia
(turismo sol e mar), 24% pretendem fazer turismo cultural, 23,1% estão em buscade ecoturismo,
10,9% desejam praticar atividades de aventura, 11,9% turismo náutico (cruzeiros, passeios de
barco), 16,5% pretendem ir a fazendas e campos (turismo rural), e apenas 3,9% farão outra
modalidade de turismo.
Constatou-se ainda uma preferência pelo turismo nacional (74,1%), além de cerca de ¼
dos turistas não terem viajado (25,9%). Assim como preferência por atrativos naturais (Figura 2)
A EMBRATUR (1994) define ecoturismo como “um segmento da atividade turística que
utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a
formação de uma consciência ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o
bem-estar das populações envolvidas”.
Figura 2: Preferências de atrativos por turistas do Circuito Turístico dos Diamantes, identificadas pela Pesquisa de
Demanda Turística realizada em Diamantina, MG. Fonte: Araujo (2009)

Esta definição abarca vários aspectos fundamentais para o ecoturismo. O primeiro refere-
se ao patrimônio natural e cultural cuja orientação direciona para sua utilização de forma
sustentável, ou seja, com respeito ao meio ambiente natural e construído. Sabendo-se que os
recursos naturais são limitados e tendo a comunidade receptora sua expressão vivencial inserida
num espaço geográfico, a interação entre os elementos do tripé "comunidade/turista/meio
ambiente" deve ser feita de forma harmoniosa.
Outro fundamento está na preservação e conservação dos recursos naturais e culturais.
Assim, empresas governamentais, Organizações Não-Governamentais – ONGs, iniciativa
privada, comunidade e turistas praticantes do ecoturismo devem ter, antes de tudo, incorporados
os princípios conservacionistas/preservacionistas. O terceiro fundamento é a interpretação
ambiental, aquela que dá significações geográficas, históricas e sócio-culturais ao meio ambiente
natural e construído pelas ações humanas. Por último, tem-se a orientação para a valorização da
identidade local, favorecendo uma melhor distribuição de renda e contribuindo com a melhoria
da qualidade de vida da comunidade com a prática do ecoturismo em seu território.
As atividades do ecoturismo se desenvolvem em sua maior parte em áreas naturais,
aproveitando-se do potencial cultural e natural que o ambiente oferece. Conforme Dias (2003),
ecoturismo é um conceito que possui um conjunto de princípios e constitui um segmento
específico do mercado turístico. Segundo Fontes (2003a) atualmente a atividade do turismo está
começando a se interessar pela cultura regional, a cultura do anti mediatisado, anti globalizado,
aquilo que foi desenvolvido pontualmente, o singular. Neste espírito o ecoturismo surge
despertando o interesse dos visitantes pela cultural singular e suas paisagens, num movimento de
descoberta e de valorização de algo que até então era considerado banal.
Tornam-se necessárias articulações entre gestores municipais, empresariado, meio
acadêmico e comunidade local em prol da manutenção do espaço natural e sócio-cultural nas
destinações turísticas especializadas na prática do ecoturismo. A existência de espaços naturais
preservados em UC’s, em especial os Parques, também contribui com a boa prática desta
atividade.
A apropriação do espaço natural e a formatação e oferta destes produtos ecoturísticos,
obriga o agente responsável, público ou privado, a realizar um planejamento minucioso,
apresentá-lo para as comunidades inseridas na área de atuação e o monitorar constantemente as
atividades, com o intuito de minimizar os impactos da atividade, assegurando a conservação dos
elementos naturais e culturais e a inclusão social.
Desta forma, o planejamento e a gestão do ecoturismo deverão ser capazes não somente
de ordenar o meio ambiente físico como também de conscientizar os turistas e moradores locais
sobre como preservar este ambiente.

Ecoturismo em Unidades de Conservação


As UC'’s4 foram criadas para desempenhar um importante papel na
conservação/preservação da biodiversidade existente no país, pois tratam-se de áreas demarcadas
e protegidas pelos órgãos ambientais federais, estaduais ou municipais com o intuito de assegurar
a preservação dos elementos naturais peculiares encontrados em sua área de abrangência e no
entorno.

Cerca de 3,9% do território nacional está sob a proteção federal na forma de


diferentes categorias, distribuídas em 35 parques nacionais, 23 reservas biológicas,
21 estações ecológicas, 16 áreas de proteção ambiental, 9 reservas extrativistas e 39
florestas nacionais. Há, ainda, as Reservas Particulares de Patrimônio Natural
(RPPN) que são áreas de conservação em propriedades particulares, para as quais
exige legislação federal específica (FONTES, 2003b).

No Brasil o instrumento que regulariza e dá as diretrizes das formas corretas de utilização


pública dos diversos tipos de áreas naturais protegidas é o Sistema Nacional das Unidades de
Conservação – SNUC, instituído pela Lei n° 9.985 de 18 de julho de 2000.
Segundo Rocktaeschel (2006), em todo o mundo, o principal fator de atratividade dos
ecoturistas para determinado destino é a existência de área naturais protegidas, principalmente
UC’s, onde a fauna, a flora e os ecossistemas estão bem conservados.
Evidentemente que toda área de lazer na natureza deve ser uma combinação orientada
entre o usuário e o ambiente natural. O ecoturismo, enquanto percussor do desenvolvimento
sustentável e baseado nas diretrizes determinadas pelo SNUC, tem papel fundamental para se
tornar o grande vetor da preservação e sensibilização ambiental, trazendo benefícios mútuos para
os visitantes e os moradores das comunidades do entorno das unidades.
Para isto, as atividades disponíveis para os visitantes devem estar pautadas nos critérios
da sustentabilidade ambiental, de segurança e de informações de interesse relevante ao contexto.
Além da educação ambiental o ecoturismo deve incentivar o resgate da cultura local, valorizar as
manifestações artísticas e a geração de emprego e renda para as comunidades locais.

4
A legislação brasileira entende uma Unidade de Conservação como um “espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo
as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de
conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção”.
(BRASIL, 2000)
Neste contexto o ecoturismo tem sido tratado como a alternativa ideal para que se alcance
de fato os objetivos científicos, culturais, educativos, recreativos e sociais para os quais se
destinam as UC’s, principalmente os Parques.

Area de abrangência do estudo

O CTD abrange 12 municípios na região do Alto Jequitinhonha, Minas Gerais, sendo:


Alvorada de Minas, Couto de Magalhães de Minas, Datas, Diamantina, Felício dos Santos,
Gouveia, Monjolos, Presidente Kubitschek, Santo Antônio do Itambé, São Gonçalo do Rio Preto,
Senador Modestino Gonçalves e Serro.
A região de abrangência deste estudo é culturalmente extrativista e a maioria da
população vive em condições sócio-econômicas precárias. Somado a essa realidade, são
observados na região processos de degradação e uso inapropriado do solo e dos recursos hídricos,
colocando em risco a manutenção dos recursos naturais.
Nos últimos anos foram criados pelo poder público importantes UC’s na região, o que
tem constituído a melhor forma de preservar e garantir a conservação de ecossistemas e recursos
naturais vitais para a manutenção de processos ecológicos, base para ações de desenvolvimento e
melhoria das condições de vida das populações humanas que se encontram no entorno das
mesmas.
As comunidades estudadas localizam-se no entorno dos Parques Estaduais do Biribiri, do
Pico do Itambé e do Rio Preto respectivamente (Figura 3), e foram diretamente impactadas com a
criação e implantação destas UC’s.
Figura 3: Mapa de localização das UC’s na região de abrangência do Circuito Turístico dos Diamantes.
Fonte: Instituto Estadual de Florestas, 2004.

No que se refere ao caráter econômico, não há uma atividade principal nas comunidades
contempladas. O que se percebe é uma combinação de fatores que, combinados, permitem a
sobrevivência das famílias: agricultura de subsistência e venda dos excedentes desta produção,
extrativismo vegetal e mineral, programas do governo e aposentadorias.
O processo histórico e os aspectos físico-geográficos da região são fatores que
influenciam as comunidades ali inseridas na adoção de vivências que as diferenciam de grupos
sociais que habitam outras regiões. Fortes influências na formação cultural destas comunidades
são evidenciadas nas atividades culturais extrativistas que garantiram a subsistência das
comunidades desde o século XVIII como a extração de ouro e diamantes e posteriormente na
extração de produtos e subprodutos da flora. O histórico de ocupação e as tradições extrativistas
se refletem ainda hoje por toda a região.
A prática agrícola das populações residentes está voltada para um sistema mais
imediatista, porque sua situação social demanda esse tipo de resposta. Ainda que a população de
baixa renda, como estratégia de sobrevivência, reproduza um discurso mais defensivo, onde
grande parte das atitudes se justifica em nome da situação econômica depressiva, o que se
observa na prática é realmente a dificuldade de sobrevivência dessas pessoas e a falta de
alternativas de desenvolvimento sustentável que gere renda a curto/médio prazo e substitua as
práticas atuais.
Desde a criação das três UC’s, diversas tentativas e projetos já foram desenvolvidos nas
comunidades afetadas visando o desenvolvimento econômico em bases sustentáveis, muitas delas
focando no Ecoturismo como a principal oportunidade para a região. Como exemplo foi
concebido e em andamento o ProgramaTurismo Solidário, onde o turista conhece os atrativos do
Vale do Jequitinhonha e Norte de Minas a partir do contato com a pobreza das comunidades,
vivenciando a cultura de subsistência (plantio, artesanato, gastronomia e folclore) e atrativos
naturais locais e regionais (Brasil 2006).

Programa de formação de condutores de caminhadas ecológicas

Embora não sejam exclusivas, as UC’s que permitem visitação, como os Parques em
questão, são os espaços físicos da região mais propícios para a prática das atividades
ecoturísticas. No entanto, deve-se ter um cuidado especial no planejamento destas UC`s no que
diz respeito ao uso público, cuidado este que perpassa tanto pelos impactos ambientais possíveis
da atividade, pela necessidade de ofertá-lo com segurança e repasse de informações aos visitantes
como à possibilidade de promover a inclusão social e melhoria da qualidade de vida das
comunidades locais.
A preparação e organização de condutores ambientais de caminhadas de longo percurso,
podendo estas ocorrer nas UC’s ou entorno, representam uma grande demanda do turismo
regional e ao mesmo tempo uma necessidade daquelas. Apesar de alguns moradores já terem
feito cursos de condutores turísticos oferecidos por instituições diversas, eles próprios se sentem
desatualizados e despreparados para uma condução eficiente, que garanta o mínimo impacto
ambiental nas áreas visitadas, o máximo de informação e total segurança aos visitantes.
Atualmente, quando necessário, os gestores dos Parques Estaduais da região, têm
utilizado seus próprios funcionários, como os Guarda-Parques para a condução de visitantes. Este
fato sobrecarrega os mesmos e limita as oportunidades de geração de renda nas comunidades
vizinhas, que foram diretamente atingidas com a implantação destas UC’s.
De encontro ao princípio de que os Parques devem contemplar a dimensão social (geração
de emprego e renda e inclusão social das comunidades locais) em fundamental sinergia com a
proteção ambiental e com experiências de visitação que sensibilize o turista para a questão
ambiental, a formação de um grupo organizado de “Condutores de Caminhadas Ecológicas
Locais” qualificados torna-se fundamental.
Com o apoio de instituições como Agência de Apoio ao Empreendedor e Pequeno
Empresário – SEBRAE, Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais – IEF-MG, Instituto
Estrada Real – IER, dentre outras, e com o incentivo da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e
Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais, através do edital público para projetos de geração
de alternativas de renda em comunidades localizadas no entorno de UC’s Estaduais, será possível
concretizar esta proposta e formar um grupo de condutores qualificados com base nas normas
técnicas da ABETA e ABNT, bem como organizá-los para atender a região do CTD, e assim,
suprimir um grande gargalo para o crescimento da atividade ecoturística na região.
São objetivos da presente proposta:
• Mobilizar e selecionar um grupo coeso de aproximadamente 60 moradores de seis
comunidades do entorno dos Parques Estaduais do Rio Preto, do Biribiri e Pico do Itambé,
interessados em atuar como condutores de caminhadas ecológicas nas UC`s;
• Realizar com o grupo cursos básicos interativos de ecologia, turismo, geografia, geologia
e história e cultura regional, aproveitando os saberes das comunidades;
• Capacitar os grupos em conformidade com as Normas ABNT NBR 15285 (Competências
Mínimas de Condutores), NBR 15331 (Sistema de Gestão de Segurança) e NBR 15398
(Condutores de Caminhadas de Longo Percurso);
• Capacitação em cursos de Resgate em Áreas Naturais e Primeiros Socorros;
• Apoiar a formação de uma associação regional de condutores de caminhadas ecológicas;
• Apoiar a formalização de um acordo de regras e compromissos para a condução nas UC’s
estaduais, com base nas diretrizes dos Planos de Manejo dos Parques em questão;
• Propiciar que 100% da visitação nas UC`s ocorra com segurança e mínimo impacto
ambiental;
• Contribuir para o estabelecimento de relações mais próximas entre a gestão dos Parques
Estaduais e as comunidades do entorno;

Considerações finais

Nos últimos anos o Circuito Turístico dos Diamantes tem ganhado destaque no cenário
turístico nacional como uma das regiões mais promissoras do turismo de Minas Gerais. Prova
disso é a sua seleção como um dos 65 destinos indutores priorizados para o desenvolvimento do
turismo nacional, segundo Plano Nacional de Turismo (2007-2010) do Ministério do Turismo.
Tal Plano prevê diversas ações para fomentar a consolidação destes destinos com a oferta de
produtos e serviços de qualidade para atender a demanda internacional advinda com a realização
da Copa do Mundo de 2014 no Brasil.
Buscou-se na elaboração deste estudo fazer uma análise socioeconômica das
comunidades localizadas no entorno dos três Parques Estaduais que estão inseridos na área de
abrangência do CTD e identificar o potencial ecoturístico destas UC’s. Identificou-se uma
prioridade para o desenvolvimento das atividades de ecoturismo como alternativa de renda em 6
(seis) localidades, onde estão concentrados grande parte dos atrativos naturais da região, portas
de entrada para os Parques Estaduais, e onde o Ministério do Turismo e o Governo de Estado já
desenvolvem ações na promoção do turismo, sejam elas através da estruturação dos atrativos para
receber os visitantes; da promoção e divulgação do destino; e de outras ações como o Projeto
Turismo Solidário, coordenado pela Secretaria de Estado Extraordinária para o Desenvolvimento
dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri e do Norte de Minas – SEDVAN/IDENE, que capacitou
diversas famílias para atuarem como pousadas domiciliares.
As taxas anuais de crescimento do ecoturismo projetadas para o mundo, superam as do
tradicional “turismo de Sol e Praia”. Especificamente na região do Circuito Turístico dos
Diamantes a expectativa é de que nos próximos anos o ecoturismo se desponte como o principal
fator de atração turística para a região devido a implementação de facilidades no acesso como a
pavimentação de estradas, à melhorias previstas na infra-estrutura de apoio ao turista nas UC’s
Estaduais e aos Programas do Ministério do Turismo em parceria com a ABETA, que muito têm
investido na promoção e regularização das atividades de ecoturismo e esporte de aventura no
país.
A condução de visitantes é atividade de base da cadeia do ecoturismo e a formação de
condutores de caminhadas ecológicas é uma maneira de garantir benefícios múltiplos para
turistas, visitantes e gestores de UC’s uma vez que trazem retorno econômico às comunidades do
entorno, ao mesmo tempo em que geram benefícios à gestão dos Parques que passam a contar
com condutores qualificados para conduzir visitantes nas áreas das UC’s tendo em vista a
geração de mínimo impacto ambiental e máxima segurança aos visitantes. Assim, condutores
podem se transformar em grandes parceiros na preservação da biodiversidade local e na
disseminação de boas práticas e da cultura local.
A presente proposta de realização de uma ampla formação para condutores ambientais de
caminhadas baseada em práticas vivenciais e troca de experiências, aliada a uma organização
desses condutores de forma a serem reconhecidos e confiados pelo órgão gestor das UC`s, será
um grande diferencial tanto para o uso público nas UC`s quanto para a relação Parque X
Comunidades, uma vez que estará atrelada a uma melhoria de qualidade de vida nas comunidades
trabalhadas.
Assim, acredita-se ainda que, principalmente nos jovens destas seis localidades, esta
atividade despertará como uma nova oportunidade de se manterem no meio rural trabalhando na
atividade ecoturística que tende a crescer e continuar a proporcionar novas oportunidades na
região do CTD.
Referências bibliográficas

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