Objetivos e vantagens da inseminação
artificial e da transferência de embriões
em caprinos - Revisão
Silvia Ferrari
Doutora em Reprodução Animal - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia - USP
Professora da Universidade Anhembi-Morumbi
e-mail: silviaferrari2000@hotmail.com
Resumo
A Inseminação Artificial (IA) e a Transferência de
Embriões (TE) são poderosas ferramentas aplicadas à
Reprodução Animal com finalidade de obter melhoramento
genético nos rebanhos dos animais domésticos, e devem ser
utilizadas pelos caprinocultores Brasileiros que desejam
aumentar a produção e os lucros de sua atividade. São inúmeras
as vantagens da utilização dessas biotecnologias, e para a sua
realização se torna necessária a sua associação a protocolos
de sincronização ou de indução do cio das cabras, como o
emprego de esponjas ou dispositivos intravaginais
impregnados com progesterona e métodos de iluminação
artificial. Porém, para que a aplicação da IA e TE se torne
amplamente difundida na caprinocultura é de vital importância
a rigorosa seleção dos machos doadores de sêmen e fêmeas
doadoras de embriões, por métodos eficazes como os testes de
progênie de performance, e assim garantir o real valor genético
dos animais que serão os responsáveis pelo aumento do número
de descendentes e conseqüente aumento da produção da
criação.
Palavras-chave: Inseminação Artificial, Transferência de
Embriões, sincronização do cio, cabras, melhoramento genético.
Introdução
Segundo Garcia (2004), o rebanho brasileiro de
caprinos é de 8,5 milhões de animais. Embora a grande
maioria dos animais esteja localizada na região Nordeste
(93,49%) , a criação de caprinos neste estado é bastante
heterogênea, com grande número de criações extensivas
voltadas para produção de carne, pele ou para
subsistência e outras criações semi-intensivas voltadas
para a produção de leite. Já nas regiões Sudeste e Sul,
Abstract
Artificial Insemination (AI) and Embryo Transfer (ET)
are powerful tools applied to Animal Reproduction aiming at a
genetic improvement of domestic animals’ herds and should be
used by Brazilian goat breeders wishing both to augment their
production and have bigger profits. The advantages of using
such biotechnologies are numerous and they should be
associated with estrus synchronization or induction techniques
protocols, using sponges or intravaginal progesterone devices
and illumination methods. However for AI and ET utilization to
become largely applied in goat raising a rigorous selection of
male semen donors and female embryo donors through efficient
methods as progeny and performance tests is of vital importance
to guarantee the real value of the animals responsible for
augmenting production.
Key-Words: Artificial Insemination, Embryo Transfer,
estrus synchronization, goats, genetic improvement.
as criações estão na sua maioria voltadas para a
produção de leite e seus derivados, com utilização de
animais de raças européias. Portanto, o nível de
produção e o lucro do produtor nestas regiões estão
diretamente relacionados com as técnicas de manejo
sanitário, nutricional e reprodutivo utilizados. Neste
sentido, a Inseminação Artificial e a Transferência de
Embriões propiciam aumento na produção e no número
de descendentes de indivíduos geneticamente superiores.
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 Objetivos da Inseminação Artificial (IA) e
Transferência de Embriões (TE)
O objetivo principal destas biotecnologias é o
melhoramento genético da espécie caprina. Para tanto,
é necessária a seleção dos reprodutores machos e fêmeas
que deverão participar dos programas de IA e TE.
Segundo Ribeiro e Ribeiro (1998), a base para um
programa de seleção de caprinos leiteiros vem de:
• definição dos objetivos da seleção
• animais identificados, com dados confiáveis
• informações da genealogia, tão completas quanto
possível
• colheita regular de informações
Os mesmos autores afirmam que o teste de
progênie é insubstituível na avaliação dos reprodutores,
porém uma de suas desvantagens é o tempo demandado
para atingir os resultados, além do custo da manutenção
dos animais durante o teste. Para viabilizar o teste de
progênie é indispensável o uso da inseminação artificial,
fato que os autores intitulam de “dupla dinâmica”, isto é,
o teste de progênie não se justifica sem a inseminação
artificial e vice-versa.
Gonçalves (1996) afirma que para a seleção de
20 bodes são necessários 200 bodes em teste de
progênie, com no mínimo de 6 filhas cada um,
proporcionando assim o maior ganho genético relativo
(0,98). Estes 20 bodes terão em seus catálogos a DEP
(diferença esperada na progênie) que significa quanto
de produção superior suas filhas terão em relação à
média do rebanho. Quanto maior a DEP melhor o
reprodutor e quanto maior número de filhas, maior a
segurança na estimativa da DEP do reprodutor. Portanto
as doses de sêmen de reprodutores com altas DEP são
as de maior preço no mercado.
Em relação à seleção de fêmeas, é importante
lembrar da interação genótipo-ambiental, já que a fêmea
que apresenta produção acima da média em determinada
propriedade pode não ser a melhor em outras condições
de ambiente (manejo, alimentação, clima), portanto os
animais que participarão de um programa de
transferência de embriões devem ser selecionados na
propriedade onde será realizada a biotecnologia.
Gonçalves (1996) ressalta algumas características
importantes na seleção de fêmeas, como a idade ao
primeiro parto (ideal aos 12 meses de idade), número
de cabritos por parto, produção de leite e duração da
lactação.
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Vantagens da Inseminação Artificial e da
Transferência de Embriões
A principal vantagem do uso destas biotecnologias
na criação de caprinos é o aumento do número de
descendentes de animais geneticamente superiores.
Como conseqüência, o produtor que utiliza a IA e TE se
beneficia com a venda por um bom valor de animais
destinados à reprodução. A IA e TE permitem a utilização
de machos e fêmeas impossibilitados de realizar a
cobertura natural devido à problemas adquiridos, que
apesar de boa performance e genética seriam
descartados. Outras vantagens estão relacionadas à
sincronização e indução do cio das fêmeas que serão
inseminadas: além da possibilidade de se programar a
época dos partos, facilitando o manejo e oferecendo
cabritos na melhor época ao mercado, as fêmeas que
concebem fora da estação reprodutiva entrarão em
lactação no período de entressafra do leite, quando há
grande procura por esse produto e seus derivados. Com
relação à transferência de embriões, o custo na aquisição
e transporte de um animal geneticamente superior é muito
maior se comparado ao custo da aquisição e transporte
de um embrião, além da vantagem da aquisição de
embrião isento de doenças.
Para que o produtor possa usufruir destas
vantagens, é necessário viabilizar as biotécnicas,
disponibilizando o material e os protocolos a serem
seguidos, a fim de se obter os resultados desejáveis,
partindo-se da premissa que a propriedade possui um
bom manejo sanitário e nutricional.
Em se tratando da Inseminação Artificial, deve-se
fazer a sincronização e/ou indução do cio das fêmeas.
Um método de sincronização do cio bastante difundido
é o uso de esponjas intravaginais impregnadas de
progesterona. Segundo Salles e Freitas (1997), houve
83,3% de cabras prenhes após tratamento com esponjas
impregnadas com 45mg de acetato de fluorgestrona por
11 dias, injeção de 50mg de clorprostenol e 200UI de
eCG no nono dia, seguido de inseminação artificial com
sêmen congelado 24 horas após a detecção do cio. Outro
método que pode ser empregado na sincronização do
cio da espécie caprina é o que utiliza o CIDR-c
(dispositivo intravaginal liberador de homônio) no lugar
da esponja intravaginal. Roses e colaboradores (1997)
utilizaram CIDR-c contendo progesterona por 12 dias,
e administraram 5mg de prostaglandina F2a no momento
da retirada do dispositivo. Após a detecção do cio, as
fêmeas foram inseminadas, apresentando 90,5% de taxa
de prenhêz. Mais recentemente, Menchaca e Rubianes
(2004) conseguiram 70% de prenhêz usando IA com
sêmen fresco 12 horas após o começo do cio, utilizando
tratamento curto de progesterona ( CIDR-c, por 5 dias),
associado à injeção de 200 a 300 UI de eCG e
prostaglandina F2a no dia da retirada do dispositivo
intravaginal.
Borges e colaboradores (1997) utilizaram
iluminação artificial para promover a indução do cio em
um lote de 75 cabras da raça Saanen com o objetivo de
manter a oferta de leite no período de entressafra. O
programa teve duração de 92 dias (18/5 a 18/8) e
consistiu de um acréscimo diário de 4 horas de
iluminação artificial (das 17 ‘as 21:00hs). As fêmeas
apresentaram cio após o período médio de 46±11dias
do final do tratamento luminoso.
Além do material utilizado para a sincronização
ou indução do cio, para a realização da Inseminação
Artificial se faz necessária a aquisição do equipamento
básico, como o botijão de nitrogênio líquido, aplicador
de sêmen, bainhas sanitárias, especulo vaginal e as doses
de sêmen. No caso da transferência de embriões, técnica
mais cara e mais elaborada que a Inseminação Artificial,
o criador deve ter em mente que o retorno financeiro
depende do grau de melhoramento genético do seu
rebanho e principalmente da fêmea selecionada. Alguns
desafios estão sendo superados na TE de caprinos:
1. A resposta ovariana após o tratamento com
gonadotrofinas superovulatórias é variável; assim
sendo Lima e colaboradores (1997) compararam
a eficiência do uso de FSH-p (16mg) em doses
decrescentes e eCG ( 1000 UI) em dose única ,
após 16 dias de tratamento com esponjas
intravaginais, resultando na recuperação de 49,4%
de embriões no grupo que recebeu FSH contra
27% no grupo que recebeu eCG.
2. Aparecimento de complicações e aderências
pós-cirúrgicas; para minimizar este problema
Andrioli-Pinheiro (1993) relata a taxa de 57,1%
de recuperação de embriões através da colheita
transcervical.
3. Regressão prematura do corpo lúteo com re-
torno da doadora ao cio antes da colheita dos
embriões; nesse contexto Traldi (1995) afirma que
o uso de um antiprostaglandínico pode ser institu-
ído como forma concreta de inibição da regres-
são prematura de corpos lúteos e Soares e cola-
boradores(1995) reduziram a ocorrência de cor-
pos lúteos regredidos após administração de 1,1mg
de flunixin meglumine em cabras superovuladas.
4. Formação de anticorpos antigonadotrópicos:
Baril e colaboradores (1998) afirmam que após
repetidos tratamentos com eCG há a formação
de anticorpos anti-eCG , que levam a um aumento
de estro tardio e diminuição da fertilidade das
cabras doadoras de embriões. Entretanto, Locatelli
e colaboradores (2004) preconizam a utilização
de FSH ovino na superovulação de fêmeas
doadoras de embriões.
Conclusões
A Inseminação Artificial e a Transferência de
Embriões são biotecnologias já implantadas na pecuária
bovina há bastante tempo, entretanto ainda são poucos
criadores de caprinos que as utilizam. A falta de um
programa nacional de melhoramento genético nesta
espécie limita a seleção de reprodutores, principalmente
os machos doadores de sêmen que deveriam ser
submetidos ao teste de progênie, embora iniciativas neste
sentido já estejam sendo tomadas, a exemplo do 1º teste
de progênie nacional (Capritec, 2005) para reprodutores
caprinos leiteiros (parceria da Embrapa e Universidade
Federal de Viçosa). Porém ainda há a necessidade de
importação de machos melhoradores e de sêmen de
animais provados. Este procedimento esbarra em altos
custos e nem sempre satisfaz o criador, já que a seleção
dos machos em alguns países como a França está
direcionada para características como alta produção
de proteína no leite, fato que não é interessante para o
criador Brasileiro, que necessita de animais que
transmitam à sua prole a alta produção de leite
(Gonçalves, 1996). Já existem algumas centrais de
congelação de sêmen no Brasil que estão procurando
fomentar a técnica de IA, e as instituições de pesquisa
oferecem trabalhos científicos visando a divulgação das
técnicas de sincronização e indução do cio nessa espécie,
para que em um futuro próximo a IA esteja amplamente
difundida entre os criadores. No que diz respeito à
Tranferência de embriões, é importante lembrar que a
Inseminação Artificial é uma etapa desta biotécnica, que
garante o incremento genético, portanto à medida que
houver um avanço na seleção fêmeas e de machos
nacionais provados, disponibilizando o sêmen destes
animais no mercado, ao mesmo tempo que sejam
superados alguns desafios com amparo das instituições
de pesquisa , esta técnica estará cada vez mais presente
na criação de caprinos.
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