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2007/I
DEPARTAMENTO DE LETRAS
Prof. Marçal Sebastião Alves Freire
Aluno:...........................................................................................................................
NORMAS
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Língua Portuguesa I
Publicidade e Propaganda – 2007/1
Turma A11 – 2007/I
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS
DEPARTAMENTO DE LETRAS
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CONTEÚDO PROGRAMÁTICO:
1. Leitura
1.1 Níveis sensorial, emocional e racional
1.2 Fases: leituras prévia, exploratória, seletiva, reflexiva e interpretativa
1.3 Planos: compreensão, interpretação e criatividade
1.4 Modos de composição: narrativos, descritivos e dissertativos.
2. Produção textual:
2.1 Elementos constitutivos do texto
2.1.1 Palavra
2.1.2 Frase
2.1.3 Parágrafo
2.2 Fatores de textualidade
2.2.1 Coesão
2.2.2 Coerência
2.2.3 Informatividade
2.2.4 Aceitabilidade
2.2.5 Intencionalidade
2.2.6 Intertextualidade
2.2.7 Situacionalidade
2.3 Ensaio acadêmico
2.4 Relatório
3. Síntese
3.1 Resumo
3.2 Esquema
4. Suporte gramatical aplicado aos textos
4.1 Ortografia
4.2 Pontuação
4.3 Concordância
4.4 Regência
4.5 Outros aspectos lingüísticos
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BIBLIOGRAFIA
1. ANDRÉ, Hildebrando Afonso de. Curso de redação. 3. Ed. São Paulo: Moderna,
1980.
2. ANDRADE, Maria Margarida L., HENRIQUES, Antônio. Redação Prática:
planejamento, estruturação e produção de texto. São Paulo: Atlas.
3. CARVALHO, Maria Cecília M. de (org.). Constuindo o saber: técnica de
metodologia científica. Campinas: Papirus.
4. CLAVER, Ronald. Escrever sem doer: oficina de redação, Belo Horizonte: Ed.
UFMG, 1992.
5. CUNHA, Celso, CINTRA, Luís F. Lindley: Nova gramática do português
contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
6. FARACO, Carlos Alberto, TEZZA, Cristóvão. Prática de texto: língua portuguesa
para nossos estudantes. Petrópolis: Vozes, 1992.
7. FÁVERO, Leonor Lopes. Coesão e coerência textuais. São Paulo: Ática, 1991.
8. FEITOSA, Vera Cristina. Redação de texto científico. Campinas: Papirus.
9. FIORIN, José Luiz, SAVIOLI, Francisco Platão. Para entender o texto: Leitura e
redação. São Paulo: Ática, 1990.
10. FLÔRES, Lúcia Lacatelli et al. Redação, o texto técnico científico e o texto
literário. Florianópolis: Ed. da UFSC, 1994.
11. FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que o completam. São
Paulo: Cortez (Princípios)
12. GARCIA, Othon Moacir. Comunicação em prosa moderna. 17. ed. Rio de Janeiro:
Fundação G.V. 1996.
13. LAKATOS, Eva Maria, MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia científica São
Paulo: Atlas.
14. MARTINS, Dileta Silveira, ZILBERKNOP, Lúcia Scliar. Português instrumental.
15. MARTINS, Maria Helena. O que é leitura. São Paulo: Brasiliense (Primeiros Passos).
16. MESQUITA, Roberto Melo. Gramática da Língua Portuguesa. São Paulo: Saraiva,
1997
17. MORENO, Cláudio, GUEDES, Paulo Coimbra. Curso de redação. São Paulo: Ática.
18. RUIZ, João Álvaro. Metodologia científica: guia para eficiência nos estudos. São
Paulo: Atlas.
19. SACCONI, Luiz Antônio. Gramática essencial da língua portuguesa.
20. SERAFINI, Maria Tereza. Como escrever textos. Trad. Maria Augusta B. de Mattos:
Adap. Ana Maria Marcondes Garcia. Rio de Janeiro: Globo, 1989.
21. SILVA, Ezequiel Theodoro de. Leitura na escola e na biblioteca. Campinas:
Papirus.
22. SOARES, Magda, CAMPOS, Édson Nascimento. Técnicas de redação: as
dificuldades lingüísticas de pensamento. Rio de Janeiro: ao Livro Técnico.
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Reflexões
Marçal S. Alves Freire
A linguagem tem duas funções: ela permite ao emissor falar aos outros e a si mesmo. As
pessoas dizem a si mesmas coisas que nada as persuadiria a pronunciar quando em companhia
de outrem. Elas dizem coisas aos fregueses, aos policiais, aos vendedores e a seus sócios, que
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nunca diriam a si mesmas. Elas praticam um duplo tipo de linguagem: uma para o público e
outro para uso interno.
(.....)
Do mesmo modo, há palavras frias, palavras sujas, palavras feias e palavras lindas. Amarílis é
para mim uma linda palavra. Mas apenas para mim. Para outras pessoas esse nome não terá
significação. Exceto para mencioná-lo por meio de ilustração. Eu não o uso na conversação
comum. Como substituto poderei empregar “pastora”. A palavra é suja, limpa, fria, bondosa
ou revoltante, conforme a experiência particular da pessoa que a emprega.
Se deseja dar-se bem com seus semelhantes, lembre-se, por favor, de que seu vocabulário
particular é apenas para seu uso e que o vocabulário das outras pessoas exprime, muitas vezes,
significaçã9 que só elas conhecem” (David Fink - Domine seu sistema nervoso).
Antes de talhar a parede, de abrir o registro, de trocar os canos, devemos purificar a água,
tratá-la, para que, servindo-se de canos de primeira qualidade e de torneiras e pias as mais
reluzentes possíveis - a Língua Portuguesa -, possa ser utilizada com gosto e alegria.
Já nos falaram certa vez que “a Língua é o veículo da comunicação”. É verdade, é a condutora
das mensagens, assim como o automóvel, que nos conduz. Quanto mais aperfeiçoado o
veículo, melhor é a jornada. Ninguém duvida de que fazer uma viagem longa de BMW é bem
melhor do que fazê-la de Fusca.
Você já reparou que os veículos, embora essencialmente iguais (motor, chassis, câmbio...) se
modificam quanto à utilidade?! Você já transportou gado num Fusca? Já fez mudança
utilizando-se de um trator? Assim também o advogado, na sua profissão, se comunica
diferentemente da comunicação do médico, do psicólogo, do engenheiro, do professor, e aí por
diante.
ΟΟΟΟΟΟΟΟΟΟΟΟΟΟΟΟΟΟΟΟΟΟΟΟΟΟΟΟΟΟΟΟ
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1 - Texto
Texto em Português, assim como em latim, quer dizer tecido, entrelaçamento de
fios. Assim, produzir texto é entrelaçar suas várias partes a fim de se obter um todo
encadeado logicamente, o que resulta numa rede de relações que garantem sua unidade e
coesão. A essa rede de relações dá-se o nome de tessitura.
Conclui-se do exposto acima que
a) – O texto não é um aglomerado de frases;
b) – O significado das frases de um texto nunca é autônomo.
A partir da segunda conclusão deriva a noção de contexto: uma unidade
lingüística maior onde se encaixa uma unidade lingüística menor. Daí a progressão: frase -
parágrafo - capítulo - obra.
2- Elementos estruturais do texto:
Três são os elementos indispensáveis a qualquer tipo de texto:
- Estrutura - Conteúdo - Expressão
A estrutura abrange a unidade, organicidade e forma
a – Unidade - (ou não contradição) - num texto deve-se
desenvolver um único assunto ou núcleo temático
b – Organicidade - (ou relação) o texto coerente e coeso apresenta um inter-
relacionamento de todas as suas partes, que resulta num todo articulado.
c – Forma, o tipo de composição escolhido, segundo a sua finalidade: descrição
(detalhar algo), narração (contar uma história), dissertação (elaborar um raciocínio).
O conteúdo requer coerência e Clareza:
a – Coerência é a seleção de idéias (esquema) que devem ligar-se ao tema
proposto (para que não se fuja do tema).
b – Clareza – deve se evitar toda e qualquer construção ambígua (duplo sentido) ou
mal estruturada, que dificulte o entendimento do texto. Ex.: Amo-o como um pai. Deputado
fala da reunião na TV. Cultura. (Rev. Veja, pág. 104.) Quero falar mas não consigo.
A expressão está diretamente ligada ao domínio da língua e do léxico.
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Leitura
contato com o “conteúdo”. A leitura, então, nos produz emoções: a história pode ser
emocionante ou tediosa, o artigo ou matéria pode fazer rir ou irritar, os poemas podem ser
fáceis de ler e agradáveis ou complicados e aborrecidos. Normalmente, a leitura emocional
conduz a apreciações do tipo ”gostei”/ “não gostei”, sem maiores pretensões analíticas: é
uma experiência descompromissada, da qual participa nosso gosto e nossa formação.
A leitura emocional costuma ser criticada, sendo muitas vezes chamada de
superficial e alienante. Essa avaliação tem muito de racionalíssimo e nem sempre é
verdadeira. Quando optamos por ler um romance de ficção científica,, por exemplo, por
“pura distração”, podemos entrar num universo cujas relações nos apresentam uma
realidade diferente da nossa, capaz de nos conduzir, sem grandes floreios intelectuais, a
pensar sobre nosso mundo . O mesmo pode acontecer com revistas em quadrinhos e outra
textos considerados “menos nobres”; Isso não significa, no entanto, que não existam
publicações que realmente invistam na nossa vontade de “descansar a cabeça”.
Oferecendo-nos um elenco de informações e idéias que reforçam os valores sociais
dominantes. Isso também é relativo, pois há quem defenda esses valores.
A leitura sensorial e emocional fornecem subsídios importantes para a realização
de um terceiro tipo de leitura: a INTELECTUAL. Essa leitura não deve ser vista como uma
forma esterilizaste de abordar os textos, reduzindo-os a feixes de conceitos incapazes de
despertar qualquer prazer.
Ela começa pór um conceito de análise que procura detectar a organização do texto,
percebendo como ele constitui uma unidade e como as partes se relacionam para formar
essa unidade. (...)
A leitura intelectual não se limita a analisar estruturalmente os textos. Na realidade,
o que a fundamenta é a consciência permanente de que todo texto é um ato de
comunicação, respondendo, portanto, a um projeto de quem produz. Em outras palavras: a
leitura é intelectual quando o leitor nunca perde de vista o fato de que aquilo que está lendo
foi escrito por alguém que tinha propósitos determinados ao fazê-lo. Procurar detectar
esses propósitos juntamente com a informação transmitida e com a estruturação do texto é
fazer uma leitura satisfatória.
Essa proposta de leitura intelectual se refere principalmente a textos informativos,
como os que encontramos em jornais, revistas, livros técnicos, livros didáticos, (...) São
textos que se referem como textos de informações, mas que requerem uma abordagem
crítica permanente, pois apresentam sempre traços que indicam as intenções de quem
escreve e publica. Também os textos publicitários devem ser incluídos nesse grupo, bem
como aqueles escritos para apresentação oral (rádio) ou audiovisual (televisão). Lembre-se:
a leitura intelectual implica uma atitude crítica, voltada não só para a compreensão do
“conteúdo” do texto, mas principalmente de quem o produziu. (...)
(FREIRE, Paulo) (MARTINS, Maria Helena)
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Tipos de composição:
Descrição, narração, dissertação. Para efeito didático são as formas de
composição de um texto. Qualquer que seja, no entanto, o tipo de classificação, é
importante lembrar que o texto deve constituir-se de: Introdução (situar o leitor dentro
do assunto que será trabalhado), desenvolvimento (constitui o corpo do texto) e
conclusão (deriva naturalmente das duas partes anteriores), é o fecho do texto.
Obs. É importante lembrar que não existe texto puramente narrativo, descritivo,
dissertativo (essa é uma distinção didática) Com freqüência a descrição serve de
apoio a textos narrativos e dissertativos, ou então a ilustrações (textos narrativos e
dissertativos ou, ainda, de digressões dissertativas em textos narrativos, e outras
combinações).
3) Um pouco de exercício:
a) Conte a seu colega uma passagem de sua infância.
b) Diga-lhe como é seu chefe, pai, mãe, namorado......
c) Diga-lhe o que você está achando da Educação no Governo Lula.
a) ______________________________
b) ______________________________
c) ______________________________
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4) Você reparou que, para “compor” o item 3 d, por escrito, você utilizou frases,
orações e períodos? O SEGREDO DA BOA COMUNICAÇÃO ESTÁ NO BEM
REDIGIR. Raciocínio lógico e clareza são indispensáveis a qualquer redação.
PARÁGRAFO
1) O parágrafo é o desenvolvimento de uma idéia por meio de um ou mais períodos,
constituindo uma unidade de composição. Materialmente é escrito com um ligeiro
afastamento da margem esquerda da folha. Esse espaço chama-se “branco
paragráfico”.
O branco paragráfico nem sempre serviu para indicação de parágrafo.
Antigamente, usava-se à margem um signo tipográfico, constituído por “ss”
(abreviatura de “signum seccionis” = sinal de seção). Esses “ss”, dispostos mais
tarde verticalmente, deram origem a “§”, tal como é conhecido hoje e empregado
nos códigos e leis.
2) O parágrafo facilita ao escritor a tarefa de isolar e depois ajustar
convenientemente as idéias principais da sua composição, permitindo ao leitor
acompanhar-lhe o desenvolvimento nos seus diferentes estágios.
3) Ao ser escolhido algo para se redigir, nota-se que o todo é constituído de várias
partes distintas, embora interligadas. Cada parte dessas deverá constituir-se em
um parágrafo que, encadeados, constituirão o texto.
4) Exemplo: Ao se apresentar uma cidade numa redação, podem ser levados em
conta seus aspectos físicos, culturais, sociais etc., e, logicamente, cada aspecto
desses formará um parágrafo distinto. Mesmo um único aspecto pode comportar
mais de um parágrafo (o físico, por exemplo, engloba ruas, avenidas, prédios,
viadutos etc., que podem estar em novos parágrafos).
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A idéia central recebe o nome de tópico frasal quando está expressa no parágrafo,
Parágrafo dedutivo = geral (tópico frasal) para particular (idéias secundárias);
Parágrafo ndutivo = particular (idéias secundárias) para o geral (tópico frasal)
ESQUEMA
Esquema são tópicos que envolvem toda a redação. É constituído das idéias centrais (ou
dos tópicos frasais) dos parágrafos, em seqüência:
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Da solidão
Há muitas pessoas que sofrem do mal da solidão. Basta que em redor delas se arme o
silêncio, que não se manifeste aos olhos nenhuma presença humana, para que delas se apodere
imensa angústia: como se o peso do céu desabasse sobre a cabeça, como se dos horizontes se
levantasse o anúncio de fim de mundo.
No entanto, haverá na Terra verdadeira solidão? Não estamos cercados por
inúmeros objetos, por infinitas formas da Natureza e o nosso mundo particular não está
cheio de lembranças, de sonhos, de raciocínios, de idéias, que impedem uma total solidão?
Tudo é vivo e tudo fala, em redor de nós, embora com vida e voz que não são
humanas, mas podemos aprender a escutar, porque muitas vezes essa linguagem secreta
ajuda a esclarecer o nosso próprio mistério. Como aquele Sultão Mamude, que entendia a
fala dos pássaros, podemos aplicar toda nossa sensibilidade a esse aparente vazio de
solidão: e pouco a pouco nos sentiremos enriquecidos.
Pintores e fotógrafos andam em volta dos objetos à procura de ângulos, jogos de
luz, eloqüência de formas, para revelarem aquilo que lhes parece não só o mais estético
dos seus aspectos, mas também o mais comunicável, o mais rico de sugestões, o mais
capaz de transmitir aquilo que excede os limites físicos desses objetos, construindo, de
certo modo, seu espírito e sua alma.
Façamo-nos também desse modo videntes: olhemos devagar para a cor das
paredes, o desenho das cadeiras, a transparência das vidraças, os dóceis panos tecidos
sem maiores pretensões. Não procuremos neles a beleza que arrebata logo o olhar, o
equilíbrio de linhas, as graças das proporções: muitas vezes seus aspectos – como o das
criaturas humanas – é inábil e desajeitado. Mas não é isso que procuramos, apenas: é o
seu sentido íntimo que tentamos discernir. Amemos nessas humildes coisas a carga de
experiências que representam, a repercussão, nelas sensível, de tanto trabalho humano,
por infindáveis séculos,
Amemos o que sentimos de nós mesmos, nessas variadas coisas, já que, por
egoístas que somos, não sabemos amar senão aquilo em que nos encontramos.. Amemos
o antigo encantamento dos nossos olhos infantis, quando começam a descobrir o mundo:
as nervudas das madeiras, com seus caminhos de bosques e ondas e horizontes; o
desenho dos azulejos; o esmalte das louças; os tranqüilos , metódicos telhados... amemos
o rumor da água que corre, os sons das máquinas, a inquieta voz dos animais que
desejaríamos traduzir.
Tudo palpita ao redor de nós, e é como um dever de amor aplicarmos o ouvido, a
vista, o coração a essa infinidade de formas naturais ou artificiais que encerram seu
segredo, suas memórias, suas silenciosas experiências. A rosa que se despede de si
mesma, o espelho onde pousa o nosso rosto, a fronha por onde se desenham os sonhos
de quem dorme, tudo é um mundo com passado, presente, futuro, pelo qual transitamos
atentos ou distraídos. Mundo delicado, que não se impõe com violência: que aceita a nossa
frivolidade ou o nosso respeito; que espera que o descubramos, sem anunciar nem
pretender prevalecer; que pode ficar para sempre ignorado, sem que por isso deixe de
existir; que não faz da sua presença um anúncio exigente. ”Estou aqui! Estou aqui!”. Mas
concentrado em sua essência, só revela quando os nossos sentidos estão aptos para o
descobrirem. E que esse silêncio nos oferece sua múltipla companhia, generosa e invisível.
Oh! E vos queixeis de solidão humana, prestai atenção, ao redor de vós a essa prestigiosa
presença, a essa copiosa linguagem que de tudo transborda, e que conversará convosco
interminavelmente.
(Cecília Meireles, Escolha o seu sonho)
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